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| Desfavor | | 6 comentários em Blog Marrom

Sally e Somir concordam que o ponto baixo do ano passado foi escrever sobre cus a pedido do C.U., mas acham que foi no deles que doeu mais. Os impopulares se afundam…

Tema de hoje: qual foi o pior texto do Desfavor em 2024?

SOMIR

Tempo de leitura: Meia hora de cu

Resumo da B.A.: É POR ISSO QUE PRECISA DE DITADURA! Eles querem que as crianças leiam esses textos nojentos falando sobre cu, vai ter Kit Cu nas escolas!

POWERED BY B.A.

Foi a paleta de cores anal. C.U.radoria de Conteúdo: Arcu-íris entrou nos anais da nossa história como o primeiro texto de autoajuda anal. A minha impressão é como Sally é menos torta da cabeça, as punições enviadas em sua direção são mais diretas. O nosso terrorista marrom sabia que eu não me chocava com facilidade, o meu primeiro texto sobre filmes pornôs japoneses horríveis foi pré-C.U., eu tinha escolhido o tema sozinho, sem coação.

Então eu tenho certeza de que ele sabia que eu ia sofrer mais nas sutilezas ao redor do tema. Se eu tivesse pegado o texto científico sobre o ânus, poderia escrever de forma elitista, achar umas curiosidades, fazer uns trocadilhos e sair basicamente ileso do processo. Mas não, para mim sobrou o texto emocional sobre cus.

E isso que torna tudo pior, na hora de escrever e no legado do texto. A minha vontade com o tema era só escrever: “Chega dessa fixação com cu, seus bostas”. Mas não atendia ao pedido, então tive que discorrer por vários parágrafos sobre o valor inalienável de cada cu nesse mundo. Que todos são especiais da sua forma.

Porque é assim que as pessoas entendem alguma mensagem. A verdade é que nenhum cu nem dono de cu é especial, somos um amontoado de átomos que num misto de sorte e esforço acumulamos valor. Se você está preocupado com seu cu pelo lado estético da coisa, você provavelmente precisa trabalhar em diversos outros aspectos da sua vida para começar a ter algum valor.

Mas não, tive que escrever ao contrário, porque senão a gentalha entende como crítica. Tem que dizer que a pessoa é especial e por isso o visual anal dela é irrelevante. É uma violação dos meus princípios, pelas costas e sem chance de defesa. E como a gente não edita textos, mesmo os que não concordamos mais (existem alguns, eles são reflexos do que pensávamos naquele tempo), aquela abominação gratiluz anal vai ficar lá para sempre.

E admito uma coisa: eu achei que sofreria menos vendo cus para montar as imagens. A minha exposição aos buracos alheios sempre foi pesadamente distorcida da realidade: cus femininos profissionais numa proporção muito maior que cus femininos amadores. Coisa de gente que trabalha mostrando o cu, sabe? Não é o tipo de parte do corpo que vemos por aí o tempo todo, e quando vemos muito, normalmente tem um contexto e um afeto ali.

Ser obrigado a buscar especificamente por cus mostra a vida como ela é: meio peluda, meio cagada. Desnecessário expor o leitor a essas imagens, mas é uma questão de curiosidade mórbida. A pessoa vai clicar. Não adianta mentir dizendo que não clicou, eu sei que o número de cliques nas fotos é vinte vezes maior que o número de acessos ao texto. Todo mundo clicou em todos e alguns ainda clicaram de novo para analisar as pregas.

Eu tive meu mundo de fantasia de cus destroçado por imagens horrendas, vocês também. E tudo isso para empurrar um texto que fala de uma futilidade infinita: como se alguém realmente ligasse para os detalhes do seu cu na vida real. Quem está vendo seu cu já comprou o ingresso, amigo ou amiga. Do parceiro sexual ao médico proctologista, é gente que não tem mais como voltar desse buraco.

Eu não quero viver num mundo onde precisamos de autoestima anal. Porque isso quer dizer que nossas prioridades foram para a merda. Eu tenho o pesadelo que num futuro distante a IA dona do mundo vai criar um aplicativo de hologramas curtos onde as pessoas só postam seus cus, e quando alguém estiver chateado com o baixo número de curtidas do seu, ela vai usar o meu texto para fazer um discurso de encorajamento.

O texto da Sally é científico. Conhecimento é poder, mesmo que seja conhecimento de cu. Você sai melhor do texto que entrou se aprender alguma coisa. No meu? Você sai pensando sobre como no fundo no fundo todo cu é especial, reforçando uma mentalidade estúpida de sobrevalorizar a aparência. É só um cu.

A sociedade exagera na importância do sistema excretor, metade da religião do mundo é sobre medo de morrer, metade é sobre ansiedade ao lidar com o buraco entre as nádegas. Eu detesto por definição essa coisa de ficar falando que todo mundo é lindo, que isso importa muito. Quase todo mundo é torto, relaxado, barriga mole, teta caída, espinha na bunda… gente bonita mesmo é uma minoria, e mesmo assim é raro ser genético, maior parte da beleza do mundo é resultado de investimento financeiro.

O mundo é feio, é um buraco enrugado. O que faz ele bonito é o que a gente inventa em cima disso. Foda-se a sua autoestima facial ou anal, quem está bem da cabeça tropeça e cai em cima de beleza, porque é um resultado natural de se sentir bem. Eu não quero que minha mensagem para o mundo seja “sinta-se feliz com seu cu”, que seja “seu cu não importa”. E o meu texto estará para sempre lá, porque uma hora ou outra a IA vai ler e armazenar esse cu.

SALLY

Tempo de leitura: 4 horas

Resumo da B.A.: O texto é cheio de umas viadagem, tá ok? Umas coisa estranha de cu, isso é falta de porrada na infância, isso é falta de vergonha na cara, não se fala disso em público só de faz escondido.

POWERED BY B.A.

Qual foi o pior texto do Desfavor em 2024?

O texto que eu tive que escrever ensinando a cuidar da região anal. Colocar a ciência a serviço do cu foi uma das piores coisas que já fiz.

Talvez você pense que o texto correspondente do Somir tenha sido pior, pois tinha fotos, tinha imagens de diferentes regiões anais. Talvez tenha sido pior a pesquisa para escrever o texto (nem imagino quantos cus ele teve que ver para chegar naquele resultado). Mas, se pensarmos no texto pronto, o meu é mais degradante.

O do Somir é claramente uma piada. É de péssimo gosto? É. Mas, ainda assim, tem um componente de humor. Eu não. Eu tive que levar cu a sério. Eu falei de forma científica sobre angulação para enfiar coisas no fiofó. Isso fere a alma de um produtor de conteúdo.

Eu fiquei triste quando escrevi. Eu fiquei triste de verdade. Somir, quando escreveu o dele ficou puto, foi engraçado. O meu foi apenas triste. Eu estudei o assunto. Eu gastei horas da minha vida e neurônios do meu cérebro levando isso a sério.

Quem cai no texto do Somir rapidamente percebe que é uma piada. Quem cai no meu pensa “essa pessoa se debruçou horas em um estudo profundo sobre cu”. Qual dos dois vocês acham que é mais humilhante?

Eu sou da ideia que toda piada é válida. Mesmo piada ruim. Mesmo piada de péssimo gosto. Toda piada é válida. Sempre vai ter alguém que vai achar graça e vai rir. O texto do Somir causou alegria em alguém, não foi em vão.

O meu o que causou? Dúvidas bizarras sobre cu. Pessoas levando cu a sério. Discussões sobre enfiar coisas no cu. Um texto sério que, quem não é leitor do Desfavor, vai presumir que foi opção minha. Vai acreditar que eu acordei e pensei “entre todos os temas do mundo, o que eu escolho abordar? Cu”. Depõe duplamente contra mim, pelo conteúdo e por todo o empenho e seriedade que dediquei ao conteúdo.

O texto é todo constrangedor. Do começo ao fim. Você sente o meu constrangimento na escrita. Você sente a minha dor. Não que eu ache que tenha sido fácil para o Somir coletar e comentar aquelas imagens, mas, era humor escrachado. O meu vilipendiou o que eu levo mais a sério: a produção de conteúdo.

Além disso, ocorre um estranho fenômeno na cabeça do brasileiro: quando alguém fala de forma um pouquinho mais aprofundada sobre um assunto, as pessoas presumem que só pode ser um especialista naquilo. Uma pessoa que estude e queira aprender algo que não seja diretamente ligado ao seu ganha-pão nem passa pela cabeça do povo.

Portanto, esse texto me deu status de especialista em cu. Por cima de todas as outras humilhações implícitas, ainda essa. Sem demérito com os proctologistas, não é essa a questão. O problema é a consequência: o tanto de pergunta e consulta sobre problemas na região anal que se originam disso. Coisas realmente descritivas, que poderiam transtornar a vida de quem estava comendo, e por isso não foram aprovados.

O texto do Somir vai cair no esquecimento. É uma piadoca. As imagens estão ocultas, não é nada agressivo se você não clicar. As palavras contidas no texto não atraem muito público. O meu, ao contrário, será eternamente mostrado pelo Google a qualquer pessoa que procure informações sobre saúde anal.

O equivalente ao meu texto para o Somir seria se ele tivesse que fazer uma peça publicitária usando uma foto de cu, em uma ação que não deixasse muito claro que aquilo não foi escolha dele. Eu trabalho com produção de conteúdo. Em algum momento alguém vai olhar aquilo e pensar: “ela trabalha com isso e achou que esse tema era uma boa pauta, que merda de profissional”.

Imagina a sua profissão. Agora imagina você ter que fazer algo público vinculando sua profissão a cu. Esse é o nível da minha humilhação. “Mas Sally, se é tão humilhante por qual motivo você fez?”. Por ser justamente essa a proposta. Não estou reclamando, estou pontuando quão pior é para mim. O do Somir deixa escancarado que é uma brincadeira, o meu de dá o ar de especialista em cu.

Inclusiva para o que o Desfavor se destina, o texto é ruim. Um lugar pensado para trazer novos pontos de vista, informação inédita, humor, debate e reflexão está hospedando um texto que fala obviedades sobre a região anal. O texto do Somir cabe no Desfavor. O meu não.

Outro problema gerado por esse texto: as pessoas estão viciadas em conteúdo nichado. Se abrem um blog e tem um texto sobre maquiagem, presumem que é um blog sobre maquiagem. Vocês já podem imaginar o que aconteceu, certo? Pessoas reclamando que não tinha mais conteúdo de cu no Desfavor.

E não estou falando mal de pessoas que querem cuidar de seus respectivos cus, é uma parte do corpo que precisa de cuidados assim como qualquer outra. O que, na minha opinião, torna esse público desqualificado e indesejado é o fato de serem pessoas que escolheram cuidar do cu consultando uma completa desconhecida online e compartilhando detalhes da sua intimidade publicamente. Não é exatamente o perfil de leitor que eu gosto de atrair.

E, por fim, eu tenho certeza de que o texto ficou ruim, tecnicamente falando, pois foi escrito com desgosto. Essas coisas contaminam o conteúdo. Nunca tive coragem de ler novamente, mas é humanamente impossível que algo que eu fiz com tanto pesar tenha ficado bom.

É isso, se você vai fazer algo humilhante, é preferível que seja notoriamente humor e não algo onde você supostamente se leva a sério.


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