Autor: Desfavor

Essa taça era minha!Sally e Somir são seres ciumentos. Embora demonstrem de forma um tanto quanto diferente, não é sobre o valor do ciúme que trata-se hoje.

Nesta coluna vamos à raiz da questão: O que se depreende a partir de uma demonstração deste comportamento. Ela acha que é prova de amor, ele acha que é prova de… ciúme.

Tema de hoje: Ciúme é uma prova de amor?

SOMIR

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E não me entendam mal, acho que o ciúme pode e deve fazer parte de uma relação amorosa. Tenho horror desse papinho hippie de que quem ama de verdade não sente ciúmes. Cada um que defina o que considera uma demonstração inegável de afeto…

Só que meu papel aqui não é apenas dizer no que eu acredito, existe um mundo de pessoas ao nosso redor que farão questão de discordar da idéia de que o ciúme está intimamente ligado com a noção de amor. De forma consciente ou não.

Ciúme é uma demonstração de possessividade. Simples assim. Toda a carga (costumeiramente negativa) de significados extras em cima disso não passa de “invenção”. Pode-se ter ciúmes da mulher da sua vida, do seu animal de estimação, de um carro… O simples fato de não estar disposto a dividir com outras pessoas não significa que todas elas tenham o mesmo valor para você. (O carro vai continuar sendo a prioridade, claro.)

É uma manifestação de egoísmo. Egoísmo que é tão natural quanto socialmente reprovável para as pessoas em geral. E já que a forma mais preguiçosa de lidar com um problema é fingir que ele não existe, dá-lhe disfarçar ciúme de tudo quanto é jeito que pareça mais nobre para os outros.

Disfarçar positivamente (como a Sally, dizendo que é amor) e negativamente (como a maioria faz, dizendo que é insegurança e só acontece com os outros).

Mas a realidade tem essa mania de cagar e andar para as mentirinhas que contamos para nós mesmos todos os dias. Tanto que vira e mexe tem gente completamente perdida com o ciúme que sente, não conseguindo precisar o seu significado e se martirizando com a errônea idéia de que é um monstro sem controle.

Pois bem, vamos repetir para ver se entra na cabeça de vez: Ciúme é possessividade. Acabou. E possessividade passa longe de ser algo tão ruim assim: Como a maioria das coisas nessa vida, faz mal em doses exageradas.

Não quer dividir algo (ou alguém)? Oras, é direito seu se você conseguir lidar com as consequências. É até útil para a humanidade. Se todo mundo dividisse tudo, as melhores opções seriam utilizadas até o limite, e o resto seria completamente abandonado. Onde ficaria o esforço pessoal para conseguir algo só seu? Ninguém evolui assim.

É libertador assumir o seu egoísmo. Até porque possíveis inimigos devem ser vigiados constantemente. Sem essa frescura de achar que é sempre algo ruim, fica mais simples definir quando é hora de se impor e quando é hora de ser magnânimo.

E quando eu limito o significado do ciúme dessa forma, não estou afastando-o de vez de um eventual amor. Além de ciúme de um amor, existem também ciúme sem amor e amor sem ciúme.

Muitas vezes numa relação rasa ou problemática uma pessoa pode se sentir mal por ver a outra demonstrando interesse em um terceiro. De um ponto de vista masculino, tende a ser simples demarcação de território. Cria-se a situação onde tal pessoa já está definida como “sua” e incomoda ver outro tentando entrar “nos seus domínios”. O problema nem é perder aquela pessoa, é a sensação de que outro ganhou o que você estava protegendo.

Tem ciúme que se desenvolve a partir de insegurança, claro. Mas a insegurança estaria ali com ou sem demonstrações de ciúme. É apenas uma das formas de demonstrar que na verdade só tem medo de ficar sozinho. Tem quem aja de forma ciumenta, tem quem se anule, tem quem dê golpe da barriga…

E não podemos nos esquecer dos malucos que REALMENTE amam e não sentem nem sinal de ciúme. Chamo de malucos porque simplesmente não consigo pensar de forma parecida (e olha que eu tenho talento para me colocar no lugar de alguém, embora dificilmente verbalize minha compreensão), mas respeito como uma forma diferente de ver o mundo. Devem ficar menos estressados.

E sim, ciúme pode ser uma medida de interesse amoroso, mas não PRECISA ser. Considerando que quase todo mundo chama qualquer trepada de amor hoje em dia, a tendência é que na maioria avassaladora dos casos seja só o extravasamento da possessividade (por motivos diversos, como os dos exemplos anteriores…).

Eu sempre medi amor numa escala de comprometimento. Não estou falando de símbolos babacas como alianças ou papéis de casamento, refiro-me às provas práticas de que se está disposto a bancar sua escolha: Estar lá na hora da necessidade, confiança, cumplicidade, interesse honesto no bem estar do outro… assim como tantas outras coisas que podem acontecer no dia-a-dia. (como engolir, mulherada…)

Demonstrar possessividade pode fazer parte, desde que com a idéia certa por trás: A pessoa te considera uma escolha tão certa que está realmente disposta a provar que está atenta a ativa na “defesa do território”. Sem contar que é divertido ver alguns ataques de ciúme não-provocados. (Desconfiança que é a merda…)

Se é prova de interesse continuado, pode até combinar com sua idéia de amor, mas mesmo assim… Não é o ciúme em si. Menos romantismo, mas honestidade.

“Amor é uma coisa egoísta” – Bender

Para dizer que morre de ciúme do desfavor e não passa o link pra ninguém, para me irritar dizendo que “concorda com os dois”, ou mesmo para reclamar que não aguenta mais concordar comigo (somos dois): somir@desfavor.com

SALLY

Eu acho que sentir ciumes é sim uma prova de amor. Não é a única prova de amor que existe, é apenas mais uma prova de que a pessoa te ama, gosta de você e se importa. Imagino que as feministas estejam torcendo o nariz para mim neste exato momento, mas um dos termômetros para saber o quanto a pessoa ainda se importa com você é sim o ciume.

Ciume vem sendo muito vilanizado ultimamente. Bobagem. O que acontece é que as pessoas confundem ciúmes com desconfiança, possessividade e insegurança. Ciúme virou eufemismo para isso, porque neguinho se sente muito mais confortável dizendo “tenho ciúme de você” do que dizendo “eu desconfio que você seja uma baita duma piranha que está dando mole para aquele sujeito”. Ofende menos. Além disso, quando se pensa em ciúmes, se pensa em reações exageradas e descontroladas, como se não fosse possível sentir um ciúme normal.

Vamos esclarecer meu conceito de ciúmes, para que a gente possa partir para o argumento principal:

– Namorado e Namorada em uma festa. Namorada se portando de forma correta e exemplar. Pessoa tentando flertar com Namorada, não sendo correspondido. Namorado chateado por ver aquilo = ciúmes. Namorado sabe que Namorada não fez nada para incentivar ou corresponder, mas fica chateado com a situação e com o babaca que está dando em cima da sua mulher, mesmo tenho a certeza absoluta de que ela não esteja correspondendo.

– Namorado e Namorada em uma festa. Namorada com roupa ousada distribuindo sorrisos e dançando com outros homens. Homem fala algo no ouvido da Namorada e ela ri apoiada no ombro dele. Namorado fica chateado ao ver a cena = desconfiança. A namorada está dando motivos para que ele pense que, de alguma forma, ela está gostando ou consentindo o flerte. Isso não é ciúmes, é desconfiança. Desconfiança é uma merda para a relação.

– Namorado e Namorada em uma festa. Namorada passa a festa toda dando atenção apenas às suas amigas. Fica em uma rodinha de mulheres fofocando e rindo a noite toda e mal olha para a cara do namorado quando ele fala com ela. Namorado fica puto por estar sendo preterido = possessividade. Não é ciumes, não há receio de perder a pessoa amada, apenas se quer atenção naquele momento.

– Namorado e Namorada em uma festa. Namorada dança de forma a atrair a atenção. Ninguém olha de forma maldosa, porém ela chama a atenção dos presentes. Namorado fica chateado porque a Namorada está no centro dos holofotes = insegurança. Não há “ameaça”, não há falta de respeito, apenas o temor de que a Namorada se destaque tanto que ofusque ou faça parecer que o Namorado é menos do que ela.

Um exemplo que eu costumo usar quando falo de ciúmes, o legítimo, para provar que ele está desvinculado ao temor de perder a pessoa: se um rapaz der em cima do meu namorado, eu sentirei ciúmes. Mesmo sabendo que meu namorado não é gay e que ele não terá a menor intenção de retribuir, eu sentirei ciúmes, porque estão mexendo com uma pessoa que eu amo. Ciúme pode estar completamente dissociado de desconfiança, insegurança e possessividade. O fato de alguém dar em cima do seu namorado, por si só, basta para gerar aborrecimento, para incomodar – ainda que se tenha a certeza de que não será correspondido.

Por mais que se diga que a origem do ciúme é o medo de perder a pessoa, este medo está em abstrato. Quando alguém flerta com seu namorado se você tem dúvidas de que ele está correspondendo ou que você vá ser trocada, está na hora de dar um pé na bunda dessa pessoa, porque você não confia nele. Porém se o medo é que, com a atenção daquela pessoa ele possa, quem sabe, um dia, vir a se interessar, neste caso sim poderia ser considerado ciúme. E mesmo que se tenha a certeza que a pessoa nunca vai se interessar, o simples fato de ter alguém mexendo com o seu amor basta para despertar ciúmes.

Vamos ao argumento principal: se você efetivamente gosta de alguém e se importa com essa pessoa, se importa quando alguém age de forma inconveniente, flertando ou com excesso de intimidade. Não tem dessa que se Fulaninho te ama ele nunca vai se interessar por mais ninguém, isso é um pensamento romântico/babaca/idiota e é por causa dele que tanta gente leva chifre. Acidentes acontecem, cuide bem do seu amor e as chances de um acidente acontecer será menor. Mais: a quantidade e intensidade do ciúme costuma ser proporcional ao amor que se sente pela pessoa. Quanto mais você se importa, mais ciúme sente.

E vamos esclarecer mais uma coisa: SENTIR ciúmes não se confunde com VERBALIZAR ciúmes. A pessoa pode se rasgar toda de ciúmes calada (raça que eu desprezo profundamente). SENTIR ciúmes é prova de amor, seja ele verbalizado ou não. Quem ama pode evitar de externar o ciúme, mas não de senti-lo. Se a pessoa não SENTE ciúmes de você, desculpe, mas é muito provável que esteja apenas acomodada ao seu lado e que não te ame.

Outro ponto importante: ciúme não implica em briga, gritaria, ofensa e bate-boca. A pessoa pode sentir ciúmes e não necessariamente brigar por isso. Até porque, na maior parte dos casos de CIÚME a razão do seu afeto não tem culpa do que está acontecendo. Então, não é necessário briga para provar o amor. Basta o SENTIR ciúme. Uma última consideração: ciúme não precisa ser exagerado, desmedido ou excessivo.

Ciúme é uma forma de cuidado com a pessoa que se ama. É uma forma de estar alerta, de ter consciência que seu parceiro não está definitivamente garantido, ou seja, de que é necessário cultivar a relação e trazê-lo sempre para o seu lado. Pessoas que se relacionam nesse clima de “já ganhei, já é meu para sempre” ou ainda “se for amor de verdade, ele nunca vai se interessar por mais ninguém” não costumam sentir ciúmes, pois não tem medo de perder – e sempre se ferram no final das contas.

Viver a vida com medo é uma merda. Porém, viver a vida sem medo também. Uma dose saudável de medo nos protege, nos impede de entrar em situações que representam um risco significativo para a nossa vida, o que acaba por contribuir para uma vida mais longa. O mesmo acontece com o ciúme. Muitas vezes ele impede que um relacionamento seja colocado em risco de forma desnecessária. E sim, isso é prova de amor. Quem arrisca seu relacionamento está dizendo, em outras palavras, que não lhe dá muita importância.

Normal que a Madame aqui de cima não dê valor a ciúmes. Ele se acha tão “a última bolacha do pacote” que jamais consideraria a possibilidade de uma mulher trocá-lo por outro ou se interessar por outro. E se ela o fizesse, seria uma burra (arrogância? oi?). Excesso de confiança. Eu sou mais humilde, acho que ninguém está garantido e que temos sempre que cuidar da pessoa que está ao nosso lado. Não por desconfiança e sim por amor.

Tem prova de amor maior do que cuidar do seu relacionamento e da pessoa amada?

Para dizer que eu sou uma neurótica ciumenta que romantizou a situação para vender seu argumento, para dizer que, não importa o que eu escreva, você sempre vai dizer que eu sou uma mal amada, e para dizer que eu só penso assim porque sou uma gordinha insegura: sally@desfavor.com

Coragem!A imprensa brasileira ficou “monoopinionática” nesta semana. Neymar, o jogador com nome tão bonito quanto sua cara, decidiu esnobar uma oferta multimilionária do Chelsea e continuar no time que o revelou. Enquanto todos babam ovo e falam de decisão histórica, o desfavor faz o seu papel e observa o real valor do que aconteceu.

Desfavor da semana.

SOMIR

Vamos entender primeiro uma questão importante: Por mais que o Euro valha mais que o Real, os preços na Europa são fixados em euros. E além disso, considerando que o europeu médio tem mais dinheiro que o brasileiro médio, os preços de lá são ainda maiores que a simples conversão monetária. Os custo de vida por lá é mais alto.

Esse papo “econômico” visa explicar que um salário astronômico brasileiro não é tão diferente assim de um salário astronômico europeu na questão do poder de compra. Os jogadores brasileiros se mandam para o velho continente porque a chance de um time brasileiro equiparar esses salários é minúscula. Tá todo mundo devendo as calças e as cuecas, faz tempo.

Neymar decidiu ficar no Brasil depois de receber uma oferta de salário altíssimo do time que detém seu passe. O que, no final das contas, daria quase no mesmo que o oferecido pelo clube inglês.

Pode-se argumentar sobre o valor do passe em si, que era milionário e renderia uma boa parcela para o próprio jogador. Mas com a idade que tem, não passa nem perto de ser a última chance dele de coletar essa bolada.

E eu falo de questões financeiras porque essa pobralhada (de espírito) que joga bola no Brasil só liga pra isso. Até parece que um jogador brasileiro ficaria animado por morar mais perto de grandes capitais culturais da humanidade… Tem que juntar dinheiro pra comprar carrão e viver aquela vida de celebridade/rapper de videoclipe americano que sempre sonharam viver.

Fazer esse caminho em um país “alienígena” (Se Neymar sabia o nome de uma cidade inglesa além de Londres, eu sou a Rainha da Inglaterra) tende a ser bem mais complicado. Existem vários casos de jogadores que simplesmente não se adaptam (Adriânus?) e voltam para fazer suas merdas por aqui.

Por essas bandas, jogadores como Neymar já são estrelas. No país e no clube onde ele jogaria, ele voltaria a ser uma promessa. As milhões de interesseiras nacionais que o amam incondicionalmente (rico) se tornariam meia dúzia de inglesas desesperadas por dinheiro. E vamos concordar que faz diferença: Quando o que você tem pra oferecer é dinheiro E fama, a qualidade das vadias que aparecem ao seu redor aumenta substancialmente. E vamos concordar que Neymar é uma das coisas mais feias que já apareceram no mundo até hoje. Sem os atrativos extras da profissão bem remunerada, estaria ferrado nesse departamento. Mulher é bem mais generosa naturalmente (e eu agradeço por isso), mas não vamos exagerar…

Viver num país mais sério que o Brasil também não é lá muito animador para quem está acostumado com o jeitinho brasileiro. (A Inglaterra passa LONGE de ser perfeita, mas se a comparação é com o Brasil…)

Sem contar que a mídia “rasgação de seda” se tornaria a boa e velha indústria dos tablóides britânicos. Acabaria a mamata de fazer a merda que quisesse e ainda ter a opinião pública passando a mão na sua cabeça. Lá é pancadaria MESMO.

E falando em pancadaria… Sabe aquela coisa de pedalar duas vezes e se jogar feito um saco de batatas podres no chão como “plano de jogo”? Não funciona por lá. Neymar teria que efetivamente fazer alguma coisa para não virar cobertor de banco feito seu ídolo Robinho. Estamos num dos raros países que protege jogador “cai-cai”. O cara passa metade do tempo comendo grama e reclamando e ainda vira craque…

Não que a coisa feia seja ruim, muito pelo contrário. Mas todo jogador tem que se adaptar quando sai daqui pra lá. Alguns se dão bem, outros nem tanto. E eu tenho a nítida impressão que Neymar é um daqueles que vai demorar tanto para entender que não é pra ficar dando uma de esperto ao ponto de perder todas suas chances nos grandes clubes. O Messi, que é tão ou mais baixinho e magrelo, aprendeu desde cedo a se virar para continuar de pé e a resolver jogos.

O que eu estou querendo dizer com este texto não é que Neymar fez a coisa errada, eu acho que foi a decisão mais inteligente mesmo. A questão é essa palhaçada da mídia de ficar endeusando alguém que só fez a escolha que a maioria dos outros jogadores adoraria ter feito: Ficar rico e famoso sem se esforçar muito mais.

O Brasil é carente de ídolos. É o tipo do mercado que está sempre contratando… Enquanto a diretoria do Santos aumenta as coisas de proporção por interesses financeiros, Neymar vai encher o cu de dinheiro com sua elaborada estratégia esportiva de ser o maior saltador ornamental em grama da história.

E todo mundo vai achar lindo. O orgulho de um brasileiro preferir o mercado europeu fala mais alto do que o fato óbvio que a proposta brasileira era mesmo melhor que a inglesa. Não teve nada a ver com abnegação ou patriotismo…

O grande exemplo que a figura pública deu para a população é uma fabricação, DE NOVO. É bem mais bacana para quem já tem dinheiro que a pobralhada continue se matando para conquistar independência financeira na loteria do “filho craque de bola”. A festa feita em cima da decisão de Neymar apenas reforça a imagem desse método. Quando eu achava que o Adriânus tinha ajudado a queimar o filme dos jogadores… Tudo volta ao normal. Obrigado por nada!

Mas com o dinheiro que o jogador pode trazer para os patrocinadores, quem se importa?

Para dizer que é opinião de torcedor envejoso e que você vai rir de mim no seu barraco quando o Neymar for campeão do mundo em 2014, ou mesmo para dizer que assim que começarem a reclamar dele, ele se manda pra Europa do mesmo jeito: somir@desfavor.com

SALLY

Ninguém escolhe os rumos de sua carreira pensando, em primeiro lugar, em ser exemplo, em detrimento de seus interesses. As pessoas escolhem o que é melhor para elas em primeiro lugar. SE calhar do melhor para elas também ser uma escolha exemplar, ótimo. Isso é normal, todos nós pensamos assim. Não vejo demérito. O que me aborrece muito é ver gente que faz escolhas de vida que são melhores para si e em vez de assumir, quer tirar onda de que fez esta escolha por motivos nobres, como fez o imbecilóide do Neymar, nosso Desfavor da Semana. Mais desfavor ainda quem é ignóbil o suficiente para acreditar em uma porra dessas. Só tem circo quando tem platéia.

Já estão apelidando o caso como o “Fico do Neymar”, em uma vibe D. Pedro I. Menos, gente, muito menos. Quase nada. O que me chateia mais não é essa tentativa infantil do Neymar de empurrar goela abaixo um discurso tão mentiroso no intuito de se auto-promover, o que me magoa é ver que a capacidade intelectual do brasileiro médio seja tão reduzida a ponto de que as pessoas comprem esse discursinho inconsistente e baterem palmas. Eita povinho manipulável!

Atenção para a frase de Neymar: “Espero ter sido um exemplo para outros jovens”. O que este quase-herói fez de tão importante? Descobriu a cura do câncer? Conseguiu a paz mundial? Não. Recusou uma proposta para jogar na Europa. NAONDE, Minha Gente, que isso é motivo para ser exemplo? NAONDE que ele acha que fez grandes merda? Tá ganhando uma fortuna aqui, provavelmente vai ganhar mais do que ganharia lá quando a imprensa alçar ele à categoria de novo ídolo ou novo mito. Sim, ele vai encher o rabo de dinheiro com publicidade e outros benefícios. Ele não é bonzinho, ele ficou porque aqui vai ser melhor para ele. Ele acha que vai virar O JOGADOR, o ídolo, o novo Pelé, entende?

Ele não fez essa escolha para “dar o exemplo” para os jovens jogadores. Ele escolheu isso porque era o melhor para ele. Nem sempre o mais bem pago é o melhor para a gente. E no caso dele, as escolhas foram por razões pessoais, pelo investimento futuro. Não vem tirar onda de quem está fazendo um grande sacrifício em nome da juventude. Quer se sacrificar, Neymar? Chama a gente que Somir e eu te pregamos em um cruz e você anda pela Vila Belmiro crucificado. Vamos ver se você volta em três dias. Manucu! Pra cima da gente não!

Vaidade é uma merda. Odeio essas pessoas que tentam capitalizar qualquer merdinha que fazem para sua imagem de bom moço: “Acho que fico marcado positivamente no futebol brasileiro por recusar uma proposta muito boa.”. NEYMAR, NÃO FODE! Teus motivos não foram o amor pela pátria e muito menos ser um exemplo para a nação. Juro que não sei quais foram, mas garanto que de nobres não tem nada. E abre o olho, porque já já a gente descobre e solta uma coluna “Não Disse?” metendo mais ainda o dedo na ferida.

Se eu tivesse que chutar, diria que eles prefere ser o primeiro dos últimos do que o último dos primeiros. Prefere reinar absoluto em um país que só abriga jogador em começo ou em fim de carreira. Mas como eu sei que futebol é um meio sujo, IMUNDO, como ficou provado nos tantos textos com denúncias que escrevemos, eu vou além: Neymar tá arranjado para ser estrela da Copa da 2014. Vão bombar Neymar, cada um por um motivo. Todo mundo tá lucrando. Inclusive ele, já que é muito mais fácil ser herói aqui do que na Europa.

Quer apostar que Galvão Chato Pra Caralho Bueno vai aposentar seu TOC por RRRRRRRRRRonaldo e vai passar a encher a bola de Neyyyyyymar? Vão vender esse moleque de tudo quanto é jeito, agora que o Babaquinha de Cristo foi desmascarado em sua mentira de “Não estava lesionado na Copa”. Ficaram sem um bom moço para vender Gillete, eis que surge Neymar. Não se enganem, TUDO é fabricado no futebol. Nunca que um moleque de origem humilde ia recusar uma bolada de nove milhões de reais por princípios ou para ser exemplo. Ele tem promessa de algo muito melhor. Tomara que o Deus dele seja mais camarada do que o do Kaká, já pensou se ele também acaba todo fodido na Copa? (“Não Disse?” feelings…).

Minha frase favorita foi “Só dinheiro não nos traz alegria. O que pesou foi a felicidade de continuar no Santos.” Alguém tem um Plasil? Porque estou com náuseas. COMO PODE o povo acreditar nesse discurso? Brasileiro é um bichinho romântico mesmo! Ô bicho inocente! A-LO-OU? Acordem para a vida! Vão ficar batendo palmas para isso? O que me chateia mais nem é a mentira, e sim o pouco crédito que Neymar dá para a nossa inteligência.

Neymar… Ô Neymar… Cê tá sendo bobo, Meu Filho. Desfavor te dá um toque: não sei o que te prometeram, mas provavelmente não vai rolar. Sua vaidade imbecil não te deixa ver a maldade que estão fazendo com você. Seja mais honesto com seus torcedores e diga algo como “Não fui por tal motivo, que foi determinante, mas acho que também foi bacana porque vou poder mostrar que é possível ter uma carreira de sucesso sem sair do país.”

Quem tem ética, ideais e princípios NÃO FICA DIZENDO POR AÍ. Todas as vezes em que eu fiz sacrifícios e renúncias em nome de, como o Somir chama, “meus ideais”, os fiz bem quietinha, em silêncio. Eu acho que perde o valor se você ficar pagando de mártir e espalhando pelos quatro cantos o “esforço” que você está fazendo por “motivos nobres”. Em poucas palavras: CALA A BOCA, NEYMAR! VAI TIRAR ONDA DE BONZINHO NA CASA DO CARALEEEEO! Pronto. Falei.

Olha a face (favor pronunciar “fêice”) do Neymar. Olha o look do indivíduo, Caro Leitor. É sério que alguém acredita que esse moleque tem discernimento de recusar nove milhões de reais para dar um bom exemplo? Dá nove milhões de reais para a gente do Desfavor, que tem diploma e discernimento que a gente mata um ao outro praça pública! O ser humano não é tão nobre como pode parecer. Aceitem. O ser humano é uma merda. Mas pelo menos a gente é uma merda que se assume merda. Somos uma merda honesta.

Não sei qual foi o motivo do Neymar, mas sei que NÃO FOI esse discurso Ursinhos Carinhosos que ele divulgou. E vou me empenhar em descobrir, porque nada me faz mais feliz do que ver gente hipócrita deixando a máscara cair e ver todas as ovelhas passivas que acreditaram no hipócrita chocadas. Esta conversa não acaba aqui. Desfavor tá de olho.

Para dizer que a única parte do texto que você concordou é que nós somos uma merda, para dizer que você acha que Neymar ouviu a voz do coração e para finalmente dar nome aos bois e reclamar, nominalmente, que o SOMIR vem atrasando e deixando de postar e que eu não tenho nada com isso: sally@desfavor.com

Questão de gosto...Sally e Somir tem pouco tempo para assistir televisão, mas nas raras oportunidades que surgem, compartilham o gosto por algumas séries americanas, especificamente as humorísticas. Como é também comum entre os dois sacanear opiniões alheias, sempre acham um jeito de fazer pouco das preferências um do outro.

E na hora de escolher a melhor de todas, não poderia ser diferente…

Tema de hoje: Qual a melhor série de humor (dos últimos tempos)?

SOMIR

Nunca fui muito de ser fã. Acho brega. Tendo a responder a primeira coisa que vem à cabeça quando questionado sobre “o melhor” de uma categoria. E depois mudar de idéia sem o menor stress logo depois. Afinal, o momento tem papel decisivo nessas escolhas.

Assim que Sally mencionou a série predileta dela, “Friends”, a primeira que me veio à cabeça foi “Seinfeld”. Se pararmos para pensar, a discussão tende a ficar entre essas duas mesmo, duas das mais bem sucedidas da história. Como eu tenho um cromossomo Y, obviamente não escolheria “Friends”. Mas mesmo em “Seinfeld” eu tenho algumas restrições. O roteirista (Larry David) é um gênio, George Costanza foi a melhor personagem de todos os tempos, o Kramer foi uma grande sacada… Mas o resto às vezes não acompanhava.

Buscando na memória, tentei lembrar de uma onde eu gostava de absolutamente tudo. E não é que eu achei?

“Married… with Children”. No Brasil, seguindo a tradição de nomes horrendos, a série se chamava “Um Amor de Família”. Foi lançada em 1987 e durou 10 anos nos EUA.

Lembro que passava na Band há vários anos atrás, toscamente dublada e tudo mais. Da primeira vez que eu vi era muito novo para entender todas as piadas, mas já achava o máximo a noção de uma série onde ninguém prestava. Era um alento para aquela chatice infantilóide de mocinhos e bandidos que tomava conta de programas infantis e todo o resto da programação televisiva brasileira. (Latino acha que “anti-herói” é quem se arrepende e fica bonzinho no final… Táqueu!)

Talvez pela dificuldade do público nacional de identificar os arquétipos tradicionais de novelas na série, não passou inteira por aqui. Só fui ter contato de novo depois que tive acesso à TV à cabo. E aí aproveitei para ver todos os episódios e perceber a influência “positiva” que ela teve nas séries futuras.

Foi o fim da obrigatoriedade da CHATICE de “abraços e aprendizado”. Sabe aquele momento melequento no final do episódio onde tudo acaba bem e todos aprendem uma valiosa lição sobre a vida? (Que nem acontecia em TODOS os episódios de “Friends”, por sinal…)

Em “Married… with Children” não tinha isso. Os episódios quase sempre terminavam pior do que começavam, e se as personagens aprendiam alguma coisa, era uma forma mais incorreta de fazer as coisas. E na época nem se podia chutar tanto o balde como se faz hoje em dia nas séries da HBO e da FX…

Para quem nunca acompanhou, a série é baseada no dia-a-dia de uma família pobre “tipicamente” americana. Bem mais que uma paródia, era uma sacaneada das boas em cima do sonho americano. E vamos concordar que num país patriota daqueles, não é apenas uma piadinha inocente.

A história era sempre um fiapo e os arcos de roteiro nunca davam em lugar algum. A “alma” da história era o fato das personagens estarem presas naquela situação sem nenhuma esperança de mudar. Essa “claustrofobia a céu aberto” servia para entendermos a personagem central da história: Al Bundy.

Al Bundy era o pai de família, porco e preguiçoso, um perdedor de marca maior que culpava a mulher e os filhos pelo seu fracasso na vida. Trabalhando quase o dia todo vendendo sapatos para mulheres gordas que odiava com o fundo de sua alma, seu salário era uma mixaria e tudo o que conseguia era prontamente desperdiçado por sua mulher, Peg. Peg Bundy era uma dona de casa que não mexia um músculo sequer para cuidar da casa e não queria trabalhar por nada nesse mundo. Os filhos desse casal eram um nerd tarado e uma loira burra vadia. A vizinha era uma feminista cretina que sempre sustentava algum vagabundo para ter poder.

É estereótipo e preconceito até dizer chega?

É! E é essa a graça. Pau no cu da política do correto. Não existiam características redentoras em nenhum deles, não havia alianças ou fidelidades mantidas por mais que alguns minutos, todos estavam sempre prontos para tirar vantagem, custasse o que custasse, a todo momento. A síntese do incorreto e do humor pra gente que não precisa ser lembrada a todo momento como pensar ou como agir.

Acho um verdadeiro pé-no-saco essas séries, como a preferida de Sally, onde as personagens SEMPRE tem que ter um lado positivo, a história TEM que terminar com todo mundo feliz e bem sucedido… Se eu quisesse ver um desenho animado da Disney, eu veria um!

Se você for pegar essa linha de “sem abraços e sem aprendizado”, vai perceber que séries brilhantes como “Seinfeld”, “Curb your Entusiasm”, “The IT Crowd”, “Arrested Development”, “It’s Always Sunny in Philadelphia” e com certeza mais algumas que eu não lembrei agora bebem dessa fonte iniciada por “Married… with Children”.

Um bando de almofadinhas sem personalidade (irônico, desajeitado, burro, excêntrica, fútil e organizada… nossa, que profundo!) ou um bando de estereótipos preconceituosos que se odeiam formando uma família toda errada, irremediavelmente na merda? Eu esperava mais de você, Sally… Humor não pode ser essa coisa estéril.

Mas eu não tenho útero. Talvez isso influencie.

Para concordar com Al Bundy que mulheres gordas são realmente o problema do mundo, para dizer que é homem e adora ver Friends com seu namorado, ou mesmo para ficar aliviada de poder discordar de mim depois de tantas semanas: somir@desfavor.com

SALLY

Qual o melhor seriado de comédia da TV dos últimos tempos? Confesso que tive que pensar por um segundo para não gritar “Scrubs”, porque o trio Dr. Cox, Dr. Kelso e o Zelador alegram minha vida. Apesar da genialidade do Dr. Cox, eu vou ter que votar em Friends, que considero ser uma comédia que aprofunda mais nos personagens (eu sei que “personagem” é feminino, mas eu acho feio, então, no meu texto vai ser masculino mesmo e que se dane).

Friends consegue ter a leveza de uma comédia despretensiosa sem ser aquela comédia “torna na cara”, “piada pronta” ou “amontoado de bordões”, vibe Zorra Total. Tem um roteiro inteligente, surpreendente e muito divertido. Não apela para rostinhos bonitos (ok, tirando a Monica e Rachel) não apela para os clichês de comédia: confusões de família, mocinha + mocinho ou pior: crianças fazendo gracinha.

Friends tem tudo isso: tem romance, tem brigas, tem confusões. Mas são sempre tramas paralelas. A trama principal é o dia a dia de seis amigos que fazem muita besteira da própria vida e acabam dando a volta por cima no final das contas. Seis amigos que vivem uma vida real, que ficam desempregados e fazem bicos humilhantes para sobreviver, que levam chifre, que são passados para trás, que dão vexame, que tem inseguranças. Não é água com açúcar nem mundo cor de rosa.

São personagens muito mais “reais”, muito mais “possíveis” do que aqueles personagens clichês de seriados comuns. Personagens com TOC/mania de limpeza, com inseguranças, com defeitos claramente expostos, interagindo em um roteiro bem amarrado com uma dose de humor politicamente incorreto para temperar.

Eles são gente como a gente. Mentem e depois se fodem todos para tentar segurar a mentira, fazem coisas vexatórias por dinheiro, mostram seu lado infantil e eventualmente até tiram proveito de situações eticamente duvidosas. Não são aqueles personagens irreais de seriados que nunca fazem nada incorreto. Freqüentemente mostram que são fofoqueiros, sem escrúpulos e interesseiros. E que é normal ser assim de vez em quando. Não tem essa coisa maniqueísta de bons e maus.

O roteiro é o mais original possível. Onde mais poderíamos ver uma irmã grávida de trigêmeos cujo pai é o próprio irmão? Onde mais poderíamos ver um ficante entalado em uma calça de couro no banheiro da sua peguete, tentando passar creme para ver se a calça entra? Friends ficou melhor a cada nova temporada. Da quinta temporada até a décima (a última) não tem um único episódio que eu considere ruim.

Um ponto forte: não tem crianças no elenco fixo. Porque eu odeio crianças na TV, seja em programas de auditório, seja em comerciais ou em seriados. Acho um pé no saco aquelas crianças falando como adultos, parecem anões! Friends não tem criancinha fazendo macaquice. Aliás, o tema é bem adulto, coisa que também me agrada. Não é apropriado para crianças. Adoro coisas não apropriadas para crianças!

Friends mostra o quanto o ser humano é falível, corrompível e cheio de defeitos e mesquinharias, mas sem tom pessimista, com muito humor. Duvido que você veja um episódio e não dê ao menos uma boa risada. É universal, todo mundo se identifica com o que vê, porque não são piadas sobre cultura local, são piadas sobre as falhas do ser humano. Não é a toa que ficou dez anos no ar, liderando audiência.

Friends flerta com o tosco. Em vez de ter mocinhas que arrasam o coração dos rapazes e homens que são perfeitos e sedutores, tem mocinhas cheias de neuroses e hábitos pouco elogiáveis e homens cheios de defeitos e extremamente incorretos. Humor negro, humor nojento e humor politicamente incorreto embalado em uma superprodução agradável de se ver. Friends não fala da vida de uma supermodelo, ou de moradores de um condomínio de luxo, nem da vida de uma estrela de cinema. Conta a vida de seis losers como eu e você, que ralam para sobreviver e estão sempre fazendo alguma merda em suas vidas.

O roteiro é tão bom que a maior parte dos episódios se passa no apartamento onde eles vivem. Não precisam de cenários ou outros artifícios. Os seis atores principais e o roteiro maravilho bastam. E se você não assistia por preconceito, por achar que era água com açúcar, pense novamente. Só para dar um exemplo, em uma cena, um dos seis personagens principais, que faz o papel de um ator fracassado, está fazendo um teste para participar de um filme onde ele faria uma cena de nudez. Ocorre que o personagem não poderia ser circuncidado e ele era, então, pede ajuda para sua amiga, que é Chef, para disfarçar sua circuncisão. Ela testa vários tipos de frios, até que acha um da cor parecida (um presunto) e o prende com cola no bilau do amigo . Durante o teste para o papel, o pedaço de presunto cai do bilau do ator na frente de todo mundo. Isso parece um roteiro água com açúcar?

Friends não precisa de efeitos especiais, de superprodução nem de atores famosos (quando começaram, os seis era praticamente anônimos). Basta aquele cenário do apartamento deles e os seis amigos. Outra coisa: agrada a todas as idades, pois tem piadas atemporais. Nada melhor do que falar sobre os erros do ser humano, pois é um assunto que qualquer pessoa em qualquer idade conhece.

O mais bacana é que a gente acaba se identificando um pouco com cada personagem. Não são estereótipos, são muito reais e muito humanos. Eu identifico nos personagens defeitos e formas de pensar que eu achava que apenas eu tinha. Conforta saber que certas neuroses são universais!
Friends está aí para provar que todos nós erramos e isso pode ser divertido.

Para dizer que Friends é seriado de mulherzinha, para dizer que nada supera o Dr. Cox e para dizer que é nerd e por isso comédia boa para você é Seinfeld: sally@desfavor.com

Sakineh Ashtiani, a iraniana condenada à morte pelo crime de adultério, conseguiu atenção internacional recentemente. Muito em parte pela campanha iniciada na internet por um grupo de ativistas, mas também pela participação… fanfarrona… das autoridades brasileiras.

Não bastava o desfavor óbvio do caso…
Desfavor da semana.

SOMIR

O mundo não é um lugar justo e isso eu já escrevi aqui não sei quantas vezes… Não é só porque algo é incrivelmente errado que vai ser impedido. Te garanto que em algum lugar do mundo, NESTE momento, alguém está morrendo por um motivo torpe.

É compreensível que não nos pautemos por estes acontecimentos na nossa vida diária: Temos pouco poder de transformação. Por mais que você que você saiba que só o que você desperdiça de comida salvaria a vida de mais de uma criança morrendo de fome na África, não existe uma forma prática de tornar isso uma realidade. (Não sem renúncias sérias…)

Essa impotência de transformar vontade de um mundo justo num mundo justo de verdade faz parte de nossa vida. Até por questão de lógica, quase todos nós seguimos um caminho de virtual apatia nesses casos: Cada um com seus problemas.

Só que de tempos em tempos temos a oportunidade de enxergar essa grande guerra pela evolução da sociedade numa escala menor, em forma de batalhas possíveis de serem vencidas. E em como toda a guerra, a confiança tem ligação direta com o sucesso.

A guerra de boa parte do povo que Sakineh representa é uma contra o atraso e a intolerância baseada numa sociedade regida pela absurda teocracia iraniana. Punida por uma lei arcaica, sem lugar numa sociedade civilizada, a “esposa infiel” foi sentenciada a ser apedrejada até a morte.

Num primeiro momento, parece impossível fazer qualquer coisa para evitar que Sakineh sofra a pena capital. Mudar as leis de um país onde a autoridade máxima do Estado é a mesma da Igreja? Até parece…

Mas o que não falta nesse mundo é gente teimosa. Um casal de brasileiros resolveu começar uma campanha pela internet, chamando a atenção do mundo para o que estava prestes a acontecer com Sakineh. A campanha ganhou fôlego, virou notícia internacional, e subitamente varreu a “apatia funcional” de muita gente por aí. Pronto! O caso dela não era apenas mais uma eventual casualidade dessa guerra, era uma batalha em aberto.

A pressão internacional começou a se intensificar. Eu já disse várias vezes o que penso de respeitar os costumes de outros povos, mas não custa repetir: Fazer parte da cultura não é sinônimo de carta branca para cometer crimes. Até por isso qualquer país com um mínimo de intenção de se juntar à civilização tem que assinar uma tonelada de tratados garantindo suas intenções de preservar os direitos humanos. Existe SIM uma melhor forma universal de se tratar um povo. O que acontece com Sakineh é errado por todos os lados que se olhe. (Até porque NADA justifica pena de morte.)

Pois bem. No momento em que Sakineh se transformou na bandeira de um movimento, ganhou uma chance de escapar do seu destino até então inexorável. E uma vitória nesse ponto dá muita força para toda a causa. Tudo bem que as mulheres vão continuar a ser tratadas feito lixo em países regidos pela lei islâmica (muito mais distorcida que o de costume…), mas UMA vitória pode ser o começo de uma virada nos rumos da guerra. Mostra o caminho.

E já que os brasileiros estavam especialmente ligados com o movimento pela liberdade da iraniana, um jornalista perguntou para o nosso presidente qual era a postura dele sobre o assunto. Reconheço que é uma pergunta complicada, mas mesmo que não quisesse comprometer a diplomacia nacional, poderia ter dito algo bem melhor do que “as leis dos países tem que ser respeitadas ou vira AVACALHAÇÃO”…

Porra! Voça Çenhoria leu ALGUM dos tratados que o país que governa se comprometeu a cumprir? Cacete, serve até a Constituição. Apedrejar uma mulher até a morte não é avacalhação por essas bandas. Não tem pena de morte aqui. Muito mais do que fazer pose de amiguinho de Teerã para ganhar visibilidade internacional, é sua obrigação pelo menos não fazer pouco do flagrante desrespeito às liberdades individuais e direitos humanos no mundo. Avacalhação é um merda de um oportunista profissional ser visto como líder de alguma coisa…

Antes eu achava o Lula um típico “esperto” brasileiro, meio desonesto, meio inconsequente, mas sempre protegido por seu carisma popular. Agora eu acho mau-caráter mesmo. Vergonha dessa política internacional que bate palmas para um regime criminoso como o do Irã. Não precisa mandar o exército pra lá, mas CUSTA não apoiar?

Percebendo que a coisa engrossou e que não dava para equilibrar sua ego-trip de conciliador internacional com um final de mandato sem polêmicas para ajudar a candidata a sua reeleição, voltou atrás. A diplomacia brasileira tentou limpar a cagada “enfiando dobrado”: Ofereceu abrigo político “de mentirinha” para Sakineh. (Sem uma proposta oficial… Só no papo mesmo.)

Como era de se esperar, o Irã não deu muita bola. Além de declarações de figuras públicas praticamente tirando sarro do Brasil, ainda começaram a considerar a possibilidade de apenas enforcar a mulher.

Últimas informações dão conta de que com o mundo inteiro apertando, é possível que os iranianos liberem Sakineh. Possível, apenas.

E se isso acontecer, caros leitores, não duvidem que ela venha para o Brasil e que nosso presidente aproveite para se promover baseado nessa “vitória da diplomacia brasileira”…

E os brasileiros que estavam no começo de tudo isso vão ser meros coadjuvantes. Ganha-se uma batalha contra o atraso iraniano, perde-se uma contra o nacional.

Para dizer que não entende porque falamos tanto do Irã, para falar alguma dessas asneiras pró pena de morte, ou mesmo para concordar que vai faltar pedra se a moda pegar no Brasil: somir@desfavor.com

SALLY

Contando assim parece piada: uma mulher condenada à morte por apedrejamento pede clemência e as autoridades mudam de idéia. Em vez de matar por apedrejamento, vai morrer enforcada. A bondade humana me fascina. Mas pior do que o vexame das autoridades estrangeiras, foi o vexame das nossas autoridades quando decidiram intervir no caso.

Sakineh Mohammadi Ashtiani, uma mulher iraniana, mãe de dois filhos, foi condenada à morte, acusada de adultério e de assassinato (seu amante teria matado seu marido). Contando assim parece piada II: a prova que se tem contra ela é um vídeo onde uma pessoa aparece com um véu preto que cobre quase todo o corpo e a imagem distorcida do rosto. A voz está encoberta por uma tradução simultânea. Parece que esta mesma mulher já recebeu 99 chibatadas por manter relações “ilícitas” (e por “ilícitas”, entendam fora do casamento – ahhh se essa moda pega!). Mesmo sem provas concretas, ela foi condenada.

É só mais uma das muitas mulheres que morrem desta forma, por estes “crimes” e com este tipo de julgamento. Mas, por alguma razão que desconheço, ESTA ficou famosa e a comunidade internacional se sensibilizou. Lógico que nosso monarca, o rei Çilva I tinha que pegar a rebarba de tanto flash e fazer mais um merchan de sua pessoa. Num rompante de direitos humanos (nem parece o mesmo Çilva I que quer deportar repórter porque o repórter afirma que ele é pé de cana) mandou o Embaixador do Brasil no Teerã oferecer asilo político à moça. O curioso é que o Irã nega que tenha recebido alguma proposta formal do Brasil. Oeeeeeee! Saia justaaaa! Çilva I falou dessa proposta de asilo abertamente, até mesmo em discursos públicos e vem o Irã e diz “Não é por nada não, mas não chegou porra nenhuma para a gente”. Vergonha alheia master. E Çilva insiste em dizer que fez uma proposta.

O Irã continua dizendo que não recebeu nada não. Climão. Daí vem o Itamaraty e já começa a mudar o discurso. Diz que não chegaram a apresentar, assim… como direi… uma proposta formal. Mas que a intenção é boa! O discurso agora é que Çilva I expressou o “oferecimento” de “recebê-la” no Brasil se isso pudesse evitar sua execução. Foi isso que o Embaixador do Brasil teria dito ao Irã, nas palavras do Itamaraty, ele “comunicou” este fato. É tipo um “passa lá em casa” que a gente fala quando encontra aquela pessoa que não vê faz muito tempo. Algo meio que “se você conseguir sair deste país ditatorial sozinha, condenada à pena de morte, eu deixo você ficar no Brasil”. Parece deboche. Se quer ajudar, compre a briga e dê infraestrutura para essa pobre criatura escapar dessa situação!

Vamos combinar que uma coisa é brigar pelos direitos humanos, peitar a soberania de outro país e tentar arrancar um ser humano que vai ser executado, usando de todos os esforços e recursos (diplomáticos e jurídicos) para salvar a sua vida. Outra coisa é oferecer o país, para, se a pessoa quiser, ser recebida. Melhor ficasse calado. Se queimou com o Irã e se queimou com o Brasil. Aliás, retiro o que disse. Çilva I nunca se queima no Brasil, nada de ruim cola nele. Ele pode ser visto currando a mãe em praça pública que todo mundo perdoa. Duda Mendonça feelings. Veja importância de um publicitário na sua vida! (mesmo que ele seja adepto de rinha de galos) e contratem o Somir para ter carta branca para fazer de tudo! ($$$)

Também quero deixar minhas lembranças carinhosas ao Ministro Celso Amorim, pela contundente luta ferrenha para salvar uma vida humana: ele SUGERIU que o Irã faça um gesto humanitário. wat. Ou ele lê muito pouco ou ele tá de sacanagem mesmo. Eu quero aproveitar e sugerir que Susana Vieira tenha semancol e que Preta Gil emagreça. Já que sugerindo o impossível a gente denota impressão de boa vontade, porque não? Falando sério agora, com sugestões e oferecimentos não se resolve nada em quando se lida com um governo como o do Irã, e todo mundo sabe muito bem disso. Mas Vossa Majestade, Çilva I e sua corja, querem viver de jeitinho até mesmo quando o que está em jogo é a vida de outra pessoa.

Çilvão ainda teve o descaramento de dizer que nem precisava de formalidades, que ele ia usar sua “amizade” com o “colega” iraninano Mahmoud Ahmadinejad para tentar conseguir que a moça viesse ao Brasil. wat. WAT. AMIGOS DE INFÂNCIA, NÉ ÇILVÃO? Chama “Mama” para uma mesa de boteco e bate um papinho com ele. É bem por aí que se faz diplomacia. Depois ele se irrita quando a imprensa diz que ele bebe…

Não é de hoje que Çilva I e cia tentam lucrar muito fazendo pouco, mas enquanto esta conduta se limitava às fronteiras do nosso país, ficava mais fácil de digerir o vexame. A partir do momento que ele acha que pode dar uma de esperto, que pode capitalizar para sua vaidade a vida de outro ser humano e que pode usar de jeitinho e malandragem em âmbito internacional, expõe o quanto somos República das Bananas e queima o nome do país internacionalmente.

Sem contar que ser (ou se dizer ser…) amigo de iraniano que manda executar uma mãe de dois filhos porque traiu um marido com o qual já não viva em matrimônio por dois anos é, no mínimo, queimação de filme. Boa, Çilvão! Como sempre, negociando com Deus e com o Diabo. Diplomacia já é eufemismo, isso é arriar as calças mesmo. Ele topa tudo para não ficar mal com ninguém. O pior? É que dá certo. As pessoas aturam as piores incoerências e as piores babaquices desde que seu interlocutor esteja disposto a agradá-las.

Existem diversos mecanismos oficiais (judiciais ou extrajudiciais) que podem ser adotados para impedir esta execução e abrigar esta mulher. Qual vai ser? Vamos fazer alguma coisa ou não vamos nos meter? Mas tem que ser oficial, nada de papinho no pé do ouvido, nada de conversa em off. É um assunto por demais delicado e divulgado para que um Governo o trate assim, nesta informalidade e ainda acredite que está dando o seu melhor fazendo isso.

Pergunta: Será que Çilva está lidando com o assunto nessa informalidade toda porque está com medo de ter que assinar algum documento? Pode ser isso, pode ser o constrangimento de ter que colocar o dedão na almofadinha de tinta para todo o mundo ver…

Para dizer que o Presidente deveria se preocupar com as milhares de mulheres que morrem todos os dias no país em função de fome, doença e violência, para dizer que se ele é mesmo tão bondoso deveria intervir em todos os casos de execução de mulheres do Irã ou ainda para passar atestado de traumatizado e dizer que mulher que trai tem mesmo que morrer: sally@desfavor.com

Toca!Vivemos numa sociedade cheia de regras, muitas vezes não escritas, que regulam a convivência mais ou menos pacífica de seus membros. Uma dessas regras diz respeito à uma obrigação de se cumprimentar as pessoas ao encontrá-las depois de um certo período de tempo.

Independentemente da sua vontade real de interagir com essas pessoas. E na coluna de hoje teremos o choque entre o ponto de vista de um ser social funcional, Sally, com um costumaz ignorante da presença alheia, Somir.

Tema de hoje: É realmente importante cumprimentar socialmente?

SOMIR

Não. Cumprimentar socialmente não passa de uma macaquice tradicionalista baseada na insegurança de uma parcela da população.

Sempre achei uma babaquice essa coisa de “em Roma, faça como os romanos”, a idéia de que os costumes e manias das pessoas com as quais convive-se atualmente devam passar por cima da racionalidade e do bom-senso. Até porque é justamente assim que se transforma uma pessoa em massa de manobra: “Funcione na sua sociedade, não questione.”

Se por um acaso eu fosse inserido numa comunidade onde as pessoas cagam a céu aberto, deveria jogar fora a noção mais evoluída de higiene só para “me misturar” com esse povo? Conformidade vale mais do que evolução social?

Bom, se você acha que sim, azar o NOSSO. Por incrível que pareça, não sou eu defendendo interesses egoístas aqui, é a minha CARA que faz esse papel hoje. Eu imagino que você deve estar me pintando como um anti-social pregando pelo seu direito de ignorar preguiçosamente regras de boa convivência, mas eu pretendo te provar que bater o pé e não se render à babaquice alheia é uma atitude de interesse coletivo.

Poderia muito bem jogar meu bom-senso no lixo só para ganhar algumas vantagens pessoais, mas aceito pagar o preço social pela intransigência se isso ajudar a clarear um pouco mais as idéias de meus colegas de espécie.

Talvez você não concorde comigo, e eu me ressinto disso, mas melhorar o mundo é uma responsabilidade PESSOAL. Quanto mais pessoas se engajarem nessa causa, melhores os resultados. Mas jamais se esqueça que o problema é SEMPRE seu.

Mas chega de apelos dramáticos, vamos à parte onde eu explico o porquê de achar toda essa história de cumprimentar socialmente uma frescura e um reforço de maus traços de personalidade.

Todo mundo já teve de lidar com uma situação onde chega num lugar onde encontra MUITAS pessoas que em tese deveria cumprimentar (Eu odeio essas situações, por isso me programo para evitar todas.). E aí começa a babaquice: Sorrisos amarelos para tudo quanto é lado, decisões rápidas sobre “beijinhos” ou apertos de mão, perguntas estúpidas que não podem ser respondidas (“Tudo bem?”), mentiras deslavadas (“Prazer.”) e toda aquela frescurada ritualística que insiste em reger nossas vidas.

Que bobagem é essa de esticar a mão, segurar a de outra pessoa e balançá-la no ar uma ou mais vezes? O que isso quer dizer? Duzentos mil anos de evolução para terminar balançando mãos arbitrariamente?

Ou o terrível “beijinho”? O que diabos quer dizer encostar as bochechas e SIMULAR o som que se faria se estivesse realmente beijando? E que porra de diferença faz o NÚMERO de simulações de beijo? Eu me sinto ridículo fazendo isso.

E cada pessoa define as próprias regras para essas bobagens, o que cria situações constrangedoras e/ou irritantes. Tem o babaca que aperta sua mão com toda a força que tem, tem a vadia que espera que você se levante de onde quer que esteja para cumprimentá-la (SPOILER: Só faça isso se você for GOSTOSA!), tem o chato que acha que está dançando com você e insere o “mão na cintura” na equação… Convenhamos que um ritual “obrigatório” sem padrão nenhum é mais um incômodo do que uma solução.

E não estou dizendo que é para chegar e ficar de cara fechada, um “oi coletivo” demonstrando bom humor é mais do que suficiente para indicar suas intenções de interação social pacífica. Mas não… Pessoas “boas” mesmo tem que ficar peregrinando por todo o ambiente fazendo gestos sem sentido para serem bem vistas.

E tudo isso para quê? Para evitar que uma MINORIA de babacas não se ofenda por ter sua incrível, maravilhosa e imaginária importância reconhecida. Todo esse esforço existe apenas para agradar a PIOR parte das pessoas com as quais você convive. Se isso não é nivelar por baixo, eu não sei mais o que é…

Responda-me com sinceridade: Você precisa que todas as pessoas que te cercam fiquem parando tudo o que estão fazendo apenas te notar?

Se respondeu que sim, parabéns: Você é um(a) babaca e atrapalha a vida de quem não é!

Eu me acho tão interessante que não preciso que outras pessoas se forcem a prestar atenção em mim. Tenho certeza que acontece naturalmente SE for o caso. E além disso, não é realista achar que pode manter interações de algum valor com TODO MUNDO que você conhece por aí. Vamos concordar que precisa bem mais do que pertencer à mesma espécie para se criar alguma relação proveitosa.

Não é só porque “todo mundo faz” que está certo. Aliás, costuma ser pré-requisito das maiores cretinices da humanidade. Carência e insegurança são duas características que só fazem mal para uma população, qualquer atitude que premie os detentores delas é uma forma de piorar a vida de todo mundo. E FODA-SE que uma pessoa tente me prejudicar futuramente por não ter sido cumprimentada: Gente irracional e dramática não dura muito em posições de poder justamente por ser facilmente manipulável. Tenho certeza que a minha retaliação vai ser mais dolorida.

Entre medo de não fazer parte da conformidade e o prazer de não reforçar um comportamento de gente atrasada, prefiro mil vezes fazer parte da evolução humana.

Para me cumprimentar por ter falado o que você sempre pensou, para ficar de mal por eu ter desvalorizado seus sentimentos ridículos, ou mesmo para dizer que duvida que alguém sequer tenha vontade de cumprimentar um chato como eu: somir@desfavor.com

SALLY

Qual é a importância de cumprimentar socialmente, ainda que sejam pessoas que você não tolera? Eu acho uma bosta ter que falar com pessoas que eu não suporto, que não tenho intimidade ou que no momento não tenho vontade, mas também acho que cumprimentar, infelizmente, é de extrema importância. Sim, pessoas ligam muito para essas convenções sociais e quem não as segue passa por escroto e mal educado, não importa quão forte seja sua motivação para virar a cara para aquela pessoa em questão. Por isso eu me curvo à obrigação social e cumprimento TODO MUNDO, ainda que eu deteste, odeio e despreze profundamente a pessoa. Ainda que seja uma pessoa bacana mas que no dia eu não esteja com vontade de falar com ninguém. Sim, cumprimentar e fazer um mini-social é importante, por mais que eu odeie isso.

Durante meus muitos anos de miopia ganhei esporro e antipatia de pessoas que não cumprimentei simplesmente por não reconhecer. “Você, hein? Passou por mim e nem falou comigo!”. Isso quando a pessoa se dava ao trabalho de expressar sua putez, porque muitas vezes apenas amarrava a cara para mim e nem sequer explicava a razão da mágoa. No incício deste ano fiz uma cirurgia corretiva e tive o prazer de jogar meus óculos pela janela, o que me permite reconhecer outros seres humanos se eles estiverem a mais de um braço de distância. Acreditem, com isso minha vida social melhorou muito. Nunca mais vi ninguém ofendido comigo. Boba eu que pensava que as pessoas se emputeciam com as escrotidões que eu fazia contra elas. O que magoava mesmo era o não cumprimentar!

As pessoas se acham super importantes. Levam tudo para o pessoal. Se você não cumprimenta, não dá um mínimo de atenção, a última coisa que vai passar pela cabecinha egoísta e auto-centrada destas pessoas é que você está morrendo de pressa, não está em um bom dia ou está super gripado e não quer passar seus germes a terceiros. Jamais. Tudo tem a ver com ELAS. É sempre sobre ELAS. Você não cumprimentou porque tem INVEJA DELAS, porque está querendo competir com ELAS ou porque se acha melhor do que ELAS. Universo Umbigo. Daí as pessoas ficam putas, magoadas e se sentem suuuuper injustiçadas. Porque não, você não tem o direito de não falar com alguém se não estiver com vontade. Se você é legal, você tem que falar mesmo sem vontade, para não arranhar o ego alheio.

O correto seria bater o pé e dizer “não tô com vontade, não vou falar”. Mas infelizmente vivemos em sociedade e mundo dá voltas. Nunca é bom criar inimizades e mágoas. Portanto, na minha humilde (e otária) opinião, a relação custo benefício de falar com alguém mesmo sem estar com muita vontade de fazê-lo compensa. Não que isto seja o correto a se fazer, o correto seria poder cagar na cabeça dos outros – ao menos assim saberiamos que só fala com a gente quem tem realmente vontade – mas sim porque as pessoas são um bando de filhos da puta vaidoso, inseguros, egoístas e vingativos. Pode sacanear à vontade, pode foder com a vida da pessoa, mas se der um bom dia e perguntar como foi o final de semana, no final das contas você é super gente boa. Nojento, porém verdadeiro. Mais: admiro o Somir por defender o contrário. Queria eu conseguir ligar o “foda-se” e cagar e andar para sair magoando geral – e ainda rir disso.

Se você é do tipo Teletubbie Feliz que acha que não custa nada cumprimentar os outros, parabéns. Você nem deve estar entendendo o porquê desta discussão. Mas para pessoas como Somir e eu, cumprimentar pessoas diariamente é sacal. Dar “bom dia” para estranhos em um elevador, perguntar a um colega de trabalho que você nem sabe o nome como foi o final de semana, perguntar para pessoas que você não tem intimidade como estão seus (insuportáveis e horrendos) filhos ou ainda perguntar como vai a família para o vizinho são esforços que nós fazemos. SIM, ESFORÇOS. UM SACO, UMA MERDA, UM PAU NO CU.

Sabe porque? Porque nós não compreendemos como essa hipocrisia social pode ser tão valorizada. Nós detestamos aparência, joguinhos sociais e essa máscara de boa pessoa que cada um de nós tem que vestir ao sair de casa. Anota aí: O SER HUMANO É UMA MERDA, que se traveste de bonzinho quando lhe convém. Porém, mais cedo ou mais tarde seu lado MERDA vem à tona. Caguei se a pessoa sorriu, me deu bom dia e quis saber como foi meu final de semana. Essa mesma pessoa vai me foder assim que puder ou assim que precisar. Eu penso assim (pessimista mode on). Mas, por mais filha da puta que a pessoa seja, por mais merda que ela tenha feito comigo, se eu não cumprimentar, acaba que EU saio como a maior filha da puta da história. É isso aí. A pessoa pode ter entrado na sua casa, batido na sua mãe e chutado o seu cachorro, se você passa reto por ela e vira a cara em algum evento, as pessoas nunca vão penar “nossa, algum motivo ela deve ter para estar virando a cara assim de forma ostensiva!”. NÃO. As pessoas são imbecilóides, sentimentalóides e retardadas, as pessoas pensam “Nossa! Precisa virar a cara assim para alguém! Que infantil! que mal educada! Tem necessidade disso? Tsc tsc tsc…”. Juro que um dia desses vou deixar meu curriculum em uma tribo qualquer de Bonobos para ver se eles me aceitam, não aguento mais conviver com gente. Gente é um saco.

Então, meu argumento de hoje é SIM, temos que cumprimentar socialmente, não importa o quão sem vontade a gente esteja, o quão de mau humor ou o quão merda, bosta, canalha ou filha da puta a pessoa seja, porque se não, nós saímos como vilões e quem vê de fora cria uma péssima impressão nossa que pode acabar por nos prejudicar. O mundo dá voltas e a gente nunca sabe QUEM está nos vendo. É um saco, é uma merda mas temos que fazer esse esforço, pensando no nosso bem estar e até mesmo nas nossas finanças. Sim, pessoas tidas como escrotas e anti-sociais tem mais dificuldade para serem promovidas, enquanto que pessoas com cérebro do tamanho de um caroço de uva porém imbecilmente alegres, que ficam rindo para todo mundo feito uma hiena tem mais chances de conquistar um melhor salário. Sim, sim. É isso aí, dinheiro compra a minha simpatia. Manda um “joinha” para seu desafeto, acompanhado de um “E aí??? Tudo certinho?”, depois vira as costas, manda um palavrão mental e joga um dardo bem no olho da foto da pessoa que está colada atrás da sua porta. Foda-se, no final do mês sua conta vai estar cheia de dinheiro. É isso aí, minha gente, Prostituição Profissional. Nem sempre eu consigo colocar isso em prática (mentira, quase nunca), mas tenho a consciência que é o melhor a fazer. Se pudesse, faria full time.

Não adianta querer ser sincero e autêntico nesse mundinho de merda que a gente vive. Esse mundinho que só premia a hipocrisia. Todo mundo faz merda a rodo, faz coisas incorretas e até mesmo comete crimes, mas aqueles que seguem as regras de hipocrisia social são socialmente absolvidos. Entre no jogo você também, porque é burrice querer dar murro em ponta de faca. Só me fodo por ser sincera, podem acreditar. Não cumprimentar as pessoas e não fazer aquele “social” falso e desagradável custa caro demais, prejudica não só a você, como a toda sua família, pois te excluí de boas oportunidades. É isso ou os Bonobos.

Para dizer que vai se juntar a mim e morar com Bonobos, mas só porque leu no texto da semana passada que eles fazem suruba abertamente, para me dar bom dia, perguntar como foi meu final de semana e me mostrar fotos dos seus filhos e para me chamar de azeda pela milésima vez: sally@desfavor.com