É... Isso mesmo.

Eu amo vocês. Amo mesmo. E se já não dei provas disso escrevendo um Processa Eu sobre Maradona, peitando Madame e escrevendo diversos Siago Tomir e virando noite para garantir que não fique furo de dia sem texto, hoje vou dar a prova cabal. O tema de hoje vai me trazer tanta dor de cabeça, dentro e fora do blog, tanta encheção de saco, tanto aborrecimento, que seria muito mais fácil ignorar a realidade, os e-mails, as conversas e todos os pedidos e simplesmente me omitir. Mas não vou. Isto aqui nasceu para ser um blog polêmico e no que depender de mim, o circo vai continuar pegando fogo. Hoje flerto muito muito muito de perto com o desastre: PAU MUITO GRANDE É UMA MERDA e quem pensa o contrário se engana.

Essa lenda de que um homem, quanto mais bem dotado melhor, só pode ter sido criada por homens. Onde está escrito que um pênis de 27cm vai dar mais prazer a uma mulher? Quanto maior melhor? NEGATIVO. Quem fala isso deveria ser penetrado em algum buraco do seu corpo por 20 minutos sem parar para aprender a não falar besteira.

Acho que homens deveriam saber o drama que é quando a gente abre o zíper e sai aquela coisa imensa lá de dentro. A primeira sensação é de pavor, vontade de sair correndo mesmo. Começam a surgir aqueles pensamentos do tipo “Fudeu, não vai caber” ou ainda “Vai me rasgar ao meio, socorro!” enquanto sorrimos como se tudo estivesse muito normal. MEDO. Sim, sentimos MEDO.

Quem for valente, vai continuar. Quem for esperta, vai se poupar e pular fora. Eu penso da seguinte forma: buceta é uma coisa que eu vou usar até o fim da minha vida, ou pelo menos, por boa parte dela, e tenho uma só. Portanto, seria de bom tom não danificá-la. Prefiro declinar da oportunidade (de ser rasgada ao meio). Supondo que a pessoa continue, alguns maus momentos se seguirão.

Dependendo do tamanho do pau do cidadão, conjugado ao tamanho da mulher, não existem condições da mulher sentir prazer. “Mas Sally, passa a cabeça de um bebê por ali e não vai passar um pau, por maior que seja?”. Sim, eu fui fazer essa pergunta a uma amiga minha que é ginecologista. Ela me respondeu, simplificando muito, que só passa a cabeça de um bebê após nove meses de preparação onde o corpo sofre uma série de transformações para isso (inclusive abertura do osso da bacia e dilatação da vagina) e mesmo assim, passa rasgando (é preciso fazer um corte! Aff, vamos todas ligar as trompas?) e com muita dor. Portanto, não vamos mais comparar sexo com parto. A menos que o Zé Ruela do Pau Muito Grande queira esperar que você se prepare para o ato por nove meses.

Um pau muito grande não entra fácil. Por mais no clima que a mulher esteja, por mais competente que seja o homem, não entra fácil. Talvez entre fácil em uma buceta de girafa, mas em seres humanos não entra fácil. Eu sei que os homens não pensam na gente assim, desta forma técnica, mas é fato: lá dentro existe um colo de útero (ou cérvice ou cérvix, tudo sinônimo), que acaba por ser “cutucado” durante o ato, dependendo da posição e do tamanho do bilau em cena. E não é uma sensação agradável. Além disso, não faz muito bem para a saúde ficar levando totozinho no colo do útero várias vezes por semana. Um pênis grande pode machucar o colo do útero de forma séria, o que pode demandar procedimentos e tratamentos nada agradáveis (cauterização? oi?)

A área mais sensível da vagina se localiza a uma distância que varia em torno de 10cm, um pouco mais, um pouco menos. Qualquer 15cm dá conta disso. Um monstro de 30cm não estimula mais uma mulher. Muito pelo contrário, cutuca áreas que não deveria. Sem contar que o dono da coisa fica se achando muito gostoso e bota aquela tromba para fora da calça como se fosse a oitava maravilha do mundo, achando que ta abalando, enquanto a mulher está rezando mentalmente. Quantidade não é qualidade.

Todo mundo sabe que a vagina é elástica e que tem capacidade de dilatação, mas porra, existem limites físicos. Eventualmente o pênis pode pressionar até mesmo a bexiga e outras áreas igualmente indesejáveis, por mais que a vagina se dilate. Existem casos onde a desproporção do tamanho é tanta que por mais competente que seja o homem, é uma experiência sofrida para a mulher.

Já repararam que homem adora colocar a culpa no outro homem? “Se não foi bom, foi ele que não soube fazer”. Não me venham com esse papinho que se o homem souber fazer, entra qualquer coisa. Existem limitadores físicos. E vocês, homens, não são mágicos e não tem pau mágico para, contra a mãe natureza, fazer uma coisa dolorosa ser boa. Lamento. Às vezes nem com toda a dilatação possível e nem com toda a lubrificação possível a coisa é viável.

E camisinha? E quando NÃO CABE? Sim isso acontece. É muito triste. Na minha cabeça, se o sujeito é tromba de elefante, cabe a ele providenciar uma camisinha compatível com sua mangueira de bombeiro para o evento, mas eles nem sempre o fazem. Daí a gente faz o que? Leva na papelaria e manda plastificar?

Sem contar que um pênis muito grande precisa de mais sangue para ficar ereto, e, dependendo de quão enorme ele seja, não fica 100% duro, como deve ser. Caso vocês homens não saibam, nada neste mundo irrita mais do que o desprestígio de ver aquela ereção meia-bomba, aquele esqueminha babaca de entrar dobrado. E alguns acham que a gente não percebe… É um verdadeiro desfavor.

E quando e enorme e fino? Esses são os piores, só servem mesmo para cutucar o colo do útero, porque se for fino compromete o rendimento. Um pênis grande pode até ser bonito de ser ver, mas não é funcional. Aliás, conta mais o diâmetro, a grossura, do que o tamanho em si. Não vale o sofrimento, por mais bacana que seja a pessoa e por mais habilidoso que seja também.

E o The Day After? Sério, só quem já passou sabe. Não vou entrar em detalhes, seria (mais) deselegante. E tem uns que ainda querem te encontrar no dia seguinte para repetir a dose. Dá vontade de comparecer levando uma guilhotina de charutos.

Quando se constata que não dá, que não há condições, o que dizer ao nosso amigo elefantinho? “Foi mal, seu pau é gigante e está perfurando meus órgãos”. Porra! Não dá para dizer uma coisa dessas! Apesar de que, nem duvido que um homem fosse gostar de levar um fora desses… O problema é dar um fora alegando uma coisa que ele não pode mudar, sei lá, me parece meio cruel. Melhor mandar um fora padrão mesmo. Aposto que nenhum homem imagina que neste exato minuto, vários cuecas estão levando um fora por terem um pênis grande demais. Sim, acontece o tempo todo.

“Mas Sally, se for uma pessoa legal, precisa mesmo dar um fora? Não pode combinar com ele de não colocar tudo?”. Duas palavras para você: BOA SORTE.

Vamos parar com esse discurso hippie de dizer que tamanho não importa. Tamanho importa quando é desproporcional, para menos ou para mais. Um pênis muito pequeno é uma bosta e não presta para nada, mesmo que o cara seja o Rei do Sexo e faça malabares com fogo assoviando o hino do Flamengo durante a penetração e um pênis muito, muito, muito grande é incômodo, doloroso e pode ser até mesmo perigoso para a saúde da mulher. Portanto, existem SIM casos onde o tamanho é o determinante e pode fazer até mesmo um homem levar um fora.

Você, Amigo Cueca, não vai achando que para tudo tem um jeitinho. E você, Amiga Calcinha, não de deixe levar pelo discurso deles. (encara uma tromba de 32cm, depois você me convida para o enterro da sua vagina). E vocês, homens, parem de ser imbecilóides e achar que quanto maior melhor, porque não tem nada que a gente tema mais do que pênis gigante. Cansei de dizer, e de ouvir, que nós preferimos mil vezes um pequeno do que um GG. A pior desgraça de cunho sexual na tabela do mundo feminino é um pênis gigantesco, pior do que broxar, pior do que ser pequenininho, pior do que o motel pegar fogo e a Rede Globo te filmar saindo enrolada em um lençol.

“Mas Sally, o que é um pênis gigante?”. Não tenho como universalizar esse conceito. Cada mulher sabe do seu tamanho e do que cabe dentro dela. O que eu considero um pênis gigantescamente inviável pode ser tolerável para outras mulheres. Se um dia você cruzar com um, você vai saber (nem que seja no dia seguinte).

Como o Somir vai se recusar (acho que ele não vai nem formatar meu texto, vou ter que postar sozinha) e de quebra vai ficar uns seis meses sem falar comigo, vou colocar fotos do que EU acho serem pênis inaceitáveis lá no nosso fórum, na parte restrita. Alguns são de famosos e outros não. Tem um de um ex-BBB que se eu encontrasse, saia correndo e gritando pela minha mãe!

Chega desse discurso de que se o homem for competente sempre é viável. Algumas vezes não é, ou o é em detrimento da nossa saúde. Vamos aceitar os fatos: algumas vezes é preciso dar um fora em um homem porque ele tem o pênis muito grande, da mesma forma que algumas vezes também é preciso dar um fora porque ele tem um pênis pequeno demais.

E tome cuidado. Alguns desses bichinhos são traiçoeiros. Quando estão em repouso parecem normal, você dá aquela manjadinha, acha tudo bacana e leva a coisa adiante. Quando cresce… aff! Pior do que Popeye quando come espinafre! Parece aquelas esponjinhas que quando você molha ficam cem vezes do tamanho original, que castigoooooo! Defenda sua integridade física, avalie bem o material antes de qualquer consentimento.

E não vou nem começar a falar de quem topa fazer sexo anal com portador de um desses pênis tamanho GG. Me chame para o enterro do seu cu, levarei flores. (hemorróidas? Oi?)

Momento fofoca sobre o pênis alheio. Em uma festa, muitos e muitos anos atrás, uma amiga minha tava no maior amasso com um cantor (morooo…) que não vou revelar o nome por questões éticas (num país tropicaaaal…). Resolveu se trancar em um quarto com ele (abençoado por Deeeeus). Do nada, ela sai correndo e gritando do quarto (e boniiiito por natureza…). Me puxou para um canto e pediu para ir embora correndo, explicando o drama do tamanho descomunal. Fomos embora, ela tremia. Nunca ouvi nada a respeito, mas a reação dela parecia autêntica. Se alguém souber de mais informações sobre este ou outro XL, favor comunicar nos comentários, temos que nos ajudar…

E para não perder o costume de falar mal de alguém, se por um lado existem os elefantes, por outro existem os cabecinhas de tartaruga. Aquela coisa tão pequenininha… mas tão pequenininha, que se passar açúcar, fica parecendo uma jujubinha vermelha. Praticamente um segundo umbigo. Quando é micro, minhas amigas, não percam tempo também: fora nele. Mesmo que SEja famoso, mesmo que eLe seja gente boa, mesmo que seja TOdo gostoso, mesmo que Não tenha outros defeitos, MEsmo que eLe seja Lindo Ou qualquer outra qualidade… captaram?

E para você que está pensando que isso não existe, que são todos mais ou menos do mesmo tamanho, cuidado. Já foram documentados por cientistas pênis medindo 34 e 35cm eretos. Pegue uma régua. Meça 35cm. É muita coisa. É absurdamente grande. Existem relatos de pênis ainda maiores, porém nada comprovado. Sabe como é, no mundo do photoshop eu só acredito no que leio em trabalhos científicos.

A média do homem brasileiro fica entre 13 e 15cm. Mas cuidado, sempre tem um elefante solto por aí… Não banque a heroína às custas do seu corpo. Se achar que não vai caber, CORRA!

Para dizer que vai começar a usar termos como “cabecinha de tartaruga” ou “jujubinha” para se referir a algumas pessoas, para dizer que não entendeu porque eu coloquei algumas letras em maiúscula três parágrafos acima e para contar para todos nós o tamanho do seu pênis: sally@desfavor.com

Recentemente Sally me mandou o link de uma notícia que era um desfavor, mas acabou não ganhando a disputa semanal pela imortalidade desfavorável. (Jeito enrolado de dizer que outra notícia virou Desfavor da Semana…)

Resumindo: Criou-se um desconforto para o Microsoft após alguns internautas perceberem um erro (ridículo) na montagem de uma foto promocional no website polonês da empresa. Na foto original, um homem negro sentava-se à mesa com um uma mulher branca e um homem asiático. Na alteração polonesa, o homem negro deu lugar para um rosto mais… caucasiano. O problema foi que esqueceram que as mãos tem esse péssimo hábito de imitar a cor do rosto de uma pessoa.

Virou piada, virou motivo de indignação, virou denúncia de racismo! (Proibir o direito do modelo negro de aparecer numa foto cujos direitos foram cedidos para modificação à vontade do usuário?)

Nos últimos tempos: Descobriram o elo-perdido, fotografaram um átomo, criaram uma modificação genética sem precedentes numa bactéria, conseguiram fazer a melhor vacina contra a Aids até hoje… Mas ninguém vê essas notícias sobre assuntos muito mais interessantes pipocando pelos blogs, vê? Só em alguns especializados e olhe lá. O povo quer bobagem, preconceito e drama fútil. Bobagens como essas ganham muito mais mídia do que o necessário.

O quê? Você acha que tem preconceito racial num caso como esse da modificação da foto para trocar a etnia do “modelo”?

Pois bem, o que os defensores do politicamente correto chamam de preconceito, a publicidade e o marketing chamam de SABER PARA QUEM DIABOS VOCÊ ESTÁ VENDENDO O SEU PRODUTO. Ficou claro? Não se preocupem, assim como a Microsoft, eu vou clarear a idéia. (Péssima, admito…)

Hoje em dia toda foto publicitária é formada pelos “Power Rangers”: Um branco, um negro, um oriental, uma mulher… O importante é demonstrar que não se esqueceu nenhum grupo étnico ou gênero na imagem da sua empresa. Isso até pode ter sua lógica demográfica nos EUA ou no Brasil, verdadeiros festivais de miscigenação racial, mas… na Polônia? 98% da população é de descendência polonesa! Isso quer dizer que a variação de cores entre as pessoas daquele país vai de branco demais até muito branco.

Se você tirar uma foto aleatória por lá, quase certeza que só saem pessoas brancas na imagem. Uma foto demonstrando um grupo de executivos poloneses tende a ter variação racial? A realidade não importa, a empresa acusada acabou tendo que pedir desculpas públicas por criar um Michael Jackson polonês.

Imagine só defender algo lógico e óbvio como ligar a propaganda de um produto com as pessoas que vão comprá-lo… Mas isso parece óbvio demais. Até mesmo muito light para um Flertando com o Desastre escrito por mim.

Vamos voltar para nossa pátria miscigenada. Pela composição da população brasileira, deveriam ter negros e mulatos em praticamente todas as imagens publicitárias disponíveis, não? Mas nós sabemos que só recentemente começaram a aparecer os primeiros garotos propagandas com a pele mais escura… Será que estamos vencendo o preconceito?

Eu não apostaria nisso. Para quem não sabe, a publicidade basicamente te diz que você não é bom o bastante enquanto não adquirir um produto ou serviço. E é por isso que funciona faz tempo. Esqueçam a idéia de que estão te vendendo alguma vantagem, isso não vende nem aqui nem na China. Uma boa propaganda te vende a idéia de que você é um otário que não está aproveitando a vida direito, e ela te mostra uma solução para o seu problema.

Sim, caros desfavores, publicidade é vender soluções para problemas que você não sabia que tinha. Se não acreditam em mim, comecem a prestar mais atenção nas milhares de mensagens do tipo que te bombardeiam a cada dia. A Coca-cola te vende uma sede que você não tem, a Glade te vende a idéia de que seu filho quer cagar na casa do Pedrinho porque o seu banheiro fede, a Visa te vende um cartão de crédito para pagar suas dívidas! A lista vai longe, já que é o padrão.

Sendo fórmula de sucesso comprovada, a tática de vender problemas depende de um fator muito humano: Ninguém quer se destacar ficando para trás do bando. Uma pessoa satisfeita com a vida gasta muito pouco, uma pessoa insegura compra tudo o que vê pela frente. Gezuiz! Conseguiram empurrar um sabão especial para “higiene íntima” para cima das mulheres… A publicidade entra na casa delas, diz que a buceta delas fede até se elas tomarem banhos regulares, e ainda consegue vender um produto! Conseguem vender pílulas para o crescimento do pênis para homens estúpidos que acham que seus órgãos medianos são minúsculos… Esse desfavor de mentalidade é mais presente nas fêmeas de nossa espécie, mas homens não ficam muito atrás. (Carrão, né? Sei…)

Faça uma pessoa se sentir desgarrada do bando e ela COMPRA o que for necessário para voltar para a zona de segurança. Deve ser ranço dos tempos onde vivíamos nas cavernas. Sair do grupo significava a morte.

E como fazemos para que uma pessoa normal se sinta desconfortável com a vida que leva?

Mostrando pessoas com as quais ela se identifica numa situação melhor. Esse é o motivo de toda aquela história de pesquisa de público-alvo. Se a empresa não souber de quem vai tirar a auto-estima, não vai conseguir lucrar nada.

Imaginemos então, que aqui mesmo no Brasil, uma empresa de software precise vender um de seus produtos, um programa de finanças para pessoas de todo o país. A empresa precisa de uma foto para seu banner de internet. Ela vai ter mais retorno com os “Power Rangers” ou com pessoas mais ou menos do mesmo grupo étnico?

Para isso, pesquisamos. Vou mostrar um exemplo ABSURDAMENTE simplificado, mas é para passar a idéia geral. Sabemos que o preço do software restringe a compra para pessoas que tem uma renda de pelo menos R$ 2.000,00 por mês. Sabemos que por pesquisas anteriores, homens ganham mais que mulheres e representam 90% dos compradores destes produtos. Sabemos também, por uma pesquisa do IBGE, que a média de renda de pessoas brancas bate com esse valor. A média das pessoas negras e pardas passa longe desse total. O público-alvo do produto é composto de homens brancos, pela média.

Solução simples: Coloque apenas homens brancos na foto. Homens brancos muito bem vestidos e com toda aquela aura de sucesso que ajuda a vender um software de finanças pessoais. O problema que o cliente não sabia que tinha era a organização de seu dinheiro. Se ele quer ser bem sucedido como os homens brancos da propaganda, ele vai ter que gastar e adquirir esse novo produto. A identificação com pessoas parecidas encurta o tempo necessário para uma pessoa cair nessa armadilha.

Problema novo: Os concorrentes estão usando as fotos miscigenadas para não serem chamados de preconceituosos.

Já que todo mundo entrou nessa, não dá para evitar. É bom chamar alguma pessoa “diferente” para compor a cena. (Olha o preconceito aí gente!) Essa pessoa diferente poderia ser de qualquer outra cor ou etnia, mas tem que ser “diferente” mesmo. (Olha o preconceito ficando pior!) Um homem negro é contraste o suficiente. (A campanha é para vender sucesso, e o elemento de contraste é um homem negro! Não está na cara?)

A foto final é produzida. Agora temos inclusão social?

A pesquisa continua dizendo que negros e pardos ganham METADE do que ganham os brancos. É claro que é uma sacanagem essa desproporcionalidade, mas qual a função prática dessa inclusão arbitrária?

Empresas existem por um motivo, e apenas um motivo: Lucro. Toda essa história de sustentabilidade e responsabilidade social são formas de ganhar mais dinheiro. Valorizando a marca e ganhando cortes no pagamento de impostos. A entidade empresa só serve para gastar pouco para ganhar muito. É uma palhaçada jogar para cima das empresas o fardo de equilibrar um jogo social desequilibrado por séculos de exploração que a própria sociedade incentivava.

Sinto informar, mas: Negros e pardos aparecem tão pouco em propagandas de produtos de alto custo e em manifestações fictícias da alta sociedade pela simples falta de números expressivos. As coisas já foram BEM piores, mas ainda falta muito para termos algo minimamente justo pelos tantos anos de exploração institucionalizada.

Se o dinheiro está nas mãos dos homens brancos, quem está atrás de dinheiro vai falar com eles. A sociedade tem que mudar, não uma representação fantasiosa da mesma cujo objetivo é enganar as pessoas.

A publicidade NÃO está aí para corrigir isso. Se deixar na mão deles, vamos ter uma versão absurda da realidade representada e nenhuma solução apresentada. É assim que funciona. É assim que se vende e lucra.

Não me engana que eu não gosto. Fotos “Power Rangers” são o preconceito em pessoa(s) dependendo do segmento de mercado que pretendem representar. Eu acho repulsivo usar a imagem de uma pessoa negra para “equilibrar” uma cena onde só aparecem pessoas que deveriam causa inveja em quem a observa.

“Investir em educação e geração de empregos dá muito trabalho. Vamos culpar quem está ganhando dinheiro, vamos culpar os homens brancos de fotos publicitárias. É mais fácil.”

Para dizer que eu só falei isso por ser um homem branco, para dizer que o verdadeiro crime é a montagem horrível (e eu concordo), ou mesmo para reclamar que prefere bobagem, preconceito e drama fútil: somir@desfavor.com

Atenção, imagem chocante! Não olhe.

Recentes episódios de ataques de animais a seres humanos e a reação de comoção babaca da sociedade me inspiraram a falar sobre este assunto. E quase sempre que abordo este assunto, desperto raivinha nos corações e uma série de ofensas, então, o assunto me é ainda mais tentador (sinto que daqui vou tirar algum Fala Desfavor! Juro que sinto): Eu acho que gente que perturba os animais, deliberadamente, irresponsavelmente e sem bom senso tem mais é que se foder, se machucar e ser comido.

Todo mundo deve conhecer algum imbecilóide que fica cutucando animais e achando divertido. Algum demente que trata animais selvagens como se fossem gatinhos. Gente que acha que tem tudo sob controle, onipresente, onipotente. Até que dá merda, a pessoa é morta e vem a família do imbecilóide chorar e dizer o quanto aquele animal é violento e agressivo. Ou então vem alguém dizer que foi “uma fatalidade”. Não, Minha Senhora, não foi uma fatalidade, foi BURRICE do seu filho.

Quem aqui não se lembra do caso do Pentelho Mor, Steve Irwin, “O caçador de crocodilos”? O sujeito dedicava sua vida a PER-TUR-BAR os animais. Vivia futucando crocodilos por nada – e não venha me dizer que aquilo tinha algum propósito além de aparecer. Fazia exibições em seu parque onde futucava jacaré o dia todo (crocodilo, jacaré… tudobolsa). Pior: pegava sua filha bebezinha e ia futucar crocodilos com ela no colo! Se fosse meu marido eu enfiava um crocodilo ânus adentro nele! Óbvio que ia dar merda.

Podia acabar bem um cidadão desses? Não podia. Tanto é que foi morto por um bicho notoriamente pacífico, uma arraia. Tava futucando a arraia e ela lhe deu uma ferroada no coração. Vejam só como o sujeito é desagradável, conseguiu ser morto por um bicho zen! Não venham me dizer que ele não estava futucando a arraia, porque é inconcebível que uma arraia saia de onde está para ir atrás de um mergulhador só para ferroá-lo (porque esse vídeo não foi parar no YouTube? PORQUE?).

Eu achei bem feito quando a arraia o ferroou (essa palavra existe?). Não que eu tivesse desejado a morte dele, tenho mais o que fazer da vida, mas quando se trata de pessoas que perturbam os animais que estavam quietos no seu canto, eu torço pelos animais. Achei bem feito e verbalizei. Pra que? Escrevi sobre isso em uma comunidade do Orkut na época. A coisa mais legal que falaram sobre mim foi me chamar de vaca.

E por falar em vaca, nem preciso dizer a minha alegria nas touradas quando o touro, mesmo debilitado e sangrado, consegue pegar o toureiro a fazer uns buracos. Não se trata de discurso ecológico nem de proteção aos animais (como fígado de ganso e foda-se o ganso, lembram?), se trata de justiça. A pessoa tem o que procura. É o mesmo raciocínio que me faz não sentir um pingo de pesar quando morre um demente no alto de uma montanha ou por overdose. A frase chave é: QUEM MANDOU?

Os seres humanos tem um mínimo de poder de previsibilidade. Tem coisas que você vê e pensa: “Não vai prestar”. Temos a capacidade de olhar e pensar: “Vai dar merda”. Claro que muitas vezes nós erramos, em situações duvidosas. Mas existem situações onde é muito claro que vai dar merda. Apenas seres humanos extremamente burros ou extremamente prepotentes se colocam em situações visivelmente perigosas, e convenhamos, o mundo fica melhor sem ambos.

O que dizer de um elemento que achou bacana pular pelado em um tanque com baleias orcas? Ele se escondeu, esperou que o parque aquático feche, tirou a roupitcha e se jogou em um tanque com carnívoros do tamanho de um ônibus. Merece o que um sujeito desses? Nessas horas concordo com a filosofia do Prêmio Darwin: melhor que pessoas assim morram e não passem adiante seus genes burros. Aliás, recomendo o livro “O Prêmio Darwin, a evolução em ação”– Wendy Northcutt, onde narra as mortes mais imbecilóides premiadas. É inacreditável do que os seres humanos são capazes.

Alguém aqui teve a infelicidade de ver um documentário sobre um anormal chamado Timothy Treadwell? É um ecochato que adora ursos e decidiu que iria se meter no Alasca e ficar sufocando ursos de forma invasiva e desrespeitosa. Mais do que isso, ele era ridículo. No filme fica tecendo elogios às fezes quentes dos ursos. Merece o quê? Ficou mais de dez anos futucando ursos, uma hora ia acabar mal. Morreu mastigado por um dos ursos que ele não soube respeitar.

Um pouco de temor reverencial pela mão natureza cai bem. Se você não está armado, é saudável que não fique tirando onda com a cara dos bichos. E esse meu pensamento vem desde pequena. Lembro da primeira vez que fui a um circo e o domador de leões estava gritando, dando cascudos e futucando os leões. Em certo ponto, um deles se aborreceu e atacou o domador. Eu vi tudo, ao vivo e a cores (com predominância na cor vermelha) e lembro claramente de achar bem feito. Para mim, era evidente que ia dar merda, e olha que eu só tinha cinco anos de idade. Tive aquele sentimento claro de que o domador procurou por aquilo.

Gente que faz essas coisas está procurando por algo. E uma hora encontra. E por incrível que pareça, não são poucos os seres humanos burros, prepotentes e autodestrutivos que ficam flertando com o desastre nas mãos de animais. Existe um programa só sobre isso em um canal de TV a cabo. Só sobre pessoas que se foderam futucando animais. Não perco um! Sento com minha pipoquinha no colo e fico torcendo para os bichos. Quem planta merda colhe bosta. É incrível como tem gente que acha que pode, por exemplo, pegar uma moréia e beijar na boca. Tá de sacanagem, só pode!

O curioso é como as pessoas reescrevem a história. Uma vez vi em um documentário de um canal famoso de TV aberta o exemplo mais canalha de autoperdão por falta de semancol. Um imbecilóide estava filmando Dragões de Komodo. Os Dragões estavam na deles, tomando sol, na paz. Daí o imbecilóide se aproximou e começou a cutucá-los com um pedaço de pau, na barriga. Os Dragões apenas olharam com desprezo. Daí o imbecilóide começou a cutucá-los na cabeça! Chegou uma hora que tomou uma corrida de um e de brinde uma dentada. Ficou horas narrando como estes animais eram violentos. ALOOOOOU? Se der com um pau na minha cabeça ATÉ EU vou morder! Inconveniência mandou lembranças!

E quando tem uma fêmea com seus filhotinhos? Tem sempre um imbecilóide que quer ir lá meter a mão nos filhotes. Meu Pai Eterno, que fêmea não protege seus filhotes? Evidente que vai levar um pau! Por mais dócil que seja o bicho, é BICHO porra! É tão difícil perceber que vai dar merda? Todo mundo sabe que não se mexe em bicho com filhotes e em bicho comendo. Mas tem sempre um que mete a mão na cria alheia e é trucidado logo depois.

E nem precisamos nos afastar da civilização para ver exemplos de igual inconseqüência. Alguns cães tem o potencial de matar um ser humano. Eu tive um desses, que pesava aproximadamente 80kg. E não é que as pessoas metiam a mão nele quando eu passeava com ele na rua, sem nem ao menos perguntar se ele era manso? “Aaaai, que graciiiiinha!” diziam as Felícias e metiam a mão no meu cachorro. Depois, quando perdem o braço, aparece Bonner Simpson no Jornal Nacional dizendo que tal raça de cão é muito violenta e todos devem ser castrados! Pior: deixavam seus filhos, crianças de poucos anos de idade, meter a mão e algumas vezes até se pendurar no meu cachorro. Um vez uma criança efetivamente tentou montar nele em um parque. Eu não mexi um dedo e disse para a mãe: “Meu cachorro vai comer seu filho e eu não vou me mexer para impedir”.

E gente que pega um animal selvagem e acha que pode criá-lo como animal doméstico? Minha ex-sogra levou uma surra de um macaco, tá? (não riam, é sério… ok, podem rir, mas aconteceu de verdade). Eu não posso negar que tenha achado bem feito, apesar de gostar dela. Comprou um macaquinho num desses criminosos de beira de estrada e levou o bicho para casa. Eu avisei exaustivamente que não era um animal doméstico e que ia dar merda. O macaquinho foi crescendo, crescendo… até ficar quase do meu tamanho (grandes merda, né?). Um dia ele se aborreceu porque ela estava comendo mingau e não deu para ele (sim, eu me relaciono com pessoas estranhas) e deu-lhe uma surra. Com direito a pegar cabo de vassoura e porrá-la a vassouradas. Pergunta se eu não falei para ela que foi bem feito?

O que move todos estes tipos de idiotas a ignorarem o bom senso e os sinais evidentes de que vai dar merda? A arrogância, a prepotência. As pessoas nunca acham que vai acontecer com elas. É o mesmo mecanismo que faz um bêbado pegar a direção de um carro: a pessoa se acha muito fodona. Só que o bêbado, ao menos, tem a desculpa de estar com sua percepção alterada pela bebida.

Deus tem senso de humor. Vira e mexe um desses ecochatos é morto pelo objeto de sua admiração, um animal ao qual ele pretendia adorar e proteger, que simplesmente vai e devora seu protetor. Deus é sádico e debochado. E eu adoro. O destino de quem abusa a longo prazo de animais com um mínimo de potencial lesivo é um só: o cemitério. E mesmo assim, as pessoas continuam.

Faz um tempo vi um programa na TV onde um anormal tentava intimidar um leão com um rolo de papel higiênico na mão. Sim, no meio da savana africana, o sujeito chegava perto de um leão e ameaçava jogar um rolo de papel higiênico. Já fiz um bolão com meus amigos sobre quanto tempo vai demorar para ele morrer.

Se quer brincar de Johnny Knoxville com animais que podem te machucar, fique à vontade, como eu disse, quanto menos gente burra no mundo melhor. O problema é a sociedade sentindo pena quando um desses vira ração. Pena eu tenho é de quem morre por uma causa para a qual não contribuiu. Criar toda uma comoção porque um bicho despachou um cutucador compulsivo é tão ridículo quanto transformar o animal (ou sua raça) em vilão e a pessoa em vítima. Fizeram com animais como o tubarão branco ou com o cão Pit Bull. Sempre farão, porque é muito mais fácil achar que o bicho é assassino do que achar que o infeliz que morreu era um retardado sem critérios que procurou por aquilo.

Repito: não estou pregando o amor e respeito irrestrito pelos animais. Se você tiver um fuzil na mão, pode pintar e bordar, pode debochar, pode dar tapa na cara de urso e apagar o cigarro em cu de crocodilo. Qualquer coisa dá uma trabucada na nuca do bicho e pronto. Nesse caso, você será apenas (mais) um escroto. O que eu acho o fim é ficar enchendo o saco de animais na cara de pau, colocando sua vida em risco. Se quer viver para pentelhar animais (novamente: escroto!) ao menos tenha a decência e a inteligência de preservar sua vida.

Para me perguntar se foi a mãe do Somir que apanhou de um macaco, para me dizer que qualquer morte de um ser humano é triste e eu não tenho o direito de achar bem feito e para dizer que rola de rir quando vem gringo proteger sapinho cururu da barriga roxa na Amazônia e acaba morrendo envenenado pela porra do sapo maldito: sally@desfavor.com

Morram de inveja!

Você já foi chamado(a) de humilde por outras pessoas? Já usou essa palavra para se descrever? Sim? Ótimo, este texto é para você.

Muito me estranha quando alguém é elogiado pela sua humildade. Está sendo elogiado exatamente por qual motivo? Eu entendo se uma pessoa é elogiada pela beleza, pela inteligência, pelo esforço, pela habilidade em alguma tarefa… Mas, humildade?

Quando eu penso em humildade, eu logo imagino uma pessoa que viveu a vida inteira em estado semi-miserável e nunca sequer teve chance de influenciar a vida de outras pessoas. Uma pessoa humilde, pelo menos na definição correta do termo, é uma pessoa simples que acata sua irrelevância e desiste da corrida pela evolução de sua qualidade de vida. Humilde é o pobre desistente, seja por falta de força-de-vontade, seja por falta de oportunidades (caso mais comum).

Chamar alguém de fracassado resignado é elogio?

“Ah, Somir, você sabe que se dizer humilde não tem nada a ver com essa idéia.”

E é exatamente por isso que eu estou falando sobre o assunto. O “golpe” por trás dessa coisa de valorizar humildade é muito maior do que parece. E é exatamente por isso que eu já começo o texto explicando o significado da palavra. Ele foi levemente alterado por séculos de “indústria do controle de população” até chegar nessa forma elogiosa dos dias de hoje.

E como o nome da coluna é Flertando com o Desastre, comecemos agora:

“Humildade é a qualidade de quem não as tem.” – Somir

Essa “virtude” se tornou uma escapatória segura para se elogiar alguém que não merece outros elogios. Já perceberam que todo mundo é humilde hoje em dia? Com exceção, é claro, daquelas pessoas horríveis que reconhecem suas qualidades e são taxadas de convencidas. Dizer que uma pessoa é humilde é uma espécie de “passa lá em casa” dos elogios. Fala-se por falar. Virou festa.

A cena é genérica, mas aposto que você vai se lembrar de vários casos parecidos: Um apresentador de televisão recebe um cantor ou cantora (daqueles horríveis) e vai logo sapecando um discurso sobre como Fulano ou Beltrana não se esqueceram de suas origens e são, acima de tudo, ô loco meu, humildes! A tecla SAP para mentiras sociais traria algo como: “Essa pessoa aqui é tão merda, mas tão merda, que eu tenho que apelar para a bosta do menor denominador comum, uma qualidade que até uma pedra poderia ter: Humildade”.

Repetindo: Humilde é um fracassado resignado. Uma pessoa humilde não sobe na vida e não faz sucesso, ou deixaria de sê-lo. Mas foda-se o significado real, não? Dizemos que a pessoa humilde é aquela que não tenta se impor sobre as outras, que não tenta receber o crédito pelo que faz e que sabe ficar no seu canto sem chamar a atenção.

Novamente, qualidades que até uma pedra poderia ter.

Humildade é mais ou menos como as medalhas das olimpíadas especiais ou as taças de campeonato carioca: Um prêmio de consolação para quem não consegue ganhar mais nada. Todo mundo pode ser humilde. Uma qualidade livre para quem quiser assumi-la.

Você é feio, burro, preguiçoso, pobre e covarde? Nada tema! Você ainda pode ser humilde e criar uma falsa presunção de que na verdade está escondendo o jogo de suas diversas qualidades. Nessa sociedade onde todo mundo é “especial” (Aposto que você está nos olhando aí de cima, Carlin…), todo mundo tem que se valorizado independentemente do que conquistou. Afinal, faz mal para a auto-estima das pessoas perceberem que precisam de sorte e muito esforço para serem admiradas por algum motivo real.

É mais fácil inventar um elogio inútil e distribuir medalhas paraolímpicas para os aleijados emocionais. Que Deus nos livre de percebermos que acordar cedo e trabalhar o dia todo para enriquecer outras pessoas não vai dar em absolutamente NADA no final das contas. Você é um monte de merda inútil, mas pelo menos é humilde. *sorriso condescendente*

Deve ser horrível ser uma pessoa reconhecida pela humildade. E tem muita gente por aí que se agarra nisso com todas as forças e se vangloria (ah, a ironia!) dessa característica! Eu adoro quando alguém diz que “acima de tudo é humilde/modesto”. Acima de tudo? Será que ninguém pensa antes de falar? (Pergunta retórica, ninguém pensa antes de falar.)

Essa idéia cretina de que humildade e modéstia são motivos de orgulho está tão imbuída na cabeça das pessoas controladas por ela que nem mesmo o significado ALTERADO da expressão faz mais sentido. As pessoas que se dizem humildes com orgulho já começaram a usar a idéia como escudo para sua ostentação “de nada”.

Não basta mais ser humilde, tem que ser mais humilde do que os outros. Essa maluquice causa situações onde as pessoas começam a brigar para ver quem é mais pobre, para ver quem sofre mais. É uma disputa doentia para ver quem é menos digno de outros elogios para poder ficar com a maior fatia da presunção de humildade. Numa sociedade escrotamente desigual, é o que resta para muita gente. Alienados, dopados, desanimados e segregados, esses párias modernos acabam sendo obrigados a disputar ferozmente o osso que sobra da refeição de seus “donos”.

Essa disputa maluca para ver quem que fode mais na vida é reflexo direto da “indústria de controle da população” que eu citei no começo do texto. Humildade como qualidade tem raízes religiosas, uma “virtude” cristã (e de várias outras religiões) que prega que você não deve cobiçar e tentar alcançar o poder instituído para ser humilde e ter suas recompensas “espirituais”.

“Deixe aqueles otários aproveitarem todo o dinheiro e conforto que você proporciona para eles, assim que você morrer, vai rir por último. Vale a pena obedecer. Ser humilde é uma maravilha! Quanto mais, melhor.”

Mas nem um ateu chato como eu teria coragem de dizer que só religião influencia nessa idéia nefasta. O método dos amigos do amigo imaginário calha de ser um dos mais eficientes, mas passa longe de ser o único atuante.

Para quem tem dinheiro e poder, em geral, é uma garantia de paz que as pessoas enxerguem humildade como uma valorosa contribuição para o mundo. Tem coisa melhor para quem está mandando do que ver seus comandados se resignando ao fracasso e não tentando subverter a ordem das coisas? As instituições no poder incentivam o culto à humildade. Pessoas como eu e você, que dizem que tal pessoa é pobre, mas é muito humilde e trabalhadora, também fazemos parte disso. O quê? Achou que estava livre? Quero só ver algum auto-proclamado humilde de classe média ou alta esvaziar a conta e vender suas posses para dividir o dinheiro com os mais necessitados. Eu não faria isso, mas eu não sou humilde.

Humildade é prêmio de consolação para quem não pode ou não tem capacidade de ser reconhecido por outra coisa. É uma ferramenta de controle para deixar a vida um pouco mais aturável para quem não está satisfeito com o rumo das coisas.

E é por isso que eu comecei o texto falando sobre o significado real da idéia de humildade. Não é uma qualidade, não é um elogio. É um “cala a boca” que usamos em diversas situações.

Eu perguntei se você já tinha sido chamado de humilde por outra pessoa para te avisar que essa pessoa provavelmente não enxerga outras qualidades em você, ou pior, tem receio de dizer que não te admira.

Eu perguntei se você usava a expressão para si para te avisar que você está tentando ser reconhecido por não fazer nada. É basicamente a mesma coisa que chegar numa mesa de bar e dizer que pegou uma gostosa numa festa e broxou no motel, cheio de orgulho. A diferença é que a ostentação de nada na forma de humildade te rende olhares e frases de aprovação.

“Mas, Somir, quer dizer que certo mesmo é sair por aí ostentando tudo o que faz para os outros?”

Sim, da mesma forma que se eu te disser que é perigoso pular num lago semi-congelado, eu na verdade estou defendendo que você se jogue dentro de um vulcão. Largue de ser humilde e comece a pensar um pouco, sua anta.

Humildade não é qualidade. Deixar de reconhecer suas verdadeiras qualidades, atuais ou potenciais, não vai te trazer nenhuma vantagem.

Para dizer que eu sou um convencido, para dizer que todo seu sofrimento vai ser recompensado assim que você não puder mais voltar e reclamar se for mentira, ou mesmo para dizer que é mil vezes mais humilde do que eu: somir@desfavor.com

Recentemente a questão foi levantada pelo Presidente da França, Nicolas Sarkozy e agora o assunto voltou à moda novamente com o episódio do médico (está mais para monstro) que estuprou dezenas de pacientes anestesiadas: o que fazer com estupradores?

Já disse isso aqui outras vezes e vou repetir: costumamos ser menos tolerantes com os criminosos que cometem crimes que nós achamos que não cometeríamos. Nosso senso de justiça costuma estar atrelado a nossos valores pessoais. E com base nesses critérios, o estuprador vira um dos criminosos mais rejeitados pela sociedade, afinal, poucos de nós se acham capazes disso. Não que um estupro mereça qualquer justificativa ou atenuante, porque realmente não merece. É um crime horrível que com toda razão causa repulsa social. Só estou querendo deixar claro que damos um tratamento diferenciado em função de valores próprios, sobretudo nós mulheres, que nos identificamos com as vítimas.

Pois bem, dito isto, vou direto ao assunto. Algumas pessoas vem levantado a possibilidade de se punir o estupro com a castração química do estuprador. É uma castração realizada mediante a aplicação de medicamentos (salvo engano, hormônios femininos) que diminuem drasticamente os níveis de testosterona no organismo do homem, tornando-o incapaz de ter uma ereção. Na forma como ela é proposta seria supostamente reversível, ou seja, a impossibilidade de sexo dura o tempo que durar o “tratamento”. Confesso que não tenho conhecimento das consequências a longo prazo – mas também não é intenção discuti-las aqui.

Se fosse algo irreversível como é a castração física, eu nem viria aqui falar sobre o assunto, porque acho uma barbárie (apesar de saber que sempre tem uma meia dúzia de almas exaltadas que querem que prenda, castre e mate, deixo esses radicalismos para o Somir). Portanto, vamos falar da castração apenas no caso dela ser reversível.

No Brasil é expressamente proibida a aplicação de penas corporais, ou seja, punições que afetem a integridade física do condenado. Em tese, né? Porque quem já visitou um presídio ou uma carceragem de delegacia sabe que na prática as coisas podem ser diferentes. Em tese, a castração química não poderia ser utilizada no nosso país. Mas, com um pouco de debate e alguns ajustes, talvez seja até mesmo possível argumentar que não se trata de uma punição corporal. Também pode ser alegado que, entre a violação dos direitos de uma pessoa de não ser estuprada e a violação do direito do estuprador à integridade física, os primeiros devem prevalecer. Tudo muito controverso, mas possível de se argumentar. A questão é: vale a pena? queremos isso?

O grande problema das discussões sobre estupro é que as pessoas se exaltam e a indignação não lhes permite pensar na complexidade do que está sendo debatido. Falando assim, sem aprofundar o tema: “Você acha que deveriam aplicar castração química a estupradores?” a gente tende a dizer que sim, claro, e que ainda tem que bater, prender, matar, etc. Pensamos com presunção de culpa. Por isso, vou reformular a pergunta para que vocês entendam onde eu quero chegar: VOCÊS ACHAM QUE EM UM SISTEMA JUDICIÁRIO COM FALHAS COMO O NOSSO É ADEQUADO IMPOR CASTRAÇÃO QUÍMICA PARA OS CONDENADOS POR CRIME DE ESTUPRO?

Que estuprador deve sofrer castração química eu não tenho dúvidas. Assino embaixo. Mas o que se discute aqui não é isso. O que se discute é se deve ser dada autorização ao Estado para aplicar a castração química aos condenados pelo crime de estupro, que nem sempre são de fato estupradores. Acredite em mim, se me levarem para algumas das delegacias do Rio de Janeiro, até eu confesso crime de estupro.

Durante muito tempo eu pensei de forma equivocada sobre estupradores. Eu presumia que para uma pessoa ser capaz de estuprar alguém, ela deveria necessariamente ser doente mental, ter alguma psicopatia, algum problema de cabeça. Conversando com especialistas, fui advertida de que não é o caso. Existem pessoas que o fazem por opção, que poderiam muito bem controlar seu impulso e ainda assim optam por fazer. Existe a maldade, a maldade pura e deliberada como escolha. Isso me fez pensar que estas pessoas não são passíveis de tratamento psicológico ou psiquiátrico, porque não são doentes.

Se não podem ser tratados, como garantir que retornarão ao convívio social e não repetirão o mesmo crime? E se for o caso de uma pessoa de fato doente, será possível tratá-la para evitar que ela repita o erro? Geralmente não. Os índices de reincidência no crime de estupro são altíssimos: 75% faz novamente.

No caso ocorrido da França, que levou o Presidente Nicolas Sarkozy a defender a castração química, um pedófilo que havia cumprido pena de dezoito anos e assim que colocou o nariz na rua, estuprou um menino de cinco anos de idade. Não adiantou porra nenhuma de nada passar dezoito anos enjaulado. O que fazer com pessoas assim? É tentador recorrer à castração química.

Existe um projeto de lei sobre introdução da castração química no Brasil, mas dificilmente será aprovado, porque da forma como foi escrito é inconstitucional. Eu sei que todos que estão lendo estão pensando favoravelmente à castração química, mas peço que deixem sua indignação de lado por um segundo, se desarmem e procurem ler as próximas linhas com racionalidade.

A lei brasileira sacaneia o homem por demais. E olha que para que EU (que acho que toda sacanagem com homem é pouco) diga uma coisa dessas, a injustiça deve ser enorme. O homem só se fode. Por causa de meia dúzia de babacas todos pagam o preço. Não discuto se isso é necessário ou não, apenas estou dizendo que as leis são extremamente protecionistas com mulheres, que ultimamente não andam tão indefesas.

Vocês sabem o que vem acontecendo com a Lei Maria da Penha, a lei contra a violência doméstica, né? Praticamente TUDO que um homem faz e desagrada uma mulher pode virar violência doméstica. Quem tiver curiosidade de ler, procure no Google a lei 11.340 e leia o artigo 5º para constatar o que o legislador definiu como sendo “âmbito doméstico” (não precisa nem morar junto, ta?) e o pior de todos, o art. 7º, que nos diz o que configura violência doméstica. Os incisos que descrevem o que é violência psicológica e violência moral englobam praticamente tudo, por essa lei, Somir comete violência doméstica contra mim todo santo dia.

Resultado? O que era para impedir que um marido violento dê umas pancadas na esposa porque ela queimou o feijão virou arma de Patricinha mimada para se vingar de namorado que a largou ou de homem que a rejeitou. Mesmo quando não chega a virar um processo, tem sempre aquela mulherzinha barraqueira que vive de blefe com o discurso ameaçador no canto da boca “Olha que eu vou te processar, hein”. E o homem responde ao processo preso, ok? Antes mesmo de ser condenado. O bicho pega.

Eu sou a favor de homem bater em mulher? NUNCA. Mas eu sou a favor da Lei Maria da Penha? Não, obrigada. Entendem o paralelo? Já tive amigos presos sem jamais encostar um dedo na ex-namorada. Eu trabalho com isso, acabo vendo essas injustiças todo santo dia. Entendem meu medo?

Se for liberada a castração química, será mesmo que vai ser usada contra estupradores? Ou será que vai ser usada apenas nos estupradores pretospobresfavelados e contra homens que rejeitaram mulheres histéricas e vingativas? Quem se safa sempre, vai continuar se safando, não importa quão duras sejam as leis. Não é a intensidade da pena que coíbe o crime, é o real temor de ter que cumpri-la.

Quando a gente pensa naquele estuprador padrão, tipo maníaco do parque, fica fácil desejar a castração química. Mas quando a gente pensa no nosso pai, irmão, primo, filho ou amigo que aborreceu uma vadia qualquer que só de raiva resolveu acusá-lo de estupro para vê-lo castrado (e, meus amigos, vocês não tem noção da baixaria que algumas pessoas são capazes de fazer para se vingar), a coisa muda de figura. Alguém aqui põe a mão no fogo que a justiça não erra?

Pensemos em um processo por estupro, contra seu pai, irmão, primo, filho ou amigo. Estupro não precisa de testemunhas, e geralmente não as tem. É a palavra da mulher contra a do homem. Adivinha quem tem presunção de vítima? O estuprador PODE ser condenado SEM EXAME DE CORPO DE DELITO, ok? A mulher diz que foi para casa, porque estava traumatizada, e depois de vinte dias criou coragem e denunciou. Os vestígios já eram. E ainda assim, ele pode ser condenado.

Quantos de vocês, homens, nunca tiveram um LOUCA no caminho capaz de tudo (inclusive de queimar o próprio filme) para ficar com você ou se vingar depois de ter sido rejeitada? Imagina se uma lei desse a essa louca o poder de te castrar, ainda que temporariamente? Imagina ela fingindo choro em uma audiência, comovendo os presentes e dizendo “ele me estuproooooouuuu!” e você sendo condenado a ficar por anos e anos broxa. Estamos falando de vinte ou trinta anos sem uma ereção. Ainda está tão certo da castração química?

Não pensem nos bandidos quando falarem de uma lei criminal. Pensem que pode chegar em todos nós.

Mas Sally, é reversível”. Sim, mas e se você não conseguir provar a sua inocência? Vai gostar de ter passado vinte anos broxa? E se 19 anos depois se comprova que você é inocente, quem te devolve esses anos todos que você passou broxa? Não sou homem, mas acho que se fosse, preferiria ser privado da minha liberdade do que da minha ereção. Opinem.

Mas Sally, você não gostaria que um homem que te estuprou fosse castrado?”. Sim, castrado e morto. Gostaria sim. Mas não é assim que se fazem leis, pensando em revanche. Se fazem pensando no melhor para a sociedade. E nosso sistema penal não tem por objetivo a vingança, como por exemplo nos EUA, onde das famílias das vítimas vão bater palminhas para a execução do assassino. Se fosse comigo é claro que eu ia querer tudo de ruim para a pessoa, mas a pergunta é: eu quero viver em um país onde o Estado pode fazer tudo de ruim a um condenado? Minha raiva pessoal não deve virar lei. Se virar, será um perigo. (afinal, eu sou RITLER, né?)

Por outro lado, eu tenho plena consciência que é foda ficar alimentando vagabundo que estupra a rodo e saber que depois de no máximo trinta anos (provavelmente antes) ele vai sair e fazer tudo novamente. É uma questão delicada. Entendo quem defenda a castração química. Eu sou contra, mas não acho um argumento descabido. Para uma mulher é muito fácil dizer “castra mesmo!”, porque não podemos nos identificar com a figura do agressor, nunca que essa merda vai feder na gente. Talvez os homens me entendam melhor.

Não tem jeito, pena corporal não entra na minha cabeça. Se resolvesse, minha gente, eu até pensava com carinho nessa birra que eu tenho com penas corporais… Mas não resolve, meu povo. Sem querer ser grossa, ainda que se aplique castração química, a pessoa continua tento dedos, língua e boca. Não é só com um pênis que se molesta alguém.

Por favor, opinem. Mas opinem com civilidade.
Para me dizer que é foda mesmo, que só podia ser eu para ficar defendendo estuprador, para me perguntar se eu não gostaria de que a pessoa que me estuprou fosse castrada, torturada e assassinada e para usar qualquer outro argumento de gente pobre de espírito: sally@desfavor.com