Whoa, dude...

Escala de nerdice: 5.8928388109032984293299991001000009212

Como normalmente faço, decidi o tema desta coluna alguns minutos após abrir o editor de texto e começar a escrever. Uma das minhas táticas é escrever um título praticamente aleatório e ver se consigo desenvolver. Desta vez escrevi “inteligência artificial”, mesmo sem saber muito bem de onde saiu isso. Não tinha visto nada sobre o assunto recentemente e uma página em branco não é algo lá muito inspirador para o tema.

Mas, de alguma forma, surgiu uma idéia para seguir em frente com uma variação do título inicial. E a idéia tem a ver com a forma como ela surgiu. Sim… wat.

E mesmo nesse momento, onde já estou escrevendo a abertura da coluna, ainda não tenho muita idéia sobre como vou desenvolver a idéia sobre a qual vou me basear. Mas, que seja, é uma forma bem humana de se expressar.

Vamos então à inteligência artificial.

Nos vários e vários filmes, séries, gibis e jogos de ficção científica (livros são para perdedores) que já vi, sempre me pareceu “estranho” que os robôs nunca fossem capazes de produzir arte da mesma forma que um ser humano.

Claro, eu entendia a analogia com a “alma” humana e a impossibilidade de um ser sem emoções produzir algo tão cheio de significados emocionais como a boa arte. Mas apesar de entender qual o objetivo conceitual das cenas, achava aquilo meio mal contado.

Como se fosse uma espécie de preconceito contra algo que ainda nem existia. Uma forma de diminuir as supostas máquinas dotadas de consciência para não nos sentirmos tão obsoletos.

Afinal, uma inteligência artificial teria praticamente todas as vantagens de um ser vivo, sem as desvantagens. Um robô não precisa comer, respirar, cagar… (morra de inveja, Sally) Um robô inteligente ainda pode se aproveitar da fragilidade da vida biológica para se tornar o dono da humanidade (roteiro batido).

Tremei, máquinas, pois se vocês são imortais, nós somos mais artísticos! Há! Acabamos com eles, não?

Claro que na vida real ainda estamos terrivelmente longe de uma verdadeira inteligência artificial, daquelas que sabem que existem e que podem aprender e evoluir sem intervenção humana. E por terrivelmente longe nesse tempo de evolução tecnológica exponencial pode ser 20 ou 200 anos… Mas de uma coisa eu não duvido: Uma inteligência artificial imitando a humana não é impossível e eventualmente estará disponível numa loja pertinho de você. (Por “você” eu quero dizer algum descendente seu…)

Mas, voltemos ao assunto da arte humana e a sua suposta irreprodutibilidade robótica. Um dos maiores clichês ao se retratar uma inteligência artificial nessa área é o caso da pintura de um quadro… O robô observa uma paisagem e começa a pintar numa velocidade impressionante. O resultado é quase sempre uma reprodução fotográfica da cena.

O robô é incapaz de enxergar algo além da cena, ele é incapaz de representar algo diferente do que consegue captar. Mas aí que sempre surgiu a minha impressão de que algo estava errado…

As brilhantes mentes que programaram essa inteligência artificial que não tinham a menor noção do que seria essa “alma” da arte humana. O robô foi programado para tomar as melhores decisões possíveis dentre uma quantidade de variáveis que simplesmente não cabem nas nossas cabeças.

Um robô com a capacidade de pintar um quadro perfeito, programado para tomar as melhores decisões… Não tinha como ser diferente. O que não quer dizer que o robô jamais conseguiria pintar como Picasso, por exemplo…

Basta o robô ser programado para tomar decisões aleatórias, limitar sua percepção e esperar até que um dos quadros seja cubista. Infinitos macacos em infinitas máquinas de escrever reproduziriam sim a obra de Shakespeare. Tanto que foi exatamente o que aconteceu na vida real.

Alguém poderia dizer sobre uma inteligência artificial: “Queria só ver esse robô pegar um pincel e fazer o que Salvador Dalí fazia!”, bom, eu queria só ver OUTRA pessoa pegar um pincel e fazer isso. Reproduzir é uma coisa, criar é que são elas. A quantidade de fatores que precisam estar reunidos para criar a mente única de uma pessoa é tão avassaladora que mesmo sendo virtualmente idênticos em nossos códigos genéticos, alguns humanos conseguem seguir por caminhos criativos tão únicos ao ponto de jamais serem repetidos.

Considerando que já nasceram mais de 100 bilhões de seres humanos nesse planeta, estamos muito próximos mesmo da analogia dos macacos e as máquinas de escrever. A diferença é que existe um bom grau de consciência nesses macacos pelados e isso nos direciona a seguir pelos caminhos mais corretos desde o começo.

QUANTAS PESSOAS não compuseram músicas antes de Beethoven? A probabilidade de um de nós chegar nesse nível de criatividade e excelência é tão baixa que esse compositor ainda é relevante séculos depois de sua morte. 20 bilhões de macacos tentaram, e só um escreveu a página certa.

Não tiro o mérito de nenhum grande artista por causa desse fator de probabilidade, afinal, “Queria só ver eu fazer isso…”. Mas isso corrobora com a idéia de que boa parte dessas decisões artísticas humanas provém da aleatoriedade. Quando um artista resolve tomar um caminho improvável, pode ser por falta de outras opções em mente, alguma limitação física ou mental, ou mesmo por incapacidade de fazer o que estava imaginando em primeiro lugar.

Que, adivinhem só, são constantes na vida de todo mundo que não é robô. Quantas vezes não deixamos de tomar a decisão mais simples/racional/óbvia em nossas vidas? Existe sim uma limitação na capacidade humana que torna nossas ações imprevisíveis. Que gera resultados absolutamente anômalos em relação ao padrão, seguidas vezes.

Esse teórico robô que só pinta quadros “fotográficos” é muito mais avançado que qualquer gênio das artes plásticas. Ele toma as melhores decisões para representar uma cena, cada mancha de tinta corresponderia exatamente ao local onde deveria estar de acordo com a imagem captada.

Se quisermos emular essa criatividade típica nossa numa máquina, ela vai ter que ser limitada propositalmente, e ainda por cima tomar decisões equivocadas com freqüência. Posso até imaginar como se programaria isso, mas até mesmo para um texto com aviso de nerdice no começo seria um abuso.

Com um bom planejamento uma máquina pode criar obras de arte ainda mais inovadoras e brilhantes do todos os “infinitos macacos” juntos. A aleatoriedade e a limitação são partes integrantes da evolução do nosso pensamento, e da vida como um todo.

Quem repete a melhor escolha seguidas vezes está sempre fazendo a mesma coisa. Se por um lado a melhor escolha tem seus ganhos, por outro quer dizer que apenas uma linha de possibilidades está sendo explorada. Grandes invenções (e CERTEZA que a maioria das grandes obras de arte) surgiram de distrações e erros que afastaram seus criadores do caminho planejado inicialmente.

Uma inteligência artificial teria que ser forçada a errar, sabendo que está errando, para conseguir esse fator surpresa. Mas como é tudo aleatório, uma espetacular obra de arte pode ser perdida para sempre na memória de uma dessas máquinas, pelo simples fato de outra forma de representação ter sido escolhida.

Quantas espetaculares obras de arte já se perderam até hoje antes mesmo de saírem da mente de seus autores? Ou mesmo na sua mente, caro(o) leitor(a)? Numa fração de segundo pessoas tomam decisões pela simples necessidade de um resultado.

Sim, uma inteligência artificial poderia ser uma grande artista. Desde que seja feita para isso. Mais ou menos como gênios artísticos são gerados: Numa sequência tão única que é como se a pessoa não pudesse evitar de se expressar da forma como a faz.

Talvez goste-se mais da idéia do andróide como sendo o ser limitado pela própria vontade de ser superior. De ter algo único intimamente ligado ao que se é, algo que não pode ser copiado, imitado ou tornado obsoleto.

Bobagem. Não tem nada na existência humana que não possa ser copiado, imitado ou tornado obsoleto por um ser/objeto imortal e programável, claro, dado o tempo certo para a tecnologia dos infinitos macacos chegar nesse ponto.

Se eu tivesse pensado nesse texto com muita antecedência, teria tomado melhores decisões e escrito de forma mais acessível, mas dificilmente teria paciência para escrevê-lo.

Para dizer que isso foi… foi… foi… sabe-se lá o que, para dizer que eu não devo postar bêbado, ou mesmo para dizer que a escala de nerdice te enganou hoje: somir@desfavor.com

Simples, muito simples...

Este texto vai falar (também) sobre alguns jogos de computador, então me sinto obrigado a rotular o texto com o grau 8 na escala de nerdice para textos do desfavor. Escala inventada agora, mas que eu vou utilizar a partir deste texto. Se você, leitor ou leitora, não gosta dessas coisas, deve evitar qualquer texto meu rotulado com um grau maior que 3.

E caso você não tenha percebido, Somir Surtado virou minha coluna para assuntos nerds. Eu gosto dos assuntos e ainda irrita as histéricas, win/win.

O grau 1 engloba assuntos científicos com utilização clara na vida social de uma pessoa que se importa com sua vida social.

O grau 2 trata de idéias que influenciam de sua vida cotidiana, mas que não vão te fazer mais atraente para o sexo oposto.

O grau 3… Cacete, quanta informação só para falar de uma escala de nerdice inventada na hora… Eu tenho um talento natural para complicar as coisas, mas vivemos num tempo onde a quantidade de informações e idéias disponibilizadas diariamente para uma pessoa comum é tão grande que você é bem capaz de estar pensando no que seria o grau 3 e qual a relação entre toda essa enrolação e a frase inicial sobre o jogo de computador. Provavelmente enquanto está trabalhando em duas ou três coisas ao mesmo tempo.

Para complicar ainda mais, o texto vai voltar para os jogos agora. Mantenha próxima a menção ao excesso de informação na sociedade moderna para acompanhar o raciocínio. Você deixou a porta de casa aberta? Bom, como eu ia dizendo:

Há alguns meses eu venho “jogando” um RPG online de temática espacial. Só essa informação já garante pelo menos 7 na escala de nerdice para este texto. O fato de que eu pago para “jogar” garante o grau 8. “Jogando”, entre aspas, porque eu simplesmente não tenho tempo para jogar. Basicamente o mongo aqui paga 15 dólares por mês para ter uma conta no jogo e um ícone no desktop que já está juntando teias de aranha virtuais.

Você, tão acostumado a processar qualquer informação inútil que absorve, deve estar pensando que não faz o menor sentido pagar para não jogar. Pois bem, neste exato momento, o meu personagem no jogo está estudando a habilidade de lançar pequenos robôs de sua nave para atacar os inimigos. Não acaba aqui: O personagem já sabe fazer isso, mas precisa estudar para conseguir lançar estes robôs cinco quilômetros mais longe do que consegue lançar atualmente. E para fechar o caixão: O tempo que demora para este personagem aprender a lançar os robôs cinco quilômetros mais longe é de UMA SEMANA. Semana da vida real.

Neste exato momento eu estou pagando para isso. Enquanto minha conta estiver ativa, o meu personagem no jogo continua aprendendo essa habilidade. Aqui, na vida real, eu não tenho a menor previsão de quando eu vou ter algumas horinhas livres que sejam para ver esta incrível façanha em ação, jogando o jogo, só para variar.

É difícil passar a idéia da deliciosa insanidade que é toda essa bobagem para quem nunca jogou um jogo do tipo. Mas fica aqui a minha tentativa.

Se você agüentou a enxurrada de informações aparentemente (mentira, são mesmo) inúteis que eu disparei até agora, não precisa se preocupar: Vai piorar. Quem não sacou a idéia do texto até aqui já desistiu de ler, então eu fico mais livre para subir o nível (de maluquice):

Eu não estou pagando os tais quinze dólares mensais para a empresa islandesa que criou o jogo só por causa dos tais “robôs”. O que me cativou desde o começo foi a complexidade absurda do jogo. Ficção científica e temas espaciais são sim interessantes para um ser como eu, mas jamais me fariam colocar a mão no bolso (isso sim que é um feito) se não fosse a quantidade avassaladora de informações necessárias para se jogar “minimamente” bem.

É um jogo onde conhecimento específico define o seu sucesso. Tempo livre não faz diferença. Essa é a graça. Se alguém ainda achava que eu me chamava de nerd de brincadeira, pode esquecer. (Sally sempre nutriu uma esperança que um belo dia eu fosse acordar e dedicar minha vida a dançar axé…)

Não é nem propaganda do jogo, porque mesmo se eu cativasse outro(a) masoquista intelectual a jogar, eu não teria tempo para acompanhar de qualquer forma. E quanto menos brasileiros em qualquer comunidade virtual, melhor.

Sem contar que companhia é o que não falta. A média é de pelo menos 30 mil pessoas online ao mesmo tempo no mesmo servidor. E talvez até uma ou duas mulheres também.

Comparando com o grande sucesso do gênero, que reúne mais de 10 milhões de jogadores, parece pouco. Mas quanto se contabiliza a dificuldade e o grau de frustração que ambos os jogos podem proporcionar, é de se estranhar que o único maluco pagando para aprender a mandar robôs mais longe não seja o maluco que lhes escreve.

E já entenda que esses jogos online são coisa exclusiva de nerd só aqui no Brasil e em outros lugares mais pobres. Já é “mídia de massa” nos países ricos. Ao invés de abrir o “paciência” no computador, abrem o World of Warcraft… (o grande sucesso do gênero mencionado anteriormente)

E guardadas as devidas proporções, até mesmo esse jogo jogado por milhões e feito para ser o mais amigável possível até para as mães dos que jogam (sério, elas jogam mesmo), World of Warcraft é complexo pra caralho. Não é a tortura que eu gosto, mas facilmente um jogador pode ter que entender mais de cinqüenta funções diferentes do seu personagem, sem contar os milhares de itens e inimigos disponíveis.

Tudo isso por puro entretenimento. As pessoas parecem estar cada vez mais dispostas a acumular quantidades enormes de informação para realizar até mesmo seu lazer. Tem gente que escreve LIVROS sobre um RPG Online e tem gente que COMPRA. Um passeio rápido pelo Google e você vai encontrar milhões de páginas com guias complexos sobre esses jogos, feitos por outras tantas milhões de almas viciadas. E nem todos se encaixam na definição estereotipada do nerd sem vida.

Pois bem, depois dessa queimação de filme eu entro no mérito do excesso de informação na vida cotidiana novamente. Você não adora essas mudanças repentinas de foco?

O mundo está perdido? Eu usei tantos exemplos do meu jogo que eu “não jogo” (mas estou babando para poder jogar) para demonstrar como um reconhecido descompensado e assumido nerd pensa. Mas eu e os 500 mil que também jogam o complicadíssimo somos apenas um leve desvio dos milhões e milhões que jogam os complicados.

Mais pessoas sabem como aplicar a Espadada Mágica +10 do que o número de pessoas que sabem como se cria gado, como se previne da AIDS ou mesmo como funciona o eletromagnetismo…

As pessoas estão carregadas de informações inúteis? As informações só são inúteis quando a pessoa não as utiliza. Quando eu aprendi algumas das informações do jogo que menciono na coluna, senti o prazer de ver as idéias encaixando e de perceber novas oportunidades. Aquela boa sensação de ter resolvido um problema.

Não era um problema real. Mas consideremos que algumas pessoas (mulheres e frouxos) choram assistindo filmes… Não são situações reais. A maioria das pessoas tem a capacidade natural de se imaginar numa situação e se adaptar praticamente em tempo real a uma nova realidade.

E não podemos esquecer que a maior parte da população mundial acredita numa fantasia maluca de que existe um ser mágico nos céus que as observa o tempo todo…

Eu sempre desconfiei que os “nerds” eram basicamente a próxima geração humana começando um pouco antes da maioria. Não chamo de grande evolução saber como aplicar a Espadada Mágica +10 ou mesmo pagar para que um personagem aprenda a enviar robôs cinco quilômetros mais longe, mas a evolução em larga escala é uma coisa bem lenta. Os antigos nerds eram simplesmente a média do público mais jovem das últimas gerações.

(Gente desajustada e anti-social não precisa gostar de excesso de informação inútil para ser desajustada e anti-social…)

Gente viciada em informação complexa, e em grandes quantidades, nada mais são do que as pessoas comuns vivendo num mundo com um bombardeio incessante de mensagens publicitárias, textos, músicas, vídeos e idéias o dia todo. A adaptação do cérebro aos tempos modernos está tornando a simplicidade obsoleta.

Eu adoro falar sobre sociedade com exemplos assim. Aproveitem enquanto ainda não é o padrão. Aposto que nossos descendentes vão estudar sociologia com informações colhidas diretamente de RPG’s Online.

Claro que o texto poderia ser bem mais claro e direto, mas que graça teria?

Para dizer que eu me superei desta vez, para reclamar do meu atraso e descobrir que eu não ligo, ou mesmo para me pedir 15 dólares por mês para não fazer nada de verdade em troca também: somir@desfavor.com

Recentemente uma notícia me chamou a atenção: A criação da primeira boneca sexual “inteligente”. Inteligente no sentido que tenta simular vários comportamentos femininos que existem majoritariamente em filmes pornôs. O dia que a boneca sexual (hoje em dia não é mais inflável…) fingir dor-de-cabeça e te beliscar depois de você secar uma gostosa na TV eu começo a considerar inteligência artificial realista…

Basicamente, a boneca (que é feia pra caralho…) consegue ser um pouco mais ativa utilizando motores de sucção e outras maravilhas tecnológicas. (Neguinho tem que ser maluco para enfiar o pau no meio de um monte de engrenagem, mas… o público-alvo do produto não costuma ser do tipo que tem alguma escolha.)

Além disso, ainda tem personalidades programáveis (todos clichês de filmes pornôs, já que os desenvolvedores dificilmente conhecem sexo na vida real) e uma rudimentar capacidade de comunicação.

Resumo: Fizeram o Aibo das mulheres. Eu sei que é algo patético, mas não posso deixar de ficar impressionado com os avanços tecnológicos implantados no projeto. Na maioria dos casos, simular o comportamento de uma mulher é bem mais complexo do que simular o comportamento de um cão. (De “mulherzinha” é quase igual…)

Eu não sou de ficar fazendo muito drama por causa dos problemas alheios. Se o cidadão resolve gastar uma quantia exorbitante para levar um robô que faz sexo para casa, direito dele. (O que eu acho absurdo é pagar mais por uma boneca sexual que fala… Sempre imaginei que o objetivo fosse justamente o oposto.)

No final das contas, num mundo onde robô(cetas) de qualidade estiverem disponíveis para o grande público, pode apostar que o número de tiroteios e suicídios masculinos vai diminuir. Tem gente MUITO carente nesse mundo.

Enquanto homens acabam se voltando para pornografia e bonecas infláveis, mulheres tendem a ter animais de estimação para lidar com a solidão. Não é bem meu objetivo no texto de hoje, mas o que tem de vídeo de mulher com cachorro na internet não é pouca coisa não… Deixarei essa análise para um Flertando com o Desastre futuro sobre solidão.

Voltemos ao foco, e para variar, o foco não é exatamente sobre o que eu falei na introdução. É curioso notar como ao passo que a ciência envolvida na robótica tente aperfeiçoar a tecnologia e a eficiência dos mecanismos, a indústria do sexo já está prestando muito mais atenção na humanização dessa tecnologia. (Ok, a boneca do exemplo parece um traveco morto, mas a intenção está presente.)

Quando eu digo que o sentido da vida é sentir prazer, me chamam de alma subdesenvolvida para baixo. Oras, sejamos sinceros: A busca pelo prazer (os famosos pecados) é o que nos empurra rumo ao futuro.

E não é à toa que religiões brigam tanto contra os prazeres da vida. Quanto mais atrasados estivermos, melhor para eles.

Vejam bem, essa não é uma defesa do hedonismo, postei isso como Somir Surtado porque pouca gente vai sacar o objetivo subversivo do texto. Deixemos o Flertando com o Desastre para coisas mais óbvias.

Pessoas buscando o prazer sexual (ainda que solitário) fizeram da internet o monstro “onipresente” que ela é hoje. Queria só ver você poder usar o seu Orkut para contatos de negócio caso uma massa de punheteiros não tivesse gerado demanda suficiente há alguns anos atrás para que as grandes empresas de comunicação apoiassem a rede mundial de computadores.

Sim, agradeçam ao Somir de 15 anos de idade. As buscas dele por “mulheres peladas” (ah, eu me contentava tão mais fácil…) se juntaram às buscas de vários outros espinhentos e criaram a necessidade de melhores mecanismos de busca. Numa dessas nasceu o Google. (Aposto que os dois donos também ficavam de saco cheio de ralar para achar foto de mulher pelada…)

Hoje em dia você provavelmente baixa filmes famosos do cinema ripados de Blu-ray pela sua conexão a cabo e os assiste em uma bela tela de LCD Wide. Se não faz, logo logo vai fazer, os preços de toda esta tecnologia estão caindo vertiginosamente. Vocês acham que as velocidades de conexão, a qualidade dos vídeos de internet e os monitores de alta resolução apareceram para que pessoas pudessem ver melhor os seus blogs preferidos? Foi gente querendo ver quantas pregas realmente tinham no cu da Silvia Saint ou da Belladona. (Cada vez menos, aparentemente…)

E não precisamos ficar no campo da covardia (cinco contra um). Pessoas buscando experiências sexuais virtuais ou reais com outros seres humanos foram a mola propulsora das redes sociais. Quem se lembra dos áureos tempos de chats ultra-populares sabe muito bem o tipo de interação que era buscada ali. O “20comer” e a “Molhadinha19” são mais importantes nessa revolução de comunicação do que o próprio turco boiola criador do Orkut.

Empresas e pessoas de visão percebem a demanda do mercado e providenciam os produtos e serviços ideais para ganhar mais dinheiro. Claro que é socialmente reprovável dizer que está aumentando a velocidade de conexão para que as pessoas possam piratear mais vídeos pornográficos de altíssima resolução, então dizem que é para o seu filho estudar melhor.

Se você é meio “evelyn” e não entende o que lê, eu não estou dizendo que todo mundo é viciado em pornografia e fica procurando isso. Estou dizendo que boa parte dos avanços tecnológicos de internet beneficiaram primeiro quem queria ver isso com mais velocidade, qualidade e privacidade. A indústria da pornografia de internet fatura mais que TODO o resto da rede junta. Quem paga mais recebe mais.

Mas a indústria da hipocrisia é mais poderosa. É melhor para muita gente que não assumamos essa busca por prazer como força propulsora da popularização tecnológica. Aliás, os avanços tecnológicos, principalmente no campo da comunicação, passam primeiro pelo crivo das grandes indústrias pornográficas antes de realmente ganharem o público.

VHS X Betamax? As produtoras de pornografia “deram” primeiro quem ia vencer. Aderiram ao VHS e todo mundo acabou seguindo. Não preciso nem dizer quem começou a lançar DVD’s com força primeiro, não?

Adivinha só quem abraçou o Blu-ray em detrimento do HD-DVD há pouco tempo atrás? Quem estava acompanhando esse lado “marginalizado” já sabia quem ia ganhar vários meses antes dos melhores especialistas.

Alta-definição como padrão? É com eles mesmo. Pay-per-view? Eles estavam na frente (E atrás, de ladinho…). Distribuição digital? Ninguém sequer chega perto da pornografia em termos de avanço na área.

E eu só estou usando exemplos considerando UM tipo de prazer. A preguiça e a ganância por si só já garantem 90% da tecnologia atual. Tire isso das pessoas e viveremos num mundo atrasado e desmotivado.

Ainda acho que os compradores de bonecas sexuais motorizadas são pessoas estranhas, mas não vou deixar de agradecê-los quando tiverem motivado a indústria da robótica a crescer o suficiente para me garantir uma boneca que lava a louça e dá banho no Goiaba. (Precisa de um robô, ou mais, para dar conta do felino…)

Sexo ainda vai continuar sendo muito fácil de conseguir, mas se não fossem aqueles que mesmo assim tem preguiça de fingir que se importam com o que uma mulher fala e tomar pelo menos um banho por dia, não teríamos tantos avanços assim na área da comunicação via internet.

Tomara que venda muito! Eu não quero morrer antes de ver o mundo tomado por robôs! Se eles todos parecerem atrizes pornôs interpretando uma enfermeira ou uma professorinha, melhor ainda.

Para dizer que eu só posso ter merda na cabeça, para dizer que acho meu texto uma putaria, ou mesmo para dizer que os robôs já estão entre nós: somir@desfavor.com

Se você não sabe quem é esse, é novo(a) demais...

O texto de hoje era para ser um Flertando com o Desastre, mas não ficou tão ofensivo como eu queria. Errei.

Que seja:

Agradeço a todas as pessoas que gastaram seu tempo reclamando dos textos que eu escrevi aqui no desfavor. Adoraria poder responder todas as ofensas, questionamentos sobre minha sexualidade e desejos de morte horrível que recebo, mas sinto que uma resposta curta e debochada não seria digna de quem se preocupou com o que eu escrevi a ponto de me mandar um e-mail. Mas não se preocupem, eu ainda respondo todas, vocês merecem.

Vejam bem, eu não sou masoquista, mas adoro uma crítica. Muitas vezes dá para tirar alguma coisa produtiva, até mesmo de uma crítica destrutiva. Se alguém não gosta de uma opinião sua, imagina-se que tenha uma opinião contrária ou incompatível. Nada melhor do que um novo ponto-de-vista para se enxergar uma coisa nova.

Claro que alguns dos críticos ou críticas tem algumas dificuldades com lógica simples ou mesmo com exposição de idéias. Tem quem mande um e-mail gigante dizendo como não se importa com o que eu digo, tem quem tente demonstrar superioridade me desejando uma morte lenta e dolorosa, tem quem diga que por não mostrar meu rosto meus argumentos não fazem sentido…

De qualquer forma, obrigado por criticar.

Mas eu não recebo esses e-mails pela preocupação dos ofendidos com minha evolução pessoal. Eu recebo esses e-mails porque eu critiquei algo em primeiro lugar.

E pelo o que eu conheço do mundo, as pessoas odeiam ser criticadas. Não vou começar uma argumentação sobre a necessidade de se dizer tudo o que pensa, não tenho a menor simpatia por uma utopia sincericida.

O que me incomoda é essa baboseira da santidade da opinião alheia. As pessoas dizem coisas estúpidas, oras! Liberdade de expressão funciona na hora de dizer o que quer e PRINCIPALMENTE na capacidade de ouvir o que não quer. O direito de ter sua opinião não é o dever dos outros de concordar.

Nesse tempo de desfavor eu constatei o óbvio postagem (desagradável) atrás de postagem (desagradável): As pessoas gostam mesmo é de chutar cachorro morto. Se eu resolvo falar mal de algum grupo de pessoas cuja média de nosso público também não gosta, tudo corre bem nos comentários. A crítica é justa e razoável.

Se eu resolvo me arriscar um pouco mais e bater em algo com o qual os leitores se identificam, a crítica se torna um abuso contra a liberdade das pessoas de serem o que elas quiserem ser. A partir desse momento, eu sou intolerante. A crítica não é mais sobre um comportamento ou uma idéia, a crítica se torna pessoal. Como se eu conseguisse por um momento apontar meu dedo na cara de quem está lendo e tirá-la de uma espécie de zona de conforto. (Nada contra, acho o máximo irritar e incomodar quem lê o que eu escrevo. Aqueles e-mails são uma vitória para mim. Não é questão de ser importante, é questão de conseguir pegar na veia e encontrar o ponto fraco de uma pessoa que eu nunca vi na vida.)

A crítica, por mais generalista que seja, tem o poder de excluir um indivíduo de seu grupo de segurança. Enquanto os tiros estão pegando nos outros, viva a liberdade de expressão! Quando a coisa começa a sugerir que você vai ser o próximo, vira maldade e iNgnorância.

E a culpa disso é de uma falsa sensação de segurança, muito presente em pessoas limitadas intelectualmente (esse tipo de limitação pode muito bem ser um estado transitório). Segurança de que está fazendo e pensando as coisas da forma certa. Uma pessoa que tem muita dificuldade de entender o funcionamento do mundo que a cerca tende a achar algumas respostas simples para manter sua mente num estado de repouso constante.

Criticar os valores de pessoas assim leva a chiliques (hilários) monstruosos. É praticamente uma covardia… Mais ou menos como pisar num formigueiro. A pessoa leva anos para montar uma lógica que julga ideal para que um babaca (oi!) venha e pise em cima. Vai aqui uma dica valiosa: Duvide MUITO de alguma idéia que você tinha e acabou desmontada rapidamente por uma crítica. Tem algo de errado aí. Você pode brigar e defendê-la com todas suas forças até conseguir “refazer o formigueiro”, mas no final das contas, ela vai continuar frágil contra as intempéries de uma vida onde se convive com outros seres humanos.

Eu costumo dizer, nesses meus momentos de escritor de frase de boléia de caminhão, que inteligência depende de estar errado. Construir idéias que te agradem e reforcem sua própria noção de superioridade é uma das coisas mais fáceis que existem. Complicado MESMO é perceber os erros nelas. E é só enxergando esses erros que sua mente realmente avança para algum lugar.

A crítica é uma forma de nos ajudarmos a não ficar estagnados com o que já pensamos. A crítica pode ser transformada em “construtiva” em qualquer situação. Não quer dizer que todas estejam corretas, as pessoas realmente falam muitas bobagens, mas quer dizer que existe uma oportunidade excelente de perceber o mundo por outra ótica. Quando a crítica acerta em alguma falha sua que foi negligenciada ou ignorada, chance de evoluir. Quando a crítica demonstra que sua idéia original é válida, chance de firmá-la com exemplos práticos.

É o poder de vários cérebros focados no mesmo assunto. Basta usar os recursos ao seu favor.

Quando eu digo que as reclamações semi-analfabetas e incoerentes que recebo são muito bem vindas, estou falando a mais pura verdade. É “poder de processamento” que eu uso com todo o prazer. Acertar a zona de conforto de uma pessoa que se identifica com algo que eu critiquei demonstra que tem sim lógica o que eu escrevi.

Mas não são apenas antas raivosas que criticam. Já li em e-mails e comentários várias discussões excelentes sobre os assuntos tratados. Tem gente, aqui no blog mesmo, que já me acertou NA VEIA com uma crítica debochada sobre uma postagem que fiz. Era exatamente o que estava errado com o meu texto e postura ao discorrer sobre a idéia em questão. (Nem fodendo que eu digo qual, ainda sou um egocêntrico orgulhoso, apesar de tudo…)

A partir daquele momento, eu percebi e corrigi o erro. Posso dizer que nunca mais recebi uma reclamação esse ponto. (Algumas da Sally, mas ela já reclama de mim por esporte a essa altura do campeonato. Difícil definir se ela percebeu também.)

O que eu quero dizer é que não existe esse porto seguro ideológico que muitas vezes me acusam de conturbar de forma preconceituosa. Estar errado é parte integrante do processo de pensar. O mundo é assustadoramente mais relativo do que gostamos de imaginar.

Até por isso eu defendo a importância de fundamentar PELO MENOS a sequência lógica que te faz ter alguma opinião. Você já tentou explicar para si mesmo algo que julga difícil fazer outras pessoas entenderem? Faz toda a diferença. Se nem você entende, a chance de outra pessoa entender é minúscula.

Quem baseia suas idéias, opiniões e atitudes de forma sólida e racional ganha de presente a capacidade de filtrar e aproveitar informações externas, seja qual for a natureza delas. Críticas construtivas e destrutivas são conceitos que dependem muito mais de quem as recebe do que quem as faz.

Embora sejam pessoas limitadas que tendam a fazer o maior carnaval quando criticadas, a idéia de zona de conforto ideológica não é exclusividade de quem é incapaz de pensar no assunto. Muitas vezes é a simples frustração de não conseguir fazer outra pessoa entender o que se está falando. Quem perde a cabeça numa situação dessas acaba ficando vulnerável às críticas mesmo sendo totalmente capaz de lidar com elas.

É muito útil para o mundo que pessoas chatas reclamem e exagerem sobre pequenos problemas que enxergam em outras pessoas e grupos. Nem sempre faz sentido ou tem objetivo, mas é sempre aproveitável.

Obviamente existe toda uma necessidade de tato e empatia para saber como criticar algo ou alguém na vida real. Novamente: Não é ser sincericida. Mas uma habilidade bem desenvolvida de saber falar mal de alguma coisa, assim como a capacidade de aceitar que alguém desaprove algo que você julga certo, se mostram excelentes formas de não ficar acomodado com o que você é e pensa.

Sua opinião não é sagrada. Nem mesmo a minha, muito melhor, é.
Se é que vocês me entendem.

Para dizer que tudo o que eu escrevo é excelente, para me elogiar pelo belo texto ou mesmo para dizer que me acha um gênio: somir@desfavor.com

wat?

Também poderia chamar este texto de “A teoria do inusitado confortável”, mas o título original me parece mais chamativo. O meu objetivo hoje é analisar dois arquétipos muito comuns no imaginário afetivo das pessoas. Tenham em mente que os exemplos que dão nome à coluna de hoje são mais condizentes com o modelo de ciumento racional, algo mais próximo deste que lhes escreve.

Tenho uma teoria (eu sempre tenho uma teoria…) que diz que basta juntar dois termos supostamente contraditórios para se achar a “pessoa dos sonhos” de praticamente qualquer um. Rico humilde, valentão carinhoso, ciumento racional, insensível atencioso, político honesto, mulher inteligente (mulheres inteligentes sabem o significado da palavra “supostamente”)

Essa busca pelo inusitado confortável é muito comum. Homens e mulheres buscam parceiros que valorizem sua própria noção de serem únicos e especiais. Queremos alguém que só nós poderíamos ter achado, mas que ao mesmo tempo nos posicione de forma vantajosa em relação às outras pessoas. Eu sei, eu sei… O texto está um pouco confuso ainda. Por isso temos os exemplos do título para ilustrar de forma mais simples o que eu quero dizer com a teoria do “inusitado confortável”.

É provável que você não se identifique totalmente com esses objetivos de pessoas, mas é muito provável que você perceba como o mecanismo é muito parecido para vários outros exemplos. O tipo de pessoa “ciumenta racional” me parece a mais comum, aquela pessoa que não é imune ao ciúme, mas ao mesmo tempo não se entrega totalmente ao sentimento. É uma espécie de equilíbrio entre o que se quer de verdade e o que funciona na vida real. “Não prenda demais, não solte demais”. Um pouco de experiência de vida é o suficiente para aprender essa regra.

Eu, por ser um ser humano egoísta e possessivo, ainda estou no processo de entender melhor como não me prender nas armadilhas que esses comportamentos vivem me apresentando. Para dar nomes aos bois e compreender melhor como eu funciono, cunhei o termo “virgem experiente” para definir a minha mulher ideal.

O que é uma virgem experiente? Bom, com certeza ela não é virgem. Eu sei que não faz o menor sentido, mas basta trocar a expressão por “irracional racional” que os termos começam a demonstrar seu verdadeiro significado.

A virgem representa o irracional. Entendam “virgem” nesse exemplo não como uma mulher que não teve sua primeira relação sexual com penetração, entendam como uma mulher completamente intocada. Não é realidade, é um conceito insano, uma pessoa que só existe na mente. O desejo possessivo de ser dono do passado, presente e futuro afetivo de uma mulher. Mas nada nessa vida vem sem conseqüências: A virgem não vai ter nenhuma capacidade de lidar com uma relação adulta. A virgem seria uma criança ou uma mulher tão repulsiva ou maluca que ninguém chegou perto dela até hoje. A virgem não é atraente.

A experiente representa o racional. A experiente pode ser tratada completamente no campo da realidade. Uma mulher que já entende como as coisas funcionam, uma mulher que já sabe o que quer, e principalmente: Uma mulher que não fica parada feito uma almofada na cama. A experiente é atraente, real e não enche muito o saco por ser mais segura de si. (SPOILER: Uma pessoa que nunca te enche o saco não existe.)

Oras, então por que não apagar essa “virgem teórica” da mente? Caros leitores, podem ter certeza que se uma pessoa como eu soubesse como desligar a irracionalidade, já teria feito isso há muito tempo. O ciúme e a possessividade são companhias constantes desse que lhes escreve. E eu duvido muito que não acompanhem a maioria de vocês. Algumas pessoas lidam muito bem com isso, outras nem tanto.

Durante muito tempo eu decidi sufocar tudo debaixo de uma camada de indiferença, tentando (como sempre) deixar o resto da humanidade estúpida sofrendo à toa por seus desejos “inferiores”. Pois é… às vezes funciona, às vezes não. O irracional é muito mais forte do que imaginava.

Enquanto eu fazia o papel de indiferente para satisfazer o desejo de estar no controle, o meu inconsciente me pregava uma peça daquelas… Eu estava ativamente procurando e me relacionando com quem me lembrava mais do conceito da “virgem”. Esqueci da minha regra básica: Conheça o inimigo.

Quando não se sabe contra quem você está lutando, a tendência é que você bata justamente onde não vai ter resultado. A indiferença em relação ao que me movia a procurar as “virgens” (ciúme e possessividade) era justamente a forma mais inútil de trabalhar com isso. Mais ou menos como deixar de fechar a porta de casa para evitar que ladrões roubem suas coisas.

A contradição enorme presente na idéia de “virgem experiente” garante que não se possa achar essa pessoa. Não se tratar os termos como idéias absolutas. (Eu disse que ficaria mais simples, né? Eu sempre minto quando digo isso.)

Existem formas de se lidar com essa idéia, e a mais racional é procurar pela pessoa que tem a maior parte das características que você quer (dã). Como é natural que os desejos sejam contraditórios (inusitado confortável), você se obriga a fazer várias escolhas sobre o que é mais importante. E esse é ponto chave: Escolhas. Tem coisas que simplesmente não combinam.

Exemplo: Possessividade retroativa (ou: ciúme do passado, ou: maluquice total) não combina com uma mulher da categoria “experiente”. O correto é “desligar” essa irracionalidade de querer ser dono do passado de alguém e aproveitar todas as vantagens de ter encontrado alguém que tem o que se quer.

Mas nem eu tenho essa capacidade de ligar e desligar irracionalidades assim. Acreditem em mim quando digo que já tentei de todas as formas que pude. Não dá para fazer isso de forma eficiente sem lidar com alguma manifestação incontrolável do subconsciente depois.

Minha fórmula de (relativo) sucesso foi simples: Manter o inimigo por perto. (E vou ser honesto: Sally foi essencial nesse processo de perceber o que eu estava fazendo de errado. Mesmo odiando ela momentaneamente por causa do texto de ontem, ela merece o crédito de ter me “salvado” dessa armadilha inconsciente.)

A partir do momento em que você escolhe o ponto principal (no meu caso, a “experiente”) do que realmente quer, basta lidar ativamente (ciúme e possessividade) com os problemas decorrentes do que faltou do seu ideal inusitado confortável. (A “virgem”.) Dificilmente essa contradição vai te abandonar, mas é bem mais fácil lidar com ela assim que você sabe o que priorizar no final das contas. “Não prenda demais, não solte demais”.

O que me leva a uma espécie de contraponto feminino da idéia da virgem experiente. O “galinha fiel”.

Provavelmente por questões evolutivas da nossa vida como espécie em grupos dominados por machos-alfa (não é machismo, é o simples funcionamento do ser humano primitivo), temos uma variação curiosa aqui. Enquanto o homem vai enxergar mais primitivamente a parte “virgem” da mulher como vantagem irracional primária, a mulher vai enxergar a parte “experiente” da mesma forma.

O macho-alfa pegava as fêmeas primeiro e não dividia mais. Era a sua medida de sucesso. As fêmeas buscavam justamente o melhor macho, que era definido pelo que já tinha mais fêmeas ao seu dispor.

Abordagens evolucionistas combinam muito com o que ainda temos de irracional em nossas mentes. Os milhares de anos de sociedade complexa mudaram várias coisas, mas não nossos instintos.

O “galinha fiel” nada mais é do que um macho-alfa de uma fêmea só. Eu não posso me aventurar muito pela forma como uma mulher pensa pelo simples fato de não ser uma. Mas eu posso traçar alguns paralelos em relação ao que percebo delas em relação ao que eu penso e ouço de outros homens com freqüência.

Uma mulher que é vista com vários homens diferentes normalmente ganha uma conotação negativa com um homem que quer algo a mais do que um “lanchinho”. Um homem que é visto com várias mulheres diferentes parece ligar alguma forma de valor inconsciente para mulheres que querem algo a mais do que uma relação rápida.

O valor da exclusividade é feminino, o valor do melhor reprodutor é masculino. Mas esses são conceitos completamente arcaicos, de um tempo onde a nossa sociedade funcionava na prática de forma totalmente diferente do que é agora. Não basta apenas o básico do instinto de reprodução, queremos as vantagens do outro gênero também.

E as coisas “viraram” de acordo com o passar do tempo. Tanto tempo buscando a grama mais verde do vizinho criaram desejos de ter o melhor dos dois mundos.

Homens e mulheres querem os melhores e mais desejados por outros exclusivamente para eles. De um lado, o instinto mantendo a pressão pelas escolhas baseadas por ele, do outro lado desse cabo de guerra, a mente procurando formas de ter todas as vantagens possíveis.

O confortável é o instinto nos dizendo o que precisamos para fazer nossos papéis sexuais da forma “certa”. O inusitado é a racionalidade buscando situações novas e mais satisfatórias para nossa vida.

O confortável evita que nos destruamos, o inusitado melhora a qualidade da vida.

A “virgem experiente” e o “galinha fiel” são definições do que buscamos. Cada pessoa pode enxergar termos e definições diferentes para essas idéias, mas a contradição entre instinto e racionalidade está sempre ali.

Se tem alguma lição neste texto, é que a irracionalidade faz parte da vida e deve ser vigiada de perto. Se suas escolhas no campo afetivo parecem dar errado vez após vez, pode ser a hora de perceber de que lado você está, que parte vale mais a pena. A contradição faz parte do processo e não se pode ter tudo que quer.

Para dizer que não entendeu nada mas que percebeu que eu acabei escolhendo a opção “mulherzinha”, para dizer que o texto mudou completamente de sentido e que eu sou maluco, ou mesmo para dizer que essa coisa de ciúme e possessividade são coisas de seres humanos inferiores: somir@desfavor.com