DRAMA! THE LOST CHAPTERS: EPISÓDIO 1

No vôo BRARATINHO 916, São Paulo – Manaus, e você?:

SOMIR: NÃO DESISTA AGORA! EU POSSO TE CONSERTAR!
SALLY: Somir… mais baixo…
SOMIR: EU POSSO TE CONSERTAR!
SALLY: Somir… tem gente olhando…
SOMIR: NÃO OUSE DESISTIR AGO… AH MERDA!
SALLY: *escondendo o rosto*
AEROMOÇA: Algum problema, senhores?
SOMIR: Um problemão. Eu vi um adesivo dizendo que tinha internet sem fio aqui no avião, mas o meu adaptador de rede não está conseguindo conexão.
AEROMOÇA: Conexão de internet só na primeira classe, senhor.
SOMIR: SEM INTERNET?

Na fileira ao lado:

LINDAMÁR: Meu marido sempre disse que se você fingir que está passando mal eles te colocam na primeira classe.
SOMIR: Seu marido parece ser um homem sábio.
LINDAMÁR: Por que você não diz isso para ele quando ele voltar do banheiro?
SOMIR: Caganeira?
SALLY: Somir!
LINDAMÁR: Deus queira que ele esteja soltando um barrinho… hihihihi.

No banheiro do avião:

PILHA: Eu sou um rockstar! *sniiiiiifffff*

*batidas na porta*

PILHA: TEM GENTE AQUI, CARALHO!

*mais batidas*

PILHA: QUANDO EU SAIR DAQUI EU VOU TE ENFIAR A PORRADA! *sniiiiiifffff*
PANTERA: Eu vou lembrar da sua voz. Eu sempre me lembro das vozes das minhas vítimas.
PILHA: CAAAAGUEEEEEIIIII PRA VOCÊÊÊÊ! HAHAHAHA!

De volta aos assentos:

SALLY: A gente precisa mesmo ir para Manaus?
SOMIR: Era o último desejo dele.
SALLY:
SOMIR: Não me olha assim.

*o avião treme*

SALLY: AAAI! Não me agarra assim!
SOMIR: Eu não estou com medo.
LINDAMÁR: Isso é normal, viu?
SALLY: Liga não, ele é medroso com avião.
SOMIR: Eu não estou com medo.

*o avião treme mais*

SALLY: AAAAAAIII! Vai quebrar a minha mão!
SOMIR: Eu não medo com estou.
LINDAMÁR: Tem que ter fé que tudo vai dar certo.

*estrondo*

LINDAMÁR: A GENTE VAI MOOORREEEERRR! DEUS ME SALVA PRIMEIRO QUE EU SOU CREEENTEEEE!
TODOS: AAAAAAAAAHHHHHHHHHH!

*flash*

Ainda desorientado, Somir começa a perceber os seus arredores. A fuselagem do avião enfiada num banco de areia, cercada por vários corpos de passageiros. Algo chama sua atenção, um grito que começa a ficar cada vez mais claro: “ALGUÉM É MÉDICO? ALGUÉM É MÉDICO?”

Somir observa a origem do grito, uma senhora gritando ao lado do corpo inerte de um homem todo ensanguentado. Sem pestanejar, ele corre em direção dos dois.

SENHORA: SALVA ELE!
SOMIR: Vira ele de lado. Isso. Força!

Somir pega seu laptop, preso embaixo da vítima.

SOMIR: Não quebrou! Não quebrou! *sorrindo e saindo de perto*

Não muito longe:

SALLY: Somir! Eu tive tanto medo de ter te perdido. *abraçando*
SOMIR: AI!
SALLY: Você está sangrando… Ai meu Deus!
SOMIR: Nhé… foi só um arranhãozinho. Mas eu acho que vou desmaiar, ok?
SALLY: SOOOOMIIIRRRR!

*flash*

SALLY: Ele está acordando!
LINDAMÁR: Foi derrame? Ficou com a cara torta.
SALLY: Não, ele sempre teve essa cara.
LINDAMÁR:
SOMIR: Sally?
SALLY: Que foi?
SOMIR: Meu laptop?
SALLY: Sei lá!
SOMIR: COMO ASSIM SEI LÁ? *levantando* AI!
SALLY: Fica quieto que eu vou ter que dar uns pontos nesse seu corte.
SOMIR: HEIN? NÃO!
SALLY: Você vai ter que confiar em mim.

*Somir tenta fugir, mas alguém o segura*

PANTERA: Eu sinto te informar que não posso te deixar fazer isso.
SOMIR: Me larga!
PANTERA: De onde eu venho, eu já vi vários machucados assim, e nenhum deles termina bem.
SOMIR: Você é militar?
PANTERA: Pode-se dizer que sim. PCC.
SOMIR: Foi você que derrubou o avião, não foi?
SALLY: Perdoa ele, deve ser o corte. Ele fica maluco com qualquer machucadinho. Segura ele quieto que eu vou fazer a sutura.
SOMIR: Não! Não! NÃO! NÃO! *debatendo-se*

*flash*

SALLY: Pronto. Mas precisava ter batido na cabeça dele com a pedra?
PANTERA: Precisar não precisava. Mas todo mundo ficou feliz.
SALLY: Faz sentido.
SOMIR: Onde estou? Quem sou eu?
PANTERA: Parece uma ilha.
SOMIR: Ilha? A gente não estava sobrevoando o oceano!
LINDAMÁR: Eu acho que estou esquecendo alguma coisa…
SALLY: Você não tinha dito que o seu marido estava com você?
LINDAMÁR: Sim, mas me parecia que era alguma coisa importante. De quaquer jeito é melhor procurar por ele, né?

Alguns minutos depois:

SOMIR: Ai. Ai. Ai. Ai.
SALLY: Vai ficar gemendo a cada passo?
SOMIR: AI! AI! AI! AI!
SALLY: Ridículo.
LINDAMÁR: Alguém sabe quem era aquele moço de amarelo na praia?
PANTERA: Moreno?
LINDAMÁR: É, aquele inteligente que estava remontando o sistema de rádio e ensinando todo mundo como sobreviver em um acidente.
PANTERA: Ah, então eu não sei quem é.
SALLY: Ali, a outra parte do avião está ali.
SOMIR: Tomara que tenha algum remédio pra dor…
PANTERA: Vamos.

Dentro dos restos do avião:

LINDAMÁR: Pilha? Pilha?
SOMIR: Tinha algumas na minha bagagem de mão. Pro videogame.
SALLY: E pro meu mp3 não tinha, né?
SOMIR: Eram MINHAS. Você deveria ter trazido as SUAS.
PANTERA: Shhh… Vocês estão ouvindo?

*dááá… ááárgh… praa.. aaa… mi… mimmmm…*

LINDAMÁR: No banheirinho!
PANTERA: Deixa comigo!
SOMIR: Eu ajudo!
SALLY: Cuidado.
PANTERA: Vai ter que derrubar a porta. Vamos bater nessa parte aqui, ó.

*pancadas*

PILHA: Tem gente… seus filhas da puuuuutaaaaa…
LINDAMÁR: LARGA DE SER MAL EDUCADO, SEU DROGADO!
PILHA: ESTOU COM FOME, MACACA! VAI ME TRAZER ALGUMA COISA PRA COMER!
LINDAMÁR: MACACA É A TUA MÃE!
PILHA: VAI SE FO… ARRGH! GASP! GARRGH!
SOMIR: Pronto! Abriu!
PANTERA: Vamos tirar o mano daí.
LINDAMÁR: Ai meu Deus! Ele tá engasgando!
PANTERA: Deixa comigo! Sai de perto!

Pantera joga Pilha no chão e monta em cima.

SALLY: Somir… ele está…
SOMIR: Eu sei o que ele está fazendo. Os socos são para reanimar o coração.
SALLY: Na cara?
SOMIR: Eu tenho cara de médico? Se bem que… Se achassem que eu sou médico, eu teria poder nessa sociedade…
SALLY: Você não consegue dar um comprimido para um cachorro, Somir.
PILHA: Fára! Fára! Eu fá fuspi o gue estava enfasfado! *cuspindo um dente*
PANTERA: Eu disse que eu ia me lembrar da tua voz.
PILHA:
LINDAMÁR: Pilhinha! Você está bem?
PILHA: Eu bareço fem?
LINDAMÁR: Pra quem é, tá bom. Vamos sair logo daqui.

*barulho de engrenagens*

SOMIR: Ouviram isso?
SALLY: Me abraça!
SOMIR: Ahem…
SALLY: *largando Pantera e abraçando Somir*
PANTERA: Mano! Olha aquilo ali fora! Parece uma…
LINDAMÁR: É coisa do capeta! Me abraça!
PILHA: Ahem…
LINDAMÁR: *largando Pantera e abraçando Pilha*
SOMIR: Essa fumaça preta não pode ser boa coisa.
PANTERA: Ah, se fosse branca estaria de boa?
SOMIR: Não! Eu tenho até alguns amigos negros e…
PILHA: Xá comigo! *fungando*
SALLY: Ele está puxando a fumaça?
LINDAMÁR: Está prendendo!
PANTERA: Passa logo então!
SOMIR: A fumaça está fugindo! Vamos voltar pra praia! Rápido!

CONTINUA… (Mentira)

DRAMA! CAPÍTULO FINAL, CENA 1:

Na favela Velha Esperança, Somir abre a porta de sua nova moradia. O facho de luz que adentra o ambiente afasta algumas pequenas criaturas não identificadas das imediações da porta.

SALLY: Por que eu fui casar com você?
SOMIR: Na riqueza e na pobreza! Ninguém mandou jurar… Agora larga de frescura, vai. Vem ser a rainha deste lar.
SALLY: Eu acho que eu nunca odiei tanto alguém assim na minha…
SOMIR: Entra logo, essas suas roupas de perua estão fazendo a pobralhada ficar assanhada. Vai!
SALLY: Eu não mereço isso. *entrando*
SOMIR: Se a gente der uma limpada, até que fica…
SALLY: Um nojo! Como é que esse gentinha vive nesses lugares? Não tem amor-próprio, é?

Somir dá um sorriso amarelo para os descamisados se aglomerando na entrada de seu barraco e fecha a porta com pressa.

SALLY: Isso é castigo, Somir!
SOMIR: E você nem viu o banheiro…
SALLY: Você fica tirando sarro de religião e agora Deus está se vingando!
SOMIR: Sally, menos…
SALLY: Eu vou sair daqui! Vou pedir perdão de joelhos na primeira igreja que achar!
SOMIR: Não quer pedir perdão de joelhos para mim primeiro? *abrindo a calça* Hahahaha!
SALLY: Chega! Eu vou me redimir agora mesmo!

Sally sai de forma intempestiva de casa, deixando Somir literalmente com as calças na mão. Ao esquecer a porta aberta, Sally deixa Somir exposto aos favelados que ainda estavam fofocando em frente.

DRAMA! CAPÍTULO FINAL, CENA 2:

Numa rua próxima dali, Lindamár e Pilha conversam pacificamente.

LINDAMÁR: VAI SIM SEU FILHO DE UMA PUTA AIDÉTICA!
PILHA: VOCÊ ME ENGANOU, MACACA!
LINDAMÁR: MACACA?

Pilha percebe a besteira. Tarde demais. Lindamár começa a espancar Pilha no meio da rua, enquanto grunhe palavrões dos mais diversos.
PILHA: Ai! Ai! Ai! Eu vou! Eu vou! Eu vou!
LINDAMÁR: *ajeitando o cabelo* Humpf. Ei… aquela não é a minha ex-patroa?
PILHA: Afo que fofê fefrô um fente meu…
LINDAMÁR: Dona Séle?

Sally, que já estava perdida entre as estreitas ruas da favela, suspira de alívio ao ver Lindamár.

SALLY: Que bom que eu te encontrei, Linda!
LINDAMÁR: Tá gostando da vizinhança?
SALLY: É… Linda, você sabe onde tem uma igreja por aqui?
LINDAMÁR: GLÓRIADEUS! Estamos indo para o cultinho agora!
SALLY: Crente?
LINDAMÁR: A gente tá numa favela, dona Séle.
SALLY: É verdade. Que seja então… Posso acompanhar?
LINDAMÁR: Claro, hihihihi! É sempre bom ajudar uma alma necessitada!
PILHA: Vofê fefrô memo meu fente!
LINDAMÁR: Guarda o dentinho que depois eu colo com superbondi. Vamo logo que eu quero pegar lugar bom!

DRAMA! CAPÍPULO FINAL, CENA 3:

Na Comunidade Nova Esperança, o culto de Domingo da Igreja Evangélica Deus nos Acuda começa a lotar. Logo nas primeiras fileiras, um par de pernas se destaca do resto.

KELLY: Precisa vir, empata-culto?
OLAVO: Pombinha, foi um milagre o que aconteceu com aquela tal de Helena. Eu quero vê-la de perto hoje.
KELLY: O pastor não sabe que eu sou casada, não dá bandeira!
OLAVO: Hã?
KELLY: Shhh… Vai começar!

O pastor Tonhão de Jesus (ex-jogador de futebol) chega todo animado para falar com seus fiéis.

TONHÃO: QUEM VEIO PARA PISAR NA CABEÇA DO DIABO DIZ ALELUIA!
POBRALHADA: ALELUIAAAAA!
TONHÃO: Paz de Cristo! Hoje nós vamos adorar o Salvador, mas primeiro vamos trazer um testemunho incrível da filha do meu ex-empresário. Ela era tetraplégica e JESUS CUROU ELA!
POBRALHADA: ALELUIAAAAA!

Esperando sua vez de subir no palco/altar, Helena discute com seu pai.

HELENA: Papai, o senhor sabe que eu sou agnóstica.
SR. ANTUNES: Não me interessa! As finanças andam mal depois do incêndio e precisamos desse cachê. Sobe lá e diz que Jesus te curou!
HELENA: Cachê?
SR. ANTUNES: É a sua deixa, sobe lá!

DRAMA! CAPÍTULO FINAL, CENA 4:

Somir vaga pela Favela Velha Esperança à procura de sua mulher. Mas acaba encontrando outra pessoa no caminho.

SOMIR: Você não era o enfermeiro da Helena?
CARLÃO: É eu.
SOMIR: “Sou” eu.
CARLÃO: Ela tinha dois? Ow! Cê viu um mano preto dessa altura *mostrando com a mão*, com cara de mal encarado?
SOMIR: Nos últimos trinta segundos?
CARLÃO: Nem, ele sumiu desde anteonte. Será que tá na igreja?
SOMIR: Onde tem igreja aqui? Preciso achar o mais rápido possível!
CARLÃO: É perto, mano… Vô pra lá agora, um amigo meu sumiu e eu acho que ele tá lá… Cê viu? Um mano pre…
SOMIR: *suspiro*

Som de buzina. Somir se volta e encontra sua irmã com um sorriso irônico no rosto dentro de seu carro.

SUELI: Fazendo amizade com os novos vizinhos?
SOMIR: Há há há. O que você está fazendo aqui?
SUELI: Vim visitar o meu maninho… E ver a Sally limpando o barraco…
SOMIR: Me dá uma carona!
SUELI: Claro.
CARLÃO: Ow! Pra onde vocês vão? Eu preciso ir na igreja aqui perto pra…
SOMIR: *tapa na testa*

DRAMA! CAPÍTULO FINAL, CENA 5:

O culto na igreja Deus nos Acuda! continua animado.

TONHÃO: E você rezou todos os dias?
HELENA: É… *sem graça*
TONHÃO: ALELUIA!
POBRALHADA: ALELUIA!

Lindamár, Pilha e Sally finalmente chegam.

LINDAMÁR: Ah! Ah lá! Perdi Aleluia por causa de você, drogado!
PILHA: Aposto que vai ter mais…
SALLY: Onde a gente se confessa?
LINDAMÁR: Aqui num tem disso não, entrou tá perdoado!
SALLY: ALELUIA!
LINDAMÁR: ALELUIA!
PILHA: Não disse?

DRAMA! CAPÍTULO FINAL, CENA 6:

Ao mesmo tempo, Somir e sua irmã estacionam o carro a alguns quarteirões da entrada depois de deixar Carlão por lá.

SOMIR: Se a Sally virar crente, eu peço o divórcio, mana!
SUELI: Acho que tem alguém escondido atrás daquela árvore, maninho…
SOMIR: Deve ser o guardador. Pobre respeita essas porcarias de igreja, não vamos ser assalta… Merda, ele tá vindo! Corre!
PANTERA: Seu Somir?
SOMIR: Opa… O pedreiro…
PANTERA: Dá pro senhor me esconder?
SOMIR: O que aconteceu?
PANTERA: Tem uns caras que me juraram…
SOMIR: Então sai de perto, porra!
PANTERA: Ah, que se foda, vô corrê até a igreja!
SOMIR: Boa sorte, crente deve ser escudo humano bom! Hahaha!
PANTERA: Hahaha! Só! Fui!

Sueli olha para Somir. Somir para de rir e cai em si.

SOMIR: SALLY!!! CORRE! VAMOS TIRAR ELA DE LÁ!

Sueli finge que vai correr e volta a andar normalmente. Somir sai em disparada, mas Pantera é muito mais rápido.

DRAMA! CAPÍTULO FINAL, CENA 7:

Dentro da igreja, todos já estão acomodados para a grande oração final.

SOMIR: Sally?
SALLY: Somir! Você veio também! Vem, vem ser salvo comigo!
SOMIR: Aquela é a Helena?
SALLY: É! Jesus curou Helena!
SOMIR: Uau… Eu… Eu acho que vou ficar para essa oração.
SUELI: Oi, Sally.
SALLY: Cunhadinha? Tem um lugar para você aqui do meu lado. Vem!
SUELI: Eu… eu esperei tanto tempo… por isso…
SALLY: A partir de hoje, tudo mudou. Vem! Vamos rezar!
LINDAMÁR: Eu acho que já vi essa mulher em algum lugar…
PILHA: *se escondendo e rezando muito para não ser descoberto*
CARLÃO: Ow! Achei o meu amigo!
SOMIR: Ah, era esse?
PANTERA: Daê?
SOMIR: Eu acho que estou esquecendo de alguma coisa…
SALLY: Deixa pra lá! Vamos, todos unidos!
TODOS EM CORO: Jesus…

O telhado desaba. Todos morrem.

FIM

DRAMA! CAPÍTULO PÓS-MORTE, CENA 1:

SOMIR: Mas hein, estão ouvindo uma música?
SALLY: Onde a gente está?
LINDAMÁR: No céu, a gente era crente.
SUELI: Era?
SOMIR: Não tá meio quente não?
LINDAMÁR: É o calor de Jesus! Cala a boca! A gente tá no Céu!
CARLÃO: E aquela galera gritando ali?
PANTERA: Ow, eu vi umas gostosas…
HELENA: Pelo menos eu ainda estou de pé.
KELLY: Eu conheço essa música… *dançando*
LINDAMÁR: CALA A BOCA TODOS VOCÊS! ISSO É O CÉU!
SALLY: Como é que você sabe?
LINDAMÁR: Tá vendo o meu marido aqui?
SOMIR: Faz sentido… E se fosse o inferno mesmo, o Olavo não estaria aqui.
KELLY: Olavinho! Estava sentindo sua falta!
OLAVO: Hã? Eu estava num lugar iluminado até agora de pouco.

DRAMA! CAPÍTULO PÓS-MORTE, CENA 2:

PILHA: Meu nome é Olavo!
VOZ: Olavo? Deixe-me ver… Ok, seja bem vindo ao reino dos Céus!
PILHA: *sorriso maroto*

DRAMA! CAPÍTULO 18, CENA 1:

Somir ri da cara de Lindamár

SOMIR: Como é que é?
LINDAMAR: Isso mesmo que o Senhor escutou, essa casa toda vai para o inferno
SOMIR: Inclusive você, que fez de conta que seu marido era retardado!
LINDAMÁR: Doutor, eu juro, retardado ele é, ele só deu uma exagerada…
PILHA: Ei!
SALLY: Somir, o mendigo está fumando na sala!
SOMIR: Ai meu saco…
SALLY: Somir, eu sou alérgica! Manda ele parar!
SOMIR: Sally, cuida do mendigo você, eu vou chamar a ambulância para a sua tia!
Somir pega o telefone e começa a discar, quando escuta um grito vindo da sala. Somir corre para a sala e vê Sally em uma luta corporal com o mendigo sem pernas

SALLY: Não vai apagar não? Tem certeza? VAI APAGAR SIM SEU FILHO DUMA PUTA
MENDIGO: Não apago! Vai se foder!
SALLY: Vai apagar! E essas cinzas que cairam no carpete, você vai recolher com seu ânus!
SOMIR: wat?

Somir fica paralisado pelo bizarro da cena. Pilha filma tudo com seu celular. Sally pega a cabeça do mendigo e a bate contra a parede, o mendigo morde Sally.

SOMIR: CHEGAAA!
MENDIGO: ME LARGAAAA!
SALLY: Vou te pendurar no lustre pelo saco seu merda!
MENDIGO: Não apago! Não apago!
Somir se joga no meio dos dois para apartar a briga. Sally cai no chão e o mendigo voa contra a parede. O cigarro cai das mãos do mendigo no carpete, que começa a pegar fogo.

SALLY: FOGO! FOGO! FOGOOOOOO!
SOMIR: Um extintor! Precisamos de um extintor! Onde fica o extintor?
SALLY: Não sei!!! Acabamos de nos mudar!
SOMIR: No corredor! Rápido!

Pilha, Lindamár, Sally e Somir vão para o corredor e procuram por um extintor. O Mendigo grita do lado de dentro da casa.

SALLY: CADÊ? CADÊ A PORRA DO EXTINTOR, SOMIR?
SOMIR: Não sei! Não sei!
PILHA: Não é por nada não, mas não dá mais para voltar… e extintor não vai resolver *Pilha aponta para as chamas

Todos saem correndo pelas escadas, enquanto o Mendigo grita.

LINDAMAR: Eu disse que essa casa ia toda para o inferno! *pegando o celular
SALLY: Corre Somir!
SOMIR: Estou tentando!
SALLY: Seu sedentário! Corre porra!
SOMIR: Estamos quase chegando na portaria, calma!
LINDAMAR: Carlão! Sai daí que o prédio tá pegando fogo!

DRAMA! CAPÍTULO 18, CENA 2:

No apartamento superior, Carlão desliga o telefone e grita:

CARLÃO: FOGOOOOOOOOO!
GOVERNANTA: Já falei que seu time não me interessa!
CARLÃO: O PRÉDIO TÁ PEGANDO FOGO! VAMOS SAIR DAQUI!
GOVERNANTA: Rápido, me ajude a carregar a Helena!

Carlão, pega Helena pelos cabelos e a arrasta

GOVERNANTA: O que você está fazendo?
CARLÃO: Não dá tempo pra finesse não! Vambora! Vambora!
GOVERNANTA: SR. ANTUNES! TEMOS QUE EVACUAR O PRÉDIO!
CARLÃO: Porra, isso é hora de você querer cagar?
Sr. Antunes sai do quarto fechando o zíper da calça e Kelly sai limpando a boca,

SR. ANTUNES: Incêndio?
GOVERNANTA: CORRAM! CORRAM!

Olavo dá as mãos para Kelly, Carlão leva Helena pelos cabelos e Sr. Antunes empurra a Governanta. Todos correm pelas escadas.

OLAVO: Pombinha, vamos sair daqui antes que eu perca esse emprego.
KELLY: Não! Eu não vou ser destratada assim!
OLAVO: Mas ninguém te convidou, amorzinho…
KELLY: Eu não me produzi toda à toa! Até me depilei! Ó! *abrindo as pernas novamente*

DRAMA! CAPÍTULO 18, CENA 3:

Na portaria:

LINDAMÁR: Olha os bacanas de cima chegando!
PILHA: Tô filmando tudo!
LINDAMÁR: Larga esse celular, seu Vagabundo!
SALLY: Ainda bem que vocês conseguiram sair!
KELLY: Essa funaça fedeu meu cabelo!
OLAVO: Ainda existem pessoas no prédio?
PORTEIRO: Tem a moradora do décimo andar, com seu bebê…
*climão

SOMIR: Alguém já chamou os bombeiros?
SR. ANTUNES: Não vai dar tempo, olha o tamanho das chamas…
SALLY: Tem alguém naquela janela! Olha! Olha!

A moradora sacode um bebê pela janela

SOMIR: É o Michael Jackon com Blanket! Hahaha *climão
LINDAMÁR: ELA VAI JOGAR O BEBÊ! ELA VAI JOGAR O BEBÊ!
HELENA: Carlos, pode soltar meu cabelo
SR ANTUNES: HELENA! VOCÊ ESTÁ SE MEXENDO?
HELENA: Sim, Papai
GOVERNANTA: O BEBÊ!
A mãe, em um ato de desespero, joga o bebê pela janela. Todos gritam e correm, menos Kelly, que abre os braços e pega o bebê no ar.

SR. ANTUNES: MEU DEUS! QUE REFLEXO!!! QUE REFLEXO!!!
Kelly larga a criança, que cai de cabeça no chão e começa a sangrar

KELLY: Gostou? É Wellton! * passando a mão nos cabelos

DRAMA! CAPÍTULO 18, CENA 4:

Horas depois, Sally e Somir conversam na porta do prédio destruído
SOMIR: Olha o lado bom, não vamos precisar explicar sobre sua tia…
SALLY: E como vamos explicar um corpo-cotoco incinerado na nossa sala?
SOMIR: Não sei…
SALLY: Minhas roupas… perdi tudo!
SOMIR: Calma, Sally
SALLY: Ainda bem que temos seguro, ainda bem que temos dinheiro…
SOMIR: *suando frio
SALLY: O que foi?
SOMIR: Não temos seguro
SALLY: MAS EU MANDEI VOCÊ FAZER!
SOMIR: Mas eu não fiz
SALLY: Tudo bem, mas pelo menos temos a empresa. A gente compra tudo de novo aos pocuos…
SOMIR: Sally…
SALLY: Somir?
SOMIR: Eu tenho uma má notícia para te dar…
SALLY: Hã?
SOMIR: Todos os documentos, investimentos e dinheiro da empresa estavam naquele apartamento
SALLY: E isso quer dizer que…?
SOMIR: Estamos pobres

DRAMA! CAPÍTULO 18, CENA 5:

Na porta da comunidade Nova Esperança, Sally e Somir chegam com o rosto sujo de cinzas e o dinheiro que tinham em seus bolsos.

SOMIR: Olha isso… OLHA ISSO! VISÃO DO INFERNO!
SALLY: Somir, eu odeio pobre…
SOMIR: Eu também, Sally…

O casal olha para um lado e vê Lindamar com um biquini microscópico tomando sol na lage, com o corpo coberto de água oxigenada, com um fone de ouvido, cantando Roberto Carlos. Olham para o outro e observam Carlão fazendo um churrasquinho em outra lage, com camisa de candidato amarrada na cabeça, enquanto Pantera, com óculos escuros na testa bate em um pandeiro e canta um pagode.

SALLY: Somir, eu vou ter um troço
SOMIR: Calma, Sally, pense que isto é provisório
SALLY: Somir, eu vou ter um troço, eu sou alérgica a pobre, eu não sei viver que nem pobre!
SOMIR: Não mais do que eu

O casal olha para o bar da esquina e vê Pilha completamente bêbado, no andar de cima, cantando “Quando Deus te desenhou” em um karaokê, enquanto que no andar de baixo Kelly dança um funk proibidão com um short intra-uterino e mais meia dúzia de mulheres gordas de topo abóbora e barriga de fora.

SALLY: Eu vou morrer. Eu não vou aguentar
SOMIR: Calma, Sally
PILHA: Quaaaando Deeeus te desenhooou…
SALLY: EU ESTOU TENDO UM COLAPSO ESTÉTICO!
SOMIR: É temporário
PILHA: Ele tava namoraaaaandooo…
SALLY: EU ESTOU TENDO UM CHOQUE SOCIAL!
SOMIR: Sally…
SALLY: Que foi?
SOMIR: Coragem, vamos entrar na nossa nova casa…

CONTINUA…

DRAMA! CAPÍTULO 17, CENA 1:

Depois do retorno ao lar, Somir deixa o mendigo amputado no carrinho de supermercado enquanto procura por Sally. Depois de bater na porta do quarto do casal algumas vezes, finalmente é atendido por sua esposa:

SOMIR: Porra, dormiu com a pobralhada solta aqui dentro?
SALLY: A minha tia-avó… ela está por aí?
SOMIR: Está dormindo na sala.
SALLY: A gente vai precisar de uma enfermeira para tomar conta dela…
SOMIR: TINHA UM MONTE LÁ NO ASILO!
SALLY: E você quer que eu leve a velha de volta? Ela vai lembrar de tudo!
SOMIR: Você que se vire com ela… Eu trouxe o mendigo!
SALLY: Somir, as coisas saíram de controle.
SOMIR: Larga de ser fresca… A gente vai ganhar essa. Temos uma velha caquética, um retardado e um amputado aqui. Ninguém pode com a gente!
SALLY: A casa já está fedendo, Somir…
SOMIR: Não, esse é o cheiro da vitória! Doce cheiro da… *fungada* Eca…
SALLY: Eu disse.
SOMIR: Que seja, vai ser só por um tempo. Vamos reunir nossos podres e fazer uma força-tarefa contra os podres deles.

Somir e Sally voltam até a sala, onde deparam-se com o mendigo se arrastando com o carrinho de supermercado até o rack da TV.

SOMIR: Opa! Tira a mão daí!
MENDIGO: Você disse que ia me arranjar alguma coisa para comer!
SOMIR: Uma vez pedinte… Sally, faz um sanduíche para o motorista de carrinho de supermercado aí.
MENDIGO: Capricha!
SALLY: Minha tia-avó está tão quietinha…
SOMIR: A gente cutuca ela com alguma coisa na hora de mostrar para os vizinhos de cima.
SALLY: Quietinha demais, Somir.
SOMIR: EI! ACORDA!

Somir, Sally e o mendigo olham fixamente para Rosemary, largada na cadeira de rodas. Sally se aproxima lentamente, tapando o nariz, e cutuca o ombro da idosa seguidas vezes.

SALLY: Tia? Tia? Tia Rose? Oi?

Juntando coragem, a nossa protagonista coloca a mão no pescoço da velha imóvel.

SALLY: Ai meu Deus! Ai meu Deus! Tá gelada, Somir! Tá gelada!
SOMIR: O QUE VOCÊ FEZ COM A VELHA, SAFADO? *olhando para o mendigo*
MENDIGO: Ei! Sai pra lá! Ela já estava assim quando eu cheguei! Eu vou dar o fora daqui!

Enquanto o mendigo tenta correr o carrinho que o transporta pelo apartamento em direção à saída, Somir começa a pensar em voz alta:

SOMIR: Se a gente chamar uma ambulância, vai parecer menos suspeito… Se bem que uma velha dessas morrendo é muito comum… A gente pode dizer que foi a barulheira lá de cima que não a deixou dormir e…
SALLY: Eu matei a minha tia Rose…
SOMIR: Matou como, maluca?
SALLY: Ela queria ser trocada, eu não tive coragem… E ela morreu…
SOMIR: Se bunda suja matasse, nenhum de nós estaria aqui!
SALLY: Eu fui negligente, me escondi no quarto. Eu poderia ter chamado uma ambulância se tivesse visto na hora…
SOMIR: Calma, calma… Ninguém precisa saber disso.
SALLY: Hã?
SOMIR: Isso aqui é Brasil! Você acha que o CSI vai aparecer aqui e descobrir o que aconteceu? Faz que nem sua tia e fica fria!
SALLY:

*estrondo*

MENDIGO: Aaaaiiii!
SOMIR: Putaquepariu! *correndo até a porta*

Somir observa o mendigo estabacado no chão, provavelmente ao tentar abrir a porta numa tentativa de fuga.

SOMIR: Quem disse que você podia ir agora?
MENDIGO: Por favor, não me mata também!
SOMIR: Eu não matei ninguém! A minha esposa que matou!
SALLY: *começando a chorar*
SOMIR: Ai meu saco!

DRAMA! CAPÍTULO 17, CENA 2:

No apartamento superior, a governanta perde sua habitual calma ao observar sua patroa tetraplégica inconsciente debaixo de sua cadeira de rodas motorizada.
GOVERNANTA: Helena! Ai meu Deus! Carlos! Carlos!
CARLÃO: Dããã!
GOVERNANTA: Me ajuda a tirá-la dali!
CARLÃO: Eu sou mongoooo!
GOVERNANTA: Não ligo para o seu time, seu cretino! VAI LOGO!

Carlão, resignado, desiste de sua interpretação e ajuda a governanta a recolocar Helena de volta em sua cama.

GOVERNANTA: Chama uma ambulância! Liga pro 190!
CARLÃO: Qual o número?
GOVERNANTA: Você é retardado?
CARLÃO: Não sô mais.
HELENA: Ai minha cabeça…
GOVERNANTA: Dona Helena! Você está bem?
HELENA: O que aconteceu?
GOVERNANTA: Você caiu da sua cadeira de rodas…
HELENA: Não me lembro de nada… ai… dói… *colocando a mão na cabeça*
GOVERNANTA: … *boquiaberta*
CARLÃO: … *cutucando o nariz*

Enquanto isso, na sala de estar:

OLAVO: Pombinha, vamos sair daqui antes que eu perca esse emprego.
KELLY: Não! Eu não vou ser destratada assim!
OLAVO: Mas ninguém te convidou, amorzinho…
KELLY: Eu não me produzi toda à toa! Até me depilei! Ó! *abrindo as pernas novamente*

Nesse mesmo momento, o Sr. Antunes adentra o recinto:

SR. ANTUNES: Isso não me é estranho…
OLAVO: Pombinha! *colocando o corpo na frente*
KELLY: O senhor deve ser o Sr. Antunes!
SR. ANTUNES: E vocês… *arregalando os olhos* Ai meu Deus!
OLAVO: Estamos aqui apenas para fazer uma visita de negócios.
KELLY: Ou o negócio pode me visitar também. *piscando*
SR. ANTUNES: O que vocês querem? Dinheiro? Digam o seu preço.
OLAVO: Pensei que o pagamento seria mensal…
SR. ANTUNES: Mensal? Que seja! Quanto? Cinco mil?
KELLY: Olavinho, você é bom de negócios…
OLAVO: O combinado era 400 por mês…
KELLY: Cala a boca, Olavo! Deixa essa comigo. Vamos conversar em particular, Adalberto.
SR. ANTUNES: Que seja, vamos para o meu escritório.
KELLY: Já volto, amorzinho. Vou conseguir o melhor acordo para a gente…
OLAVO: Tudo bem… mas… como você sabia o nome dele?
KELLY: Shhh… Agora a Kellyzinha aqui vai fazer o que sabe melhor.
OLAVO: Tudo bem, pombinha.

DRAMA! CAPÍTULO 17, CENA 3:

No apartamento dos Somir, mais precisamente na cozinha:

LINDAMÁR: Eles acharam a velha! *encostada com o ouvido na porta*
PILHA: Então é problema deles agora. *comendo um sanduíche*
LINDAMÁR: Volta pra sua cadeira, seu vagabundo!
PILHA: Você não cozinha pra mim em casa, eu como quando eu consigo!
LINDAMÁR: Eles vão descobrir a gente e… *celular tocando*

Lindamár atende:

PANTERA: Linda? Linda? Pelamordideus!
LINDAMÁR: Fala, panterinha!
PANTERA: Eu vou precisar da cadeira de rodas de volta, vão me linchar aqui!
LINDAMÁR: De noite eu devolvo.
PANTERA: Tem que ser agora! O pai da criança me pe…

A porta da cozinha se abre, Somir dá de cara com Pilha sentado na mesa de jantar, com as pernas balançando. Lindamár desliga o celular e fica sem ação:

SOMIR: Vocês… fingem… que não sabem o que aconteceu na sala e eu… esqueço isso…
PILHA: Fechou! *continua a mastigar normalmente*
SOMIR: Eu acho que te conheço de algum lugar.
PILHA: Todo mundo me conhece! Eu sou um rockstar!
SOMIR: Se fingindo de retardado para ganhar um aumento para sua esposa diarista?
PILHA: Eu pelo menos não estou te julgando, matador.
SOMIR: … Eu preciso me livrar daquele mendigo.
PILHA: Quanto você paga?
SOMIR: O aumento continua depois que eu não precisar mais de você.
PILHA: Linda?
LINDAMÁR: Essa casa toda vai para o inferno…

CONTINUA…

DRAMA! CAPÍTULO 16, CENA 1:

No apartamento dos Antunes, Helena parece entediada em seus aposentos:

HELENA: Carlos! Carloooos!
CARLÃO: Êêêêêê! *batendo palminhas*
HELENA:
CARLÃO: Dããã… Mongo! *apontado para si mesmo*
HELENA: Seu time ganhou de novo? Bom… não importa! Me coloque na minha cadeira motorizada, sim?
CARLÃO: Eu sô mongo! Quero aumento! Êêêêê! *mais palminhas*
HELENA: Se você quer um aumento mesmo é melhor fazer o que eu mando.

Carlão busca a cadeira de rodas motorizada e a posiciona ao lado da cama. Gentilmente ele pega Helena no colo e começa o movimento de acomodá-la. Mas, com um movimento brusco, ele a vira de ponta-cabeça e deixa suas pernas no lugar onde deveria estar a cabeça.

HELENA: O que é isso?
CARLÃO: Êêêêê!
HELENA: Pára com isso, maluco! Eu estou de ponta-cabeça. Não! Não prende o cinto de segurança comigo assim! Carlos!

Carlão termina de afixar a tetraplégica ao contrário e começa a apertar botões aleatórios na tela de controle.

HELENA: Se eu fui grossa com você, perdão!
VOZ ROBÓTICA: Aleijetic 3000 em funcionamento. Modo piloto-automático ligado. Conectando ao servidor GPS. O seu destino é Pequim, China.
HELENA: Desliga isso! Desliga is… Ahhhh!

A cadeira começa a se movimentar sozinha. Carlão continua cantando e aplaudindo enquanto observa Helena bater seguidas vezes na parede.

HELENA: Ah! Socorro!
VOZ ROBÓTICA: Obstáculo detectado. Corrigindo rota. *bate na parede*
HELENA: Ai!
VOZ ROBÓTICA: Obstáculo detectado. Corrigindo rota. *bate na parede*
HELENA: Ai!
VOZ ROBÓTICA: Obstáculo detectado. Corrigindo rota. *bate na parede*
HELENA: Ai!
VOZ ROBÓTICA: Obstáculo dete…

CARLÃO: Tchau! *saindo do quarto*

DRAMA! CAPÍTULO 16, CENA 2:

No apartamento debaixo, Sally tenta se proteger dos potentes flatos de sua tia-avó escondida no quarto de casal:

SALLY: “Se eu não abrir a porta, nada vai me incomodar aqui.”

Os barulhos no apartamento de cima recomeçam.

SALLY: “Eu não mereço isso…”

Sally desiste de seu refúgio e resolve enfrentar a situação de frente. Aquilo tinha saído totalmente de controle e era hora de assumir as responsabilidades! Saindo do quarto, depara-se com Rosemary e seu sorriso terno.

ROSEMARY: Sallyta, ainda bem que você saiu. Eu preciso ser trocada. Essa foi daquelas, minha filha…

Sally bate a porta do quarto e volta a se esconder.

ROSEMARY: Sally?

DRAMA! CAPÍTULO 16, CENA 3:

De volta ao apartamento dos Antunes, a campainha toca. A governanta prontamente atende à porta:

OLAVO: Boa tarde.
GOVERNANTA: Senhor Olavo, receio que hoje não precisaremos de seus serviços. O Sr. Antunes está em casa.
OLAVO: Poxa, mas que pena… Volto amanhã?
KELLY: Que mané volta amanhã! Falta de educação convidar e não deixar entrar!
GOVERNANTA: A senhora foi convidada?

Kelly passa pela governanta e começa a contabilizar mentalmente o valor dos objetos dispostos no apartamento.

GOVERNANTA: E essa seria?
OLAVO: Perdão, é minha esposa. Ela fez questão de vir junto.
GOVERNANTA: O Sr. Antunes não pode saber sobre as aulas.
OLAVO: É tão difícil dizer não para ela…

DRAMA! CAPÍTULO 16, CENA 4:

Enquanto isso, no andar abaixo:

LINDAMÁR: Senta na cadeira, drogado!
PILHA: Relaxa, o gordo saiu e a madame se enfurnou no quarto. O que tem para comer aqui? *abrindo a geladeira*
LINDAMÁR: Porrada! A porrada que vai comer se você estragar a minha chance de aumento! Senta de volta na cadeira ou eu vou dar tanto na tua cabeça que você não vai precisar nem fingir que é retardado!
PILHA: Você fica um tesão quando fica puta da vida assim!
LINDAMÁR: Hihihihi…
PILHA: E olha que com essa cara torta é bom aproveitar tudo quanto é chance de eu te comer sem pensar em outra…
LINDAMÁR: Hihi… Hã?
PILHA: Nada não! Vem com o papai aqui que hoje a gente vai estrear essa cozinha!
LINDAMÁR: Não sei se devo… Eu sou uma donzela de família.
PILHA: Então por que já está pelada?
LINDAMÁR: Se eu fizer doce pra dar, pelo menos eu caso de bege.
PILHA: Opa! Tem chantilly aqui na geladeira!

DRAMA! CAPÍTULO 16, CENA 5:

No apartamento dos Antunes, Kelly está sentada no sofá da sala de estar, com um vestido que mal cobre suas pernas cruzadas. Tão cruzados quanto, seus braços denotam teimosia:

KELLY: Não saio daqui sem conhecer seu patrão!
OLAVO: Mas, pombinha… Eu disse que você não poderia conhecê-lo!
KELLY: Você também me diz para usar calcinha… E olha só! *abrindo as pernas*
GOVERNANTA: Deixe-me adivinhar, conheceu ela numa igreja?
OLAVO:
GOVERNANTA: Se a senhora não se retirar, eu serei obrigada a chamar a segurança.
KELLY: Chama! Quero ver chamar! Eu faço um escândalo! *agarrando-se no sofá*
OLAVO: Deixe-me argumentar com ela um momento.
GOVERNANTA: Eu vou chamar Helena.

Enquanto Olavo tenta fechar as pernas de Kelly, a governanta dirige-se para o quarto de Helena. No caminho, encontra Carlão vestido com uma cortina, conversando com o aquário. Sem se desviar de seu rumo, encontra Helena desmaiada sob sua cadeira de rodas motorizada. As rodas ainda estão girando no ar.

DRAMA! CAPÍTULO 16, CENA 6:

Rosemary vaga com sua cadeira de rodas pelo apartamento dos Somir, à procura de alguém que possa trocar sua fralda geriátrica. Adentrando a cozinha, depara-se com Lindamár montada sobre Pilha, numa cena que só não é totalmente explícita pela quantidade de chantilly derramado sobre a bunda da diarista.

ROSEMARY: MEU DEUS!
LINDAMÁR: AAAI!
PILHA: Já gozou? Eu sou foda…

Lindamár pula de cima de Pilha e tenta se esconder puxando a toalha da mesa. Pilha, completamente exposto e em posição de ataque, sorri de forma marota.

PILHA: Você já deve ter visto muito disso no seu tempo, velha safada!
ROSEMARY: Meu coração…
PILHA: Ih, foi mal. Até eu tenho meus limites, dona. Pode olhar, mas não pode encostar.
ROSEMARY: Dói…
PILHA: Quando eu dei um pé na bunda da Juma ela também disse isso. Passa, viu?
ROSEMARY: Eu… vou… morrer… se…
PILHA: Sem chantagem! Vai, eu deixo você dar uma chu…
LINDAMÁR: Pilha! A véia vai empacotar!
PILHA: Vai nada! Ela quer um pouco do Pilha aqui. Mulher é tudo igual quando vê um macho que nem eu.
LINDAMÁR: Liga pro 911!
PILHA: É 190 aqui no Brasil, sua ignorante!
LINDAMÁR: É culpa minha que só chamam polícia em filme americano?
PILHA: No capítulo de ontem da novela eu acho que chamaram… Foi a das sete?
LINDAMÁR: Não, acho que só teria motivo para chamar na das oito.
PILHA: Pode ser… Já descobriram quem era o amante da…
ROSEMARY: Nnngh. *suspiro*
PILHA: Xiiii…
LINDAMÁR: Morreu, Pilha! A véia morreu!
PILHA: Só morreu se tiver testemunha. *piscadela*
LINDAMÁR: Seu MONSTRO!
PILHA: Quer explicar pro delegado que matou a véia do coração mostrando o seu cu piscando chantilly?
LINDAMÁR: O que a gente faz?

Pilha se veste apressadamente e empurra a cadeira de rodas para fora da cozinha. Lindamár também se recompõe e acompanha.

PILHA: Porra, morto fede!
LINDAMÁR: Mais respeito! Ela está com Jesus agora!
PILHA: Azar dele! Vê se a patroa tá na sala…
LINDAMÁR: Tá limpo!
PILHA: Agora a gente deixa a véia aqui e vão achar que ela morreu sozinha. Vem! Vamos voltar para a cozinha e fingir que não sabemos de nada!

Lindamár e Pilha se isolam novamente. Sally continua trancada no quarto de casal. Somir abre a porta, acompanhado de um mendigo com as duas pernas amputadas enfiado num carrinho de supermercado.

SOMIR: Sally?

CONTINUA…

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