Ela está tendo um filho por baixo da mesa.

O mantra das pessoas “envejadas” intitula a coluna de hoje, nada mais condizente com a argumentação apresentada. Voltando às raízes desta seção do blog, hoje Somir sugeriu uma idéia que deixou Sally revoltada.

A idéia de que é um mito que a vida de um homem seja mais fácil do que a de uma mulher. Enquanto ele diz que no final das contas a vida de todo mundo é mais ou menos complicada por igual, ela defende com unhas e dentes que as mulheres tem que se esforçar muito mais.

E vocês, leitores, terão que se esforçar e defender o seu ponto de vista também.

Tema de hoje: A vida do homem é mais fácil do que a da mulher?

Não. A vida de uma pessoa mais abastada é mais fácil do que a de uma pessoa mais pobre. Essa diferenciação percebida entre o esforço feminino e o masculino tem mais a ver com a necessidade de aprovação das mulheres.

A minha argumentação é sim sexista, já que diferencia a visão masculina e a feminina sobre a vida, mas considerando que homens e mulheres são realmente muito diferentes física e psicologicamente, é praticamente impossível não abordar o assunto desta forma.

O mito sobre a vida fácil de um homem só existe porque as mulheres sentem menos prazer na cooperação pela vantagem do grupo. Até por questões evolutivas, homens aprenderam a separar a competição interna da necessidade de trabalhar em equipe. Mulheres estão em eterno estado de disputa.

A sociedade precisa de pessoas que levantem cedo toda manhã e trabalhem nas mais diferentes profissões para que as coisas continuem funcionando de forma razoável. Homens trabalham porque precisam trabalhar. Mulheres trabalham porque são heroínas, guerreiras, seres incansáveis… Seja lá o discursinho da moda que é dito no Dia da Mulher. Existe uma necessidade feminina de ser reconhecida pessoalmente por uma função social obrigatória.

Afinal, a parte da função social não é tão gratificante para elas como é para os homens. Precisam de um extra. Precisam ser as mulheres trabalhadoras. Como se fosse um sacrifício inacreditável para as fêmeas da espécie e algo trivial para os machos.

As super-mulheres trabalham! Palmas para elas. Mas isso não é tudo! Elas ainda tem que estar lindas o tempo inteiro! Magras, maquiadas, bem vestidas… Ignorando o fato de que grande parte dos homens gosta de curvas, pouca maquiagem e não dá a mínima para moda. Será que esse sacrifício todo pela estética não visa agradar o sexo oposto? Esse tormento pela beleza não seria apenas mais uma forma de continuar disputando com outras mulheres? Não, isso tudo é a força e a coragem das mulheres de Esparta!

Homens estão disputando entre si o tempo todo também. Quem pega mais mulher, quem tem mais dinheiro, quem tem mais poder… E muitas de nossas atitudes realmente não estão ligadas com a vontade de agradas às mulheres. Mas você vê homens dizendo para as mulheres que sofrem terrivelmente e querem compensações por ficarem disputando “quem tem o pau maior” para as mulheres? A disputa aqui é mil vezes pior do que a das mulheres entre si (quando as mulheres se metem a disputar no mercado de trabalho, acabam chorando no banheiro da empresa…), mas homem que é homem não reclama, encara o problema que nem homem ou se afunda ainda mais na disputa interna.

Não queremos palmas ou belas canções nos dizendo como somos especiais, queremos vencer as disputas. Mas já que as mulheres fazem tanta questão assim de tapinhas nas costas, dizemos que realmente elas que sofrem tudo no mundo. É até bom porque entra menos gente na disputa real para saber quem manda de verdade. Queremos vencer.

E, claro, além de trabalhar e ficar linda, ainda tem que ficar grávida e cuidar de filho. Ah, o milagre da vida. O milagre de desenvolver um feto e depois dar a luz. Homem nenhum faz isso. Mas… existe alguma outra forma de ter um filho que não colocando ele dentro de um útero? Não estou fazendo pouco das mulheres por causa disso, estou apenas dizendo que não é mágica, uma mulher é obrigatória no processo, assim como um homem. Claro que a mulher tem a parte mais difícil, mas não é como se as mulheres fossem obrigadas por lei a engravidar e parir.

Ossos do ofício. Tanto que na maioria absoluta das sociedades, as mulheres tem várias formas de compensação pelo fato de engravidar. Pode-se argumentar que o tempo de licença é pouco, mas não que o sacrifício passa despercebido. Só que isso não é suficiente para uma mulher. Ela tem que ser o milagre da vida personificado. Temos que orquestrar a idéia de que ela passa por um martírio pelo bem de outra vida, e que ela é única, especial e maravilhosa por isso.

A noção de responsabilidade pelos próprios atos e o prazer intrínseco do ato de funcionar em grupo sem tratamento diferenciado é o que faz um homem ser o que é. Se alguns bananas fazem errado, eu não vou tratá-los como regra da mesma forma que não trato mulheres preguiçosas e interesseiras como padrão.

Lembrem-se que um grupo de homens encheria de porrada um homem batendo numa mulher, e um grupo de mulheres aplaudiria uma mulher batendo num homem. Ninguém tem vida mansa, mas um gênero tem proteção especial de ambos. Uma proteção que visa equilibrar as diferenças de porte físico e agressividade entre homens e mulheres.

Eu jamais teria coragem de dizer que vida de mulher é mais fácil, pois não é. Vida de mulher é uma vida humana, e a vida humana nunca é fácil.

É óbvio que eu vou perder essa discussão. Mulheres não VIVEM sem essa carga extra de aprovação. É quem nem entrar numa igreja evangélica e berrar que deus não existe. E a comparação vai ainda mais longe:

A idéia de que mulher sofre mais no mundo é uma “muleta”.

Quem se fode mais na vida é pobre.

Para me chamar de machista, para dar chilique e dizer que sofre horrores e que o problema da sua vida é não ser um homem, ou mesmo para dizer que não babar ovo para mulheres em geral é coisa de “viaaadoooo”: somir@desfavor.com


FAZ-ME RIR! Sério, nem acreditei quando o Somir sugeriu esse tema! Porque convenhamos, eu venho perdendo de lavada aqui no Ele Disse, Ela Disse. Minhas opiniões vem sendo preteridas em detrimento das opiniões Ursinhos Carinhosos do Somir! Mas hoje eu vou ganhar de goleada, porque o tema é RI-DI-CU-LO.

EM 1920, quando o homem tinha que ser o provedor, sustentar mulher e filhos e ser viril sem existir viragra eu até poderia considerar que a vida era mais fácil para a mulher do que para o homem. MAS HOJE? FAZ-ME RIR 2! ONDE que homem tem mais responsabilidades que mulher? Só se for no Rancho Fundo, onde a Madame mora, porque por aqui, não existe mais disso não!

Mulher tem que ser capaz de se sustentar, mesmo que tenha um homem, porque senão, é encostada, acomodada, sem ambição ou interesseira. Então, lamento, mas o papel de provedor dos homens já era, ele é, no mínimo, dividido com a mulher – isso quando a infeliz não sustenta a casa e ainda cria filho sozinha. Mulher tem que estar sempre linda, porque a ditadura da beleza e os próprios homens cobram isso dela. Linda = magra, sem rugas, sem cabelo branco, etc. Linda e jovem. Me digam UMA mulher que tenha cabelo branco e seja considerada sexy pelos homens? Porque eu te digo uma penca de homens: Sean Connery (que tem uns 300 anos e continua um gato), Richard Gere e até mesmo o sofrível e onipresente José Mayer. E uma tecla na qual eu sempre vou bater: DEPILAÇÃO. Até passar cera quente na virilha e puxar, NENHUM HOMEM DO MUNDO vai me dizer que sua vida é mais difícil que a minha. E depilação é só o básico. Bota homem para fazer tratamento estético avançado e me conta como ele sai de uma carboxi. Mas não precisa! Sabe porque? Homem pode ser gordinho, careca e barrigudo que se tiver um charme, um bom papo, vai arrumar alguém. Mulher feia? Se tiver um bom papo, vira amiga, isso com sorte!

Vamos falar de sexo? Homem pode comer geral que continua sendo garanhão, mesmo no século XXI. Já mulher… E homem ainda tem viagra para tomar quando o bilau começa a parar de funcionar direito. Sem contar que tem muito mais facilidade para conseguir um orgasmo: homem come praticamente qualquer coisa! Bananeira, mamão no microondas, boneca inflável e ex-mulher baranga.

Homem não fica menstruado todo mês. Homem não tem que parir. O que você tem para me dizer da sua vida tão sofrida, Madame? Que é chato fazer a barba todo dia? CERA QUENTE NA SUA VIRILHA, SEU MALA SEM ALÇA! Mulher não tem que fazer barba mas tem que “fazer” PENA, AXILAS, VIRILHA etc. Homem não lida com mudança hormonal no seu organismo, não tem TPM, não tem cólica menstrual. Homem não tem que se encher de hormônios porque é o único método anticoncepcional realmente seguro e não tem que fazer aborto quando tudo dá errado. Nem amamentar de duas em duas horas quando tudo dá certo. Nem passar nove meses do tamanho de um fusca, penando com gases e hemorróidas. Homem é uma raça BABACA e filha da puta que reclama a toa e que acha que vai morrer por causa de uma gripe. Homem vai se arrumar para sair e toma um banho, veste uma calça e uma camisa. Mulher? Leia o texto Bastidores.

Homem não tem obrigação social de saber realizar serviços domésticos. Quando o sabe, ainda se vangloria, como se isso fosse um plus no seu curriculum de ser humano. Vai uma mulher viver sua vida adulta dizendo que não sabe cozinhar nem passar uma roupa e veja só o que vão dizer dela. Qual é grande esforço que demanda ser homem hoje em dia? Ter que dar uma porrada no cara que passou a mão na bunda da sua mulher? Pois nem isso os homens de hoje andam fazendo. Tudofrouxo.

E mesmo com toda esta sobrecarga, mulher ainda ganha menos do que homem no mercado de trabalho. E só para dar uma sacaneada extra na gente, quando se trata de força física, eles são superiores à gente, nem porrada a gente pode dar nesses filhos da puta! E enquanto você, Zé Ruela, vai a um encontro com sua cuequinha preta confortável, nunca saberá o quanto sofre uma mulher com uma bela lingerie encravada no meio do rabo, rezando pro jantar acabar logo e ela poder tirar aquilo.

Deve ser uma delícia andar na rua e não ter que ouvir baixarias de trabalhadores da construção civil. Deve ser bom sair à noite e não levar puxão de cabelo. Deve ser bacana andar em um transporte público lotado e não ser encoxada. Deve ser ótimo nunca na vida ter levado uma mão na bunda contra a sua vontade. Deve ser uma delícia não ter que ouvir dia sim, dia também um “e aí? qual é a boa de hoje?” de um Zé Ruela qualquer. Deve ser bom ter que mijar fora de casa e fazê-lo de pé, sem molhar as próprias pernas nem os tornozelos.

E tem também a asquerosa teoria do Prisma Invertido. Não é de minha autoria, mas vou reproduzi-la. A capacidade de atrair parceiros do homem é a de um prisma invertido: quando ele tem 16 anos, ele consegue pegar pouquíssimas mulheres (as de 12 ou 14, porque as de 16 querem homens mais velhos). A medida que ele vai envelhecendo, vai somando possibilidades. Com 50, um homem pode atrair mulheres de 16 a 80 anos. Já a mulher… com 16 ela pode ter o homem que quiser, mas com o passar dos anos, suas chances vão DIMINUINDO em vez de aumentar! Parece fácil essa vida?

Olha, não que eu não ache melhor ser mulher, eu realmente acho melhor. Mas não tenho dúvidas de que ser mulher HOJE EM DIA é muito mais difícil do que ser homem. Eles nunca vão saber, porque nunca poderão ser mulher por um dia, mas se pudessem, pediriam perdão de joelhos.

EU ME SINTO OPRIMIDA POR ESTE TEMA. ESTE TEMA É UM INSULTO. CHAMO AS MULHERES A VIREM EM MASSA NOS COMENTÁRIOS PROVAR POR A + B QUE É MUITO MAIS DIFÍCIL SER MULHER DO QUE HOMEM.

Para dizer que você se deprimiu com a teoria do prisma invertido, para dizer que enquanto homem não depilar virilha com cera quente você nem vai dialogar e para gritar em coro “TUDOFROUXO!”: sally@desfavor.com

Dá pra mim...

Consideremos a seguinte situação: Um de seus amigos, e façamos a distinção entre amizade verdadeira e coleguismo, está usando drogas de forma abusiva, seguindo um caminho à lá Rafael Pilha rumo ao fim da linha.

Você chegaria ao ponto de contar isso para as outras pessoas próximas na vida dessa pessoa? Pais, irmãos, outros amigos próximos, namorada(o)…

Sally e Somir discordam, para variar.

Tema de hoje: “Entregar” um amigo drogado para as pessoas próximas dele?

Fatos e lógica ajudam pessoas, sentimentalismo não. Portanto, sim, eu conto e faço o que achar necessário para mostrar que há sim um “elefante na sala”. E eu digo isso porque em grande parte das vezes essa idéia de que fingir que não está vendo é o caminho que pessoas próximas de um viciado “terminal” tomam.

Estamos falando de uma pessoa que está tão desestabilizada a ponto de ser um perigo para a própria vida e à vida de outros. Já é o drogado que rouba “um real e um passe” para comprar drogas pesadíssimas. A pessoa que já está fora de si por causa do vício.

Não me importa minimamente a questão de escolha pessoal do drogado aqui. Existe uma linha entre comportamento perigoso e completo desastre, e alguém assim já está fora do campo das escolhas. Não abandona o vício sozinho, questão fisiológica. Somos matéria. Não existe força de vontade mágica que reverta um cérebro em completo colapso por si só.

E depois dessa linha de desastre, existe outra, a sem volta. É tanto neurônio frito que a pessoa não se recupera. Mas essa é basicamente impossível de se perceber a não que tenhamos evidências reais.

Como eu sou realista e não acho possível ler mentes, não dá para dizer que o fulano completamente drogado jogado na sarjeta está pensando de forma racional sobre o seu comportamento. E eu não respeito pessoas que não pensam de forma racional. Portanto: Foda-se a escolha pessoal desse amigo. Vai ME fazer mal deixar alguém de quem eu gosto na mão dessa forma. E façamos uma distinção vital aqui:

Apoiar sem confrontar uma pessoa que está se matando é a mesma coisa que ajudar a matá-la. E isso não faz o menor sentido. Falamos sobre amigos aqui. Até mesmo abandonar completamente essa pessoa é mais útil.

E a partir dessa noção, temos duas possibilidades:

Essa pessoa está suficientemente distante de familiares e outras pessoas próximas além de você para que você seja quem realmente pode perceber o problema. Nesse caso, é questão de lógica simples tentar aumentar o grupo de pessoas interessadas em ajudar seu amigo.

Ou ela está suficientemente próxima de outras pessoas que deveriam se interessar em ajudar para sabermos que essas pessoas estão se omitindo propositalmente. E eu não tenho NENHUMA simpatia por quem finge que não está vendo a realidade. Avisar de forma clara e inequívoca que seu amigo está se destruindo tira qualquer chance de auto-perdão por ignorância.

Quer fingir que não está vendo? Direito seu. Agora, querer te fazer sentir o cheiro da merda e sofrer o máximo possível e imaginário em cada etapa desse processo de auto-enganação é direito meu. Tem gente que só acorda quando a verdade é impossível de se negar.

E é a mesma gente que te acha um monstro quando você percebe a batalha perdida e se afasta. Se quer falar mal da pessoa que tentou ajudar o quanto pode e desistiu por não ver solução, que pelo menos tenha a decência de ter feito o mesmo.

A escolha está com as pessoas que não estão dopadas além da capacidade humana de compreensão do mundo que as cerca. Quando eu faço a minha escolha de tentar até onde achar que há possibilidades reais de solução, não vou deixar esse bando de hipócritas que acham o afastamento uma crueldade enquanto ignoram uma pessoa próxima saírem no lucro.

Podem até fazer pose para a opinião pública, mas vão saber pelo resto de suas vidas que tinham como tentar fazer algo para ajudar essa pessoa e ESCOLHERAM fazer a pessoa sofrer ainda mais. Porra, assumam a responsabilidade de suas ações, pelo menos.

E eu estou sendo amargo, achando que ninguém vai tentar ajudar.

O que acontece em alguns casos, mas não em todos. Gente que está fingindo que não vê precisa levar um tapa na cara dos fatos para ver se começa a pensar de forma lógica e tentar resolver um problema.

Mais uma vez, é uma questão numérica: Por mais que não se possa garantir que o viciado em questão tenha solução, é melhor ter apoio de outras pessoas nessa tentativa. O mais importante é tentar pelo menos recuperar a pessoa o suficiente para que ela tenha novamente a capacidade de fazer escolhas racionais.

O drogado só vai se recuperar quando quiser mesmo. Mas quem garante que ele já não passou desse ponto, talvez até por negligência de pessoas próximas (incluindo você)? Não custa tentar. Eu gostaria que tentassem pelo menos uma vez comigo se fosse o caso. “Limpa” a pessoa por um tempo, mesmo que na base da porrada, e espera para ver como ela reage.

Se realmente for um caso sem volta, que pelo menos quem participou da tentativa de resgate possa viver com a paz de ter feito alguma coisa ÚTIL.

E que quem se omitiu para “não sofrer” receba com juros e correção tudo o que preguiçosamente tentou evitar. Pelo menos vai me fazer feliz. Aposto que meu amigo gostaria de me ver feliz.

Para dizer que até minha solidariedade é egoísta, para dizer que vai fingir que não entendeu o texto para ter uma vida mais tranqüila, ou mesmo para pedir um pouco do que eu estou usando: somir@desfavor.com


Uma amiga (pode ser amigo também, onde se lê “amiga” leiam “amigo(a)”) sua começa a usar drogas de forma auto-destrutiva. Não estamos falando de uso esporádico e sustentável, estamos falando de dependência química hardcore, um Rafael Pilha Way Of Life. Você procura pessoas próximas a essa amiga, como parentes e namorado(a) para advertir sobre a situação?

Talvez todos respondam que sim. Eu não procuraria. Eu acho um horror fazer isso, ainda que seja para o suposto bem da pessoa. Já me deparei em muitas situações na vida onde pessoas estavam (ou diziam estar) em situações sérias onde poderiam se fazer algum mal e nunca me meti a ir falar com Papai e Mamãe da pessoa. Sim, eu acho isso um vexame. Fui inclusive acusada de ser má amiga por causa disso. O máximo que fiz ao ser pressionada para me meter foi dizer aos amigos que pretendiam se meter: “Se VOCÊ quiser fazer uma porra dessas, você faz, eu não vou te impedir, mas eu não vou fazer”.

Dá licença de me sentir ridícula de pegar um telefone, com trinta anos na cara, e ligar para importunar o pai e a mãe de outra pessoa de idade similar? GEZUIZ, é meio óbvio que o que esses pais podiam fazer pela pessoa, já fizeram! Vai fazer o que com uma pessoa de mais de 20 anos que insiste em DAR TRABALHO ao pais, em vez de dar sossego para que eles envelheçam em paz? Quem dá trabalho aos pais por pura falta de estrutura para encarar os trancos da vida não merece um arauto para protagonizar esse vexame.

Além do que, se a situação da pessoa é tão calamitosa assim (lembrem-se, eu disse Rafael Pilha Way Of Life), como é que as pessoas que o cercam não percebem? Talvez não QUEIRAM ver, ou queiram ver e ignorar. Quem sou eu para esfregar problemas internos de uma família ou de um casal na cara dos envolvidos cobrando um posicionamento? Evidente que essas pessoas não tem a menor estrutura nem condições de ajudar, se não conseguem sequer ver um problema desse tamanho!

“Mas Sally, você viraria as costas para sua amiga?”. Não, claro que não. Eu tentaria ajudar. Mas sem meter terceiros no meio. E provavelmente não conseguiria, porque drogado é uma praga, se eles não quiserem, ninguém os faz parar de usar drogas. Mas meu ombro amigo sempre estaria ali, bem como meu ombro advogado. Sabe como é, né? drogado a gente vive tendo que tirar da delegacia. Até o último minuto eu estaria presente. Sempre que precisar, pode contar. Mas só. Ficar advertindo as pessoas que nos cercam não me cabe.

Acho que se trata de uma questão de respeito. Não me entendam mal, não tenho o menor respeito pela vontade de um drogado. Drogado não tem vontade, quer dizer, até tem: tem vontade de fazer merda. Se preciso fosse e estivesse a meu alcance, eu mesma colocava a amiga drogada contra sua vontade debaixo de cacete no meu carro e internava em uma clínica de recuperação e ainda pagava as despesas. O que eu respeito não é a vontade da pessoa, é a privacidade. A dignidade. Ir fazer fofoquinha para os pais da pessoa me faria sentir ridícula. Fica parecendo que quem faz isso, o faz para se promover, sentindo um certo orgulho por estar composta enquanto que a amiga drogada está ali, toda desconfigurada. Quanto mais publicidade se dá à derrota de uma amiga, pior. E para que? Para nada, porque no final das contas, isso não vai ajudar.

Além disso, uma parte muito pouco generosa de mim acha que quem voluntariamente se faz mal tem mais é que se foder, por mais que isso me doa. Eu sei, eu sei, me falta compaixão, tenho que trabalhar isso. Mas não consigo deixar de me sentir assim! Drogados, fumantes, alpinistas irresponsáveis, pessoas que nadam com orcas… etc. Não consigo sentir pena nem achar que foi uma fatalidade, foi escolha. “Mas Sally! Você é um monstro! A pessoa é VICIADA, ela não teve escolha!”. Teve sim. A primeira vez que colocou uma droga no seu organismo ela escolheu. Sabia dos riscos de ficar viciada, porque hoje em dia isso é amplamente divulgado, e escolheu. É, pois é. Eu falei que me faltava compaixão.

Acho que fazer um grande circo envolvendo amigos, familiares e parceiro acaba por validar a merda auto-destrutiva que a pessoa está fazendo. É como montar um espetáculo de péssimo gosto e chamar mais gente para bater palmas. Porque vamos combinar, quem quer se matar se mata silenciosamente, sem importunar os demais. Quem apela para uma vida estilo Rafael Pilha quer antes de mais nada chamar a atenção. E eu não vou recompensar essa atitude bizarra sendo anfitriã do circo. É um pedido de ajuda? Ótimo, eu vou ajudar, ou ao menos tentar. Sem fazer alarde, sem dar publicidade. Porque se EU não consegui salvar, duvido que pai, mãe e namorado que sequer perceberam o problema consigam. Vamos combinar, se pai, mãe e namorado não percebem que tem algo errado com uma pessoa Pilha Way Of Life, é porque são piores do que ela em matéria de estrutura emocional.

Pergunta básica: Alguém aqui acha que falar com pai e mãe de drogado adianta? Se pai e mãe tivessem esse poder de curar vício do filho, só órfão usava drogas. Anota aí: SÓ O VICIADO pode controlar seu vício. Claro que apoio ajuda. Mas apoio um amigo pode dar, não precisa correr e contar para as pessoas que o cercam. E mais uma vez repito: os pais que não percebem o uso ostensivo-pilha de drogas são o tipo que não vai saber/poder/conseguir ajudar em porra nenhuma.

Existem formas e formas de ajuda. Eu prefiro as não invasivas, aquelas que não expõe a intimidade da pessoa. Não que eu ache que vale a pena sacrificar uma vida em nome da intimidade, é que eu simplesmente acho que NÃO ADIANTA espalhar a informação para aqueles que cercam o viciado – a menos, é claro, que o vicado não seja um burro velho da minha idade e ainda esteja em situação de poder familiar. O que não é o caso.

É como diz o ditado: de boas intenções o inferno está cheio. Eu desconfio dessa tática de ir contar a papai e mamãe. Tem um ar meio dedo-duro que não me agrada. Tem um cheiro de invasão de privacidade. Parece um motivo socialmente justificável para que as pessoas joguem o nome das outras na lama, para sair bem na fita, como alma boa que salvou o dia. Eu só faço boas ações quando elas ficam anônimas, caso contrário, acho cafona.

QUANDO é possível ajudar, também é possível ajudar sem se valer deste recurso de contar para as pessoas próximas. Garanto que se fosse um problema igualmente letal mas cujo contar não fosse visto como uma coisa boa, ninguém falava nada. Ou por acaso alguém aqui abre a boca para dizer que sabe que o marido da amiga fez sexo com um traveco portador de HIV, que é melhor ela usar camisinha com ele? Não, né? Invasão de privacidade do mesmo jeito, com a diferença que quando se trata de drogas não tem o fator sexo, que é mais constrangedor.

Quer ajudar uma pessoa drogada, nível Pilha? Faça-o dentro das suas possibilidades, sabendo que suas chances são pequenas e sem se meter na vida e nas relações da pessoa. Dê conselhos, dê porrada, dê o que quiser, mas só entre vocês dois. Não deu? Que pena. Não sou heroína (com trocadilho)

Para me dizer que eu sou uma péssima amiga, para dizer que você conta meeeeesmo e para constatar mais uma vez que o Somir é o lado sensível do Desfavor: sally@desfavor.com

Moças... o ônibus não passa a essa hora...

A suposta profissão mais antiga do mundo não é um crime aqui no Brasil. Qualquer pessoa maior de idade pode até anunciar livremente no jornal seus serviços. Não é crime para quem se prostitui, não é crime para quem contrata. Mas não é exatamente um mercado salutar para seus participantes…

Sally e Somir discordam sobre a necessidade de se mudar essa situação. Ela defende a criminalização da atividade, ele prefere que as coisas continuem do jeito que estão.

Tema de hoje: Prostituição deveria ser crime?

Foi surpreendente quando Sally me sugeriu o tema. Ela, que nunca foi de defender a moralidade e os bons costumes da tradicional família católica brasileira… Dizendo que prostituição deveria ser crime? Até faria sentido se houvesse uma preocupação social embutida na opinião, mas não consigo enxergar como uma medida dessas resolveria algum problema na prática.

Não sou dotô adevogado, por isso vou trabalhar apenas com o bom-senso.
Leis, no final das contas, nada mais são do que regras de convivência social aprimoradas por milênios de evolução humana. E as nossas (mesmo que frequentemente desrespeitadas) são muito boas na média.

Comecemos pelo básico: O Estado até intervém no direito das pessoas de decidir o que fazer com o próprio corpo, mas o faz com certa lógica. Você pode fazer o que quiser com o seu próprio corpo… desde que esteja em suas faculdades mentais (minimamente) razoáveis e não coloque em risco outras pessoas ao fazer isso.

Por isso existe uma idade legal para começarmos a fazer várias coisas (desde sexo até dirigir um carro), por isso uma pessoa com atrasos significativos de desenvolvimento são consideradas incapazes, por isso algumas drogas são controladas ou mesmo proibidas… Existe uma linha de raciocínio aí. Por exemplo: Uma criança dirigindo estaria assumindo um risco que ainda não entende e ameaçando a integridade física de outras pessoas. (Assim como um bêbado.)

Uma pessoa maior de idade tem todo o direito de escolher com quem vai ou não fazer sexo, desde que ambas as partes consintam. Sexo consentido não coloca em risco a integridade física ou emocional dos envolvidos.

Sexo não é crime, trocar serviços por dinheiro não é crime. Prostituição não é crime. Posso estar até sendo óbvio, mas eu faço questão de esclarecer que prostituição não ser crime faz sentido. Tem sustentação na forma como um Estado como o brasileiro enxerga seus cidadãos.

“É? Mas explorar prostituição é crime! Sexo não é crime, trocar serviços por dinheiro não é crime e contratar pessoas para fazer esses serviços legais também não deveria ser… Cadê a lógica?”

Um contrato que exige de uma pessoa ser estuprada para ser completo tem lógica? Vejam bem: Não se pode obrigar uma pessoa a fazer sexo contra sua vontade. Se a prostituta disser que não quer fazer sexo com um cliente, não existe nenhuma forma (legal) de obrigá-la ou puní-la por isso (Claro que não é só isso, na prática o cafetão encheria a puta de porrada e a forçaria do mesmo jeito…). Vai fazer o quê? Afrouxar as leis sobre estupro? O Estado ainda está preocupado em não deixar as pessoas colocarem em risco a integridade de outros. O contrato de trabalho nem poderia existir. Prostituição é uma profissão legal, mas trata de um “objeto de venda” muito mais complexo, não pode ser tratada exatamente da mesma forma que outras profissões.

Tudo em tese, eu sei. Mas tudo com lógica. E uma até simples.
Sou o primeiro a ficar puto com o Estado intervindo demais na vida das pessoas, e com certeza precisaria de algum argumento muito sólido para achar válida uma intervenção no direito de escolha pessoal por parte dele. A mão do governo não está sobre esse direito, faz sentido que não esteja… Qual o problema?

E ainda nem falei da sacanagem que seria proibir algumas pessoas de exercer uma função legal da qual gostam. Claro que dar para um velho gordo não deve ser agradável, mas eu falo de “talento”. Tem quem seja muito bom para cantar, tem quem seja muito bom para apertar parafusos, tem quem seja muito bom para consertar computadores… E tem quem seja muito bom para fazer sexo. Ei, eu que gosto do meu trabalho encontro vários momentos onde fico de saco cheio e acho o trabalho terrível. Mas isso não me impede de gostar de ser bom no que faço e de aproveitar as recompensas (financeiras e psicológicas) dele.

Vai dizer para essa pessoa que sofreu e ralou para conseguir sua estabilidade que o que ela faz agora é errado? Ela vai fazer o quê depois da prostituição ser criminalizada? Tudo bem que ninguém precisa concordar comigo que a prostituição legalizada é um sinal de avanço social, mas que pelo menos tem sinergia com as outras regras a que obedecemos é difícil de negar. Você vai puxar o tapete de pessoas que escolheram um caminho LEGAL para ganhar a vida. Bela mensagem, não? Só falta legalizar a maconha depois e limpar a bunda com a constituição.

E sejamos honestos… Trocar sexo por vantagens materiais é um dos comportamentos mais comuns da humanidade. (Não é nem argumentação machista, embora as mulheres façam mais… Estou mentindo?) Prostituição é só uma forma sincera de estabelecer essa relação. Proibir troca de sexo por dinheiro para acabar com os problemas sociais oriundos da prostituição é que nem proibir vícios para acabar com a violência do tráfico. Não se pode proibir algo TÃO enraizado no comportamento humano e esperar que dê algum resultado.

Sem contar que as vistas das autoridades que deixam menores de idade se prostituir não ficariam menos grossas com a proibição da prostituição. Se mal conseguem lidar com algo que arrepia a MAIORIA das pessoas (pedofilia), vão fazer o quê para coibir uma atividade que no máximo rende uns ataques de hipocrisia para o público geral? Se a sociedade fosse tão contra prostituição assim, os jornais nem aceitariam aqueles anúncios “acompanhantes/relax”.

Além de puta, ainda vai ser criminosa. E crime por crime, eu ouvi dizer que o tráfico de drogas paga mais… Não é como se multinacionais só estivessem esperando a criminalização da prostituição para sair contratando. Prostituição é uma atividade legal, faz sentido ser legal, e sua proibição traria mais problemas e exclusão do que já faz do jeito que está.

Crianças, como se chama quando o Estado se mete demais nos direitos pessoais de seus cidadãos?

COMUNISMO!

Me matam de orgulho!

Para dizer que minha argumentação é uma putaria, para dizer que também é contra o comunismo no Brasil, ou mesmo para dizer que seria uma sacanagem mesmo para os clientes: somir@desfavor.com


Hoje jogo em casa. O tema está ligado a direito. Sim, eu acho que prostituição deveria ser criminalizada e provavelmente não pelos motivos que vocês estão pensando. Talvez ao final dos meus argumentos muitos de vocês não estejam mais torcendo o nariz para mim. Aos advogados, quero dizer que eu sou a primeira a defender direito penal como ultima ratio, intervenção mínima e todas as garantias constitucionais.

Como é que se decide o que vai ser crime e o que não vai? Simples, primeiro começam a acontecer as merdas e de tanta merda que dá, neguinho se toca que se não proibir aquilo vai acabar prejudicando a sociedade. Então, criminalizar uma conduta qualquer não serve para foder, castigar ou sacanear seu autor. O objetivo não é esse. O objetivo é proteger um “bem jurídico” tutelado pelo Estado (prevenção/repressão) em nome da coletividade. Este bem jurídico pode ser a vida, a saúde pública, o patrimônio ou tantos outros.

Não tenho raiva de prostitutas, não faço julgamentos morais. Mas acredito que criminalizando essa conduta, estaríamos protegendo futuras gerações. Porque vamos combinar, se fosse crime, se neguinho soubesse que pode ser preso, muita gente que opta por se prostituir (porque sim, é uma opção) não o faria. Eu sei que a vida tá difícil e que nem todos tem oportunidades. Entretanto, conheço muitas pessoas que tiveram vidas horrendas, zero oportunidades e sobreviveram sem se prostituir. Portanto, é uma opção sim, apesar de muitas prostitutas quererem colocar a coisa como se não tivessem opção. Tem quem jogue bolinhas no sinal, tem que venda drogas, tem quem se foda de tanto trabalhar, tem quem assalte com uma arma e tem quem se prostitua. Não cabe aqui julgar todas estas opções, apenas deixar bem claro que é uma opção.

Acho que não levanta muita polêmica dizer que a prostituição é degradante para a mulher e que, regra geral, se a mulher efetivamente não precisasse MUITO de dinheiro, não se prostituiria. As pessoas fazem coisas escabrosas por dinheiro. As pessoas são dementes o suficiente a ponto de se mutilar para pegar o dinheiro do seguro. Por isso a lei cria normas para proteger as pessoas delas mesmas. Porque sim, algumas pessoas precisam ser protegidas delas mesmas, acreditem.

Então, quando eu falo que prostituição deve ser crime, não é em um tom rancoroso de “Prende essa puta safada!”. É pensando que, quem sabe, três ou quatro gerações mais pra frente, quando isso estiver incorporado em nossa sociedade, as meninas crescerão com a idéia de que se prostituir é tão crime quanto roubar ou vender drogas. Isso vai desencorajar muitas meninas a entrar para a prostituição. Sempre tem quem faça, mas com certeza haverá uma queda significativas.

Hoje, a legislação criminal brasileira não tipifica a prostituição como crime. Só é crime explorar a prostituição alheia (rufianismo, vulgo cafetão). Porém, à data do nosso Código Penal, 1941, uma mulher que optava por se prostituir sofria uma reprovação social tão horrenda, que esta norma não era necessária. Poucas se aventuravam. A sociedade se encarregava de coibir este crime. Hoje, na era da Festa da Nuvem, a coisa ficou mais permissiva. Vou usar outra lei como comparação: existe lei recente (não vou entrar em detalhes, só tenho duas páginas para mostrar meu ponto de vista) que proíbe a venda de órgãos. Se você quiser DOAR um órgão seu, você pode doar (desde que sobreviva sem ele). Porém não pode vender. Antigamente isso não era necessário, porque sequer havia tecnologia para ficar transplantando órgão com essa facilidade toda. Daí, com a modernização da medicina, neguinho percebeu que se não proibisse, não encontraríamos um único pobre com os dois rins no corpo, porque eles VENDERIAM, e se bobear, venderiam o dos filhos também. Daí surge essa lei, dizendo que você não pode vender seus órgãos.

Da mesma forma que você não pode vender seus órgãos, acho que você não deveria poder vender seu corpo. A dignidade de uma pessoa não é um bem disponível, e isso já foi dito, em outras circunstâncias, em diversas decisões judiciais. Se uma pessoa está desesperada o suficiente para fazer uma burrada dessas, o mínimo que a lei pode fazer é tentar impedir. Porque sim, o esperado é que exista uma trava. Tem gente que passa fome e não se prostitui. Se a pessoa não tem essa trava moral (e em muitos casos, nem é exigível que tenha, dada a precariedade de sua criação), cabe à lei protegê-la dos danos que ela vai causar a ela mesma. Físicos e psicológicos.

Detalhe importante: quando se fala que algo é CRIME, nem sempre isto implica em uma pena privativa de liberdade (CADEEEEEIAAAA!). Existem uma série de punições muito mais brandas que o encarceramento (e não estou falando da famosa cesta básica que todo mundo conhece, tá?) Existem outras modalidades. Então não pensem que eu estou dizendo que tem que trancar todas as prostitutas em um presídio, porque longe de mim falar uma barbaridade dessas! Estou dizendo que a conduta deve ser criminalizada e punida, não necessariamente com encarceramento.

O ser humano é adaptável. Quando você fecha uma porta, ele procura outra saída. Se prostituição for criminalizada, muitas meninas vão procurar outra saída, porque deixa de ser uma saída “fácil”. Eu sei que se prostituir não é fácil na prática, mas as meninas que entram para essa vida o vêm como uma saída “fácil”, pois é uma forma muito rápida de ganhar dinheiro. E quando percebem que não é nada fácil, já estão sendo exploradas nas mãos de alguém ou não conseguem abrir mão do dinheiro. Criminalizar a prostituição seria passar uma tranca em uma porta que está escancarada e leva a algo muito ruim. Vai dificultar que as pessoas entrem.

Não sei vocês, mas eu deixei de fazer muita merda na minha vida porque sabia que aquilo era crime. Se não fosse crime matar, eu teria matado mais do que desastre no Haiti, por exemplo. Crime segura. Não segura todo mundo, mas segura a maior parte da população. É muito fácil isolar o problema e colocar a prostituição como direito de escolha da mulher: “Se ela quer ser puta, que seja, cada um faz o que quer”. Só que não é bem assim. Incolumidade física e Dignidade da Pessoa Humana não são bens disponíveis ou negociáveis por seu titular.

Escutei da boca de meninas de 15, 16 anos empurradas para esse mundo (só é estupro presumido se for menor de 14, ok?) criando sequelas psicológicas e às vezes até físicas irreversíveis que se prostituição fosse crime elas não teriam entrado por esse caminho porque teriam medo. E ainda escutei que elas queriam que fosse crime, porque assim elas teriam “dado um outro jeito” de sobreviver.

Discurso sobre liberdade individual VAZIO não me serve. Quem é leitor do Desfavor sabe que eu sou tudo menos moralista e que a última coisa que eu prego é histeria punitiva. Meu ponto é que a pessoa não tem o direito de se privar de sua dignidade, de seu bem estar, de sua saúde e de sua integridade psicofísica. Quando a pessoa está prestes a fazer isso, eu acho que o Estado não só pode, como deve interferir para tentar desencorajar a conduta.

OBS: Fiz questão de escrever sem termos jurídicos complicados, sem citar lei, sem citar jurisprudência nem qualquer argumento técnico. Isto não quer dizer que eu não saiba fazê-lo, quer dizer que eu tenho noção de que é um blog para todos e não apenas para juristas. Me reservo o direito de ser democrática e espero que com isso não presumam que estes são todos os argumentos jurídicos de que disponho. Grata.

Para dizer que é sempre muito triste ter que concordar com o Somir, para dizer que deveriam prender é quem solicita os serviços da prostitua ou ainda para dizer que não liga a mínima, porque você tem suas peguetes que dão fácil e de graça: sally@desfavor.com

derp

Cantadas, das mais inteligentes às mais vulgares, sempre tiveram uma conotação mais masculina na sociedade. Homens cantam, mulheres são cantadas.

Porém, com o passar dos anos torna-se cada vez mais comum que mulheres livrem-se de inibições e comecem a igualar o jogo das cantadas. Das mais inteligentes às mais vulgares…

Sally e Somir discordam sobre as vantagens desse comportamento nas mulheres. Ou, de forma mais simples…

Tema de hoje: Mulher passando cantada é feio?

Pergunta genérica? Que bom, eu posso simplesmente inverter… Homem passando cantada é feio? Não definimos se a cantada é algo elogioso ou simplesmente estúpido e ofensivo. Generalizando, nem homem passando cantada é algo bonito. Quantos não tem a menor noção do que dizer?

Mas ao invés de me prender ao fato que já ganhei a discussão no primeiro parágrafo, desenvolverei a idéia por outros caminhos, esses sim mais polêmicos. Muito embora eu não tenha nada contra cantadas como conceito, eu não acho que é todo mundo que PODE passar uma cantada, sob o risco de estragar uma arte que poucos dominam. Se muita gente ruim entra num ramo, pode até destacar mais os que são bons, mas com certeza diluem a atenção que quem a merece deveria receber. (E eu não sou um deles, minha forma de expressão é toda bagunçada e eu funciono melhor quando finalmente começam a entender sobre o que diabos eu estou falando…)

Tem coisa mais barata que cantada padronizada? O cidadão chega na mulher e cospe uma frase pronta que ela já ouviu um zilhão de vezes. Frase que deve ter funcionado muito bem quando as pessoas realmente criativas por trás da cantada a criaram. Ou coisa mais vergonhosa do que cantada puramente vulgar? Se o Zé Ruela tenta falar diretamente com a buceta de uma mulher, a dona tende a se sentir meio preterida. Até mesmo o famosíssimo “Gostosaaaa!”, apesar de não ser tão ofensivo quanto as mulheres mais frescas pintam, é o tipo da coisa que não faz muito sentido… Quantas mulheres o cidadão que berra isso consegue pegar assim?

O “mercado” está tão cheio de gente ruim que a própria idéia da cantada sofre com isso. Na média não é bonito nem pra homem nem pra mulher.

Porém, eu tenho ainda MAIS restrições às mulheres passando cantadas. Acho mais feio. E tem tudo a ver com o vício em atenção feminino. Acho que nunca disse aqui no desfavor, mas uma das minhas tantas teorias é de que as mulheres exageram em qualquer comportamento que gere atenção masculina. Vai render um “Flertando com o Desastre” logo logo… Mas para resumir aqui: Na maioria das vezes que uma mulher assume algum gosto ou costume considerado tipicamente masculino, ela faz tanta questão de se mostrar que começa a parecer uma caricatura do homem que habitualmente tem esses gostos e interesses.

Nas cantadas não é diferente. A vontade de aparecer é TANTA que as mulheres parecem dispostas a berrar para quem quiser ouvir que acharam um homem bonito. Aliás, muitas vezes nem o homem acaba escutando ou entendendo o que ela quis dizer. E mesmo que ouvissem, existe uma boa chance da mulher estar só “sendo espontânea” para passar alguma mensagem de segurança para as pessoas ao seu redor.

Não, uma cantada não cria obrigação formal de levar as coisas em frente, mas se uma mulher aceita a cantada e resolve botar a prova o homem que disse aquilo, vocês acham que o cara não vai topar? (Alguns até assustam quando funciona, mas que vão acabar traçando, vão… Até por isso é bom nem brincar com cantada em baranga. É a sua reputação em jogo…)

Invertamos os papéis. Uma mulher dispara um “gostooosooo!” pra cima de um homem. Esse homem chega e chama a mulher na chincha… Quase certeza que a mulher amarela. Estava contando com uma reação mais tímida do homem… Aquilo foi um pedido de atenção, e não uma cantada.

E não, reconhecer a beleza de uma pessoa do sexo oposto não é uma cantada. É o que é. Se não tivesse interesse nela, que não chamasse sua atenção. Novamente, não cria obrigação de sexo ou algo assim, mas para que fez isso então?

Eu tenho plena noção que estou sozinho nessa idéia, mas acho uma babaquice essa necessidade de ficar fazendo alarde que achou outra pessoa interessante para os outros. Não é só coisa de mulher, tem muito homem que faz essas coisas… Você fica do lado do cidadão, e ele fica babando e apontando TUDO quanto é mulher mais bonita que passa por perto. Ei, falar sobre uma mulher gostosa que se destaca é diferente de ficar fazendo festa e tentando chamar a atenção para a sua capacidade de se sentir atraído pelo sexo oposto. Sério, qual a utilidade disso? E o que EU tenho a ver com isso? Vontade de falar: ”Parabéns, você é mesmo heterossexual, agora chega…” (O que eu realmente falo… Meu reino por alguma noção de trato social…)

E vê se mulher não ADORA falar alto e chamar a atenção para o fato de que é “poderosa” e não sente vergonha de se sentir atraída por homens? Grandes merdas. Eu não tenho vergonha de me interessar pelo sexo oposto desde quando eu planejei a grande invasão do chuveiro das meninas na Escolinha Pré-Primária Jaboti!

“Tia”: “Por que você fez isso?”

Mini-Somir: “Por que eu queria ver as meninas peladas, ué…”

Fiquei divagando por minutos (o equivalente a horas naquela idade) como diabos elas mijavam… Acho que vi alguma coisa brilhante e me distraí depois. De qualquer forma, de volta ao tema:

Não me engana que eu não gosto. Se fosse só reconhecimento de atratividade do sexo oposto, não precisaria fazer alarde. E se for uma cantada de verdade, é bom não sair pela tangente se colocadas na parede. Detesto quando mulher resolve agir como homem e não aceita as responsabilidades que um homem precisa encarar. Direitos iguais, regalias específicas… Vou repetir isso até o fim da minha vida (solitária e amarga)!

Sem contar que não tem nenhum mérito em passar uma cantada e não ter nem o risco de levar um tapa na cara. Fraquinhas vocês. E não podemos nos esquecer do PIOR DE TUDO: Como rejeição de um homem SEMPRE é “coisa de viaaadooo” para as mulheres, as barangas mais saidinhas sempre conseguem criar uma situação terrível para o homem que for pego por uma cantada em público.

Uma boa ou PÉSSIMA cantada (cantada é diferente de reconhecimento de beleza) vinda de uma mulher atraente é algo excelente (ou seja: grandes diferenças). O resto é vontade de aparecer ou roubada mesmo. Na média é algo feio, mesmo quando não é vulgar.

Para perguntar se eu caí do céu (de cara), para saber se os nossos signos combinam, ou mesmo para dizer que eu tenho uma bunda boa plantar buceta (wat): somir@desfavor.com


Sei que sou minoria, mas não vejo problema algum em uma mulher passar cantada em um homem (ou, se for o caso, em outra mulher. Desfavor é muderno).

Algumas considerações preliminares para que a gente possa entrar no mérito da questão:

– Nem toda cantada é baixo nível

– Nem toda cantada é em um estranho/desconhecido

– Nem toda cantada tem por finalidade algo além da própria cantada

Dito isto, vamos discorrer sobre o tema.

Quando a gente fala em cantada, pensa logo naquela baixarias pornográficas que os trabalhadores da construção civil cospem quando a gente passa. Mas cantada não é só baixaria. Uma cantada pode ser elogiosa e até mesmo inteligente e bem humorada. Não que eu não passe cantadas mais carnais, porque EU PASSO (se estiver solteira), não estou me fazendo de fina nem nada. Só estou dizendo que cantada não implica em vulgaridade.

Então, parem de me imaginar encostada em um poste no meio da rua proferindo palavras de baixíssimo nível aos transeuntes. Muitas vezes já existe um flerte entre você e a pessoa, um tensão sexual, uma química qualquer. Daí ficam ambos naquele esquema pisando em ovos, sem ter muita certeza se o outro quer, naquelas colocações dúbias. Porra, tenho saco pra isso não. Mando logo uma cantada e dependendo de como a pessoa reage, me retiro e não perco tempo, ou então deixo claro que é correspondido e espero o infeliz tomar uma atitude.

Cantada pode ser dirigida para qualquer pessoa do seu convívio. Inclusive uma pessoa que, como eu disse, você já flertava. Não vejo como isso possa depor contra mulheres. Muito pelo contrário, é uma ajuda no jogo da sedução. Claro que você não vai chegar para aquele colega gatinho, lamber os lábios e dizer “Te chupava todin!”. Isso não ajuda, isso detona qualquer chance de alguma coisa. Mas existem outras formas.

E tem a cantada pela simples cantada, desinteressada, na qual você não pretende nenhum relacionamento sério, apenas expressar quão gostosa a outra pessoa é. Tem situações onde eu não consigo ficar calada. Já passei até cantada em ex-namorado, sem qualquer segunda intenção, apenas porque na ocasião o cidadão tava muito do gostoso. É basicamente um elogio, uma brincadeira. Até hoje brinco com o meu professor de dança quando ele dá uma rebolada com mais pressão. Tô solteira, não tenho compromisso, se eu quiser soltar um “queeeeeeeiiiiiieeeeessssooooo” para o rebolado do meu professor, problema meu. Ele sabe que é sem segundas intenções e eu também sei que é.

Algum tempo atrás um ex-namorado meu, professor da minha academia, estava me alongando e eu mandei ele sair dali e chamar outra pessoa. Ele ficou me olhando e perguntou se ele tinha feito alguma coisa errada e eu disse “Não, não. É que hoje você tá gostoso, melhor não ficar me pegando muito não”. Ele riu e chamou outra pessoa. É cantada? É. Eu quero alguma coisa com essa criatura? Podem ter certeza que não.

Já dei tapa na bunda de amigo meu seguida de um elogio. Já chamei professor de “Diliiiiiiça!” e ri horrores depois. Já passei cantada para Leo Santana enquanto ele aparecia na TV e não podia nem sequer me ouvir. Quando minhas amigas e eu vemos um homem lindo na rua, na praia, no shopping e etc, a gente comenta “Olha ali meu maridoooo! Oi amooor! To aqui óóóóó!” e a gente rola de rir.

Jamais faria isso em um ambiente profissional ou formal (formal do Rio de Janeiro? Wat?). Mas no meio do pessoal da dança, no meio de academia, no meio das minhas amigas, na praia… qual é o problema? É até engraçado! Vai dizer que não deu para vocês repararem que eu sou uma pessoa extrovertida e cara de pau? Gente meio doida, como eu, faz essas coisas.

Claro que isso só tem lugar quando você está completamente solteira. Completamente. Se estiver sequer saindo com outra pessoa, não faço uma porra dessas, porque é falta de respeito galopante.

E olha que eu sou machista, hein? Não passaria uma cantada “de homem”, aquela coisa mais agressiva de falar baixarias de cunho sexual ou até mesmo de meter a mão e beliscar a bunda alheia. Acho que cantada de menina, um pouco mais light, é aceitável e divertida, mas cantada de homem, mais agressiva e invasiva, é desnecessária – tanto para homem como para mulher.

E você, Leitora, que está discordando de mim, ponha a mão na consciência e pense se você realmente nunca passou uma cantada em alguém. Ora, aquele flerte, aquele elogio, aquele trocadilho, nada mais são do que cantadas. Porém de alto nível.

E a minha história com a Madame aqui de cima só começou (e só deu em namoro) porque EUZINHA fui lá passar uma cantada nele. Ele tava quietinho, e eu ficava passando cantadas nele (e dizendo que pesava 123kg). Então, se ele achasse tão reprovável mulher passando cantada, não teria NA-MO-RA-DO com uma que o faz, certo? (ele vai dizer que namorou comigo APESAR disso, tenho certeza)

Já passei cantadas em completos estranhos também. E me diverti horrores. Uma vez, um homem maravilhoso machucou o dedo com a faca na mesa ao lado da minha em um restaurante. Estava eu na mesa com as minhas amigas dizendo “Meu mariiiido” e etc quando de repente uma delas fala “Amiga, seu marido machucou o dedo”. Daí eu disse “Vou lá dar um beijinho para ver se passa”. Todo mundo se mijou de rir e quando olho pro lado tá o cara com dedo estendido para mim esperando o beijinho! HAHAHA Tem como não rir de uma situação dessas?

Para aquelas que não são tímidas, pode ser muito divertido passar uma cantada. Só não pode errar a mão. Porque tem gente que fala as maiores barbaridades em um tom tão leve, tão de brincadeira, com tanto carisma, que soa engraçado e divertido. Mas tem gente que não sabe fazer, e fica feio e vulgar. Cantada: sabendo passar, eu recomendo!

Para dizer que meu meio é uma putaria, para contar as cantadas que você já passou em homem e para perguntar o teor das cantadas que eu passava no Somir: sally@desfavor.com

Sai logo!

Hoje a coluna vai ser bem específica: Consideremos um casal heterossexual habitual, onde o homem por algumas (ou mesmo diversas) vezes passa a impressão que na verdade está “preso no armário”. Como amigo(a) da mulher desse casal, existe uma obrigação de apontar essa percepção sob o risco de não estar sendo uma boa amizade?

Sally e Somir, obviamente, discordam. Não se reprimam: Opinem.

Tema de hoje: Avisa-se a amiga que o namorado dela tem pinta de gay?

Quero avisar que nem considerei o oposto da questão de hoje. No caso de perceber que a namorada do seu amigo parece gostar da mesma fruta que ele, não precisa nem avisar que o rapaz já vai ter contado orgulhoso e matado os amigos de inveja…

Porém, mulheres são seres desnecessariamente complexos. Nesse caso eu concordo que surge um impasse. Mas basta pensar um pouco para perceber que contar para uma mulher que seu namorado tem jeitão de viado não serve para praticamente nada.

Mas, antes de tudo, o que faz um amigo desconfiar da verdadeira orientação sexual do parceiro de sua amiga? E atentemos ao ponto central da discussão aqui: Não é o caso de ter visto o rapaz em questão fazendo sexo com outro homem, é DESCONFIANÇA.

Eu, por exemplo, uso o termo “viado” para definir homens que agem feito mulheres e não querem admitir. Viado é um termo derrogatório, uma ofensa. Um homem que gosta de homens é simplesmente um ser humano com outra orientação sexual… Homossexuais praticamente não podem ser viados por esse ponto de vista.

Eu falo disso porque muitas coisas que eu considero viadagem não querem dizer que o homem em questão prefira fazer sexo com homens. Só querem dizer que eu acho ele um homem fraco, um arremedo de macho da espécie. Basicamente, a figura do metrossexual, ou “homem cagão que precisa baixar a cabeça para qualquer coisa que as mulheres acham que querem” é um tremendo de um viado para mim.

Sempre digo para amigas, com pouca ou nenhuma educação, que seus namorados são viados. Eu vivo falando essas coisas.

Sobre isso eu posso ter certeza. Afinal, é a minha forma de enxergar e categorizar o que eu entendo sobre um ser humano. Agora, saber se o cidadão em questão está enganando uma mulher por ser exclusivamente homossexual é praticamente impossível. Precisa de entendimento profundo (há) sobre a vida sexual do casal.

Eu não me considero um amigo lá muito fisiológico. Acho um absurdo chegar numa amiga e sair perguntando: “E aí, teu namorado tá te comendo direito? Tá metendo legal? Tá faltando alguma coisa na cama?”… É a mesma coisa que chegar e perguntar: “E aí, tá cagando legal? A bosta tá saindo durinha, molenga? Descreve aí como sua última diarréia…” Excesso de intimidade, até para amizades próximas. Não me interesso pelas funções corporais habituais das pessoas próximas de mim. Se por um acaso for do interesse da pessoa dividir isso comigo, bola pra frente. Caso não seja, eu RESPEITO a privacidade alheia.

Então, dificilmente eu vou ter esse tal conhecimento profundo sobre o funcionamento sexual desse casal. Mesmo porque é praticamente impossível saber se é tudo verdade a não ser que você fique umas duas semanas sentado do lado da cama deles fazendo anotações. (E se a mulher for mesmo uma forma de disfarçar, certeza que o cara vai fingir que gosta da fruta…)

Imaginemos as variáveis…

O cara afrescalhado pode ser simplesmente um metrossexual, ou o “viado” da minha definição. Aquele jeitinho feminino de ser nada mais é do que o jeitinho dele mesmo. E se a mulher está namorando com ele, é de se imaginar que ela perceba e goste.

O cidadão realmente gosta de sexo com homens, mas pode ser bissexual. Mesmo que você diga que VIU o cara mandar ver em outro homem, a namorada dele vai lembrar que o suposto homossexual passou a última noite virando ela do avesso com o pau e ainda te achar um mentiroso.

O “acusado” é bissexual, ela SABE disso, gosta, mas não está com saco de encarar o preconceito das pessoas e prefere manter isso entre as pessoas realmente interessadas no relacionamento. Quando as pessoas te acham preconceituoso sobre um assunto, tendem a não te falar sobre ele…

O namorado dela é um gay no armário tão reprimido que mesmo que se entregue às vezes, vai se esforçar tanto para manter as aparências ao ponto de nunca admitir ou deixar de comê-la fantasiando com seu personal trainer. Esse cara defende tanto sua mentira que pode conseguir te sujar com a sua amiga.

Você confia no bom senso da sua amiga e não quer ficar INTERFERINDO na vida dela como se fosse a única pessoa sã do universo. Não me venham com essa de “avisar por amizade”. Esse aviso é baseado num JULGAMENTO sério sobre as opções sexuais de uma pessoa que você dificilmente conhece tão bem quanto a sua amiga.

Não, eu não disfarço minha vontade de intervir na vida alheia de preocupação. Pra mim cada amigo ou amiga que tenho tem todo o direito de fazer suas escolhas e se responsabilizar por elas. Eu respeito a inteligência deles (eu tenho que respeitar a de alguém nessa vida!) e não tenho a menor vontade de impor os meus valores e preconceitos para cima de quem eu gosto.

Não, eu não aviso. Se chega ao ponto de uma pessoa alheia à vida sexual habitual do casal desconfiar da orientação de uma das partes, com certeza é algo bem óbvio para quem… veja só… faz parte do casal.

E se a amiga em questão estiver se enganando de propósito para não aceitar que é uma “barba”, você acha que vai fazer muita diferença?

Eu hein, deixa as pessoas viverem suas vidas! Amigo é quem está do seu lado, e não quem tenta entrar na sua frente.

Para dizer que sempre pergunta se seus amigos cagaram direitinho, para dizer que eu sou um péssimo amigo, ou mesmo para dizer que achou meu texto uma viadagem: somir@desfavor.com


Sua amiga começa a namorar um sujeito que tem uma pinta braba de viado. Você se cala ou você aborda o assunto com ela?

Eu abordo. Quero lembrar que para abordar o assunto não é preciso bater no ombro dela e berrar “TEU NAMORADO, HEIN? DÁ RÉ NO QUIBE, MÓ BICHONA!”. Porque tem pessoas que não sabem falar as coisas se não for nesse nível de delicadeza (Somir? Oi?). É possível tratar do assunto com cuidado, sem ofender e sem afirmar nada.

Pois é. Não se trata de afirmar que o namorado dela morde a fronha. Se trata de chamar a atenção dela para que ela fique de olho em uma possibilidade, em eventuais sinais. Mulher quando está apaixonada fica cega para muitas coisas, inclusive para estas.

Todas as vezes que eu fiquei cega para características dos meus parceiros que, se eu pudesse ver, me fariam largá-los, tive amigas que me alertaram. E todas as vezes prestei bastante atenção nos conselhos e eles acabaram se confirmando. E sou grata por eles.

Não que as pessoas tenham que acreditar cegamente nos conselhos dos amigos, longe de mim defender isso. Mas conselho serve para a gente ficar de orelha em pé, para começar a prestar atenção em algumas coisas. Não se toma decisão com base em opinião de amigo, apenas se presta atenção para alguns sinais.

Uma merda que sexualidade ainda seja tabu. Porque garanto que se fosse outra característica todo mundo falaria. Querem exemplos? Se o sujeito bebe demais e dá vexame em diversos eventos sociais, sempre vai ter quem comente. Se o sujeito se veste mal, garanto que a amiga comenta. Se a amiga tem motivos para acreditar que o sujeito usa drogas, garanto que vai dar um toque na namorada. Mas sexualidade ninguém comenta.

Claro que você não vai sair dizendo por aí que todos os namorados dos seus conhecidos e colegas de trabalho tem jeito de bichinha. Estamos falando de AMIGA. Amiga é amiga, não é colega. E justamente uma das prerrogativas que caracterizam amizade é essa ausência de formalidades. Não precisar pisar em ovos, não precisar medir palavras. A amiga sabe que o que você fala é pensando no bem dela. É uma relação consolidada, acima de qualquer picuinha, e principalmente, acima de homem. Porque homem vai e vem, mas amizade é para sempre.

Quando você diz a uma amiga que PODE SER QUE o namorado dela seja meio delicado demais, você não está afirmando categoricamente que ele dá o rabo até descolar a última prega. Você está dizendo que você, amiga, pessoa que está vendo as coisas de fora, com imparcialidade, detectou ALGO. Com isso, você está alertando-a a prestar atenção. Ela não está obrigada a tachar o sujeito de viado nem a terminar com ele. É apenas uma luz vermelha, um aviso que ela deve ter em mente.

E ainda que a Fanta seja uva e sua amiga não queira ver, porque mulher apaixonada fica burra, pouco importa. O papel da amiga é alertar e não convencer. Você fez o seu papel dando um alerta. Se um dia ela flagrar o namorado com o porteiro engatados na escada, não vai poder dizer “Porque você não me avisou?”.

Eu gostaria de ser avisada. Até porque, uma coisa dessa proporção, todo mundo vai comentar. Prefiro mil vezes que minha amiga me chame para um canto e me conte do que todo mundo falando nas minhas costas, (talvez até mesmo ela), especulando sobre a sexualidade do meu namorado. Uma amiga não deixa a outra passar por uma situação dessas de virar centro de fofoca sem saber. O dia que eu cair na boca do povo, quero saber, até mesmo para poder me defender ou me afastar de quem está falando da minha vida.

Muitas vezes não lemos as placas de “Pare” durante um relacionamento. Ouvimos o que queremos ouvir, vemos o que queremos ver. Uma visão de fora, sem o retardamento da paixão é não apenas muito bem vinda, como também necessária. E é na hora de ouvir as coisas ruins que a gente descobre quem são os amigos: aqueles que tem culhões, aqueles que tem coragem de eventualmente provocar a sua ira em nome do seu bem estar. Gosto de gente que se compromete.

Porque lavara as mãos e dizer “Isso é problema dela, eu não me meto” é MUITO FÁCIL. Sim, é problema dela, mas se ela está sendo enganada, se está se colocando em uma situação horrorosa, humilhante e que vai trazer sofrimento, é meu papel advertir. Se você se importa com a pessoa, se mete SIM. Ou por acaso você deixaria uma amiga sua levar um golpe de um sujeito que só está interessado no dinheiro dela? Ou deixaria ela ficar com um bandido?

Vejam bem, não estou dizendo que homossexual não presta. Quem me conhece sabe que eu AMO de coração todos os gays. Estou dizendo que um gay não presta para ser NAMORADO de uma amiga minha. E isso acontece. Alguns homossexuais arrumam namoradinhas para prestar contas para a família, ficam em um namorinho falso e em paralelo tem relacionamento com outros homens. Isso é enganar, tanto quanto casar por dinheiro, tanto quanto trair. Isso eu não quero para uma amiga minha.

Lavar as mãos e não se meter com certeza é muito mais fácil. Mas eu não gosto. Odeio gente que não se compromete. Isso não é amizade. Odeio pessoas mosca-morta, meros espectadores, que só servem para sair e zoar. Isso não é amigo, isso é colega. O amigo tá lá te alertando quando percebe que tem um risco de você se foder e sofrer.

“Mas Sally, vai que eu vou alertar e ela ainda por cima fica puta comigo?”. Então, Meu Bem, vai desculpar, mas não era sua amiga porra nenhuma. Deixa ir.

Para dizer que eu sou uma fofoqueira invasiva que se mete na vida das amigas, para perguntar quem eu penso que sou para fazer esse discurso tendo namorado um sujeito de Campinas e para dizer que lavar as mãos e ficar na sua é mais fácil: sally@desfavor.com