KKK!Tive receio em escrever este Flertando com o Desastre porque o Somir abordou o tema de forma tão brilhante neste texto, na minha opinião, um dos melhores de todo o blog, que durante muito tempo fique achando que não teria mais o que dizer. Mas agora quero dizer algumas coisas sim e adianto que minha intenção não é ofender nem chocar ninguém. Desde já me desculpo se o fizer.

Eu acho que todos deveríamos poder contar piadas de negros, ou, como se dizia nos anos 80, “piada de preto”. Ou então, deveríamos proibir qualquer piada com qualquer outra raça: judeus, baianos, paraíbas, portugueses, ARGENTINOS, etc. Incoerência esse pavor todo de brincar, brincadeira de mau gosto que seja, com a raça negra. Por mim, podia liberar geral. Piada para todos os gostos. Como diz o Deja, poder usar uma camiseta escrito 100% branco na rua sem ser ofendida ou conduzida a uma delegacia, já que eles podem usar uma camiseta escrito 100% preto.

Porque esse terrorismo todo com as “piadas de preto”? Porque tanto excesso de zelo e proteção? Tem aquele discurso que o negro foi menosprezado durante séculos enfeitado por todas aquelas frases de contexto histórico e antropológico que provam como esta raça foi afetada e subjugada pelos brancos. Ok. Concordo. A solução para isso é proibir que os brancos contem “piadas de preto” por medo de responder a um processo? O que parece proteção está na verdade desmerecendo os negros: “melhor não brincar com isso, tem um fundo de verdade”. Eu não acho que tenha, por isso gostaria de poder brincar. Contamos piadas de humor negro sobre deficiências físicas, condições realmente incapacitantes e limitantes, porque não contar “piada de preto”, já que “ser preto” não é nenhum demérito?

O que estão dizendo é que se um branco contar uma “piada de preto” isso pode ser visto como verdade pela sociedade? Isso pode prejudicar um negro? Porque dói tanto? Será que não existe a certeza de que de fato seja uma piada? Como bem disse o Somir na postagem sobre racismo, nos permitimos rir de uma piada de argentino mas não nos permitimos rir da mesma piada quando protagonizada por um negro porque “(…) aposto que ninguém que está lendo este blog tomaria mais cuidado com a carteira se visse um argentino passando na rua.”

Não contar a “piada de preto” é que configura racismo. Se você está convicto de que a pessoa não é filha da puta, nem ladra, nem suja, nem o que quer que seja, pode brincar com isso. A coisa perde a graça e cria constrangimento apenas quando tem um fundo de verdade. Eu tolero sem o menor problema as piadas de argentinos.

Mas daí alguém pode dizer que eu só as tolero porque nunca fui massacrada como os negros foram (coisa que não é verdade, eu os convido a viver uma infância em um colégio sendo a única argentina, especialmente em época de Copa do Mundo. Teriam que criar uma nova palavra porque bullying seria insuficiente). E eu respondo: que tal os judeus, que passaram pelo Holocausto, e toleram piadas a seu respeito? Por mais que eles não gostem ou que se sintam desconfortáveis, você não vai ver um judeu fazendo um escarcéu e querendo te levar para a delegacia porque você perguntou ao seu colega na mesa de um restaurante como se faz para colocar 500 judeus dentro de um carro. Não com freqüência, não com escândalo, não com orgulho.

Vejam bem, não estou entrando no mérito de ser legal ou não ser legal contar piadas estereotipando raças, crenças ou nacionalidades. Acho inclusive de gosto duvidoso. O foco da discussão é: DEVE SER PROIBIDO que se contem estas piadas? Não temos o sagrado direito de rir daquilo que muitos não acham engraçado? Não existem piadas sacaneando deficientes físicos, idosos, deficientes mentais e até mesmo crianças? Ora, deixa falar! Quem quiser que conte piadas! Sobre qualquer tema! Ou então deixemos de hipocrisia e vamos passar a proibir qualquer piada com qualquer raça. Inclusive com argentinos. Da mesma forma que não são inferiores, Negros não são mais especiais que ninguém. Não quero necessariamente contar uma “piada de preto” e sim viver em um país onde se possa contar uma “piada de preto”.

Se eu fosse negra eu ficaria particularmente ofendida em saber que as pessoas não contam piadas por medo de processo e não por consciência. Não é assim que se resolve. Não pode falar? Não pode contar piada? Não faz mal, o racismo continua, só que graças a esta proibição, continua de forma mais velada, perigosa e difícil de combater.

Não demora muito, os demais membros do grupo dos Intocáveis vão começar a reivindicar o mesmo direito: não querem ser alvo de piadas. Pessoas babacas existem em todos os cantos do mundo e gostando vocês ou não, elas tem direito de voz. Infelizmente é assim na democracia e democracia é uma merda, mas dentre todas as merdas, é merda menos merda, ainda não inventaram coisa melhor. Vai dizer que você nunca teve que entubar alguma piadinha ofensiva a qualquer título? Todos nós passamos por isso e todos nós sobrevivemos.

Tem quem diga que a proibição das “piadas de preto” se justifica para proteger as crianças em idade escolar. Vamos encarar a realidade: seus filhos vão sofrer bullying na escola, por um motivo ou por outro, serão atacados e ridicularizados e vão sobreviver. E crianças não podem ser punidas criminalmente por contar uma piada, logo, isto não vai impedi-las. Todos nós sofremos algum tipo de massacre na escola e sobrevivemos. Se você quer proteger seus filhos, a melhor forma não é calar a boca dos outros através de ameaças e sim dar armas (peloamordedeus, no sentido figurado, ok?) para que seus filhos mantenham a auto-estima e saibam lidar com isso. Se uma criança SABE que não é inferior em nada por ser negra, uma “piada de preto” não vai fazer estrago, como não fez em mim crescer ouvindo que argentino é tudo safado, filho da puta, desonesto e escroto.

Correndo o risco de transformar isto em um Processa Eu, afirmo que os mais preconceituosos nessa história toda tem sido os próprios negros, que vem usando histericamente uma lei que protege todas as raças, credos e nacionalidades. VERGONHA de vocês, viu? Vocês foram os únicos a promover essa caça às bruxas, a censurar a sociedade inteira dessa forma desmedida. Vê se homossexual se importa com piada sobre sua sexualidade a ponto de processar alguém? Vê se argentino liga para ser chamado de sem caráter filho da puta? Vê se português se ofende mortalmente e para o que está fazendo para te levar a uma delegacia por causa de uma piada pejorativa? Ao menos estudem, para parar de passar vergonha, porque uma mera “piada de preto” NÃO CONFIGURA crime de racismo, apenas (se tanto) injuria.

Ninguém tem mais preconceito contra o negro do que o próprio negro. Sinto muito que os anos de massacre físico e psicológico que vocês sofreram tenham deixado esta seqüela. Sinto muito mesmo. Se eu pudesse apagar esta página vergonhosa da nossa história, com negros sendo vendidos como animais em praças, eu apagaria. Mas não posso, ninguém pode. E cada vez que um negro reage de uma forma histérica a uma “piada de preto” está vestindo a carapuça e deixando transparecer o quanto aquilo doeu, o quanto ele tem medo que aquilo seja verdade, o quanto ele se sente inseguro em relação a aquilo, o quanto ele teme que os outros acreditem naquilo. Existem Negros que tem preconceito consigo mesmo e com outros negros também. Garanto que todo mundo aqui já viu um caso desses.

Estava estudando alguns fatos curiosos sobre o direito nos EUA. Eles também tiveram um boom de histeria com piadas alguns anos atrás, mas não era com “piada de preto”, era com piadas que poderiam ser consideradas ofensivas às mulheres. Se dois homens estivessem conversando e fizessem piadas ou comentários que deixassem alguma mulher ofendida, esta mulher poderia processá-los, em alguns casos até mesmo por assédio. Conclusão: criou-se um pavor social de falar sobre certos assuntos, dentre eles, flertar com as mulheres, principalmente no ambiente de trabalho. Muitos anos depois, vendo a merda que fizeram, as mulheres reclamam que os homens não tomam mais a iniciativa, não se aproximam e não as tratam com a mesma descontração e naturalidade que tratam outros homens e até mesmo de serem excluídas de programas sociais. Claro, vocês passaram VINTE ANOS processando quem o fez!

Eu não gosto de levar cantada no trabalho. Você não gosta. Mas eu não gosto muito mais de viver em um mundo onde as pessoas não passem cantada porque estão proibidas e amedrontadas com processos. Eu não gosto de ser chamada de filha da puta, mas sei que é um preço que se paga por poder falar o que quero; ouvir de volta. Eu não gosto de ouvir piadas onde argentinos são tratados de forma pejorativa, mas sinceramente, me sentiria RIDÍCULA de mobilizar o judiciário por causa de uma bobagem dessas. É um excesso, um paternalismo.

As pessoas tem o sagrado direito de fazer piada da minha nacionalidade, do meu tamanho, da cor do meu cabelo e de tudo mais que quiserem. SE houver um abuso muito grande, prejudicial à sociedade toda, isto eventualmente pode ser avaliado judicialmente. SE. As coisas tem a importância que a gente dá para elas. Uma pena que alguns negros dêem tanta importância para piadas bobas “de preto”. Nós brancos não somos assim tão importantes, caso vocês não tenham percebido. E vocês também não são tão mais vítimas históricas que outras raças que passaram por maus bocados e nem por isso se sentem no direito de proibir que se faça piada delas.

Sei que muita gente vai achar que eu estou passando recibo e que estou me justificando demais, mas mesmo assim eu vou falar. Apesar do argentino ser considerado um povo racista (não é de todo verdade), eu não tenho preconceito algum quanto à cor da pele da pessoa. Tenho outros preconceitos assumidos: evangélicos por exemplo. Tenho pavor, por puro preconceito, sem nem ao menos conhecer. Feio. Sei disso. Mas não tenho preconceito com negros, já tive namorados negros com os quais saia na rua de mãos dadas com muito orgulho, tenho grandes amigos negros e teria filhos com um negro sem problemas se eu não tivesse essa aversão doentia a crianças que me faz não querer ter filhos nem com o Eike Batista (e olha que filho com o Eike resolve a vida de qualquer um). Então, por favor, não tentem fazer parecer que eu escrevi isto movida por preconceito. Muito pelo contrário, se eu fosse preconceituosa jamais viria aqui me expor e dar esporro na raça negra com essa intimidade, ficaria encolhida no meu canto deixando vocês continuarem se queimando.

A sociedade TEM o direito de contar piadas. A sociedade NÃO TEM o direito de recusar a matrícula de uma criança em uma escola por ela ser negra, de proibir que se utilize o elevador social pela cor da pele ou de proibir o ingresso de negros em concursos públicos, mas piadas, FUCKIN´ PIADAS, por favor, isso nós deveríamos podemos contar. Todas as outras “vítimas” destas piadas toleram, ainda que não gostem muito, porque os negros não podem tolerar? Porque em vocês dói tanto? Reflitam.

Se vocês, negros que fazem escarcéu por causa de uma “piada de preto” não pararem com isso, dentro de vinte anos estarão como as mulheres dos EUA: segregados, mas desta vez pelo medo. Excluídos porque as pessoas não se sentem confortáveis de falar sobre determinados assuntos e contar determinadas piadas e fazer determinadas brincadeiras na sua presença por medo de um processo. As pessoas querem se sentir confortáveis para usar expressões como “a coisa tá preta” sem serem ameaçadas ou taxadas de racistas. Sério mesmo, reflitam. Esse terrorismo social, no final das contas, vai se voltar contra vocês.

Tô aqui dando esporro porque me importo, porque não quero ver isso acontecendo. Vai chegar a um ponto (se é que não chegou) que a má utilização da lei e a histeria com as “piadas de preto” terminará minando a credibilidade desse tipo de reclamação em delegacias e em processos judiciais. Uma arma que foi concebida para ser usada em casos extremos, de desrespeito que fira a dignidade de um ser humano, está sendo usada como revanchismo social, como forma de dar o troco, como forma de intimidação e canalização de raiva e revolta. Conclusão: vai perder seu poder. Lembram da fábula do menino que gritava “lobo”? Pois é, em 2020 vai ser a fábula do menino que gritava “racismo”.

E um recadinho para alguns homossexuais: cuidado, vocês estão indo pelo mesmo caminho. Se importem menos com gente que vale pouco.

Obs: De forma alguma quero livrar a cara do Bolsonaro. Acho ele desprezível, incorreto e digno de uma punição exemplar. Ele não faz piadas, faz discurso nazista.

Para dizer que vai levar chocolates para mim quando eu for presa, para dizer que o movimento negro parou de ler na segunda linha e já está enviando notas de repúdio ao Desfavor para os jornais ou ainda para dizer que tem medo de concordar e ser processado também: sally@desfavor.com

Puxa meu dedo.Relacionamentos, discussões, funções corporais vexatórias… O desfavor não perde a mão (amarela) e resolve brindar o público com uma essencial disputa sobre a ética do peido alheio. Enquanto ele acha que as pessoas devem pagar pelos seus flatos, ela entende isso como parte do jogo.

Tema de hoje: Se os peidos de seu(sua) parceiro(a) estão te causando incômodo, deve-se falar com ele(ela)?

SOMIR

Sim. Uma coisa é um peido ocasional, outra completamente diferente é conviver com uma pessoa com um vazamento radioativo constante…

E é importante diferenciar. Peidos comuns, daqueles que escapam no sofá ao lado de outra pessoa, não precisam de reação. Não é agradável, mas a coisa fica bem mais simples se o peidante disfarçar e o peidado ignorar. Eu acho questão de educação se desculpar, como já escrevi em outra coluna gasosa, mas isso só em casos daqueles especialmente fedidos.

Mas hoje não nos referimos aos esporádicos, estamos discutindo o caso de duas pessoas que tem um relacionamento abalado pelos gases podres de um deles! Não é pouca coisa. Presume-se que a pessoa responsável pelos cheiros incômodos pertença a uma dessas três categorias:

– Negação: Típico caso de gente com a mentalidade Sally para assuntos de banheiro. A pessoa acha que basta ignorar a existência de suas funções corporais e tudo vai se resolver. O ser peida seguidas vezes, de forma fedida e barulhenta, mas se ninguém reclamar é como se o ar estivesse cheirando a flores. Esse tipo de auto-enganação não é saudável. Assim que essa pessoa estiver próxima de alguém que não tem nenhuma “obrigação social” de ser agradável, vai ficar sabendo o quão podre realmente é.

E esse tipo de coisa é melhor resolvida com o tato de que só quer o bem do ser peidante. Melhor uma conversa vexatória, porém num ambiente compreensivo (janelas abertas) do que uma bronca de um desconhecido que pode levar a pessoa a se fechar mais ainda. Já estamos tratando de alguém que quer fingir que só come sabonete, não faz bem incentivar a ilusão. O medo de lidar com a realidade paralisa. E convenhamos que não queremos o(a) peidorreiro(a) paralisado ao seu lado.

Ninguém em sã consciência (ou acima dos 15 anos de idade) vai considerar um relacionamento inválido só porque a outra pessoa peida mais (ou de forma mais potente) que o habitual. Principalmente se a pessoa tem consciência do problema e toma as precauções necessárias. Caros desfavores, é um gesto de amor ir até o banheiro ou o quintal para soltar aquele peido assassino. Assim como não se caga em qualquer lugar, não se peida em qualquer lugar.

– Podridão: O corpo humano é cheio de probleminhas que se manifestam de forma “cosmética”. Uma pessoa pode estar se sentindo muito bem e ter alguma condição que a faz arrebentar a boca do balão (intestinal) com mais frequência ou intensidade. Não é só quem está com uma caganeira maldita que vai produzir a versão gasosa em quantidade abundante!

Uma boa relação também é baseada em cuidado com a outra pessoa. Se você percebesse um possível sintoma de problemas com seu(sua) parceiro(a), você não avisaria na hora? Chegar num ponto onde os peidos da pessoa com quem você faz sexo te incomodam profundamente tem todo o jeito de sintoma. É mais simples fingir que não vê (ok, ouve e cheira), mas desde quando o jeito mais simples é a única solução? Normalmente é a mais ineficiente.

Diagnóstico no começo costuma facilitar muito para quem quer se curar. E nem precisa ser uma doença horrível que apodrece o cólon, pode ser o simples caso de mudar alguma coisa na dieta. Extinguir a fonte dos problemas (não, enfiar uma rolha no rabo da pessoa não conta) deixa os dois mais felizes. A não ser que a pessoa tenha algum fetiche por ter seus peidos cheirados, não deve gostar de causar incômodo.

– Sem-noção: Existem muitas pessoas nesse mundo que não dão a mínima para algo assim. Infelizmente, não estamos imunes a nos apaixonar por elas. Até porque nesses casos é preciso contato constante (morar junto) para cheirar o tamanho do problema.

A pessoa sem-noção pode achar natural ficar peidando fedido num ambiente fechado com alguém do lado, pode ter sido criada numa família porca, pode achar hilário (é engraçado, mas piada enjoa se repetir demais), ou pode mesmo ser daquele tipo horrível de ser humano que acha uma linda expressão de intimidade poder peidar ao lado do(a) parceiro(a).

Como homem eu posso dizer que achamos bacana quando uma mulher se sente à vontade para fazer um “ato de rebeldia” e rir depois de peidar alto. Mas atentem ao “ato de rebeldia”, enxergamos isso como uma molecagem que vivemos fazendo com nossos amigos. Não pode ser padrão de comportamento, tem que ser a exceção total da regra, só para dar uma sujada nessa imagem de “florzinha” que a mulherada gosta de manter.

Esse tipo de intimidade frequente carregada de gás metano e coliformes fecais tem mais a ver com o ideal de relacionamento de coprófilos. Uma pessoa sem-noção vai continuar aprontando se não for confrontada (e talvez até se confrontada). Mencionar o incômodo é a única forma de conseguir algum resultado.

E se tudo der errado e a pessoa quiser sair do relacionamento, você só perdeu alguém que achava normal ficar peidando na sua cara. Não é como se você tivesse perdido algo muito valioso.

Não viemos para esse mundo para ficar cheirando peido (quer dizer, o pessoal do Fart Brazil veio…). É uma função corporal natural, mas mijar e cagar também são. Existem regras de convivência social que tornam nossa vida mais agradável, não custa seguí-las e não é maldade conformar outras pessoas a fazer o mesmo.

A verdade só fede se você for covarde.

Para dizer que não aguenta mais colunas escatológicas, para dizer que deveria ter uma regra de convivência social que me obrigasse a postar as coisas na hora certa, ou mesmo para questionar quem peida mais fedido aqui no desfavor: somir@desfavor.com

SALLY

Se os peidos do seu parceiro(a) estão te causando algum incômodo significativo, você deve conversar com ele(a) sobre o assunto? NÃO! NÃO! MIL VEZES NÃO! Não é possível, eu estou aqui repetindo meus ensinamentos estéticos desde 2008 e vocês não aprenderam nada???

Gente, é muito constrangedor conversar com o parceiro sobre peido. Ao menos sobre os peidos dele ou sobre os seus. Você o ama? Cheire o peido dele e não baque a difícil. Amar implica em muitas renúncias e uma delas é um ar 100% puro o tempo todo. Convivência nos sujeita a essas coisas desagradáveis que eu tento esquecer que existem e dia após dia o Somir me obriga a lembrar me forçando a escrever textos sobre elas. Convivência implica em remela no olho e bafo ruim ao acordar, implica em ser visto eventualmente em momentos indignos, como por exemplo vomitando e implica em ter que cheirar um peidinho aqui, outro ali.

Depois é mulher que implica com tudo, faz tempestade em um copo de água e quer sempre conversar sobre a relação, né? É APENAS UM FUCKIN´ PEIDO, não dá para deixar quieto não? A menos que a pessoa peide ostensivamente na sua cara e fique rindo depois, não vejo porque ter uma conversa bizarra como essa. Palavra de quem já namorou usuários de albumina. Seja forte. Respire pela boca. Faça de conta que vai sair do cômodo para pegar um copo de água, sei lá, crie seus mecanismos mas sobreviva ao peido alheio sem fazer DR Escatológica!

Sejamos práticos: uma pessoa tem a opção de parar de peidar? Não. Se houvesse qualquer recurso científico para isto eu já teria me oferecido para ser cobaia dessa experiência. Peidos são coisas indignas e nojentas com as quais todos nós temos que conviver. Peidos são broxantes, são fedidos, mas todo mundo faz. Você faz. Quem você pensa que é? Petulância achar que você pode peidar e o outro não! Seu peido é mais ou menos cheiroso do que o do seu parceiro? Uma conversa sobre o assunto é improdutiva. Mesmo que a pessoa tenha a boa vontade de se levantar e se dirigir ao banheiro quando for peidar (coisa que se espera que ela faça independente de pedidos), isso não vai te impedir de ter que cheirar o peido alheio em algumas situações: pessoa dormindo, dentro do carro, dentro do avião, dentro do elevador…

Peidos são inevitáveis. Uma conversa sobre uma coisa inevitável só serve para criar climão e constrangimento. Fico imaginando se a situação for de um namorado reclamando para a namorada sobre os peidos dela! GEZUIZ. Você quer o que? Que sua namorada mande cauterizar o próprio cu? Porque deve ser essa a vontade depois de ouvir uma conversa-reclamação (quem da toque é ginecologista, essa conversa teria sim o tom de cobrança) sobre como os peidos dela fedem e incomodam. Ainda estaria chamando a coitada de mal educada por tabela! Cresçam. Uma relação adulta pressupõe cheirar uns peidinhos de tempos em tempos (eu não acredito que eu acabei de escrever isso).

E vamos combinar que eu não sou exatamente um modelo de tolerância com essas coisas. Eu não gosto nem que mijem de porta aberta! Sempre fui acusada aqui de ser excessivamente fresca com essa questão estética. Vejam, A EXCESSIVAMENTE FRESCA está dizendo que tem que tolerar alguma coisa de ordem escatológica. Isso é um diferencial e tanto. Se EU estou defendendo a tolerância, deve ser porque o troço é mesmo delicado.

Conversar com parceiros sobre seus peidos te passa de imediato um atestado de SEM NOÇÃO. Eu ficaria embasbacada me perguntando como pude escolher alguém tão sem noção de nada. Passa a idéia de pessoa sem filtro, inconveniente, que causa constrangimento. Sim, abordar o parceiro sobre seus peidos depõe contra você. Tenha SEMANCOL e cheire o peido da pessoa amada, que isso não é o fim do mundo. Vocês fazem pior, alguns de vocês até cagam enquanto o outro está no mesmo banheiro tomando banho, porque não suportar um peidinho sem ter que verbalizar um questionamento sobre o assunto?

Peidar faz parte da vida. Eu sei, cagar também faz, mas por sorte não cagamos dormindo, não cagamos quando estamos dentro do carro etc. Podemos controlar melhor a situação. Peidos em determinadas circunstâncias NÃO PODEM SER EVITADOS. “Mas Sally, e se eu conversar com ela somente sobre as circunstâncias onde os peidos podem ser evitados?”. Não é assim que a banda toca. Você conversa com a pessoa e fala que PEIDO INCOMODA. Isso cria uma paranóia na cabeça dela, um constrangimento. Dificilmente ela vai conseguir relaxar e ficar bem sabendo que só será cobrada com relação aos “peidos evitáveis” (eu não acredito que estou categorizando peidos).

Pensem na relação custo/benefício: criar sentimento de rejeição, paranóia, medo, angustia, constrangimento e vergonha ou apenas cheirar um peidinho por poucos segundos? Me poupem, se eu, a Estética Queen estou dizendo que dá para levar, pessoas normais vão tirar de letra! Um peido não faz estrago suficiente para merecer uma conversa. Nem um peido de albumina. Você, Amigo Cueca, não se sentiria um monstro em ter que chegar para sua amada e magoá-la desta forma? Você não acha que isso macularia a auto-estima da moça? Você acha realmente necessário esse tipo de constrangimento, se não para você, para ela?

Certas coisas não se conversam. Certas coisas são constrangedoras demais para se conversar. Certas coisas humilham tanto que a maior prova de amor que se pode dar é fingir que não viu, que não percebeu, que nada está acontecendo. E nunca, eu disse NUNCA, aborde o assunto como brincadeira “Mmm… tá um cheiro estranho aqui, você peidou! Hahahaha”. Eu absolveria uma pessoa que matasse eu parceiro após esta frase no Júri.

Se você quiser se aprofundar neste assunto fascinante que é o peido, Desfavor te recomenda um texto: Desfavor Explica: O peido.

Quem ama cheira calado. Lembre-se, você também tem cu e você também peida, um dia seus argumentos podem se voltar contra você. Sou a favor da tolerância com o peido, em prol do crédito para eventualmente peidar em outra ocasião.

Para dizer que eu tenho sérios problemas com intimidade, para dizer que seu namorado te mandou puxar o dedo dele e depois disso você se sente super confortável para mandar ele peidar na puta que o pariu ou ainda para parabenizar nossa criatividade pois desde o começo do blog sempre damos um jeito de trazer temas escatológicos e eles nunca se esgotam: sally@desfavor.com

Primeiro BBB, agora CARAS? O desfavor morreu...Analisamos três casos que escancaram como o Brasil ainda não tem estrutura para lidar com a idéia de liberdade de expressão.

Ricardo Gama, blogueiro carioca, sofreu uma tentativa de execução (que falhou por muito pouco) curiosamente após bater pesado em grandes autoridades no Rio de Janeiro.

Jair Bolsonaro, deputado reaça, repetiu seu veeeelho discurso preconceituoso na TV e gerou uma grande reação nacional, muito por causa da tentativa de Preta Gil ganhar mais alguns minutos de fama.

Cibele Dorsa, subcelebridade genérica, teve sua carta de suicídio enviada para a revista Caras censurada de forma bisonha pela justiça tupiniquim. Sim… revista Caras.

Desfavores da semana.

SOMIR

Como Sally escreve pelos cotovelos e mandou ver mais páginas do que o combinado (surpresa, surpresa…), não vou ficar descrevendo os casos de forma aprofundada, ficaria repetitivo. Vou aproveitar a coluna e falar um pouco mais sobre liberdade de expressão.

O plano inicial era falar sobre o assunto na coluna sobre o Bolsonaro mesmo, mas eu conheço nosso público fã de BBB e não quis deixar o texto confuso. Afinal, apesar de querer que o deputado carioca (supresa, surpresa…) seja punido pela lei, discordo dela por princípio.

Liberdade de expressão real é aquela que não agrada ninguém. E não digo isso porque quero ver todo mundo irritado, não agradar ninguém é o mais próximo de justiça que podemos alcançar numa situação dessas. Agradar a todos é efetivamente impossível.

Sim, esse tipo de impunidade traria à tona da sociedades pessoas que fariam o Bolsonaro parecer um “intelectualzinho de esquerda”. Mas ao mesmo tempo, faria com que os extremistas dessem a cara à tapa sem qualquer chance de fazerem o papel de vítimas de uma sociedade castradora. A liberdade de criar, por exemplo, uma sociedade neonazista com reuniões abertas e periódicas, também pintaria um alvo sobre as cabeças dos participantes.

Quer falar o que quer? Direito seu. Não quer sofrer as consequências? Boa sorte. O Estado não abandonaria os impopulares, mas não tem dessa de garantir a integridade física de todo mundo o tempo todo. Liberdade de expressão TOTAL também é liberdade de colher o que plantou.

Os americanos, por mais odiados que sejam aqui na América Vira-Latina, tem excelentes exemplos de como essa liberdade beirando a inconsequência pode funcionar para moderar o impacto dos extremistas. Talvez você já tenha ouvido falar da Westboro Baptist Church, mas eu vou situar mesmo assim: Como o próprio nome diz, é uma igreja mantida basicamente por uma família que ficou famosa pelas suas manifestações de extremo mau-gosto nos funerais dos soldados americanos. Eles não vão lá para reclamar da política imperialista ianque, eles vão protestar contra a queda dos valores cristãos no país. Para eles, os soldados morrem porque os EUA apóiam a homossexualidade. Nossos reaças cristãos são fichinha perto deles.

As famílias dos soldados ficaram furiosas e exigiram que eles parassem com os protestos. Não adiantou… A lei lá garante esse direito para os manifestantes. O que parece um efeito negativo da aplicação da liberdade de expressão total acabou minando de vez a pouca simpatia que os malucos tinham. A Westboro é odiada até mesmo pelas outras igrejas que pregam contra os homossexuais. O efeito que eles causam é justamente o oposto, vários ativistas já declararam que a família insana foi uma das melhores coisas a acontecer para o movimento dos direitos dos gays.

Processo parecido foi o da Ku-Klux-Klan, que de tanto professar e praticar seu ódio contra os negros, acabou dando munição para a revolução social que culminou no fim da segregação racial institucionalizada nos EUA. A KKK (Diboa?) podia e ainda pode dizer tudo o que quiser, mas está relegada como movimento extremista e sinônimo de vilania na maior parte do mundo. Eles acabam jogando contra o que pregam.

Claro que os EUA não se tornaram uma nação sem problemas por causa dessa liberdade, mas o resultado na balança entre vantagens e desvantagens corrobora com a idéia de que liberdade de expressão total é um caminho pra lá de viável.

Abrir a porta para a mensagem sem filtro abre a porta para a rejeição sem filtro. O mau-exemplo tem um poder que não pode ser ignorado; a auto-regulação social idem.

Aqui no Brasil o Estado tem o péssimo hábito de interferir nessas questões. Péssimo não por que o objetivo das leis seja maligno, mas pela aplicação desastrada e frequentemente tão preconceituosa quanto o que dispõe a combater.

Um deputado constrói a carreira sendo preconceituoso e só sofre alguma consequência quando encontra pelo caminho uma subcelebridade doida por atenção. Vivemos num país onde a ÚNICA forma de tentar vencer a impunidade de ricos e poderosos é enfiar os holofotes da mídia em sua cara por muito tempo. Se ninguém vai ter chance de aparecer e ficar famoso, o preconceito passa incólume.

Uma outra subcelebridade (quem se importa?) faz o papel RIDÍCULO de mandar sua carta de suicídio para uma revista de “pornografia da ostentação”, e como se não fosse horrível o suficiente, o ex-namorado dela (curiosamente RICO PRA CARALHO) consegue fazer com que a Justiça desta República das Bananas esfregue sal nas feridas da ditadura militar recente censurando seu nome (Doda Miranda: Processa Nós!) na carta publicada.

Um blogueiro (Ricardo Gama) recebe vários tiros depois de várias e várias postagens sobre os desmandos, ingerências e falcatruas de autoridades cariocas, tais quais o Governador Sérgio Cabral e o Prefeito Eduardo Paes. Com toda a pinta de queima de arquivo, o caso passou por baixo dos radares da grande mídia. Sally precisou me contar sobre o ocorrido. O caso é seriíssimo e o nosso Estado, tão participativo quando alguém rico ou famoso precisa de uma mãozinha, está assoviando e disfarçando até que o assunto esfrie.

Se é para intervir, que intervenha em prol de quem realmente precisa ter sua liberdade de expressão assegurada. Não para agradar a porra da Preta Gil (O Bolsonaro tinha que ter se fodido MUITO antes disso…) ou o babaca do Doda Miranda. Porque se for para fazer essa merda e deixar o povo à mercê de quem “pode mais”, é mais negócio liberar tudo de uma vez e criar uma cultura que valorize mais quem enfia o dedo na cara de quem não gosta e fala tudo o que pensa. Não dá para mandar matar todo mundo…

Para dizer que sua mente primitiva não consegue acomodar o conceito de seguir leis e discordar delas, para dizer que ainda está confuso(a) com a postagem de ontem, ou mesmo para dizer que só não me mandam matar para não desperdiçar balas: somir@desfavor.com

SALLY

Temos muitos desfavores nesta semana, mas todos tem um ponto em comum: liberdade de expressão. Somos um bebê engatinhando nesse quesito! Após anos de uma ditadura militar que restringiu nossa liberdade de expressão, somos como um passarinho que passou anos na gaiola e ainda tem dificuldades em voar. Vez por outra faz merda, para mais ou para menos.

O primeiro caso que queria comentar é o do blogueiro carioca RICARDO GAMA, conhecido por escrever um blog onde apresenta denúncias sobre diversos políticos, com mais foco no então Governador Sergio Cabral e o então Prefeito Eduardo Paes. Ele realmente se dedica à causa, viu? Tanto fez que acabou levando uns tiros. Sim, no plural. Vários tiros. Dois deles na cabeça. E SOBREVIVEU. Em uma entrevista para um jornal carioca ele confirmou que foi um atentado deliberado contra sua vida por vingaça e disse que tem certeza que foi por causa do blog que escreve. Nós blogueiros do Rio de Janeiro fizemos uma passeata pela liberdade de expressão no local onde ele foi baleado. Ricardo diz que não vai suspender o blog, mas o clima é de medo. Isso é liberdade de expressão? Devo apagar meus textos do Plantão Hell de Janeiro sobre o Complexo do Alemão ou devo começar a andar com escolta? Matar blogueiro é sacanagem.

Ricardo tem certeza sobre QUEM ele irritou, mas não tem certeza de que o assunto será investigado com imparcialidade pela polícia. Ele está com medo. É que quando falam que no Brasil existe liberdade de expressão, a gente acredita, porque é mais agradável acreditar nisso do que em coronelismo. Mas acontece uma coisa dessas e a verdade é esfregada na nossa cara. Ao que parece, pelo que foi narrado, foi uma tentativa truculenta de execução em um local público sem ao menos aquela clássica preocupação de fazer parecer que foi um assalto. Para quem conhece o Rio, vejam que desaforo: ele estava parado entre as Ruas Santa Clara e Barata Ribeiro, em Copacabana (muito movimentadas) quando ouviu alguém chamando seu nome de dentro de um carro. Virou para olhar e levou tiros. Sua reação após ser baleado? Segundo testemunhas gritou “É queima de arquivo!”. Detalhe: ele levou os tiros 11h da manhã.

Espero de coração que, mesmo que não se viva em um país com liberdade de expressão, não vire moda matar blogueiros (*lembrando das coisas que falei sobre Eduardo Paes e Sergio Cabral). Alguém sabe quanto custa um colete a prova de balas? Quem quiser conhecer um pouco mais sobre Ricardo Gama, eu recomendo. Pessoa séria, comprometida e ética: http://ricardo-gama.blogspot.com/. Desfavor repudia com todas as suas forças perseguição a blogueiros. Em breve estaremos lançando mais uma coluna do Desfavor: “Mata Eu!”.

Daí vem outra polêmica envolvendo liberdade de expressão: Cibele Dorsa, uma atriz/modelo/subcelebridade/nobody, que apenas ganhou fama por ter sido casada com Doda Miranda em um passado distante, decidiu que ia se suicidar. Ok, feio se matar, mas é direito dela. Daí decidiu que seria bacana se suicidar pulando da mesma janela na qual seu namorado Gilberto Scarpa (sobrinho do Chiquinho Scarpa, podia ser mais trash?) teria se suicidado semanas antes. Ok, uma merda namorar o sobrinho do Chiquinho Scarpa e o cara ainda se matar quando está namorando com você. Tá ruim o quadro? Calma que piora. Antes de se matar ela escreveu uma daquelas cartinhas de suicídio contando o que estava sentindo e tal. Vamos brincar de vestibular: Para quem Cibele Dorsa deixou esta cartinha?

a) Para sua filha
b) Para sua mãe
c) Para seu pai
d) Para seu ex
e) Nda

A resposta é nda. Ela mandou esta cartinha PARA A REVISTA CARAS. Para a FUCKIN´REVISTA CARAS! É muita vontade de ser subcelebridade! É o desejo de ser capa da Caras levado às últimas conseqüências! Tá ruim o quadro? Calma que piora mais. Ao saber de sua carta suicida lavando roupa suja endereçada à revista Caras, seu ex e pai do seu filho, Doda Miranda se desesperou. Para quem não sabe, ele é casado com uma das mulheres mais ricas do mundo, Athina Onassis, que por sinal, depois do casamento mudou seu nome para Athina Onassis de Miranda (esse cara deve ser foda para fazer alguém renunciar a seu Onassis!), este escândalo não pegaria bem na alta sociedade. O que ele fez? Recorreu à justiça para tentar impedir que a Caras publique a carta suicida de Cibele. Diz ele que quer preservar a filha (ele que pense bem onde enfia espermatozóides) mas a verdade é que a carta tem acusações muito pesadas contra ele.

O resultado dessa briga judicial foi risível. Ficou decidido que a Caras não poderia publicar O NOME de Doda Miranda. E esta decisão saiu tarde da noite, quando a revista já havia sido rodada. Conclusão: foi para as bancas com uma TARJA PRETA onde estava escrito o nome de Doda, no melhor estilo ditadura militar. Qual é a eficiência disso, alguém me explica? A manchete da capa se refere às mensagens que ela entregou à Caras para divulgar “aos filhos, à família e a (tarja preta)”. Todo mundo sabe QUEM É tarja preta! Mas que coisa sem propósito!

Quer dizer, blogueiro leva tiro no coco em plena luz do dia na rua mais movimentada de Copacabana por falar o que pensa mas não pode citar o nome de Doda na revista Caras? Não pode contar o que Cibele queria dizer a seu respeito? A mulher é ridícula de mandar uma carta de suicídio para a Caras, mas porra, a Caras não pode publicar? Se Doda fosse pobre, será que a decisão teria sido esta? Eu não vejo pobre ter sua imagem tratada com tanto cuidado não. Eu vejo policial levantando a cabeça de pessoas que estão sendo presas, muitas vezes injustamente, para a imprensa fotografar. Depois, quando o infeliz é inocentado no julgamento ninguém vai lá tirar foto e dizer que foi engano e que ele é um “cidadão de bem”.

E para fechar nosso papo sobre liberdade de expressão, Bolsonaro, sempre ele, fez mais uma declaração infeliz que foi objeto de texto do Somir. Para quem já disse que o grande erro da ditadura militar foi ter torturado e não matado, não causa espanto. O bacana foi ele tentando remendar o que disse “Achei que estavam falando sobre gays”, porque tá tudo ok se desrespeitar gay, né? O povo e a imprensa em vez de se ater ao tremendo desfavor que é o Bolsonaro e suas declarações miraram sua artilharia na histeria da Preta Gil e fizeram disso um grande caso de racismo! Putaquepariucaralho.

Sem querer ser escrota (mentira, eu tenho o maior prazer em ser uma escrota full time), aproveita e junta um pouquinho dessa indignação e canaliza para uma questão mais profunda: VOTARAM NELE, ele não está ali de favor. Uma parcela significativa da população se identifica com ele. Estamos em um país onde VOTAM NO BOLSONARO. Ele cumpre sua SEXTA legislatura na Câmara dos Deputados, tá? Que tal se indignar COM ISSO?

Ele já falou tantas frases escrotas, tantas barbaridades, que sinceramente não sei qual foi o espanto. Ele é isso aí mesmo, um ser humano desprezível que em minha opinião tem uma forte tendência a homossexualidade mal elaborada. Tem que ser punido. E tem material de sobra para isso. Já chamou uma deputada do PT de vagabunda, defendeu abertamente a tortura para obter confissão de criminosos, declarou ser a favor de dar surras em crianças e adolescentes que tenham tendências homossexuais e por aí segue. Qual é a surpresa da declaração que ele deu para Preta Gil? Minha surpresa vai ser se ele for punido, porque por seis legislaturas ele vem falando merda sem parar.

Mais: nem um escroto de marca maior como o Bolsonaro me faz dar razão à Preta Gil. Qualquer um que esculhambe ela merece um pouco da minha admiração.

Resumo da semana: para Bolsonaro tem liberdade de expressão, para Ricardo Gama tem tiro à luz do dia e para Cibele Dorsa tem carta censurada. Brasil, um país de tolos.

Para dizer que Galeão é o caralho, você vai embora A NADO, para dizer que deseja muito que o filho do Bolsonaro se declare gay e apareça vestido de Carmen Miranda assim quem sabe ele entende que não é uma questão de criação ou caráter ou ainda para dizer que você também acha que destratar a Preta Gil deveria ser recompensado e não punido: sally@desfavor.com

Desejem-nos sorte!Sally disse com todas as letras que estava nervosa. Somir disfarçou. Os minutos que precederam o encontro pareceram horas. Embora nenhum dos dois tenha verbalizado, estava claro que ambos estavam preocupados com a possibilidade de terem sido trollados pelo telefone alguns dias antes.

Nada além de paranóia. Logo chegava ele, Antonio Pedro Tablet, conhecido como Kibe Loco na internet. Toda e qualquer presunção de arrogância oriunda do mais conhecido blogueiro brasileiro veio abaixo logo no início da conversa, dando lugar a uma amizade instantânea.

O tema? Depois da protocolar troca de elogios sobre o trabalho alheio, os três trataram de costurar uma parceria que pretende revolucionar a forma como os brasileiros lidam com a blogosfera. Conteúdo dinâmico, atualizações constantes, integração total com as redes sociais, e é claro… o humor ácido e a crítica social inteligente com a qual você já se acostumou.

A melhor forma de subverter o sistema é estar dentro dele. Chega de isolamento, chega de anonimato, chega de não poder informar e divertir as pessoas da forma como sempre sonhamos.

Enquanto fazemos a mudança, não esperem muitas atualizações. Mas podem ficar tranquilos, vamos informar tudo o que está acontecendo e fazer questão de mostrar nossa nova casa assim que ela estiver pronta para a visitação.

O desfavor foi uma etapa enriquecedora em nossas vidas, mas nós podemos mais.
E nós vamos fazer mais.

Aguardem…

Ass: Silvia e Emílio.

u mad?

Como a semana está cheia de desfavores, vamos tentar tratar de alguns com antecedência. Além disso, eu tenho uma reclamação “peculiar” sobre a reação popular no assunto de hoje.

Mas vamos situar os acontecimentos primeiro, um trecho da reportagem da Folha sobre o assunto:

Declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) num programa de TV provocaram uma avalanche de reações no Congresso e entre ativistas do movimento negro e gay.

No quadro “O Povo Quer Saber”, do programa CQC, da TV Bandeirantes, a cantora Preta Gil perguntou como ele reagiria se seu filho se apaixonasse por uma negra.

O parlamentar, que tem um extenso histórico de polêmicas relacionado a direitos civis e humanos, respondeu: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu.”

Após o programa ir ao ar na noite de anteontem, Bolsonaro tentou se justificar. Disse que, na realidade, pensou que a pergunta se referisse a um relacionamento gay.(…)

Em primeiro lugar, gostaria de afirmar que Bolsonaro e sua turma reacionária não deveriam ter QUALQUER função de poder num país civilizado. E também que vou achar o máximo se ele perder o cargo e acabar numa cela apertada pelas próximas três décadas. Tem que se foder mesmo.

Mas… E isso aqui não é Flertando com o Desastre à toa… Ele tem que se foder por algo que efetivamente fez. Me incomoda muito que o processo protocolado contra ele na Câmara o acuse de racismo ao invés de homofobia.

Por mais que a pergunta feita por Preta Gil tenha dito claramente que se tratava de um relacionamento com uma negra, a resposta de Bolsonaro claramente não encaixa no assunto. Pode parecer pretensão ter tanta segurança sobre o objetivo da resposta dele, mas eu tenho argumentos:

Bolsonaro é um babaca reacionário, e babacas reacionários não são conhecidos por formular idéias remotamente originais. Ele simplesmente repete discursos clássicos para angariar votos do público retardado que acha que convicção religiosa define caráter. A conexão entre promiscuidade e homossexualidade é velha conhecida no tipo de argumentação da turma dele. Não computa que uma pessoa burra dessas possa derivar a sua lógica distorcida de um grupo para outro tão fácil assim.

Bolsonaro é um político. Ele sabe que pode bater em homossexuais para ganhar votos assim como sabe que racismo declarado mataria sua carreira. A maioria absoluta das igrejas nacionais malha os homossexuais como se fossem a escória total da humanidade. A maioria absoluta das igrejas não ousa passar de racismo velado (Jesus loiro, né?). Existe uma chance razoável dele nem mesmo ser um racista “praticante”.

O contexto sugeriria que a pergunta fosse sobre homossexuais. Ele deve ter formulado a resposta por reflexo ao ouvir “seu filho se apaixonar” sem prestar atenção no que foi dito no final. Isso é comum, gostem ou não. Burrice e distração ainda não são crimes.

Não faz sentido. O próprio Marcelo Tas apontou que tinha algo de errado após a exibição da matéria. Sinceramente, isso não deveria nem ter sido discutido…

Mas está. E a defesa atual de Bolsonaro se escora nisso: Que ele entendeu errado. Sabem qual é o problema disso?

ISSO NÃO É DEFESA! BOLSONARO CONFESSOU UM CRIME OFICIALMENTE! Enquanto ficarmos nessa discussão estúpida, ele vai ficar esfregando na cara do país inteiro que dizer que estava ofendendo homossexuais é defesa para a acusação de ofender os negros.

Sally já me explicou que oficialmente ele deve levar a mesma trolha, já que é o mesmo crime e o juiz pode corrigir isso no processo. Não tenho a menor esperança que ele seja realmente preso, mas se servir para ao menos para tirá-lo da Comissão dos Direitos Humanos (Sim, ele fazia parte! Brasil-sil-sil!) e torná-lo inelegível daqui para frente, já vai ser uma vitória.

Não é meu objetivo entrar nos meandros legais do assunto, contanto. A reação social tem um papel muito importante na evolução da qualidade de vida geral. O nosso país segue uma linha muito… cristã… na hora de pesar a importância da discriminação racial e sexual. O racial é velado, o sexual é escancarado.

E isso tem papel decisivo ao ignorarem o CONTEXTO da afirmação para pegá-lo por racismo. Está na cara que o motivo pelo qual ele deveria responder é homofobia, mas não teria o mesmo peso, não é mesmo?

Uma declaração emblemática do ex-BBB e atual deputado Jean Wyllys: “Desta vez, Bolsonaro caiu na própria armadilha ao fazer declarações racistas. Se antes ele podia injuriar as mulheres, os homossexuais e outras minorias impunemente, agora ele cometeu um crime previsto pela Constituição”.

A impressão que fica é que precisava-se de uma acusação mais poderosa para manter o povo “nos cascos” com Bolsonaro. Mesmo que fosse EVIDENTE que não era o que ele tinha feito. Não precisa ir muito longe para perceber que o contexto não permite a idéia de racismo. E contexto vale para a lei. O deputado só vai sofrer o processo porque mesmo colocando a frase no contexto certo ainda é o mesmo crime, com vítima diferente.

“O importante é pegar o safado, Somir!”

Eu sei que parece estranho no Brasil, mas as leis existem para proteger as pessoas. A mentalidade “justiça a qualquer preço” é justamente o que a turma que repudia os Direitos Humanos prega. Estar do lado justo das coisas significa renunciar a estratégias baratas para punir quem tenta roubar os direitos mais básicos de outras pessoas. Dá mais trabalho, mas é por isso que funciona melhor.

Não estou aqui defendendo o Bolsonaro, ele tem que pagar pelo que fez. PELO O QUE FEZ. Algo documentado e assumido por ele. Seria até mais útil para a evolução da mentalidade das pessoas que um deputado rodasse por ofender os homossexuais desde o começo. Sim, eu sei que ele pode acabar sendo punido por isso com o decorrer do processo, mas a mídia está caindo em cima disso AGORA. Essas coisas demoram e já teremos outra bola da vez quando sair a sentença.

E eu não consigo enxergar os ganhos diretos para o movimento pelos direitos dos negros. Vai ficar meio estranho se Bolsonaro acabar punido por racismo… O que pode inflamar os discursos dos racistas declarados e tirar de dentro do armário muitos outros.

Numa analogia insensível (ei, sou eu!): Os ativistas dos direitos homossexuais estão com a bola nos pés, sem goleiro, prontos para fazer o gol. Os ativistas pelos direitos dos negros estão na frente, ligeiramente em impedimento.

Se passarem a bola, o gol vai ser polêmico. O time adversário (Reaças F.C.) vai fazer um alarde, dar entrevista “chororô” e estragar o momento.

Eu entendo que dá vontade de botar para foder para cima de alguém como o Bolsonaro doa a quem doer, mas estamos num momento bem sensível na questão dos direitos humanos no Brasil. Lembrem-se da CRETINICE da discussão sobre o aborto nas eleições que engessou totalmente as reformas necessárias.

Tem que ser uma mensagem clara, não só para a bancada cristã anti-direitos humanos mas também para o povo que acompanha o assunto pela mídia. Bolsonaro é um babaca que NÃO vai mudar seu discurso, mesmo se condenado (vai adorar ser um “mártir”). Quem tem chance de aprender com a discussão são as pessoas que não ganham a vida com a simpatia dos reacionários cristãos.

Pode parecer exagero meu encanar com isso, mas acusações que ignoram contexto são uma porta que NÃO vamos querer abrir oficialmente. Se eu acho absurdo que a polícia entre numa favela e pegue um “pretopobre” qualquer para fazer confessar o crime da vez, não posso simpatizar com o fato de que não se aponte de forma correta o motivo pelo qual um deputado está sendo processado.

Ainda mais quando o deputado cometeu o crime em rede nacional e CONFESSOU publicamente no dia seguinte. Sou favorável a que concedam logo o ponto de ter atacado outro grupo para Bolsonaro e façam ele sofrer exatamente a mesma punição.

Mensagem clara, sociedade evoluindo. E não teremos que aguentar a Preta Gil forçando a barra para chamar a atenção. Se bem que eu não duvido nada que ela se assuma homossexual nos próximos dias para conseguir manter o processo por danos morais…

E falando em danos morais, pode até parecer teoria conspiratória, mas não parece conveniente demais para as bancadas católicas e evangélicas que a história oficial esteja rondando a questão do racismo? Quanto mais tempo continuar assim, maior a chance deles saírem limpos da história e maior a chance desses FILHOS DA PUTA continuarem atrasando, enfraquecendo e mutilando o novo Plano de Direitos Humanos (que não é uma maravilha, mas já é um avanço…).

Se a coisa debandar para homofobia logo, Bolsonaro não vai mais estar tão sozinho… Aposto que dá para pegar mais uns dez que vão defendê-lo com a mesma mentalidade medieval. O que jamais aconteceria se ele ficar exclusivamente acusado (só importa o que povo fica sabendo) de racismo.

O Brasil está com uma boa chance de atacar essa turminha escrota com força, mas se vamos atacá-lo dessa forma desorganizada, grandes chances de pegarmos só um boi de piranha.

Para dizer que não gosta desses textos difíceis de concordar ou discordar, para dizer que ofender a Preta Gil deveria valer uma medalha, ou mesmo para discutir de forma vazia sobre um termo aleatório do texto: somir@desfavor.com