Numa canetada só, a CBF modificou a lista dos maiores campeões brasileiros até hoje. Unificando as conquistas do Campeonato Brasileiro atual com outros torneios como Taça Brasil e “Robertão”, os dois novos maiores vencedores da história são Santos e Palmeiras.
Os critérios e o momento dessa decisão sugerem que não são só as salas de troféus dos clubes beneficiados que estão ficando mais ricas… Desfavor da semana.
SOMIR
Bastou pipocar na imprensa os absurdos que serão permitidos à CBF (vulgo seu dono: Ricardo Teixeira) por causa da Copa do Mundo de 2014 que a história da unificação dos títulos brasileiros foi tirada da gaveta.
Conveniente, não? Antes da discussão sobre os “novos” títulos conferidos a diversos clubes, discutia-se a isenção completa de impostos concedida a uma empresa COM fins lucrativos cujo ÚNICO sócio é o presidente da CBF. Empresa criada apenas para organizar a Copa do Mundo. Basicamente, a empresa pode importar qualquer coisa sem pagar uma taxa sequer e TODO o lucro pode ir direto para o bolso de uma pessoa física no final da brincadeira.
Não bastavam os elefantes-brancos que serão construídos com dinheiro público por todo o país, precisavam de um pouco mais… E a enrolação para começar a construção dos estádios para a Copa tem um “excelente” motivo: Se ficar muito em cima da hora, dá para sair torrando o NOSSO dinheiro sem licitação através de uma brecha na lei.
Bom, esses não são assuntos agradáveis para ocupar os jornais. Estava na hora de jogar merda no ventilador e deixar os torcedores de diversos clubes se pegarem em uma discussão pra lá de espinhosa. Estava na hora de unificar os títulos brasileiros!
Funcionou. Se essa unificação fosse algo realmente justificável, já teria acontecido DÉCADAS atrás. Precisou que um clube (curiosamente o Santos, maior beneficiado) entrasse com o pedido para que se começasse a pensar no assunto em primeiro lugar. Como era de se esperar, ficou juntando teias de aranhas nos arquivos da CBF até que finalmente tivesse uma utilidade prática.
Um dos maiores motivos pelo qual não se dava muita bola para o pedido é justamente o valor subjetivo que deveria ser conferido aos campeonatos DIFERENTES do campeonato brasileiro (que começou em 1971). Claro que o futebol brasileiro não começou ali, já tínhamos mais títulos mundiais naquele ano que a Argentina tem até hoje. Mas isso não quer dizer que disputava-se um campeonato brasileiro real antes daquele ano. Eram campeonatos de conveniência: Participava o time que tinha tempo e dinheiro. Somos um país continental e naqueles tempos era virtualmente impossível criar um campeonato de pontos corridos para times de todo o país com turno e returno como temos hoje.
Não se chamava campeonato brasileiro porque até o pessoal da época sabia que não era um campeonato brasileiro. Era o que dava para fazer. E o que dá pra fazer não é sinônimo de fazer direito. Neguinho não sai do motel dizendo que comeu a mulher se o máximo que conseguiu foi dar uma pegada nos peitos dela…
Equiparar momentos tão diferentes da história baseado em subjetividades como importância relativa transforma tudo numa piada. Bem como foi dito durante a semana: Se unificassem as lideranças do Brasil, Dilma seria a segunda mulher presidente. A Portuguesa entrou com um pedido na CBF querendo que suas antiqüíssimas vitórias no Rio-São Paulo fossem consideradas títulos nacionais, já que considera o campeonato o mais difícil do Brasil na época. Virou palhaçada.
Temos um exemplo excelente vindo da Inglaterra, que contabiliza seus campeões nacionais de 1888. Eu não errei não… Mil oitocentos… Os times daquele tempo disputavam O MESMO campeonato que os times atuais. Pontos corridos com times de todo o país, e antes mesmo de 1900 eles já tinham segunda divisão! Faz sentido que todos os títulos sejam equiparados.
E tem gente dizendo que mesmo que fizessem um campeonato brasileiro igualzinho ao atual Santos e Palmeiras teriam vencido da mesma forma naqueles anos. Não duvido, mas não existe campeão teórico. A seleção brasileira de 82 também ganharia qualquer campeonato… Menos o que disputou.
Ou é ou não é.
E não é. Os campeonatos unificados não eram campeonatos brasileiros. Não é culpa dos times, não é culpa dos jogadores, não é culpa das torcidas. Tostão escreveu há pouco que não estava nem aí porque já comemorara o título quando ele aconteceu, essa contagem não mudava em nada sua vida. E esse é o cerne da questão: Não faz a porra da menor diferença para os clubes. Ninguém vai ler o novo número de títulos e mudar sua visão sobre o time… É discussão injetada pela CBF para abafar uma série de escândalos que não paravam de surgir nos últimos meses.
E como eu sou corinthiano, vão imaginar que eu só estou reclamando porque meu time não “ganhou” nada. A verdade é que do meu ponto-de-vista, só deveriam valer os campeonatos de pontos corridos. O resto antes disso foram torneiros malucos e frequentemente injustos com os melhores times. O primeiro campeão brasileiro deveria ser o Cruzeiro de 2003. Mas como latino tem essa mania brega de enfiar estrela em cima do escudo a cada par-ou-ímpar que ganha, ninguém vai topar TIRAR títulos dos clubes.
(Em países civilizados, e na Itália, precisam 10 títulos nacionais para colocar UMA estrela no escudo…)
Se só querem títulos sem se importar com o valor deles, deveríamos imitar os outros países latinos, que disputam dois campeonatos nacionais por ano. Já estamos cagando na história mesmo… Seria um peido.
Para dizer alguma bobagem ilógica de torcedor genérico, para falar que 2010 é o ano com o maior número de campeões da história, ou mesmo para concordar que o plano do Ricardo Teixeira foi brilhante: somir@desfavor.com
SALLY
A CBF não cansa de fazer merda. Nesta semana, decidiu que os títulos de todas as Taça do Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa (wat), disputados antes de 1971, passariam a valer como títulos de Campeonato Brasileiro.
Engraçado, eles acham que o Torneio Roberto Gomes Pedrosa tem status para equiparado a campeonato brasileiro mas a Copa União não tem, mudando de idéia e dizendo que agora acha que o Flamengo é Penta e não Hexa. Não que isso faça muita diferença, porque a FIFA, autoridade máxima do futebol mundial, já bateu o martelo e disse que é Hexa e ainda cabe discussão e recurso da decisão da CBF, mas só para ilustrar o absurdo. O próprio site da CBF, em seu site, chamou o Flamengo de Pentacampeão antes de 2009. No mínimo, contraditório. Todo mundo sabe que isso é picuinha do Sr. Ricardo Teixeira, um bandido criminoso de marca maior (um dia ainda entro em detalhes) mas deixa pra lá. Não é esse o assunto de hoje.
Voltando ao desfavor da semana: mudar as regras do jogo trinta anos depoisE o absurdo não para por aí. Segundo as novas regras da CBF temos distorções como o Palmeiras ter sido “campeão brasileiro” DUAS FUCKIN´ VEZES NO MESMO ANO! Como pode? Achei engraçado os argumentos para equiparar estes títulos. Um deles era que assim seria feita uma “homenagem” a Pelé, pois seriam dados títulos ao Santos. Então tá, mudaram todas as regras do jogo mais de trinta anos depois do final deste jogo para fazer uma homenagem ao Pelé. Bacana. Vou roubar dinheiro da UNICEF destinado às criancinha, comer um traveco no vestiário e ser condenada a duas falências fraudulentas para ver se alguém me faz uma homenagem. Vem cá, a homenagem não podia ser uma estátua ou uma plaquinha não?
Caso você esteja boiando no assunto, quero deixar bem claro que o Campeonato Brasileiro começou em 1971. Foi só em 1971 que começaram efetivamente as competições de abrangência NACIONAL. Pegar torneios regionais, que são muito mais fáceis de vencer e elevar ao status de Campeão Brasileiro é uma marmelada muito vergonhosa, até mesmo para a CBF. O assunto é novo, não sei bem o que está por trás disso mas tem gente levando muito dinheiro com isso, porque ninguém sustentaria uma incoerência dessas se não fosse por uma quantia indecente de dinheiro ou favorecimento pessoal.
O que a CBF está fazendo é reescrever a história de uma forma mentirosa. Para você que não entende chongas de futebol, a Taça Brasil nunca foi um campeonato nacional. Paulistas e cariocas só entravam na disputa nas semifinais, sem contar que só os campeões estaduais participavam dela. Era tão inexpressiva que houve até mesmo casos de vitórias por FUCKIN´ WO, pois muitos times nem mesmo achavam que valia a pena participar dela! Para vocês terem idéia do quão de merda era esse campeonato, São Paulo e Corinthians nunca disputaram uma edição da Taça Brasil!
E agora a CBF chega dizendo que ela vale tanto quanto um Campeonato Brasileiro! Sem contar que, devido à sua inexpressividade, não precisava muito para ser campeão. Um exemplo rápido: nos anos de 1963 e 1965 o Santos só teve que disputar QUATRO, EU DISSE FUCKIN´QUATRO partidas para ser campeão! Quer equiparar isso a um ano inteiro de Campeonato Brasileiro onde os times tem que disputar pelo menos vinte jogos ou mais? Então enfia essas taças no meio do cu, porque isso é uma falta de vergonha.
O que dizer do Torneio Roberto Gomes Pedrosa? Conhecido carinhosamente como “Robertão”, só pelo nome não merece o status de um Campeonato Brasileiro. O Robertão era uma espécie de Taça Rio/São Paulo, onde os clubes participavam por CONVITE e não por direito. Sim, só entrava quem era convidado! Panelinha! Muito justo! E não eram todos os estados brasileiros que eram chamados a participar! Ridículo, absurdo.
Se era para tomar uma decisão bizarra como esta, que ao menos os clubes fossem chamados para discutir e votar. Mas não, a CBF fez tudo a toque de caixa, de forma unilateral e apressada. Alguém já se perguntou como essa babaquice começou? A gente conta. Começou com um dossiê elaborado por um jornalista chamado Odir Cunha defendendo esta unificação. O que não se comenta é que ele foi muito bem remunerado pelos clubes interessados que ganhariam títulos com isso. Aliás, não deve ter sido apenas o jornalista a ser bem remunerado, no final das cotas.
Longe de mim começar a meter o pau na baixaria e suborno que rolam soltos no futebol nacional, porque isso seria chover no molhado e a proposta do Desfavor é trazer sempre um novo ponto de vista. Minha crítica diz respeito ao fato de se pagar caro por uma palhaçada que 1) não vai colar, 2) desmoraliza e vira motivo de piada e 3) não acrescenta em nada aos clubes. Esta unificação (porque cá entre nós, “reconhecimento” é o caralho) não traz nenhum benefício prático aos times, apenas a determinadas pessoas.
Será possível que os envolvidos no caso não se deram conta do tamanho do VEXAME que seria, no final das contas, fazer essa unificação? Pense que você fez uma prova trinta anos atrás, prova esta que determinou rumos da sua vida profissional e agora, trinta anos depois, chega a pessoa que corrigiu a sua prova afirmando que ela vai ter um peso diferente, ou uma correção diferente! Não resta alternativa além de olhar para a cara da pessoa e perguntar se ela comeu bosta.
A CBF tá pensando que é quem para dar um valor de Campeonato Brasileiro a alguns torneios e não dar a outros? Tá achando que as pessoas vão entubar isso numa boa? Sinceramente, NADA, eu disse FUCKIN´ NADA, nem dinheiro nem poder, vale essa vergonha desmoralizante que a CBF está passando e ainda vai passar por causa dessa decisão patética de unificação. Foi mal, desta vez o tiro saiu pela culatra. Quanto vale a sua dignidade?
E não pensem que e raiva de Flamenguista não. Sou uma pessoa coerente acima de tudo. Se o Flamengo tivesse sido beneficiado com uma palhaçada dessas eu seria a primeira a vir aqui e dizer que repudio. Prefiro menos títulos limpos do que sete ou oito obtidos desta forma corrupta e desonesta. CBF e Ricardo Teixeira, sinto avisar-lhes que isso foi a gota d´água. Meu instinto feminino de diz que vocês foram longe demais e que esse é o começo do fim desta era imunda de trapaças.