Autor: Sally

DOEU, PORRA!

Tem dias que a gente acorda de ovo virado. E nesse dia eu estava com a macaca. Com a macaca mesmo. Madame, atencioso que é, nunca percebia quando eu estava com a macaca. Já acordou fazendo graça:

Tomir: Estou com fome…

Sally: Tá vendo aquele grande cubo branco aliiiióóóó? Pois é, se chama GELADEIRA. Abre ele que você encontra alimentos do lado de dentro.

Tomir: Ainda tem pizza de ontem?

Sally: Se você não comeu tudo antes de dormir, mais precisamente 04:47 da manhã, quando me acordou ao ligar a luz do quarto, ainda tem

Tomir: Esquenta pra mim!

Sally: Não

Tomir: O que que custa? Deixa de ser preguiçosa, você tá aí deitada no sofá!

Sally: A preguiçosa acordou às sete da manhã, Madame!

Tomir: Você sabe que sempre que eu uso o forno eu me queimo, Sally!

Sally: Boa hora para começar a aprender a usar sem se queimar

Tomir: Tá com a macaca, né?

Sally: Me deixa. Vai esquentar a sua pizza

Alguns minutos depois

Tomir: AHHHHHHHHHHHH!

Sally: MOOOITO BOM, TOMIR!!! Nikky Lauda Pride!!! *batendo palmas

Tomir: *palavrão

Sally: Grita baixo que o Goiaba está dormindo

Tomir: *mais palavrão

Sally: Deixa o braço debaixo da água gelada

Tomir: QUE DOR INSUPORTÁÁÁÁVEL

Sally: *levantando e andando lentamente até a cozinha

Tomir: MEU BRAÇO! MEU BRAAAAAÇOOOO

Sally: *me aproximando e olhando o tamanho da queimadura

Tomir: ME AJUDA! ME AJUDA!

Sally: Tomir, o tamanho da queimadura é menor do que a minha unha

Tomir: MAS TÁ DOENDO PRA CARALHO

Sally: Tomir, hoje não…

Dez segundos de silêncio

Tomir: Você acha que vai formar uma bolha?

Sally: Acho que não

Tomir: Vai sim!

Sally: aff

Tomir: O que que eu passo?

Sally: Água corrente

Tomir: Só?

Sally:

Tomir: Deve ter alguma coisa que amenize essa dor!

Sally: Caralho, Tomir, deixa de ser frouxo!

Tomir: VOCÊ NÃO SABE A DOR QUE EU ESTOU SENTINDO!

Quando eu estou com a macaca, não é bom testar meus limites. Saí da cozinha e Madame saiu atrás. Ele se jogou no sofá como quem vai morrer e ficou gemendo. Fui até o banheiro e voltei com uma daquelas folhas de depilação prontas, com cera fria. Foi relativamente fácil, porque ele não parecia saber do que se tratava. Colei uma folha na panturrilha dele. Até que fui camarada, porque ele estava com um short esgarçado/furado através do qual eu podia ter acesso facilmente à virilha. Me limitei à panturrilha.

Tomir: Tá maluca? O que é isso? Creme?

Sally: *sorriso meigo

Tomir: Que porra é essa, Sally?

Sally: *sorriso meigo, preparando para puxar

Tomir: AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Sally: ISSO é dor

Tomir: MINHA PEEEERNAAAAAA!

Sally: Bem vindo ao meu mundo. Próximo passo: virilha

Tomir: VOCÊ É MALUCA! VOCÊ É MALUCA!

Sally: Você ainda não viu nada…

Longo silêncio

Tomir: Sally…

Sally: Tomir

Tomir: Ficou um buraco branco sem pêlos na minha perna

Sally: É o que acontece quando se faz depilação

Tomir: Não posso fazer reuniões com um buraco branco de pêlos na minha perna, pega mal

Sally: Usa calça!

Tomir: Tá calor

Sally: Todos os advogados usam calça, com ou sem calor

Tomir: Mas eu sou publicitário *rosnando entre os dentes

Sally: Usa calça por um tempo e não enche

Tomir: Não acredito que vou ter que usar calça por três dias!

Sally: Três dias?

Tomir: Não é o tempo que demora para crescer?

Sally: Não

Tomir: Não é igual a barba?

Sally: Não

Tomir: *rosnando Quanto tempo demora?

Sally: Entre 20 e 30 dias…

Tomir: *um olho latejando de raiva

Sally: Você pode depilar as duas pernas por igual…

Tomir: E depois pintar as unhas?

Sally: Mas a dor no braço parou, não parou?

Tomir: A sua sorte é que eu não bato em mulher…

Sally: A sorte é sua, porque eu te enfiaria a porrada e você passaria vergonha

Longo silêncio

Tomir: Sally…

Sally: Tomir

Tomir: Estou aqui pensando

Sally: Lá vem…

Tomir: Se eu vou passar os próximos dias desconfortável, você também vai

Sally: Eu passo todos os meus dias desconfortável, Querido. Tente trabalhar de salto alto 15 e calcinha G-String

Tomir: Você me deve isso

Sally: Nem vem!

Tomir: Domingo tem almoço de família no sítio, e lá tem piscina

Sally: Observe eu não me importar

Tomir: Enquanto você vai estar se refrescando eu vou estar de calça sem poder entrar

Sally: Você pode entrar

Tomir: E ter que contar para familiares que você me depilou?

Sally: O que que tem?

Tomir: Por vingança…

Sally: Ué…

Tomir: Porque eu reclamei de dor ao queimar o braço…

Sally: Bem…

Tomir: Esquentando uma pizza que você não quis esquentar para mim…

Sally: Ok, contando assim, você me faz parecer horrível

Tomir: O que você fez foi horrível!

Sally: O que eu fiz foi MSE!

Silêncio

Tomir: Já imaginou o que a minha irmã falaria se soubesse dessa história?

Sally: PUTA MERDA, A TOMIRA NÃO!

Tomir: Não chama ela assim…

Sally: Sério, ela já fala mal de mim sem saber nada a meu respeito… se souber então!

Tomir: Então, Minha Cara. Se eu vou estar desconfortável, você também vai estar

Sally: aff

Tomir: Você acha que é fácil ser homem?

Sally: Acho

Tomir: Você acha as suas calcinhas desconfortáveis?

Sally: Um mal necessário

Tomir: Então vai no almoço usando uma cueca minha

Sally: O QUE?

Tomir: Uma cueca minha. Precisamos comprar cotonetes?

Sally: Mas uma cueca sua vai ficar enorme em mim!

Tomir: Veja o lado bom, não vai ter aquele problema do desconforto da calcinha enfiada…

Sally: Mas eu vou ter que usar uma calça!

Tomir: Porque?

Sally: Porque suas cuecas são mais compridas do que as minhas saias!

Tomir: Sinal que suas saias estão do tamanho errado, não?

Sally: Como você é babaca!

Tomir: Quem mandou não ter saias decentes?

Sally: Mas tá calor! Eu vou ter que ir de calça no calor!

Tomir: Agora estamos começando a nos entender…

No dia do almoço…

Sally: Tá quente

Tomir: Nem me fala

Sally: Eu me sinto com uma fralda cagada

Tomir: Você começou

Sally: Não, você começou me enchendo o saco quando eu estava quieta!

Tomir: Sorri e faz cara de casal feliz, estamos chegando

Sally: *sorrindo

Durante o almoço…

Tomira: Tomir, quer um pouco mais de molho para salad…

Tomir: PUTA QUE PARIU!

Sally: Parkinson, Tomira?

Tomira: Desculpa! Derramei tudo na sua calça!

Tomir: Estou todo sujo!

Tomira: Tira a calça! Deixa eu limpar logo antes que fique uma macha!

Sally: É, Tomir. Tira logo, antes que fique uma mancha

Tomir: Tá maluca? Vou tirar a calça?

Tomira: Tio, você tem roupas limpas?

Tio: Tenho sim, eu trouxe uma bermuda extra

Sally: Coloca a bermuda do seu Tio, Tomir…

Tomir: Não quero

Mamãe Tomir: Tomir! Deixa de ser malcriado! Vai lá colocar a bermuda e deixa sua irmã limpar a sua calça

Sally: É, Tomir. Vai lá colocar a bermuda

Mamãe Tomir: A vida toda ele fez isso. Ele só se recusa a trocar de roupa para fazer com que a irmã se sinta mal

Sally: Que coisa feia, Tomir…

Tomira: *soluçando

Tomir: QUE MERDA! SE VOCÊ VAI CHORAR, EU VOU LÁ COLOCAR A BERMUDA!

Madame se trancou no banheiro e demorou quase meia hora para sair. Quando finalmente abriu a porta, andava feito um pinguim, com as perninhas fechadinhas, na esperança que ninguém veja

Tomira: O QUE É ISSO NA SUA PERNAAAA?

Sally: É, Tomir, o que é isso na sua perna?

Mamãe Tomir: O que? O que ele tem na perna? Filho, você está doente? Deixa eu ver!

Tio: Tomir machucou a perna?

Sally: Vamos todos olhar a perna do Tomir!

Tomira: Tem um buraco sem pêlos!

Mamãe Tomir: O que foi isso, meu filho?

Sally: Quer que eu chame a sua Tia, que é médica, para dar uma olhada, Tomir?

Tomir: Não, Sally, obrigado. Não quero *olhar assassino

Tomir: *sussurrando Olha que eu falo!

Sally: *sussurrando Fala nada, código de ética troll, eu cumpri a minha parte, você não pode falar

Tomira: Deixa eu ver de perto…

Tomir: É um problema de pele, ok? Já estou tratando!

Mamãe Tomir: Micose?

Tomira: Sarna?

Sally: *rindo

Tomir: *sussurrando No próximo evento de família v-a-i t-e-r v-o-l-t-a

Para dizer que pretende fazer o mesmo com o seu marido, para dizer que nós éramos ridículos enquanto casal e para perguntar qual foi a vingança de Siago Tomir no evento familiar seguinte: sally@desfavor.com

A diferença é que a homeopatia dá mais dinheiro...

Costumo brincar dizendo que a sociedade sempre oscila em movimentos pendulares: vai de um extremo ao outro em matéria de comportamento em questão de décadas ou às vezes de anos. Quando você reprime demais um comportamento, as pessoas se revoltam e tendem a lutar pelo oposto. Os bons tiranos observam esta babaquice humana e usam pura psicologia infantil de massa para induzir seu povo a fazer o que ele, tirano, quer, achando que estão fazendo o que eles (povo) querem. Aperta aqui, que eles vão querer soltar dali. Pois hoje venho falar de um fenômeno que julgo ser fruto desse movimento pendular. É a chamada negação científica.

Se poucas décadas atrás as pessoas confiavam cegamente nos médicos e na ciência, isso hoje não é mais verdade. Perguntem a seus avós ou bisavós: antigamente quando uma pessoa ficava doente e o médico era chamado na residência do doente e quando ele chegava, parecia que estava chegando o Presidente da República. Era recebido com honras e deferências. Os médicos eram deuses, eram vistos com uma admiração absurda e suas indicações eram seguidas cegamente como se fosse lei. Os profissionais abriam a boca para dizer “Eu sou médico” com o mesmo orgulho que hoje abre a boca um jogador de futebol para dizer “Eu sou da Seleção”.

Muita coisa contribuiu para que o médico (e quando falo em médico, me refiro também à ciência) fosse desacreditado e virasse essa figura que se arrebenta em quatro plantões para ganhar muitas vezes menos que um gari. Acabou o glamour da medicina. Em parte pela arrogância e pelos excessos dos próprios médicos: uma talidomida aqui, um erro médico ali, uma opinião contraditória acolá e, ao longo dos anos, a imagem superior do médico ruiu. Difícil ver um médico que tenha a humildade de dizer “Eu não sei o que você tem”. É sempre estresse ou uma virose quando eles não sabem. Esse tipo de coisa vai minando a credibilidade da medicina.

A ciência também vem se contradizendo. E não falo só de remédios. Por exemplo, durante anos fomos bombardeados com um papo de que manteiga e ovo eram ruins. Daí todo mundo compra margarina (que tem gosto de sabão, puta merda) para depois dizerem que não é bem assim, que na verdade manteiga acaba sendo menos ruim que margarina e que agora a vilã é a gordura trans. O vinho, que também já foi bandido, hoje é não apenas aceito, como recomendado. E o ovo? O ovo ganhou classificação de “super-alimento”. Dá para decidir de uma vez o que é bom e o que é ruim?

O excesso de informação disponível via internet também retirou um pouco da imprescindibilidade do médico e da ciência, já que hoje todo mundo consulta o Dr. Google e acha que resolve o problema. Sem contar na massificação de instituições de ensino de quinta categoria, que formam profissionais que passaram na prova prática colando os tendões que cortaram com superbonder.

Enfim, estes e outros fatores que não cabem aqui fizeram com que a medicina e a ciência não sejam mais os mesmos. Sua credibilidade ficou abalada. Com isto, vem surgindo um movimento de descrédito da medicina e ciência que eu apelidei de negação científica (se já tem outro nome, eu não sei).

Não pensem vocês que este movimento de negação científica é composto por uma meia dúzia de hippies não, eles já formam uma parcela significativa da população. É gente que se recusa a vacinar seus filhos, porque “não acredita” nas vacinas ou pior, acha que elas causariam outros males, como o autismo, por exemplo. É gente que se recusa a tomar antibióticos, porque acha que é tudo uma enganação da indústria dos remédios. E pasmem, tem gente instruída até defendendo que o HIV não causa AIDS.

“Mas Sally, as pessoas tem o sagrado direito de serem imbecilóides, se não querem se tratar, deixa eles morrerem! Prêmio Darwin neles!”. Pois é, só que não é tão simples assim. Pessoas negadoras acabam prejudicando pessoas sensatas como eu e você.

Dados colhidos de uma publicação médica: devido ao discurso imbecilóide de que vacinas poderiam causar autismo, o número de vacinas contra sarampo aplicadas no Reino Unido começou a cair preocupantemente. Resultado? No ano de 2008, o sarampo voltou a ser endêmico, 14 anos depois de estar praticamente desaparecido. Dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde: a Europa não vai conseguir erradicar a doença até o fim deste ano. Sabe porque? Porque simplesmente o número de pessoas que estão sendo vacinadas é muito baixo. Eu posso com isso? Aqui tá cheio de gente que rala e faz fila para conseguir uma vacina e lá neguinho tem com facilidade e fica nesse cu doce para tomar!

Outra situação: um negador é hospitalizado com uma doença bacteriana qualquer e lhe são administrados antibióticos injetáveis durante sua internação. Ele melhora, tem alta e lhe são prescritos antibióticos via oral para continuar o tratamento. O imbecilóide não toma seus antibióticos via oral em casa, para dar continuidade ao tratamento, porque nega os benefícios mais que comprovados deste remédio. Com isso, pode criar bactérias resistentes ao antibiótico, já que a dose do hospital não foi suficiente para matar todas e as que sobreviverem e se multiplicarem serão imunes a este remédio. Daí passam os supergermes imunes a antibióticos para pessoas como eu e você, que sempre tomaram sua amoxilina ou azitromicina religiosamente. Ninguém merece.

Você sabia que um em cada três americanos não crê na teoria da evolução? Você sabia que mais da metade dos habitantes dos EUA se dizem contra a vacina do H1N1? Curiosamente, os mesmos que duvidam de tudo que venha da ciência e medicina, são os mesmos que caem na armadinha de tomar bolinhas açucaradas, florais e pozinhos homeopáticos e achar que com isso resolvem suas vidas. Vai me desculpar quem gosta, simpatiza ou trabalha com isso, mas eu tenho horror à homeopatia. Existem centenas de artigos científicos bem consistentes que indicam que é fraude mesmo. Placebo. Enganar o paciente enquanto o corpo se cura sozinho ou fazer o psicossomático agir. E nem tentem me xingar ou me convencer nos comentários, o tema não é esse (ficaadica, Somir: Flertando com o Desastre: homeopatia)

Tudo bem, como eu disse lá no começo, nós confiávamos demais na medicina e na ciência. Foi quando aprendemos da pior forma que eles são falíveis, a ponto de jogar no mercado drogas que nos fazem mal: talidomida, vioxx e outros. Mas a resposta tem que ser esse movimento pendular de partir do amor cego para a total descrença? Eventualmente laboratórios podem mentir, o Governo pode mentir, o médico pode mentir ou errar. Mas será que eles sempre mentem e erram? Será que o médico te passa aquele remédio sem você precisar, só porque tem um pacto visando lucro com um laboratório? Paranóia achar que é sempre assim.

Tem também a histeria contra os produtos transgênicos. Os negadores acham que produtos transgênicos são tudo de ruim e que fazem mal ao ser humano. Pois então anotem aí: TUDO que a gente come é transgênico. TUDO. Não dá para fugir. Até em um inocente M&M tem matéria prima feita com transgênicos. Todo alimento que ingerimos é geneticamente modificado, seja para alterar sua forma, seu tamanho, sua cor, sua durabilidade… caso contrário jamais poderia competir no mercado com os transgênicos – a menos que você só coma coisas que você planta. E mesmo assim, provavelmente a água que você bebe tem quase todos os elementos da tabela periódica, então, desista. Não dá para levar uma alimentação 100% saudável e natural nos grandes centros urbanos. Me dói ver gente pagando mais caro por alimentos “orgânicos” que foram sim geneticamente modificados.

Outro dado da Organização Mundial da Saúde: entre 1998 e 2005 houve dez vezes mais casos de pessoas doentes por causa de leite contaminado. A razão? Os imbecilóides buscavam uma vida mais “saudável” e procuraram ter acesso a leite não pasteurizado. Conclusão: graças a essa busca pela vida “saudável”, acabaram dez vezes mais doentes do que quem tomou seu leitinho na caixinha.

Quer mais um? A quantidade de pesticida usada em alimentos como milho e soja em produtos transgênicos criados para serem mais resistentes é bem menor. Os transgênicos existem para melhorar e não para te sacanear e te deixar doente. Se você quer comer alimentos que não foram geneticamente modificados para serem mais resistentes, vai ter que usar uma quantidade muito maior de pesticida. Mande minhas lembranças ao cantor sertanejo Leandro, viu?

Ficar doente é assustador, é ruim e dá medo. Porém, não temos que culpar os médicos e a ciência por cada doença que existe, nem negar que eles tem sim a capacidade de nos curar em diversos casos. Doenças existem e remédios que funcionam e são necessários existem. Pacientes morrem, às vezes tudo dá errado, sem culpa de ninguém. Por acaso alguém deixou de acreditar em todos os engenheiros quando o edifício Palace Sérgio Naya desabou? Porque fazer o mesmo com a medicina? Toda profissão tem suas pisadas de bola históricas.

Acho que todos nós temos um lado negativista de alguma forma. Fazendo um exame de consciência, eu vejo muitos aspectos negativistas em mim. Por exemplo, nem por um caralho cravejado de brilhantes que eu acredito nesse papo de que vai faltar água no planeta em questão de décadas. A ciência repete que vai faltar água potável e eu não acredito e ponto. Mais da metade do nosso planeta é composto de água, não entra na minha cabeça que falte água. Não entra, não entra, não entra. E sim, eu acho que quando a porca torcer o rabo, neguinho vai dar um jeito bom, bonito e barato de dessalinizar a água. E não tem cristo que me convença do contrário. Como eu, você também deve ter sua parcela de negação científica. Passe lá nos comentários e conte.

Mas ter uma pequena parcela negativista nem de longe se confunde com ser um negativista. Os negativistas científicos são primos dos eco-chatos, gente radical, do contra e sem razão.

O fato é que em qualquer época sempre tivemos pequenos grupos com cagasso do progresso. O mesmo tipo que dizia que luz era “coisa do demo” hoje dá faniquito com alimentos transgênicos. Isso não é novidade. A novidade é que tantos estejam se acovardando e acreditando em teorias conspiratórias. A novidade é que estejam se insurgindo contra procedimentos já sedimentados como vacinas e antibióticos. O que está acontecendo com as pessoas? Isso foge ao bom senso!

Uma curiosidade: será que todos esses negadores científicos, quando a chapa realmente esquenta, não se deixam entupir de remédios? Duvido que não. Na hora do vamos ver, da dor, da agonia, ninguém quer ficar na base de bolinhas açucaradas e florais. Me mostra uma só pessoa que, com uma cólica renal, não ente no hospital quase se ajoelhando na frente do médico pedindo um buscopan na veia. O que me leva a concluir que no fundo, no fundo, são hipócritas.

Só não sei se o discurso negador vem da vontade de culpar os outros por eventuais doenças ou da arrogância de achar que é espertão e percebe a grande conspiração que mais ninguém percebe. Vamos combinar, minha gente, se vacina causasse autismo, depois de décadas de uso em larga escala, o número de autistas teria disparado. É o tipo de coisa que não tem como esconder, por mais conspirador e tirano que um governo seja. É o tipo de coisa que se veria no dia a dia. E ainda assim, um monte de gente acha que é verdade, contra todas as evidências!

Como argumentar com pessoas que acreditam em fatos que vão de encontro a todas as evidências? Com um porrete. Só se for, porque na razão não dá. Longe de mim instigar a violência (mentira, eu me amarro numa violência), é só uma metáfora para dizer que estas pessoas estão fora do alcance das nossas mãos e que dificilmente possamos convencê-las com palavras daquilo que fatos concretos não bastaram para convencer (ainda assim, sempre tem a possibilidade do porrete).

E se você é um negador científico radical, por favor, venha bater boca comigo nos comentários. Pode xingar, eu aprovo seu comentário. Encaro como uma experiência antropológica poder bater boca com uma pessoa assim, porque quem sabe eu consiga entender de onde vem tantos pensamentos absurdos.

Para dizer que nunca mais passa aqui porque este blog incita a violência, para dizer que você curou um câncer com cromoterapia e florais e para dizer que eu sou muito inocente e ainda não percebi que medicina e ciência são armações do governo, da revista Veja e da Rede Globo para controlar nossas mentes: sally@desfavor.com

Cruz retirada no Photoshop para deixar a imagem menos repulsiva.

Todo mundo sabe que eu avessa a falar sobre assuntos jurídicos. Em mais de um ano de blog com postagens diárias, devo ter falado sobre assunto jurídico uma meia dúzia de vezes. Vocês sabem, tenho medo de escrever simples para que não-advogados possam entender e um dia ter isso jogado na minha cara, como se esta fosse toda a profundidade do meu saber jurídico.

Mas, como o assunto tá na moda, por causa do julgamento dos Nardoni, que começa na próxima segunda-feira, hoje vou falar sobre um tema ligado a direito. Porque tem muito leigo comentando, e principalmente “achando” opiniões bizarras e sem fundamento. Odeio gente que “acha”, com base apenas no seu “achismo”. E neguinho fala com uma certeza que assusta!

Por isso, quero garantir que dentre muita gente que vai falar merda por aí, nenhum seja leitor do Desfavor. Leitor do Desfavor pode até ter uma opinião contrária à minha, mas com certeza vai ser bem fundamentada. Tia Sally te ajuda na conversa de mesa de bar. Senhoras e Senhores, o Desfavor Explica de hoje é sobre Tribunal do Júri.

A gente sempre vê aqueles filmes de tribunal Made in EUA onde tudo é decidido através da votação dos jurados que acompanham o julgamento. Desde pequenos vemos esse mesmo ritual em tudo quanto é julgamento. Isso acaba passando uma idéia errada (ou confusa) e a gente cresce achando que tudo no Judiciário é decidido assim, através de uma votação de um júri. E não é verdade, ao menos não no Brasil.

Tribunal do Júri no Brasil funciona da seguinte forma: sete jurados, escolhidos entre pessoas comuns do povo como eu e vocês (Somir não, porque ele não é pessoa comum do povo, ele é elite intelectual do Brasil… hahaha) acompanham o julgamento de um crime e ao final decidem através de votação secreta em uma cédula com perguntas de “sim” ou “não” se a pessoa é culpada e em que medida ela é culpada.

Os jurados apenas decidem a culpa do cidadão pelo ato praticado e o crime cometido, sempre através de perguntas de marcar “x” no “sim” ou “não”. Quando está decidido o crime cometido e o autor do crime, o Juiz que presidiu este julgamento é que será o encarregado de estipula a pena.

Detalhe: os jurados não fundamentam suas decisões. Eles tem que marcar apenas “sim” ou “não” para uma série de perguntas (em juridiquês: quesitos) que lhes são entregues. Eles podem absolver ou condenar o réu pelo motivo que quiserem.

No Brasil, só se usa esse sistema do Tribunal do Júri para julgar os “crimes dolosos contra a vida”. Quem diz o que é um crime doloso contra e vida? O Código Penal. E a Tia Sally também! Crime DOLOSO é aquele que a pessoa cometeu querendo alcançar aquele resultado. Ex: Alguém pega uma arma e atira em outra pessoa para matá-la. É propositado. É com a intenção de matar. Os crimes contra a vida CULPOSOS (não confundir culpado com culposo!) não são julgados pelo Tribunal do Júri. São crimes culposos aqueles, onde a pessoa não tinha a intenção de matar, mas a morte acabou ocorrendo por negligência, imprudência ou imperícia (ex: acidente de transito que acarreta a morte de uma pessoa – não havia intenção do motorista de matar o outro). O crime culposo é julgado por um Juiz de uma Vara Criminal, sozinho, sem participação de jurados. E a decisão do juiz sempre tem que ser fundamentada.

“Mas Sally, então o Tribunal do Júri julga um monte de crimes! O que mais tem é crime onde um mata o outro!”. Não, Querido Leitor. Apenas aquilo que o Código Penal determina que seja crime contra a vida: homicídio doloso (havia a intenção deliberada de matar a outra pessoa), infanticídio (mãe que mata seu filho logo após o parto), aborto (vocês sabem o que é, né?) e por último, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio. Só. O resto não vai a Júri. Porém se a pessoa cometeu qualquer outro crime em conjunto ou em decorrência deste crime doloso contra a vida, o Júri julga todos os crimes.

Vocês devem estar estranhando que o Tribunal do Júri só tenha competência para julgar estes crimes. Por exemplo, o crime de latrocínio (quando uma pessoa mata para roubar), parece ser um crime contra a vida, certo? Pois não é. O nosso legislador entendeu que, apesar de ter morte, se trata de um crime contra o patrimônio, pois a finalidade principal seria o roubo. O mesmo vale para a extorsão mediante seqüestro (vulgo seqüestro normal que a gente vê no Jornal Nacional). Tudo crime contra o patrimônio. O direito brasileiro se baseia na INTENÇÃO do agente para classificar o crime. Não me pergunte como se descobre a intenção de alguém, porque se eu soubesse ler mentes ou tivesse essa perspicácia, homem nenhum nunca teria me feito de otária.

Não precisa haver morte para existir julgamento pelo Tribunal do Júri, basta que se prove que a pessoa tinha a real intenção de matar a outra, de forma propositada. Se não conseguiu, vai responder pela tentativa. Mas vai a Júri de qualquer jeito.

Uma informação importante: não é a vítima nem os familiares da vítima que processam o autor do crime. Quem processa é o Ministério Público, através do Promotor. O réu é defendido por um advogado ou por um Defensor Público (que eu recomendo, ninguém é melhor em Júri do que um Defensor Público titular do Tribunal do Júri, que só faz isso a vida toda).

Antes de começar o julgamento, são convocados 25 jurados (em casos excepcionais podem ser mais) e destes são sorteados sete para compor o que se chama “Conselho de Sentença”, ou seja, quem vai julgar. À medida que os nomes vão sendo sorteados, a Defesa e a Acusação podem recusar os jurados. Eu vivia sendo recusada pela Defesa nos Júris quando era jurada, porque eles me achavam com cara de Patricinha que condenava geral. Porque sim, eles podem recusar até três jurados cada um só porque não vão com a cara! Não precisam justificar. Também podem recusar se tiverem motivos para duvidar de sua imparcialidade quantos jurados quiserem (juridiquês: impedimento e suspeição)

E escolher jurado é uma arte. Quem trabalha na área sabe. Você tem que dar uma olhada rápida e depreender pela roupa, postura, linguagem corporal e por todas as formas que puder o tipo de pessoa que está ali. Por exemplo, em um crime onde o marido matou a mulher por ciúmes, vocês escolheriam jurados homens ou mulheres? Quem escolheu homens ERROU FEIO. Homem condena homem que mata esposa, por mais que ele próprio já tenha dado uns pescotapas em sua mulher. Sobe uma ira machista-hipócrita de achar o outro homem babaca e covarde e se achar melhor, mesmo tendo o mesmo comportamento. Já mulher não, bicho desconfiado que é, não raro comenta “alguma coisa essa mulher fez para o cara chegar a esse ponto!”. Ô raça desunida… mas é verdade. Juro que é verdade. Mulher absolve mais homem que mata a esposa!

Da mesma forma que homem absolve mais um estuprador. Mulher sempre condena estuprador! “Mas Sally, você disse que só crimes contra a vida vão para Júri!”. Sim, mas se houve um homicídio e um estupro, ambos vão a Júri. Os crimes chamados “crimes conexos” (aqueles cometidos em conjunto com o crime contra a vida) também são julgados pelo Júri (juridiquês: “vis atractiva” do Júri).

Depois de escolhidos os jurados, se forma o Conselho de Sentença. Formado o Conselho, os jurados estão proibidos de se comunicar uns com os outros, no que diz respeito ao julgamento. Caso se comuniquem, o Conselho de Sentença é dissolvido e é marcado novo julgamento, com novos jurados. Caso de alguma forma exteriorizem sua opinião acerca do julgamento, o Conselho também é dissolvido. E sempre tem um funcionário do Judiciário fazendo uma ata, anotando tudo que se passa. Quando o advogado acha que ocorreu uma ilegalidade, ele pede para “consignar na ata” o que aconteceu, para poder recorrer depois e provar que a ilegalidade de fato ocorreu.

No dia do julgamento, a acusação, que como eu disse, é feita pelo Ministério Público e o advogado de defesa falam, respectivamente, por uma hora e meia cada um tentando convencer os sete jurados. Eventualmente se permite a participação de um Assistente da Acusação, alguém contratado pela vítima ou por seus parentes para auxiliar o Ministério Público no “ataque”. Gloria Perez contratou um advogado fuderoso para ser Assistente de Acusação no Júri que condenou Guilherme de Pádua e Paula Thomaz.

Começa-se ouvindo as testemunhas do crime. Depois é a vez do próprio acusado falar. E não pode deixar o elemento algemado em plenário, a menos que seja extremamente necessário e fundamentado na ata (juridiquês: dignidade da pessoa humana). Depois de ouvidas as testemunhas e o acusado, vem o pessoal do juridiquês.

O Promotor começa falando, acusando, geralmente de forma teatral. Muitos gritos, encenações, metáforas e dramatização, afinal, argumentos técnicos são bons para convencer o Juiz, mas para convencer sete populares, nada melhor que um desempenho “novela das oito”. Argumentos nada jurídicos são cuspidos na cara dos jurados. Por exemplo: “Senhores Jurados, todo natal eu me visto de Papai Noel e surpreendo meus filhos com presentes (blá blá blá, acrescente mais dez minutos de floreamente), mas este anos, ESTA FAMÍLIA NÃO VAI TER NATAL PORQUE ESTE HOMEM MATOU O PAPAI NOEL DELESSSSS!!!”. É de lascar. Me contorço quando escutou coisas assim vindas de operadores do direito.

Depois vem o advogado ou o Defensor Público e faz parecer que o sujeito é uma flor. Nesse momento é que se ganha ou se perde um Júri. Porque mesmo sabendo que os jurados podem ter acesso aos autos de um processo (ao processo em si), a gente sabe que isso não adianta nada, porque quem não é da área não entende todo aquele juridiquês. Logo, o determinante não é o que os sete populares vão ler nos autos, porque eles não vão entender chongas. O determinante é a sustentação oral em plenário (local do julgamento).

Caso o julgamento demore (às vezes cismam de ler o processo em voz alta para os jurados Tem processo com vinte volumes, cada um com cem páginas!), o julgamento pode se estender pela madrugada. Caso demore pacarai, o julgamento pode se estender por dias. E a incomunicabilidade continua. O máximo que o jurado pode fazer é ligar rapidinho para casa e avisar aos familiares que não volta nem tão cedo. Nada de bate papo. Ao menos não em tese.

Depois de falar por uma hora e meia cada (acusação primeiro, depois defesa), ainda pode haver mais uma hora para cada em réplica ou tréplica. Se alguém tiver curiosidade sobre o tema, recomendo que assistam a um Júri daqueles bem polêmicos, com bons Promotores e Defensores. É um show. Neguinho grita, se joga no chão, se fantasia, chora e faz tudo que for preciso para convencer os jurados.

Ambas as partes devem apresentar as provas que pretendem produzir com um mínimo de três dias de antecedência. Não tem dessa de filme americano onde aparece uma prova surpresa na última hora. A outra parte tem que estar ciente e ter oportunidade de analisar e questionar a prova (juridiques: ampla defesa e contraditório). “Mas Sally, e se a prova só foi descoberta na véspera e é superultramega importante para o desfecho do processo?”. Se preciso for, adia-se o julgamento para que a outra parte tenha acesso à prova sem o fator surpresa. Fiquem de olho no julgamento dos Nardoni, tá com cara de que vai ter prova surpresa. E se ela for aceita, o julgamento é nulo, ou seja, não vale de porra nenhuma.

Ao final, chega aquele momento tenso. O Juiz coloca os jurados isolados em uma salinha sob vigilância para que ninguém dê um pio (incomunicabilidade, lembra?) e eles votam marcando “x” nas cédulas. As cédulas são recolhidas e todos voltam a plenário, onde o juiz lê a decisão (condenação ou absolvição) e estipula a pena levando em conta uma série de fatores complexos demais para tratar aqui. Sempre cabe recurso, claro (juridiquês: duplo grau de jurisdição).

Mas, Queridos Leitores, tem uma pergunta para a qual eu não tenho resposta: porque merda deixam uma decisão dessas na mão de sete populares influenciáveis (tanto pela pena paternalista de culpa social como pela histeria punitiva) em detrimento de um Juiz togado devidamente instruído sobre assuntos jurídicos? Não sei. Não faz sentido na minha cabeça. Quando um Juiz é o encarregado de todo o julgamento e do processo, ele avalia e mensura as provas de forma ponderada e justificada. Quando são sete populares que não tem conhecimento jurídico, como é tomada a decisão? Pois é, Minha Gente. Ganha quem tiver a melhor atuação em plenário. Isso é justiça?

Não raro vemos jurados dormindo ou sem prestar a menor atenção. Eles não estão ali porque querem, eles são convocados de forma obrigatória. É uma boa vontade que nem te conto! Eles desconhecem o que seria legítima defesa, estado de necessidade e qualquer outra condição juridicamente relevante. É muito comum ver injustiças no julgamento realizado pelos jurados. Neguinho não tá nem aí para o dever cívico sério que é ser jurado. Neguinho não trata o processo com a seriedade que gostaria que tratem caso fosse seu filho ou sua mãe a serem os réus. “Ah, foda-se! Alguma merda ele fez para estar aqui, vou condenar mesmo!”.

E a decisão dos jurados é soberana. O Juiz não pode modificá-la. O Juiz apenas aplica a pena cabível para aquela decisão (sim, como eu disse, existem cálculos para aplicar a pena, dependendo do grau da merda que o réu fez). Para piorar, a decisão dos jurados não precisa ser fundamentada. Eles apenas dizem se acham o infeliz culpado ou inocente.

Na minha cabeça não faz muito sentido. Acho que acaba acontecendo um julgamento mais pelo “clamor popular” do que por justiça. Mas, como todo mundo que entende de direito defende a importância do Tribunal do Júri, não me atrevo a fazer campanha contra. Apenas chamo vocês à reflexão. Vai ver eu ainda não tenho a maturidade jurídica necessária para entender a importância de sete populares leigos decidirem sobre a liberdade de outra pessoa sem sequer precisar fundamentar sua decisão. Um dia eu chego lá.

Só acho que os crimes dolosos contra a vida abarcam uma série de assuntos técnicos muito específicos, como por exemplo os exames de corpo de delito, os exames cadavéricos, que são obrigatórios, demandam análise de quem conheça direito. Como um popular vai ler um exame de balística ou uma autópsia e constatar a causa da morte, a intenção do réu e sua culpabilidade? Pelo ângulo do tiro, pela cor da unha do morto, pela posição do cadáver se descobre muito culpado ou inocente. De que adianta a produção de prova pericial se os sete populares não vão saber mensurá-la? Vão ficar escravos do que o Promotor e o Defensor disserem!

Coisas que até mesmo um advogado rala para entender e interpretar são enfiadas goela abaixo dos jurados. Deixar esta interpretação nas mãos de sete pessoas leigas me parece dar uma navalha nas mãos de um macaco. Se é para brincar com o destino de alguém com base no clamor popular e na pressão social, então que passem a ser julgados pelo Tribunal do Júri os CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR. Bota o povo para julgar ladrão de colarinho branco! Isso ninguém coloca, né? Só para julgar pobre.

Fica a sugestão: a competência do Tribunal do Júri deve ser estendida para crimes do colarinho branco, porque são crimes que demandam provas muito menos complexas e de muito mais fácil interpretação. Bota esse pessoal nas mãos do povo, bota… (Arruda? Oi?)

Para me dizer que o texto de hoje foi um saco, para dizer que você quer ser jurado porque jurado tem direito a prisão especial e você ainda não tem diploma e para me perguntar quando eu cobro para fazer o seu Júri se você matar a sua sogra: sally@desfavor.com

Um por todos!

Gosto muito de jogos. Banco Imobiliário, Imagem & Ação, Perfil, Q.I., Master, War e cia. Acho um programão me reunir com meus amigos para jogar jogos (loser? Oi?) Se bem que War eu evito, porque sou muito pilhável, competitiva e levo as coisas para o pessoal. War não acaba bem. War destrói amizades. Mas, no geral, adoro reunir um grupo de amigos e jogar jogos.

Foi em uma destas ocasiões que escolhi apresentar um dos meus ex-namorados para meus amigos. Uma noite de jogos. Decidimos começar jogando um jogo de perguntas e respostas. Estávamos todos reunidos, prontos para jogar, como de costume, homens contra mulheres, quando um imbecilóide de um amigo meu soltou a frase:

Amigo Imbecilóide: “Em vez de fazer homem contra mulher, vamos fazer casal contra casal?”

Fiquei verde. Porque meu namorado era uma delícia, mas seu cérebro era do tamanho de um caroço de uva.

Sally: “Tá com medo das mulheres, nééééé?”

Amigo Imbecilóide: “Hahahahaha”

Namorada do Amigo Imbecilóide: “Tadinho do seu namorado, Sally! Não conhece ninguém aqui! Vai ter que jogar com um bando de estranhos!”

Namorado: “Eu prefiro mesmo jogar com você… você sabe das paradas!”

Sally: “Aff… então tá”

Namorado: “Eu sei como você fica quando perde, pode deixar que a gente vai ganhar!”

Eu não gosto de perder. Não que eu vá fazer alguma baixaria só para não perder – não faço, mas a sensação de derrota não me agrada. E agrada a alguém? Bom, o jogo começou.

Sally: Olha só, vamos combinar assim: você me consulta antes de responder e eu te consulto antes de responder, pode ser?

Namorado: Claro!

Sally: Então, só toca aquele sino quando você tiver certeza, tá?

Namorado: Claro!

Sally: E antes de responder, a gente troca uma idéia, tá?

Namorado: Claro!

Leram a primeira pergunta:

“Quais são os nomes dos três mosqueteiros?”

Meu então namorado toca o sino que nem um desesperado e começa a falar sem me consular:

Namorado: “Dartagnan…”

Sally: “NÃÃÃÃÃOOOO!”

Namorado: “Claro que sim!”

Sally: “NÃÃÃO! ATHOS, POTHOS E ARAMIS! EU PEDI PARA VOCÊ ME CONSULTAR!”

Namorado: “Mas não tem um Dartagnan na parada?”

Sally: “A-THOS, PO-THOS E A-RA-MIS”

Amigo: “Perderam ponto! Chora neném!”

Namorado: “Tá errado, tem um Dartagnan!”

Sally: “Você não conhece Alexandre Dumas, conhece?”

Namorado: “Malha lá na academia?”

Sally: “Não, Amor, não malha não. Deixa pra lá…”

Nem preciso dizer que daí para frente meus amigos só se referiam a ele como “Dartagnan”. Ainda o tratam por este apelido até hoje, mesmo anos depois: “Sally, o Dartagnan vai na festa tal?”, “Sally, que horas começa a aula do Dartagnan?”.

Daí você deve estar se perguntando porque pessoas levam parceiros burros para esse tipo de brincadeira. Eu respondo: é divertido, é uma coisa que a gente gosta de fazer e faz com freqüência. É viável, desde que o analfa tenha a disciplina e o semancol de ficar na dele e consultar antes de responder. Porque ser burro tudo bem, mas ser sem noção é foda. Quem não sabe cantar fica sendo segunda voz, não pode inventar de cantar solo à capela! Quando eu participo de atividades nas quais sou ruim, procuro ajudar não atrapalhando.

Mais perguntas se seguiram, mas como nós não respondemos a nenhuma, nem merecem menção. O esquema aqui é contar só as derrotas *suspiro. Vou narrar apenas as perguntas que eu e minha dupla respondemos, que foram o grande desfavor da noite.

Mais uma pergunta: “Qual é a capital da Austrália?”

Mais uma vez, meu então namorado pulou em cima do sino e começou a gritar a resposta desesperado antes mesmo de parar de tocar o sino:

Dartagnan: “Sydney! Sydney!”

Sally: “CAMBERRAAAAAAAAA!

Dartagnan: “Hã? Você que o quê?”

Sally: “PUTA QUE PARIU! A CAPITAL DA AUSTRÁLIA É CAMBERRA!”

Dartagnan: “Ohhh Meu Amooor – olhando com cara de pena – não é não, é Sydney”

Namorada do Amigo: “Que nada, é Melbourne!”

Sally: “NÃO! NÃO É SYDNEY, NÃO É MELBOURNE, É CAM-BER-RA!”

Dartagnan: “Você deve estar confundido com outro país…”

Sally: *um dos olhos latejando de raiva

Dartagnan: “Eu tenho certeza absoluta que é Sydney”

Sally: Você não conhece o Mapa Mundi, né:

Dartagnan: *olhando com cara de quem está cheio de razão

Sally: E NÃO, ELE NÃO MALHA NA ACADEMIA!

Dartagnan: Calma, Sally, essa era difícil…

Sally: “Custa você me consultar antes de responder?”

Dartagnan: Tá bom, Tá bom, que mulher difícil! Não sabe brincar…

Outra pergunta: “Qual é o nome da reunião pela qual se delibera a escolha de um novo Papa?”

Dessa vez ele tocou o sino e me consultou:

Dartagnan: “Vaticano?”

Sally: “NÃO! Vaticano é o nome do lugar onde é realizada!”

Dartagnan: “Eu pensei que era na Itália!”

Sally: “E é”

Dartagnan: “Vaticano não é país?”

Sally: “É”

Dartagnan: “Como pode um país ficar dentro de outro país?”

Sally: “É como se fosse um país, ele tem soberania e…”

Dartagnan: “Putz! A Sally não sabe a resposta e esta enrolando! Fudeu!”

Sally: “Conclave” *rosnando entre os dentes

Amigo: “Certo! Ponto para vocês!”

Dartagnan: “Ei! Se eu não posso responder sem te consultar, você também não pode responder sem me consultar!”

Sally: “Fechado. Ainda tenho mais uma de crédito, porque você respondeu duas vezes sem me consultar”

Dartagnan: “Como você é vingativa!”

Sally: “Vingativa? Pelo Amor de Deus! É para o nosso bem! Eu respondi CERTO!”

Dartagnan: “Deu sorte, chutou certo”

Mais uma pergunta: “Qual é a capital da Mongólia?”

Eu pulei e toquei o sino. No que o meu então namorado exclama:

Dartagnan: “APAE! Hahahahahaha”

Amigo: “Resposta errada! Perderam ponto!”

Sally: “Ei! Ei! Ele estava brincando! Não conta! Não conta! ULAN BATOR! ULAN BATOR!

Amigo: “Não quero nem saber, respondeu!”

Sally: “ELE ESTAVA BRINCANDO!”

Amigo: “Será? Hahahahaha”

Sally: “Fala para ele que você estava brincando!”

Dartagnan: “Calma, Sally, deixa de ser estressada, é só um jogo”

Sally: * um olho só latejando de raiva

Dartagnan: “Mas bem que podia ser APAE, hein? hein?” *cutucando e rindo

Sally: “E você seria o Presidente, né amor?” *forçando uma risada para tentar fazer parecer que foi uma brincadeira

O clima começou a ficar tenso. A namorada de um dos meus amigos também era burra de doer e estava mandando respostas igualmente bizarras tipo “Venus de Milão” (querendo dizer “Venus de Milo”) e ainda ameaçava tomar “atitudes gástricas” para virar o jogo. Meu amigo estava quase matando a mulher e eu estava quase matando o Dartagnan. Detalhe: meu amigo e eu éramos dançarinos de axé e os respectivos parceiros eram pessoas comuns, com diploma na mão. Continuem falando que dançarino de axé é burro.

Como o clima estava ficando tenso, decidiram estipular novas regras: cada dupla tinha três chances de chutar a resposta, assim a gente descartava o impulso imbecilóide dos nossos jumentinhos de sair cuspindo a primeira merda que passava por suas cabeças ocas.

Pergunta: Qual é a capital da Venezuela?

Dartagnan: “Lima!”

Sally: “NÃÃÃÃO!”

Dartagnan: “Quito!”

Vendo que ele continuaria chutando capitais feito um doido, berrei a resposta em um gesto de desespero antes que ele abra a boca novamente:

Sally: “CARACAS!”

Dartagnan: “Para de reclamar de tudo que eu falo!”

Sally: “Hã?”

Dartagnan: “Esse seu comentário aí… não gostei do tom de voz!”

Sally: “Não fiz comentário, eu respondi a pergunta!”

Dartagnan: “Tá bom…” * irônico

Sally: “A capital da Venezuela É CARACAS!”

Dartagnan: “Sally! Não força!”

Amigos: “Pffffff hahahahahaha”

Sally: Vai olhar lá no Google! O nome da porra do lugar é Caracas!

Dartagnan: Não foi um comentário criticando a minha resposta?

Sally: Poderia ter sido, mas calhou de não ser. A capital da Venezuela é Caracas

Dartagnan: Vou deixar passar…

Mais uma pergunta: Quem nasce na Guatemala é…

Namorada Anta do Amigo: “Guacamole!”

Sally: Gezuiz…

Amigo: Guacamole? *feições distorcidas

Dartagnan: Guacamole não é uma comida?

Amigo: Tá vendo? ATÉ ELE sabe! Se não tem certeza não abre a boca!

Dartagnan: Precisa gritar com a menina? Vocês ainda tinham mais duas chances!

Amigo: Não se mete!

Sally: Ok, vamos parar por aqui, esse jogo evidentemente não está dando certo…

Amigo: É mesmo, espertona? E você por acaso sabe a resposta?

Sally: Guatemalteco

Namorada Anta do Amigo: *chorando

Amigo: O problema é que as pessoas não pensam antes de falar! NÃO PENSAM! * batendo com as mãos na própria cabeça

Amigos no geral: “Calma gente, é só uma brincadeira!”

Sally: “Porque é brincadeira tem que ser avacalhado?”

Amigo: “Cabeça é pra pensar! Não é pra fazer chapinha!”

Dartagnan: Vocês são muito estressados…

Sally: Aqui o esquema é assim, Meu Querido

Dartagnan: É sempre assim?

Sally: Tipo Colômbia

Dartagnan: Hã?

Amigo: éééééé nóóóóis!

Sally: árvore secaaaaaa!

Amigo: Tipo! Tipo!

Dartagnan: Esse povo de dança é tudo maluco

Para dizer que não entendeu metade da postagem, para dizer que não entende essa minha tara por homem burro ou ainda para dizer que você tem vergonha de você mesmo por saber o que significa “Tipo Colômbia”: sally@desfavor.com

Oh no, you didn't...

A gente sempre fala aqui do efeito milagroso que a morte opera na vida de uma pessoa pública: seus erros são apagados e seus acertos são destacados. Ela ganha presunção de bondade e genialidade. Normal. Porém nocivo, porque se a gente deixar que esse mecanismo continue sendo passado adiante, de geração para geração, ele vai ficando cada vez mais forte e chega a um ponto que, de um “cara bacana, com idéias legais” o morto vira um fenômeno que ressuscitou três dias depois de morrer crucificado e em nome dele não se pode fazer sexo com camisinha. Menos, né? Na linha “chutando cachorro morto, com muito orgulho”, o Processa Eu de hoje é sobre um piloto suíço chamado Dayrton Senta.

Quando Dayrton tinha apenas três anos de idade, sua irmã ganhou um kart de presente. Mas, ela não se interessou muito pelo “brinquedo” e resolveu cedê-lo ao irmão. Dayrton descobriu seu dom: corridas. Competiu em diversas categorias sempre com muita habilidade. Porque aqui a gente fala mal, mas com embasamento, não fala mal a qualquer preço. Habilidoso ele era. Boa pessoa? Nem tanto. Vejamos algumas frases suas, públicas e notórias: “Vencer é como uma droga. Eu não posso justificar, sob nenhuma circunstância, ser o segundo ou terceiro.” Tava querendo provar o que para quem? Vejamos outra: “Ser o segundo é o mesmo que ser o primeiro dos perdedores.”

Extremamente competitivo, por mais de uma vez mostrou com palavras e atos que fair play não era o seu forte. Repetiu várias vezes que para ele não serviria ser o segundo melhor (ótimo exemplo para as crianças). Os pilotos que corriam com ele o criticavam severamente quanto à sua postura e ética. Mais: pilotos DA MESMA EQUIPE que ele também o criticavam e alguns chegaram, inclusive, a se recusar a correr com ele novamente, como por exemplo o piloto Alio de Engelis. Seu também companheiro de equipe Hamon Dill disse que “Senta prefere bater em seus oponentes do que ser derrotado”.

Fofoca? ENVEJA? Intriga da oposição? Vocês sabem, cada um fala o que quer. Vamos avaliar os atos então? Ano de 1990, Grande Prêmio do Japão. Brigavam pelo título Senta e o segundo colocado, outro piloto famoso. Senta estava na frente e só este outro piloto poderia vencê-lo. O que Dayrton fez? Na primeira curva da corrida, jogou o carro em cima do outro piloto quando este tentava ultrapassá-lo e ambos foram para fora das pistas. Dayrton ganhou, porque tirou o inimigo do páreo na porrada. Suíça como sempre dando exemplo para o mundo!

Para não dizer que não somos democráticos, vamos ouvir a outra parte. Calma, não vamos bater tambor nem receber santo. Ele se pronunciou sobre este fato em vida.

Com vocês, Dayrton: “ (…) eu disse a mim mesmo: Ok, aconteça o que acontecer, eu vou entrar na primeira curva antes – Eu não estava preparado para deixar o outro chegar na curva antes de mim. Se eu estou perto o suficiente dele, ele não poderá virar na minha frente – e ele será obrigado a me deixar seguir. Eu não me importo em bater; eu fui para isso”.

Daí, só para confirmar, ele mesmo se pergunta e se responde: “Então você deixou isso acontecer”, alguém diria. “Por que eu causaria isso?”. Se você se ferrar cada vez que estiver fazendo o seu trabalho limpo, conforme o sistema, o que você faz? Volta para trás e diz “Obrigado”? De jeito nenhum! Você deve lutar para o que você acha que é certo.”.

Tenho pena do país que escolhe para admirar pessoas com aptidões técnicas, com habilidade mecânica ou motora, em detrimento de pessoas com ética e caráter. Tenho pena do país onde uma pessoa se sente sacaneada no trabalho (quem nunca se sentiu?) e devolve jogando sujo vira ídolo. Ainda bem que eu moro no Brasil, e não na Suíça. Pobres suíços!

Nascido em uma casa abastada, desde pequeno teve tudo que queria. Que criança, aos nove anos de idade, já dirige um jipe pelas estradas das propriedades de seu pai? Perdão. Reformulo a frase: que criança aos nove anos DIRIGE? Eu hein…

Dayrton via seus concorrentes como inimigos. Tinha essa obsessão de ser o melhor a qualquer preço. Porem, tinha aquela carinha de cachorro cagando na chuva, que conquistou a simpatia de muitos. Doava umas merrecas (porque sim, perto do que ele ganhava, era merreca) para uma fundação que tinha por objetivo ajudar jovens pobres. E era muito religioso, isso na Suíça conta. Você pode fazer a merda que for, se depois você se disser arrependido e falar de Deus, tá tudo bacana. E por pior pessoa que você seja, você pode se dizer suuuper religioso e isso limpa sua barra, porque afinal, ele era “de Deus”, né? Isso é sinônimo de ser um bom menino. Os suíços tem preguiça de procurar informações e fazer seu próprio juízo crítico de valor, então recebem tudo mastigado pelo Builliam Woner – Mas aqui no desfavor não tem Homer Simpson (só nos comentários do Processa Eu sobre o Sport. Vai lá e pergunta! Tenho certeza que todos acham Dayrton mó herói).

Entre todos os seus rivais, a picuinha maior era com outro piloto suíço, Pelson Niquet. São inúmeros desentendimentos e alfinetadas destas duas mocinhas. Infelizmente, não tenho espaço para contar todos, então, vou escolher o meu favorito.

Dayrton, retornando de férias, respondeu a um repórter que lhe perguntava o porquê do seu sumiço. Podia apenas dizer que estava de férias, mas aproveitou para dar um totozinho no camarada: disse que sumiu para que Niquet possa aparecer um pouquinho, tirando onda de mais famoso que ofusca o colega. Feio. Feeeeio. Se eu falar uma porra dessas vão me chamar de escrota para baixo. Mas era Dayrton, o bom menino de Deus.

Quando os jornais estamparam essa manchete, Niquet, que também não era flor que se cheire, ficou bastante chateado. Quando leu a notícia, Niquet chamou um jornalista e teria dito: “Quero responder a esse FDP! Pode dizer que ele sumiu para não precisar explicar à imprensa por que ele não gosta de mulher!” e ainda virou para sua esposa, que estava presente, e perguntou: “Não é?”. O jornalista ficou branco e disse a Niquet se ele realmente tinha certeza, porque aquilo “daria uma merda danada”, ao que Niquet respondeu “Pode dar, não gosta mesmo”. Quando a coisa explodiu na imprensa, trocentos jornalistas procuraram Niquet para confirmar as declarações e ele confirmou a todos.

Fofoca? ENVEJA? Intriga da oposição? Pode ser. A gente do Desfavor sempre prefere acreditar na versão mais sórdida, ou seja, que Senta senta. Mas esta não era a única razão pela qual se iniciou o boato. Quando Dayrton saiu da Suíça para correr em outros países da Europa, levou consigo um belo e jovem acompanhante que o assessorava muito de perto, full time. E sempre correu um boato entre os pilotos que corriam com ele que Dayrton “preferia os mecânicos”, chegando a criar piadas internas bem famosas nos bastidores da Fórmula 1. Niquet era extremamente sarcástico e fazia piadas com isso o tempo todo. Ao menos ele tinha senso de humor, coisa que Dayrton desconhecia. O mundo deu voltas e parece que agora quem não gosta de mulher é o filho de Niquet. Gezuiz também tem senso de humor.

Daí tem sempre uma alma inocente que diz: “Mas Sally, como ele poderia ser gay tendo namorado a Muxa e outras?”. Bem, Michael Jackson tinha filhos. Namorar, casar e ter filhos não é atestado de macheza. E by the way, não acho demérito ser gay. O demérito é ser gay e ter vergonha dele mesmo tentando negar e desfilando com mulheres só para dar satisfação.

Ele tirava onda de bom menino fora das pistas, mas não era. Um episódio que já contei no Processa Eu de Balvão Gueno mostra muito bem a vertente playboy que não respeita nada do nosso mocinho “de Deus”. Alias, só o fato de ser amigo de Balvão Bueno já diz muito sobre o caráter e a índole de uma pessoa. A menos que você seja SURDO, nada justifica uma amizade com Balvão Gueno. Senta que lá vem a história: Fórmula 1, 1987. Durante o GP do México, Dayrton saiu para jantar com uma galerinha, incluindo o Balvão. Tomaram uns gorós, porque campanha “se beber não dirija” é para os fracos e resolveram voltar para o hotel. Na volta, em dois carros alugados, um dirigido por Balvão, outro por Senta, ambos com passageiros, começou uma brincadeirinha muito madura: Senta porrou propositadamente o carro de Balvão, no meio da rua, onde transitavam pessoas que nada tinham a ver com isso. Balvão, deu ré e começou a porrar o carro de Senta de volta, assim, por diversão, afinal, tinham pago o seguro na locação mesmo, porque não porrar o carro? Pior: correram pelas ruas, batendo um racha mesmo. Detonaram os carros, entraram na contramão, fizeram o caralho. Bonito, né? Suíço sempre envergonha o país no exterior. Bom menino? Pense duas vezes.

Em um treino para uma corrida que se tornaria famosa, um acidente envolvendo um jovem suíço Burrens Rarichello preocupou Dayrton Senta. Ele acreditava que pilotos jovens e inexperientes poderiam se machucar com as novas condições dos veículos e das pistas. Não ele, que era fodástico e imortal, os jovens pilotos. Burrens sofreu um acidente mas não teve maiores sequelas, quebrou o nariz e teve uns arranhões. Por motivos estranhos, ele era protegidinho de Dayrton (talvez por ser ruim pacarai, porque se fosse concorrente, Dayrton o detestaria). Dayrton foi até o hospital visitá-lo, mas foi barrado, estava fora do horário de visitas. Dayrton pulou o muro e o visitou na marra. (mmmmmm…)

Em outro treino na mesma pista, um piloto austríaco bateu e morreu. A FIA foi periciar a área para tentar entender o que tinha dado errado. Dayrton também resolveu que iria periciar a área, porque humildade é para os fracos. Tomou uma advertência.

Iniciada a corrida depois destes acidentes nos treinos, mais uma batida aconteceu.Eem sua última volta, Dayrton perdeu o controle do seu carro em uma curva e seguiu reto. Quando a equipe de segurança chegou ao local e viu os miolos de Dayrton no chão, acharam melhor nem mexer. Foi um neurocirurgião quem retirou Senta do carro. Nas imagens vistas pela TV, por um momento, pudemos ver a cabeça de Senta se mover, o que fez com que todos pensem que ele estava bem. Que nada, nesse momento ele tinha acabado de morrer. Foi levado de helicóptero para o hospital e declarado morto apenas algumas horas depois, mas morte de famoso nunca é declarada no local, a gente sabe. Ainda mais quando a lei do país diz que em caso de morte na pista, as demais corridas seriam canceladas para investigação do ocorrido. Imagina o tamanho do preju…

As razões do acidente demandariam outras quatro páginas para serem explicadas corretamente, por isso, me permito fazer um resumão, desde já advertindo o Leitor de que tem muito mais a ser dito. Não pareceu fatalidade. Pareceu ambição com imprudência. Parece que Dayrton teria solicitado um ajuste à barra de direção do seu carro, para melhorar seu rendimento. Como não havia a possibilidade de construir um novo carro e Dayrton se recusava a esperar, ameaçando um faniquito, neguinho fez uma gambiarra, um remendo. Parece que esta gambiarra que fizeram através de uma soldagem na barra de direção, se soltou durante a corrida. Todos sabem o que acontece com um carro sem eixo de direção: Não faz curva.

Não fazendo a curva, Dayrton bateu de frente a uma velocidade absurda. A roda dianteira direita teria sido a primeira a bater no muro. Bateu e voltou, na cabeça de Senta. Se tivesse batido no capacete, talvez o dano não tivesse sido tão grande, mas bateu no ponto mais vulnerável, que é aquela borracha que prende a parte da viseira. Dizem que se a roda tivesse batido a 0,2 milímetros a mais ou a menos, ele não teria se machucado. Os mecânicos que soldaram o eixo de direção foram processados por homicídio culposo, acusados de negligência e imprudência, mas ao final foram absolvidos. Há controvérsias. O National Geographic apresentou um documentário com outra teoria e já ouvi ao menos mais três versões para o acidente. Nunca vamos saber.

O que ninguém discute é que, da forma como ele foi ferido, não havia qualquer condição de sobreviver. Seu cérebro de liquefez por causa do impacto e um pedaço de fibra de carbono da carenagem entrou em seu globo ocular, cortando sua cabeça de ponta a ponta.

Após sua morte, o Governo Suíço declarou três dias de luto e ele foi enterrado com honras de Chefe de Estado (wat). Daí para frente passou a ser socialmente condenável falar mal dele.

Vamos combinar, o rapaz tinha uma habilidade especial para correr, mas isso não faz dele um Deus. Assim como não faz de quem tem uma habilidade especial para o futebol um Deus. Mas os suíços são carentes de ídolos e escolheram Dayrton como um modelo. Eu pessoalmente o acho um péssimo exemplo, bem como Lepé (devolve o dinheiro para as criancinha da UNICEF, Lepé!) e Norraldo (trevinho tatuado na virilha foi confirmado, né? Não é que o traveco estava certo?), mas na Suíça eles são intocáveis.

Agora me conta, se fosse aquele seu vizinho antipático a falar e fazer essas coisas todas, seria um ídolo? Não! Seria um babaca, feladaputa e arrogante. Uma pena que os suíços ainda não tenham aprendido a parar de romantizar os famosos!

Para me dizer que Senta foi um santo homem, para me chamar de escrota para baixo e para contar mais um ou dois podres dele que não couberam aqui: sally@desfavor.com