Nunca neste país...

Desfavor da semana.

SOMIR

Boa parte das teorias da conspiração se baseia em informações conseguidas logo nas primeiras horas após um evento. É justamente aí onde os boatos tem o mesmo peso que os fatos. Agora, com a maioria das suposições insanas já derrubadas, podemos fazer uma análise do assunto.

Não sou de entrar na onda de comoção popular, mas é difícil não se sentir mal quando um maluco invade uma escola e mata garotos e garotas entre 12 e 15 anos de idade. É o tipo de coisa que TEM que doer numa sociedade minimamente civilizada feito a nossa.

Embora não se possa ignorar que adolescentes (e chamar pessoas dessa idade de crianças vende mais jornal) morram todos os dias de forma violenta, dessa vez não dá para simplesmente jogar na conta do sistema. Se um moleque de 13 anos morre baleado no meio do morro, chamam ele de “bandidinho”. Se morre numa escola, é “brasileirinho”.

E não estou cedendo ao cinismo novamente. É mais a questão de que perder pessoas para a violência urbana já está arraigado na nossa mentalidade como uma espécie de morte natural. Quando é um cretino executando meninas numa escola, após perguntar se elas eram virgens, parece uma morte acidental; algo que não encaixa na nossa visão de casualidades de uma guerra alheia.

É nesse ponto onde ressurge, com força, a nossa noção de impotência. O brasileiro se resignou a aceitar que pouco pode contra uma sociedade tremendamente desigual, mas a ferida que o assassino de Deus cutucou continua aberta. Não só aqui como na maioria do mundo.

A verdade é que traçar longos perfis psicológicos e tentar prever a mente de quem possa perpetrar uma atrocidade dessas pouco ou nada faz em prol de tornar nosso mundo mais seguro. Como SEMPRE após um tiroteio em escola, começam com a história de “bullying” e isolamento social. Se fosse tão fácil determinar quando um dos INCONTÁVEIS seres humanos que se sentem injustiçados vai estourar, a discussão não estaria tão baseada em achismos como é agora.

Adianta alguma coisa fazer um banco de dados sobre as pessoas que sofreram na escola? A maioria AVASSALADORA desses párias jamais toma alguma atitude violenta do tipo. Pode até deixar um trauma na vida adulta, mas o padrão não é pegar armas e sair atirando por aí.

Malucos como o Wellington são a exceção. São a probabilidade imprevisível. E é isso que deixa as pessoas “nos cascos”. A impotência diante de atitudes de outras pessoas. O medo de que alguém faça mal para você ou alguma pessoa querida sem que você tenha qualquer aviso.

Não é a falta de sociabilidade que desencadeia o processo de violência nesse grau. O buraco é mais embaixo. Genética, criação, companhias, ambiente, situação social, reforço externo… Combinações pra lá de específicas de fatores que influem na vida de qualquer um geram essa fórmula explosiva.

E boa sorte para conseguir separar esses elementos antes deles detonarem. Sociopata tem o péssimo hábito de parecer inofensivo até o último segundo.

Mas como eu sou eu, não posso deixar passar em brancas nuvens o fato de que a loucura de Wellington estava fortemente APOIADA pela sua religiosidade. Não estou dizendo que ele matou porque era crente, mas esse foi mais um dos elementos que formou a mentalidade do assassino. A “vontade de Deus” é uma das desculpas clássicas para apagar a noção de responsabilidade pelos próprios atos.

As igrejas, principalmente as evangélicas, trabalham sem a menor regulação em cima das mentes da parcela mais miserável da população. Malucos preconceituosos e pessoas sem a menor capacidade de aconselhar outros seres humanos ganham discurso de autoridade e presunção de iluminação com uma bíblia debaixo do braço.

A sociedade brasileira não tem a menor coragem de confrontar os irresponsáveis que enfiam na cabeça de quem não tem nada a perder que o mundo está acabando e que um ser imaginário vai recompensá-los se eles fizerem sua vontade valer. E eu não estou pedindo intervenção do governo, Estado laico também significa defender com unhas e dentes a liberdade de crença e expressão.

A questão é social. Pouca gente tem coragem de dizer que as igrejas evangélicas estão apinhadas de analfabetos funcionais EXTREMAMENTE preconceituosos empurrando lixo ideológico goela abaixo de gente sem capacidade de pensamento crítico. Os pastores são assustadoramente despreparados para sequer compreender o mundo ao redor, imagine só para explicar.

Mas é tabu dizer isso. Eu já escuto sirenes de alerta quando alguém solta discursinho fundamentalista, mas o povo desse país acha que é algo positivo. Que fé nunca é demais.

Não vi ninguém ficar PUTO com os milhares perfis evangélicos do Twitter (acompanhei também por lá dessa vez, por isso o título) vomitando mentiras e desinformação descarada em postagens combinadas. Tudo para tirar o próprio da reta. Muçulmano? HIV? Puta que pariu!

Não foram os crentes que fizeram Wellington matar adolescentes dessa forma cruel e covarde, mas o discursinho dele enquanto matava está na conta deles SIM. Eu não prego que posso salvar pessoas, eles pregam.

Obrigado por nada. Péssima forma de entrar para o Primeiro Mundo.

Para dizer que se assustou por um momento achando que eu não ia falar da parte religiosa, para dizer que adolescente virgem já sofre o suficiente, ou mesmo para reclamar que não sacaneei o choro do Dilmão (achei digno, juro!): somir@desfavor.com

SALLY

Columbine é aqui! Rio de Janeiro adere ao assassinato estilo Hemisfério Norte! Quem foi que disse que nós não aprendemos nada com os países mais desenvolvidos?

O que é que eu falei pra pouco tempo atrás? Religião e preocupação com animais são atestado social de boa pessoa e geralmente querem dizer justamente o contrário! BINGO! O assassino de Realengo era um homem religioso que citou Deus e Jesus o tempo todo em sua cartinha de despedida e seu último desejo foi que sua casa seja utilizada para abrigar animais abandonados. UMA FLOR de pessoa. Quer abrigar animaizinhos abandonados… Tão bonzinho ele.

A falta de segurança nas escolas públicas não é novidade. Aliás, a falta de segurança não é novidade. Tiro em escola pública não é novidade. Morte por ferimento a bala no Rio de Janeiro não é novidade, cito aqui vários casos com a maior facilidade. Nem precisa ser em instituição de ensino público, já teve até aluna da Estácio de Sá premiada com uma bala perdida. Então porque tanta comoção, tanta manchete no jornal? Porque conseguimos a proeza de importar um dos poucos comportamentos errados e bizarros de americanos e europeus que ainda não tínhamos: o massacre em locais públicos sem fins lucrativos.

Este não é o primeiro Desfavor da Semana sobre massacre e tiros em um colégio. Em 14 de março de 2009 citamos um caso na Alemanha onde o atirador fez vítimas em uma escola e acabou se suicidando quando foi encurralado. Desde 2009 eu venho criticando essa babaquice de usar bullying para justificar tudo. Bullying é a nova enveja (vai lá nos comentários dizer que eu escrevo errado). Bullying é o novo “a culpa foi dos remédios”. Só que até então, este tipo de crime era mais popular no hemisfério norte. Era.

Poderíamos ter importado o padrão de vida, a cultura ou a gastronomia destes países… mas não. Importamos logo o que eles tem de pior: este crime sociopata cometido por desajustados de forma covarde e insensata. Massacrar crianças a tiros. Não dou nem três dias para se comece a culpar o bullying, o vídeo-game ou as drogas. A questão é: nada justifica isso. Não é todo mundo que sofre bullying que sai matando. Não é todo mundo que joga Carmagedon que sai matando. Não é todo mundo que usa drogas que sai atirando em crianças. A resposta não está aí.

Provavelmente o assassino sofria de sérios transtornos psiquiátricos e estava no meio de um surto psicótico ou algo do tipo. Provavelmente ele tinha este problema faz tempo mas graças a nosso sensacional sistema público de saúde não teve oportunidade de ser diagnosticado nem tratado. Nessas horas lembro de uma música do Rogério Skylab chamada “Carrocinha de Cachorro Quente” (imperdível): “Ele era tão quietinho, um idiota comentou”. É isso. Um rapaz com sérios problemas foi visto pelos olhos da ignorância como apenas “quietinho”. Não sei dizer exatamente qual era o problema psiquiátrico dele, mas que tinha, isso tinha.

Eu não sei dizer, mas todo o resto do mundo vai saber. Quer apostar que agora cada brasileiro deixa nascer em si o psicólogo interior, mesmo sem ter estudado para isso, e esboçar uma série de certezas sem fundamento? Psicólogos, se preparem, vocês vão ver o que eu sinto na pele com o direito, como é desesperador ver gente proclamando certezas sem nunca ter sequer estudado o assunto. E é claro que vai sobrar para a lei também, vai começar aquele papo de que Brasil dá muito mole para bandido e até quem sabe uma discussão infrutífera sobre pena de morte. Pena de morte só se RASGAR a Constituição da República, base de toda nossa legislação, e fizer uma nova. Mas as pessoas não querem saber, as pessoas querem achar.

Sem querer ser cruel, faz uma estatística sobre quantas crianças ou pessoas morrem no bairro de Realengo por causa de violência urbana. Faz da Zona Norte do Rio toda. Porque devemos nos comover com estas pessoas também. Tudo bem que é preocupante saber que estamos importando até crime típico dos EUA, (decadência! até nossos crimes estão americanizados!), mas não vamos também tratar a morte de crianças como algo raro e inédito no nosso dia a dia, porque não é. Infelizmente NÃO É.

Até na escola estão metendo o pau. Ora, que escola barra na porta um ex-aluno? Difícil, né? Eu entro nas escolas em que estudei se quiser. Nossa duplinha dinâmica Cabral + Paes se apressou em dizer que serão tomadas providências para garantir mais segurança. HAHAHAHAHAHAHA. CALEM A BOCA! VOCÊS NEM SABEM MAIS O QUE FALAM! FALAM NO PILOTO AUTOMATICO O QUE AS PESSOAS QUEREM OUVIR! Vão fazer o que? Vão colocar detector de metais nas escolas? Por favor… Até pouco tempo atrás NEM NO FORUM tinha detector de metais! Não conseguem tornar o aeroporto do Galeão um lugar decente, vão garantir segurança em todas as escolas públicas? Imagina! Nem as particulares tem conseguido! Não tem material escolar, não tem material hospitalar, não tem FUCKIN´MEDICO nos hospitais, mas eles vão assegurar a segurança nas escolas? ALOOOU? APROVEITA E GARANTE MINHA SEGURANÇA NAS RUAS TAMBÉM, que só essa semana fui assaltada duas vezes!

Estão tentando fazer o metrô chegar na Barra faz anos e nada! Não conseguem entrar na Rocinha, o Nem manda e desmanda ali e vem tirar onda de garantir a segurança? Pelamordedeus, bueiro explode na cara de pedestre e nada acontece. Parem de bravatear que o povo não é bobo. Paes, não é por nada não, Minha Nega, mas a Tia Sally tá sentindo que a tua reeleição está indo para a casa do caralho, viu? Avisa pro teu futuro vice, Leonardo Picciani (oooohhhnn, ninguém sabia!) que o gato subiu no telhado e deixa o PT emplacar um vice no lugar dele que é o melhor que você faz. Começa aqui a minha campanha: EDUARDO PAES NÃO! TUDO MENOS EDUARDO PAES! E você, Serginho Cabral, tem muita água para rolar debaixo dessa ponte, sinceramente, não sei se você chega a Vice-Presidente não. ASSASSINA EU! ASSASSINA EU! Nova coluna do Desfavor!

Voltando ao assassino… quero dizer, aquele que efetivamente pegou na arma: Repito o que eu disse no texto de 2009: não tenho pena. É doente? Sofreu abusos? Foi vítima de bullying? Quis fazer na finesse e matar que nem europeu? Não sei o que foi, só sei que não justifica o ato. Se tivesse sobrevivido teria que ser punido, ainda que com uma medida de segurança por ser dodói da cabeça. Falando nisso, CADÊ O SEU DEUS?

O que me desespera é que as soluções que vem sendo apresentadas não resolvem porra nenhuma. Criar leis dificultando a compra de armas? Sabe o que isso vai fazer? Dificultar a vida de quem compra armas LEGAIS. Dããããr. Quem comete um crime geralmente não o faz com uma arma legalizada e documentada aqui no Rio de Janeiro! Quem quer comprar uma arma ilegal sabe onde tem que ir e só precisa de um papel para consegui-la: dinheiro.

Espero que este caso seja apenas o reflexo de um transtornado mental que absorveu por osmose de tanto ver Jornal Nacional e filme americano esta forma européia de assassinato. Espero que não estejamos fabricando este tipo de conduta e que ela não vire moda. Espero que crianças e adolescentes no auge de sua revolta não achem bonito, heróico ou grandioso fazer uma porra dessas. Espero que não achem que vale a pena. Porque acesso a arma é o que tem de mais fácil no Rio de Janeiro e enquanto não se mexer na raiz do problema isso não vai mudar!

Mas a mídia não entende isso. A mídia está dando um glamour involuntário ao caso. O assassino fico famoso, virou subcelebridade. Pronto, fudeu! Um misto de mártir com bandidão. A cara dele tá na capa da revista. Para sair na capa da revista neguinho topa até morrer! (Cibele Dorsa? Oi?). Vai ficar ainda mais tentador para um revoltado qualquer que não tem nada a perder repetir a façanha. Precisava? Sério, PRECISAVA tratar o caso assim?

Obs: Dilmão me surpreendeu positivamente. Dilmão se emocionou e chorou ao discursar sobre o ocorrido. Se fosse Çilva I já tinha feito uma piada inconveniente envolvendo crianças e balas. Dilmão tem coração. Só falta agora arrumar um cérebro pra ela.

Para dizer que esta era a única modalidade criminosa que podíamos importar porque para ser serial killer precisa de inteligência, para dizer que se eu não calar minha boca posso encontrar uma bala perdida em breve e para dizer que inveja se escreve com “i”: sally@desfavor.com

Este corpo não te pertence!

Mimimi: Falaremos sobre o assassino de Deus no Desfavor da Semana. Hoje é mais um texto CHATÉRRIMO porque eu estou com saudade de escrevê-los.

Ismael definitivamente não estava feliz com o devastador câncer que o colocara naquela cama de hospital, mas havia um certo conforto em dividir seus últimos momentos com suas pessoas mais queridas. Ao seu lado, segurando sua mão de forma carinhosa, sua companheira de décadas tentava segurar o choro.

“Tudo vai ficar bem…” – Difícil era saber a quem ela tentava reconfortar.

Ele responde com um sorriso condescendente, sabendo que não era hora de apontar a iminência de sua partida. Primeiro o frio, depois a dormência. Alguns flashes de enfermeiras e médicos em movimentos frenéticos dividem espaço com uma escuridão surpreendentemente confortável. Num horizonte difícil de precisar, enxerga uma luz surgindo tal qual o Sol nascente.

Era sua hora. O sentimento de paz e a liberdade das constantes dores que assolaram seus derradeiros anos corroboram com a última frase que ouvira de sua esposa. Ismael caminha até a luz.

O ambiente vai ficando mais definido de acordo com sua aproximação. A escuridão cede o suficiente para que perceba uma espécie de trilha no chão. Setas luminosas que o guiavam até a fonte de luz e calor piscavam de forma ritmada.

“A vida após a morte é… didática… Quem diria?” – Ismael mal consegue conter sua curiosidade, mas um pensamento perigoso desacelera o ritmo de seus passos: “E se eu rezei para o deus errado? Assim que eu chegar naquela luz eu vou saber, para o bem ou para o mal… E mesmo se eu tiver acertado, quase nunca fui de ir em igreja…”

“EI!” – Uma voz infantil o pega de surpresa.

Ismael se volta para a origem do som e percebe um garoto negro, maltrapilho, no máximo dez anos de idade, aproximando-se de forma apressada.

“E aí, como é que foi a sua vida?” – O menino parece empolgado.

“Foi… foi boa. Muito boa para ser sincero. E a sua?”

“Morri com dez anos de idade numa favela da Libéria.”

“Eu… eu… não sei nem o que dizer… Mas eu tenho a impressão que agora vai ficar tudo bem.” – Ismael tenta parecer confiante, tomado pela compaixão por aquele garoto que com certeza sofrera demais em vida.

“Claro que vai! Consegui o Pequeno Mártir e Copo de Cólera na mesma vida! Com esses pontos eu consigo desbloquear a Classe Milionária!” – O garoto sai correndo desembestado e atravessa a luz antes mesmo que Ismael consiga perguntar sobre o que ele estava falando.

Ainda confuso, o recém-falecido mal percebe que continua seguindo rumo ao seu destino. Um poderoso flash de luz o cega logo que faz a travessia. Sua visão volta aos poucos, e o que encontra logo após retomar o foco é um colossal ambiente que parece ter saído de um filme de ficção científica. Iluminação poderosa, sons confusos e incontáveis telas virtuais até onde a vista alcança. Milhares de outras pessoas manipulam essas telas.

Perdido, ele se volta para uma senhora mais ou menos de sua idade que estava passando ao seu lado:

“Eu nunca imaginei que fosse ser assim…”

“Nem eu. Quando eu fiquei sabendo que a Classe Bilionária tinha virado apenas sorteio, me senti roubada! Deveria ter gastado com a Milionária ao invés de ficar acumulando pontos com quase 80 anos de vida sofrida. Tem gente que entrou há pouco mais de 20 anos e já está na lista dos mais ricos do mundo. Absurdo!” – A idosa segue em direção a um dos monitores, deixando Ismael ainda mais desconcertado.

Tentando se adaptar, ele segue até um dos monitores vagos. Uma infinidade de números, letras e símbolos se prova impossível de decifrar para alguém que sequer conseguia entender um videocassete em vida.

“O senhor está bem?” – Um homem vestindo um macacão branco com um desenho estilizado do planeta Terra no peito aproxima-se.

“Você trabalha aqui? Quer dizer… trabalha como… anjo… ou algo assim… Você entende, né?”

“Sim senhor. O senhor está enfrentando problemas com o painel de retorno?”

“Painel de retorno?”

“Senhor, eu preciso realizar um procedimento de rotina.” – O homem puxa um equipamento do bolso e escaneia Ismael dos pés à cabeça. “O senhor poderia me dizer o seu nome real completo?”

“Ismael de Souza. O problema é que eu nunca fui muito bom com tecno…”.

“Ok. O senhor acredita que está morto?”

“Eu… sim… acho… Por quê?”

“Ok. Aguarde um momento.” – Ele coloca a mão no ouvido e começa a falar olhando em outra direção: “Temos um queimado aqui no setor 9983BR. Memória original sobrescrita, código Y62.”

“Queimado? Eu vou para o Inferno?” – Ismael começa a entrar em pânico. Agora começava a ter certeza que deveria ter frequentado mais a igreja.

“O senhor vai ser cuidado por profissionais capacitados. Esperamos que o senhor retorne logo para Terra 2 – Classes Sociais. Obrigado e tenha um bom dia.”

Antes mesmo de Ismael conseguir retrucar, uma sensação familiar. Primeiro o frio, depois a dormência. Tudo fica escuro.

Como quem acorda de um pesadelo, Ismael tenta se movimentar assim que recobra a consciência. Uma bela mulher com o mesmo uniforme branco e desenho do planeta Terra o segura pelos braços.

“Calma, calma… Está tudo bem. Você está segura.” – Sua voz é doce e reconfortante. Ismael se controla e dedica algum tempo a observar o ambiente ao seu redor. De um filme de ficção científica para outro. Reclinado numa cadeira com inúmeros fios colados ao seu corpo, Ismael nota que… não é mais Ismael. Seu corpo conta com duas protuberâncias na região do peito que nunca pode ver em primeira pessoa antes.

“Por que eu sou uma mulher? Eu não morri, né? Estou tendo aquelas alucinações…”

“Verbeni, sua memória original foi sobrescrita pela memória da vida virtual que levou nos últimos anos. Nós temos uma versão de backup aqui e vamos restaurá-la em alguns minutos. E adivinha quem vai ganhar cem mil pontos para gastar no Terra 2?”

Ismael, ou… Verbeni, nem se dá mais ao trabalho de tentar entender a situação. A gigantesca janela do lado oposto do grande salão mostra o espaço, com milhares de estrelas e um planeta parecido com as imagens que sempre viu de Saturno. Duas luas são plenamente visíveis.

“Estamos em Saturno?”

“O nome desse planeta é Calais 12. Eu adoro a vista desta sala…”

“Em que ano estamos?”

“2006 do Novo Ciclo… Mas não se preocupe com isso, você vai entender tudo assim que recuperar sua memória.” – Ela sorri e recosta nosso(a) protagonista novamente em sua cadeira: “Agora é só espe…”

“Lavin, problemas…” – Um homem que passara despercebido até agora se aproxima da mulher e começa a cochichar algo em sua ouvido. Ela parece preocupada: “Agora você vai dormir um pouquinho, viu?”

Frio. Dormência. Escuridão.

“CHEGA!” – Ismael/Verbeni começa a se revoltar antes mesmo de saber onde estava dessa vez.

“Seja bem vindo de volta, Araz Olufamini.” – Um ser que parece um misto de alienígena e ciborgue faz as honras da casa.

“Agora meu nome é Araz? Eu sou homem ou mu… Meu Deus do céu… O que sou eu?”

“Você, assim como eu, é o ápice da tecnologia de uma espécie há muito extinta. Você, assim como eu, é uma das últimas testemunhas deste universo fantástico. Você, assim como eu, vai ter a responsabilidade de cuidar desta instalação.” – A voz, metálica e sem emoção, parece apenas acentuar o clima futurístico emanando de tudo ao seu redor.

“O que é este lugar? Eu juro que não fiz nada de errado na minha vida… Isso é uma provação divina?”

“Não. Eu preciso te situar para que sua consciência seja capaz de se restaurar. Está vendo aquela estrela?” – O ser aponta para algo parecido com uma projeção saída do chão. Um pequeno ponto de luz central vai aumentando até enquadrar uma espécie de nave espacial posicionada em sua órbita.

“Sim… É o Sol?”

“Não. Essa é LI5382-BETA23492, a última estrela ativa e fonte de energia do universo. A entropia está a ponto de completar seu trabalho. Acredito que mesmo a memória primitiva que você adquiriu numa das camadas de realidade virtual é capaz de compreender conceitos como esse, não?”

“Quer dizer que quando ela apagar… acabou… tudo?”

“Sim. Tentamos reverter o esfriamento do universo, sem sucesso. Como não havia mais possibilidade de vida em qualquer lugar além desta nave, decidimos criar uma realidade alternativa para que houvesse algum sentido em nossas existências. Melhor viver nossos últimos milhões de anos sonhando.”

“E por que eu estava sonhando com uma vida cheia de problemas?”

“Recomeço. É importante que esqueçamos de nossa existência aqui. Nós iniciamos a nossa simulação com seres humanos primitivos, mas depois de milhões de anos…”

“Eles aprendem a criar suas próprias realidades virtuais…”

“Exato. Mas um de nós deve ficar aqui para gerenciar o sistema original e receber os próximos guardiões. Esta foi minha incumbência nos últimos mil anos. Agora será a sua. Pronto! Sua mente original vai ser restaurada em 3 segundos.”

“-3[[32-0”

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FIM. (wat)

Para dizer que não acredita que eu não tenha visto Inception ainda (sério), para dizer que o texto é chato e blá blá blá, ou mesmo para traçar meu perfil psicológico e dizer que é melhor esvaziar as escolas próximas: somir@desfavor.com

Classe!Fala desfavor!: Respostas do Somir.

Faz tempo que não tínhamos esta coluna por aqui. Raramente tenho saco para escrever uma resposta completa nos comentários habituais, e este é o momento de combater a impunidade e reviver os desfavores que temos que ler diariamente.

01/02/2011 – Desfavor Bônus: Acabou a festa!

Histérica disse…

Vai se danar, nerd! Tá se achando metendo pau nas postagens da tia Sally. Ainda bem que ela não tira férias, porque se fosse vc a postar seus textos CHATÉRRIMOS eu me jogava pela janela. Vc parece um velho neurótico. O público aqui a maioria é mulher, vc se daria bem numa casa geriátrica, já que tem idade mental pra ser seu avô. A única coisa que presta é quando encarna a Somira e mais nada.

Só estou usando esse comentário para dizer que o mês Fevereiro Anti-Histérica foi um SUCESSO! Grande parte das antas que se instalaram por aqui no começo do ano já foram pastar em outras paragens. Ou pelo menos perceberam que não eram bem-vindas e ficaram quietinhas. De qualquer jeito, uma vitória. Não que tenhamos entrado numa era de harmonia, mas a redução de comentários infantilóides é perceptível (próximo alvo: ala conservadora cristã).

E já que estou comentando… Eu acho bacana quando dizem que eu pareço um velho escrevendo. Até porque eu contabilizo minha inteligência por anos. Quando estiver quase no final da minha vida (lá pelos 40 pelo meu estilo de vida saudável) vou estar insuportável! Mas eu consigo entender porque gentinha limitada usa velhice como elemento de crítica: Uma histérica (ou histérico) habitual termina seu desenvolvimento intelectual lá pelos 12 anos de idade. Depois disso se resume a decorar funções úteis na vida como um animal qualquer. Acaba o interesse pelo aprendizado, acaba a curiosidade, acaba qualquer prazer que não seja de responsabilidade total do cerebelo.

E como um belo exemplo do espécime, a histérica consegue condensar várias bobagens e contradições num curto comentário. Primeiro diz que meus textos são chatos e meu lugar não é aqui no desfavor. E no meio disso define o motivo: “Aqui a maioria é mulher”. Vocês sabem quais são os textos chatos que a anta se refere, não? Se a maioria do público é mulher e os textos nerds sobre ciência e política não encaixam no blog… o que será que ela está dizendo sobre as mulheres? Aposto que o pé ainda está doendo pelo tiro…

O Fevereiro Anti-Histérica não foi para afastar as mulheres do desfavor, foi para mostrar para um certo grupo de pessoas que elas não tinham apoio nenhum. Nem meu, nem da Sally e nem do resto dos leitores.

Passar mal.

Ah, se eu tenho idade mental para ser meu avô, meu avô tem idade mental para ser meu neto? Intrigante…

05/03/2011 – Desfavor da semana: Carnaval (2).

Marco disse…

Esse blog cada vez se superando mais na babaquice. Quer dar uma de intelectual detonando com o carnaval, parece até aqueles rockeiros lesados que se acham o suprasumo da inteligência apesar dese dedicarem a apreciar uma música vulgar.

Criticar a inversão de valores do carnaval ? Mas este é justamente o es´pírito do evento. Quem sabe deem uma lidinha em Roberto Damatta antes de vomitar asneiras e opiniões inúteis.

Se uma pessoa como você acha que estamos sendo cada vez mais babacas, isso quer dizer que a qualidade dos textos está aumentando. Bom sinal.

É impressionante como recebemos críticas genéricas aqui no desfavor. Genéricas no sentido de batidas e principalmente na distância que costumam ter dos textos. Não pergunto para as pessoas se elas leram o que estão antagonizando à toa, costuma não fazer a porra do menor sentido mesmo. É mais do que comum que eu fique com cara de tacho na frente de um comentário tentando decodificar o que a pessoa ACHA que está dizendo, porque o texto em si é um caso perdido.

Vejamos: Analogia é uma arte difícil de dominar. Apontar pretensão intelectual e logo depois usar roqueiros lesados para exemplificar é duro de engolir… Keith Richards é conhecido pela sua intelectualidade, não? O cidadão quer falar sobre a hipocrisia de defender uma vulgaridade e criticar outra. O texto critica a motivação da vulgaridade, e não a vulgaridade em si, e importante: Sem oferecer substituições.

E se tivesse ao menos capacidade de compreensão do que lê, teria percebido que o espírito do evento É o objeto da crítica.

E como quem gosta de fazer pose ADORA citar autores e livros para se livrar da responsabilidade de desenvolver suas idéias, não é nenhuma surpresa o fechamento do comentário.

07/03/2011 – Ele disse, ela disse: No buraco.
Anônimo disse…
Somir, cadê a relevância em seus textos cara?

Porra, era um texto sobre depilação de cu!

09/03/2011 – Processa Eu!: Miogo Dainardi
Chatonilda disse…
Nossa, tirando a parte da falta da faculdade achei q você estivesse fazendo um processa eu sobre o Somir…Descreveu ele inteirinho…

Você me conhece tão bem assim? Mais importante: Eu tenho um filho bichado? Aliás, não tenho essa opinião negativa sobre o Mainardi… Muito limitante essa obrigação social de concordar com absolutamente TUDO que uma pessoa faz para ir com a cara dela. Eu era (e sou) fã do Mestre D’Alborga e discordo de virtualmente tudo o que ele defendia, como violência policial e pena de morte. O Mainardi é um bostinha, mas eu acho que um país precisa de chatos profissionais na mídia o tempo todo. Mesmo que o povo não entenda muito bem o que está acontecendo, o simples fato de alguém pegar um pouco mais pesado ajuda.

20/03/2011 – Desfavor da semana: Tremei!
Anônimo disse…
Mas dinovo essa conversa caralha de Japão? Troca a fita, manés!

DINOVO!

25/03/2011 – Flertando com o desastre: Beleza raça.
Anônimo disse…
Acho que você é tão narcisista que precisa está com alguém bolacha como você para acreditar inconscientemente que está se comendo…

Para não dizer que eu estou só me defendendo, um exemplo de crítica interessante e engraçada. Não é muito comum, mas existe. A proposta do texto era dissociar preferências de atração baseadas em raça de racismo propriamente dito.

Mas a sua análise psicológica não acertou no alvo. Meu narcisismo é intelectual (nem eu sou cara-de-pau a ponto de negar isso). Não tenho nenhuma vontade de me comer (muitas calorias), mas com certeza não viraria para o lado e dormiria depois.

Para dizer que pela média até que os comentários estão relativamente bons, para me provar que não vencemos a guerra contra as histéricas, ou mesmo para perguntar o que diabos os japoneses tem na cabeça: somir@desfavor.com

Ele está indo ou vindo?Flamengo está tentando trazer de volta Vagner Love. Dei um longo suspiro depois de ler esta notícia (e as cifras que estão sendo oferecidas). Será que o Flamengo e tantos outros clubes que vem cometendo o mesmo erro não aprenderam nada com o episódio do goleiro Bruno?

Nem me atrevo a falar em moral e ética, porque estas são palavras que passam longe do futebol brasileiro faz muito tempo. Não vou me aprofundar no mérito da indecência que é contratar pessoas que cometem crimes para servir de exemplo para as massas, para ser objeto de admiração de crianças. Seria perder meu tempo. Vamos falar de questões práticas, daquilo que interessa para esse povo: dinheiro. Contratar jogador problemático e criminoso é perder dinheiro. Quanto vocês acham que o Flamengo perdeu com a não-venda do goleiro Bruno, com a retirada das camisas dele das lojas e com todas as outras medidas que tiveram que ser adotadas quando ele foi preso?

Vagner Love já foi pego em escuta telefônica da polícia falando o que não deveria, já foi flagrado em festa de bandido na rocinha e em muitas outras situações delicadas. Vagner, se quiser me processar por crime de calúnia (imputar um crime a alguém), fique a vontade. Você tem ligações com tráfico. Só toma cuidado porque o crime de calúnia admite uma coisa chamada “exceção da verdade”, ou seja, se eu conseguir mostrar que existem fatos concretos que levam a crer que você realmente cometeu os crimes imputados, eu sou absolvida. Já pensou? Ser declarado bandido por sentença? Por muito menos do que isso Belo foi culpado por financiar o tráfico. Fica esperto, Vagner Love. Você saiu do país com a recomendação (equivocada) de deixar “a poeira abaixar” e tá achando que vai voltar sem risco nenhum. Não é bem assim. A coisa pode ficar ruim pro teu lado, tão na tua cola.

Vejo muita gente que pensa da seguinte forma: “Que se foda se ele tem ligações com o tráfico, se joga bem eu não me importo”. Que se foda? Você contrataria alguém que tem ligações com o tráfico para trabalhar para você? Que se foda É O CARALHO, EU QUE DIGO: QUE SE FODA se ele joga bem, se tem ligações com o tráfico eu não quero! Ainda mais sendo jogador de futebol… estamos no Brasil, quase todo mundo joga bem futebol. Tá cheio de moleque querendo uma oportunidade. Não precisamos dar essa moral para alguém que por mais de uma vez apresentou comportamento criminoso. Se você soubesse que o médico que vai te operar amanhã passou a véspera em uma festa de um famoso traficante na Rocinha regada a bebida, mulher e droga, você continuaria sustentando esta opinião?

Fazer o trabalho direito não é aval para comportamento socialmente desajustado, criminoso ou irresponsável. Fazer o trabalho direito não é mais do que obrigação da pessoa. Uma pena que isso só recaia em mim e em você e deixe ilesos os jogadores de futebol. Contratar alguém que sabidamente tem participação no crime é VERGONHOSO, é se dizer tão bandido quanto o contratado. Patrícia Amorim, ao acordar, vista um saco de pão com dois furos no lugar dos olhos antes de sair de casa, porque a VERGONHA que você vai passar é algo sem precedentes.

Tudo bem, eu não sou inocente de achar que a Patrícia Amorim decide tudo sozinha. Mas porra, é o nome dela que tá na reta. Os filhos, sobrinhos, afilhados e parentes dela estão vendo a contratação de pessoas ligadas ao crime com o seu aval. É esse o exemplo que você quer passar, Patrícia? Ok, diz que não se importa. Uma pena, uma vergonha. Tem gente que cobre o próprio nome de merda por muito pouco! Contratar Vagner Love é tolerar o crime. Sério que quem tem Ronaldinho Gaucho precisa rolar na bosta desse jeito?

E se, amanhã ou depois, um desses processos aos quais ele responde ou vai responder sai do controle e ele é preso? Vai ser bom para o Flamengo? Tudo bem, o Flamengo tem poder. Lembram das fotos do Adriano que eu falei que existiam e muita gente duvidou? O Fantástico tentou jogar no ar mas acabou sendo abafado. As fotos só vieram a público depois que Adriano saiu do Flamengo! Abafar o Fantástico não é para qualquer um não! Mas mesmo assim, um dia a casa cai. Já pensou se Vagner Love, tomado da certeza da impunidade que acomete amigo de traficante no Rio de Janeiro, decide fazer alguma besteira tipo matar uma ex-namorada ou coisa do gênero? Vai ser bom para o Flamengo? Não deu para abafar o Bruno, né? E olha que ele já estava vendido por um valor absurdo. Não dá para trabalhar com gente assim. Pessoas assim são uma bomba relógio. Não sei qual é a graça ou a necessidade de trabalhar sentado em um barril de pólvora.

A torcida gosta dele? Claro. Mas isso não é motivo para contratação. Faz-me rir que o Flamengo faz alguma coisa pensando na torcida. Até porque, vamos combinar, eu sou Flamenguista mas tenho que admitir que a torcida do Flamengo não é exemplo de alfabetização e cultura. A torcida do Flamengo não tem discernimento. Muitas vezes a torcida pediu e não foi atendida, então, chega dessa covardia de colocar a contratação do Vagner Love na conta da torcida.

Só no Brasil mesmo um profissional bem (muito bem!) remunerado é flagrado de mãos dadas com o tráfico de drogas e continuam a chover propostas de trabalho para ele! Que merda, hein? E não é exclusividade do Flamengo esta babaquice não. Adriano, o Imperador da Chatuba acabou de ser contratado pelo Corinthians (agora que invadiram o Alemão, o que ele ia fazer aqui no Rio, né não?). Cada vez mais começo a achar que o tráfico é financiado por grandes empresários DO FUTEBOL. Já pararam para pensar nisso? E se for o dinheiro DO FUTEBOL que viabiliza o tráfico? E se for o dinheiro das contratações, dos salários e todas as demais cifras astronômicas que bancam a compra de drogas e armas?

É um investimento e tanto. Lucro de aproximadamente 300%. Você dá X para o traficante comprar drogas e depois que ele vende, o lucro é tanto que ele te devolve uma quantia absurdamente maior do que a que você emprestou. Todos ganha! (vai lá nos comentários falar que eu errei a concordância, vai…). Talvez isso justifique a vida de abundância de jogadores e empresários do meio e também justifique porque continua jorrando dinheiro para traficantes comprarem drogas. Nada disso me espanta, o que me espanta é que alguém seja SEM VERGONHA NA CARA E BURRO O SUFICIENTE para mostrar o focinho assumindo a autoria dessa bosta toda. Eu não contrato gente ligada a traficante para trabalhar comigo. Vergonha de você, Patrícia Amorim. Se seus filhos caírem para esse caminho de crime e drogas, nem 500 anos de terapia vão conseguir aliviar sua culpa. E sim, você vai ter uma parcela de culpa nisso, porque fez parecer que esse tipo de conduta não é tão recriminável assim, a ponto de recontratar um de seus maiores expoentes.

Você está dizendo, Patrícia Amorim, não só a seus filhos como a todos, que uma pessoa pode ser fora da lei e ainda assim ser ótimo profissional e merecer um salário alto. Pode freqüentar festas e redutos do tráfico e ainda assim ser uma pessoa com a qual você quer trabalhar. Você MERECE que seus filhos se afundem até a alma nas drogas, Querida. Vai se benzer que as minhas pragas pegam. E como pegam!

Para você que acha que não tem nada de mais só freqüentar uma favela, eu te esclareço que Vagner Love faz muito mais do que isso. Ano passado foi convocado pela polícia para depor e explicar porque estava sendo escoltado por traficantes. O engraçado é a quantidade de blogs que achei defendendo Vagner Love dizendo que ele não vende drogas. DÃÃÃÃRRR. Dementes! Evidente que ele não vende drogas! O cara é RICO, não vai ficar oferecendo cocaína por aí! Não é assim que a banda toca! Dar dinheiro ou recursos de forma direta ou indireta ao tráfico também é crime, não precisa vender drogas. Pergunta pro Belo! Mesmo que não tenha fins lucrativos. Se Vagner Love tá soltando dinheiro para esse povo, mesmo que seja por apadrinhamento, pode passar alguns muitos anos atrás das grades.

E mesmo que não esteja, um profissional que vai a festa de traficante e se deixa escoltar por traficantes portando armas ilegais de forma pública (ele foi filmado e foi exibido pelo Fantástico) é um MERDA de profissional que caga para normas sociais e para a lei. Boa bosta não se pode esperar de uma pessoa dessas em matéria de responsabilidade e bom senso. No mínimo, é um péssimo exemplo, que infelizmente vai servir como referência para muitas crianças brasileiras.

Patrícia Amorim, muita vergonha de você e das bostas que você faz com o Flamengo. Jogar bem não basta. Para ser um bom profissional são necessárias outras qualificações. Jogar bem é o MÍNIMO. Pelo salário que ele vai receber, ele tem que dar o máximo.

Para dizer que foi praga do Somir porque eu ri dele quando o Adriano foi para o Timão, para dizer que você vai a uma festa do Nem na Rocinha escoltado por traficantes com armas ilegais e vai tentar explicar ao delegado que acha isso super normal e que não é crime para ver o que te acontece ou ainda para dizer que o Vagner Love é a cara da torcida do Flamengo: sally@desfavor.com

KKK!Tive receio em escrever este Flertando com o Desastre porque o Somir abordou o tema de forma tão brilhante neste texto, na minha opinião, um dos melhores de todo o blog, que durante muito tempo fique achando que não teria mais o que dizer. Mas agora quero dizer algumas coisas sim e adianto que minha intenção não é ofender nem chocar ninguém. Desde já me desculpo se o fizer.

Eu acho que todos deveríamos poder contar piadas de negros, ou, como se dizia nos anos 80, “piada de preto”. Ou então, deveríamos proibir qualquer piada com qualquer outra raça: judeus, baianos, paraíbas, portugueses, ARGENTINOS, etc. Incoerência esse pavor todo de brincar, brincadeira de mau gosto que seja, com a raça negra. Por mim, podia liberar geral. Piada para todos os gostos. Como diz o Deja, poder usar uma camiseta escrito 100% branco na rua sem ser ofendida ou conduzida a uma delegacia, já que eles podem usar uma camiseta escrito 100% preto.

Porque esse terrorismo todo com as “piadas de preto”? Porque tanto excesso de zelo e proteção? Tem aquele discurso que o negro foi menosprezado durante séculos enfeitado por todas aquelas frases de contexto histórico e antropológico que provam como esta raça foi afetada e subjugada pelos brancos. Ok. Concordo. A solução para isso é proibir que os brancos contem “piadas de preto” por medo de responder a um processo? O que parece proteção está na verdade desmerecendo os negros: “melhor não brincar com isso, tem um fundo de verdade”. Eu não acho que tenha, por isso gostaria de poder brincar. Contamos piadas de humor negro sobre deficiências físicas, condições realmente incapacitantes e limitantes, porque não contar “piada de preto”, já que “ser preto” não é nenhum demérito?

O que estão dizendo é que se um branco contar uma “piada de preto” isso pode ser visto como verdade pela sociedade? Isso pode prejudicar um negro? Porque dói tanto? Será que não existe a certeza de que de fato seja uma piada? Como bem disse o Somir na postagem sobre racismo, nos permitimos rir de uma piada de argentino mas não nos permitimos rir da mesma piada quando protagonizada por um negro porque “(…) aposto que ninguém que está lendo este blog tomaria mais cuidado com a carteira se visse um argentino passando na rua.”

Não contar a “piada de preto” é que configura racismo. Se você está convicto de que a pessoa não é filha da puta, nem ladra, nem suja, nem o que quer que seja, pode brincar com isso. A coisa perde a graça e cria constrangimento apenas quando tem um fundo de verdade. Eu tolero sem o menor problema as piadas de argentinos.

Mas daí alguém pode dizer que eu só as tolero porque nunca fui massacrada como os negros foram (coisa que não é verdade, eu os convido a viver uma infância em um colégio sendo a única argentina, especialmente em época de Copa do Mundo. Teriam que criar uma nova palavra porque bullying seria insuficiente). E eu respondo: que tal os judeus, que passaram pelo Holocausto, e toleram piadas a seu respeito? Por mais que eles não gostem ou que se sintam desconfortáveis, você não vai ver um judeu fazendo um escarcéu e querendo te levar para a delegacia porque você perguntou ao seu colega na mesa de um restaurante como se faz para colocar 500 judeus dentro de um carro. Não com freqüência, não com escândalo, não com orgulho.

Vejam bem, não estou entrando no mérito de ser legal ou não ser legal contar piadas estereotipando raças, crenças ou nacionalidades. Acho inclusive de gosto duvidoso. O foco da discussão é: DEVE SER PROIBIDO que se contem estas piadas? Não temos o sagrado direito de rir daquilo que muitos não acham engraçado? Não existem piadas sacaneando deficientes físicos, idosos, deficientes mentais e até mesmo crianças? Ora, deixa falar! Quem quiser que conte piadas! Sobre qualquer tema! Ou então deixemos de hipocrisia e vamos passar a proibir qualquer piada com qualquer raça. Inclusive com argentinos. Da mesma forma que não são inferiores, Negros não são mais especiais que ninguém. Não quero necessariamente contar uma “piada de preto” e sim viver em um país onde se possa contar uma “piada de preto”.

Se eu fosse negra eu ficaria particularmente ofendida em saber que as pessoas não contam piadas por medo de processo e não por consciência. Não é assim que se resolve. Não pode falar? Não pode contar piada? Não faz mal, o racismo continua, só que graças a esta proibição, continua de forma mais velada, perigosa e difícil de combater.

Não demora muito, os demais membros do grupo dos Intocáveis vão começar a reivindicar o mesmo direito: não querem ser alvo de piadas. Pessoas babacas existem em todos os cantos do mundo e gostando vocês ou não, elas tem direito de voz. Infelizmente é assim na democracia e democracia é uma merda, mas dentre todas as merdas, é merda menos merda, ainda não inventaram coisa melhor. Vai dizer que você nunca teve que entubar alguma piadinha ofensiva a qualquer título? Todos nós passamos por isso e todos nós sobrevivemos.

Tem quem diga que a proibição das “piadas de preto” se justifica para proteger as crianças em idade escolar. Vamos encarar a realidade: seus filhos vão sofrer bullying na escola, por um motivo ou por outro, serão atacados e ridicularizados e vão sobreviver. E crianças não podem ser punidas criminalmente por contar uma piada, logo, isto não vai impedi-las. Todos nós sofremos algum tipo de massacre na escola e sobrevivemos. Se você quer proteger seus filhos, a melhor forma não é calar a boca dos outros através de ameaças e sim dar armas (peloamordedeus, no sentido figurado, ok?) para que seus filhos mantenham a auto-estima e saibam lidar com isso. Se uma criança SABE que não é inferior em nada por ser negra, uma “piada de preto” não vai fazer estrago, como não fez em mim crescer ouvindo que argentino é tudo safado, filho da puta, desonesto e escroto.

Correndo o risco de transformar isto em um Processa Eu, afirmo que os mais preconceituosos nessa história toda tem sido os próprios negros, que vem usando histericamente uma lei que protege todas as raças, credos e nacionalidades. VERGONHA de vocês, viu? Vocês foram os únicos a promover essa caça às bruxas, a censurar a sociedade inteira dessa forma desmedida. Vê se homossexual se importa com piada sobre sua sexualidade a ponto de processar alguém? Vê se argentino liga para ser chamado de sem caráter filho da puta? Vê se português se ofende mortalmente e para o que está fazendo para te levar a uma delegacia por causa de uma piada pejorativa? Ao menos estudem, para parar de passar vergonha, porque uma mera “piada de preto” NÃO CONFIGURA crime de racismo, apenas (se tanto) injuria.

Ninguém tem mais preconceito contra o negro do que o próprio negro. Sinto muito que os anos de massacre físico e psicológico que vocês sofreram tenham deixado esta seqüela. Sinto muito mesmo. Se eu pudesse apagar esta página vergonhosa da nossa história, com negros sendo vendidos como animais em praças, eu apagaria. Mas não posso, ninguém pode. E cada vez que um negro reage de uma forma histérica a uma “piada de preto” está vestindo a carapuça e deixando transparecer o quanto aquilo doeu, o quanto ele tem medo que aquilo seja verdade, o quanto ele se sente inseguro em relação a aquilo, o quanto ele teme que os outros acreditem naquilo. Existem Negros que tem preconceito consigo mesmo e com outros negros também. Garanto que todo mundo aqui já viu um caso desses.

Estava estudando alguns fatos curiosos sobre o direito nos EUA. Eles também tiveram um boom de histeria com piadas alguns anos atrás, mas não era com “piada de preto”, era com piadas que poderiam ser consideradas ofensivas às mulheres. Se dois homens estivessem conversando e fizessem piadas ou comentários que deixassem alguma mulher ofendida, esta mulher poderia processá-los, em alguns casos até mesmo por assédio. Conclusão: criou-se um pavor social de falar sobre certos assuntos, dentre eles, flertar com as mulheres, principalmente no ambiente de trabalho. Muitos anos depois, vendo a merda que fizeram, as mulheres reclamam que os homens não tomam mais a iniciativa, não se aproximam e não as tratam com a mesma descontração e naturalidade que tratam outros homens e até mesmo de serem excluídas de programas sociais. Claro, vocês passaram VINTE ANOS processando quem o fez!

Eu não gosto de levar cantada no trabalho. Você não gosta. Mas eu não gosto muito mais de viver em um mundo onde as pessoas não passem cantada porque estão proibidas e amedrontadas com processos. Eu não gosto de ser chamada de filha da puta, mas sei que é um preço que se paga por poder falar o que quero; ouvir de volta. Eu não gosto de ouvir piadas onde argentinos são tratados de forma pejorativa, mas sinceramente, me sentiria RIDÍCULA de mobilizar o judiciário por causa de uma bobagem dessas. É um excesso, um paternalismo.

As pessoas tem o sagrado direito de fazer piada da minha nacionalidade, do meu tamanho, da cor do meu cabelo e de tudo mais que quiserem. SE houver um abuso muito grande, prejudicial à sociedade toda, isto eventualmente pode ser avaliado judicialmente. SE. As coisas tem a importância que a gente dá para elas. Uma pena que alguns negros dêem tanta importância para piadas bobas “de preto”. Nós brancos não somos assim tão importantes, caso vocês não tenham percebido. E vocês também não são tão mais vítimas históricas que outras raças que passaram por maus bocados e nem por isso se sentem no direito de proibir que se faça piada delas.

Sei que muita gente vai achar que eu estou passando recibo e que estou me justificando demais, mas mesmo assim eu vou falar. Apesar do argentino ser considerado um povo racista (não é de todo verdade), eu não tenho preconceito algum quanto à cor da pele da pessoa. Tenho outros preconceitos assumidos: evangélicos por exemplo. Tenho pavor, por puro preconceito, sem nem ao menos conhecer. Feio. Sei disso. Mas não tenho preconceito com negros, já tive namorados negros com os quais saia na rua de mãos dadas com muito orgulho, tenho grandes amigos negros e teria filhos com um negro sem problemas se eu não tivesse essa aversão doentia a crianças que me faz não querer ter filhos nem com o Eike Batista (e olha que filho com o Eike resolve a vida de qualquer um). Então, por favor, não tentem fazer parecer que eu escrevi isto movida por preconceito. Muito pelo contrário, se eu fosse preconceituosa jamais viria aqui me expor e dar esporro na raça negra com essa intimidade, ficaria encolhida no meu canto deixando vocês continuarem se queimando.

A sociedade TEM o direito de contar piadas. A sociedade NÃO TEM o direito de recusar a matrícula de uma criança em uma escola por ela ser negra, de proibir que se utilize o elevador social pela cor da pele ou de proibir o ingresso de negros em concursos públicos, mas piadas, FUCKIN´ PIADAS, por favor, isso nós deveríamos podemos contar. Todas as outras “vítimas” destas piadas toleram, ainda que não gostem muito, porque os negros não podem tolerar? Porque em vocês dói tanto? Reflitam.

Se vocês, negros que fazem escarcéu por causa de uma “piada de preto” não pararem com isso, dentro de vinte anos estarão como as mulheres dos EUA: segregados, mas desta vez pelo medo. Excluídos porque as pessoas não se sentem confortáveis de falar sobre determinados assuntos e contar determinadas piadas e fazer determinadas brincadeiras na sua presença por medo de um processo. As pessoas querem se sentir confortáveis para usar expressões como “a coisa tá preta” sem serem ameaçadas ou taxadas de racistas. Sério mesmo, reflitam. Esse terrorismo social, no final das contas, vai se voltar contra vocês.

Tô aqui dando esporro porque me importo, porque não quero ver isso acontecendo. Vai chegar a um ponto (se é que não chegou) que a má utilização da lei e a histeria com as “piadas de preto” terminará minando a credibilidade desse tipo de reclamação em delegacias e em processos judiciais. Uma arma que foi concebida para ser usada em casos extremos, de desrespeito que fira a dignidade de um ser humano, está sendo usada como revanchismo social, como forma de dar o troco, como forma de intimidação e canalização de raiva e revolta. Conclusão: vai perder seu poder. Lembram da fábula do menino que gritava “lobo”? Pois é, em 2020 vai ser a fábula do menino que gritava “racismo”.

E um recadinho para alguns homossexuais: cuidado, vocês estão indo pelo mesmo caminho. Se importem menos com gente que vale pouco.

Obs: De forma alguma quero livrar a cara do Bolsonaro. Acho ele desprezível, incorreto e digno de uma punição exemplar. Ele não faz piadas, faz discurso nazista.

Para dizer que vai levar chocolates para mim quando eu for presa, para dizer que o movimento negro parou de ler na segunda linha e já está enviando notas de repúdio ao Desfavor para os jornais ou ainda para dizer que tem medo de concordar e ser processado também: sally@desfavor.com