
Competição extrema.
| Somir | Flertando com o desastre | 8 comentários em Competição extrema.
Mulheres estão fingindo ser transexuais para ganhar dinheiro na internet. Sério. Não é um fenômeno gigantesco, mas já aconteceu o suficiente para pessoas da comunidade trans reclamarem. Parece bizarro… mas se você parar para pensar, não é tão fora da norma assim.
Tempo de leitura: 24 minutos
Resumo da B.A.: desde que eu possa ficar deitado, não ligo quem venha por cima.
Talvez seu cérebro ainda esteja se adaptando à informação, então deixa eu explicar melhor: já tivemos vários casos de pessoas que se diziam transexuais, especialmente homem para mulher, que foram descobertas como mulheres de nascença. Ou seja, a pessoa vendia sua imagem como se fosse uma transexual, mas não era.
E talvez alguns de nossos leitores mais velhos tenham dificuldade de entender como essas mulheres acharam mais vantajoso fingir que nasceram homens, com tanto mercado para mulher exibida por aí. É que o mercado de mulher exibida está muito bem ocupado e o mercado de mulher trans exibida tem espaço. E sim, o mercado de mulher trans exibida é bem viável.
Eu percebo entre os mais jovens uma redução considerável do tabu e da autoilusão sobre homossexualidade. Alguns se soltaram de amarras sociais sobre se sentirem atraídos por homens, mulheres ou qualquer combinação; outros se juntaram em câmaras de eco onde se consideram estritamente heterossexuais independente do sexo do parceiro. Vou ficar discutindo aqui o que eu acho certo ou errado? Não. As coisas são como são e o meu conselho para qualquer pessoa continua sendo o mesmo: seja realista com quem você é, tende a gerar uma vida melhor.
O que eu quero discutir aqui é como a competição sexual está mexendo com o ser humano. Faz parte do nosso pacote básico competir, querer se destacar, procurar vantagens. Como tudo na vida, existem doses saudáveis e doses venenosas. Faz bem querer se aparecer um pouco, ganhar uns elogios, ser admirado… e funciona: quem se vende melhor tem mais oportunidades na vida.
Mas desde o colapso da indústria pornográfica tradicional nas últimas décadas, o mercado de apelação sexual se espalhou por inúmeros profissionais liberais (há) disputando a atenção e o dinheiro que o ser humano gasta com esse interesse.
A atratividade sexual ficou muito mais profissional em questão de duas décadas. Não precisa ser criador de conteúdo adulto para estar nessa revolução: com mais e mais humanos terminalmente conectados, a cultura da internet é muito próxima da cultura geral. O que se passa por ser sexualmente atraente hoje é muito mais “concentrado” do que antes. São pessoas mais musculosas, mais bronzeadas, mais tatuadas, com ânus mais clareados… dentro e fora do mercado da pornografia.
A barra vai subindo. E a barra não se importa se você pessoalmente gosta ou não gosta desse layout moderno de pessoa atraente, a barra segue a maioria. Porque não é exatamente sobre beleza, é sobre o pacote de atratividade. E com um trocadilho sobre “pacote”, podemos seguir para a próxima parte.
Uma mulher com um pênis é um conjunto hipersexualizado mais forte que uma mulher comum na guerra por audiência da internet. E francamente, eu só quis escrever este texto porque pensei nessa frase e achei fascinante. É guerra! Milhares de mulheres, uma boa parte bem bonitas, correram para plataformas de conteúdo adulto para mostrar o corpo, e por mais que exista demanda, ela vai até certo ponto.
Eventualmente o consumidor vai olhar para vinte perfis de mulheres bonitas mostrando até o útero e não vai perceber diferença. E eu argumento que isso já aconteceu: o mercado funciona, tem gente ganhando milhões, mas para se destacar é muito mais complicado. A mulher bonita compete com a linda, e a linda compete com a linda mais ousada. E todas elas competem com a mediana depravada. Ou a feia absolutamente sem limites.
E agora todas competem com mulheres que acharam o nicho de colocar um pênis falso dentro da roupa! Eu sei que tem a reclamação de apropriação e fetichização da mulher trans, mas numa análise mais fria, era óbvio que isso aconteceria. A linha de corte do que consegue se destacar no mercado fica mais alta. Alguém pensou que seria um diferencial de mercado poderoso ter toda a aparência de uma mulher e apelar para o fetiche de ter um pênis.
Não podemos ignorar o elefante na sala: por mais que algumas transexuais sejam impressionantemente femininas, existe uma vantagem natural da mulher “de fábrica” nos elementos comuns da beleza feminina. Especialmente no rosto, algo que faz muito mais sucesso no mercado sexual online do que no da vida real. Tem essa: entram para competir com alguém que tende a ser mais fraco em um aspecto importante.
Capitalismo sexual sim, mas vai além de vender mais fotos e vídeos, isso começa a mexer com a percepção de competição na vida real. Eu sei que é papo de incel, mas tem algo aí sim: a mulher parece mais masculinizada. Não só por hábitos mas por aparência. Tem algo mais agressivo na sexualidade aparente. Não chega no nível de se vender como transexual para conseguir sexo, é claro, mas a tendência dos mais jovens de serem mais fluidos em sua aparência e comportamentos sexuais pode ter uma dose dessa competitividade pornográfica na internet. O padrão de atratividade que você aprende desde cedo tende a ser replicado na vida adulta.
E sobre a polêmica de apropriação da imagem da mulher trans e da fetichização de seu corpo… convenhamos que ela vem de um lugar complicado de defender. Pessoa que faz transição de gênero reclamando de apropriação de imagem e pessoa do mercado de conteúdo adulto e/ou prostituição reclamando de transformar seu corpo num fetiche? Considerando que muitas transexuais dependem demais de fetichistas para serem desejadas sexualmente, não tem muito o que fazer se não quiserem derrubar o próprio valor.
Foi meio assim que desbravaram um mercado gigantesco: tinha muito homem e até algumas mulheres com interesse em corpos femininos com pênis. O diferencial encontrado para competir com a enxurrada de mulheres se vendendo vai acabar sendo usado por mulheres que foram escanteadas. Odeie o jogo, não os jogadores.
Eu sei que existem questões sociais e emocionais aqui, mas eu não consigo deixar de olhar para a parte competitiva e achar fascinante. Eu acredito que vamos ver uma guerra cada vez mais selvagem entre mulheres de nascença e mulheres trans, só que ao invés dos dois grupos correrem na direção da imagem mais feminina, podemos ver eles se encontrarem num meio mais andrógino para atrair as gerações mais novas.
E a partir daí, hipersexualizar no comportamento. Essas mulheres tentando ganhar atenção masculina, seja sexual ou financeira, não estão colocando um pênis falso na calcinha porque é um símbolo masculino e pronto, estão colocando porque isso as torna um nível mais sexuais que a concorrência. É sobre o… e eu não resisto o trocadilho de novo… pacote.
Estou me divertindo com o caos, mesmo sabendo que muita gente vai sofrer com isso. Sério, só eu estou achando engraçado? Infelizmente o ser humano otimiza a felicidade fora de qualquer sistema com fins lucrativos, e se não fosse isso seria outra coisa.
Como eu sou um grande defensor de deixar o ser humano colocar a mão no fogo para aprender, assisto de camarote essa confusão sexual. Muita gente acha que é uma questão de moral da sociedade, eu já enxergo como capitalismo exagerado. Meio como vendiam cigarro prometendo magreza para as mulheres no começo do século passado.
A ideia de fingir ter um pênis para ser mais atraente como mulher é bem Cisne Negro, parecia sem noção até começarem a fazer, aí ficou óbvio o potencial. Não sei se homem começou a gostar menos de mulher ou se é só excesso de estímulo da era digital, mas algo está acontecendo na disputa selvagem por atenção no mercado sexual, e não parece estar ajudando ninguém.
Faça as pessoas mais sem graça de novo. O mundo está virando um monte de avatar do Second Life (essa referência já ficou velha…)
“Infelizmente o ser humano otimiza a felicidade fora de qualquer sistema com fins lucrativos, e se não fosse isso seria outra coisa.”
O que quis dizer com isso?
Felicidade nem sempre está relacionada com aumento de lucros, mas como felicidade é um conceito muito mais abstrato que acúmulo de recursos, quando você considera os desejos de muitas pessoas ao mesmo tempo, é o lucro que aparece como norma. Quando qualquer mercado começa a ficar muito competitivo, as pessoas mais eficientes em lucrar se destacam e começam a deslocar as mais eficientes em aumentar a própria felicidade. É um problema inerente ao capitalismo mais selvagem.
No tempo da Marta Rocha, duas polegadas a mais eram desvantagem!
Estava por fora dessa nojeira toda.. chocada
Eu também. E preferia ter continuado sem ouvir falar disso..
Faço minhas as suas palavras.
Todo o jogo identitário tem a ver diretamente com isso. A disputa encarniçada é pra tentar viver de imagem, dado que o trabalho a sério é cada vez mais desvalorizado no contexto da quarta revolução industrial.
Teve 2 streamers gringas que levaram um certo choque de retorno por isso.
Concordo com você, bora rir!