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Bíblia Pilhada: Juízes

Bíblia Pilhada: Juízes

| Sally | | 9 comentários em Bíblia Pilhada: Juízes

Paramos com os israelitas tomando à Terra Prometida, capitaneados por Josué. Entre conquistas de cidades e cagadas devidamente punidas pelo Senhor.

Tempo de leitura: 20 minutos.

Resumo da B.A.: a autora transfóbica desqualifica a luta trans ao não cogitar que nenhum dos personagens bíblicos fossem transexuais.

POWERED BY B.A.

A dinâmica é aquela de sempre: quando Deus estava feliz com seu povo, ajudava a vencer as batalhas das formas mais fantásticas: jogava grandes pedras de gelo do céu, fazia o sol e a lua ficarem paralisados no lugar e fazia inclusive o inimigo querer lutar, não conseguir se render. Novamente, Deus fez com que os moradores de diversas cidades “teimassem em lutar contra o povo de Israel, para que, assim, fossem completamente destruídos e mortos sem dó nem piedade”.

Josué estava performando tão bem, tunado pelo Senhor, que conseguiu vencer todas as cidades que atacou, conquistar todos os territórios que quis e inclusive conseguiu matar todos os gigantes Anakins (George Lucas 171 do caralho) que existiam na região.

Obviamente a Bíblia e sua tara descritiva fez questão de listar todos os reis derrotados por Josué, nem como especificar em que cidade começava e em que cidade terminava o reino de cada um. Também descreve em detalhes que partes tomadas foram dadas a quais tribos israelitas. Pularemos estes capítulos para que o leitor não entre em coma devido ao tédio.

Finalmente, Josué havia conquistado tudo que podia naquele contexto. Faltaram algumas cidades, mas não havia israelitas para ocupar toda a área, então, Deus prometeu que expulsaria as pessoas das cidades que faltavam à medida que as outras cidades fossem crescendo em sua direção. E finalmente o povo israelita conseguiu sua Terra Prometida e houve paz.

Josué envelheceu e morreu, mas não sem antes fazer um longo sermão de como todos devem ser fiéis a Deus e como sofrerão uma infinidade de danações se fizerem algo que desagrade ao Senhor. E assim encerramos o livro Josué. Mas calma que o final feliz dura pouco.

Vamos agora para o livro Juízes 1.

O tempo passou, as cidades expandiram e era hora dos israelitas expandirem seus domínios e tomarem conta por completo da Terra Prometida. Para isso, teriam que expulsar outros povos que estava em seu território e que não adorava o mesmo Deus que eles.

Começa, então, a segunda parte da guerra para tomar a Terra Prometida. Os israelitas continuavam com o apoio de Deus, o que configurava a batalha uma baita covardia. A ordem sempre foi clara: expulsar os povos bárbaros que não adoravam o Senhor. E eles recebiam ajuda sobrenatural para isso. Fizeram o que tinham que fazer? Não. Você sabe que um aluno é burro quando ele não passa de ano nem colando.

Os israelitas venceram as batalhas, mas, em vez de expulsar os outros povos, decidiram escravizá-los e mantê-los por perto para que eles façam os trabalhos desagradáveis que o povo não queria fazer. Deus gostou? Claro que não. O trato não era esse. O combinado era expulsar essas pessoas que eram infiéis ao Senhor.

Ao ver esta desobediência, Deus começou mandando um anjo para dar um esporro. Recado do anjo: “Eu tirei vocês da terra do Egito e os trouxe à terra que havia prometido aos seus pais. Eu disse: Nunca quebrarei a aliança que fiz com vocês. Não façam nenhum acordo com os moradores desta terra. Pelo contrário, derrubem os altares deles. Mas vocês não fizeram o que eu disse. Em vez disso, vejam o que fizeram! Agora eu digo que não tirarei este povo do caminho de vocês. Eles serão seus inimigos, e os deuses deles vão ser tentações para vocês.”

Então, percebam: os israelitas seriam punidos por não terem expulsado os outros povos e a punição seria cair em tentação e adorar os deuses dos desses povos. Depois, por consequência, os israelitas seriam punidos por trair o senhor e adorar os deuses desses povos. Ou seja, Deus fez com que seu povo cometa o pecado que lhe gerou uma punição posterior. Fascinante.

E assim foi: os israelitas começaram a adorar os deuses dos outros povos e o Senhor ficou muito puto. Curioso é que, ao longo da Bíblia, quase sempre que traem o seu Deus acabam adorando outro deus chamado Baal.

Esse Deus deve ser bem interessante, pois mais de uma vez o povo se ferra todo por cair em tentação de adorar Baal. Curiosa para saber mais sobre Baal, se tanta gente está disposta a tomar punições violentas (neste ponto o povo já sabe que o Senhor pega pesado nos castigos), esse Baal deve ter realmente um apelo muito forte.

Obviamente, ao ver o povo caindo em tentação e adorando Baal, Deus ficou irado e começou a sacanear seu povo. Fez com que todos os povos vizinhos os atacassem e roubassem e ajudava esses povos vizinhos, assim os israelitas não tinham a menor chance de se defender. Seguiu-se um período de danação, choro e ranger de dentes.

Então, Deus cansou e disse que não expulsaria da Terra Prometida nenhum dos povos que haviam ficado, pois os israelitas não mereciam a ajuda. Os israelitas, por sua vez, em vez de expulsar mesmo sem a ajuda do Senhor, se misturaram com esses povos: fizeram amizade, casaram, tiveram filhos. E Baal continuou bombando. O Senhor não gostou e mandou mais danações.

Em determinado momento, quando seu povo já tinha se ferrado de todas as formas imagináveis, o Senhor resolveu mudar a estratégia. Com pena das suas criaturas, ele tentou mandar “líderes fortes” para o povo, que recebiam o nome de “juízes”. Esses juízes eram homens especiais que aconselhavam, ajudavam e tentavam colocar o povo de volta no bom caminho.

Basicamente, a dinâmica foi a seguinte: o povo fazia merda, Deus mandava um dos Juízes, esse homem notável guiava o povo por um caminho melhor, mas depois o povo voltava a fazer merda. Foram mais de dez Juízes tentando colocar o povo no caminho certo. Adiantou? Não. Voltavam a fazer merda. Parece que Deus tinha poder para tudo, mesmo para fazer o povo obedecer.

Nós vamos descrever o processo inteiro? Nós vamos narrar as tentativas de todos os juízes? Nós vamos descrever a enorme perda de tempo que são esses vinte capítulos? Obviamente não, pois chato. Mas vamos trazer apenas os melhores momentos para vocês.

Um dos juízes de chamava Gideão. Gideão tinha a missão de libertar o povo dos Midianitas. Gideão reuniu um exército para começar a batalha, mas o Senhor não permitiu. Ele disse a Gideão que não poderia batalhar com tantas pessoas pois “Você tem gente demais, e por isso não posso deixar que vocês derrotem os Midianitas. Se eu deixasse, vocês poderiam pensar que venceram sem a minha ajuda”.

Então, para que fique bem claro que a vitória foi obra de Deus, o Senhor mandou Giderão batalhar não apenas com poucas pessoas, mas também com os mais incapazes. E esse processo seletivo foi fascinante.

Deus disse a Gideão que leve todos os homens para um riacho e mande eles beberem água. Gideão obedeceu. Os homens que beberam água de forma normal foram excluídos, apenas foram selecionados para lutar os homens que “lamberem a água com a língua, como fazem os cachorros”. Sim, Gideão teve que vencer uma batalha com apenas 300 homens que bebiam água como cachorro, para que fique bem claro que não foi mérito dele e sim do Senhor.

Outro juiz foi Jefté, que era, literalmente, filho da puta. Sua mãe era uma prostituta e ele foi discriminado por isso. Ele tinha a missão de atacar os Amonitas.

Jefté ficou trocando ameaças com líder dos Amonitas via mensagem, tipo briga de hater de rede social. Quando chegou a hora do confronto físico, Jefté pediu ajuda do Senhor nos seguintes termos: se conseguisse derrotar os Amonitas, ele queimaria em sacrifício a Deus a primeira pessoa que saísse da sua casa para recebê-lo na volta da guerra.

Sim, Jefté subornou o Senhor com um membro da sua família. Venceu a batalha e, na volta, sua única filha, Mispa, sair correndo para recebê-lo, toda alegre, tocando um pandeiro. Mispa foi churrascada.

Por fim, temos o mais famoso de todos: Sansão. Uma mulher que não podia ter filhos recebeu uma visita de um anjo do Senhor e o anjo lhe disse que ela engravidaria, se seguisse algumas instruções. Essas instruções não eram muito racionais, por exemplo, nunca poderiam cortar o cabelo do filho, mas, como ela estava desesperados para ter um filho obedeceu.

Assim, ela engravidou e deu a luz a Sansão. Sansão era guiado pelo Senhor e frequentemente era agraciado com alguns superpoderes. Por exemplo, Deus lhe deu uma enorme força e com ela Sansão derrotou um leão, brigando com suas próprias mãos, sem armas.

Sansão se casou com uma moça (que não era Dalila) e seu casamento terminou por causa de uma charada. Ele desafiou os colegas em uma espécie de “o que é, o que é” Antes de Cristo e, como não conseguiam decifrar o enigma, eles foram até a mulher de Sansão e disseram que ela deveria arrancar a resposta do marido, caso contrário colocariam fogo na casa do pai dela.

Apavorada, a mulher chorou por vários dias até que Sansão lhe contou a resposta. A mulher, por sua vez, contou a resposta para as pessoas que estavam ameaçando sua família e Sansão ficou muito puto. A coisa escalou até o relacionamento terminar. Parece que quem ama deixa a família morrer para não estragar uma charada do marido.

O tempo passou e Sansão se envolveu com Dalila. E aqui, senhores, começa uma enorme decepção. Eu sempre achei que a história de Sansão e Dalila era uma bela história de amor, quando na verdade, é uma história que faz feminista virar Red Pill.

Ao verem Dalila se relacionando com um homem que tinha uma força descomunal, governadores da cidade foram até ela e pediram que ela descubra qual era o segredo da força de Sansão, oferecendo barras de prata em troca dessa informação. Dalila topou vender o marido em troca de prata.

Ela sondou Sansão sobre qual seria a forma de neutralizar sua força. Sansão mentiu e disse que se ele fosse amarrado com cordas de arco, perderia a força. Dalila amarrou ele com estas cordas e armou uma emboscada, mas, Sansão se soltou facilmente. Dalila, acreditem, ficou chateada por ele ter mentido para ela. Sim, ela armou para o marido e no final ela ficou chateada. Claramente um relacionamento tóxico. Sansão foi embora? Não. Sansão ficou.

Dalila fez isso várias vezes, perguntava como seria possível acabar com sua força, ele mentia, ela tentava, ele escapava e ela ficava puta. Supõe-se que depois de algumas tentativas como essas Sansão deveria perceber que, talvez, quem sabe, Dalila não fosse muito confiável, certo?

Pois bem, o imbecilóide de Sansão não apenas continuou com ela, como acabou dizendo a verdade a Dalila: sua força residia em seu cabelo, se ele fosse cortado, ele ficaria fraco.

Dalila imediatamente informou isso aos governantes, que enviaram homens para sua casa. Enquanto isso, ela fez com que Sansão adormeça no seu colo, o que permitiu que cortem seu cabelo com facilidade. Quando ele acordou, tentou lutar contra as pessoas que que o atacaram, mas estava fraco. Furaram seus olhos, o prenderam e o sujeitaram a trabalhos forçados.

No final das contas, Sansão acabou morto, mas, em um último ato de vingança, matou muita gente junto antes de morrer.

Mas o ponto é: complicado ler a Bíblia acreditando nela e não ter raiva de mulher. Desde Eva que mulheres fazem cagadas ou sacaneiam os outros sistematicamente. Não que homens não façam cagadas, mas também fazem muitas coisas boas, heroicas, grandiosas. Mulher não. Mulher na Bíblia só faz merda.

Longe de mim querer militar, não quer dar protagonismo para mulher? Não dá. Mas porra, toda mulher que aparece precisa ser uma filha da puta? Francamente, lamentável.

Encerramos por aqui, e já aviso que no próximo capítulo abrimos com baixarias da pior qualidade.

Nomes de personagens deste trecho que sugerimos como possíveis nomes de pets: Adoni-Zedeque, Hoão, Pirã, Jadia, Debir, Hebrom, Jarmute, Laquis, Eglom, Jabim, Jobabe, Seon, Ogue, Balaão, Beor, Eleazar, Num, Calebe, Jefoné, Anaque, Arba, Sesai, Aimã, Talmai, Acsa, Otoniel, José, Josué, Maquir, Gileade, Zelofeade, Héfer, Gileade, Manassés, Macla, Noa, Hogla, Milca, Tirza, Peor, Acã, Zera, Fineias, Moabe, Maal, Balaque, Zipor, Cuchã-Risataim, Jael, Héber, Sísera, Joás, Gideão, Zeba, Salmuna, Siquém, Abimeleque, Tolá, Puá, Jefté, Débora, Baraque, Gileade, Mispa, Ibsã, Elom, Abdom, Orebe, Zeebe, Joá, Puá, Dodo, Manoá, Sansão e Dalila. Nossa sugestão é um casal de periquitos com dois nomes dessa lista, assim você pode dizer que tem “de Maal a Peor” (desculpa).


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