SALLY

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Resumo da B.A.: tá tudo caro, talkey?

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Quando chamaram Sidônio Palmeira para assumir a comunicação do Governo, eu cheguei a pensar que as coisas poderiam melhorar, afinal, o publicitário foi o responsável por várias vitórias para o PT, inclusive as eleições de 2022. Eu estava enganada.

Esta semana vimos vários erros crassos na comunicação, como vídeo da Janja toda serelepe mostrando a música do carnaval de 2025 horas depois da batalha campal nas ruas do Recife ou Lula partindo para cima do Trump. Mas nada é tão ruim que não possa piorar. E em dobro. Em meio a tantas cagadas, Somir e eu não conseguimos chegar ao consenso sobre qual foi a pior, então, cada um vai falar sobre uma hoje.

A que eu escolhi foi a arrogância do Lula querendo ensinar o brasileiro a economizar, quando ele só esbanja e vive descolado da realidade.

Lula delegou ao povo o controle da inflação. Disse que o povo tem que ajudar e que se a pessoa for ao supermercado e achar um produto caro, é só não comprar. Na cabeça dele, isso forçaria a queda do preço do produto. Sim, ele usou o mesmo slogan, o mesmo raciocínio, a mesma premissa que era usada na ditadura militar: “se ninguém comprar o preço cai”.

Eu nem vou me dar ao trabalho de apontar as inúmeras falhas nesse raciocínio burro, incoerente e incorreto, nosso leitor saberá chegar lá por conta própria. Vamos falar da postura em si.

Eu não sou fã do brasileiro médio. Muito pelo contrário, vocês sabem. E, ao ver o vídeo, eu fiquei com vontade de entrar na tela e esbofetear o Lula, tamanha arrogância. Fiquei indignada com a fala humilhante, com a forma como ele estava destratando o brasileiro, com a forma como ele estava maltratando o povo. Me deu tristeza. Me deu a sensação de “o brasileiro não merece isso”. Foi uma das falas mais infelizes dele que eu já vi, e olha que ele é bom de falar bosta.

Além de dizer que se um alimento estiver caro “é só não comprar”, ele disse que esse é “um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro”. Vamos falar um pouco sobre isso. Lula, O Sábio, que te educar, quer te ensinar a comprar. Vamos conter a vontade de soltar um palavrão ou uma bomba e vamos discutir de forma educada esta premissa.

Um político que se elegeu dizendo que pobre gosta de coisa boa, que pobre deveria ter o direito de consumir coisa boa, que pobre voltaria a comer picanha e andar de avião, em apenas dois anos mudou radicalmente seu discurso. Por qual motivo isso seria necessário, se não uma falha estrondosa da sua administração?

Ainda que esse raciocínio estilo Sarney fosse eficiente (e não é, já se mostrou falho várias vezes, no Brasil e no mundo), ele contradiz todas as promessas de campanha. Uma campanha baseada em melhores condições de vida para o povo se transformou rapidamente em “se está caro é só não comprar”. Ou pior, se está caro substitua o alimento. Por menos do que isso teve gente indo para a guilhotina na França. Pães e brioches, lembra?

O povo brasileiro está perdendo direitos sucessivamente desde que esse governo merda começou. Já perdeu em liberdade de expressão, já perdeu em acesso à informação, já perdeu em transparência, já perdeu em quase tudo. Mas agora veio a gota d’água: parece que perdeu o direito de escolher o que quer comprar, onde e quando, se não, será responsabilizado pela inflação.

É dever da porra do governo controlar a inflação, e o PT está fazendo tudo errado. Esbanja, administra mal as estatais (que estão tendo prejuízos homéricos), gasta fortunas com Orçamento Secreto comprando voto e fidelidade de congressista, incha o funcionalismo público metendo os seus em cabides de emprego e faz outras muitas cagadas sobre as quais já falamos. Como consequência da má administração do Governo, a inflação dispara. Os preços aumentam. Os juros sobem.

Quem não sabe gerir é o PT. É o Lula quem deveria aprender como economizar com as donas de casa, não o inverso. Esse filho da puta acha que as pessoas não pesquisam antes de comprar? Acha que o brasileiro sai metendo no carrinho sem olhar? Acha digno, decente e aceitável que todos tenham que comprar marcas inferiores ou genéricas para que a inflação não aumente enquanto ele e os dele só esbanjam dinheiro? É bosta do negacionismo econômico dele que está destruindo a economia, não o brasileiro querendo comer leite condensado.

Só que nada nunca é culpa do Governo. É culpa do antecessor, das mudanças climáticas, do capitalismo, do agro, das redes sociais, das fake news, dos Memes… e agora, ao que tudo indica, do povo também. Estão delegando ao povo algo que é uma promessa de campanha e obrigação do Governo: controlar os preços.

A fala do Lula foi de uma arrogância, de uma falta de noção, de um desfavor sem precedentes. É obrigação dele que o povo possa comprar o que quiser, onde quiser, quando quiser. E se ele fizesse o dever de casa e cortasse gastos em vez de aumentar o próprio salário (esta semana, inclusive), gastar fortunas e dar benefícios a bancos e empresas milionárias, o povo poderia comer o que quer.

A pessoa não faz seu dever de casa e quando a coisa desanda impõe sacrifícios e responsabilidades ao povo. Não tem como isso não provocar revolta e indignação. Mesmo em quem não entende nada com nada, mesmo em quem é nível “Ei, Você” de cognição, algo entra. A pessoa vê que sai do supermercado com carrinho vazio e que Lula viaja, gasta, esbanja. Mesmo sem entender nada, a pessoa fica puta. E com toda razão.

“Mas Sally, basta substituir por outra marca mais barata”. O que é isso? Síndrome de Estocolmo? Marcas mais baratas, via de regra, têm qualidade inferior, sabor inferior, ingredientes inferiores. O povo não tem mais direito a preferências? A gosto? A sabor? Tem que comer escolhendo pelo preço e achar normal? Mas que merda, hein? Digno de Cuba, em seus piores dias. Como pode alguém achar isso justo, razoável ou tolerável?

Mesmo os tementes ao PT estão irritados. “Se está caro não compra” não funciona quando tudo está caro. Carne de segunda está custando o preço que custava filé mignon quando eu morava no Brasil. Café está tão caro que estão substituindo por bebida sabor café, milho torrado e outras porcarias. Isso no país que é o maior produtos de café do mundo. E nem vem com essa de mudança climática, tem país que não produz café e vende café mais barato do que o Brasil. É descontrole da administração mesmo.

Não dá para socar taxa no cu do povo sem parar e depois dizer que se está caro não compra. Não dá. É um patamar de desaforo que nem o brasileiro aguenta. E essa excrescência de “educar o povo” é de uma humilhação que até em mim dói ver. Eu, que nunca fui muito entusiasta do brasileiro médio, que sempre achei didático ver o povo se ferrar depois de votar mal, estou com um nó na garganta depois de ver essa fala do Lula. O brasileiro não merece ser tão esculachado, tão humilhado, tão sacaneado.

A conclusão é que não se trata de um problema de comunicação. Quando se faz um governo bosta, com decisões bostas e consequências bostas, uma comunicação decente não se sustenta. É inevitável mentir, falar desaforos ou se contradizer para tentar justificar uma pá de merda. E não vai ter publicitário no mundo que consiga camuflar isso. Ou viram gente e melhoram, ou vai ser essa sequência de tropeços e um pau nas urnas em 2026.

Não é mais sobre não entregar resultados, é sobre humilhar o povo com um discurso peçonhento, asqueroso, arrogante de “educar para não comprar”. Fomos da picanha para o não compre em apenas dois anos, não quero nem ver o que vem por aí. Falando sério, até eu estou incomodada com a intensidade que este governo humilha o povo. Dá tristeza de ver. Uma hora o caldo vai entornar.

SOMIR

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Resumo da B.A.: minha bandeira nunca vai ser vermelha, ou azul, não sei qual é a cor do mal agora, mas sou contra! Só não uso boné rosa porque é coisa de viado, tá okay?

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Sim, em tese é mais escroto dizer para o pobre que o problema dele é ser burro e comprar a coisa mais cara. Não porque o brasileiro médio não seja burro com suas escolhas de consumo, porque com certeza é, mas tem uma sutileza aí: o povo é pobre por fazer essas escolhas ou por estar preso num sistema que não oferece mobilidade social suficiente?

Aí você sabe se faz sentido bater nesse ponto ou se é apenas um desvio da sua responsabilidade como governante, escondendo corrupção e incompetência por trás de um vilão capitalista. Na Suécia vá lá, mas o Brasil precisa comprar muito feijão antes de colocar ganância de produtor de alimentos como inimigo número um da nação.

Digo que entendo o ponto da Sally, mas eu não consigo não falar dos bonés. Porque eles também são baseados na ideia de desviar atenção dos problemas brasileiros. A ideia do Ministro da Propaganda tupiniquim tem sua lógica: criar um símbolo para desviar a atenção de um povo que estava prestando atenção demais nas falhas do governo.

E até que fez o seu trabalho. As pessoas perceberam a ação midiática de membros da base aliada, e melhor ainda: a oposição mordeu a isca para dar uma lacrada de volta. Num sistema polarizado como o que temos, pautar a polêmica da vez é inteligente. Faz tempo que eu falo sobre como Trump usa a tática de “uma maluquice por dia” para manter todo mundo falando sobre o que ele quer.

Se a oposição ao governo de Lula aceitar a proposta, acaba falando sobre os temas que o governo decidiu falar. Mesmo que apanhem, porque o boné adversário sobre o preço da picanha foi uma resposta engraçada, pelo menos a comunicação da situação sabe o que está acontecendo. A troca para Sidônio aconteceu justamente porque Lula não aguentava mais ter que falar sobre o que a oposição queria o tempo todo.

Então, que a turma do PT se torne a proponente da polêmica besta do dia. Funciona para a direita. Pode parecer estranho eu estar aqui dizendo que não foi uma má ideia enquanto você pensa naquele boné azul com uma frase aleatória no meio de uma crise econômica, mas lembre-se: o simples fato de estar lendo este texto já te tira da média brasileira. Podemos ser umas antas do mesmo jeito, mas somos antas mais articuladas e interessadas em aprofundar sobre os temas do momento.

O brasileiro médio e seus influencers nem tanto. As coisas acontecem num nível mais superficial, quem não tem educação ou interesse em pensar mais sobre o que acontece na política é impactado pela mensagem direta da coisa. Discutiram sobre o que a frase “o Brasil é dos brasileiros” significava, falaram sobre o azul, acharam uma bobagem ou algo bacana. Mas não pensaram no truque por trás de tudo isso.

O PT não pode vencê-los, então se juntou a eles. Talvez eu e muitos outros que analisaram por muitos anos os truques de Trump e a direita moderna tenham presumido que a crítica estava implícita. Sim, é extremamente funcional soltar uma bomba por dia e estar no controle da pauta, mas não gera resultados para o suposto trabalho do político. Trump continua sendo um imbecil, a gente pensa sobre o que ele fala e adapta à realidade, mas nunca foi a ideia dizer que era assim que deveríamos fazer as coisas.

Há um lado romântico na minha mente que ainda acredita que a esquerda raiz sabe disso, que a tática dos bonés funciona, mas funciona de forma superficial. Não era para copiar isso, era para entender o problema e criar anticorpos para não deixar o populismo de direita reinar solitário. Mas a realidade se apresenta assim: com um boné azul derivativo das estratégias de Trump. Justiça seja feita, o povo daqui engole com gosto cópias de camelô da ideologia americana, a direita faz isso há anos e o eleitor médio do Bolsonaro acha lindo. Justiça seja feita de novo, a esquerda trouxe as políticas identitárias direto de lá e seu público gostou também.

Discutir a frase do boné faz parte do plano de Sidônio, ele pensou em deixar muitos ângulos de análise e só reagir ao que colasse com o povo. Eu me abstenho de cair nessa, e sugiro que você também pule essa parte: quando a pessoa deixa a coisa aberta dessa forma, ela quer que você se perca tentando definir um significado. Eu estou focado na parte mais óbvia, o boné azul. Algo que se coloca na cabeça para definir uma postura política. Uma das partes mais imbecis do trumpismo importada para um povo passando aperto no supermercado.

É uma declaração forte: não querem mais brincar de esquerda racional. E como a parte de ficar usando gênero neutro simplesmente não cola com o povão, de volta ao populismo vazio de culpar o capitalismo por todos nossos problemas. Numa escala maior, o governo está aceitando a pauta da direita global de voltar a discutir comunismo num mundo que não tem mais clima para comunismo. Já acabou essa parte, vai ser capitalismo mesmo. Se vai ser um capitalismo que regula oligopólios e foca em bem-estar social ou se vai ser capitalismo selvagem que vai terminar com meia dúzia de bilionários mandando em tudo é a questão do milênio.

E a esquerda que deveria se preocupar com isso está mandando fazer bonés coloridos. Aceitaram a derrota? Falar sem parar de transexuais era o único plano? Deu errado e pronto, pula direto para o populismo de rede social de Trump e companhia? O meu sonho era o centro conseguir recuperar a força e espantar esses palhaços das posições de poder, mas sem essa possibilidade, no mínimo alguma reação contra a imbecilidade de bonés coloridos.

Não. Os bonés ganharam. Eles pautaram o país por alguns dias, e isso era tudo o que o governo queria descobrir.