O brasileiro é um povo que escreve errado. Disso a gente já sabe, vide os comentários teratológicos que deixam aqui (KKKKK GRIPE SUÍNA), e das consultas bizarras feitas ao Google que acabam trazendo as pessoas ao desfavor (“como fasis as mais ficar feliz cor a filia” ). Como aqui lidamos mais com o escrito do que com o falado, acabamos deixando de lado outro aspecto fascinante do nosso povo: os erros de pronúncia. Sim, também é um povo que FALA fala errado, e nesta tecla quase ninguém bate. É sobre isso que venho falar hoje. E não pretendo tripudiar daqueles que não tem recursos, quero falar sobre pessoas que tiveram opotunidade e subsidios para falar de forma correta e ainda assim falam ridiculamente errado.
Tudo bem que o português é um idioma difícil e o ensino público do país é vergonhoso, sem contar outros fatores que não cabem (literalmente, malditas quatro páginas!) citar aqui. Sim, existem pessoas que falam errado porque não tiveram subsídios para construir um vocabulário ou uma pronúncia correta, e quanto a estes, sou solidária e acho que não cabe qualquer tipo de cobrança ou recriminação. MAS, também acho que existe um grande grupo que erra por preguiça, por acomodação, por não querer se esforçar ou até mesmo por amor ao erro. E é nestes que eu quero meter o pau hoje. Um grupo que comete uma série de “incoerências ortográficas” no que tange à pronúncia das palavras (porque se for falar da escrita, precisaria de 40 páginas) e que parece gostar de ser medíocre. Gente que não faz questão de falar direito, talvez porque não mensure a importância da linguaghem na sua vida pessoal e profissional.
Como estrangeira alfabetizada em outro idioma, acho que tive o distanciamento necessário para entender a dificuldade do português e de seu aprendizado. Fui criada por pais que não sabiam falar português, ao menos não um português correto. O português que aprendi, aprendi na rua, apenas quando tive idade para começar a frequentar a rua. Se eu consegui, apesar de uma escorregada ou outra, quem nasceu e cresceu com o português como primeiro idioma e teve condições e estudo de qualidade também tem o dever de conseguir. Mas as pessoas parece que não pensam antes de falar, a impressão que me dá é que vomitam palavras sem se preocupar com o que vai sair.
Para começar, quero tentar entender o que é esse problema maldito que brasileiro tem com encontros consonantais. Porque, tudo bem, é difícil pronunciar encontros consonantais, mas o que vejo na prática é uma dificuldade seletiva. Exemplo: P+R. Muitas pessoas tem dificuldade em pronunciar o encontro consonantal P+R e acabam soltando pérolas como PLoblema. Ok, até aí tudo bem. O que me intriga é que estas mesmas pessoas incapazes de pronunciar P+R em palavras que o requerem, são perfeitamente capazes de pronunciar o P+R em palavras onde NÃO existe este encontro consonantal: não conseguem dizer PROblema, acabam falando PLoblema, entretanto, na hora de falar PLAnta, soltam um PRanta. Isso quando não vem um PRAnta de PRAstico. Que porra é essa? Amor ao erro? Quando é P+R usam P+L e quando é P+L usam P+R? Ora, se são capazes de ambas as pronúncias, encaixem cada uma nas respectivas palavras! Só pode ser preguiça.
Porque da mesma forma que as pessoas escrevem sem pensar, e os comentários do Desfavor me deram a plena certeza de que existem muitas pessoas que fazem isso, existem pessoas que também falam sem tomar o cuidado necessário de pensar no que vão dizer. É uma versão oral daquelas pessoas KKKKKK GRIPE SUÍNA que começam a escrever, se perdem no meio do caminho e criam um texto completamente sem sentido. Eu sempre me condicionei a pensar bem nas palavras que vou usar, justamente por esta dificuldade com o idioma, que não é minha língua materna, não é o meu natural (penso e sonho em outro idioma, por exemplo) e garanto que ninguém morre ou fica estressado por pensar um pouquinho antes de falar. Muito pelo contrário, em pouco tempo isso se torna automático e não representa mais qualquer esforço.
Voltando ao encontro consonantal, ele é tão emblemático que eu costumo brincar que você pode mensurar o grau de instrução e preocupação de uma pessoa com o idioma e com a própria imagem pedindo que ela pronuncie uma única palavra: ESTUPRO. Se a pessoa pronunciar ES-TU-PRO, é Prêmio Nobel. Se falar ES-TRU-PO, tá na média geral da população, mas se ela fala ES-TLU-PLRO ou coisa pior, corra como se não houvesse amanhã. E pode apostar que boa parte das pessoas que falam ESTRUPO, são perfeitamente capazes de repetir este encontro consonantal P+R ou o PRO em outras palavras, desde que ele seja incorreto no caso concreto. É o amor ao erro.
O mesmo ocorre com a ausência preguiçosa de plural. Poucas são as pessoas que desconhecem que um S no final da palavra significa plural. Mas muitas são as pessoas que comem esse S no substantivo, achando que basta inserir o S no artigo que o precede para caracterizar o plural. Daí vemos aberrações como aS estrelA, oS cachorrO e similares. Se são capazes de pronunciar o S no artigo e de ter a noção de que, por se tratar de um plural, deve haver um S no artigo, porra, mas que caralho, custa inserir um S no substantivo também? É amor ao erro, só pode! Porque pronunciar um mísero S nem sequer dá trabalho ou exige muito da sua dicção!
Outro erro que me atormenta e nem ao menos encontro consonantal é, diz respeito à pronúncia de certas letras em determinadas palavras. A letra G pode ser muito problemática em algumas palavras, como por exemplo na palavra REGISTRO. Porque, Gezuiz Amado, porque alguns seres humanos simplesmente se sentem no direito de pronunciar reZIstro, como se fosse a coisa mais normal do mundo? Soltam um reZIstro e ficam olhando com aquele olhar bovino, como se nada. Gente, reZistro desce arranhando, dóóóói, ok? Estas mesmas pessoas não tem qualquer problema em pronunciar palavras como GIrino, GInecologista, ou Luciana GImenez! Nunca vi ninguém dizendo Zirino ou Luciana Zimenez. Qual é o problema com a porra do REGISTRO? Com certeza não é incapacidade de efetuar esta pronúncia em particular. Talvez seja mais cômodo e mais fácil no calor da frase soltar um “rezistro”, mas porra, a pessoa tem que ter a consciência (sobretudo se for advogada) que pega mal pra caralho, que é atestado de ignorante soltar uma porra dessa. Se policie, fale correto. O único prejudicado pelo reZIstro é você!
Fui tirar algumas dúvidas com uma professora de português, que em um primeiro momento, tentou me mostrar a dificuldade de algumas pronúncias, em especial de encontros consonantais onde exista a letra R. Parece que o R é meio problemático, os maiores erros ocorrem quando tem um R no meio das palavras. Daí surge uma pergunta na minha mente: se o R gera tanta dificuldade, porque merda as pessoas inserem um R deliberadamente onde não existe? laRgartixa, ioRgurte (ou a derivação ainda mais popular: ioRgute) e outras palavras são um exemplo deste amor ao erro que alguns brasileiros ostentam. Porque errar em uma pronúncia difícil, oriunda de um encontro consonantal que existe já é ruim, mas CRIAR um encontro consonantal que sequer existia, criando um erro por inserir uma consoante no meio da palavra simplesmente não me entra na cabeça. Estão dificultando a pronúncia da palavra voluntariamente! Devem ter a maior saStisfação em fazer isso!
Nessa mesma vibe de inserir consoante onde não existe, vem a Máfia do N, que insere N indiscriminadamente no meio das palavras: mendiNgo, mortaNdela e cia. Não venham me dizer que fica mais fácil pronunciar uma palavra com mais letras no meio, porque não fica. É vício, é erro repetido por gerações e gerações e copiado por pessoas que não apresentam qualquer capacidade de questionamento. Será que quando eles assistem Bonner Simpson todas as noites (porque ler nem pensar, eu nem cogito) não conseguem perceber a discrepância entre o que eles falarm e o que Bonner fala? MEN-DI-GO x MEN-DIN-GO. São surdos? É isso? Vai ver são apenas iNdiotas.
E quando as pessoas simplesmente invertem as letras sem um motivo aparente? A inmpressão que me passa é a de que um dia, uma pessoa apressada, falando rápido, se confundiu como quem troca “bife a milanesa” por “bife ali na mesa” e as pessoas à sua volta, tal qual símios, começaram a repetir e propagar o erro. Macaquinhos de imitação que não se mancam que estão falando errado. Quer um exemplo? O remédio GARDENAL. Eu disse GAR-DE-NAL, que algumas pessoas insistem em chamar de GA-DER-NAL. Porque? Não há diferenças no grau de dificuldade na pronúncia. Custa ler na caixa o nome correto? Custa escutar o nome do remédio da boca do médico? Não, nem pensar! Prestar atenção dá trabalho. Solta um GADERNAL mesmo, afinal, Fulaninha e Sicraninha também falam, deve estar certo.
Pior do que trocar uma letra, só trocar mais de uma letra ou até mesmo uma sílaba toda: CO-CRE-TI. Custa falar CROQUETE? E quando insere uma sílaba inteiramente nova na palavra? asterisTIco. Caraleoooouuu! É ASTERICO. TOPPER em vez de Top e por aí vai. Porque? Tão fácil e simples dizer “top”. Topper é efetivamente mais difícil!
Hoje em dia não faltam recursos práticos para descobrir a grafia correta das palavras. Tá com dúvida? Nem precisa se dar ao trabalho de consultar o dicionário, abre o computador e digita a palavra no Google, ele mesmo vai te corrigir com um “você quis dizer…” e te dar a grafia correta da palavra. Basta prestar atenção na forma com a qual pessoas confiáveis pronunciam as palavras. Basta prestar atenção e querer se aprimorar. Ou quem sabe até mesmo ler um livro. Não custa tentar.
Vejam bem, eu não estou aqui falando de erros sutis com “despercebido” x “desapercebido”. São erros gritantes, que num mero pronunciar de palavras ficam explícitos. Mas as pessoas não fazem a menor questão de falar direito. Pra que, né? Se você pode ser Prisidentchi da Rebúbrica sem falá direitu! Bra-siu-iu-iu! E olha que eu tenho a política de não corrigir as pessoas em público, porque acho que ofende. Mesmo assim, quando digo, em abstrato, que acho um absurdo quem fala errado, sempre vem alguém desmerecer meu discurso: “Ahhh, você entendeu o que a pessoa quis dizer, vai, se dá para entender tá tudo bem”. Não acho. Eu correia de um advogado que fala que o documento vai a reZIstro. Mina a credibilidade.
Palavras bobas tipo sobrancelhas viram SOMbrancelhas, ou salsicha, que vira SALCHICHA . E não vou nem começar a discorrer sobre as pronúncias que pessoas “cometem” contra a palavra cabeleireiro. As pessoas sabem (ou teriam condições de saber caso tivessem o capricho de se esforçar para falar certo) que estas palavras são erradas. Mas a permissividade social faz com que continuem errando impunemente. Se houvesse uma reprovação social tenho certeza que tomariam mais cuidado antes de falar. Infelizmente o único motivador para falar correto é a reprovação social. Medíocre.
Esta falta de cuidado com algo tão básico passam uma idéia de acomodação, de quem não faz a menor questão de passar uma boa imagem, de quem não se preocupa em não passar vergonha. Porque tem esse tipo de pessoa, que sai na rua com calça furada nos fundilhos e henê pelúcia no cabelo com saco de supermercado amarrado cagando para o vexame que está protagonizando, muitas vezes resmungando “ninguém paga as minhas contas!”. Então tá, então cultive uma opinião social negativa, só tome cuidado, você nunca sabe quem está te vendo.
Fico pensando se as pessoas que tem essa falta de cuidado com o idioma tem igual falta de cuidado com outras áreas da vida. Será que a higiene é tratada com o mesmo cuidado? Se for, não devem nem limpar a bunda depois de cagar. E a casa dessas pessoas, tem o mesmo cuidado que elas tem com o idioma? Se for, deve ser uma pilha de lixo com baratas. E no trabalho? E com os filhos? E com os relacionamentos?
Falar certo não é luxo, não é frescura, não é preciosismo. É OBRIGAÇÃO, principalmente quando se vive em um mercado de trabalho tão competitivo como o nosso. É o mínimo que se exige de quem teve condições e oportunidade de aprender. Falar errado tendo oportunidade de falar certo é atestado de acomodação, falta de ambição e falta de vergonha na cara.