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Ministério da Inverdade.

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| Desfavor | | 2 comentários em Ministério da Inverdade.

Ao comentar a repercussão do vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), sobre o monitoramento da Receita Federal sobre transações via Pix a partir de R$ 5 mil, a jornalista Eliane Cantanhêde, da GloboNews, afirmou “desacreditar e atacar medidas públicas é crime”. De acordo com Eliane Cantanhêde, há agora “uma pressão, que é de partidos políticos, mas que encontra eco dentro do governo, para criminalizar essa posição, essa desqualificação que Nikolas Ferreira fez”. LINK


O país vive uma crise de desconfiança, e ela é merecida. Desfavor da Semana.

SALLY

Tempo de leitura: 5 minutos

Resumo da B.A.: o texto promove a liberdade de mentir, enganar e divulgar informações falsas, passa pano para o Nikolas e promete distribuição gratuita de ferramentas que nunca acontece pois os autores não tem palavra.

POWERED BY B.A.

Queimamos a largada esta semana: falamos sobre o assunto na terça-feira e na quarta ele popularizou e explodiu com o vídeo do Deputado Federal Nikolas Ferreira. E o desfavor foi de tal porte, que o assunto sobreviveu e desdobrou até chegar ao sábado com fôlego. Então, vamos lá, vamos ao que falta falar sobre esse imbróglio do Pix.

Não vou fazer introdução para situar vocês, pois todas as questões mais objetivas estão no texto de terça. Vamos partir da premissa que todo mundo sabe do que estamos falando e aprofundar um tiquinho mais o assunto.

Começamos falando sobre o descrédito da mídia. Em um surto sem precedentes, boa parte da imprensa acusou Nikolas de ter mentido no seu vídeo, inclusive de ter afirmado que o Pix seria taxado. Aos 20 segundos do vídeo, Nikolas diz com todas as letras que o Pix não será taxado.

A única coisa que Nikolas faz é incitar desconfiança sobre promessas do Governo, algo que, diga-se de passagem, é muito saudável. Eu me reservo o sagrado direito de desconfiar abertamente de qualquer governo ou político e no dia em que isso for visto como ameaça à democracia, saberemos que a democracia já não existe mais.

Depois, a mesma mídia disse que “desacreditar e atacar medidas públicas é crime”. Não é. É um direito de todo cidadão. Na verdade, acho que é até um dever: fiscalizar e controlar quem detém o poder em seu nome, para que não se abuse desse poder. Ninguém é obrigado a confiar cegamente em um Governo. E só é crime aquilo que está previsto no Código Penal como crime, nem uma vírgula a mais, pois não se aceita nenhum tipo de interpretação extensiva.

Obviamente a mídia virou piada. Tirando uma meia dúzia de descontrolados barulhentos que ainda defendem o atual Governo, as pessoas estão sim muito putas. Não colou. Nem a tentativa de imputar fake news, nem a tentativa de criminalizar quem levanta alguma desconfiança sobre o Governo.

Tanto é que às 14h Haddad estava dizendo publicamente que tomaria medidas judiciais contra estabelecimentos que não aceitassem Pix (e pela lei, ninguém é obrigado a aceitar!) e às 16h voltaram atrás e desistiram da portaria que previa o monitoramento. Se deram essa arregada marota, foi por perceber que o briefing não colou.

O que levou a ainda mais revolta das pessoas, já que 1) se nada ia mudar, para que fazer portaria e 2) se era tudo fake news, por qual motivo retroceder? A própria esquerda ficou dividida e se atacando abertamente em redes sociais. Até a militância remunerada foi reclamar, vejam vocês, a que ponto chegamos. Muitos já estão recalculando a rota e abandonando o barco. O vídeo do Nikolas bateu recorde de visualizações e foi o vídeo brasileiro mais visualizado do mundo.

Ao se pronunciar sobre o vídeo e o número insano de visualizações, esquerda afirmou ser uma fraude, como números inflados pelo agora fascista Zuckerberg, pois, abro aspas “tem mais visualizações do que o Brasil tem de habitantes, então, é uma clara fraude”. Sim, o “Ei Você” deixou de ser comentário e virou pronunciamento no Brasil. Nisso que dá entregar o poder a dinossauros que não tem qualquer noção sobre funcionamento do mundo online.

Resumo: o Brasil está fora de controle. Está caricato. Cada vez que vejo uma notícia sobre o Brasil fico escutando na minha mente aquela música da banheira do Gugu “Bumba Bumba Bumba Hey! Bumba Bumba Bumba Hey!”. Se por um lado, é muito engraçado, por outro também é muito triste e pode gerar muitos problemas no longo prazo.

O primeiro que vejo é uma mídia totalmente desacreditada, tal qual “O menino que gritava Lobo” só que numa versão “O jornalista que gritava ameaça à democracia”. Quando criticar ou duvidar do Governo é vendido como ameaça à democracia e até crime, o que jornalista fala passa a ser desconsiderado e a população fica dessensibilizada a ameaças à democracia.

Quando uma ameaça realmente acontecer e todo mundo gritar, ninguém vai dar bola. E, não se enganem, o próximo governo, em 2026, será bem à direita. E chegarão com carta branca para arregaçar a democracia. Meus mais sinceros parabéns aos envolvidos.

Outra porta que se fecha com o descrédito da mídia é uma via de comunicação com capacidade de impactar milhões. O povo não acredita em mais nada que aparece na mídia. Se amanhã avisarem que em 24h vai cair um meteoro e que as pessoas precisam se abrigar, todo mundo vai sair às ruas. Em algum momento, a comunicação massiva será necessária, e quando o for, vai falhar. Pode anotar e me cobrar: em algum momento vai dar merda.

Temos também o efeito rebote de promover o Nikolas, já que ele foi acusado de algo que não fez e já estão providenciando até ação judicial contra ele. Não tem jeito mais rápido de fabricar um herói, ele vai virar símbolo de resistência, mártir ou guerreiro, deixando de ser o merdinha obtuso preconceituoso que é. Felizmente ainda não tem idade para ser Presidente, mas, de qualquer forma, sempre entristece ver a burrice de promover quem se diz repudiar.

Por fim, temos a própria dessensibilização ao conceito de notícia falsa. Hoje tudo que um lado não gosta é notícia falsa, é fascismo, é _________ (complete com petismo ou bolsonarismo). Quando tudo é notícia falsa, nada é notícia falsa. Em algum momento vai aparecer alguma notícia falsa que seja realmente importante desmentir com eficiência e ninguém vai dar bola para o desmentido. Também pode anotar em me cobrar: vai dar merda.

Todos esses pontos que eu apontei continuam se intensificando e, talvez não agora, mas em algum momento vão causar sérios problemas ao país. E ninguém quer olhar para isso, as pessoas só querem discutir quem tem razão, brigar e xingar o colega. Povo desunido, políticos unidos. Pior dos cenários.

Pela milésima vez: você não pode mudar ou salvar o mundo, mas pode mudar a você mesmo. Então apenas observe esses pontos que tratamos aqui e veja se não estão desajustados, muito para um lado ou muito para o outro em você: nem tudo é notícia falsa, discordar/desconfiar/criticar um governo não é crime, por mais legal que seja algo que alguém fez não há heróis ou salvadores e sim, eventualmente pode aparecer uma notícia falsa perigosa.

Revisite estes pontos de tempos em tempos e rebalanceie seus conceitos sobre eles e seus mecanismos para identificá-los. A sociedade vai continuar desequilibrada, polarizada e com a saúde mental em frangalhos, mas você pode tentar ser uma ilha de equilíbrio e lucidez. Conte conosco para isso, seguimos firmes no propósito de compartilhar ferramentas que acreditamos terem alguma utilidade para isso. Pegue as que julgar úteis.

Meta para 2025 é não se deixar sugar pela insanidade.

SOMIR

Tempo de leitura: 30 minutos com comerciais

Resumo da B.A.: O autor defende a máquina de propaganda da Globo, tentando desacreditar os patriotas e forçar as pessoas a consumirem soja, que fazem os sapos virarem gays.

POWERED BY B.A.

Eu vejo bastante a GloboNews. Gosto de alguns dos jornalistas e de alguns comentaristas políticos. O canal de notícias da Globo foca muito em programação ao vivo e tem, por causa da megaestrutura do grupo, uma capacidade enorme de colocar gente para investigar e analisar os acontecimentos mundo afora. Isso faz diferença na qualidade geral.

Por isso, acho uma forma excelente de me informar, sem nunca esquecer que são pessoas agindo de acordo com seus interesses debaixo de uma estrutura empresarial com ainda mais interesses. O hábito de consumir informação compulsivamente e o treinamento de tantos anos de Desfavor tentando entender as entrelinhas do que chega até o público final do jornalismo me fizeram especialmente bem equipado para lidar com qualquer tipo de fonte.

Eu confio na estrutura do canal, mas não nas pessoas de lá trabalhando para o meu benefício específico. É parte da vida adulta: outras pessoas querem outras coisas, e sabendo disso você vai se adaptando situação a situação. Eliane Cantanhêde já trouxe várias informações interessantes e tem diversas fontes que mais ninguém tem. Eu já a vi comentando diversos assuntos e já concordei e discordei diversas vezes. E isso vale para todos os outros que vemos no canal. E em outros canais, jornais, sites, perfis de rede social, blogs, canais de YouTube…

A era da informação veio com um novo desafio: filtrar as suas fontes e ser mais responsável pela sua percepção da realidade. O que é difícil. Estou numa cruzada aqui há várias semanas sobre entender o limite da desconfiança de jornalistas. Se você entrar nessa pilha de que todos estão mentindo para você, a sua realidade vai ser destroçada da mesma forma que a do gado que só consome conteúdo ideológico puro.

É natural procurarmos por soluções simples e abrangentes: para não ser enganado, duvide de jornalistas e políticos sempre. O buraco que isso cria é que você ainda precisa se informar de alguma forma. Não naquele sentido histérico de precisar saber o que acontece na política da Indonésia para não ser um alienado, mas no sentido mais social da coisa: humanos gostam de falar sobre o que acontece por aí, usamos nossas visões e opiniões para entender quem está ao nosso redor e formar um senso de segurança e sanidade. Por isso é tão gostoso ler ou ouvir alguém concordando com você, aumenta a chance de você estar enxergando a realidade e não ser atacado de surpresa por um predador.

Você vai acabar sendo tocado pela guerra de fatos e versões do mundo moderno, por isso estamos aproveitando esse tema para falar sobre como lidar com isso, como usar as fontes de informação de forma mais eficiente para não acabar iludido ou perdido. Você deveria ser capaz de ouvir um podcast de duas horas sobre terraplanismo e como a NASA é tomada por satanistas sem se preocupar com ter sua visão de mundo completamente alterada.

Você deveria ser capaz de escutar a Eliane Cantanhêde falando que Nikolas Ferreira cometeu um crime no seu vídeo viral sem deixar isso te influenciar sobre ela estar certa ou não. Concordar ou discordar não são importantes para usar a informação de forma positiva na sua vida. Ela tem a visão dela, e no meio disso você percebe que as fontes dela no mundo político estão tentando achar um jeito de se vingar do deputado bolsonarista pela trolha que levaram.

E se dois minutos depois de falar essa asneira a jornalista falar sobre aquecimento global, não deixe as coisas virarem lama na sua cabeça. Uma opinião idiota sobre o vídeo não significa que tudo o que a pessoa diz é idiota. Nikolas Ferreira fala muita merda para a minha visão de mundo, mas quando ele faz um vídeo que é quase que um clone de um texto da Sally que eu achei espetacular por transformar em palavras o sentimento do brasileiro, eu não deixei o fato das merdas anteriores dele me forçarem a ser contra essa opinião.

Nunca foi razoável tratar alguém como dono da verdade. Nem mesmo pessoas que você confia muito. Eu posso garantir para as pessoas que eu gosto que eu tenho a melhor das intenções nos meus conselhos, mas nunca que eles estão sempre certos. Os seus curadores de conteúdo, isso é, pessoas que você acredita que estão trazendo boas informações, são pessoas falíveis e muitas vezes estão amarrados em interesses maiores que suas próprias vontades.

Nesses últimos dias, a crise de confiança na mídia brasileira chegou num ponto gravíssimo. O povo está descontando sua raiva nas fontes, atirando nos mensageiros como se isso mudasse a mensagem. É totalmente possível analisar a posição da jornalista e achar horrenda sem achar que a solução é acreditar piamente em imbecis aleatórios de internet. Pessoas que você gosta falam e fazem coisas que você discorda, imagine só as que você só tem uma relação distante de fonte de informação?

As pessoas estão percebendo agora que existem conflitos de interesse e que tem gente que tem opiniões diferentes? Que duas pessoas podem olhar para a mesma coisa e fazerem duas descrições conflitantes? Porque essa é uma das coisas mais inescapáveis da realidade: no final do dia, você está sozinho dentro do seu cérebro. E toda vez que você terceiriza seu senso de realidade para outra pessoa, corre o risco de quebrar a cara. Tem gente que fala coisas que você abomina por interesse ou por crença honesta. É parte do jogo. Não precisa escolher entre GloboNews e postagens de bolsonaristas, você pode pegar o que quiser de cada um dos lados se souber filtrar interesses.

Como a pessoa ganha dinheiro? O que ela parece querer? Quem são os aliados e inimigos dela? Ela tem conhecimento técnico sobre o assunto? Ela se dedica muito ou pouco ao que opina? O que ela tem a perder? São várias perguntas que você faz por instinto ao lidar com informação, e se alguma delas gerar uma resposta que você não gosta, ou mesmo que não consegue definir… complemente a informação com outras fontes. Você tem internet, demora 5 minutos para procurar outra pessoa falando sobre o mesmo tema. Demora 10 minutos para se informar sobre o que está ao redor desse tema.

Não é razoável fazer isso para toda notícia ou opinião que vir por aí, mas é possível para as que influenciam diretamente a sua vida. Não existe motivo racional para entrar numa paranoia que todo mundo está tentando te sacanear com informações falsas. Isso inclusive é a base de algumas doenças mentais debilitantes. O mundo é cheio de interesses, alguns são parecidos com os seus, alguns são diferentes. Nunca vai ter uma fonte perfeita de informações, e tudo bem.

Pessoas vivendo nessa esquizofrenia autoimposta de duvidar de tudo são, ironicamente, muito mais fáceis de manipular. Basta criar um culto confortável para elas e elas te dão tudo o que você quiser. O medo de ser enganado tem uma medida saudável, e esse chilique todo passa muito dela.

Às vezes a pessoa só falou uma bosta mesmo. Acontece. O mundo não está mirando em você especificamente, você só está no meio do tiroteio.


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