Estálta!O STF finalmente reconheceu no mundo jurídico o que de fato existe no mundo real desde que o mundo é mundo: a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Infelizmente, como direito não é ensinado nas escolas do Brasil (e deveria ser), muitas pessoas não tem a menor idéia do que isto signifique e ficam dizendo asneiras, “achando” coisas sem o menor fundamento. Isso me aborrece. Tenho certeza que vou me aborrecer nos comentários, mas como pediram, vou falar sobre o tema.

Gostaria de não precisar escrever este parágrafo cada vez que trato de algum assunto jurídico, mas como sempre tem um espírito sem luz que vem reclamar da simplicidade do texto ou do vocabulário, lá vai: não é um artigo jurídico, não tenho a intenção de ser profunda e o texto não traduz todo o meu saber. Só quero bater um papo informal sobre o assunto e me fazer entender. Não estou agindo como profissional, a que escreve é a mesma que escreve sobre peido e holocausto. Vou escrever informa, vou escrever palavrões, se quiser ler algo sério procure outra fonte.

Para começo de conversa, é preciso esclarecer que não foi criada nenhuma “lei” reconhecendo nada. O STF faz parte do poder JUDICIÁRIO, a quem cumpre julgar e não ao poder LEGISLATIVO, a quem cabe fazer as leis. Nossas leis não são feitas pelo STF (sorriam, são feitas pelo Tiririca), o STF apenas julga o que ele considera e melhor forma de aplicá-las e interpretá-las. Então, não devemos falar em “nova lei” e quando alguém falar em “nova lei” devemos repreender a pessoa aos berros para constrangê-la de modo a que ela estude um pouco antes de falar sobre direito. Se não é lei o que é? Somos obrigados a acatar? É a forma como a lei que JÁ EXISTE deve ser interpretada por todos os tribunais do país, então, um juiz não deve decidir de forma contrária à recomendação do STF. Os juízes são “obrigados” a decidir assim, caso contrário haverá um recurso, a questão chegará no STF e o STF vai passar por cima.

E qual seria essa “lei” que existe regulamentando a união estável e recebeu nova interpretação? Bem, para simplificar muito a história, temos o art. 1.723 do Código Civil, que diz o seguinte:

“É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com objetivo de constituição de família”

Com esta decisão do STF, onde está escrito “entre o homem e a mulher” deve ser interpretado como “entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos opostos”. A decisão não criou uma lei nova, apenas deu à lei que já existia uma abrangência maior. “Mas Sally, isso é roubo!”. Sim, é basicamente isso que o STF faz, distorce as coisas para onde quer. No caso, foi para bem, mas vocês não imaginam quantas vezes eles o fazem para o mal, pegam o que não está escrito e “interpretam”, mudando completamente a intenção do legislador. A lei diz uma coisa clara e o STF “interpreta” quase que o oposto. Lembrando sempre que o STF se compõe por INDICADOS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, ou seja, existe toda uma tendência a decidir de forma favorável a quem te colocou lá.

Bom, para existir união estável não basta que se prove que “tá rolando um sentimento” faz tempo. Independente de homem com mulher, homem com homem, mulher com mulher ou qualquer combinação que se queira fazer, é preciso que se atendam a alguns requisitos para que se possa chamar de união estável. Além dos requisitos citados no artigo que devem estar presentes (convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com objetivo de constituição de família) também existem os requisitos que NÃO PODEM estar presentes.

O parágrafo primeiro do art. 1.723 diz que a união estável não se constituirá se estiverem presentes os impedimentos do art. 1.521, que seriam aquelas causas que impedem o casamento. Ou seja, quem não poderia casar com seu parceiro em função de um destes impedimentos, também não pode ter união estável. Estas causas são basicamente parentescos, já ser casado e outras coisinhas que não vem ao caso. Logo, você, independente de sexo, que paga de amante de uma pessoa comprometida e fica berrando que tem união estável, saiba que NÃO TEM porra nenhuma. Se um homem é casado com uma mulher mas vive em com outro homem há 88 anos, não será caso de união estável.

O fato do STF admitir ser POSSÍVEL o reconhecimento da união estável, não quer dizer que esta união seja dada de forma automática e certa para todo mundo que está junto em um relacionamento. É preciso fazer prova, para evitar uma série de fraudes. As formas mais comuns de provar são correspondências para os parceiros endereçadas ao mesmo domicílio, (preferencialmente contas de luz, água, telefone etc), um contrato de locação de um imóvel em nome de ambos, seguro de vida sendo um dos parceiros o beneficiário do outro, plano de saúde onde um seja dependente do outro, conta bancária conjunta e coisas mais informais como fotos, testemunhas, vídeos, cartas, e-mails e coisas do tipo. Para facilitar a vida, é possível que o casal façam uma escritura declarando a união estável, que será assinada por ambos e levada a cartório. Facilita porque nela pode ser estabelecido o regime de bens do casal, questões ligadas a pensão alimentícia e outras que futuramente poderiam gerar problemas em caso de término de relacionamento.

“Mas Sally, então agora casais homossexuais podem adotar crianças?”. Desde sempre. Não tem absolutamente nada a ver com adoção. A decisão do STF apenas reconhece o direito de que se estabeleça uma relação formal aos olhos do direito daquele casal. Não precisa ser casado para adotar criança. Não precisa nem ser casal. Um pessoa sozinha pode adotar uma criança, um casal de pessoas do mesmo sexo pode adotar uma criança. E não é de hoje.

“Ah tá, entendi, então quer dizer que agora uma pessoa do mesmo sexo pode deixar herança para seu companheiro!”. Não, também não. Podia antes desta decisão, através de testamento. O companheiro não herdava de forma automática, era preciso fazer um testamento, a quantidade dos bens era limitada, mas era possível. Mesmo com o reconhecimento da união estável pode haver briga pelos bens do falecido se os herdeiros vivos discordarem e mesmo com o reconhecimento da união estável pode acontecer de não ser possível deixar todos os bens para o parceiro.

“Mas Sally, então me explica quais foram os direitos que essa decisão deu aos casais de homossexuais!”. Bom, deu alguns direitos previdenciárias como o direito a inscrever parceiros como dependentes da previdência, receber abono-família, receber auxílio-funeral, incluir parceiros como dependentes no plano de saúde, ter licença-maternidade para nascimento de filho da parceira, ter licença-luto, para faltar ao trabalho na morte do parceiro, participar de programas do Estado vinculados à família, inscrever parceiro como dependente de servidor público e outros, sendo que alguns destes já eram reconhecidos mesmo antes da decisão.

Também acabou gerando outros efeitos não necessariamente patrimoniais como o reconhecimento em si da união estável, o direito de usar o sobrenome do parceiro, o direito de acompanhar o parceiro servidor público transferido, a garantia de pensão alimentícia em caso de separação, o direito de assumir a guarda do filho do cônjuge, o direito de adotar o filho do parceiro, o poder ser inventariante do parceiro falecido, o direito a visita íntima na prisão, o direito de alegar dano moral (pedir indenização) se o parceiro for vítima de um crime, o direito de proibir a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem do companheiro falecido ou ausente, o direito de requerer segredo justiça nos processos que se referirem a qualquer coisa que esteja discutindo a união ou separação, o direito de autorizar cirurgia e risco e direito à herança. Mas, novamente, vários destes direitos já existiam. Lembram com quem ficou o filho da Cássia Eller quando ela morreu? A vida é assim. Quando o direito ignora a realidade, a realidade se vinga e ignora o direito. A maior parte dos direitos já existia e era aplicada, só não era reconhecida formalmente.

No que diz respeito à questão financeira, após a decisão do STF reconheceu-se formalmente o direito ao casal somar renda para aprovar financiamentos, somar renda para alugar imóvel, o direito à impenhorabilidade do imóvel em que o casal reside, fazer declaração conjunta do Imposto de Renda, reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro companheiro ao amante,
solicitar o seqüestro (uma espécie de indisponibilidade) dos bens do casal, caso o companheiro os estiver dilapidando e estiverem dissolvendo a união.

Na verdade o que a decisão do STF fez foi dizer “Ok, eu admito, VOCÊS EXISTEM COMO CASAL”, e por existirem como casal, ganham os direitos que todos os casais tem desde sempre de forma oficial. Já era hora, né? Não foi dado nenhum favor, nenhuma medida protetiva, nenhuma benesse. Foi dado o que qualquer casal tem direito. E a maior parte destes direitos já era dado mesmo antes da decisão, a diferença é que agora é OBRIGATÓRIO que sejam dados estes direitos. Para alguns isso significou muito, para mim, significou pouco. Mereciam mais, muito mais. Porque outros grupos historicamente discriminados e execrados ganham cotas, ganham porcentagens em cargos e outros incentivos, enquanto que os gays ganham aquilo que lhes era de direito e isto lhes é dado como um grande presente? Eu hein…

“Sally, agora que o STF reconheceu união entre pessoas do mesmo sexo virou crime xingar homossexual?”. Sempre foi. Dependendo do que você diga, pode configurar crime de calúnia, injúria, difamação e outros. Eles querem uma lei específica para criminalizar homofobia porque historicamente foram um grupo muito massacrado, então, este povinho bunda brasileiro só entende quando se coloca por extenso que não pode esculhambar com gay. Em tese a proteção já existe, só é daquelas leis que “não pegou”. Adoro isso, lei que “não pega”. Uma vergonha mesmo.


“Sally, se só pode ter união estável quem não tem impedimento para casamento, então gays também podem casar?”. Pois é, vai ter que fazer essa pergunta ao STF. A tendência é abrir a porteira mesmo. A própria Constituição da República, em seu art. 226 parágrafo terceiro reconhece a união estável ENTRE O HOMEM E A MULHER e ainda assim o STF passou por cima e decidiu que pode ser entre pessoas do mesmo sexo, por isso, nada impede que o faça com casamento também. Ao menos nada de cunho legal, porque tem umas Igrejas aí que estão quicando no calcanhar. Casamento sim seria um marco significativo, simbólico, um direito concreto que garanta a inclusão. Espero viver para ver.

À comunidade gay, meus parabéns, mas acho que a luta continua. Bacana ser reconhecido como casal, mas tem que poder casar também. Tem que poder ter um beijo gay na TV sem que a produção do BBB se desdobre para tentar evitar. Tem que poder ter beijo gay em novela, porque afinal, tem coisa muito mais pesada em novela. Tem que poder sentar em um restaurante, cinema ou uma praça e tascar um beijo de língua no parceiro do mesmo sexo sem que isso cause qualquer estranhamento. Isto é tirar o direito do papel e fazê-lo valer na realidade. Um direito oculto à previdência social não basta. Quero reconhecimento legal em atos públicos, como casamentos, cotas para homossexuais no exército, em empresas e em cargos públicos (aproveita e bota aí cotas para argentinos também que a gente é discriminado pra cacete). Eu não sou favorável a cotas para NINGUÉM, mas já que o Brasil vai adotar essa política, tem que incluir os gays.

Se você está lendo isto chocado, melhor repensar sua postura. Já sinto um princípio de preconceito contra heteros aqui no Rio de Janeiro. Pode chegar o tempo onde o discriminado seja você. E se vierem me dizer mais uma vez que os homossexuais vão quebrar a previdência, vai ouvir um palavrão. Um recado para quem julga as pessoas só porque elas fazem sexo anal: será que se todo mundo soubesse detalhes do que VOCÊ faz quando faz sexo, você também não seria discriminado? Pense nisso.

Para me “acusar” pela milésima vez de ser gay e ouvir pela milésima vez a mesma resposta, para pedir que eu explique um por um cada um dos direitos que os gays adquiriram em um texto com 873 páginas ou ainda para ficar pedindo Siago Tomir incessantemente: sally@desfavor.com

Such is the life...O acidente nuclear da usina de Chernobyl fez aniversário, como vocês já devem ter percebido pela atenção que a mídia está dispensando ao assunto. Sim, eu sei, é um assunto nerd, mas está na moda. Todo mundo fala das vítimas, do sofrimento e da dor mas ninguém explica que porra que aconteceu dentro daquela usina. E é para isso que existe o Desfavor Explica: mastigar a informação para nossos leitores. Desfavor explica de hoje fala sobre o acidente nuclear na usina de Chernobyl.

Desde já me desculpo com aqueles que trabalham na área, porque eu sou uma leiga curiosa que escreve como uma leiga curiosa e por mais de uma vez vou me valer de simplificações toscas. E desde já mando a merda quem vier reclamar que o texto está informal, cheio de palavrões e tratando do assunto de forma leviana. Os desafio a explicar radioatividade e o funcionamento de uma usina nuclear de maneira informal e simples.

O acidente aconteceu em 26 de abril de 1986. Mas para começar a tentar entender o que aconteceu, vamos voltar um pouco mais no tempo. Quando a usina foi construída, a União Soviética estava em guerra fria com os EUA, competindo para ver quem tinha a tecnologia mais fuderosa e ameaçadora. Graças a essa picuinha, neguinho fazia tudo nas coxas com pressa para poder dizer que foi o primeiro a fazer. Assim foi construída a usina: pulando uma série de estudos, testes e precauções em nome do status de poder bater no peito e dizer que tinha uma usina nuclear.

Um desses testes que deveria ter sido feito antes da inauguração e não o foi acabou desencadeando, junto com outros fatores, o grande acidente nuclear. É como se você comprasse um carro e na pressa para desfilar com ele na porta da casa do seu vizinho e fazer inveja, saísse da concessionária sem testar o freio do veículo. Deu no que deu, porraram o carro e deram perda total. Se o teste tivesse sido realizado antes do funcionamento da usina o desastre não teria ocorrido.

Para explicar o tamanho da cagada que fizeram, vamos entender como funcionava a usina: um compartimento com material nuclear promovia fissão nuclear, que libera energia deste compartimento para outro ao lado. Esta energia aquece água líquida que se encontrava no compartimento ao lado. Aquecida, a água líquida se transforma em vapor. Este vapor sobe e gira uma turbina que tem capacidade de gerar eletricidade. Sabe o vento que empurra aquele catavento que gera energia? Pois é, só que o vento era fabricado através de fissão nuclear.

A fissão nuclear que dá início ao processo de aquecimento da água surge a partir da pancadaria entre átomos. Neguinho pega átomos cheios de partículas coladas e promove sua “dispersão”, gerando energia. Pense em um baile funk. Pense em 500 funkeiros pulando e dançando colados, abraçados em harmonia todos juntinhos. Se ninguém mexer eles continuarão ali, pulando no meio da pista. Agora pense no BOPE chegando e dando tiros. Vai ser um tal de funkeiros dispersando e correndo cada um para um lado… Isso é fissão nuclear. Isso libera energia e energia gera calor que aquece a água, que evapora e roda a turbina.

Se você quiser estudar a sério o assunto, procure pelo nome técnico: Força de Repulsão de Coulomb, que eu não sou o Somir para ficar aprofundando esses assuntos nerd.

O chato da fissão é que uma vez que você assusta os funkeiros dando tiros eles não param mais de correr e com a correria, surgem outros funkeiros das redondezas que estavam calmos e começam a correr também. Se não controlar, você acaba tendo uma multidão correndo sem parar, o que seria bastante catastrófico e destrutivo (conhecido como “bomba nuclear”, que nada mais é do que a fissão sem controle). Então, nas usinas, é preciso controlar o corre-corre das partículas. Isso é feito instalando as chamadas “barras de controle” no local onde fica o material radioativo. Lembram dos funkeiros que corriam sem parar? As barras de controle são um cercadinho que limitam o espaço por onde estes funkeiros podem correr. Eles só correrão até onde o cercadinho permitir. Elas ficam entre o material radioativo controlando a fissão, para mais ou para menos, conforme o comando que se dê. Se você coloca muitas barras, a fissão diminuí (e consequentemente a geração de energia também), mas se você retira algumas barras ela aumenta. Parece simples. Mas o ser humano sempre dá um jeito de fazer merda.

Estas barras de controle ficam junto do material radioativo e costumam ser feitas de substâncias como boro ou cádmio, elementos que não favorecem a fissão. Imagine que você tem uma panela com água fervendo debaixo de uma chama do fogão. Você não quer que a água ferva, apenas que ela se mantenha aquecida. Mas se deixar ela ali, debaixo do fogo, ela vai ferver. Então, de tempos em tempos você mergulha pedrinhas de gelo nela para estabilizar a temperatura. É mais ou menos isso.

Pois bem, lembram que eu disse que deveriam ter sido realizados testes antes do funcionamento da usina? Pois é. O teste era para ver como os reatores se comportavam em caso de perda de suprimento de energia, situação onde precisariam utilizar os geradores de emergência. Se não houvesse energia, a água que estava no interior do reator não seria suficiente para dar conta do calor gerado e poderia ocorrer um acidente. Era preciso verificar se os geradores de emergência davam conta do recado e também era preciso testar se as turbinas da própria usina poderiam produzir energia suficiente para manter as bombas do líquido de refrigeração funcionando, no caso de uma perda de potência, até que o gerador de emergência fosse acionado e funcionasse.

Porque decidiram fazer o tal teste de forma repentina? Porque temiam um ataque iminente dos EUA e queriam saber como a usina reagiria às possíveis avarias desse ataque. Aproveitaram que um dos reatores teria que ser desligado para uma manutenção de rotina e decidiram verificar se as turbinas da usina e o gerador dava conta e em quanto tempo. Daí para frente foi uma sequência de erros.

Para começo de conversa, a potência na qual o reator estava trabalhando deveria ser gradualmente reduzida, mas como demoraram muito a começar o teste, decidiram reduzi-la de forma mais drástica, para acelerar o processo. Por causa dessa barbeiragem a potência do reator foi reduzida praticamente a zero, cagando toda a experiência.

Daí neguinho ficou impaciente e decidiu religar o reator e colocá-lo para funcionar “mais rápido” retirando algumas das BARRAS DE CONTROLE (lembra das grades que controlavam os funkeiros?) para ver se retomava funcionamento em menos tempo. O famoso “Que se foda, liga logo essa porra que eu quero ir para casa”. Deram tiros e retiraram algumas das cercas para ver se os funkeiros corriam mais. Ligaram o fogo máximo do fogão e pararam de jogar pedras de gelo na panela. O problema é que retiraram cercas demais e os funkeiros fugiram e saíram do controle.

Neste processo não respeitaram muitas normas de segurança. Por exemplo, o “manual de instruções” pregava que o reator jamais poderia funcionar sem pelo menos 15 barras de controle e eles o fizeram funcionar com cinco ou seis. Também não reportaram as merdas que estavam fazendo ao escritório de segurança, como deveria ter sido feito, pois teriam sido alertados da merda que daria ao recolocar as 204 barras de controle de volta no reator de uma vez só. Mas não importa, o ser humano erra o tempo todo. É por isso que estas máquinas tem que ser a prova de erro humano e esta usina não era. Quando alguém caga no pau a máquina tem que ser inteligente o suficiente para se desligar sozinha ou para não se religar.

O pior é que os próprios seres humanos perceberam o erro humano. Funcionários alertaram que essa retirada dessa quantidade de barras de controle poderia ser meio que perigoso pra caralho, mas neguinho não ouviu. Disseram que qualquer coisa era só colocar as barras de volta que elas imediatamente controlariam a fissão. Esqueceram de calcular que para que as barras entrem por completo são necessário pelo menos 20 segundos. Mandaram ver sem as barras de controle. Como é de se imaginar, sem as barras de controle a potência aumentou muito rápido, muito mais rápido do que era previsto. Sabe aquelas pessoas que em vez de tomar um comprimido de remédio tomam logo cinco achando que assim vai ter efeito mais rápido e acabam se envenenando? Pois é. E como se esta cagada humana não tivesse sido bastante grave, ainda aconteceu uma cagada estrutural.

O reator de Chernobyl era de um tipo chamado RBMK (que significa “Reator de Alta Potência do Canal” em russo, mas não parece nome de Boy´s Band?). Neste modelo a água usada para resfriar o reator é a mesma água usada para formar o vapor que movimenta as turbinas, ou seja, se der pau em um setor, o outro também se fode por reação em cadeia. Quanto menos água entrava e quanto mais rápido a água evaporava, menos a usina era resfriada. O ideal é que o sistema de resfriamento seja independente. A União Soviética adotou este modelo porque era mais barato, mais rápido de construir e o funcionamento do reator gerava grande quantidade de Plutônio, que se pretendia usar na fabricação de armas nucleares. O fato é que com a queda drástica de entrada de água, o resfriamento diminuiu e os geradores demoraram mais do que o esperado para normalizar a situação. Considerando que o reator estava com a potência aumentada porque tinham removido as barras de controle, a coisa começou a ficar esquisita.

Recapitulando: ao desligar as turbinas, menos água entrava no reator. Quanto menos água havia, mais rápido a água que estava lá evaporava. Quanto mais vapor, mais pressão. Tudo potencializado pelo reator bombando sem as barras de controle. Com este aumento de vapor, também houve o aumento cavalar da potência do reator. Lembra que neguinho fez o teste sem as barras de controle (cerca dos funkeiros)? Pois é, ao ver a potência aumentando de forma absurda, decidiram colocar novamente a cerca para conter os funkeiros. Um fato inesperado surgiu. Aquelas barras de controle eram feitas de boro mas possuíam uma camadinha de grafite em suas pontas. No instante em que entraram no reator, essa pontinha de grafite causou um aumento ainda maior na potência devido a uma reação química, que em condições normais seria desprezível, mas em condições limítrofes como aquela fizeram toda a diferença. As barras não deveriam ter sido retiradas, ninguém pensou nos efeitos do grafite quando elas fossem colocadas de volta. Na verdade, acredita-se que nem sequer soubessem dos efeitos do grafite. Sem contar que elas demoram cerca de vinte segundos para entrar por completo no reator e já não havia mais tanto tempo disponível.

A água aquecida a temperaturas altas (estava em torno de mil graus) em contato com o grafite forma uma mistura explosiva chamada “gás d´água”. A situação atípica da recolocação das barras de controle provocou um aumento da velocidade de reação graças a essa reação do grafite com a água e gerou um calor tão intenso que acabou entortando estas barras e elas travaram logo na entrada, quando haviam penetrado cerca de um terço do reator. Com isso a fissão ficou descontrolada. Com a fissão comendo solta, a potência do reator aumentou absurdamente, cerca de dez vezes da potência normal (quanto mais fissão, mais energia, quanto mais energia, mais calor, quanto mais calor, mais água evaporando, quando mais água evaporando mais turbina girando e quanto mais turbina girando mais energia). O calor bombou a tal ponto que o próprio material nuclear começou a derreter, aumentando ainda mais a pressão.

Esta mistura somada à pressão que já existia foi responsável pela explosão que destruiu a tampa do reator (um brinquedinho que pesava 1.200 toneladas). Por causa da pressa na inauguração e para contenção de custos, a usina possuía apenas uma contenção parcial. Se tivesse uma contenção melhor, a contenção recomendada talvez o acidente não fosse tão grave.

Como desgraça pouca é bobagem, o grafite do reator quando aquecido e em contado com o oxigênio graças à explosão que destruiu a tampa do reator (seu teto), pegou fogo gerando um grande incêndio. O incêndio foi um enorme desfavor pois contribuiu ainda mais para espalhar a radiação. Como se já não bastassem as 50 toneladas de material radioativo derretido que foram jogadas na superfície, as cinzas e fumaça do incêndio se encarregavam de levar a contaminação ainda mais longe. Não foi uma explosão nuclear, foi uma explosão de vapor que fez com que material nuclear seja exposto.

Existem muitas informações conflitantes sobre o acidente. O que se sabe com certeza é que o botão que ordenava a parada total de funcionamento da usina foi apertado por um ser humano várias vezes. Sabe aquela pessoa desesperada que aperta botão do elevador várias vezes como se com isso ele chegasse mais rápido? Este botão recolocaria as barras de controle de volta e o que seria a solução do problema acabou sendo o estopim para a explosão graças ao grafite.

O resto vocês já sabem. O dia seguinte é sempre mais dramático e é nele que a imprensa foca. Os moradores só começaram a ser removidos 36 horas após o acidente e se demorou cerca de uma semana para remover todo mundo. O governo não foi muito bacana com a população. Também foi incorreto os trabalhadores da usina. Inicialmente tentou limpar o teto do reator com bio-robôs chamados “Liquidatários”, mas os bichinhos deram pau por causa da radiação. Então eles decidiram que seres humanos teriam que limpar aquela bagunça. Cada trabalhador não poderia ficar mais do que 40 segundos no teto, tamanha a radiação. Muitos morreram. As fotos são impressionantes, é possível ver a nuvem de radiação. A curiosidade mórbida inerente ao ser humano é tamanha que hoje Chernobyl virou um ponto turístico. Pessoas visitam a área e tiram fotos da usina, mesmo cientes que a área ainda está contaminada. E ainda existem pessoas que se recusaram a abandonar a área e vivem no meio da radiação.

Hoje a imprensa explora muito “as crianças de Chernobyl”, ou seja, as deformidades geradas pela radiação. Coloca a situação como uma fatalidade inevitável ou uma crueldade do governo. Só uma perguntinha. As pessoas contaminadas SABIAM os efeitos da radioatividade e SABIAM o que isso faria com seus descendentes. Porque, ainda assim, optaram por ter filhos? O egoísmo humano não tem limite não? É comum ver entidades ecológicas postando fotos de crianças com dez olhos e sete pernas dizendo coisas como “O que Chernobyl fez com os inocentes”. Vai desculpar, mas isso foram OS PAIS que fizeram com os filhos. NÃO ERA PARA TER FILHOS, PORRA! EGOÍSTAS DO CARALHO! Vou além: acho que as pessoas expostas a altos índices de radiação deveriam ligar ser esterilizadas ainda que contra sua vontade. Ninguém tem o direito de colocar uma criança no mundo para sofrer.

O governo soviético se portou de forma muito incorreta com seu povo e com o mundo. Tentou esconder a catástrofe e minimizar seus efeitos o quanto pode. Só distribuiu iodo à população em 23 de maio e só concluiu a vedação à usina em novembro de 1986. Acreditem, a usina só foi completamente desativada em 12 de dezembro de 2000. Sem contar que essa vedação que construíram é uma vedação provisória. Apelidada de “O Sarcófago”, foi uma medida provisória programada para durar entre 20 e 30 anos enquanto se pensava em uma solução para esta lambança. Façam as contas. O prazo de validade do Sarcófago está vencendo. Consta que já entra água da chuva no reator, tamanha a deterioração do Sarcófago. A pior notícia? Parece que a construção da nova contenção vai ser feita por uma empresa portuguesa. Oremos.

Para me avisar que eu esqueci de escrever o texto de assinatura: sally@desfavor.com

Merrmina!Antes que comece a aporrinhação: não estou avalizando a utilização de anabolizantes, eles podem ser perigosos. Não conheço o assunto a fundo, independente do que se decida, um médico sempre deve ser consultado e quando a opinião dele conflitar com a minha, a dele deve prevalecer, e, para terminar, não pretendo exaurir o assunto nem explicar cada uma das bombas, é apenas uma pincelada sobre os falsos mitos que espalham por aí.

Os anabolizantes, apelidados carinhosamente de “bomba”, são hormônios (naturais ou sintéticos) que promovem um aumento do crescimento e divisão celular, tendo como uma das conseqüências o aumento de massa muscular. Costumam ter como base o hormônio masculino testosterona. Atualmente vem sendo muito utilizados com fins estéticos e muita besteira vem sendo dita a seu respeito, tanto contra como a favor. Dava pra fazer uma semana inteira postando só sobre isso, mas o Somir não quis fazer a Semana Maromba, portanto vou falar dos principais em uma única coluna mesmo.

Duvide de extremos. Quem te diz que bomba vai te matar, te deixar broxa e arruinar sua vida provavelmente está equivocado. Assim como quem te diz que seu corpo vai melhorar e você não vai pagar um preço por isso também está desinformado. Existem riscos. Sempre existirão riscos ao fazer uso de anabolizantes. A questão é: vale a pena PARA VOCÊ correr esses riscos? É uma decisão pessoal. Quais são esses riscos? Não são tão grandes como dizem desde que você faça tudo direitinho. Vejo muita gente pau no cu que faz coisas muito piores do que tomar bomba (como dirigir bêbado, fumar e etc) metendo o malho em quem toma bomba. Ora, ora… ao menos a bomba te dá ALGO de bom: um corpo sarado. O que o cigarro faz por você? Cada um se destrói como quer. Vamos respeitar. Eu respeito quem assume esse risco, de forma racional.

O que eu não respeito é quem decide fazer isso de forma irracional, autônoma, porque aí sim existe quase que 100% de chances de dar um problema grave, seja durante ou depois do ciclo (ciclo = período de tempo de utilização da bomba). É indispensável uma consulta prévia a um bom médico, a realização de diversos exames clínicos e laboratoriais para avaliar a possibilidade e o impacto da utilização de hormônios e o comprometimento do paciente em respeitar todas as limitações que isso irá acarretar. Porque sim, tem limitações – e muitas. Se você pensa que é só sair tomando bomba e viver sua vida como sempre viveu, você está enganado. Se fizer isso seu corpo vai ficar uma bela duma merda e sua saúde também. Bomba não é milagre, é atalho.

Não posso fazer vida normal? Não, não pode. Difícil citar em quatro páginas todas as contra-indicações e limitações. Isso você vai ter que discutir com seu médico. Querendo a indicação de um bom médico, experiente e responsável, é só falar comigo. Mas desde já se prepare para, no mínimo, parar de beber, porque o anabolizantes no geral vão exigir muito do seu fígado. Quando eu falo “parar de beber”, eu quero dizer PARAR DE BEBER e não beber menos. Parar de beber é não colocar uma gota de álcool na boca. Incrível a dificuldade que as pessoas tem com esse conceito! Também se prepare para ter uma alimentação regrada como você nunca teve: comer de três em três horas, contadinhas no relógio, cortar açúcar, gordura e outras coisas gostosas e etc. E sim, se prepare para malhar muito e sob supervisão constante, a menos que você entenda muito de musculação.

Bomba lesiona? Não. A “bomba” vai te dar uma força muscular descomunal. Seus músculos vão suportar pesos cinco vezes maiores do que antes. Músculo fica forte e cresce, mas tendão e articulação NÃO. Então, se o seu tendão foi pensado para um peso X e do dia para a noite você pega um peso 5X, você VAI SE LESIONAR, vai ter que ficar meses parado e pode se machucar de forma irreversível. Por isso, quem toma bomba tem que estar supervisionado por um profissional competente na hora de malhar, que esteja atento à movimentação correta, ao sobrepeso e às melhores formas de estimular um músculo super poderoso. Bomba não te lesiona, sua própria prepotência e inconseqüência te lesiona.

Vou ficar mega musculosa(o)? Não necessariamente. Ao contrário do que muita gente pensa, nem todas as “bombas” te deixam com aspecto do He-Man. Algumas são utilizadas para fazer com que a pessoa perca gordura, especialmente na região abdominal, que é a parte mais difícil, por exemplo. Os anabolizantes podem ser usados nas mais diversas dosagens, de forma conjunta ou separada, para os mais diversos objetivos estéticos. Muita atriz global sequinha e magrelinha tá cheia de bomba, não se enganem. Tem uns corpinhos fininhos, com barriga pranchadinha que são pura bomba. Além disso, quem malha sabe: se você achar que está com muito músculo, basta parar de malhar por duas semanas. Infelizmente a coisa mais fácil nessa vida é perder massa muscular.

Outro mito: mulheres que tomam bomba sofrem necessariamente efeitos de virilização. Não, não mesmo! Se tomada de forma responsável, com acompanhamento médico e na dose correta, não ocorrerão mudanças de voz, crescimento de pêlos nem aspecto masculinizado. Conheço pessoas que tomam bomba e que você não diz de forma alguma. Mas você só escapa dessa se estiver muito bem supervisionada, fazendo exames constantes, sendo acompanhada de perto e observando seu próprio corpo, para conseguir parar ao primeiro sinal de alerta, antes que a coisa fique grave e irreversível!

O grande problema é que 99% das pessoas que tomam bomba o fazem através de amigos ou professores de educação física que não entendem porra nenhuma e acabam errando ou no tempo de aplicação ou na dose. Uma vez que surgem os efeitos colaterais, dificilmente eles são revertidos. Nas mulheres, os principais efeitos colaterais do uso irresponsável são: acne, queda de cabelo, crescimento de pêlos pelo corpo, diminuição ou supressão do ciclo menstrual e alterações na voz. Atente para a voz dessas mulheres saradonas, estilo Viviane Araujo, Gracyanne Barbosa ou Maria do BBB. Essa voz de pato, meio rouca, meio desafinada é bomba mal tomada. E é pra sempre, pois é resultado do aumento de tamanho das cordas vocais. Poderia ter sido evitado se estas pessoas fossem mais responsáveis. Mas adoram fazer parecer que é conseqüência inevitável do uso de bomba! Pois bem, não é!

O pior que pode acontecer para a mulher é mudar a voz? Não. O pior efeito colateral de todos para as mulheres é uma coisa chamada “hipertrofia clitoriana”. Google it! É medonho, a mulher fica com um mini-pênis, chegando inclusive a ter ereção. Vale a pena mesmo se arriscar a isso e tomar bomba sem supervisão? Por mais gostosa que você seja, homem nenhum vai querer te comer se você tiver um mini-pênis que tem ereção, ok? Pense duas vezes.

Bomba não faz mal para homem? Mentira, pode fazer muito mal. Nos homens os efeitos colaterais são menos agressivos do ponto de vista estético, claro, desde que se tome de forma responsável e com acompanhamento médico. Isso porque eles tem uma dose de testosterona naturalmente maior do que a das mulheres no corpo, logo, o impacto não é tão grande. Talvez um pouco de queda de cabelo, aumento da oleosidade da pele, acne e uma baqueada de leve no fígado, plenamente reversível.

Porém, se tomado de forma irresponsável, pode causar tanto em homens quanto em mulheres danos ao coração, aumento no colesterol, aumento de pressão sanguinea, ginecomastia (crescimento de peitinho em homem), atrofia testicular, função sexual reduzida e até infertilidade. Sem contar que pode ser um baita estopim para causar um câncer (aumento no crescimento e na divisão celular, lembra?). Em casos extremos de mau uso, pode matar a pessoa já no primeiro ciclo.

Isso faz da bomba uma coisa extremamente perigosa? Não, meus caros. Toma uma overdose de qualquer remédio de forma incorreta, irresponsável, por um mês e me conta se não dá uma merda fudida. Bomba é REMÉDIO, todo remédio se usado de forma incorreta vai te foder em maior ou menor escala. Para que a bomba não te foda muito, você tem que encará-la com tal. Remédio. Remédio só se toma com recomendação do médico e respeitando a dose. Não acredita em mim? Pesquise. Não quer ler trabalhos científicos complexos em inglês? Vai na Wikipédia basicão mesmo: “verdade é que os esteróides anabólicos são usados amplamente na área médica sem nenhum sério risco para a saúde dos usuários, e nenhuma evidência científica mostrou problemas de saúde a longo prazo com o uso correto de esteróides anabolizantes”

Outro mito divulgado com o maior prazer por gordinhos e fracotes recalcados é o de que todo homem sarado é necessariamente broxa e que tomar anabolizantes te deixam broxa. Minha Amiga Leitora, se tem uma coisa que eu te asseguro é que homem que toma HORMÔNIO MASCULINO fica tudo, menos broxa. MUITO PELO CONTRÁRIO, minha gente. Muito pelo contrário MESMO! O que eventualmente pode acontecer se os ciclos não forem feitos com responsabilidade é uma queda temporária de rendimento, perfeitamente evitável e/ou reversível. E só para constar, é uma mentira deslavada dizer que bomba diminui o tamanho do pênis.

Pensa comigo: o corpo do homem produz uma certa quantidade de testosterona. Do nada, começa a entrar uma quantidade bem maior. O que o corpo pensa? “Bom, tá sobrando, então não preciso mais produzir”. Um belo dia a fonte externa acaba, daí a pessoa fica um curto período de tempo sem a fonte externa e sem produzir testosterona, até que o corpo percebe e pensa “Ih, não tá mais entrando, tenho que voltar a produzir”. Pessoas que tomam bomba de forma responsável sabem que quando param de tomar devem fazê-lo, eventualmente, com suporte de outros medicamentos que estimulem a produção de testosterona ou fazer uma supressão gradual. Mas mesmo que não o façam, vai cair a ficha no seu organismo e ele volta a produzir testosterona. Tomar bomba não implica em ficar broxa, MUITO PELO CONTRÁRIO. Garanto que um marombeiro bombado dá muito mais no couro do que o seu namorado magrelo que fala estas bostas por despeito.

Outro mito que pode fazer com que você passe uma vergonha monstruosa: dizer que está tomando anabolizante ANAVAR. Tem gente que estufa o peito e diz que toma ANAVAR. Bem, se toma, está jogando dinheiro fora. Este remédio (Anavar ou Lipidex) continha um anabolizante chamado Oxandrolona, muito popular entre as mulheres pois deixa o corpo lindo e quase não tem efeito colateral quando bem administrado. Continha, do verbo não contem mais. Há anos que o Anavar NÃO CONTEM MAIS OXANDROLONA. Porém, criou-se o mito e muito babaca gasta rios de dinheiro comprando Anavar e achando que está suuuper se bombando. Não, otário. O laboratório não queria o remédio vinculado à bomba e tirou a substância. Se quiser tomar Ox (para os íntimos), tem que ser em farmácia da manipulação.

Um mito comum e extremamente estúpido e perigoso é achar que você, ser humano de aproximadamente 70kg, pode tomar produtos veterinários pensados para animais de 200kg e que mesmo reduzindo a dosagem, tudo vai ficar bem. Eu nem deveria precisar explicar mas vou falar: SERES HUMANOS NÃO DEVEM TOMAR PRODUTOS CONCEBIDOS PARA ANIMAIS. Ainda que não seja anabolizante. Por exemplo, já vi a creatina para cavalo matar um. A composição química era praticamente a mesma da creatina para humanos, mas, como o cavalo é maior do que a gente, o tamanho dos cristais eram maiores e fodeu com o rim humano. Vale o risco? Gente não deve tomar produtos para animais, preciso repetir? Quem te diz o contrário é um merda e você nunca mais deve dar ouvidos a essa pessoa.

Outro mito que me aborrece é pensarem que suplemento é bomba. Suplemento é um produto com valor nutricional (e não hormonal) que te auxilia no ganho de massa muscular. É uma “vitamina” para o músculo. Shakes de proteína, BCAA, Glutamina, Creatina e tantos outros NÃO SÃO BOMBA. Não tem efeito anabólico. Bomba se injeta, não se toma na forma de shake! (ok, também existem bombas em comprimidos)

Mais uma lenda: parei de tomar bomba, zerou tudo, vida normal, certo? ERRADO, a bomba fica por meses no seu organismo depois que você para de tomar, principalmente quando você toma uma dose alta ou por um período longo, o que faz com que você tenha que se lembrar de ter certos cuidados até mesmo depois de um ano da data em que terminou o ciclo. A menos, é claro, que você queira fazer como a Scheila Carvalo: tomar algo altamente teratogênico, não esperar o prazo de anos indicado para engravidar porque o relógio biológico tá batendo, e ter um filho como ela teve, com os intestinos do lado de fora do corpo. Boa sorte. Sim, tomar bomba exige cautela e planejamento, a bomba vai te paunocuzar por anos depois que você parar de tomar!

Se você toma bomba e para seu corpo fica uma merda? NÃO, MIL VEZES NÃO! Mas é como eu disse, tem que ter disciplina, você está se metendo em uma PRISÃO SEM GRADES. Duas coisas podem acontecer: você tomar bomba, isso servir como um gatilho para você conseguir um puta corpo, ganhar muita massa muscular e você parar mas manter a disciplina e manter razoavelmente o corpo que ganhou OU você ganhar um puta corpo, ser indisciplinado ao parar de tomar e tudo que ganhou virar uma grande massa de banha e você ganhar o apelido de Jabba, The Hut. A escolha é sua. Aliás, pessoas que tomam bomba de forma responsável e planejada SABEM mais ou menos o quanto vão perder de músculo quando pararem e ao final do ciclo dão um gás na malhação para ganhar um excedente, que será perdido e assim manter o mesmo corpo do tempo em que tomava bomba. Vai requerer esforço, mas você pode manter mais ou menos o mesmo corpo depois que parar.

O problema é que fica muito fácil e gostoso malhar com bomba. Quando você para é uma dificuldade do caralho manter o mesmo peso e o mesmo ritmo. Quando você malha e toma bomba seu músculo se recupera a uma velocidade Fator de Cura Mutante, no dia seguinte você tá novinho. Quando te tiram seu “espinafre”, fica difícil pra cacete malhar, no dia seguinte você tá todo quebrado e todo fudido, exausto, os pesos ficam dez vezes mais pesados e se você não for muito disciplinado, acaba que não malha como antes. É você quem decide o corpo que você vai ter quando parar de tomar bomba. Não vem com essa de jogar a culpa na bomba, que ela te embarangou. VOCÊ se embarangou quando fez uma escolha que não conseguiu sustentar.

Quinta página. Eu sei, eu sei. O tema é sobre os mitos envolvendo anabolizantes, mas eu sei que vocês querem uma listinha estilo Quem é Quem. Não ia fazer, porque acho isso um estímulo que leva a pessoa a tomar bomba sem procurar orientação adequada, mas, quer saber? Se você for idiota o bastante para fazer isso, que se foda, toma, morra, tenha câncer, tenha problemas cardíacos. Prêmio Darwin. Seleção natural. Vou falar rapidinho das dez mais:

Clembuterol: O forte nem é seu efeito anabólico e sim seu efeito termogênico, ou seja, te deixa ligadão, elétrico. É similar a uma descarga de adrenalina. Ótimo para perder peso, porque você corre mais que o Forrest Gump e não se cansa nunca. Tem que suplementar porque o desgaste físico vai ser intenso, pelo menos um potássio é bom botar pra dentro. Se você for sensível, pode passar noites em claro, porque um comprimido faz efeito por 48h. Fica no corpo cerca de um mês.

Deca-Durabolin (Nandrolona): É considerada uma das melhores quando se pensa na relação custo-benefício. Tem que tomar cuidado, porque o resultado é rápido, mas nem sempre a pessoa fica definida. Pode causar acúmulo de líquido, dando aquela impressão nefasta do “gordinho que se acha sarado”. Ou fecha a boca legal, ou conjuga com outra bomba que seque. Fica no corpo cerca de 18 meses

Deposteron (Cipionato de Testosterona): Tudo ou nada. É uma das que mais promove força e ganhos, mas também te tira tudo quando você para. Causa efeitos colaterais brabos com muita freqüência. É praticamente um ato de desespero. Só vale a pena para quem está com a saúde muito ok, tem todos os exames médicos favoráveis e precisa ficar sarado em poucos meses por um motivo muito relevante.

Durateston (Testosterona Cristalina): Tem uma ação mais rápida, quase que imediata, mas sua duração é por um período menor. O corpo também cria “menos tolerância” a ela (citos receptores, oi?). Mas eu não recomendaria para mulher. Aumenta a libido de uma forma assustadora. Se um homem te falar que está tomando Durateston, corra enquanto é tempo. Fica no corpo de 2 a 6 meses.

GH: Na minha opinião, é a que deixa o corpo mais bonito (sem contar que faz maravilhas pela pele, cabelo, etc e dá uma aparente rejuvenecida). Porém é a mais cara, pois para ser produzido se precisa de alta tecnologia é de difícil transporte e conservação (deve ficar em temperaturas muito baixas e tem poucos dias úteis de vida depois de adquirida). Quando você toma GH se sente vinte anos mais jovem. Ainda diminui a pressão arterial! Porém, utilizada em excesso pode ter conseqüências bizarras tipo deformidades em ossos e cartilagens, vide a cara do Stallone. Sabe aquelas mulheres saradonas mas com uma madíbula meio estranha? GH.

Hemogenin (Oximetolona): É a bomba oral mais poderosa que tem. Se você está tomando essa merda (duvido que um médico tenha prescrito isso para você), muito cuidado com seu fígado. Isso faz um mal… Os ciclos devem ser curtos, precedidos e acompanhados de medicamentos para proteger o fígado. Não recomendo para mulher. Não recomendo para seres vivos que queiram permanecer vivos por mais de seis semanas. Fica no corpo 2 meses.

Oxandrolona: É para menina. Quase não tem efeito virilizante. Tomada de forma correta cai um pouquinho de cabelo e a pele fica um pouquinho oleosa. Dá um aumento no rendimento de explosão, você ganha força para fazer aquela última repetição difícil pra caralho. Conselho: melhor a sublingual do que a oral, respeite seu fígado, a Ox passa duas vezes no fígado e é altamente tóxica, ok? (no Rio não fazem, só em São Paulo). E se você for homem, Ox é pouco, conjugue com outra da família da Parabolan ou Deca-Durabolin para ganhar músculo de verdade. Fica no corpo por 2 meses.

Parabolan: É a queridinha na fase pré-competição, porque promove um efeito cosmético muito bacana. Aumenta a massa muscular sem reter muito líquido, daí a pessoa fica sequinha, definidinha. Muito parecida com a próxima.

Primobolan (Meteolona): Com ela fica fácil perder gordura e líquido, por isso as mulheres adoram. Das “fortes”, costuma ser a “menos pior” para mulheres. Fica no corpo cerca de nove meses.

Winstrol (Stanozolol): Famosinha, porém nem sempre eficaz. Não são todas as pessoas que tem os receptores necessários para se beneficiar e sua versão oral pode ser muito ruim para o fígado. Quando dá certo, deixa um visual bonito, sequinho e definido. Fica no corpo entre 2 ou 3 meses.

Bomba não é esse risco todo. Esse risco todo é bomba sem a devida disciplina e supervisão.

Para dizer que eu faço apologia às drogas, para pedir que eu te indique uma bomba e contrariar tudo que eu disse no texto ou ainda para pedir o nome do laboratório que faz a Ox sublingual: sally@desfavor.com

Usei essa foto de novo! Estou morrendo de orgulho!Morte é o término da vida de um organismo. Porque temos que morrer? Acredita-se que quando a mãe natureza estipula prazo de validade para suas criaturas, o faz pensando na evolução, é a morte que nos permite evoluir. O ramo da ciência que estuda a morte se chama Tanatologia. Existe até um ramo da psicologia dedicado ao tema, a Psicologia da Morte (recomendo a leitura de Ernest Becker). Morte é que nem chifre: a gente sabe que uma hora ou outra vai acontecer com a gente mas prefere viver sem pensar no assunto se não a gente vai viver angustiado.

Quando exatamente se morre? Quando é que um ser humanos pode ser considerado como morto? Essa pergunta já teve diferentes respostas ao longo dos tempos. Por exemplo, já houve um tempo onde se considerava morta uma pessoa com parada cardíaca, pois se acreditava que no coração estava o centro de todas nossas emoções, tudo aquilo que nos tornava humanos. Coração parou de bater? A pessoa está morta! Mas, como a evolução da medicina e da ciência, percebeu-se que não era bem assim e os limites para a morte mudaram. Hoje é possível reanimar pessoas com parada cardíaca e respiratória. Hoje é possível que uma pessoa seja mantida viva SEM CORAÇÃO, ligada a máquinas que desempenham sua função enquanto aguarda um transplante. Um novo critério teve que ser adotado.

Menos mal, porque o critério anterior era tão falho que no século XIX existia, além dos hospitais para vivos, “hospitais para mortos”, onde os corpos eram deixados aguardando os primeiros sinais de putrefação para só depois se realizar o enterro. E pelo visto não adiantou, porque no começo do século XX chegou a ser desenvolvido um alarme para ser instalado dentro de caixões, para que o morto pudesse avisar que estava vivo, de tanto que isso acontecia. Uma porcentagem assustadora dos caixões abertos tinha arranhões e marcas que indicavam que o morto tinha “acordado” e tentado sair dali por dias. Graças a esse tipo de incidente desagradável, vem sendo criados, ao longo dos séculos, mecanismos para tentar impedir que enterremos pessoas vivas: prazos para realização de necrópsia, prazos para realização de sepultamentos e uma revisão nos critérios que determinam a morte de alguém. (cremação rules, menos se você tiver implantes de silicone, pois eles explodem violentamente se o corpo for cremado)

Hoje, a única função vital que ainda não pode ser substituída ou mantida por meios artificiais, sendo assim “irrecuperável”, é a atividade neurológica. Por isso, ela foi o critério adotado para classificar uma pessoa como oficialmente morta. Uma vez que cessa a atividade neurológica, não há mais esperanças. Mesmo chegando ao consenso de que o critério neurológico é o mais correto, ainda existem algumas controvérsias e falhas. Vez por outra um paciente declarado morto “volta”. Ocorre que a vida humana não é matemática. Existe uma zona cinzenta que algumas vezes pode enganar até mesmo os médicos. Estágios intermediários entre o coma e a morte, os chamados “estados fronteiriços” como os “comas ultrapassados” ou a “morte aparente” podem gerar equívocos. É por essas e outras que eu quero ser cremada, não quero o risco de acordar viva no caixão.

Todo médico se borra de medo que um paciente seu declarado morto “acorde”. Uma série de procedimentos são necessários para declarar uma pessoa morta, todos eles descritos na Resolução nº 1480 do Conselho Federal de Medicina. Estes exames devem ser feitos por mais de uma vez, em determinados intervalos de tempo que variam conforme a idade do paciente.

Legalmente, no Brasil, uma pessoa é considerada morta quando ocorre a morte encefálica total, ou seja, quando todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral, perde irreversivelmente todas as suas funções. A morte encefálica se constata quando não há mais impulsos elétricos sendo enviados, ou seja, não há mais “atividade encefálica”. No momento em que os médicos constatam a ausência de atividade cerebral a pessoa é considerada morta e seus órgãos podem ser retirados para doação.

Percebam que TODOS morremos através da morte encefálica, pois mesmo que se “morra” em função de uma parada cardíaca, só se estará morto MESMO quando o cérebro apagar. O cérebro é o último que apaga a luz da casa antes de todo mundo ir dormir. Mesmo com um coração sem bater, mesmo com a pessoa afogada cheia de água nos pulmões, ele pode sobreviver um pouquinho mais. Mas calma, ele sobrevive porém ele te “apaga” se o sofrimento for muito intenso, não quer dizer que necessariamente você tenha que vivenciar o sofrimento só porque ele ainda não desligou.

“Mas Sally, como é então que tem gente com morte cerebral que fica meses em uma cama de hospital?”. Se o cérebro estiver morto, a pessoa não pode desempenhar nenhuma das funções vitais. Se a pessoa tem morte cerebral ela só pode ser mantida viva se máquinas desempenharem atividades vitais essenciais. Cuidado para não confundir morte cerebral com coma. Geralmente as pessoas que ainda são mantidas vivas por aparelhos estão em COMA, ou seja, seus cérebros não apagaram de vez.

Como saber quando uma pessoa está morta ou está apenas em coma? Bem, a regra geral diz que o cérebro de uma pessoa em coma emite impulsos elétricos, enquanto que um cérebro morto não emite. Além disso, pacientes em coma reagem a sinais externos, em maior ou menor grau, enquanto que pacientes com morte cerebral não esboçam qualquer reação. Por isso em todo seriado médico a primeira coisa que vemos é socarem uma luz nos olhos da pessoa e avaliar seu estado conforme a reação. A luz ativa o nervo ótico, que por sua vez envia uma mensagem ao cérebro. Se o cérebro estiver normal, mandará de volta um impulso ao olho para constringir a pupila. No cérebro morto, não será gerado nenhum impulso.

Aliás, os olhos são de grande valia na hora de tentar descobrir se uma pessoa está morta. Outro recurso é observar o reflexo oculocefálico: os olhos do paciente são abertos e a cabeça virada de um lado para o outro. O cérebro ativo permitirá um movimento dos olhos; no cérebro morto, os olhos ficam fixos. Também pode ser avaliado o reflexo córneo. Um cotonete de algodão é arrastado pela córnea (*agonia) enquanto o olho é segurado aberto. O cérebro funcional mandará o olho piscar. Este e outros testes físicos podem ser realizados de forma complementar para atestar ou confirmar a morte de alguém. Mas atenção, não teste isso em casa! Vovó está muito quieta? Nada de esfregar com cotonete em suas córneas!

Como se detecta a morte cerebral? Os exames mais comuns são o eletroencefalograma (EEG) e o estudo do fluxo sangüíneo cerebral. O EEG mede a “voltagem” (impulsos elétricos) do cérebro em microvolts e é utilizado para apurar se o cérebro está emitindo estes impulsos elétricos. A regra é: se há impulsos elétricos a pessoa está tecnicamente viva. Ele é tão sensível que até mesmo a eletricidade estática nas roupas de uma pessoa pode influenciar no resultado do EEG. Todas as respostas positivas sugerem função cerebral.

Já o estudo do fluxo sangüíneo cerebral é feito através da injeção de uma substância radioativa na corrente sangüínea para depois aferir o quanto ela se espalhou pelo cérebro através de um contador de radioatividade sobre a cabeça Se o exame não detectar fluxo sangüíneo no cérebro, ele está morto. Um estudo de fluxo cerebral negativo é uma evidência incontestável de morte cerebral. Não existe “princípio de morte cerebral” ou “morte cerebral parcial”. Ou está morto, ou está vivo. É como estar grávida: É “sim” ou “não”.

Além deste exame, também podem ser realizados exames complementares (como por exemplo o exame químico através de injeção de atropina) e exames físicos (lembra do cotonete na córnea e cia?). Sem o cérebro não reagimos ao mundo externo, por isso o paciente recebe estímulos luminosos, sonoros e até mesmo estímulos de dor. Um cérebro em coma, por mais profundo que seja, esboçará algum grau de reação. Daí vai neguinho e fica espetando mão e pé de paciente e a pessoa acorda numa vibe meio Kill Bill já sentando o cacete em todo mundo no hospital e não sabem porque…

Mas, nada na vida é tão simples. Uma série de fatores podem reduzir nossa resposta neurológica a ponto de dar uma falsa impressão de morte cerebral (desde o uso de algumas substâncias até mesmo a alteração da temperatura corporal). O inverso também pode acontecer: pacientes com morte cerebral podem apresentar reflexos como movimentos ao serem tocados nas mãos e nos pés graças aos chamados “reflexos medulares”. É preciso muito cuidado ao declarar a morte de alguém. Em resumo: nunca poderemos ter 100% de certeza. Pode dar merda. As chances são pequenas mas pode dar merda.

Estudos indicam que apenas uma em cada 200 mortes em leito hospitalar são por morte cerebral, o que explica as longas filas de espera por transplante de órgãos, que só podem ser retirados dos pacientes quando se constate a morte cerebral e se atenda a uma série de requisitos (Lei 9434/97). Dos pacientes com morte cerebral, cerca de metade são considerados não aptos a doar seus órgãos em função de problemas médicos como câncer ou infecções que comprometem seus órgãos. Dos pacientes com morte cerebral e órgãos aceitáveis, metade são excluídos porque os familiares se recusam a consentir a doação. Porque o doador decide em vida se quer doar mas, mesmo com seu consentimento, se a família quiser, pode impedir. ABSURDO! (observação rápida: eu acho que quem NÃO É DOADOR deveria ficar no final da fila na hora de RECEBER uma doação, e só receber quando todos os doadores tivessem recebido!)

Como salvar o cérebro? A causa mais comum de morte não-violenta são os problemas cardíacos. O cérebro, via de regra, pode sobreviver até SEIS MINUTOS sem seqüelas após uma parada cardíaca, por isso, é indispensável que se faça RCP (ressuscitação cardio-pulmonar) assim que a parada ocorrer (não dá para ensinar em poucas linhas, será tema de outro Desfavor Explica um dia desses). Outra causa comum de lesão cerebral é o Acidente Vascular Cerebral, o AVC (popularmente conhecido como “derrame”): se você constatar que alguém está sentindo fraqueza ou dormência súbita em um lado do corpo (peça para a pessoa sorrir, ela sorrirá involuntariamente de um lado só), dificuldade para falar, entender ou enxergar, tontura repentina e dor de cabeça muito forte sem motivo aparente, VOE para o hospital, porque minutos fazem a diferença entre a vida e a morte.

Qual é o pior tipo de morte? Bem difícil responder a esta pergunta, já que os que tem conhecimento de causa não costumam voltar para contar. Foi realizado um estudo onde se avaliou hipoteticamente as reações que o organismo sofreria, estimando-se o tempo da morte e as sensações que ela causaria e se concluiu que o pior tipo de morte deve ser por congelamento. Um dado interessante (que não tenho a menor idéia de como foi obtido) é que a maioria das pessoas que morre fica inconsciente antes de efetivamente morrer. Por exemplo, um avião que começa a despencar ou um suicida que se joga janela abaixo: é bem provável que eles apaguem antes de efetivamente tocar o solo. E isso vale para todos o tipos de morte. É um mecanismo de proteção do organismo que dispara em situações extremas.

Ok, a pessoa morreu. Fisicamente, o que acontece depois? As bactérias que já existiam dentro dela, majoritariamente no intestino, começam a comer as próprias celular do organismo, que estão entrando em decomposição. No terceiro dia, as bactérias podem liberar gás suficiente para inchar o corpo a ponto de fazer com que os olhos saltem das órbitas. Muitas vezes esse gás causa verdadeiras explosões dentro dos caixões, o que pode dar um baita susto em quem está em um cemitério na parte da noite. Pior: algumas vezes além da explosão aparece um brilho, uma chama: o fogo fátuo. As bactérias que metabolizam a matéria orgânica produzem gases que entram em combustão espontânea em contato com o ar. Ocorre uma pequena explosão e a chama azulada vem acompanhada de um estrondo. Dá para imaginar o número de lendas e histórias que devem ter surgido graças a esse fenômeno, né? Tem vídeos no Youtube para quem quiser ver.

Inicialmente o morto fica molinho, pois há relaxamento muscular, mas algumas horas após a morte (aproximadamente 12h) já podemos observar a chamada rigidez cadavérica. O morto endurece ao ponto de muitas vezes ser necessário fraturar seus ossos para colocá-lo na posição horizontal.

É possível prever a morte? Aparentemente, seres humanos não podem prever, mas ao que tudo indica, alguns animais teriam esse poder. Existem diversas histórias documentadas de animais que, de alguma forma, fizeram a “previsão” da morte de pacientes em um número tão significativo que fica descartada qualquer chance de coincidência. Só para ilustrar, cito um caso publicado no New England Journal of Medicine de um gato chamado Oscar, adotado por uma casa de saúde, que sentava no leito dos pacientes poucas horas antes de sua morte. Acertou mais de 25 casos. Quando começaram a perceber o que a presença de Oscar significava, muitos familiares o colocavam para fora do quarto e o gato permanecia na porta, miando, até o paciente morrer. Depois que ele morria, Oscar ia embora.

Funcionários contam como Oscar atua: todos os dias ele passeia pela casa de saúde, mas eventualmente algo atrai sua atenção em um quarto. Ele para, cheira, cheira e entra. Senta ao lado do paciente e este invariavelmente morre em poucas horas. Graças a este comportamento, acredita-se que exista uma espécie de “cheiro da morte” que alguns animais poderiam sentir. O processo da morte deve liberar alguma substância detectada pelo nariz de Oscar. Animais sentem cheiro de tumores e de câncer, não descarto que sintam cheiro de morte também.

Como o ser humano vem lidando com a morte através dos anos e culturas? Putz… essa resposta poderia gerar uma postagem autônoma! Alguns antropólogos afirmam que o costume do velório surgiu em função da incerteza da morte da pessoa. Quando não havia recursos médicos, frequentemente pessoas vivas eram dadas como mortas, por isso o hábito de velar o corpo para ter certeza de que a pessoa não iria acordar. Às vezes o corpo era velado por dias. Normalmente era colocado em um sofá ou em uma mesa da casa da pessoa e se fazia uma espécie de reunião chamando amigos, onde era servida comida e todos comiam ali, do lado do morto (ou suposto morto). Neguinho tirava fotinho com o corpo do morto, sentadinho no sofá como se nada. Uns mais sem noção até abriam o olho do morto para a hora da foto! O hábito que inicialmente surgiu para confirmar a morte, acabou virando um ritual de despedida. Eu odeio ir a velórios, mas os psicólogos insistem que ir ao velório é um ritual que auxilia no processo de luto.

Nós ocidentais lidamos muito mal com a morte. Somos apegados demais a tudo, em um misto de egoísmo e imaturidade. Filosofias orientais pregam o desapego e ensinam desde cedo sobre a “impermanêcia”, ou seja, tudo muda e é ok que tudo mude mesmo. Tudo é transitório e temos que aceitar esta verdade e aprender a ser feliz com ela. A morte não é vista necessariamente como uma coisa ruim ou fonte de sofrimento. Ruim pra porra mudar nosso pensamento depois de burro velho, pelo menos na minha cabeça, parece impossível. Mas vale uma leitura. Busquem conhecimento, já dizia Bilu. Simpatizo demais com o budismo, apesar de me sentir uma criança mimada quando leio a respeito. Sério, me sinto uma merda involuída.

Curiosidades inúteis sobre a morte: normalmente o último sentido que se apaga quando morremos é a audição. O primeiro que se vai é a visão. Homens mortos ejaculam, muitas vezes até mesmo horas depois de morrer, em função do relaxamento muscular profundo. Acreditem ou não, mas vem se constatando que hoje seres humanos demoram mais tempo para entrar em decomposição depois que morrem em função da grande quantidade de conservantes que comemos no nosso dia a dia.

Não posso deixar de recomendar um livrinho mórbido e de fácil leitura: “O Prêmio Darwin, a evolução em ação” (Wendy Northcutt), que conta as formas mais estúpidas de mortes já documentadas. Tem até uma envolvendo nosso mascote do coração, Tillikum. Pelo que me lembro, só existe uma que faz menção ao Brasil, onde um brilhante assaltante jogou o pino e ficou com a granada na mão em uma perseguição policial. Vale a leitura.

Sexta página. Paro por aqui ou o Somir me mata.

Para dizer que você é sádico de carteirinha e quer duas semana mórbidas, para dizer que prefere esse papo depressivo de morte do que a vibe oba-oba de carnaval ou ainda para dizer que vê gente morta: sally@desfavor.com

Hello, hello!EQM significa “Experiência de Quase Morte” e seria um conjunto de sensações, visões e estímulos variados que o ser humano experimenta quando está prestes a morrer. Existem explicações religiosas e espirituais para estas sensações, mas também existem explicações científicas. Apesar de ser um Desfavor Explica, eu não pretendo explicar de onde vem, cada qual acredita no que quer, apenas quero explicar o que se sente. Conselho? Não importa de onde vem, o que importa é como isso nos afeta. Considerando que já passei FUCKIN´ DUAS VEZES por EQM, me sinto apta não apenas a narrar o que se sabe a seu respeito como também a colocar minhas impressões pessoais no texto.

As sensações provocadas pelo estado de EQM são muito comuns em casos de morte por hipóxia cerebral, ou seja, quando não chega oxigênio suficiente a nosso cérebro. Inúmeras formas de morrer implicam em hipóxia cerebral. Cientistas acreditam que a EQM nada mais é do que uma resposta fisiológica do cérebro a essa privação de oxigênio. Também são comuns em situações de hipóxia que não necessariamente impliquem em morte, como por exemplo alguns tipos de anestesia. Mas também podem ser experimentadas em mortes violentas como acidentes de carro.

O que se sente nesse estado de EQM? Bem, várias sensações, podendo haver predominância ou ausência de alguma delas. As mais comuns são uma sensação forte de relaxamento e paz interior, uma sensação de estar flutuando para fora do próprio corpo, uma sensação de tranqüilidade, de paz, de finalmente compreender tudo, a clara presença de “pessoas” à sua volta que aos olhos de quem está bem não estão lá, sendo que frequentemente essas pessoas são entes querido já falecidos, uma ampliação da visão para um ângulo de 360º, flashes da sua vida em uma espécie de mega-flashback dos momentos mais importantes, ampliação de outros sentidos e a famosa sensação de estar viajando através de um túnel, cujo final é iluminado. Prato cheio para o espiritismo, que descreve com perfeição cada um destes sintomas como parte da transição da alma de um “mundo” para o outro.

Uma coisa curiosa que muitos talvez já tenham sentido é esse flashback de sua própria vida. Algumas vezes ele acontece em situações de perigo extremo, quando achamos que vamos morrer, ainda que nada efetivamente nos aconteça. A diferença, e aqui falo na prática, ou seja, pode ser que só se aplique a mim, é que no flashback da EQM, além de ver sua vida passar diante dos seus olhos, você ainda experimenta as mesmas sensações que experimentou em cada momento lembrado, em uma fração de segundos. Na EQM os segundos rendem pra caramba, um segundo dá para muita coisa. A noção de tempo é completamente diferente. Não, eu nunca usei drogas (só a camisa da seleção argentina, mas ela não provoca alucinações, ok? só humilhações…)

É muito difícil descrever o que se sente em uma EQM. Não há nenhum tipo de sentimento que eu já tenha experimentado que possa ser sequer comparado. É como se a “linguagem” emocional fosse outra, com outro tempo, outra forma de expressar e outra intensidade. Você sabe que se passaram apenas alguns segundos desde que você entrou nesse estado, mas percebe que em alguns segundos aconteceu muito mais coisa que caberia nesse tempo e que você percebeu, processou e interagiu nesta nova realidade também em questão de poucos segundos. Quando aparecem luzes, sejam elas no final de um túnel ou no lugar onde você se encontra, é uma luz estranha, diferente, porque é muito mais brilhante do que qualquer outra luz que você tenha visto, mas não ofusca a visão. E a sensação de bem estar é indescritível. Nunca vivenciei nada parecido.

Quanto à sensação de estar em um túnel, muitas pessoas relatam haver uma bifurcação ao final deste túnel, com dois caminhos, um bem iluminado e outro escuro. O caminho iluminado atrairia a pessoa com uma sensação enorme de bem estar enquanto que o escuro não seria muito convidativo. Pegadinha do Mallandro! Se entrar no iluminado, meus queridos, MÓRREU. É comum pessoas relatarem que estavam atraídas pelo caminho com “uma luz no fim do túnel”, porém em uma fração de segundos pensam nos filhos ou nas coisas que ainda tem por fazer e se jogam no caminho escuro para voltar para esta titica de mundo. Também há estudos que comprovam que pessoas católicas costumam deixar de frequentar a igreja após EQM, pois bate toda uma “realidade” de que o buraco é bem mais embaixo do que aquele dogmas babacas. Afinal, se você já viu o Hômi ali, fêice a fêice, vai conversar com intermediários pra que?

Evidente que uma experiência como essa deixa marcas na vida da pessoa. Claro, quase morrer faz você repensar muitos aspectos da sua vida, mas a coisa vai um pouco além disso. A incidência de “cura” de pessoas que tinham fobia de morte após uma EQM é altíssima. As pessoas simplesmente perdem esta fobia. Ainda não se sabe porque, mas o meu palpite é que isto se deve à experiência prazerosa que a EQM gera.

Calma, eu não acho que morrer seja legal e eu não quero morrer, mas é inegável o bem estar profundo e paz que se sente logo antes de morrer. Espero que isso sirva de consolo para quem já perdeu um ente querido. A pessoa morre em paz, se sentindo muito bem e muito feliz. Palavra de quem foi e voltou duazveiz. Outra mudança quase que unânime é que pessoas que voltam de EQM dão menos valor a bens materiais e se tornam mais solidárias (Oi? Fail? mentirinha, eu sou solidária). Se você tem medo de morrer, digo, do momento de transição entre a vida e a morte, pode confiar: é uma sensação muito agradável, de muita paz e muito reconfortante.

“Mas Sally, agora eu fiquei curiosa de sentir uma EQM, só que não quero morrer. Comofais?” Bem, a EQM pode ser induzida através de alguns medicamentos (salvo engano, o mais popular é a quetamina) ou também pode ser induzido através de hipóxia cerebral em função do aumento da gravidade. Mas você teria que ser muito imbecilóide para voluntariamente deixar seu cérebro sem suprimento de oxigênio. Se algo der errado você pode ficar meio Flávio Silvino. Desfavor não recomenda.

Para você que acha que tudo é fruto de estímulos cerebrais, chupa essa manga: há relatos de EQM em pacientes cujo cérebro estava sendo monitorado e mostrava completa inatividade. Isso fez com que muitos médicos comecem a cogitar a existência de uma “consciência”, “alma”, “espírito” ou como se queira chamar, que existiria independente do cérebro. Faz sentido, pois muitos pacientes desacordados (como aconteceu comigo) estranhamente se lembram de muitos detalhes de quando foram reanimados ou da conversa dos médicos e de outras informações que não teriam como saber se não houvesse alguma forma de consciência atuando no momento. É aquele clássico relato de ver seu corpo de cima, como se você estivesse sentado no teto do quarto, assistindo a tudo como um telespectador. Joguem pedras, me lembro de ver meu corpo inerte de cima do teto do quarto do hospital e sabem qual foi a primeira coisa que pensei? “Pqp, dei uma engordada”.

Entretanto muitos médicos insistem que qualquer situação que implique em grande liberação de endorfina pode provocar estas sensações e que não há nada de sobrenatural nisso. Dizem ainda que quando o cérebro está quase perdendo a consciência este tipo de reação acontece, ainda que não se esteja morrendo, citando que é muito comum pessoas sentirem os efeitos de EQM com uma simples aplicação de anestesia.

Explicam um por um cada um dos fenômenos experimentados. Por exemplo, o túnel com uma luz no final: isto se deve à baixa oxigenação do cérebro. Temos muito mais células responsáveis pela visão central do que pela visão periférica (tanto é que enxergamos mal com o canto dos olhos). Quando acontece baixa oxigenação cerebral pode acontecer também como consequencia a ativação anormal das células da visão. As células mais numerosas na parte central dos olhos, criariam a sensação de uma luminosidade intensa que diminuí à medida que as células diminuem: uma luz no fim do túnel.

Essa teoria é foi testada com pilotos de Força Aérea dos EUA. A velocidade dos caças reduz o fluxo sanguíneo para o cérebro dos pilotos, que “apagam” e relatam visões de túnel semelhantes às das EQMs. Logo, EQM não teria nada a ver com morte e seria apenas uma reação biológica ou bioquímica.

A impressão de abandonar o próprio corpo também tem sua explicação científica. Seria o estresse, já que ela também ocorre isoladamente em um série de situações: no uso de drogas, na meditação, durante o sono (ou após uma longa privação do sono) ou em momentos de estresse agudo. O culpado seria o “giro angular”, região que fica em uma extremidade do lobo parietal, setor cerebral responsável pela orientação espacial. É o lobo parietal que nos faz perceber onde começa e onde termina o nosso corpo e o mundo externo começa. Pessoas com distúrbios nessa região têm uma dificuldade enorme para entender onde está o próprio corpo, o que poderia causar esta falsa sensação de achar que está fora do próprio corpo. Ao se estimular eletricamente esta região, cientistas narram que as pessoas tem a sensação de estar fora do corpo.

Há quem explique a EQM através da chamada “teoria da contaminação”. Os céticos pregam que de tanto falar no assunto e ver esse tipo de clichê em livros, filmes, televisão e etc, isso fica gravado em algum lugar do nosso inconsciente. Por isso todo mundo sente e experimenta mais ou menos a mesma sensação. É uma teoria também utilizada para explicar porque todo mundo que vê ET vê um bichinho baixinho, pelado e de olhos grandes.

A Associação para Estudos de Experiências de Quase Morte (www.iands.org) estima que cerca de 270 milhões de pessoas no mundo já passaram por esta experiência de forma declarada. Porque tem muita gente que passa e não abre o bico para contar com medo de ser taxado de maluco, de “coisa do demo” ou de mentiroso que só quer aparecer. Outros passam e divinizam o que não podem explicar e já saem afirmando que viram Deus. Eu lhes digo na maior tranquilidade que não sei classificar que porra é essa que eu senti, não sei se é bioquímico, fisiológico, religioso, paranormal, mediúnico ou sei lá o que. Nem quero classificar, tá bacana. Só sei que aconteceu.

Um dado alarmante: pesquisadores holandeses estudaram grupos de pessoas que quase morreram e o dividiram em pessoas que experimentaram EQM e pessoas que não experimentaram EQM. O grupo que não passou por EQM se recuperou bem e menos de 10% morreram no mês seguinte à EQM. Já no grupo que vivenciou a EQM, mais da metade morreu no mês que se seguiu. Cientistas explicam estes dados alegando que por algum motivo o cérebro não se recuperou bem, ficou confuso e entendeu que morreria (não “caiu a ficha” que a pessoa voltou e o cérebro se deteriorou achando que tinha morrido e levou o resto do corpo junto). Já os religiosos dizem que a hora da pessoa passar para o lado de lá havia chegado mas o homem com seus recursos médicos tentou mudar a vontade divina ou aquilo que já estava determinado, mas como o destino já estava decidido, a profecia se cumpriu.

Quando procuramos um médico para falar de EQM, nos sugeriram um cardiologista, uma vez que é muito comum a hipóxia cerebral por cardiopatias e os pacientes com problemas cardíacos vira e mexe “morrem” e voltam após serem reanimados. Mas preferi falar com meu médico mesmo, que presenciou a minha. Para quem não sabe, alguns anos atrás tive uma septicemia, ou sepse, aquela doença que matou uma modelo anoréxica não tem muito tempo, (uma cortesia do Hospital Copa D´Or, entre com uma pedra no rim e saia com uma septicemia de brinde!). Também vivenciei outra EQM quado fiz uma grande cirurgia, anos depois.

MINHAS EQMs

Enfim, a septicemia basicamente fode seu organismo todo e ele vai começando a pifar aos poucos. No meu caso, começou nos pulmões, que estavam cheios de líquido (mais de um litro em cada pulmão), o que me impedia de respirar progressivamente, causando a baixa oxigenação cerebral. Eu tinha momentos de “ir e vir” o tempo todo, estava ligada a uma máquina que monitorava a oxigenação e de tempos em tempos aquilo apitava que era uma beleza, daí corria gente pra cima de mim. Alternei momentos de consciência com apagões durante vários dias, até reagir com ajuda dos medicamentos. E foi nesses momentos de apagão que tive diversas EQM.

Dentre as muitas coisas que experimentei, uma me chamou a atenção porque me permitiu ter a certeza de que algo inexplicável aconteceu. Uma coisa é ter sensações de bem estar, vez luzes e tantas outras coisas que podem ser fruto de liberação de substâncias no organismo (que eu tive aos montes). Mas uma coisa em especial eu não sei explicar.

Estava no teto olhando meu corpo deitado na cama. Estava de saco cheio, porque porra, já estava deitada na cama há quinze dias. Estava em um estado mental meio confuso, não que estivesse retardada nem nada, mas estava em uma outra realidade com noção de tempo e espaço completamente diferente. Sem pensar muito, não me perguntem como, dei um passeio pelo hospital. Não aquela coisa Gasparzinho, O Fantasminha Camarada, de se deslocar voando. Algo mais sofisticado. Na verdade eu nem me deslocava, eu via o que queria. Daí vi uma conversa entre o médico que estava me atendendo e o médico que era responsável pelo meu caso e tinha sido destituído por não ter percebido que eu tinha uma septicemia. Um estava dando um baita esporro no outro aos berros. Lembro das exatas palavras que foram ditas.

Quando percebi estava olhando novamente para o meu corpo e vi pessoas queridas na beira da cama muito angustiadas. Pensei “Ok, ok, melhor voltar”. O termo não seria nem “pensei”, você não tem tempo de refletir isso, você sente isso em uma fração de segundos e quando vê está de volta para aquela dor e sofrimento miseráveis. Acordei. Comentei, meio confusa, que os médicos poderiam ter a cortesia de bater boca e falar palavrões fora do quarto onde eu estava, ao que todos me olharam com espanto e disseram que não havia entrado nenhum médico no quarto. Eu disse o nome dos dois médicos e o que havia sido dito. Chamaram as enfermeiras achando que eu estava alucinando por causa de algum dos um milhão de remédios que estava tomando e uma das enfermeiras ficou branca feito um papel.

Dez minutos depois entra no quarto meu médico. Mandaram todo mundo sair do quarto. Climão. Conversei sozinha com ele e reproduzi o diálogo que tinha escutado. Ele confirmou que de fato tinha ocorrido e eu pedi que da próxima vez saísse do quarto para gritar com o outro médico. Ele me disse “Isso aconteceu quatro andares abaixo de onde a gente está”. Minha cara de cu deve ter sido impagável. Eu não tenho explicação para isso. E quer saber? Nem vou tentar, não tenho a arrogância de querer saber tudo. Deixa do jeito que tá, me bastava confirmar apenas que aconteceu. Ele conversou bastante comigo e explicou que isso era uma EQM e que era muito mais comum do que se imaginava, só que pacientes raramente contavam aos médicos e os médicos raramente falavam sobre isso com outros médicos.

Na outra ocasião, foi em uma cirurgia. Também teve toda a presepada pirotécnica te ver luz, ver flashback, tudo isso. Pacote completo. Mas essas coisas não vou narrar porque eu tava tão cheia de morfina que quando abri os olhos a primeira coisa que vi foi um dragão roxo de olhos amarelos gigante chorando no pé da minha cama, então, quem vê uma porra dessas não está em seu juízo perfeito (e também via os Beatles, os quatro, cantando no cantinho do meu quarto, prontofalei). O que interessa é que durante a cirurgia, tava lá eu de novo no teto vendo meu corpo sendo retalhado e ouvindo a conversa dos médicos, quando uma mulher se aproxima e começa a bater papo comigo. Começa a contar coisas da vida dela. Tudo em uma linguagem diferente, em uma escala de tempo diferente, não dá para explicar. A gente conversou na maior normalidade, tipo, who cares se nossos corpos tão lá embaixo sendo fatiados? Tudo normal. Depois de conversar bastante com ela, ela me disse que era a hora dela voltar, mas que estava com um pressentimento ruim. Daí ela se foi.

Quando eu acordei da cirurgia, completamente doida de morfina, com meus pais em um canto da cama, o dragão na ponta e os Beatles na outra, perguntei se tinha vindo alguém me ver. Não, não tinha. Ninguém podia entrar no quarto do CTI. Eu disse que tinha a impressão de que uma pessoa chamada Fulana de Tal tinha entrado no quarto e conversado comigo e descrevi a pessoa, e falei o nome dos filhos da pessoa e mais um monte de detalhes. Novamente, foram chamar uma enfermeira porque acharam que eu estava delirando – e de fato estava, vide o dragão e os Beatles.

A enfermeira informou que Fulana de Tal estava a alguns quartos de distância do meu e tinha se submetido a uma cirurgia de redução de estômago naquele mesmo dia e estava desacordada, portanto, não poderia ter vindo me visitar. Eu queria levantar para ver a Fulana de Tal mas ninguém deixou, talvez porque eu estivesse com uma sonda nasogástrica (minha “tromba”, como eu costumava brincar), dois drenos e toda entubada e com outras sondas em locais menos agradáveis. Passados alguns dias, quando eu já estava melhor e o dragão e os Beatles já tinham ido embora, vejo uma correria de madrugada e depois de um tempo, uma maca retirando uma pessoa coberta. Era a Fulana de Tal. Implorei para a enfermeira me mostrar o rosto da mulher e quando vi, constatei que era a mesma pessoa que tinha conversado comigo. Eu não tenho explicação para isso. Nem quero ter. Só quero contar que aconteceu.

O que é a EQM provavelmente nunca ninguém vai saber dizer, mas que ela existe, eu posso confirmar.

Para dizer que cada vez mais tem certeza que eu sou maluca, para contar a sua EQM e para dizer que pior que a morte é ter o Beatles tocando nonstop no seu quarto: sally@desfavor.com