waaatVocê vai passar alguns anos da sua vida sonhando. Estima-se que uma pessoa tenha pelo menos duas horas de sonhos por noite de sono, o que no final das contas vai somar uma quantia considerável de “tempo de existência”.

E tem muita gente por aí que não está afim de ser mera expectadora desse filme mental diário. Hoje o Desfavor Explica fala sobre sonhos e a possibilidade de vivenciá-los de forma consciente. Não, você não está sonhando, eu estou escrevendo mesmo sobre um tema que me foi sugerido pelos leitores…

Mas antes de interagir com algo, é bom entender melhor esse algo.

EU TENHO UM SONHO

Existem indícios que os macacos pelados aqui não são os únicos seres capazes de sonhar. Desde aquele seu cachorro que corre dormindo até ratos em laboratórios do MIT, já foram recolhidos várias evidências que os sonhos não são apenas fruto da poderosa mente abstrata humana, mas sim um processo neurológico comum a espécies mais evoluídas.

Os primeiros registros humanos sobre sonhos já encontrados datam de quase cinco mil anos atrás. E não há muitas dúvidas que eles já eram motivo de fascínio e estudo muito antes disso.

Se esse processo é um subproduto da forma como o cérebro funciona ou se é um mecanismo essencial para consolidar as informações que captamos no dia-a-dia, ainda não há um consenso científico. O que existem são teorias mais bem aceitas, e é sobre elas que eu vou me basear neste texto.

Para começo de conversa, todo mundo sonha e sonha algumas horas por dia (considerando que você dorme minimamente direito), o que é muito comum é simplesmente esquecer desses sonhos. A porcentagem de sonhos solenemente ignorados após seu acontecimento gira ao redor de 95%.

Essa taxa de esquecimento tão elevada corrobora com a idéia de que os sonhos são uma forma de filtrar e transferir as memórias de curto prazo para a de longo prazo. Os sonhos são parte do processo que forma a memória. Você não lembra do sonho porque ele… virou outra coisa.

LEMBRA?

Já percebeu como memórias mais antigas são mais “narrativas” do que as recentes? Para não gastar espaço desnecessário, o cérebro não fica guardando milhões de detalhes inúteis nas cenas que você vai sempre se lembrar. É uma história que pode ser remontada a partir de “gatilhos” de informação. Pedacinhos de imagens, sensações e idéias que podem ser expandidos de acordo com a necessidade.

Você não precisa se lembrar de coisas como disposição das nuvens no céu para se lembrar da primeira vez que viu o mundo pela janela de um avião, por exemplo. Isso é preenchido “na hora” que se puxa essa memória com alguma cena genérica do que você entende como céu.

A memória recente é mais fotográfica, crua, detalhista. A de longo prazo é bem mais… subjetiva. E presume-se que isso seja resultado da forma como essa transferência é feita: Pelos sonhos. Sonhamos com coisas recentes para consolidá-las e sonhamos com coisas antigas provavelmente para atualizar e contextualizar melhor o que já estava gravado.

Só que dizer apenas que sonhos servem para consolidar memórias não explica bem as maluquices possíveis neles. Em primeiro lugar devemos entender que a mente humana é muito afeita a analogias e metáforas. Não precisamos de muito mais que um desenho de seta para presumir movimento. Basta o cheiro do gás metano para presumirmos sujeira… São incontáveis “gatilhos sensoriais” que nos fazem ter idéias complexas.

Sonhar com um animal falante ou um corredor infinito não significa exatamente que passamos por essas cenas na vida real. O cérebro pode simular várias sensações reais com cenas pra lá de lúdicas.

Freud e Jung formularam várias teorias sobre os sonhos serem manifestações do inconsciente, refletindo desejos e aspirações das pessoas num ambiente mais livre. E isso não precisa bater de frente com a teoria da memória: Vai dizer que não é comum ter o julgamento sobre um fato bagunçado por emoções? Ninguém precisa estar sonhando para pintar um quadro “peculiar” sobre as situações que viveu de acordo com a própria vontade.

Recebemos estímulos sensoriais do ambiente ao nosso redor, mas não há nenhuma garantia de imparcialidade e fidelidade na hora de processá-los. Não existe impedimento para o cérebro transformar uma memória numa cena fantástica motivada pelos seus desejos num sonho.

Um outro argumento que pode surgir é a capacidade de encenar acontecimentos futuros num sonho. Não podemos ter memórias do futuro, certo? Errado. Lembramos de planos para o futuro que fizemos no passado. Como a imaginação não fica presa ao presente, até mesmo coisas que imaginamos que aconteceriam podem ser guardadas e processadas pelos sonhos durante o sono.

É comum “encenar” eventos futuros esperados na mente. Quem nunca imaginou uma conversa importante que aconteceria horas ou dias depois? Faz parte da mente humana essa preparação prévia. E óbvio que isso vazaria para o reino dos sonhos. Utilizamos o passado para prever o futuro.

E favor não confundir prever no sentido Mãe Dinah da coisa. Quem diz ter visões do futuro nos sonhos está mentindo ou interpretando o sonho de forma tendenciosa. Tem que acertar com muita precisão e frequência para desacreditar a possibilidade de coincidência, falso positivo ou distorção de acordo com a vontade. SPOILER: Ninguém conseguiu até hoje.

E só para completar: Tem muita gente que resolve “problemas” sonhando. Eu sou uma delas. Processo criativo não tem a ver com a memória, certo? A pessoa está criando uma nova coisa. Então me diga se você acha que um médico vai resolver um complexo teorema matemático durante o sono… As pessoas não aprendem coisas completamente alheias ao que já sabem durante os sonhos. Pode apostar que vai ser alguém com meios de resolver o problema que vai fazê-lo. Quanto mais alguém pensa numa coisa, maior a chance de suas memórias refletirem isso.

E o cérebro continua funcionando durante os sonhos. Se algo “grande” acontece dentro de um deles, não é como se estivéssemos totalmente alheios. Assim como um pesadelo casca grossa, a resposta para um problema durante um sonho vai gerar alguma reação mais consciente. Eu já acordei algumas vezes para anotar ideias e rabiscar imagens, e aviso: Você VAI esquecer os detalhes se dormir de novo. Deixe de preguiça nessa hora. Não tem nada pior que lembrar que resolveu um problema depois que acorda, mas sem saber como porque tudo virou “fumaça”.

E como esse processo de transformar memórias em histórias frequentemente nos coloca em situações bem mais inusitadas do que qualquer acontecimento da “vida acordada”, não é de se estranhar que muita gente queira assumir o controle sobre esse roteiro.

E é assim que entramos no assunto dos sonhos lúcidos.

REALIDADE VIRTUAL

A ideia de ser protagonista consciente dos sonhos não é nova, mas só começou a ser estudada de forma mais científica no século passado. (Pois é, macacada, se começa com 19, é século passado… estamos todos velhos…) E como vocês bem sabem, eu não ligo muito para conhecimento humano pré método científico.

Atualmente a maior autoridade no assunto é o americano Stephen LeBerge, psicofisiologista (wat? estuda relações entre fenômenos psicológicos e fisiológicos) que publicou o livro Sonhos Lúcidos, a primeira obra científica exclusiva sobre o assunto. Fiquei feliz em perceber que não se trata de pseudociência ou misticismo. Sim, o cara ganha a vida com isso, mas respeita o método científico e não presume muita coisa além do que estuda.

O primeiro resultado forte de testes realizados foi a comunicação entre uma pessoa dormindo (REM e tudo) e a equipe de LeBerge através de sinais pré-definidos com movimentos dos olhos. Movia os olhos para um lado se estivesse sonhando e consciente disso, movia para outro se estivesse andando… Isso é importante porque demonstra evidências dos sonhos lúcidos além do campo testemunhal. Já mais seguro que não se tratava de uma bobagem qualquer, resolvi que eu mesmo seria cobaia para esta coluna.

E por sorte não é como hipnose, não depende obrigatoriamente de ignorância sobre o assunto ou vontade de funcionar para funcionar. As mentes céticas agradecem.

PREPARAÇÃO

Para começo de conversa, você precisa aumentar sua capacidade de lembrar dos sonhos. Tem quem lembre mais, tem quem lembre menos. Eu fico na segunda categoria. É bem mais fácil para quem não dorme feito uma pedra e pode contar nos dedos as vezes que acordou durante a noite. Lembrar de um sonho é muito mais provável para quem tem sono picado. Pela manhã a grande maioria dos sonhos já foi “deletada” da mente.

E mesmo os sonhos que ficam mais ou menos claros na sua mente quando você acorda tendem a se esfacelar com o passar do tempo. A forma mais segura de lembrar é anotar num papel o que estava acontecendo no seu sonho.

Um método hardcore de conseguir isso é colocar um despertador para te pentelhar mais ou menos na hora em que seus sonhos estiverem acontecendo. Isso é péssimo para sua qualidade de vida, mas é quase garantia que algum sonho você pega e consegue lembrar em detalhes. Não é pra fazer sempre, eu fiz umas duas vezes na fase de preparação. Funcionou bem.

E por que é importante lembrar? Prepara sua mente para reconhecer padrões de cenas de sonho. Ao guardar isso como memória “real”, você começa a ter do que lembrar durante um deles. Começa o processo de trazer a consciência “acordada” para a realidade onírica.

Depois disso, por mais babaca que pareça, você tem que planejar ações que entreguem que você está sonhando. Ao contrário do que muita gente pensa, você não vira um deus no seu sonho. O seu cérebro está seguindo a dança e te colocando várias limitações inconscientes durante o sonho. Quem nunca teve a sensação de impotência durante um pesadelo?

O segredo é definir algo para fazer. Uma tática comum é olhar para algum relógio, lembrar do que está marcado, olhar para outro lugar e voltar para o relógio. Nos sonhos existem uma enorme tendência de relógios não manterem um padrão lógico de funcionamento. Você vê marcado 12:51 na primeira vez e BATATA na segunda. Sem o estado de lucidez você passa batido por uma maluquice dessas, mas a partir do momento que você percebe o que aconteceu, grandes chances de assumir o controle da situação.

Existem outros bugs comuns de sonhos, normalmente relacionados com auto-imagem (espelhos mostram coisas diferentes, roupas mudam, etc.), caminhos (corredores mudando de direção, portas que não fazem sentido…) e evidente, coisas fantásticas. Se você tentar voar e conseguir (é mais fácil do que parece), pode ter certeza que está sonhando.

Além disso, antes de dormir é bom manter em mente que você quer tomar conta do seu sonho. Se você apagar pensando nisso, grandes chances de conseguir. Vai ficar algo na memória recente que vai ter que ser transformado durante o sono.

Eu consegui meu primeiro sonho lúcido seguindo esse plano:

HELLO?

Estava dirigindo, não parecia o meu carro. Era uma daquelas estradas de filme de terror, estreita, escura, atravessando uma floresta densa. Estava de noite. O caminho ficava cada vez mais escuro, as luzes do carro cada vez mais fracas…

Lembro claramente da sensação de desespero, mas não consigo explicar porque não parei a porra do carro! Não sabia mais para onde estava indo. SEM NENHUMA LÓGICA, apareci dentro de uma cabana de madeira (também esquemão filme de terror, só faltava o Jason…), ainda de noite. O local estava mal iluminado, mas eu podia ver algumas ferramentas sobre prateleiras e uma mesa no centro.

No meio daquela situação, eu comecei a procurar um relógio. Parecia sem motivação naquele momento, mas enquanto eu fuçava pelos quatro cantos do lugar, veio o momento que eu estava esperando.

Saquei por que estava procurando um relógio. Queria a confirmação se era um sonho. Veio tudo na cabeça. Não precisei ACHAR o relógio, mas o simples fato de entender porque eu estava fazendo aquilo resolveu a questão. É impressionante a sensação de tomar o controle de suas ações num sonho. O universo ao seu redor ainda é extremamente aleatório, mas o simples fato de escolher como vai reagir enriquece demais a experiência. Os detalhes são mais vívidos e o roteiro não sofre tantas viradas.

A sequência desse sonho se passou comigo sendo um policial corrupto lidando com Lionel Fuckin’ Richie (com o visual do clipe Hello, serião), chefe de uma máfia de fuckin’ ninjas e sempre assessorado por uma gostosona com aquele visual de “bibliotecária sexy”. Infelizmente não tracei a assessora, mas presenciei a cena mais foda de corte vertical de katana numa pessoa até hoje. Lionel era casca grossa na arte ninja e não gostava que mexessem com ela… Mas já estou na quinta página e a descrição do sonho mais foda da história não é muito científica.

Não precisei anotar nada depois de acordar, ficou muito bem definido na memória. Deve ter ocupado o espaço de alguma coisa importante, mas não é como se eu lembrasse de coisas úteis 99% do tempo.

CONCLUSÃO

É um assunto interessante que passeia pelo lúdico sem forçar a realidade e fugir da ciência. Achei divertido ter sonhos conscientes, mas não é para mudar a vida de ninguém por si só. Existem outros estudos sobre tratamento de traumas através dos sonhos lúcidos, mas é a mesma coisa que hipnose: Tem que ter um plano além do método.

Vale a pena como curiosidade, mas eu fico com o pé atrás por um motivo: Não existem estudos tratando da relação entre esses sonhos e a manutenção da memória. De uma certa forma, é “invadir” um processo neurológico importante. Não estou garantindo que atrapalhe, mas não achei material que garanta que não também. Moderação, canja de galinha e respeitar a assistente gostosona do Lionel Richie ninja não fazem mal a ninguém…

Para dizer que seu sonho é não ter que ler tanta baboseira, para dizer que ficou muito decepcionado por eu não ter falado mal, ou mesmo para tentar me analisar a partir do meu sonho (SPOILER: louco): somir@desfavor.com

Isso... é... uma... é?Quando surgiram as primeiras pílulas anticoncepcionais muitos se assustaram e atacaram seu uso dizendo que era “antinatural” e que “faria mal à saúde da mulher”. Novidades assustam mesmo. Vejo o mesmo se repetindo com os anticoncepcionais de última geração que suprimem a menstruação. Mulheres: não há a menor necessidade biológica de ficar menstruada. Tomar um anticoncepcional que suprime menstruação não é pior do que tomar um anticoncepcional comum. Não vai te fazer mal, não vai te deixar estéril e não vai te engordar, muito pelo contrário, eles tem uma série de benefícios secundários. Eu não fico menstruada há mais de dez anos, posso garantir que não tem coisa melhor na vida.

Para aqueles que não sabem, a menstruação é uma programação do organismo para a gravidez: todo mês o útero “cria” uma camada grossa de “sangue” para receber e “alimentar” um óvulo fecundado. Quando este óvulo fecundado não chega, a camada desaba, gerando a menstruação. Este é o lado técnico. Mas só quem já ficou menstruada sabe o que isso significa na prática.

O lado real é que você fica sangrando por vários dias, mas não é um sangue como o que corre nas nossas veias, é espesso, tem cheiro desagradável (sobretudo no verão) e muitas vezes traz de brinde cólicas, alterações de humor, dores de cabeça, pressão baixa e inúmeros sintomas de TPM. Sem contar que pode te inutilizar para a prática de atividades físicas ou sexo. Durante esse período você tem que andar com uma mini-fralda no meio das pernas, EXTREMAMENTE INCÔMODA, que vira e mexe fica aparente através da calça criando um vulto constrangedor. Sabe aquele comercial “incomodada ficava a sua avó”? DEVE TER SIDO CRIADO POR UM HOMEM, porque essa porra desse absorvente INCOMODA PRA CARALHO.

Muitas mulheres ainda passam por isso todo mês por mero desconhecimento da relação custo/benefício de se livrar desta praga mensal. É algo tão maravilhoso que desperta na gente uma certa desconfiança: “Não ficar menstruada? É bom demais para ser verdade… deve dar câncer!”. Não, não dá. Os mitos estão sendo esclarecidos e o preconceito está começando a ruir. Procure se informar sobre uma das modalidades com seu médico, tenho certeza que uma delas cabe no seu dia a dia e no seu bolso.

O nome técnico é Contracepção Contínua e, ao contrário do que muitos pensam, não é feito apenas através injeções. Consiste em submeter o corpo ao uso ininterrupto de hormônio para que ele não menstrue mais. Não, o sangue não vai se acumular dentro de você, ele simplesmente não vai se formar! Ah, você não gosta de tomar hormônios, entendi. Você é hippie. O que você está fazendo aqui no Desfavor? Vai sangrar bem longe daqui, bicho-grilo!

Falando em sangrar, não custa dizer que não é cem por cento garantido que se suprima por completo a menstruação. A regra é essa, mas pode acontecer de ter pequenos sangramentos em alguns casos isolados. Se você continuar sangrando, pode recorrer a um outro método de Contracepção Contínua, porque sim, existe mais de um. Vamos conhecer alguns métodos de Contracepção Contínua?

A injeção é a minha favorita pela praticidade. Existem injeções mensais e injeções trimestrais. É isso aí, você toma uma única injeção na bunda (não dói muito, pode confiar) e fica três meses sem menstruar e sem risco de engravidar. O método é tão seguro que muitos ginecologistas nem ao menos recomendam que se faça um exame de gravidez periódico, pois sua taxa de falha é a mais próxima de zero de todos os métodos. Basta tomar uma injeção de três em três meses, o que significa tomar apenas quatro injeções no ano! Pronto, sem risco de gravidez e sem menstruação! Já usei e recomendo a Depo-Provera ou Contracept. Para quem acha que deve ser caro, o preço de uma injeção que dura três meses é menor do que o de uma cartela de pílula, que dura apenas um mês. Mas, CONVERSE COM SEU MÉDICO para avaliar se este medicamento é compatível com seu organismo, não saia tomando só porque leu aqui.

“Mas Sally, você toma de uma vez só todos os hormônios que tomaria gradualmente através de uma pílula por três meses! Isso deve ser uma bomba, isso deve engordar, isso deve dar câncer, isso deve me deixar com vontade de escutar Fábio Junior isso deve…”. Calma. Não vilanize a injeção. Sim, você injeta de uma vez uma quantidade grande de hormônio, mas ele não é absorvido de imediato! Ele vai sendo absorvido gradativamente. É como se o seu organismo tomasse sozinho uma pílula por dia no piloto automático. Engorda? Não, o que engorda é fritura, gordura e açúcar, coisas que a gente come compulsivamente na TPM. No máximo pode te deixar um pouquinho inchada, mas isto também aconteceria no período pré-menstrual. Quando comparado, o eventual inchaço fruto do anticoncepcional é bem menor do que o inchaço de TPM. Quanto ao câncer, surpreenda-se: anticoncepcionais injetáveis à base de progesterona na verdade ajudam na prevenção de câncer no endométrio.

Se você tem fobia extrema a injeção e não consegue suportar nem mesmo de três em três meses, existem pílulas anticoncepcionais com o mesmo efeito. A cartela contem 28 comprimidos (em vez de 21). Ela é feita para emendar uma cartela na outra, para uso continuado, sem descanso de sete dias que te fazia menstruar. Já usei e recomendo Cerazette, que de tão inofensiva pode ser usada até por quem tem diabetes, hipertensão ou fuma. Ainda assim, CONVERSE COM SEU MÉDICO para avaliar se este medicamento é compatível com seu organismo.

“Mas Sally, é preciso parar de tomar pílula de tempos em tempos para limpar o organismo!”. Olha, essa mentira é TÃO MENTIRA que chega a me irritar. ISSO NÃO EXISTE MAIS. Isso é do tempo em que os anticoncepcionais tinham uma dosagem hormonal maior. Se você, mulher, pensa assim, procure se informar pois é um mito. Se você, homem, ouviu da sua namorada que ela vai parar de tomar pílula porque o médico mandou, para “limpar” o organismo ou “deixar descansar”, compre uma camisinha da adamantium porque essa mulher está querendo engravidar de você! E se você escutou isso da boca do seu ginecologista, TROQUE DE MÉDICO URGENTE porque ele parou no tempo e não se atualiza!

Se você nunca lembra de tomar a pílula e tem pavor de injeção, tem a opção dos implantes subdérmicos ou subcutâneos. Trata-se de uma cápsula de silicone flexível que é inserida por baixo da pele (geralmente na parte interna do braço, cerca de quatro dedos acima da dobra do cotovelo). Costuma ter 4cm de comprimento por 0,2cm de diâmetro. É colocado com anestesia local, porém sem uso de bisturi e sim com uma seringa especial, no próprio consultório do médico. Vai liberando hormônio na corrente sanguínea aos poucos. Este implante pode te proteger por meses ou até mesmo por anos! Existem implantes que duram até três anos! O preço é mais salgado, mas pense no quanto você gastaria em três anos de pílula e constate que não é tão ruim quanto parece!

“Mas Sally, eu posso ficar anos sem menstruar? A menstruação não é necessária para limpar meu organismo?”.
NÃO, menstruação NÃO SERVE PARA LIMPAR NADA. Muito pelo contrário, apenas suja: suja o lençol, suja sua calça branca, suja sua calcinha. Menstruação NÃO É NECESSÁRIA do ponto de vista fisiológico e nada de horrível vai te acontecer se você parar de menstruar. Muito pelo contrário, menstruação pode te fazer mal (pode causar anemia, endometriose e outras coisas). Eu repito isso para as minhas amigas há dez anos e todas ficam me olhando receosas. Precisou a Guta Stresser ir para a TV dizer as mesmas coisas para elas começarem a acreditar. Ninguém merece tanta falta de confiança!

Se você tem horror a injeção, implantes e não lembra nunca de tomar a pílula, tem também a opção do Sistema Intrauterino Liberador de Levonorgestrel. É um primo moderno do DIU (Dispositivo Intra Uterino), só que o DIU era mais rudimentar: feito de cobre, provocava sangramento e impedia que o óvulo fecundado se alojasse no útero. Seu primo mais novo é também mais inteligente, pois libera 20mg de levonorgestrel (LNG, para os íntimos) que atua como anticoncepcional. É um dispositivo plástico flexível em forma de T que é inserido no seu útero (sem cortes, através da vagina) pelo ginecologista e pode durar até cinco anos. FUCKIN´ CINCO ANOS sem ter que se preocupar com gravidez ou menstruação! *lágrima furtiva no olho direito. Como é bom viver em uma sociedade moderna e evoluída!!!

“Mas Sally, DIU é perigoso, mulher que nunca teve filho não pode usar DIU, o DIU pode me perfurar, causar infecção e comer meu cérebro, além disso não quero andar com troço pendurado no meio das pernas”. Negativo. Ele é de plástico flexível, o que torna impossível qualquer perfuração, além disso, se quiser ter filhos basta retirá-lo pelo mesmo buraco onde ele entrou. É perfeitamente reversível. E troço no meio das pernas você vai ter é se ficar menstruada, porque este dispositivo não deixa nenhuma cordinha pendurada no meio das pernas, nem você nem o seu parceiro vão sentir que ele está lá, pois ele é colocado no fundo do útero. Não, por mais bem dotados que seus parceiros achem que são, nenhum pênis consegue chegar até o fundo do seu útero. Se isto fosse possível mulheres grávidas não poderiam fazer sexo porque cutucaria o bebê.

Se você tem agonia de coisas enfiadas no seu útero, medo de injeções e implantes e memória ruim para lembrar de tomar a pílula, ainda tem outras opções. Uma delas é o anel vaginal. Não faça essa cara de wat. É um anel flexível tão fácil de ser inserido (adivinha onde? Turun tss!) que a própria usuária pode colocar sem auxílio de um médico. Parece com o diafragma, com a diferença que não precisa estar colocado necessariamente no colo do útero porque não atua por bloqueio, basta que esteja posicionado na porção final da vagina. Libera o mesmo hormônio das pílulas à base de estrogênio. Geralmente tem que ser trocado todo mês. Fácil de colocar e fácil de retirar. Nunca tive coragem de usar, tenho preconceito, pois existe a chance de que você ou seu parceiro sintam a presença do anel durante o sexo, embora seja pequena. Nada de mais, é um troço bem molinho e fino.

“Mas Sally, eu não gosto dessas coisas de enfiar, e se ficar preso lá?”. Uma vagina tem entre 7 e 10cm de profundidade, não tem como nada ficar “preso lá”. Basta enfiar o dedo e puxar, é um anel elástico de 5cm de diâmetro (meça com uma régua, é algo muito pequeno) que vai se adaptar à sua musculatura local. As coisas não se perdem dentro da vagina, ela não é um buraco para outra dimensão. E também não vai cair quando você estiver andando no meio da rua, pode ficar tranqüila.

Supondo que você tenha agonia de coisas dentro de você entrando pela sua vagina e também tenha agonia de injeção e ainda seja distraída demais para tomar pílula, tem mais uma opção: adesivos contraceptivos. É um adesivo cor de pele de uns três dedos de largura que pode ser colocado em qualquer parte do corpo e libera hormônios gradualmente. Deve ser trocado semanalmente e pode ser usado de forma ininterrupta. Se você parar, fica menstruada, se não parar, não fica. Ele não descola mesmo com banhos diários, prática de atividades aquáticas e suor. Nunca usei porque aqui neste calor da porra andamos com pouca roupa e ele acaba ficando aparente. Eu acho evasão de privacidade constrangedora que estranhos, colegas de trabalho e meu porteiro saibam qual é meu método anticoncepcional.

“Mas Sally, essa coisa de ficar se entupindo de hormônio não vai fazer mal para a minha pele? Não vou ficar cheia de espinhas?”. Primeiro que você não está se entupindo de hormônio, os anticoncepcionais de nova geração vem com dosagens baixas de hormônio, apenas o necessário. Segundo que os contraceptivos de uso continuado MELHORAM A PELE. Foi comprovado que após seis ciclos de uso ocorre uma melhora significativa na acne. Está na hora de detonar os mitos envolvendo anticoncepcionais hormonais. Não estamos na década de 70, os medicamentos evoluíram.

Não tem desculpa. Tem método para todos os gostos. Só fica menstruada quem quer. Além do método, também pode variar o tipo de hormônio usados: progesterona, estrogênio ou ambos combinados. Em último caso, até mesmo as pílulas comuns, com cartela de 21 dias podem ser tomadas ininterruptamente. Pode confiar, eu não sou irresponsável de afirmar que algo não faz mal a menos que tenha absoluta certeza do que estou falando.

Basta dessa ditadura retrógrada de achar que mulher TEM QUE menstruar, que é fardo inerente à condição de mulher. Eu acho menstruação coisa de BICHO, me lembra uma cadela que eu tinha que andava com fraldinha para não sangrar no sofá. Eu ME RECUSO a passar por isso, porque independente de cólica, TPM e etc, o sangrar em si é um desconforto do caralho, é uma preocupação e dependendo do momento é um constrangimento. Que atire a primeira pedra quem nunca menstruou na pior hora possível e quase passou vergonha por isso!

Ok, vamos às perguntas dos leitores.

“Mas Sally, anticoncepcionais de uso contínuo não aumentam as minhas chances de ter um efeito colateral? Afinal, a exposição do organismo à substância é maior”. NÃO, não aumenta. E muitos deles são reversíveis, por isso se você eventualmente tiver algum efeito colateral, basta remover o anticoncepcional. Qualquer medicamento pode causar efeitos colaterais, até uma simples aspirina. Leia a bula e chore. Mas efeitos colaterais são a EXCEÇÃO, se a gente ficar pensando neles, não toma mais remédio nenhum.

“Mas Sally, isso não pode prejudicar minha fertilidade? Não posso ficar menos fértil ou demorar mais tempo para engravidar?”. NÃO, você não vai ficar menos fértil coisa nenhuma. O máximo que pode acontecer, no caso específico das injeções trimestrais, é que você demore um pouco mais para recuperar a fertilidade, mas estamos falando de poucos meses – e quando ela volta, volta como era antes. Justamente por isso existem as injeções mensais e todos os outros métodos que são rapidamente reversíveis.

“Mas Saaaaally, tenho menos de 18 anos, comofas?”. Não tem qualquer contra-indicação relativa à idade. Os médicos costumam recomendar que a contracepção de uso contínuo seja feita por mulheres que já ficaram menstruadas há MAIS DE DOIS ANOS, ou seja, se você ficou menstruada com 14 anos, aos 16 já pode fazer uso. Vamos combinar, quase não vemos meninas de 16 anos que ainda não ficaram menstruadas. Sabe porque? Graças às imagens eróticas a que somos submetidos por revistas, TV, internet… tudo isso a longo prazo acelera o processo de amadurecimento sexual. Meninas estão menstruando com dez, onze anos de idade.

Por mais que eu já tenha dito isto, nunca é demais repetir que QUALQUER MÉTODO ANTICONCEPCIONAL, seja ela continuado ou não, DEVE SER INDICADO POR UM MÉDICO, pois existem uma série de fatores a ser levados em conta que nós, leigos, não sabemos mensurar. Por isso nada de correr para a farmácia e sair comprando remédio por conta própria. O objetivo deste texto é apenas informar e não receitar ou medicar.

Para dizer que conhece um método anticoncepcional ainda mais eficiente chamado “vídeo game”, para duvidar de tudo que eu disse só para não admitir que aturou anos de sangramento por nada ou ainda para reclamar de ainda não terem inventado um método anticoncepcional hormonal masculino: sally@desfavor.com

Chimpanzé sem pelos, método científico?  ATENÇÃO: Nenhum chimpanzé foi ferido na produção deste texto. 

No último capítulo: O ser humano tem uma impressionante capacidade de reconhecer e memorizar padrões, o que acelera, e muito, o acúmulo e utilização do conhecimento disponível. Mas essa mesma capacidade pode se voltar contra nós no caso de uma conclusão lógica, porém errônea. Se está confuso, leia a Parte 1.

Nota: Não vou tentar traçar o método científico como uma criação com ponto histórico exato. Grandes pensadores, filósofos e cientistas tiveram sua parte no que definimos hoje. E nem como algo definitivo. O método evoluiu com o tempo e não há nenhuma razão para acreditar que não continuará no futuro.

Parte 2: TEORIA MEU OVO!

CIENTIFIQUÊS

Você não adora quando algum cretino começa com aquele papinho de “isso é só uma teoria!” para desclassificar as explicações racionais para o seu mundinho de fantasia? Nem eu. O problema nem é a noção de que é mesmo só uma teoria, porque é. O problema é a noção errônea que as pessoas tem sobre o que é uma teoria científica.

Os cientistas tem seus termos específicos, alguns deles se parecem muito com termos do nosso dia-a-dia, mas a maioria deles tem definições bem particulares. Teoria, por exemplo… Para o cidadão comum, teoria tende a soar como sinônimo de hipótese (palpite, chute…).

Para a ciência, teoria e hipótese são dois bichos bem diferentes. A Teoria da Evolução não é um palpite de Charles Darwin que calhou de ficar famoso. Ela é baseada nos nerdíssimos estudos do próprio durante toda a vida, além de incontáveis participações da comunidade científica a partir dali. Evidências, testes, teorias paralelas, discussões, gente doidinha para provar tudo aquilo errado… Teoria tem que resistir a uma enormidade de desafios para se manter de pé. Inclusive provar o que diz.

Jamais confundir a “teoria” que se formula em bares depois de meia dúzia de cervejas com as Teorias que sobreviveram ao ceticismo e ao ego da comunidade científica. Você deve estar se perguntando porque não vira FATO depois de tanta confirmação, e a resposta é simples: Teorias foram feitas para ser derrubadas. Uma das coisas mais inteligentes que a humanidade pode fazer é não se agarrar demais nas conclusões que chega.

Uma coisa é dizer que viu a maçã cair e isso é um fato. Outra completamente diferente é explicar a força que age na maçã que cai. Newton formulou teorias excelentes sobre a gravidade. Teorias que geraram leis.

Lei não é mais “forte” que teoria na ciência. Lei é uma hipótese que rende resultados tão consistentes ao ponto de não termos mais necessidade de ficar confirmando. A não ser, é claro, que você tenha bons motivos. Uma lei é causa e consequência, não depende da explicação para continuar valendo.

A Lei de Newton resistiu ao desafio do tempo. A Teoria, nem tanto. A relatividade a mecânica quântica mostraram novas formas de lidar com o assunto. Teorias nascem, crescem e morrem, mas NÃO são chutes.

MÉTODO EM ETAPAS

Finalmente, hein? Assim como meus textos, a ciência também não é muito afeita a apressar as conclusões. A idéia de se ter um método para validar o conhecimento adquirido visa limitar o papel da “vontade” do cientista, que, no final das contas, é tão humano quanto qualquer outro. Não é à toa que estudos sobre fantasmas, alienígenas, poderes psíquicos e curas místicas raramente são levados a sério, o pesquisador acaba se concentrando apenas no que quer achar e ignorando tudo mais ao seu redor.

Existem várias formas de definir cada uma das etapas, vai ser difícil achar um consenso perfeito sobre nomenclaturas e agrupamentos de ações, mas as etapas abrangentes que defino aqui cobrem o principal:

OBSERVAÇÃO

É aqui onde tudo começa. Não à toa, é a parte mais democrática do processo. Todos nós temos a capacidade de reconhecer padrões e entender ligações entre objetos e fatos aparentemente distintos. Uma pesquisa não pode começar de forma totalmente aleatória, alguma coisa tem que ligar o “Será?” na cabeça de quem vai seguir o processo.

Por exemplo: Dr. R. Pilha vai ao zoológico, curioso sobre o chimpanzé pelado anunciado pelo telejornal. Em frente à jaula, fica impressionado com a compleição física do símio. Sem a pelagem, o animal é capaz de fazer inveja a qualquer pudim de bomba de academia. Uma criança remelenta ao seu lado começa a berrar, a mãe, uma mulher gorda vestindo uma roupa claramente menor do que deveria, contemplava inerte. Os outros visitantes próximos ficam claramente irritados com a evidente falta de educação e respeito pelos ouvidos alheios do garoto.

O chimpanzé começa a demonstrar seu descontentamento respondendo aos gritos do irritante moleque. Para a surpresa do Dr., o chimpanzé fica de saco cheio antes e resolve assustar o projeto de gente com um movimento brusco em sua direção. O moleque sai chorando dali, a mãe acaba acompanhando sua prole, não sem antes dar uma bronca num funcionário, exigindo que se acorrentasse o animal para que ele não assuste mais crianças. Nosso cientista responsável agradece o chimpanzé, fazendo os demais caírem na gargalhada e aplaudirem o macaco pelado dentro da jaula.

Eis que a comparação entre crianças humanas e chimpanzés adultos o acerta como um raio: “Será?”

HIPÓTESE

Fazer a pergunta certa costuma valer mais do que ter a resposta certa. Nessa etapa, o pesquisador vai formular uma hipótese baseado no conhecimento prévio do assunto em questão. Até por isso os cientistas tendem a se concentrar num conjunto de temas bem específico: Grandes chances de você fazer uma pergunta estúpida se não tiver conhecimento avançado sobre a área que vai explorar. É importante valorizar A PERGUNTA, e não a resposta que se espera. A hipótese tem que ser abrangente o suficiente para fazer valer a pesquisa e específica o suficiente para sua resposta ter utilidade.

“Cigarro mata.” é uma péssima hipótese, não é científico abrir uma pesquisa para confirmar uma afirmação, está tudo genérico demais, até mesmo ser atropelado por um caminhão da Souza Cruz poderia valer como evidência…

“Tabagismo aumenta a probabilidade de câncer de pulmão?” é uma bem melhor. Não está tentando concluir nada pela hipótese, definiu a busca da ligação probabilística (não é só SIM ou NÃO) entre tabagismo (hábito de fumar) e câncer de pulmão (doença normalmente fatal).

Voltando ao exemplo: Dr. R. Pilha volta para o laboratório decidido a se aprofundar no assunto. Depois de estudar a fundo outros estudos sobre crianças e chimpanzés, percebe que ninguém ainda pesquisou sobre a possibilidade de chimpanzés adultos serem mais evoluídos do que crianças humanas. Estava decidido, aquilo ali seria seu novo projeto!

EXPERIMENTOS

Ok, já observamos e já definimos a hipótese. Não dá só para sentar num banquinho e começar a pensar numa resposta. A mente humana é um campo minado de falsos positivos prontos para detonar qualquer raciocínio lógico descuidado. E é aqui que se separa homens de meninos: O cientista não pode ter nenhuma frescura de querer que os resultados dos experimentos concordem com sua idéia inicial. As evidências falam por si (momento Grisson).

É a partir daqui que começa a maior possibilidade de encontrar algo completamente novo e mudar o rumo da pesquisa. Talvez até uma nova hipótese. Estimativas um tanto quanto fanfarronas dizem que entre um terço e metade das grandes descobertas científicas foram “surpresas” para quem estava pesquisando outras coisas. Fleming esqueceu de guardar uma colônia de bactérias de um dia para o outro e elas foram “invadidas” por fungos… Humanidade, penicilina. Penicilina, humanidade.

Apesar da chance de surpresas, essa é a fase mais séria do processo. O resultado de um teste pode ser influenciado por uma enormidade de fatores, o que obriga o cientista a “limpar” as amostras o máximo possível e repetir os experimentos sempre que possível. A palavra chave é consistência.

Não dá para fazer um teste sobre os efeitos de um remédio se não tiver um grupo que recebe o placebo, por exemplo. Quem garante que as pessoas não estão inventando (mesmo sem intenção) os resultados que revelam? Pseudo-ciência DEITA E ROLA no efeito placebo. Escolhem pessoas que QUEREM que a mágica da vez seja verdade e só pesquisam isso.

E se os grupos tiverem alguma diferença significativa de estilo de vida? Uma droga para redução de peso pode funcionar muito bem para o grupo rico e muito mal para o grupo pobre. Ricos tem muito mais facilidade para se alimentar de forma saudável. Numa dessas é capaz do cientista achar que a droga só funciona para pessoas brancas… (Escroto, eu sei…)

Cada área da ciência tem seus experimentos, mas nenhuma delas está livre de “sujeiras” nos seus experimentos.

Ah, o exemplo: Depois de vários experimentos, dentre eles um conclusivo estudo sobre a capacidade de um chimpanzé vencer 3.291 crianças numa briga, Dr. R. Pilha estava começando a perceber que sua hipótese era furada. As crianças (as ainda vivas) eram bem mais educadas e inteligentes que os chimpanzés nos testes controlados. Capacidade cognitiva, localização espacial, empatia… Os fedelhos estavam dando um show. Sim, os chimpanzés eram mais fortes, mas basicamente só isso. Prestes a desistir da pesquisa, o Dr. observou um evento que traria um sopro de vida para seu trabalho.

Um dos pais precisou sair mais cedo, por isso adentrou a sala de testes para pegar sua cria. No exato momento em que a criança percebeu a aproximação do pai, errou um teste absolutamente banal de conexão entre cores e formas. O chimpanzé do outro lado da grade não teve dificuldades.

Avisado sobre sua necessidade de sair, a criança começou a emitir sons extremamente irritantes, além de chorar de forma excessivamente dramática. O pai ficou confuso por alguns segundos, e sem dizer uma palavra pegou a criança pelos braços, arrastando-a, aos berros, pelo chão. O garoto chutava e tentava escapar de todas as formas, o pai começara a gritar também. O chimpanzé, pouco impressionado, voltou-se para o outro lado da sua gaiola e começou a brincar com algumas peças coloridas.

A cena dantesca continuou até o exterior do prédio, o Dr. podia ouvir a criança e o pai berrando, feito símios, de dentro de sua sala. Percebendo a oportunidade, refez a maioria dos testes com os pais das crianças DENTRO do ambiente controlado. Mais uma vez sem os pais. Mais uma vez com os pais. Os resultados foram conclusivos.

CONCLUSÃO/PUBLICAÇÃO

Se fez experimentos, alguma conclusão tem que sair. Mesmo que seja inconclusiva. Não estou drogado, a questão é que não havia nenhuma garantia de provar a hipótese desde o começo. Por isso era uma hipótese. Mas conhecimento sempre tem sua utilidade. Aqui não é hora de deixar o ego falar mais alto e tentar criar significados grandiosos para sua pesquisa, a conclusão, assim como as evidências, fala por si. Uma boa conclusão fala sobre o assunto estudado baseada apenas em conhecimento validado pelos testes.

O problema aqui é que nem todas as pesquisas chegam de verdade à conclusão. Sabem aqueles estudos que pipocam no jornal a cada semana criando heróis e vilões da saúde? Aqueles que dizem que ovo faz mal e logo depois que faz bem? Eles não costumam ser estudos completos. Eles são HIPÓTESES validadas por uma etapa de observação um pouco mais caprichada. Os jornalistas não sabem muito bem o que é o quê e publicam hipóteses como se fossem conclusões.

Nem sempre o cientista quer esperar o processo completo para publicar. Publicar um estudo na fase de hipótese pode ser preguiça, mas é mais provável que seja um misto de necessidade de financiamento (a fase dos experimentos pode ser muito cara), colocação profissional e massagem no ego. Cientista costuma se medir pelo número de publicações, eles entendem quando é um estudo completo e quando é uma “prévia”. Jornalistas e pessoas “comuns” não.

Se ele não publicar, some para a comunidade. Nem todo mundo tem pai rico feito o Darwin e pode ficar escondido numa sala estudando plantinhas a vida toda (ainda bem que ele tinha, não me entendam mal…).

E se ele não publicar, como é que outras pessoas vão poder estudar e ajudar essas idéias a aumentar nosso conhecimento em geral? Seu estudo só é forte quando muita gente tenta te provar errado e não consegue. Seu estudo só é útil se outros cientistas podem expandir e aplicar suas informações em outros campos e especialidades. Publicar é saudável para a ciência, mesmo que gere algumas complicações para os leigos.

Tendo acesso ao estudo original, você consegue entender se ele está completo ou não. Sabem a notícia que pipocou na mídia sobre a relação entre celulares e câncer? Não foi um estudo completo. Foi uma análise de vários outros estudos que gerou uma hipótese razoável de ligação entre as duas coisas. Pra bater o martelo precisa de muito mais do que isso. Ninguém disse que você VAI ficar com câncer se usar muito o celular (embora eu ache bacana, esse povo fala demais…).

E eu nem estou batendo na Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, os caras estão fazendo o trabalho deles. A mídia que pula em todos os estudos como se eles fossem totalmente conclusivos.

Putz, o exemplo: Dr. R. Pilha apresenta então sua conclusão para a comunidade científica. Sem os pais na sala, as crianças eram mais inteligentes, com os pais, algumas esqueciam completamente a educação e perdiam de lavada para os chimpanzés. O mundo cai aos pés do brilhante cientista que provou, de uma vez por todas, que aqueles pais que deixam suas crianças encherem o saco de todo mundo em lugares públicos são menos evoluídos que um chimpanzé.

Nosso cientista do exemplo observou um acontecimento, gerou uma hipótese, testou e descobriu algo inesperado. Adaptou suas idéias às evidências e finalmente pode concluir algo de útil. E viva a ciência!

Para dizer que nemleu, para reclamar do exemplo dizendo que temos preconceito contra pais aqui no desfavor (não, os nossos foram excelentes…), ou mesmo para achar defeitos no que escrevi em nome da ciência (peer review: desfavor edition): somir@desfavor.com

Sessão da tarde apresenta: Entrando numa fria.  ATENÇÃO: Este texto não foi testado para consumo humano. 

Estou envergonhado. Mais de dois anos de blog e só agora me surge a idéia de escrever um texto sobre o método científico. Deveria ter sido um dos primeiros temas desta coluna, dada a relevância dele na maioria absoluta dos outros temas tratados.

O método científico não é só um jargão de nerds em laboratórios, é a melhor forma encontrada pelos seres humanos para entender o universo ao seu redor. Percebam que eu disse a melhor forma, não a forma perfeita…

Vou fazer o texto em duas partes.

Parte 1: PADRÕES E LIMÕES.

PADRÕES

Uma das maiores, senão a maior fundação da racionalidade humana é a capacidade de reconhecer padrões. Padrões, neste contexto, sendo as relações entre causas e consequências com as quais temos contato. Sim, outros animais também são capazes disso, mas sem a menor comparação no quesito complexidade, e principalmente no quesito velocidade.

Enquanto outros predadores precisaram de gerações e gerações para entender que caçar a favor do vento é uma péssima idéia, seu tata()()ravô, Ugabuga, foi capaz de sacar isso durante sua vida. Enquanto o felino gigante teve que fazer a lenta e confusa conexão entre sentir vento no focinho e sucesso na caça, o humano teve como perceber que: 1) Cada animal tem um cheiro; 2) Outros animais podem sentir o cheiro dele; 3) O vento carrega o cheiro na direção que sopra; 4) Estar contra o vento fazia as presas não sentirem seu cheiro; 5) Era mais fácil caçar assim.

Lógica não é exclusividade da sociedade moderna. Ei, não é nem exclusividade da civilização. Isso está presente de tal forma na nossa forma de enxergar o mundo que por mais que você queira se dizer guiado por energias mágicas e emoções, está usando-a a cada minuto da sua vida.

E escrevo isso porque parece difícil de acreditar que gente que acredita em seres mágicos ou que assista BBB tem capacidade de pensamento lógico. A verdade é que elas são tão lógicas quanto intelectuais de internet como eu (e vocês). O problema é que nem sempre a lógica do reconhecimento de padrões nos leva a conclusões razoáveis. Escrevi um texto inteiro sobre falsos positivos, mas trago aqui a idéia central: Não é só porque você enxerga uma conexão entre dois acontecimentos que eles estão conectados. Pode se mentir dizendo apenas a verdade.

Querem um exemplo? (Como se vocês tivessem escolha…)

A DESCURA DO ESCORBUTO

Em 1911, dois navios disputavam uma corrida para chegar, pela primeira vez na história, ao Pólo Sul. O vencedor foi o capitaneado pelo norueguês Roald Amundsen. O seu concorrente, liderado pelo inglês Robert Falcon Scott, demorou um mês a mais para conseguir o mesmo. E uma das principais causas desse atraso foi a alta incidência de escorbuto entre os marujos. Escorbuto é uma doença causada por deficiência severa de vitamina C no corpo, mortal e típica de longas viagens marítimas há alguns séculos.

Não estou apenas aumentando a sua cultura geral, estou preparando o terreno para o mais absurdo: Um navio da marinha britânica quase perdeu todos os seus tripulantes para uma doença que a própria marinha britânica havia ajudado a praticamente erradicar. Foram os marinheiros ingleses, guiados por James Lind, médico escocês, que perceberam que havia uma conexão entre o suco de limão e a prevenção da doença. Em 1747.

E como foi que em 1911 aconteceu algo assim? Ciência sem método científico. O tempo passou desde a descoberta das propriedades do suco de limão, mas ainda não se sabia direito o porquê dessa conexão. Os barcos ganharam motores, as viagens encurtaram, mais gente se lançou ao mar. Na prática isso significou que na maioria dos casos não fazia nem diferença ingerir o suco de limão, não dava tempo do escorbuto “bater” nos marinheiros.

Tanto que começaram a usar limas, mais baratas porém bem mais pobres em vitamina C. Como as viagens estavam mais curtas e existia uma oferta maior de portos oferecendo alimentos frescos durante as viagens, criou-se o falso positivo de que limas e limões dariam no mesmo. Ei, ninguém estava com escorbuto.

Mas essa não era uma viagem qualquer. Eles iriam até o Pólo Sul, passando muito mais tempo em alto mar do que quase a totalidade dos outros navios. Exceção feita aos baleeiros, que passavam eternidades no mar caçando… baleias (essa frase não foi bem planejada). E sabem um povo que adorava caçar uma baleia naquela época? O povo norueguês. Roald e sua trupe tinham experiência, mesmo que indireta, com as precauções necessárias numa viagem polar.

Mas os ingleses… Ah, os ingleses caíram vítimas da ciência ruim. Era uma época meio complicada para a medicina, estavam começando a entender que sangrar pessoas não era a resposta para tudo, e sequer se sabia da existência da vitamina C. O escorbuto, considerado quase erradicado, resolveu voltar no fim do século XIX, muito por causa das péssimas condições de armazenamento e preparação dos alimentos na Europa civilizada. Vitamina C está presente na maioria dos alimentos, mas é muito sensível. O povo comia poucos alimentos frescos, assim como os marinheiros de antigamente.

Como o escorbuto começou a aparecer em terra, alguns “cientistas” (honestamente, naquela época ainda não dava para chamar muita gente de cientista sem aspas e mais aspas…) resolveram ignorar todo o conhecimento acumulado pelos marinheiros e começar uma nova teoria sobre a causa da doença.

Um deles era o “médico” (mesmo caso) que aconselhou Robert Falcon Scott antes de começar sua viagem. Usando o famoso discurso de autoridade médica, ele convenceu capitão e tripulação que o escorbuto era uma inflamação ácida do sangue causada por bactérias.

Bactérias eram a coqueluche da ciência na época (ha!). Neguinho queria porque queria achar doenças que eram causadas por essa novidade. Ainda falo mais sobre isso na Parte 2, mas o ego tem um grande papel nas teorias idiotas que queimam o filme da ciência.

A idéia por trás das teoria do escorbuto causado por bactérias era bem lógica, mas completamente errada. Na cabeça desses médicos, era a carne infectada pelas bactérias que causava a doença. Resultado óbvio de armazenagem errada… óbvio. Compararam viagens com incidência de escorbuto (longas, depósitos cheios de carne salgada) e sem casos da doença (curtas, alimentação fresca). A lógica estava lá! Na cara deles. Só podia ser a carne mal armazenada!

E o suco de limão? Eles também sabiam explicar: O suco ácido do limão matava as bactérias, por isso prevenia a doença. Para complicar mais ainda, começavam a pipocar mais e mais casos da doença, mesmo com a obrigatoriedade de levar o suco nas viagens. Ao invés de culpar a lima ou de perceber que armazenar suco de fruta em barril por meses meio que estraga a função deles, acreditaram que se fossem muitas bactérias na carne, nem o limão (ou lima) resolveriam.

Sem a menor preocupação com comprovação, lá se foi Scott e companhia para o Pólo Sul munidos de carne seca, rum e muitas limas (as colônias inglesas produziam mais lima que limão, era obrigatório levar também por questões econômicas…).

Uma dose de rum para quem adivinhas o resultado…

Hemorragia e inchaço das gengivas, dores pelo corpo, feridas que não fecham e a queda dos dentes. Passe muito tempo assim e você morre. Incontáveis navios perderam quase toda a tripulação para a doença na nossa história.

Deve ter sido uma viagem pra lá de agradável. A carne seca armazenada da forma mais cuidadosa possível e um mar de homens cuspindo sangue e dentes pelo convés. Para ajudar, o suco de lima, que já é fraco para prevenir a doença naturalmente, já estava pra lá de inutilizado quando os casos começaram a pipocar. O corpo humano consegue armazenar vitamina C por mais ou menos seis meses, então eles já estavam bem enfiados no gelo polar quando a teoria dos médicos/açougueiros ingleses foi posta à prova.

E sem ninguém para explicar o que realmente acontecia, a tripulação tentava se livrar das bactérias ao invés de comer um pouquinho que seja de carne fresca (prato do dia: urso polar) como fizeram os noruegueses. Até que pelos motivos errados eles fizeram uma coisa certa: Com a certeza que a carne do navio estava totalmente perdida para as bactérias, Scott manda sua trupe caçar focas e pinguins para alimentar os inúmeros doentes.

Carne fresca, vitamina C, problema resolvido? Não totalmente. Para evitar que as bactérias estragassem a carne da caça recente, ela foi fervida seguidas vezes. E vitamina C, como eu já disse, é bem sensível. Os poucos que sobreviveram para fazer a viagem de volta (Scott não foi um deles) aproveitaram muito mais escorbuto no caminho.

É importante notar como havia sim uma lógica na teoria do médico que mandou uma tripulação inteira para se foder com uma doença que JÁ havia sido considerada “vencida” há mais de um século. E havia também uma parte do método científico… Mas uma parte do método não se compara com o método todo.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO

Observar relações entre causa e consequência NÃO equivale a testar relações entre causa e consequência.

Lind, o escocês que recomendou suco de limão no século XVIII, fez vários experimentos com cobaias animais e humanas até ter certeza que tinha descoberto uma dessas relações.

Os médicos ingleses do começo do século XX por trás da teoria que ajudou a matar boa parte de uma tripulação chutaram uma teoria baseada apenas no que eles julgavam lógico.

Saber a diferença entre ciência e chute (pseudociência) pode salvar sua vida. Mas como conhecimento é poder, posso esperar até semana que vem para continuar o assunto. Sim, eu sei que vocês vão se descabelar com a expectativa…

Para dizer que pelo menos curtiu a historinha, para dizer que ninguém sabe de nada e outras merdas típicas de quem é exemplo do que prega, ou mesmo para dizer que está se sentindo muito nerd por ter rido dos parênteses coloridos: somir@desfavor.com

E AI BZZA?Em tempos de dengue, Desfavor quer mostrar que está na moda: Desfavor Explica: mosquitos.

“Mosquito” é um termo informal usado para classificas os insetos cientificamente conhecidos como Nematocera. Esta porra chata pra caralho existe há mais de 170 milhões de anos. Um mosquito mede no máximo 15mm e pesa aproximadamente 2 miligramas. Conseguem voar em média a 2km/h e existem cerca de 2700 espécies de mosquito no mundo atualmente.

Mosquitos podem migrar grandes distâncias, mais de 100km. Mosquitos vivem entre 15 e 65 dias se ninguém esmagá-los primeiro. Inicialmente ele é um ovinho, quando sai do ovo vira uma larva que vive exclusivamente na água, depois cresce mais um pouquinho e vira uma pupa e depois entra em um casulo. Fica no casulo até completar sua nova estrutura corporal, com asas. Quando está pronto, o mosquito adulto rompe o casulo, rasteja até uma área protegida e fica em repouso até seu esqueleto se solidificar (tipo esmalte de unha, tem que esperar secar para endurecer). Pronto, o fdp tá preparado para nos paunocuzar.

Um mosquito pode detectar sua vítima mesmo quando ela se encontra a 30m de distância. São uma máquina bem equipada para nos encontrar. Ele tem três recursos para localizar sua vítima: sensores químicos + sensores visuais + sensores de calor.

Os sensores químicos permitem que os mosquitos nos localizem “farejando” algumas substâncias que expelimos quando respiramos, como por exemplo o dióxido de carbono e o ácido lático. Mosquitos podem detectar estas substâncias a uma distância de mais de 30 metros. Aliás, é justamente por este sensor que os fdp ficam zumbindo nos nossos ouvidos! Graças a essa atração por substâncias que expelimos ao respirar, emitido pelo nariz e boca, eles se aproximam da área do rosto lateralmente (se forem direto no nariz ou boca tomam um jato de ar e vão parar longe) e acabam zumbindo perto das nossas orelhas. O zumbido em si é o resultado do batimento das asas do mosquito, que pode chegar a mil movimentos por segundo. O repelente nada mais é do que uma substância que confunde os sensores químicos do mosquito.

Os sensores visuais e os sensores de calor dos mosquitos permitem que eles nos localizem no escuro através da radiação infra-vermelha que nossos corpos emitem. Eles também percebem a movimentação e até mesmo cor de roupa contrastante com o ambiente. Não tem como evitar: podemos até parar de mexer, mas não podemos parar de respirar nem de emanar calor.

A gente cresce aprendendo na prática que mosquitos sugam nosso sangue. Porém nunca paramos para pensar que insetos não costumam se alimentar de sangue e que tem alguma coisa errada aí. Pois é, o mosquito não se alimenta de sangue. A maior parte se alimenta de néctar ou de seiva de plantas e frutas. O mosquito, ou melhor, a mosquita, só recorre ao sangue humano quando está “grávida”. Depois de copular com o macho (a cópula dura poucos segundos, que coisa triste), ela carrega na sua pancinha ovinhos fertilizados que só irão vingar se receberem uma quantidade considerável de proteína. Pois é, esta piranha usa o sangue humano para obter a proteína necessária para viabilizar seus ovinhos, fodendo com a nossa noite de sono. É uma mãe hematófaga lutando pela sobrevivência da sua cria.

Depois de sugar nosso sangue a mosquita procura um cantinho sossegado com água e põe seus ovos. Cada postura de ovos exige um novo suprimento de sangue. E a desgraçada põe ovos uma porrada de vezes. O mosquito macho é meio que descartável, morre poucos dias depois de acasalar, mas a fêmea não, elas vivem por semanas mesmo depois de colocar ovos.

A mosquita é uma maquina muito bem equipada não apenas na hora de localizar sua presa como também na hora de picar. Ao picar ela injeta saliva em sua vítima, que além de ter efeito anestésico para que a pessoa não sinta a picada, ainda tem substâncias anticoagulantes que lhe permitem ficar ali bebendo quanto sangue quiser. Tá, ela não bebe muito, cerca de 5 microlitros por refeição. Tirando o inconveniente de te paunocuzar a noite toda (porque geralmente uma picada não enche o tanque) e provocar coceiras e eventualmente doenças, a picada da mosquita não é significativa no quesito perda de sangue. Estima-se que seria necessário picada de 200.000 mosquitos para drenar todo o sangue do corpo humano.

Porque a picada de mosquito causa alergia? Como eu disse, antes de sugar seu sangue, o fdp do mosquito injeta saliva em você, com anestésico e anticoagulante. Esta saliva do mosquito permanece na “ferida” aberta depois da picada e pode causar reações alérgicas (resposta imunológica), razão pela qual alguns médicos recomendam que se você acabou de ser mordido, esprema o local da picada na tentativa de amenizar a alergia. Comigo não funciona. Normalmente não causa maiores problemas, nada além de coceira e vermelhidão, mas em alguns casos pode ser preciso procurar ajuda médica. Se você sentir tontura, náuseas ou sinais de forte reação alérgica corra para o médico.

Porque o mosquito existe faz tanto tempo? Porque seu sistema reprodutivo é muito eficiente. Não tem muita qualidade, mas compensa na quantidade. Uma fêmea pode chegar a colocar 300 ovos de uma única vez, podendo chegar a colocar cerca de 3.000 ovos durante toda a sua vida.

Ovo de mosquito é uma praga. Pode permanecer inerte por longos períodos (até um ano!) enquanto o ambiente estiver inóspito e chocar assim que as condições melhoram, por exemplo, assim que entram em contato com a água. Por isso estas campanhas massivas pedindo para que as pessoas não deixem água parada. O que ninguém pensa é que, em determinadas situações não tem como não deixar água parada! Vai fazer o que? Ficar esvaziando todos os buracos da rua? Desfavor te dá uma dica: jogue azeite. O azeite obstrui um pequeno tubo que a larva do mosquito usa para respirar e ela acaba morrendo.

Sabe qual é o animal que mais mata seres humanos? Tubarão branco? Cobra venenosa? Não, é a porra do mosquito. Tão pequenininho e tão filho da puta. A Organização Mundial da Saúde estima que anualmente mosquitos matem cerca de 2 milhões de pessoas em todo o mundo.

Já repararam que mosquitos não são democráticos? Mosquitos não atacam a todos por igual. Cientistas acreditam que eles tem predileção por crianças, mulheres, pessoas de cabelos claros. Concluiram também que pessoas que estejam usando roupas escuras estão mais propensas a picadas de mosquitos do que as que usam roupas claras. Também se acredita que o suor acaba atraindo mosquitos.

Não sei vocês, mas eu odeio usar repelente e me sentir toda melada (efeito Filtro Solar). Prefiro usar roupas que cubram meu corpo todo. Mas, se for um dia muito quente isto pode não ser viável. Então, caso você seja obrigado a usar um repelente, fica o conselho do Biólogo que me orientou para escrever este texto: use um repelente que contenha N,N-dietil-meta-toluamida (DEET), na concentração de 7,5% a 100%. No caso de crianças, a recomendação é de 15%. Caso queira aplicar repelente em tecidos, como cortinas ou roupas, por exemplo, o recomendado é o Permetrin. Mas cuidado: não deve entrar em contato com a pele pois é uma neurotoxina.

E se você pensa que repelente pode te salvar, pense duas vezes. De tanto usar, os mosquitos estão ficando resistentes. Já existem mais de cinqüenta espécies resistentes a inseticida e repelente. O que usar então? Bem, a internet está cheia de sugestões: borra de café espalhada nos locais com água parada contra mosquito da dengue, cravos da índia espetados em um limão ao lado da cama para espantar mosquitos em geral, citronela, própolis e mais uma infinidade de sugestões. Perguntei a um biólogo se existe algum fundamento nestas lendas e ele me respondeu que não existe qualquer embasamento, apenas no caso da Citronela, mas que a concentração que deveria ser usada para que seja eficiente inviabiliza sua utilização. E não adianta colocar animais de estimação para dentro do quarto na esperança de dar uma isca para o mosquito, mosquitos que picam seres humanos não picam cães e gatos.

Um repelente que eu testei e posso afirmar que funciona é parar de comer açúcar. Está no livro “Sugar Blues” e dá certo. Quando você não come açúcar se torna menos atraente do que pessoas que comem açúcar e elas viram o alvo principal. Mas, caso você queira repelir mosquitos sem perder a alegria de viver, a indicação do biólogo foi o repelente eletrônico (não confundir com o elétrico, aquele que dá choquinho). Normalmente estes repelentes eletrônicos causam apenas irritação nos animais que se propõe a espantar, mas no caso do mosquito, é um pouco melhor. O repelente eletrônico reproduz o som do macho do mosquito em busca de acasalamento. Lembra que eu comentei que só as fêmeas fecundadas picam? Pois é, fêmeas fecundadas fogem de machos que querem acasalar. Trollando mosquitos! Ah sim, o barulho não é audível para seres humanos. Lembre-se, uma casa sem mosquitos é uma casa sem lagartixas.

Mas, minha opinião vocês já conhecem: besteira gastar tempo e dinheiro com qualquer repelente, a melhor opção é colocar TELAS em todos os buracos da casa e pronto. Entra vento e não entra mosquito (nem lagartixa). E custa mais barato do que comprar um monte de latas de inseticida. Basta chamar um profissional para medir suas portas e janelas e instalar as telas com um suporte removível. Exagero? Não. Mosquitos podem transmitir uma infinidade de doenças que você nem imagina. Segundo a Organização Mundial da Saúde uma das doenças que mais causa problemas econômicos e sociais no mundo é a malária, transmitida por um mosquito.

E falando em doença, muita gente se pergunta porque o mosquito não transmite HIV, já que suga o sangue de uma pessoa e depois vai com a boquinha (ok, eu prometi que não ia escrever “boquinha”, o termo certo é probóscide) suja sugar o sangue de outra. Segundo o Biólogo que me ajudou a escrever esta budega, a explicação é simples: o canal pelo qual o mosquito suga nosso sangue é diferente do canal pelo qual injeta saliva. Logo, não existe a possibilidade do mosquito injetar sangue de terceiro misturado com sua saliva. E se a saliva estiver contaminada? Isso não pode acontecer porque mosquitos são imunes a HIV (chamada imunidade inata). Para transmitir HIV através da saliva ele teria que ser infectado e o vírus teria que tomar suas glândulas salivares (é o que acontece com a malária), assim, quando ele fosse picar alguém, contaminaria a pessoa injetando sua saliva. Como o mosquito não é contaminado pelo HIV, suas vítimas também não são.

Daí eu como sou babaca, perguntei o que aconteceria se uma pessoa soropositiva estivesse dormindo na mesma cama de outra pessoa, lado a lado, e o mosquito a picasse, ficasse com um restinho de sangue na sua “boquinha” (probóscide) e depois picasse a pessoa ao lado. Ele revirou os olhos, falou um palavrão e, depois de deixar claro que não vai mais me ajudar com meus textos, explicou que, considerando a quantidade do vírus HIV no sangue e a quantidade de sangue que caberia na “boquinha” (probóscide) de um mosquito, não seria suficiente para infectar outra pessoa. Seriam necessários dez milhões de mosquitos picando uma pessoa com HIV e logo depois picando você para promover o contágio. A menos que você more em Jacarepaguá, é pouco provável que isso aconteça.

Um recadinho para os cariocas: Acho bacana, ao menos do que diz respeito ao Rio de Janeiro, ver as campanhas imbecilóides pedindo para a população não deixar água parada quando quem mais deixa água parada é a Prefeitura, com milhões de buracos nas ruas que se enchem de água quando chove, com prédios públicos abandonados e caixas dágua abertas e outros tantos focos. Fica aqui a dica do Desfavor: Pega o cartaz de campanha contra a dengue, enrola bem enroladinho e enfia no cu do Eduardo Paes. O pior é que ele vai gostar.

Para dizer que agora vai ficar com pena de matar a mosquita e seus filhos, para fazer trocadilhos infantis com as palavras “picada” ou “picadura” ou ainda para perguntar se peidar atrai ou repele mosquitos: sally@desfavor.com