A melhor parte do Carnaval.Já foi desfavor da semana ano passado, é neste e será nos próximos.

SOMIR

Começou a temporada de caça ao respeito-próprio. Numa previsão otimista, milhões serão abatidos em bebedeiras, promiscuidade e comportamento animalesco em geral. No fim, latinhas amassadas, camisinhas usadas, pilhas de excremento e várias penas espalhadas pelo chão marcarão mais uma bem sucedida redução da população pensante nacional.

Não quero parecer eco-chato, mas pessoas que não se entregam a baixaria hipócrita do carnaval são uma espécie em extinção. E olha que meu problema nem é exatamente a parte da baixaria… Se a pessoa quer beber, trepar e vomitar pelos cantos como numa típica orgia romana, tem todo o direito. O corpo é dela, não meu. Buscar o prazer me parece uma coisa óbvia.

Mas as coisas ficam complicadas quando se considera o condicionamento irracional ao qual tanta gente se submeteu: “É carnaval? Então eu tenho “obrigação cívica” de me esbaldar em todos os prazeres típicos da data.” Parece que não estão buscando apenas gratificação, estão buscando conformidade. E é esse o tipo de gente que eu desprezo, profundamente.

E é essa merda de condicionamento que mantém o Brasil um país tão reprimido e hipócrita. O Carnaval moderno é uma invenção religiosa, feita para premiar o povo que aguentava o jejum da Quaresma. A Igreja Católica só ficou burra recentemente, eles sabiam como segurar o povo no lugar usando a culpa como poucos na história. O período de liberdade para putarias e bebedeiras caía como uma luva na proposta de chantagear o povo pelos pecados que eles mesmo inventaram.

Como em todo relacionamento, o segredo é não prender demais e não soltar demais. Se a Igreja pressionasse demais pelo cumprimento de suas regras absurdas, seria alvo de revolta. Se deixasse o povo livre demais para tomar suas próprias decisões, perderia poder e dinheiro.

E qual a jogada de gênio? Liberar tudo alguns dias por ano, fazendo as pessoas esperarem por essa data e se manterem relativamente na linha (sentindo-se culpadas por qualquer merda) no resto do tempo.

Hoje em dia a Igreja Católica ainda tem sua força por aqui, mas não é uma fração do poder inquestionável que já foi. Não pode ser a pressão de meia dúzia de velhos virgens (cu não conta para católico) que ainda faz este país agir dessa forma primitiva e ignorante. A questão é que nosso povo está adestrado. Muito bem adestrado.

O manipulador vive na mente do manipulado. O brasileiro segue a tradição histórica do carnaval à risca, e ainda pressiona quem não participa da festa. Um dos melhores jeitos de passar uma ferramenta de controle para frente é fazer um dos controlados se sentir fortalecido por ela. Donos de escravos costumavam dar um pouco de poder como capataz para os que se diferenciavam do grupo, seja por rebeldia ou por bom comportamento. Isso ferrava a ordem de opressor e oprimido, facilitando a vida de quem queria mantê-los na linha.

O escravo-capataz brasileiro é o cidadão médio que não faz as baixarias que faz no carnaval no resto do ano. É o babaca que se rebela contra um beijo gay numa novela, mas fica bêbado de não ligar para o sexo da “coisa peituda” que agarrou num beco escuro durante a folia.

Não existe explicação lógica para fazer uma coisa meia semana por ano e reprová-la nas outras do ano. Se você acha nojento enfiar a língua na boca de uma mulher que acabou de chupar o pinto de um cara que nem se deu ao trabalho de balançar depois de mijar, por que não acha mais no carnaval?

A pessoa não fica imune aos riscos do comportamento inconsequente, e pode muito bem se foder por causa do abuso de bebida, burrice e sexo. Sempre morrem vários nas estradas, sempre aumenta o número de portadores de DST’s. Os possíveis resultados negativos ainda estão ali. Será que a pessoa acredita em proteção divina?

“Meu filho, eu passo o ano todo te mandando parar com essas coisas, mas como é Carnaval, pode cair de boca na buceta dessa mulher que você pegou semi-desmaiada na rua há meia hora enquanto dirige bêbado sem medo. Vou te proteger…”

“Obrigado, Deus!”

E não me entendam mal, se o cidadão faz essas coisas porque quer, porque gosta, problema dele. Não quero viver numa sociedade castradora. E é justamente por isso que o Carnaval me incomoda.

Voltando à base religiosa/ferramenta de controle da festa, contava-se justamente com o medo das pessoas de assumirem seus desejos para forçá-las a jogar pedras em quem não se adaptava à conformidade. Se elas demonstrassem naturalidade com escolhas diferentes alheias, poderiam ser taxadas como simpatizantes. E povinho SE CAGA de medo de ser excluído da “normalidade”. Se o cidadão não fizesse o que condena pelo menos uma vez por ano, esse mecanismo de defesa que é a hipocrisia não funcionaria tão bem.

Esse papo que o Brasil é um país bem receptivo e bem resolvido é balela. Somos uma nação machista, reprimida e ignorante. O tempo pode resolver isso, mas enquanto o Carnaval existir para manter a mão pesada dos “sinhozinhos” sobre nossa capacidade de evolução social, vai ser um processo estupidamente lento.

É como um vício em drogas: Cada carnaval é uma dose, cada resto de ano é uma crise de abstinência. E como drogas funcionam tornando os momentos de abstinência cada vez mais miseráveis (você não vicia exatamente na sensação da droga, você abomina o momento que não está usando), o país vai ficando cada vez mais babaca com o passar do tempo. Ei, não tivemos uma discussão RIDÍCULA sobre o aborto nas últimas eleições?

Se você tira o Carnaval para fazer o que gosta e se segura o resto do ano, você está sendo controlado. Se você faz o que os outros gostam no Carnaval apenas para não sentir isolado, você também está sendo controlado. Chega dessa festa cretina, chega dessa hipocrisia que só nos atrasa social e intelectualmente.

Enfia o Carnaval no cu! (Porque assim continua virgem… Amém!)

Para dizer que eu não sei me divertir, para dizer que eu devo ter é ENVEJA de quem aproveita a vida, ou mesmo para dizer qualquer outra merda que me fará ter certeza que sua função no mundo é puxar carroças: somir@desfavor.com

SALLY

Chegou mais uma vez esta época nojenta do ano onde as pessoas acham que podem esquecer impunemente códigos de conduta, ética, moral e até mesmo as leis. É época de inversão de valores, de baixaria e de abuso de substâncias que entorpecem o organismo. Sorriam, é carnaval. Foi desfavor da Semana no ano passado, será neste e pelo visto será nos muitos anos que virão.

Tudo aquilo que normalmente seria condenado o resto do ano é permitido, porque afinal, “é carnaval”. Até mesmo os ditos adeptos de religião perdem a linha, mas Deus deve entender, afinal, “é carnaval”. As amarras da fidelidade ficam mais frouxas, o respeito à lei fica mais brando e o bom senso e o bom gosto são arquivados até o primeiro dia útil subseqüente.

Sabe o que mais me aborrece? Se as pessoas ao menos ADMITISSEM tudo isto, não seria tão grave. Tipo, “sou um hipócrita de merda porque prego tais e tais coisas, aponto o dedo na cara dos outros para criticar tais e tais coisas e chegou no carnaval e fiz isso, isso e aquilo que contradisse tudo que eu pregava – sou um merda”. Não. As pessoas se acham bonitas, bacanas e ovelhas do Senhor quando o carnaval acaba. Será que ressaca causa esse auto-perdão todo?

Quando eu me entoco, como disse no ano passado, para não ser arrastada para um deprimente bloco de rua cheio de homem bêbado tentando me agarrar, mijando nas ruas e cantando “olha a cabeleira do Zezé” sempre tem um idiota de plantão que solta frases pejorativas do tipo “Tem que aproveitar a vida, a vida é muito curta!”. Sentiram a imposição social? PARA aproveitar a vida, tem que fazer O QUE EU acho legal, se não é jogar a sua vida fora.

Me poupe! Eu não fico batendo na porta da casa alheia e dizendo “Vamos em um museu? Vamos ao ballet? Vamos ler um fuckin´ livro? Tem que se instruir, você é muito burrinho”. Eu não fico batendo na porta dos meus amigos e falando “Vamos dançar axé? Tem que aproveitar a vida, a vida é muito curta! Se você não dançar axé não vai ter aproveitado a vida!” e muito menos paunocuzando eles com julgamentos envolvendo todas as merdas, vexames e crimes cometidos durante o carnaval. Porque as pessoas se sentem no direito de vir ME paunocuzar, quando na verdade eles é que deveriam ser o objeto de crítica?

Sabe porque? Porque em toda festa, se tem um sóbrio, acaba fedendo para os bêbados. Se tem alguém que não faz merda, não faz vexame, não caga no pau, acaba servindo de comparação para aqueles que o fizeram. Acaba comprovando que fazer estas bostas todas não são inerentes e inevitáveis ao carnaval e sim escolha. Se todo mundo fizer, fica menos grave. Se um não fizer, quebra a corrente. Por isso desvalorizam quem não enche a cara, vomita, faz merda e dá para geral. “Não seja tão correta, isso vai me fazer ficar mal na fita”. Desvalorizar aquilo que realmente tem valor é uma prática tão banal no Brasil que eu estou QUASE me conformando.

O dia que eu receber um elogio porque leio, porque falo vários idiomas, porque tive uma tese publicada, periga ter um desmaio. Eu juro pra vocês que eu sou muito estudiosa, me arrebento de estudar MESMO, estou sempre me atualizando e ainda assim, qualquer elogio que eu tenha recebido nos últimos cinco anos está diretamente relacionado a meu físico. Brasil, um país de tolos. As pessoas sequer sabem IDENTIFICAR uma pessoa inteligente ou com cultura para ser elogiada. São tão burras e medíocres que nem mesmo sabem quando outra pessoa tem inteligência ou cultura digna de elogio.

Carnaval simboliza isso. Uma ode à ignorância, à baixaria. Mas vai dizer isso para alguém! HÁ! Ou é inveja, ou você não sabe curtir a sua vida ou você é fresca e chata. Total intolerância com qualquer pessoa que pense diferente desse pacto tácito de putaria e excessos. Gente, vocês sabem que eu posso ser tudo nessa vida menos puritana, isto não é um discurso moralista. Uma coisa é moralismo outra é fazer pacto com baixaria, na concepção ampla da palavra. Minha ética é a mesma os 365 dias do ano, não é o calendário que me autoriza a beber e mijar na rua, a trair meu parceiro ou a sair beijando bocas de desconhecidos. Eu tenho meus valores.

Quem flexibiliza seus valores em função do calendário, bem, vai desculpar, mas é provável que, lá no fundo, quisesse ser assim o ano todo. E o grande problema nem é o “ser assim”. As pessoas tem o sagrado direito de “ser assim”, o que não pode é 1) achar que isso é bonito, motivo de ostentação, motivo para tirar onda e 2) achar que quem não faz é panacão. Todos nós fazemos coisas erradas. Eu, por exemplo, danço axé. Mas sou uma pessoa com senso crítico, sei que isso é uma merda e que eu seria uma panaca se começasse a apontar para os outros e atribuir-lhes qualidades negativas por não dançarem axé. Dançar axé é um cu, uma bosta, uma vergonha alheia do caralho. Eu faço porque gosto mas sei bem do que é composto o mundo do axé: gente burra, baixo nível e promíscua em 99,99% dos casos.

É isso. Não tem autocrítica. Nem senso crítico com terceiros, vide Prefeito do Rio dando MILHÕES para escola de samba cujo barracão pegou fogo enquanto os desabrigados das chuvas continuam com fome, doentes e sem casa. Mas é carnaval! Então pode tudo, e qualquer pessoa que fizer uma crítica, por mais embasada e pertinente que seja, é baixo astral, tá de mal com a vida. Como diz a música: quem não gosta de samba, bom sujeito não é / É RUIM DA CABEÇA OU É DOENTE DO PÉ”. Muito democrático. São esses mesmos fascista tupiniquins que acham Hitler um horror por impor seu ponto de vista e trucidar quem discorda. Se você não gosta de samba tem problemas na cabeça ou no pé. Esse problema na cabeça eu chamo de CÉREBRO.

Sério, gente. Tô puta. RUIM DA CABEÇA são vocês, seus panacas que pulam carnaval ganhando MERDA, sem ter acesso a bons hospitais atendimento médico de qualidade, sem ter transporte público adequado, sem ter escolas públicas apresentáveis, sem ter qualificação, valorização e reconhecimento profissional, sem o mínimo do mínimo. Tá comemorando O QUE? Conta pra mim? Daí vem aquelas frases de gente IGNORANTE, tipo “a alegria de viver” ou “a vida”. Comemorar uma vida DE MERDA se chama conformismo.

Quem não sabe aproveitar a vida são vocês, seus panacas que pulam carnaval feito um bando de símios descontrolados, perdendo sua dignidade e saúde, abusando de bebida e outras substâncias, se metendo em atividades promíscuas e em locais que muitas vezes podem representar um risco para sua saúde ou suas vidas. Até o ano passado eu não apontava o dedo para vocês, mas de tanto vocês apontarem o dedo para mim, vão ouvir de volta.

Comem merda o ano todo, ganham merda o ano todo, moram na merda o ano todo e em vez de utilizar sua energia para algo produtivo, que os faça melhorar de vida, vão comemorar carnaval. E ainda julgam e menosprezam quem discorda. Sinceramente… tem todo mundo é que se foder redondo.

É por essas e outras que a Tia Sally tá arrumando as malinhas, bem devagarinho, tentando fugir desta cidade nefasta. Até o final do ano espero ter saído do Hell de Janeiro.

Para me fazer propostas de emprego em outros estados, para me fazer propostas de emprego em outros países ou ainda para me fazer propostas de emprego: sally@desfavor.com

eu quaaaase usei a foto do gordinho de novo...Não estou deprimida, não quero morrer nem estou dando sinais truncados para pedir ajuda. Esta é a Semana Mórbida e temos que tratar de assuntos mórbidos. Como já falamos em eutanásia e em outros temas polêmicos que envolvem morte, fiquei pensando em algo diferente para escrever. Foi quando surgiu a idéia de falar sobre o meu velório. São apenas idéias, que podem ou não ser colocadas em prática. Nada do tipo “voltarei para puxar seu pé se você não fizer”. Não custa informar o que me agradaria e o que me desagradaria, né? Em última instancia, isso não vai fazer muita diferença mesmo, afinal, estarei morta. Façam aquilo que mais trouxer conforto.

Tem coisa mais horrenda, deprimente e bizarra do que um velório? Acho aquilo um HORROR. Por mim, nem velório teria quando eu morresse. Mas os psicólogos dizem que é necessário para elaborar a perda, etc etc. Vão acabar fazendo um velório mesmo, então, pelo menos deixo aqui as instruções para que não seja TÃO escroto.

Primeira coisa: Peço a meus amigos que cuidem de tudo para mim, porque minha família vai estar muito abalada para pensar em qualquer coisa, somos muito unidos. Meus familiares tem que ser meros convidados, não levem trabalho para eles, cuidem disso para mim.

Vamos aos detalhes: Sem flores. Porque aquele cheiro de morte misturado com o cheiro de flores é nojento por demais. Se querem disfarçar o cheiro de formol misturado com o cheiro do meu corpitcho em decomposição, usem outro recurso. Sei lá, espalhem aqueles trequinhos de banheiro que soltam spray cheiroso na sala do velório, peidem, joguem body mist Victoria´s Secret no ar… tudo menos flores.

E nem pensem em colocar flores por todo o meu caixão. É brega. Coloquem outra coisa. Me cubram com fotos minhas, com cartas de amigos, com bombom, com qualquer coisa que não sejam flores! Se colocarem bombom ou outros doces por favor certifiquem-se ao longo do velório que não dê formiga.

O velório tem que ser em um local com FUCKIN´ AR CONDICIONADO, cacete! Coisa de mau gosto aquela choradeira misturada com a suadeira! Gente, chorar cansa! Pessoas que choram suam. Tem que ter ar condicionado. É preferível um cheirinho de formol no recinto do que cheiro de cecê. Ainda mais no meu velório, onde vai ter um monte de gente que toma produtinhos de marombeiros que deixam os fluidos corporais com odores estranhos. Ar condicionado é essencial. E vê se tem estacionamento também, porque quanto menos trabalho der para os outros melhor.

Não quero algodão no nariz. Algodão no nariz é antiestético. Eu sei que ele é necessário para que o nosso recheio não escorra pelo nariz, mas porra, TEM QUE TER outro jeito! Um tampão de silicone transparente, qualquer coisa! E se não tiver, me enterra de bruços que eu passei a minha vida toda fazendo horas de quatro-apoios e isso não pode ser em vão. Se o rosto não for viável, pode colocar o popô para cima. Isso é o que eu chamo de Plano B.

Também gostaria de uma ante-sala com comidinhas. Nada de mais. Salgadinhos que pudessem ser comidos em uma única mordida, nada de prato e talher. E docinho, tem que ter docinho porque chocolate ameniza o sofrimento. Tudo bem que pessoas próximas provavelmente não terão vontade de comer, mas porra, vamos combinar que as pessoas próximas que realmente estão sofrendo intensamente são uma minoria nos velórios. Quero fazer este mimo para os infelizes que não se importam tanto assim comigo mas estão lá para dar uma força.

Bebidas sem álcool também são bem vindas. Com álcool não dá certo, neguinho quando bebe faz merda, podem acabar urinando no caixão. Podem servir água, refrigerante e um café também, que provavelmente vai ter uma penca de pessoas com sono. Espalha tudo em uma mesinha estilo coffee break em uma ante-sala ou na entrada. Mas faz um treco farto, para todo mundo poder comer sem constrangimentos, porque vai ter gente que vai passar muitas horas ali!

E quero banner com uma foto minha onde eu esteja muito gata em tamanho real, porque não quero que a última imagem que as pessoas tenham de mim seja aquela coisa pálida e inchada do caixão! Aliás, quero muita maquiagem. Principalmente nos olhos (pretos, por favor) e blush. Pode tacar blush sem dó, até me deixar parecendo o Pikachu. Quero chegar lá no andar de baixo pronta para a festa. E não precisa me enterrar com roupa não, que é desperdício. Minhas amigas podem ficar com as minhas roupas todinhas. Se não couberem nelas, podem fazer um bazar e vender tudo.

Vê se não gastam uma grana em um caixão caro. Tanto faz um caixão de ouro ou uma caixa de sapato, eu quero ser cremada mesmo! (e ainda que fosse enterrada, ele vai acabar se desfazendo…). Funerárias são grandes fdps, você compra o caixão ultra plus máster com espelho no teto e banheira de hidromassagem e na hora de cremar eles tiram o morto do caixão fodástico e o colocam em um caixão Tabajara qualquer e revendem o caixão bom. Não ousem gastar dinheiro em caixão! É desperdício. O morto não precisa mais de conforto, quem precisa são os vivos. Fico pau da vida com isso! Geralmente as acomodações dos locais onde são realizados os velórios são bancos duros de madeira super desconfortáveis enquanto o morto tá lá todo no acolchoadinho!

Também não quero bandeiras: bandeira da Argentina, do Brasil, do Flamengo… nada disso. Nem bandeira, nem camisa. A menos que patrocinem o velório, daí pode colocar até a bandeira da ONU.

Não quero nenhuma cerimônia em nenhum templo religioso, especialmente em igreja católica. Eu sei que as pessoas tem por tradição fazer essas missas de sétimo dia e etc, mas eu acho isso um pau no cu. Sabe, dependendo do dia da semana em que você morra, isso transtorna a vida de geral! Pessoas trabalham, tem família, tem compromissos. E eu não sou católica, seria hipócrita. Já basta obrigar as pessoas a irem ao velório, não vou ficar paunocuzando com missas a cada sete ou trinta dias. Se quiser organizem uma reunião, mas sem essa obrigatoriedade de se deslocar até uma igreja. Vamos combinar, nem batizada eu fui, não tem nada a ver fazer missa para mim.

Sem música no velório. Sem coral cantando, sem nenhuma dessas coisas bregas. E se quiserem botar música, que seja axé. Mas vai ficar terrível. Realiza neguinho chorando, um caixão e ao fundo Cumpadi Uóxitu gritando “óóórdinááááária!”. Só se o pessoal do axé que estiver presente se empolgar e quiser dançar no meu velório, daí pode porque vai ter um contexto. Não seria má idéia, seria alegre. Se não estiverem muito devastados pela perda irreparável da minha pessoa, podem dar uma dançadinha porque eu quero que meu velório seja um evento alegre.

Isso mesmo, alegre. Porque eu provavelmente estarei em um lugar bem melhor (mesmo que isso implique em NADA, em ter apenas sumido da face da Terra sem ir para qualquer outro lugar) enquanto que vocês todos estarão se fodendo em um mundo onde habitam Sergio Mallandro, Faustão e Paulo Coelho. Um mundo onde Tiririca ganha eleição, Maluf ganha eleição e onde o PT se reelege! Sério que vão chorar por mim? Chorem por vocês!

Se alguém quiser fazer discurso, ok. Mas nada sentimentalóide que coloque as outras pessoas ainda mais para baixo. Contem coisas engraçadas que eu fiz ou falei. Coisas escrotas, politicamente incorretas, coisas típicas da minha pessoa. Façam quem está chorando sorrir. Lembrem dos bons momentos, mas não aqueles bons momentos clichês, pois “momentos Kodak” são bregas e que todo mundo tem. Lembrem dos bons momentos ousados, diferentes. Falem coisas que me tornem única.

Não quero símbolos da religião católica no meu velório. Se quiser colocar um Buda no meu caixão ou um colarzinho daqueles de candomblé tudo bem, mas nada católico, por favor. E não quero rezas, de nenhuma religião. Quem quiser falar com Deus que o faça em bom português, com o coração e com as suas palavras, nada de palavras prontas que além de não acreditar nisso, isso me irrita. E se aparecer um padre por lá, joguem objetos nele até que ele se retire.

E não precisam ir de preto. É meio deprimente. Sem contar que eu posso cometer a inconveniência de morrer no verão e preto no verão é foda. Nem precisa ser nada formal, vistam-se como se sentirem melhor. Eu estarei sem roupa mesmo…

Se eu estiver velha e enrugada, puxem as pelancas para trás da orelha e colem com alguma fita adesiva (lifting de pobre), quero morrer parecendo mais jovem do que sou. Não me deixem com nada de valor: anéis, brincos etc. neguinho rouba essas coisas! E por favor, certifiquem-se que minhas sobrancelhas estão feitas e simétricas.

Não deixem pessoas que não gostavam de mim ou pessoas das quais EU não gostava entrarem. Amigo do morto pode tudo, aproveitem esse poder temporário e coloquem a pessoa para fora debaixo de cacete. Todos vão perdoar e vão dizer que tudo bem ter perdido a cabeça, afinal, a amiga morreu. Abusem disso e me garantam um velório não-hipócrita. Já chega a penca de gente escrota para a qual eu tive que sorrir durante toda a vida, depois de morta eu quero honestidade.

Passem perfume em mim! Não quero feder a morto nem a formol. Passem um perfume forte tipo um Premier Jour da Nina Ricci ou um Amor Amor da Cacharrel. Não economizem, quero ser uma morta perfumada (mas sem feder o ambiente, ok?)

Se o Somir acender um único cigarro no meu velório, todos tem a permissão e a obrigação de dar uma grande surra nele, ali mesmo, no local.

Eu quero ser cremada. Geralmente as pessoas são cremadas no dia seguinte ao velório. Ninguém precisa pernoitar comigo no lugar do velório porque eu estou morta, não tem mais como alguém me fazer mal. E ninguém precisa ir na minha cremação, porque essas coisas costumam ser realizadas em lugares situados na puta que pariu do cu do mundo. Pessoas tem uma vida (não eu, no caso, que estarei morta, mas o resto sim). Todos sintam-se desobrigados indo apenas ao velório. Se precisar de algum formulário ou documento para cremação não tenham dó de falsificar minha assinatura.

Os poucos que quiserem acompanhar a cremação, façam uma última checagem se eu não estou viva antes de me colocar no forninho (Auschwitz feelings). Não havendo indícios de que estou viva, deixa queimar. Se não acharem muito mórbido, peguem as cinzas, coloca em uma urna bem bonita e me deixem lá na sala de jantar. Se mais de um quiser as cinzas, divide um pouco para cada. Batam um papo com as minhas cinzas de vez em quando, ajuda a superar a perda. Vai que em algum lugar eu estou escutando e posso ajudar?

Se acharem essa coisa de manter as cinzas dentro de casa muito mórbido podem me fumar. Como provavelmente o único fumante dentre meus amigos queridos vai ser o Somir e espero que até lá ele já tenha parado, se ninguém quiser me fumar, façam alguma boa trollagem com as minhas cinzas. Mas por favor, nada de jogar cinza em planta, cinza no mar… vocês sabem o quanto eu odeio a natureza, não quero contato com a natureza nem depois de morta! Me deixa no ar condicionado, do lado da TV de plasma.

Se quiserem fazer uma gracinha extra, um Easter Egg, escrevam na urna onde guardarão as minhas cinzas “Aqui jaz um Desfavor”.

Para dizer que vai deixar instruções para o seu velório também, para dizer que mesmo depois de morta eu vou continuar dando trabalho ou ainda para dizer que com essa vida de merda que eu levo, dormindo oito horas e comendo saudável, eu enterrarei todos vocês: sally@desfavor.com

watA vida humana pode ser incrivelmente frágil às vezes. Pessoas já morreram pelos motivos mais banais imagináveis, seja por burrice, distração ou o bom e velho azar. Mas é curioso como os suicidas tendem a ter uma taxa de sucesso tão baixa… Ok, é meio que um padrão na vida deles, mas… Convenhamos que deveria ser ridiculamente fácil se matar com a liberdade de fazê-lo.

A questão é que o corpo humano está programado com vários “mata-burro” para evitar que seus detentores estúpidos estraguem o processo evolutivo. Não importa o que sua mente abstrata está conjecturando, seus instintos e defesas naturais ainda querem que você dure o suficiente para se reproduzir, de preferência várias vezes.

Boa parte dos métodos tradicionais dos candidatos ao suicídio esbarra nessa resiliência do organismo contra problemas habituais. Só me resta imaginar que o que realmente falta na vida dessas pessoas é conhecimento. Conhecimento é poder. Conhecimento é não tomar meia dúzia de aspirinas e esperar pela morte certa…

Era para ser um Desfavor Explica sobre as formas que o corpo é capaz de combater até seu dono tentando se matar, mas como essas informações podem ser usadas para facilitar a vida, quer dizer… a morte de alguns ineptos, vai como Flertando com o Desastre.

Ei, não é só porque o cidadão ou cidadã está desiludido com a vida que vai ficar livre de críticas. Ninguém gosta de quem faz as coisas pela metade. O desfavor não RECOMENDA o suicídio, mas também não aplaude incompetência.

Vamos fazer um tour pelos métodos tradicionais e ver como as coisas podem dar errado para um suicida que dormiu nas aulas de física, química e biologia. E, claro, para não perder o lado desfavor das coisas, vamos comentar também sobre o resultado estético final no caso de sucesso.

AUTO-ENFORCAMENTO

Começo com essa porque é emblemática. A figura da pessoa inerte balançando suavemente numa corda amarrada ao seu pescoço já é clichê para a cultura popular do suicídio. É uma das formas mais comuns por ser simples de se arranjar e bastante eficiente. Normalmente quem se enforca não está para brincadeira, sendo essa a segunda forma de suicídio mais comum dentro das cadeias. (Logo depois de dizer em alto e bom tom que acha Corinthians ou Flamengo uma merda…)

Como te mata: Na modalidade “caseira”, é raríssimo que se quebre a coluna ou mesmo perca a cabeça como nos enforcamentos profissionais. É uma coisa mais lenta e agonizante. Bacana, né? A pessoa não morre exatamente por não conseguir mais respirar, o corte do fornecimento de sangue para o cérebro através da compressão de artérias no pescoço dá conta do recado, já que é bem mais complicado fechar a traquéia.

Cagadas prováveis: Tendo uma superfície resistente para prender a corda e um nó razoável, não é para ter erro. Mas como essa modalidade tende a te apagar primeiro por causa do baixo fluxo de sangue e oxigênio no cérebro, você só vai descobrir que algo deu errado quando acordar horas depois, provavelmente com alguma sequela escrota e gente que não vai mais te deixar em paz. Loser. Existem relatos de presos que ficaram com o coração batendo uns quinze minutos depois do cérebro ter passado do ponto sem volta. Se te pegarem próximo dessa fase, boa sorte com sua vida de vegetal, ou pior ainda… semi-vegetal… O cérebro desliga primeiro as partes supérfluas.

Que cena bonita: Auto-enforcamento é uma medida desesperada, principalmente se considerarmos o legado do suicida. O rosto tende a ficar azulado, a língua salta para fora, a posição final é um convite para o relaxamento dos intestinos e da bexiga te deixarem parecendo um extra num filme da Veronica Moser. Analogia pertinente considerando que ainda existe a possibilidade de entrar para a eternidade de pau duro. Dependendo do trauma na coluna, uma ereção pós-morte pode ser desencadeada pela pressão no cerebelo. E se você é mulher, o resultado não é tão vistoso, mas aquele tradicional “inchaço” vai ser acompanhado de uma saudável dose de sangue. Menstruação on-demand.

OVERDOSE

O Pilha está aí para comprovar, não é um método eficiente. Eu sei que muita gente morre disso, mas se comparado com a quantidade de pessoas que tentam (querendo ou não), pode apostar que tem muita desinformação nesse meio. Como o próprio nome diz, overdose nada mais é do que ingerir, injetar, aspirar ou enfiar em algum buraco do seu corpo uma quantidade abusiva de uma substância.

Como te mata: São inúmeras possibilidades considerando as inúmeras substâncias possíveis aqui. Para ficar com uma famosa, o álcool te mata quando o fígado já está saturado e nem o seu sistema respiratório sabe mais o que está fazendo. Mais ou menos 0.400 miligramas de álcool por cada 100ml de sangue. É pinga pra caralho! Mas já foram registrados casos de bebuns com mais de 1.5mg/dL. Se cremassem o safado, ficaria aceso um ano.

Cagadas prováveis: Você acha que seu corpo é um banana que nem você? Ele vai brigar até a morte contra o envenenamento. A maioria das pessoas que erra ao tentar se matar por overdose não entende o conceito básico de substância ativa. Por mais que aquele comprimido pareça enorme, só uma pequena fração dele tem a substância que realmente vai interagir com o seu organismo. Encher o rabo de pílulas aleatórias dificilmente vai te envenenar com a intensidade que você imagina. E se o seu corpo não estiver totalmente sobrecarregado, vai se livrar dessas porcarias, por um buraco ou outro. Seu estômago tem várias substâncias X-9, que vão delatar para o cérebro quando algo que não deveria estar lá acabou de chegar. E aí, meus caros desfavores, é DEFCÓLON 1! Ou vomita ou caga, não tem meio termo. (Até porque não dá pra sair pelo umbigo…)

Quem quer abandonar essa existência através da overdose tem que saber o que pode matar (SPOILER: Se está na sua casa, provavelmente vai te dar caganeira, existem muitos regulamentos sobre o que pode ser comercializado ou não… Nem veneno de rato é confiável hoje em dia.), o quanto dessa substância é uma dose fatal (e tem que exagerar daí, alguns corpos aguentam mais do que outros, além do fator de diluição da substância ativa…), e principalmente entender que a não ser que você seja 100X mais anti-social que eu (meu ídalo!), alguém pode dar pela sua ausência ou te visitar antes que seja tarde demais. E pode apostar que a maioria dos hospitais é capaz de reverter sua mais recente falha na vida.

Que cena bonita: Digamos que você conseguiu, grandes chances de ser encontrado numa bela poça de vômito ressecado enquanto seu gato saboreia a iguaria que um dia já foi sua bochecha. E eu devo avisar que a não ser que você seja um músico ou ator medíocre, ninguém vai achar bonito. Eu já falei sobre estar todo cagado e mijado, né? Pois é.

QUEDA LIVRE

A quantidade de gente que consegue errar um conceito simples como se jogar de um lugar alto é prova de que o ser humano médio tem merda na cabeça. Pulando de uma ponte, de um prédio ou de um precipício, tem sempre o caso da anta que nem para se matar mais vai servir.

Como te mata: Trauma. Porra, se você já tropeçou e caiu, sabe como isso não pode fazer bem para um ser humano. Agora, a questão é o tamanho e o tipo do impacto necessário para se fazer o serviço bem feito. Uma boa pancada tem que ser capaz de destruir órgãos vitais ou artérias importantes mesmo com toda a proteção dos ossos, músculos e tecidos ao redor deles. Suicidas sortudos podem morrer até numa queda de dois metros. Seja como for, é só se lembrar do mantra: A cabeça primeiro.

Cagadas prováveis: Milhares de pessoas estão aí para te contar a história de como escaparam de quedas que pareciam inescapáveis. Para morrer numa queda, não basta só pular de sua janela, é necessário planejamento. Nosso corpo consegue absorver MUITO impacto dadas as condições certas. E os instintos, esses estraga-prazeres-suicidas, podem desempenhar um papel decisivo na sua sobrevivência… Se você pular de um lugar muito baixo, a tendência é que se quebre todo, mas fique vivo para pagar as contas do hospital. Se você pular de um lugar muito alto, é provável que seu corpo se posicione para bater os pés no chão primeiro, inconscientemente. E isso faz diferença… E sabe quando você se encolhe de medo? Dobrar os joelhos caindo com o pé primeiro diminui a força da pancada nos órgãos vitais ao ponto de salvar até paraquedista com problemas técnicos. E se você quer números, o ideal é tentar uma queda de mais de 75 metros.

E não se esqueça da superfície de aterrissagem. O certo é concreto. Água pode até ser terrível dependendo da altura que se cai, mas ela VAI ceder depois do choque inicial. Se não for a cabeça ou o peito tomando essa pancada, o risco de sobreviver é grande demais, grande demais para um suicida, é claro!

Suicídio por queda é uma máquina de fazer para e tetraplégicos. Quero ver conseguir pular de uma janela numa cadeira de rodas.

Que cena bonita: Como frequentemente se faz isso em locais públicos, seu corpo vai estar à vista de muitos curiosos. Suas roupas não foram feitas para quedas desse tamanho, pode apostar que vai acabar com alguma “falha de vestuário” potencialmente ridícula em conjunto com seus membros dobrados em posições surpreendentes. Cagado, mijado… você já sabe. E, por favor, cole uma plaquinha com “Ai!” na sua mão. Eu sempre quis ver isso.

CORTANDO OS PULSOS

Vem cá… você acha que um organismo tão voltado para a auto-proteção iria mesmo deixar uma artéria potencialmente fatal arreganhada assim nos pulsos impunemente? Cortar os pulsos é uma cena dramática, mas basicamente é só isso.

Como te mata: Surpresa, não mata! Teste nas crianças, pode confiar. Ok, talvez não valha a pena testar nas crianças, mas a questão é que o clássico de cortar só os pulsos só vai te matar se você tiver alguma forma de evitar que o sangue pare de jorrar. E como eu estou dizendo até agora, não é como se seu organismo fosse ficar parado esperando. Para morrer mesmo, precisa seguir os dizeres: Não atravesse a rua, desça a avenida. Tem que cortar de cima a baixo na parte interna no antebraço para realmente bater as botas. Aí não fecha tão fácil. Outras áreas assassinas: Pescoço e parte interna das coxas (veja bem para quem sai abrindo as pernas por aí!). O sangue sai, não volta, game over. Mas TEM que ser artéria.

Fato babaca: Se cortar o pênis, sangra pra caralho (ha, só queria escrever isso) e é bem capaz de matar o ex-dono. Área muito irrigada.

Cagadas prováveis: Parar sangramentos é algo que seu corpo faz desde… sempre. Se o corte não for grande demais, as plaquetas do sangue vão se empilhar no vazamento até que a situação volte ao normal. A famosa “casquinha de ferida”. E se o corte for grande demais, sangue é o tipo da coisa que dispara tudo quanto é alarme nas nossas mentes. Se demorar demais para apagar, você corre o risco de entrar em pânico e pedir ajuda. E se alguém vir isso, boas chances de você conseguir socorro médico. Não vai ser um dos seus momentos mais gloriosos.

Que cena bonita: Sangue para tudo quanto é lado e a pecha de emo-gótico-viadinho(a) como legado. Sério, além de ser uma porquice (já tentou tirar sangue de tecidos como o banco do seu carro? Eu… não… ahem…), é vergonhoso. Cagado, mijado, vomitado… o de sempre.

ARMA DE FOGO

Você duvida que tem gente que não consegue se matar direito nem com uma porra de um revólver apontado para a cabeça? Não deveria. Ficou por último porque atualmente é o método mais comum de suicídio. E também porque é o que faz a maior merdalheira quando funciona.

Como te mata: Bom, uma bala atravessando algum órgão vital não é algo a se ignorar. E não é EXATAMENTE a área do projétil que faz o grande estrago, é o efeito estendido dela nos tecidos adjacentes que efetivamente mata. A bala empurra o que estiver no caminho, danificando uma área muito maior que seu diâmetro na passagem. Desde que, é claro, ela tenha força para fazer essa viagem e SAIR do outro lado. Pois bem, crianças, não é só onde se atira, é o que se atira.

Cagadas prováveis: Calibres baixos tem o péssimo hábito de não sair pelo outro lado. E sem a explosão da saída e a subsequente ejeção de material que deveria ficar dentro do corpo, os estragos são mitigados ao ponto de ter gente vivendo até hoje com balas dentro do corpo. E se o tiro for na cabeça, grandes chances de não pegar uma área vital e te deixar parecendo o Flávio Silvino. E já adianto que baleiês não é um idioma que te dá muitas vantagens na vida.

Aquele três-oitão comprado numa esquina escura pode fazer o barato sair caro. Se não der para usar uma arma de macho-chô, vai correr um risco. O segredo é não tirar o potencial da bala logo na saída. Se apontar para o crânio, é uma camada de osso duro de furar logo na saída do projétil. A área “mole” de acesso direto ao cérebro é logo abaixo do queixo. Dentro da boca também tem essa vantagem, mas não é um lugar muito bom para achar o ângulo certo. O tiro lateral, usando o ponto fraco da têmpora, pode até ser mais dramático, mas tira sua garantia de sucesso. O desfavor não quer que você se mate, mas tem ainda mais receio de te ver retardado por aí. Custa não foder a vida de outras pessoas?

Que cena bonita: Se atravessou, boas chances de você ter feito uma pintura na parede logo atrás. Vai ter sangue, caco de crânio e pedaços de miolos para tudo quanto é lado. E morte traumática assim ainda pode dar a tríade merda, mijo e ereção/menstruação. Morrer com certeza não é uma coisa digna.

Bom, espero que tenha sido informativo. Existem vários outros métodos não cobertos por este texto, mas eu já estourei o limite de páginas. Se tiverem interesse, eu completo na sexta.

E boa sorte na sua vida.

Para dizer que processo é pouco, dessa vez eu vou é preso, para reclamar que eu tirei todo o glamour do seu suicídio futuro, ou mesmo para dizer que só volta nessa budega quando pararmos de falar de morte: somir@desfavor.com

Usei essa foto de novo! Estou morrendo de orgulho!Morte é o término da vida de um organismo. Porque temos que morrer? Acredita-se que quando a mãe natureza estipula prazo de validade para suas criaturas, o faz pensando na evolução, é a morte que nos permite evoluir. O ramo da ciência que estuda a morte se chama Tanatologia. Existe até um ramo da psicologia dedicado ao tema, a Psicologia da Morte (recomendo a leitura de Ernest Becker). Morte é que nem chifre: a gente sabe que uma hora ou outra vai acontecer com a gente mas prefere viver sem pensar no assunto se não a gente vai viver angustiado.

Quando exatamente se morre? Quando é que um ser humanos pode ser considerado como morto? Essa pergunta já teve diferentes respostas ao longo dos tempos. Por exemplo, já houve um tempo onde se considerava morta uma pessoa com parada cardíaca, pois se acreditava que no coração estava o centro de todas nossas emoções, tudo aquilo que nos tornava humanos. Coração parou de bater? A pessoa está morta! Mas, como a evolução da medicina e da ciência, percebeu-se que não era bem assim e os limites para a morte mudaram. Hoje é possível reanimar pessoas com parada cardíaca e respiratória. Hoje é possível que uma pessoa seja mantida viva SEM CORAÇÃO, ligada a máquinas que desempenham sua função enquanto aguarda um transplante. Um novo critério teve que ser adotado.

Menos mal, porque o critério anterior era tão falho que no século XIX existia, além dos hospitais para vivos, “hospitais para mortos”, onde os corpos eram deixados aguardando os primeiros sinais de putrefação para só depois se realizar o enterro. E pelo visto não adiantou, porque no começo do século XX chegou a ser desenvolvido um alarme para ser instalado dentro de caixões, para que o morto pudesse avisar que estava vivo, de tanto que isso acontecia. Uma porcentagem assustadora dos caixões abertos tinha arranhões e marcas que indicavam que o morto tinha “acordado” e tentado sair dali por dias. Graças a esse tipo de incidente desagradável, vem sendo criados, ao longo dos séculos, mecanismos para tentar impedir que enterremos pessoas vivas: prazos para realização de necrópsia, prazos para realização de sepultamentos e uma revisão nos critérios que determinam a morte de alguém. (cremação rules, menos se você tiver implantes de silicone, pois eles explodem violentamente se o corpo for cremado)

Hoje, a única função vital que ainda não pode ser substituída ou mantida por meios artificiais, sendo assim “irrecuperável”, é a atividade neurológica. Por isso, ela foi o critério adotado para classificar uma pessoa como oficialmente morta. Uma vez que cessa a atividade neurológica, não há mais esperanças. Mesmo chegando ao consenso de que o critério neurológico é o mais correto, ainda existem algumas controvérsias e falhas. Vez por outra um paciente declarado morto “volta”. Ocorre que a vida humana não é matemática. Existe uma zona cinzenta que algumas vezes pode enganar até mesmo os médicos. Estágios intermediários entre o coma e a morte, os chamados “estados fronteiriços” como os “comas ultrapassados” ou a “morte aparente” podem gerar equívocos. É por essas e outras que eu quero ser cremada, não quero o risco de acordar viva no caixão.

Todo médico se borra de medo que um paciente seu declarado morto “acorde”. Uma série de procedimentos são necessários para declarar uma pessoa morta, todos eles descritos na Resolução nº 1480 do Conselho Federal de Medicina. Estes exames devem ser feitos por mais de uma vez, em determinados intervalos de tempo que variam conforme a idade do paciente.

Legalmente, no Brasil, uma pessoa é considerada morta quando ocorre a morte encefálica total, ou seja, quando todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral, perde irreversivelmente todas as suas funções. A morte encefálica se constata quando não há mais impulsos elétricos sendo enviados, ou seja, não há mais “atividade encefálica”. No momento em que os médicos constatam a ausência de atividade cerebral a pessoa é considerada morta e seus órgãos podem ser retirados para doação.

Percebam que TODOS morremos através da morte encefálica, pois mesmo que se “morra” em função de uma parada cardíaca, só se estará morto MESMO quando o cérebro apagar. O cérebro é o último que apaga a luz da casa antes de todo mundo ir dormir. Mesmo com um coração sem bater, mesmo com a pessoa afogada cheia de água nos pulmões, ele pode sobreviver um pouquinho mais. Mas calma, ele sobrevive porém ele te “apaga” se o sofrimento for muito intenso, não quer dizer que necessariamente você tenha que vivenciar o sofrimento só porque ele ainda não desligou.

“Mas Sally, como é então que tem gente com morte cerebral que fica meses em uma cama de hospital?”. Se o cérebro estiver morto, a pessoa não pode desempenhar nenhuma das funções vitais. Se a pessoa tem morte cerebral ela só pode ser mantida viva se máquinas desempenharem atividades vitais essenciais. Cuidado para não confundir morte cerebral com coma. Geralmente as pessoas que ainda são mantidas vivas por aparelhos estão em COMA, ou seja, seus cérebros não apagaram de vez.

Como saber quando uma pessoa está morta ou está apenas em coma? Bem, a regra geral diz que o cérebro de uma pessoa em coma emite impulsos elétricos, enquanto que um cérebro morto não emite. Além disso, pacientes em coma reagem a sinais externos, em maior ou menor grau, enquanto que pacientes com morte cerebral não esboçam qualquer reação. Por isso em todo seriado médico a primeira coisa que vemos é socarem uma luz nos olhos da pessoa e avaliar seu estado conforme a reação. A luz ativa o nervo ótico, que por sua vez envia uma mensagem ao cérebro. Se o cérebro estiver normal, mandará de volta um impulso ao olho para constringir a pupila. No cérebro morto, não será gerado nenhum impulso.

Aliás, os olhos são de grande valia na hora de tentar descobrir se uma pessoa está morta. Outro recurso é observar o reflexo oculocefálico: os olhos do paciente são abertos e a cabeça virada de um lado para o outro. O cérebro ativo permitirá um movimento dos olhos; no cérebro morto, os olhos ficam fixos. Também pode ser avaliado o reflexo córneo. Um cotonete de algodão é arrastado pela córnea (*agonia) enquanto o olho é segurado aberto. O cérebro funcional mandará o olho piscar. Este e outros testes físicos podem ser realizados de forma complementar para atestar ou confirmar a morte de alguém. Mas atenção, não teste isso em casa! Vovó está muito quieta? Nada de esfregar com cotonete em suas córneas!

Como se detecta a morte cerebral? Os exames mais comuns são o eletroencefalograma (EEG) e o estudo do fluxo sangüíneo cerebral. O EEG mede a “voltagem” (impulsos elétricos) do cérebro em microvolts e é utilizado para apurar se o cérebro está emitindo estes impulsos elétricos. A regra é: se há impulsos elétricos a pessoa está tecnicamente viva. Ele é tão sensível que até mesmo a eletricidade estática nas roupas de uma pessoa pode influenciar no resultado do EEG. Todas as respostas positivas sugerem função cerebral.

Já o estudo do fluxo sangüíneo cerebral é feito através da injeção de uma substância radioativa na corrente sangüínea para depois aferir o quanto ela se espalhou pelo cérebro através de um contador de radioatividade sobre a cabeça Se o exame não detectar fluxo sangüíneo no cérebro, ele está morto. Um estudo de fluxo cerebral negativo é uma evidência incontestável de morte cerebral. Não existe “princípio de morte cerebral” ou “morte cerebral parcial”. Ou está morto, ou está vivo. É como estar grávida: É “sim” ou “não”.

Além deste exame, também podem ser realizados exames complementares (como por exemplo o exame químico através de injeção de atropina) e exames físicos (lembra do cotonete na córnea e cia?). Sem o cérebro não reagimos ao mundo externo, por isso o paciente recebe estímulos luminosos, sonoros e até mesmo estímulos de dor. Um cérebro em coma, por mais profundo que seja, esboçará algum grau de reação. Daí vai neguinho e fica espetando mão e pé de paciente e a pessoa acorda numa vibe meio Kill Bill já sentando o cacete em todo mundo no hospital e não sabem porque…

Mas, nada na vida é tão simples. Uma série de fatores podem reduzir nossa resposta neurológica a ponto de dar uma falsa impressão de morte cerebral (desde o uso de algumas substâncias até mesmo a alteração da temperatura corporal). O inverso também pode acontecer: pacientes com morte cerebral podem apresentar reflexos como movimentos ao serem tocados nas mãos e nos pés graças aos chamados “reflexos medulares”. É preciso muito cuidado ao declarar a morte de alguém. Em resumo: nunca poderemos ter 100% de certeza. Pode dar merda. As chances são pequenas mas pode dar merda.

Estudos indicam que apenas uma em cada 200 mortes em leito hospitalar são por morte cerebral, o que explica as longas filas de espera por transplante de órgãos, que só podem ser retirados dos pacientes quando se constate a morte cerebral e se atenda a uma série de requisitos (Lei 9434/97). Dos pacientes com morte cerebral, cerca de metade são considerados não aptos a doar seus órgãos em função de problemas médicos como câncer ou infecções que comprometem seus órgãos. Dos pacientes com morte cerebral e órgãos aceitáveis, metade são excluídos porque os familiares se recusam a consentir a doação. Porque o doador decide em vida se quer doar mas, mesmo com seu consentimento, se a família quiser, pode impedir. ABSURDO! (observação rápida: eu acho que quem NÃO É DOADOR deveria ficar no final da fila na hora de RECEBER uma doação, e só receber quando todos os doadores tivessem recebido!)

Como salvar o cérebro? A causa mais comum de morte não-violenta são os problemas cardíacos. O cérebro, via de regra, pode sobreviver até SEIS MINUTOS sem seqüelas após uma parada cardíaca, por isso, é indispensável que se faça RCP (ressuscitação cardio-pulmonar) assim que a parada ocorrer (não dá para ensinar em poucas linhas, será tema de outro Desfavor Explica um dia desses). Outra causa comum de lesão cerebral é o Acidente Vascular Cerebral, o AVC (popularmente conhecido como “derrame”): se você constatar que alguém está sentindo fraqueza ou dormência súbita em um lado do corpo (peça para a pessoa sorrir, ela sorrirá involuntariamente de um lado só), dificuldade para falar, entender ou enxergar, tontura repentina e dor de cabeça muito forte sem motivo aparente, VOE para o hospital, porque minutos fazem a diferença entre a vida e a morte.

Qual é o pior tipo de morte? Bem difícil responder a esta pergunta, já que os que tem conhecimento de causa não costumam voltar para contar. Foi realizado um estudo onde se avaliou hipoteticamente as reações que o organismo sofreria, estimando-se o tempo da morte e as sensações que ela causaria e se concluiu que o pior tipo de morte deve ser por congelamento. Um dado interessante (que não tenho a menor idéia de como foi obtido) é que a maioria das pessoas que morre fica inconsciente antes de efetivamente morrer. Por exemplo, um avião que começa a despencar ou um suicida que se joga janela abaixo: é bem provável que eles apaguem antes de efetivamente tocar o solo. E isso vale para todos o tipos de morte. É um mecanismo de proteção do organismo que dispara em situações extremas.

Ok, a pessoa morreu. Fisicamente, o que acontece depois? As bactérias que já existiam dentro dela, majoritariamente no intestino, começam a comer as próprias celular do organismo, que estão entrando em decomposição. No terceiro dia, as bactérias podem liberar gás suficiente para inchar o corpo a ponto de fazer com que os olhos saltem das órbitas. Muitas vezes esse gás causa verdadeiras explosões dentro dos caixões, o que pode dar um baita susto em quem está em um cemitério na parte da noite. Pior: algumas vezes além da explosão aparece um brilho, uma chama: o fogo fátuo. As bactérias que metabolizam a matéria orgânica produzem gases que entram em combustão espontânea em contato com o ar. Ocorre uma pequena explosão e a chama azulada vem acompanhada de um estrondo. Dá para imaginar o número de lendas e histórias que devem ter surgido graças a esse fenômeno, né? Tem vídeos no Youtube para quem quiser ver.

Inicialmente o morto fica molinho, pois há relaxamento muscular, mas algumas horas após a morte (aproximadamente 12h) já podemos observar a chamada rigidez cadavérica. O morto endurece ao ponto de muitas vezes ser necessário fraturar seus ossos para colocá-lo na posição horizontal.

É possível prever a morte? Aparentemente, seres humanos não podem prever, mas ao que tudo indica, alguns animais teriam esse poder. Existem diversas histórias documentadas de animais que, de alguma forma, fizeram a “previsão” da morte de pacientes em um número tão significativo que fica descartada qualquer chance de coincidência. Só para ilustrar, cito um caso publicado no New England Journal of Medicine de um gato chamado Oscar, adotado por uma casa de saúde, que sentava no leito dos pacientes poucas horas antes de sua morte. Acertou mais de 25 casos. Quando começaram a perceber o que a presença de Oscar significava, muitos familiares o colocavam para fora do quarto e o gato permanecia na porta, miando, até o paciente morrer. Depois que ele morria, Oscar ia embora.

Funcionários contam como Oscar atua: todos os dias ele passeia pela casa de saúde, mas eventualmente algo atrai sua atenção em um quarto. Ele para, cheira, cheira e entra. Senta ao lado do paciente e este invariavelmente morre em poucas horas. Graças a este comportamento, acredita-se que exista uma espécie de “cheiro da morte” que alguns animais poderiam sentir. O processo da morte deve liberar alguma substância detectada pelo nariz de Oscar. Animais sentem cheiro de tumores e de câncer, não descarto que sintam cheiro de morte também.

Como o ser humano vem lidando com a morte através dos anos e culturas? Putz… essa resposta poderia gerar uma postagem autônoma! Alguns antropólogos afirmam que o costume do velório surgiu em função da incerteza da morte da pessoa. Quando não havia recursos médicos, frequentemente pessoas vivas eram dadas como mortas, por isso o hábito de velar o corpo para ter certeza de que a pessoa não iria acordar. Às vezes o corpo era velado por dias. Normalmente era colocado em um sofá ou em uma mesa da casa da pessoa e se fazia uma espécie de reunião chamando amigos, onde era servida comida e todos comiam ali, do lado do morto (ou suposto morto). Neguinho tirava fotinho com o corpo do morto, sentadinho no sofá como se nada. Uns mais sem noção até abriam o olho do morto para a hora da foto! O hábito que inicialmente surgiu para confirmar a morte, acabou virando um ritual de despedida. Eu odeio ir a velórios, mas os psicólogos insistem que ir ao velório é um ritual que auxilia no processo de luto.

Nós ocidentais lidamos muito mal com a morte. Somos apegados demais a tudo, em um misto de egoísmo e imaturidade. Filosofias orientais pregam o desapego e ensinam desde cedo sobre a “impermanêcia”, ou seja, tudo muda e é ok que tudo mude mesmo. Tudo é transitório e temos que aceitar esta verdade e aprender a ser feliz com ela. A morte não é vista necessariamente como uma coisa ruim ou fonte de sofrimento. Ruim pra porra mudar nosso pensamento depois de burro velho, pelo menos na minha cabeça, parece impossível. Mas vale uma leitura. Busquem conhecimento, já dizia Bilu. Simpatizo demais com o budismo, apesar de me sentir uma criança mimada quando leio a respeito. Sério, me sinto uma merda involuída.

Curiosidades inúteis sobre a morte: normalmente o último sentido que se apaga quando morremos é a audição. O primeiro que se vai é a visão. Homens mortos ejaculam, muitas vezes até mesmo horas depois de morrer, em função do relaxamento muscular profundo. Acreditem ou não, mas vem se constatando que hoje seres humanos demoram mais tempo para entrar em decomposição depois que morrem em função da grande quantidade de conservantes que comemos no nosso dia a dia.

Não posso deixar de recomendar um livrinho mórbido e de fácil leitura: “O Prêmio Darwin, a evolução em ação” (Wendy Northcutt), que conta as formas mais estúpidas de mortes já documentadas. Tem até uma envolvendo nosso mascote do coração, Tillikum. Pelo que me lembro, só existe uma que faz menção ao Brasil, onde um brilhante assaltante jogou o pino e ficou com a granada na mão em uma perseguição policial. Vale a leitura.

Sexta página. Paro por aqui ou o Somir me mata.

Para dizer que você é sádico de carteirinha e quer duas semana mórbidas, para dizer que prefere esse papo depressivo de morte do que a vibe oba-oba de carnaval ou ainda para dizer que vê gente morta: sally@desfavor.com

Whoa!O desfavor vai começar uma semana mórbida. Mais mórbida que o normal, pelo menos… E para começar a sua semana com o astral lá em cima, vamos falar sobre suicídio.

Enquanto ele diz que cara um decide se sua vida vale a pena, ela defende que suicídio nunca é a resposta. E não, não se considera eutanásia como modalidade válida na discussão.

Tema de hoje: Suicídio pode ser a solução?

SOMIR

Sim. Mas isso não quer dizer que seja a única. E isso é importante para esta discussão: Vencer a mania de achar que cada história tem apenas dois lados… Esforço e dedicação podem levar ao fracasso. Não vamos entrar na ilusão que as coisas SÓ podem melhorar para quem desiste do suicídio.

Claro que existe nobreza no ato de ficar e lutar até o fim, mas a conotação positiva só pode existir se for uma escolha. Não existe nenhuma obrigação “formal” a viver o máximo possível. Tanto que… você pode se matar assim que der na sua telha.

O normal é que uma pessoa contemple o maior número possível de soluções para seus problemas antes de pensar em acabar com tudo e sair de campo no meio do jogo. Mas quem disse que normal é sempre a única opção? Tem gente que luta contra todas as dificuldades e vence, tem gente que olha para o horizonte e manda tudo à merda.

É a sua vida, são as suas escolhas. Por uma série de motivos que vão desde o melhor funcionamento de uma sociedade estruturada até mesmo a ganância de instituições que dependem de suas ovelhas, a idéia de sobreviver está erroneamente atrelada a de viver. Uma coisa é estar respirando, outra completamente diferente é estar vivendo.

Qualidade de vida não é só qualidade do funcionamento dos seus órgãos. O ser humano precisa de uma série de elementos muito mais abstratos do que um pulso para ser feliz. Liberdade, relacionamentos, planos, objetivos, realizações… A lista vai longe.

Se a pessoa não sente mais que está vivendo, apenas sobrevivendo, existe lógica na idéia do suicídio. É politicamente incorreto dizer, mas a verdade frequentemente é. Ninguém é obrigado a gostar da vida que está levando. PONTO.

O que eu faria numa situação “passível” de suicídio? Quem se importa? A questão não é escolher a melhor solução para qualquer pessoa, é definir o que é uma solução. Um jeito perfeito de parar de viver uma vida ruim é se matar. Estou mentindo?

A sociedade (sistema, ou algo que o valha) tenta roubar de você o seu direito mais básico: O de existir. Não estou ficando maluco, a capacidade de decidir livremente se vai continuar nessa vida ou não é ESSENCIAL para a existência ter valor.

Esse discursinho sentimentalóide de valorização da sobrevivência nada mais é do que uma forma de reforçar a mentalidade de escravo de uma ordem cósmica imutável. “Você não é livre, a sua vida pertence a outras pessoas.”

Cacete, basta ver a posição da maioria das religiões sobre o assunto para perceber a obviedade da ferramenta de controle. O ÚNICO motivo para continuar vivendo é querer viver. O poder dessa escolha é o único que não podem tirar de você. E eu não vou ser hipócrita de criticar algo e logo após reforçar seu discurso.

Como negar que terminar a vida é uma solução para quem perdeu tudo? E sem esse golpe de relativizar para o grupo. O que faz a vida de uma pessoa válida não é necessariamente o que faz a vida de todos válida. Se o cidadão quer se matar porque ficou pobre, pode ter certeza que dinheiro era parte integrante do que fazia sua vida ter graça. Foda-se que a Creusa na favela vive feliz na miséria, não é a vida dela que está em jogo, o referencial muda de pessoa para pessoa.

É personalíssimo. Não me furto do direito de julgar os motivos para uma pessoa se matar como fúteis, mas isso depois de entender o ÓBVIO que eu sou eu, e a pessoa é a pessoa. Enquanto ela não estiver ME matando, está exercendo seu direito pessoal de existência.

E quando não temos o elemento da ferramenta de controle em ação, a argumentação pró-vida se escora num outros elementos altamente discutíveis…

Em primeiro lugar, aquela chantagenzinha emocional baraaaata de dizer que está jogando fora uma vida que muita gente adoraria estar vivendo. É a mesma coisa que aquela mãe manipuladora que tenta convencer os filhos a comer toda a comida do prato porque tem crianças na África passando fome… Na prática, não passa de uma baboseira. Da mesma forma que a comida no prato da criança “rica” não poderia ser enviada diretamente para as crianças passando fome, não tem como entregar uma vida para outra pessoa que faria melhor uso dela.

E eu sei que estou soando extremamente egoísta ignorando que uma pessoa que se mata quase sempre deixa parentes, cônjuges e amigos. Mas não podemos esquecer que uma pessoa que realmente quer se matar não se compara com uma que quer viver. Uma pessoa “no estado de espírito” necessário para se matar é a encarnação do dizer “antes só do que mal acompanhado”.

Quem só fica vivo por obrigação VAI FODER a vida de quem está por perto. Seja pelos impulsos auto-destrutivos (MUITO melhor ser filho de alcóolatra do que ser órfão, né?), seja pelo desânimo e falta de objetivos (ajuda muito ter que ficar carregando alguém feito uma cruz…). Ou a pessoa QUER viver, ou só vai atrapalhar “quem fica”. Se vai ficar vivo para atrapalhar, não vai fazer falta, por mais escroto e insensível que essa frase soe.

Vamos recapitular: A vida não é uma obrigação, não é apenas estar respirando que vale como referencial de viver bem e ser uma boa influência para as pessoas ao seu redor. Reforçar a idéia de que batimento cardíaco tem esse valor mágico serve para fazer as pessoas preguiçosas se sentirem bem com suas vidas. Batemos nos suicidas porque eles não validam o nosso joguinho de auto-valorização.

Não quer ficar? Não fica. Você é livre. E quem quer que te diga o contrário não está te dando um bom conselho. Tem coisa mais depressiva do que ser obrigado a viver?

Para dizer que resolveu se matar por causa deste texto (não vai fazer falta), para me chamar de irresponsável por dizer a verdade, ou mesmo para dizer que vai torcer para que um ônibus desgovernado me suicide: somir@desfavor.com

SALLY

Tudo passa. O tempo cura tudo. Nós aprendemos a viver e a nos adaptar em novas realidades com mais facilidade do que podemos imaginar. Aprendemos a viver sem pessoas que poderiam nos parecer essenciais ou sem bens materiais que pareciam indispensáveis. Excluindo nossa saúde, todo o resto é reconquistável, de uma forma ou de outra. Uma adversidade, por maior que seja, não justifica o suicídio. Quer se matar? Vá em frente, elimine seus genes idiotas do mundo, Prêmio Darwin para você! Respeito o direito que a pessoa tem de se matar, mas jamais vou concordar com isso como uma escolha válida para uma pessoa que é mentalmente normal. Entendo que pessoas com discernimento comprometido ou mentalmente doentes não possam fazer uma avaliação clara, por isso fiz esta ressalva.

A pessoa que concorda em se matar está dizendo que seus problemas são “irresolvíveis”, que são maiores e piores do que o dos outros e que não tem capacidade de solucioná-los e superá-los. Manucu. Todos nós passamos por problemas graves ao longo da vida e todos nós passamos por momento de desespero e dor que podem nos fazer pensar se seremos capazes de suportar isso. E quase todos nós superamos. A pessoa que se mata não o faz porque tem problemas maiores ou piores que os nossos e sim porque não tem estrutura para lidar com a vida. O suicídio não tem como causa o fato externo que o desencadeia e sim o interno que faz com que a pessoa seja tão fragilizada que não consiga se reerguer.

Logo, partindo dessa premissa, fatores externos (salvo as exceções citadas) não justificam suicídio. Um “defeito” interno, emocional também não pode avalizar esse tipo de coisa. Ninguém está condenado a ser como é para sempre, sobretudo se esse “ser como é” lhe for prejudicial. Pessoas podem se fortalecer, buscar ajuda. Acho muito simplório um “vou me matar porque não consigo lidar com isso”. Que tal substituir por um “vou BUSCAR AJUDA, porque não consigo lidar com isso”? Inaceitável se matar para fugir de um sentimento ou de uma situação.

Tanta gente cheia de projetos, querendo viver e doente ou morrendo sem ter escolha e um babaca saudável dá tamanha importância a um problema a ponto de tirar a própria vida! Não tem como concordar ou justificar esse tipo de coisa. A sensação que já senti de querer muito viver e quase morrer mesmo lutando contra isso não me permite autorizar o suicídio como possível solução válida ou compreensível.

É como se você comprasse um carro muito caro, andasse nele, gostasse dele mas um dia ele quebrasse no meio da rua e te causasse um problema enorme. Você chama o reboque ou você simplesmente vira as costas e vai embora, abandonando o carro no meio da rua? Pois é, não se faz isso nem mesmo com um carro, quem dirá com a própria vida, que é um bem maior! (grandes chances do Somir achar que o carro um bem maior que a vida, mas tudo bem).

Infelizmente as pessoas estão ficando cada vez mais mimadinhas e intolerantes ao sofrimento e à frustração. O sofrimento faz parte de nossas vidas, faz parte de quem somos. Mas neguinho não quer sofrer nem por meio segundo. Neguinho é tão frágil, tão cuzão, que qualquer sofrimento desestrutura, desestabiliza e faz a pessoa começar a ter siricoticos como parar de comer, parar de trabalhar, ignorar seus deveres com filhos e chorar o dia todo. Daí esse tipo de gente sai enchendo o rabinho de Fluoexitina ou qualquer outro remedinho que aplaque sua dor, porque simplesmente não sabe levar uma vida com dor, mesmo esta dor sendo temporária.

Pois eu tenho uma novidade: Dor faz parte da vida. Dor TEM QUE SER VIVENCIADA, vivenciar a dor é normal e necessário. Através dessa vivência vamos ficando calejados e aprendendo a lidar melhor com ela. Mas a pessoa que foge dela nunca aprende a lidar, daí o namoro termina e a pessoa sente tanto medo da dor que prefere se matar do que passar por ela. Atentem para o fato que o “se matar” pode ser direto (tiro na cabeça, veneno…) ou indireto (pessoa que se entrega, não come, se auto-destrói…). Se matar, seja de imediato, seja aos poucos, a longo prazo, é babaquice.

Também tem outra coisa: eu acho que a maior parte das pessoas que se matam, é motivada mais por vingança do que por tristeza. Isso mesmo! Para foder coma vida de alguém, para deixar alguém com culpa ou até mesmo para finalmente conseguir ser importante na vida de alguém. Na minha opinião de leiga, que pode muito bem estar errada, poucas pessoas se matam por não suportar mais o sofrimento. Coisa ridícula dar tanta importância a outra pessoa (ou a outras pessoas) a ponto de tirar a própria vida, hein? Uma imbecilidade sem fim. Não importa o motivo, nada justifica o suicídio. Há sempre uma saída melhor. Eu posso até aceitar que se “suicide alguém”, mas a si mesmo jamais.

Suicídio não resolve problema algum, apenas transfere o problema do suicida para seus entes queridos, uma vez que são eles que terão que lidar com as consequências emocionais e financeiras desta gracinha e com as pendências da vida do suicida. Puta egoísmo, sobretudo quando a pessoa tem filhos. Uma pessoa que tem filhos não deveria ter o direito de se suicidar e não aceito que alguém venha me dizer que pode ser compreensível se matar por algum motivo e deixar filhos desamparados no mundo. Babaquice tem limite.

Sem contar que a maior parte dos suicidas paunocuzam toda a sociedade para se matar, promovendo mega-espetáculos mórbidos em uma última tentativa desesperada de chamar a atenção: se jogam do alto de prédios (e as vezes levam junto um coitado de um transeunte ou o carro de alguém) ou cortam os pulsos e vão parar em pronto-socorro tomando horas do trabalho de médicos que poderiam estar salvando vidas de quem realmente quer viver. Quer se matar? Suicide-se de forma discreta no conforto do seu lar e não encha o saco dos outros!

E se você, seu Débil Metal, está cogitando ou um dia cogitar por algum motivo se matar, pense no seguinte: ainda tem milhões de coisas boas por vir na sua vida, por mais que você tenha certeza de que a dor nunca vai passar e que você nunca vai superar o que quer que esteja acontecendo, VAI PASSAR. Quer perder essas coisas boas que estão por vir? Quer passar os seus problemas para as costas dos outros? Você é um merda. Não importa o que o Somir disse acima, SUICÍDIO NÃO É SOLUÇÃO E NÃO É ACEITÁVEL.

Para sugerir que a gente se suicide, para sugerir que suicidemos um ao outro ou ainda para se suicidar depois de ler este texto: sally@desfavor.com