HERPO que é mais legal, bater em mitos “imexíveis” ou bater em gente que já morreu e por isso se tornou “incriticável”? Na dúvida, ficamos com ambos. O Processa Eu de hoje fala de uma figura hipócrita, corrupta e bem pecadora quando analisada sob a exigente doutrina católica. Uma mulher de dois pesos e duas medidas que travestia seus atos de caridade quando na verdade buscava interesse pessoal. Com uma instituição poderosa por trás, que a blindou em tudo que foi necessário, inclusive violando as próprias regras, ela enganou a muitos por muito tempo. Ganhou até um Nobel da Paz. Mas aqui a gente adora questionar o inquestionável. Inconvenientes é nosso segundo nome. Processa Eu de hoje fala sobre Madre Ceresa de Talcutá.

Madre Ceresa de Talcutá, vulgo Mun-Rá de Cristo, foi uma missionária católica que, como quase todos de sua raça, se escondia atrás do manto da religião para camuflar atos nem tão nobres como forma de bondade e generosidade. Para começo de conversa, essa “vocação” para servir a Deus, que fez parecer ser um gesto de desprendimento e generosidade extrema quando na verdade sabemos que as pessoas inclinadas a esse tipo de escolha geralmente o fazem por 1) baranguismo contumaz e/ou 2) decepção amorosa.

Aliás… tenho minhas dúvidas se ela era de fato mulher. É SÉRIO MESMO. Olhem as fotos. Olhem o maxilar, olhem os ossos da face. Não me levem a mal, não quero faltar com o respeito, mas eu acho que Madre Ceresa era Transsex. Reparem bem nas fotos, inclusive nas fotos dela mais nova (ou seria menos velha?). Aquilo ali tem uma pinta de macho… Quase certeza que tinha um bilau ali. Se um dia esse escândalo vier à tona vou fazer um “Não Disse?” de vinte páginas!

Não vou contar a história dela porque é muito escrota e mentirosa, floreada demais. Além disso, tem tanto podre que não caberia em quatro páginas. O fato é que um dia ela decidiu que era muito legal fazer voto de pobreza, castidade e obediência e tentou fazer parecer que esta escolha era completamente abnegada, por pura vontade de ser uma pessoa boa. Eu já não acreditaria nisso normalmente, mas depois de tudo que li a seu respeito, acho que só Christopher Hitchens desgosta dela mais do que eu. Tudo que ela fez foi por interesse pessoal. Universo Umbigo de Cristo.

Fazer caridade usando o dinheiro arrecadado para aquilo que VOCÊ acredita ser o melhor é muito fácil. Pede dinheiro para uma coisa e depois que todo mundo doa, vai e faz outra. Ela fez isso, usou dinheiro originalmente destinado a alimentar famintos para propagar o cristianismo. E daí que muita gente morreu de fome por causa disso? Hoje todos tem lindas igrejinhas para rezar. Comer é para os fracos, os fortes se alimentam de oração. E se morrer de fome era porque você não tinha fé.

Ela pegou uma vultuosa quantia arrecada e usou para abrir conventos em mais de 150 países. Não era esta a destinação que deveria ser dada ao dinheiro. Você doa crente que vão alimentar um faminto, comprar remédios para uma criança ou vestir um inválido e quando vai ver, na verdade construíram um prédio para trancafiar um bando de meninas jovens e impedi-las de fazer sexo. Sim, você doou dinheiro achando que estava fazendo o bem e na verdade estava tirando mulheres da pista, olha o desfavor que você fez!

Como este, existem muitos outros relatos de dinheiro que ela pediu para um fim e depois usou para o que ela bem entendeu. Existe um caso vastamente documentado de um din din que deveria ser usado para construção de um hospital-escola e que acabou virando convento. Não me interessa se acham que é tão importante quanto, é FRAUDE. Pediu dinheiro para um fim e usou para outro. Isso tem tipificação no Código Penal e se chama estelionato.

Desenterrando do fundo do baú (1981) uma das poucas entrevistas a que tive acesso, uma respostinha dela me chamou a atenção. Perguntaram para o Maracujá de Cristo o que ela acreditava que deveria ser feito para mitigar a dor dos pobres e ela respondeu que achava bonita a aceitação da dor por parte dos pobres e disse, nessas exatas palavras, que “o mundo está sendo muito ajudado pelo sofrimento dos pobres”. ENTÃO VALEU. FAÇA SUA PARTE, FAÇA UM POBRE SOFRER! É bacana deixar pobre sofrer, FAZ BEM PRO MUNDO.

O foda da Suíça é isso: a imprensa constrói um mito e neguinho não se dá ao trabalho de investigar o que essa pessoa andou dizendo e falando, se o jornal diz que é uma santa criatura, isso vira verdade absoluta! Como podem chamar de santa uma mulher que acha que o sofrimento das pessoas faz bem para o mundo? Percebem o absurdo? A Traveca de Cristo era blindada, aliás, até hoje é. Fazia merda por cima de merda e todo mundo batia palma. Uma espécie de Çilva I de Deus.

Claro que como toda ovelha de Cristo, ela é hipócrita até dizer chega. Se por um lado prega que o sofrimento dos pobres faz suuuuuper bem ao mundo, por outro o discurso muda quando um rico está sofrendo. Saiu em defesa do economista americano Charles Keating, que protagonizou um puta escândalo financeiro (roubou 250 milhões de dólares de investidores). Mas, como ele também doou um din din para ela, a Mocréia de Cristo foi acometida de uma súbita crise de perdão e tolerância e decidiu que o sofrimento DELE (faz sentido, ele não era pobre) não faria bem ao mundo. Mandou uma cartinha para o juiz responsável pelo caso tentando comovê-lo. Como se não fosse vergonha alheia o bastante mandar uma carta pública para interferir no trabalho de um magistrado sugerindo que este passe por cima das leis com base em princípios religiosos, ainda tomou um esculacho.

O juiz disse que “nenhuma igreja, religião, caridade ou organização deveria ser usada como apaziguador da consciência de um criminoso”. Ainda esculhambou a Múmia de Cristo por ter aceito doações que sabia serem provento de crime e disse que “Jesus não gostaria de ficar com os frutos de um crime nas mãos”. Para fechar com chave de ouro, disse que ela não deveria ficar com esse dinheiro e que quisesse ser honesta e fazer a coisa certa que entrasse em contato com ele, para que a doação feita por Keating (a bagatela de 1,25 milhões de dólares) fosse devolvida a seus respectivos donos, os 17 mil investidores que foram roubados. Adivinha se ela entrou em contato ou sequer respondeu? Que nada! Ficou com um dinheiro que sabia ter sido roubado e se recusou a devolvê-lo, apesar do apelo do Judiciário. Jesus deve estar orgulhoso!

Pregava a paz, a tolerância e o amor, mas na hora de se misturar com pessoinhas altamente duvidosas “a nível de” direitos humanos, não pensava duas vezes se pagassem bem. Um belo exemplo é sua proximidade com o ex-ditador do Haiti Jean-Claude Duvalier (vulgo Baby Doc), uma flor de pessoa. Este elemento foi responsável por uma das mais sanguinárias ditaduras do século XX, causando fome e morte a milhões de pessoas, arrasando a economia, a saúde, a educação e enchendo os próprios cofres com dinheiro do povo haitiano. Pensando bem, faz sentido ela pagar de amiguinha dele, afinal, ele promoveu o sofrimento de muitos pobres, o que na cabeça dela, ajuda o mundo.

E para quem pensa que ela é o supra-sumo da caridade na cidade de Talcutá, foi mal, mas sua congregação das Missionárias da Caridade é apenas uma dos mais de 200 grupos que trabalham com ações sociais e esta congregação nem é a mais expressiva ou atuante na cidade. Puro marketing colocar a cidade no nome. Sem contar que muitos locais a acusam de vender uma imagem equivocada de Talcutá como sendo um lugar onde só tem miséria, pobreza, doença e fome.

Se como ser humano ela era uma merda, mas como marketeira não se pode negar que tinha um dom. Pois é, os católicos são ótimos marketeiros, vide o livro “Jesus lava mais branco”. Não é sobre ela, é sobre a igreja católica, mas eu recomendo (autor: Bruno Ballardini, que provavelmente vai ter um AVC se souber que seu nome está sendo citado em uma postagem tão impopular como esta. Foi mal ae).

Madre Ceresa mostrou como “A salvadora” de Talcutá, o que não corresponde à verdade. A verdade, Querido Leitor, é que ela é uma Maria Chuteira de Cristo. Uma interesseira de doações. Tava sempre cercando quem tinha dinheiro, não importa seu caráter, para tentar conseguir algum, alegando que iria dar determinada destinação a estas verbas e depois de recebidas, fazia o que queria com elas. E fazia bem pouco para os valores que arrecadava, tá?

Alguém me explica como a Diva Pop das Doações, que arrecadava milhões em dinheiro de criminosos e ditadores, fazia uma caridade tão precária? Existem relatos documentados de que os abrigos construídos eram tão precários que muitas vezes acabavam mais por prejudicar do que por ajudar. Doentes com diferentes doenças contagiosas dividiam as mesmas camas, ou seja, você entrava com tuberculose e ganhava de brinde lepra. Vários doentes relataram que recebia medicamentos com validade vencida, que não havia preocupação com higiene e que as agulhas eram compartilhadas. Mas calma, ela não era de todo má. Dava ordens expressas para as agulhas serem lavadas com água quente depois que cada paciente usava! AH BOM! Tá vendo? Super consideração!

Mais um detalhezinho… os doentes que estavam sob os cuidados de suas “instituições” não recebiam analgésicos. Há quem negue, mas são tantos relatos detalhados que fica difícil não acreditar. Ainda mais quando se observa o conjunto da obra, frases que glorificam o sofrimento físico e etc. Ela não perdia uma oportunidade de dizer que era preciso sofrer na Terra para sentir o que Cristo sentiu e assim, se tornar uma pessoa boa. Curiosamente quando ELA era hospitalizada, socavam morfina naquele corpinho mole e cabeludo. Dá para acreditar que concederam o título de Doutora honoris causa em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade Católica do Sagrado Coração a esta açougueira?

Para não dizerem que estou inventando, dou nome e sobrenome. Sanal Edamaruku, presidente do grupo Rationalist International, contou que uma vez presenciou a seguinte cena: quando um doente estava urrando de dor ela se aproximou e disse “você está sofrendo, isso significa que Jesus está te beijando”. O doente devolveu: “então mande SEU Jesus parar de beijar!”. Estudos indicam que este doente, que faleceu pouco tempo depois, reencarnou na forma de um publicitário na cidade de Campinas, em São Paulo e ainda guarda rancor.

Os desfavores não acabam. O Ewok de Cristo fazia questão de se posicionar publicamente contra o controle de natalidade, mesmo vendo de perto o que a pobreza e a miséria fazem com um ser humano. Quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz aproveitou para meter o pau no aborto e em quem faz aborto. Se Deus existe, certeza que deu um tapa na cara dessa mulher quando ela chegou ao céu, cuspiu na sua cara e depois a enviou direto pros quintos dos infernos. Falar em nome de Deus não significa nada, NADA. O que contam são os atos. E os dela era bem reprováveis, ainda que “em nome de Deus”.

Mas, na Suíça imagem é tudo. Quando ela morreu, em 1997, começou um movimento para sua canonização. Só que tem um probleminha: para canonizar alguém é preciso que a pessoa tenha realizado um milagre. Negar sedativos a uma pessoa que está urrando de dor não pode ser classificado como um milagre. Daí começaram a fuçar para tentar tirar leite de pedra e acabaram protagonizando um vexame, que seria um dos mais polêmicos e duvidosos processos de beatificação já vistos. “Descobriram” que uma mulher chamada Monica Besra, que estava com um tumor no estômago, segurava um colar contendo uma foto de Madre Ceresa, quando, do nada, magicamente, a foto emitiu uma luz e ela se curou do tumor.

Acreditar nisso, por si só, ainda que não houvesse nada que o desmentisse, já seria foda. Mas quando se pesquisa o relato dos médicos e parentes, a história fica ainda mais patética. Os médicos dizem que o tumor de Monica nem era assim tão grande e além disso ela passou por UM ANO DE TRATAMENTO até constar que o tumor refrediu e, justamente por isso o tumor regrediu. O que faz mais sentido para você, a luz mágica que sai da foto ter curado ou um ano de tratamento?

Ok, ok. Meu ateísmo galopante pode estar influenciando. Vamos ver o que diz o marido de Monica? Nessa eu faço questão de abrir aspas! Perguntado, quando o episódio ocorreu, o que ele achava, o marido respondeu “muito barulho por nada”. Cuem cuem cueeeeeem! Desculpa ae a falta de respeito mas… QUE MILAGREZINHO DE MERDA, HEIN? Somir e eu forjaríamos coisa muito melhor. Mas calma que a coisa fica ainda mais horrenda. Passou um tempo e a família foi chamada para uma reunião. Saíram dando outra versão: na verdade eles achavam que tinha sido um milagre sim e estavam muito gratos e todos na família tinham se convertido ao catolicismo e que Deus é dez. Curioso que nesse período eles começaram a adquirir bens.

Gente sem muita instrução é foda. Por mais que você oriente eles sempre acabam soltando uma merda e cagando tudo. E foi assim com esta família. Quando inquiridos sobre os bens que estavam adquirindo, o marido de Monica solta a pérola “Nossa situação era terrível e nós não sabíamos o que fazer. Agora meus filhos estão sendo educados com a ajuda das freiras e eu consegui comprar um pedaço de terra. Tudo Mudou para melhor.” Cuem cuem cueeeeeem! CALÇA ARRIADAAAA!

E como se tudo isso não bastasse para provar que foi uma puta forçada de barra, ainda tem a cereja do sundae: as regras dizem que só pode iniciar o processso de canonização de alguém no prazo de CINCO anos após a sua morte e este processo foi iniciado apenas dois anos após a morte da infeliz. Inclusive foi preciso que o então Papa Poão Jaulo II (Karol, para os íntimos) fosse pessoalmente dar uma forcinha para apressar as coisas. Vai um político fraudar prazo ou fraudar a justificativa para um ato! Todo mundo vai xingar, jogar pedras e chamar de corrupto. Mas católico pode. Católico é de Deus. Amém.

E se você ainda ousa defender todas estas atrocidades e falta de ética justificando tudo através do romantismo de uma fé exacerbada, pense duas vezes. O que a movia não era uma fervorosa fé cega que a fazia adotar caminhos duvidosos na tentativa de fazer o bem. Foram descobertas cartas de Marde Ceresa a alguns conselheiros espirituais onde ela questiona sua fé e, porque não dizer, mostra uma quedinha pelo ateísmo. Seguem apenas dois trechos (malditas quatro páginas), com os respectivos anos em que foram escritos, para que não digam que eu manipulo informação, concluam por vocês mesmos:

1956 – “Tão profunda ânsia por Deus – e … repulsa – vazio – sem fé – sem amor – sem fervor. Almas não atrai – O céu não significa nada – reze por mim para que eu continue sorrindo para Ele apesar de tudo.”

1959 – “Se não houver Deus – não pode haver alma – se não houver alma então, Jesus – Você também não é real.”

Cheia de fé a Tia, né não?

Ok… sexta página. Devo parar por aqui. Só quero pedir que vocês façam o seguinte exercício mental: imagine cada situação que eu narrei aqui sendo praticada por um político jovem, forte e ambicioso. Vejam como o juízo de valor muda. Está na hora de parar com essa presunção de bondade e ética só porque a pessoa é religiosa ou então porque a pessoa é da terceira idade. Os canalhas também envelhecem. Essa mulher NÃO PRESTAVA, faltou com a ética em reiteradas ocasiões de sua vida, e em breve será declarada uma santa com evidências forjadas. É a este tipo de religião que você quer se vincular? É desta instituição que você quer fazer parte? Você concorda com isso? Aceita? Compactua? Admira? Reflita.

Para inventar desculpas românticas na tentativa de explicar ou justificar tudo que ela fez, para dizer que o mundo que te mostram é melhor do que o mundo real e por isso prefere continuar nele ou ainda para dizer que depois dessa postagem tem certeza de que o Somir vai dar uma passadinha pro aqui: sally@desfavor.com

Ainda sou eu que escolho as imagens... Ha!Este é um texto LEIGO. Não deve ser usado para diagnosticar ou tratar ninguém, apenas para avaliar se vale a pena agendar uma consulta com um médico especializado. Cerca de 20% da população mundial já sofreu algum episódio de depressão ao longo da vida e boa parte destas pessoas sofreram além do necessário pela falta de diagnóstico ou tratamento adequado. Não é demérito ter depressão. Não é escolha, não é fraqueza, não é frescura. É uma doença, como outra qualque. Como tal, precisa de tratamento adequado.

Como já discutimos nos comentários do Desfavor Explica sobre DDA, está na moda imputar a si mesmo alguma doença neurológica. Todo mundo acha que tem TOC, todo mundo se acha bipolar e todo mundo se diz deprimido. Um grande desfavor. Depressão não é tristeza. Todos nós passamos por momentos ou fases de tristeza na vida e isso em nada se confunde com o que é uma depressão de verdade. Não passe adiante este desfavor, não seja leviano de dizer que está deprimido quando na verdade está apenas triste. Depressão não é tristeza, depressão não é dor de cotovelo, depressão não é saudade. Depressão é depressão.

Porque tanta confusão de terminologia? Bem, em parte as pessoas gostam de exagerar e valorizar o que sentem e se dizem “deprimidas” para dar ênfase à tristeza que estão sentindo. A palavra tristeza virou pouca coisa, tristeza é para os fracos, os fortes ficam é deprimidos! Uma merda, as pessoas querem ser mais do que as outras até mesmo na hora de se foder. Medonho! Em parte, péssimos profissionais da área também tem culpa, pois transmitem informações equivocadas ou entopem pessoas de remédios sem necessidade. Lidar com a tristeza é necessário, mas hoje ninguém parece mais querer sofrer. Médicos empurram qualquer rivotril garganta abaixo de uma pessoa meramente angustiada e acham que de alguma forma estão ajudando. Lidar com a tristeza é essencial para a construção de um ser humano saudável.

Como diagnosticar uma pessoa deprimida? Bem, existem testes, existem algumas características, alguns padrões de comportamento listados, mas descrevê-los seria chover no molhado, pois isso o Dr. Google te diz com facilidade. O ser humanos não é matemática, existem inúmeras variáveis. É possível que apresente muitos desses sintomas típicos e não esteja deprimido ou ainda que apresente poucos sintomas e esteja em depressão. Qual é o pulo do gato? Desfavor recorre a um psiquiatra: “a tristeza da depressão é diferente, é especial. Não passa e vem acompanhada de uma perda de energia, de um desânimo”

Então, independente de outros sintomas, costuma haver um denominador comum: tristeza, desânimo e redução da energia. Vamos desenvolver. A pessoa deprimida costuma sentir um desinteresse, uma desesperança, sentimentos negativos que insistem em assolar a mente da pessoa, culpa, pensamentos de morte (sua ou de entes queridos), sensação de menos-valia e principalmente uma tristeza inexplicável. Não que ela não tenha causa, muitas vezes tem. O que é inexplicável é porque ela não vai embora, mesmo depois de semana, meses ou anos.

Não é qualquer tristeza. Ela é constante e dominante. A pessoa está triste a maior parte do seu dia, quase todos os dias. Quer dizer, tem muito mais momentos ruins do que bons. O que não quer dizer que os bons não existam, em alguns casos existem, o que leva a pessoa a crer que está melhorando sozinha e retardar a procura por ajuda. Muitas pessoas pensam “Se eu estivesse deprimido, não teria estes bons momentos, deve ser estresse mesmo” . Não. Não é normal passar a maior parte do seu tempo em um estado de desânimo e tristeza. Não é preciso que você esteja 100% do seu tempo emburacado para que seja necessário recorrer a ajuda. Infelizmente as pessoas vão se acostumando a viver assim e tendem a achar que isso é, de alguma forma, normal, o que as faz demorar para pedir ajuda, perdendo muito de sua qualidade de vida por longo período.

Inclusive em alguns casos a doença muda de nome e implica justamente nisso: fases de depressão alternadas com fases de excitação, o famoso transtorno bipolar ou PMD – Psicose Maníaco Depressiva, que também vem sendo muito imputado a pessoas perfeitamente normais. Na fase maníaca a pessoa está a mil, se sente incrível (o estado de excitação física é tamanho que a pessoa dificilmente adoece). Na fase depressiva vai do céu ao inferno e se emburaca. Acredite, dificilmente você vai dizer rindo que é bipolar se você realmente for. Mas isso é assunto para outro Desfavor Explica.

Não tem como mascarar, quando é depressão, é doença. Ou seja, independe da vontade (ou da força de vontade) da pessoa. Nesses casos, ficar “incentivando” a pessoa a retomar suas atividades e reagir é um comportamento sádico e não de ajuda muito. Pelo contrário, faz a pessoa se sentir mais merda e fracassada. É o mesmo que dizer a um paraplégico “Faz uma forcinha, vai! Sai dessa cadeira de rodas! Levanta e anda, tenho certeza que se você se esforçar vai conseguir, é tudo questão de querer!”. Não, não é. É uma DOENÇA que independe da vontade da pessoa. Esta pessoa precisa de medicamento e tratamento e não de cobrança. Se você quer ajudar, leve a pessoa a um médico. Porque sim, é um desequilíbrio bioquímico, não é culpa ou escolha da pessoa. Dependendo do grau da depressão, é impossível obter uma melhora sem o remédio e negar tratamento à pessoa pode culminar no seu suicídio.

“Mas Sally, minha filha ficou deprimida porque o namorado dela deu um fora nela, não tem nada de bioquímico nisso, ela que é otária mesmo!”. NÃO. Não confunda fator desencadeante com a depressão em si. Um fator externo psicológico que aos olhos de muitos pode ser uma besteira pode DESENCADEAR um processo depressivo. Mas uma vez que se instaura o desequilíbrio bioquímico, a coisa sai da esfera do “psicológico” (ou como se queira chamar) e passa a ser uma questão médica. É preciso reequilibrar algumas substâncias no cérebro da pessoa. Vamos comparar com gastrite nervosa. A pessoa fica tensa, fica estressada até que começa a ter uma gastrite. O fato que gerou essa gastrite foi sua tensão, mas agora que ela existe, ela está ali, independente de qualquer estado psicológico. E precisa ser tratada. Depressão é uma doença, uma doença real. Não é frescura, não é forma de chamar a atenção e não é má vontade. Merece o mesmo respeito que qualquer outra doença.

Vamos falar da tristeza que uma pessoa deprimida sente. Inicialmente, pode até ser uma tristeza justificável, como a perda de um ente querido um um grande trauma. Mas com a depressão, esta tristeza que deveria passar, se instaura e fica. Lembro de uma frase que um famoso médico me disse quando tive um tumor. Estava na cama do hospital com muita dor, muito chateada. Ele me disse (*momento Kodac) que eu tinha razão em ficar chateada porque o que tinha acontecido comigo era mesmo horrível mas completou dizendo o seguinte: “O vale da tristeza é para ser cruzado, não para montar acampamento”. É podrinho, eu sei, mas define bem a diferença entre uma pessoa triste e uma pessoa deprimida. Os deprimidos montam acampamento no vale da tristeza, os tristes apenas o cruzam. Joguem pedras, estou sentimental sem o Somir.

“Mas Sally, eventos estressantes todos nós passamos na vida! A tia da prima da cunhada de um amigo meu perdeu a família em um acidente e não ficou deprimida! Minha filha é que é uma fraca mesmo!”. NÃO. Existem mil fatores que combinados podem desencadear a depressão, inclusive a forma como VOCÊ criou sua filha. Algumas pessoas que tem uma propensão genética à depressão. Existem uma série de fatores genéticos e até mesmo ligados à história de vida da pessoa que se combinam de forma a desencadear uma depressão. Não se trata de ser forte ou fraco nem da vontade de ninguém. Genética não é tudo, mas influi. Estudos comprovam que gêmeos idênticos ficam mais deprimidos do que gêmeos não idênticos. É mais um fator a se levar em conta para ser somado a tantos outros. Fique atento à sua família, a hereditariedade é um fator de risco.

O fator genético é o mais badalado. Ele tornaria pessoas propensas a depressão, num resumo muito do sem vergonha por causa do meu limite de quatro páginas, consistiria na alteração dos níveis de alguns neurotransmissores (os mais populares são serotonina, acetilcolina, dopamina, epinefrina e norepinefrina). Também pode ter relação com algumas alterações hormonais ou até mesmo estar relacionada com um tipo de “atrofia” em uma região do cérebro chamada lobo pré-frontal.

Mas também existem outros fatores que se combinam ou não com a genética, como o chamado fator Psico-social como a perda de um ente querido, experiências traumáticas como catástrofes, problemas de relacionamento e até mesmo o grau de amparo e suporte da família quando um destes fatores se apresenta. Podem existir fatores físicos, os chamados Traumatismos, que vão desde uma pancada na cabeça até qualquer outra agressão ao organismo que seja traumática o bastante para desencadear depressão, como por exemplo, uma quimioterapia. Até mesmo alguns medicamentos tem o poder de desencadear depressão. Os mais famosinhos são betabloqueadores, corticosteróides, anti-histamínicos, analgésicos e antiparkinsonianos. Mas existem outros. Mais: as vezes a pessoa toma medicamentos a longo prazo e tira onda de que não ficou deprimida mas é na hora da supressão destes medicamentos que a depressão bate! Existem as causas mais improváveis, até mesmo o tempo pode ser responsável por deprimir uma pessoa, é a chamada “depressão sazonal”, constatada em países onde há diminuição de luminosidade em alguns períodos do ano (inverno e outono). Até parto pode desencadear depressão – em homens! Sério mesmo. Existe depressão pós parto masculina. O ser humano é fascinante.

Tal qual roupas, a depressão também tem medidas. Tal qual roupas, normalmente ela tem três classificações: P, M e G. Lógico que não é este o termo técnico, mas minha intenção aqui é ser didática, e não técnica.

A Depressão P, que é a menorzinha, também é chamada de “leve”, tem sintomas mais discretos. A pessoa se sente incomodada, mais cansada e até mesmo triste, mas continua tocando sua vida. Inclusive, acaba se acostumando a viver assim. A pessoa até vai trabalhar, mas vai com menos energia e vontade do que antes. Rende menos., se sente exausta sem razão aparente. Mas atenção, seu Zé Ruela, se você dormiu mal é normal que esteja com menos energia, não vá se apressando e se classificando como deprimido! Quando falamos em “menos energia” é um “menos energia” sem uma causa externa que justifique! A pessoa com Depressão P ou leve consegue manter seus relacionamentos, porém não parece ser a mesma pessoa que era antes. Há sentimentos ruins sempre rondando, como a falta de esperança, inadequação, perda gradual de prazer em atividades que antes eram prazerosas. Podem ocorrer alterações no apetite e no sono (ou 8 ou 80, come pouco ou come muito, dorme pouco ou dorme muito). Em alguns casos (mais comum em crianças) essa tristeza pode ser substituída por um grau de impaciência e irritabilidade exacerbados. Como não é incapacitante, a pessoa dificilmente procura ajuda. Quem costuma perceber este tipo de depressão são amigos próximos, namorados e familiares, que conhecem a pessoa bem e sabem que este não é o seu normal.

A Depressão M, chamada tecnicamente de “Moderada” a concentração e capacidade de trabalho começa a ficar comprometida. A pessoa já não rende o que deveria e não consegue disfarçar. Não tem energia para trabalhar nem mesmo vontade ou prazer. Também há uma indisponibilidade para manter seus relacionamentos afetivos. Não há mais interesse/paciência para amigos e a pessoa prefere ficar em casa do que sair e ver gente. As alterações de sono e apetite se intensificam. Geralmente o maior indicativo são as relações afetivas. É mais fácil “diagnosticar “a P e a G, aquilo que ficar no meio termo é a M.

A Depressão G, chamada tecnicamente de “Grave” é incapacitante. A pessoa não só não consegue mais trabalhar, como também não consegue desempenhar atividades corriqueiras de seu dia a dia. A pessoa não quer sair de casa. Muitas vezes o desleixo consigo mesma é tamanho que abandona até hábitos básicos de higiene. Evita contato, até mesmo por telefone. Existe risco de suicídio, se a pessoa tiver forças para isso, porque muitas vezes nem para se matar ela consegue sair da cama. É preciso cautela no tratamento da Depressão G, pois muitas vezes se você der um remédio a um paciente que está inerte na cama, ele aproveita esse rompante de energia e o usa para se matar em vez de usar para tomar um banho.

“Mas Sally, eu acho que isso é frescura moderna e falta de um tanque cheio de roupa suja para lavar. Minha avó trabalhava feito um camelo e não tinha depressão nem ninguém naquela época tinha depressão”. Tinham sim, só não tinham o DIAGNÓSTICO. Na época da sua avó a ciência era atrasada, mulheres morriam de câncer de mama, de parto e até de indigestão! DISSO ninguém lembra, né? Diagnóstico é algo que só um MÉDICO pode te dar. Desfavor, Google, um colega, um amigo, sua mãe… são todos curiosos. Está na dúvida? Procure um médico. Aliás, procure MAIS DE UM médico, e de preferência recomendado por pelo menos três pessoas, porque vou te contar, o que tem de médico socando remédio em pessoas que apenas estão tristes… Um horror. É um tal de justificar tudo com “estresse” e sair medicando a pessoa. Não posso com isso!

Aliás, muito se engana quem pensa que um comprimido resolve a vida de um deprimido. É necessário ma maior parte dos casos (até porque, quando as pessoas se mexem, para procurar um médico é porque a coisa está séria), mas também é indispensável um acompanhamento para cuidar do lado psicológico do paciente. E este é um processo demorado, e por demorado, estamos falando de ANOS, ok? A pessoa deprimida costuma ter uma imagem alterada dela mesma (para pior) e costuma ver o mundo com um filtro pessimista, sem conseguir usufruir das coisas boas ou se alegrar com elas. É preciso mudar esse padrão de funcionamento, recuperar a auto-estima e se fortalecer para que na eventualidade de outro fator desencadeante se apresentar, a pessoa não caia mais uma vez em depressão. Não adianta tirar uma criança que está se afogando da piscina e não ensiná-la a nadar e sair sozinha, se ela vai passar o resto da vida correndo em volta da piscina. Fatalmente, um dia ela pode cair novamente.

Um conselho de uma leiga: não importa o que esteja acontecendo com a sua vida, tristeza, desânimo e falta de energia prolongados não são coisas normais e não se justificam. Você não precisa viver assim. Existem pessoas que podem te ajudar. Não se limite a explicar e se justificar seu estado com eventos de sua vida quando o mal estar é duradouro. Se não está passando, é hora de procurar um médico. Que mal pode fazer? Na pior (ou seria melhor?) das hipóteses ele dirá que você não está deprimido. Ótimo! Não se acomode, as pessoas se acomodam nesta situação e aprendem a funcionar assim, com tristeza e falta de energia diários, com desinteresse, desânimo. Não espere que isso se torne incapacitante, pois perder qualidade de vida é perder muito. Se é possível viver melhor, porque não? Admitindo ou não, diagnosticando ou não, o problema vai continuar ali.

Eu queria explicar as alterações que a depressão provoca no cérebro e como atuam os medicamentos, como convencer um deprimido a procurar ajuda, tratamentos alternativos e outras coisas, mas considerando que estou na sexta página, devo parar por aqui.

Para dizer que duvida que eu realmente esteja escrevendo todos esses textos todo santo dia e me acusar de ter ghostwriter, para fazer algum trocadilho loser com o tema e o blog ou ainda para dizer que prefere comentar na postagem de segunda pois o assunto é mais interessante: sally@desfavor.com

Complexo de vira-lata ativando em 3, 2, 1...Muitos conhecem esta história, ou apenas flashes dela. Mas hoje vou contar inteira e perder todos os leitores que vivem do Espírito Santo para cima. Observem eu não me importar.

Lá fui eu conhecer o Nordeste, graças a mais um compromisso de trabalho de Siago Tomir. O Nordeste não é muito a cara dele, mas como era tudo pago mesmo, resolvemos emendar o carnaval por lá. Uma semaninha a mais, que mal aquilo podia fazer?

Por incompatibilidade de vôos, já que eu saía de um Estado e ele de outro, eu cheguei um dia antes de Siago Tomir. Um dia negro, diga-se de passagem. Um dia para se esquecer. Já no aeroporto, desembarcando, tive meu primeiro choque.

Sally: Que porra é essa?
Transeuntes: *olhar assustado
Sally: Sério. Que porra é essa?
Motorista do Táxi: Ôôôôôndiiiiii?
Sally: ALI! DO LADO DA MINHA MALA!
Motorista do Táxi: do lado do calango?
Sally: NÃO, É O FUCKIN´ CALANGO! QUE PORRA É ESSA?
Motorista do Táxi: É bichiiiiin di Deus
Sally: PELO AMOR DE DEUS, BOTA MINHA MALA PRA DENTRO E VAMOS SAIR DAQUI
Motorista do Táxi: A Senhóóóra tem mêêdu Du bixiiiiim?
Sally: Pavor. PAVOR. É uma lagartixa anabolizada, gigante, medonha!
Motorista do Táxi: Óóóóliii, Doooonaaaa… Móóórdiiii nãããão… óóólllliiii…
Sally: *batendo os dedos na bolsa impaciente, aguardando o sujeito demorar dez minutos para concluir uma frase
Motorista do Táxi: Sem quéééérer lhe aborrecer…
Sally: *um olho só latejando
Motorista do Táxi: Mas aqui têêêêin muitcho disso por aqui…
Sally: CALANGOS?
Motorista do Táxi: *fazendo que sim com a cabeça
Sally: Não faz mal, moço. Eu não vou ter contato com eles. Eu vou ficar no centro da cidade e só vou frequentar lugares fechados e…
Motorista do Táxi: A Sinhóóóóra é qui sabiiii

Chegado no Hotel, que só para constar, se dizia cinco estrelas e mesmo assim tinha um atendimento péssimo. Era um daqueles hotéis com poucos quartos, só de um andar, ou seja, poucos hóspedes, e ainda assim demorava duas horas para alguém te atender. Depois de exatos quarenta minutos na recepção até eles conseguirem a árdua tarefa de esticar o bracinho e me dar a porra da chave do quarto, finalmente achei que ia descansar. Minha primeira surpresinha foi ao entrar no quarto.

Sally: AAAAAHHHHHHHHHHHH
*nada nem ninguém
Sally: AAAAAHHHHHHHHHHHH
*grilos
Sally: *correndo até a recepção e deixando as malas para trás
Sally: MOÇO! MOÇO! ME AJUDA, TEM UM BICHO HORRÍVEL NO MEU QUARTO!
Rapaz da recepção: *pegando uma peixeira e andando em direção ao quarto
Sally: MATA! MATA!
Rapaz da recepção: Óooooliii, num tô vendo biiichu nãããão…
Sally: ALI, MOÇO! ALI! *apontando
Rapaz da recepção: Ôôôôndiii? Atrás do calango?
Sally: NÃO, MOÇO! É O CALANGO! O BICHO HORRÍVEL É O CALANGO! MATA! MATA!
Rapaz da recepção: Maaaato nãããããooo…
Sally: *cara de espanto
Rapaz da recepção: Maaaato nãããããooo…
Sally: HÃ?
Rapaz da recepção: É bichuuuu lindu di Deeeeus
Sally: HÃÃÃÃÃ???
Rapaz da recepção: É bichuuuu lindu di Deeeeus
Sally: E EU? EU EU SOU O QUÊ? EU SOU DO DEMO? PELO AMOR DE DEUS MATA ESSE BICHO!
Rapaz da recepção: Maaaato nãããão *virando de costas e saindo
Sally: *cara de bunda
Rapaz da recepção: *virando as costas e indo embora
Sally: EU SOU CLIENTE DO HOTEL! VOCÊ TEM NOÇÃO DISSO? VOCÊ TEM QUE ATENDER SEUS CLIENTES!
Rapaz da recepção: É bichuuuu lindu di Deeeeus, é pééééécadu mataaar…
Sally: Somir tem razão, é a religião que FODE este mundo! PUTA QUE PARIU! CARALHO! MAS QUE MEEERDA!
Rapaz da recepção: *indo embora sem cerimônia

Espiei de longe pela porta. O calango me olhava e balançava o pescoço. Ele não parecia se importar com a minha presença. Ele era o dono do quarto. Bati forte com o pé no chão e ele cagou e andou para mim.

Sally: *pegando o telefone celular
Somir: Alô?
Sally: EEEEEUÃOOUENTREMUMICHORRIVELOMEUARTOOOOO!
Somir: Tenta mais uma vez com as consoantes
Sally: EEEEEUÃOOUENTREMUMICHORRIVELOMEUARTOOOOO!
Somir: Sally, eu vou precisar que você se acalme para que eu possa te entender
Sally: EU NÃO VOU ENTRAR AQUI, TEM UM BICHO HORRÍVEL NO MEU QUARTO!
Somir: Pede para alguém matar pra você
Sally: EU TENTEI, MAS ELES FALAM QUE ESSE BICHO É DE DEUS
Somir: Puta que pariu… DEUS? Já vi que eu não vou gostar desse lugar
Sally: EU NÃO VOU FICAR NESTE HOTEL, ELES SÃO PREGUIÇOSOS, INSOLENTES, NÃO FAZEM QUESTÃO DE AGRADAR UM CLIENTE!
Somir: é véspera de carnaval, você acha que vai ter outro lugar disponível?
Sally: VEM PRA CÁ AGORA MATAR ESSE BICHO!
Somir: Não tem passagem, você sabe disso
Sally: O que é que eu faço?
Somir: Joga alguma coisa nele até ele ir embora

Em um primeiro momento, pensei que não teria coragem. Mas o tempo foi passando e estava ficando incômodo esperar do lado de fora do quarto. Quando os mosquitos (do tamanho de andorinhas) começaram a me comer viva, percebi que teria que fazer alguma coisa. Abri a mala e peguei uma bolinha de meia. Mirei bem no calango e joguei. Eu sei que vão ficar dizendo que eu invento coisas pouco plausíveis quando escrevo estes textos etc, etc, mas a porra do calango desviou da minha bolinha de meia. EU JURO. Mas tudo bem, nem o Somir acredita em mim… Comecei a atirar mais coisas nele e ele não parecia se importar.

Somir: Alô?
Sally: Ele não vai embora
Somir: Jogou coisas nele?
Sally: Joguei e eu sei que você vai me chamar de maluca, mas ele desviou
Somir: Calango Matrix? Não expulsa ele não, deixa ele aí até amanhã porque eu tenho que ver isso! hahaha
Sally: Não tem graça. Preciso de uma solução.
Somir: *digitando
Sally: É sério que eu estou aqui me fodendo toda e você está no MSN?
Somir: Shhhhh
Sally:
Somir: Ele respira pela pele
Sally: onde você quer chegar?
Somir: Ele precisa de umidade para respirar
Sally:
Somir: Liga o ar condicionado do quarto bem gelado, bate a porta e volta no final do dia, ele provavelmente vai ter ido embora
Sally: ok

O quarto já estava todo fechado mesmo. Em um rompante de coragem meti minha mão para dentro e peguei o controle remoto do ar. Liguei na temperatura mais baixa, joguei minha mala do lado de dentro, peguei minha bolsa e fui ao maior shopping da cidade dar uma volta. Coitada de mim achando que no shopping eu estaria livre de aborrecimentos… logo na entrada vi um calango do lado de dentro do shopping. E tirei foto, porque é o tipo de coisa que se você sair contando por aí parece mentira ou implicância com o lugar. Um calango ao lado de uma famosa loja de roupas. Parece piada. Piada de mau gosto. E documentada.

Sentei para comer alguma coisa. Funcionava da seguinte forma: com a mão direita eu segurava o garfo e com a mão esquerda eu espantava as moscas, porque sim, é cheio de moscas em tudo quanto é canto, até mesmo do lado de dentro de um shopping fechado e com ar condicionado. Quando as moscas venceram e finalmente conseguiram pousar na minha comida, desisti e fui dar uma volta. Mas ao entrar em algumas lojas, rapidamente desisti de comprar qualquer coisa.

Sally: Boa tarde, qual é o preço desse vestido?
Vendedora da loja: Agóóóra ey tô na minha hóóóra di almoooço, volti dêpóis!
Sally: Desculpe, é que como você não estava comendo eu não sab…
Vendedora: *puxa uma marmita da bolsa e começa a comer, no meio da loja

Sally: Vou querer uma água sem gás, por favor
Vendedora: Na garrafa ou da bica direeeeto?
Sally: Deixa eu te fazer uma pergunta… a da garrafa… ela vem da bica?
Vendedora: As veeezes vem
Sally: Então vou querer um Guaraná, por favor

Sally: Boa tarde, tem inseticida?
Vendedora Diii quiii tipuuu?
Sally: Do tipo que mata tudo, até um boi
Vendedora: Maaaaaiis, qui animal a Sinhooora quer mataaar? Musquiito?
Sally: Não, aqueles ali *apontando pro calango
Vendedora: É bichuuuu lindu di Deeeeus
Sally: aff Me dá qualquer um! E DEUS QUE SE FODA, VIU MOÇA?

Sem comprar nada, além do inseticida, sem conseguir comer e sem sequer conseguir beber água, voltei para o Hotel.

Já estava anoitecendo. Percebi uma realidade triste: para chegar aos quartos era preciso passar por uma grande área verde que margeava a piscina. Quando cheguei, esta área estava lotada de pessoas, mas agora no final do dia estava vazia. Exceto pelos calangos.

Passei o mesmo perrengue em Fernando de Noronha. Quando criaturas assim não são atacadas, espancadas e mortas por seres humanos (como são aqui no Rio de Janeiro), elas simplesmente não tem medo do homem. Em Fernando de Noronha uma perereca me atacou (piada fácil), um dia conto essa história. O fato é que os calangos não tinham medo, por pura falta de porrada mesmo. Essa babaquice de respeitar a natureza criou animais sem medo do ser humano. Fiquei batendo o pé para eles saírem, mas nada. Começava a escurecer mais. Percebi que seria terrível passar por aquilo à noite. Então, não tinha outro jeito. Decidi passar correndo.

O problema é que além de não ter medo de mim, um dos calangos ainda se sentiu no direito de me enfrentar. O Somir duvida, mas eu juro que um deles correu atrás de mim. Comecei a gritar e levei uma corrida do calango. No desespero me joguei na piscina – de roupa. Vários hóspedes saíram das suas janelas para olhar. Cheguei a pensar em ficar boiando com o rosto para baixo, porque seria menos humilhante se eles achassem que eu estava morta, mas quando percebi que os calangos tinham medo de água, comecei a jogar água neles, até abrir um espaço e eu correr para o meu quarto.

Somir: Alô?
Sally: Somir, NÃO VEM
Somir: Hã?
Sally: NÃO VEM, SALVE-SE, AINDA DÁ TEMPO
Somir: Sally, tá tudo pago…
Sally: Então tá, se quiser, vem, mas eu te aviso que eu volto amanhã
Somir: Sally, se acalma. Não tem passagem para o Rio em pleno carnaval!
Sally: Não. Não me acalmo. Vamos cancelar esta merda, foda-se o teu trabalho, foda-se se vamos perder dinheiro, vamos passar o carnaval na sua casa se não tiver passagem para o Rio!
Somir: Nem pensar, eu tenho que assinar esse contrato, vou para aí!
Sally: QUERO QUE CONSTE QUE EU TENTEI TE AVISAR
Somir: Sally…
Sally: BABACA! *clic!
Somir: Sally? Sally?
tu… tu… tu…

Abro a porta do quarto, ensopada e me deparo com aquela temperatura gelada. Nem sinal do calango Matrix, que eu apelidei de Fred. Bato a porta, dou uma geral no quarto e nem sinal do Fred. Tomo um banho e deito na cama para dormir: de calça jeans, meias e tênis, porque vai que esse bicho asqueroso reaparece e encosta em mim! Dormi assim. Toda coberta e de tênis.

No dia seguinte, acordo com o barulho dos outros hóspedes. Levanto da cama e quem está ali, ao pé da cama para me recepcionar? Fred, balançando seu pescoço. Dou um pulo em direção à porta, pego a bolsa, saio do quarto e apenas coloca a mão para dentro jogando todo o pote de inseticida que comprei no shopping, sem escovar os dentes, sem lavar o rosto, sem pentear o cabelo. Quase tive um colapso estético.

Vou tomar café da manhã do hotel, sempre competindo com as malditas moscas. Escovo os dentes no banheiro do restaurante. Tudo bem, Somir chegaria em breve. Tudo bem? Afff. Meu telefone tocou.

Sally: Alô?
Somir: Você tem razão, eles são grandes e estão por todas as partes
Sally: Tem que ver aqui no jardim do hotel
Somir: Jurassic Park?
Sally: Sim, Jurassic Park
Somir: Estou no táxi, chegando
Sally: Que conste que eu te avisei para não vir
Somir: hahahahaha
Sally: BABACA! *clic

Somir: Bom dia, tem uma reserva em nome de Sally Somir, você sabe me dizer qual é o quarto dela?
Rapaz da recepção: Um minutiiinhu *vendo TV
Somir: * cara de impaciente
Rapaz da recepção: *vendo TV
Somir: Amigo, é só me dizer o número do quarto!
Rapaz da recepção: Um minutiiinhuuuu *vendo TV

Sally: Alô?
Somir: VOCÊ SABE ME DIZER O NÚMERO DO NOSSO QUARTO, PORQUE AQUI NA RECEPÇÃO ELES ACHAM MAIS IMPORTANTE VER TV DO QUE ATENDER A UM HÓSPEDE?
Sally: Eu avisei. Eu tive que me virar sozinha ontem, você se vire sozinho hoje… *clic
Somir: Amigo, se você não me der o número do meu quarto eu vou para outro hotel
Rapaz da recepção: Óóóóliii, não tá vendo que eu tô ocupaaaadooo?
Somir: *entrando na recepção e andando até o jardim do hotel
Somir: SAAAALYYYY! SAAAALLYYY!

A gritaria foi tanta que tive que sair do restaurante do hotel, porque ele não ia parar.

Sally: Bom dia, Somir
Somir: Onde fica o quarto?
Sally: Cruza aquele jardim da piscina todo, sobre aquela escadinha de madeira e é o primeiro quarto à esquerda

Andamos até o quarto. Somir abriu a porta e o calango estava lá olhando. Somir tirou o tênis e deu uma porrada que partiu o calango em dois.

Somir: Eu sabia que você estava mentindo, ele não desvia porra nenhuma
Sally: Ontem ele desviou da minha meia, levantou até uma patinha
Somir: Você está alucinando. Também, pudera, olha o cheio de inseticida deste quarto! Eu estou quase vendo o Raul Seixas!
Sally: Hoje à noite você vai promover uma chacina na beira da piscina, quero todos mortos
Somir: Se eles são de Deus, pode contar comigo! Estou com fome, vamos comer
Sally: Onde você quer comer?
Somir: Em um lugar que tenha ar condicionado, estou derretendo
Sally: HÁ!
Somir: *branco
Sally: Quase nada aqui tem ar condicionado, meu querido…
Somir: BARBÁRIE
Sally: E mesmo onde tem ar, tem milhões de moscas em cima da sua comida
Somir: Onde suas amigas te recomendaram comer?
Sally: Em um quiosque na beira da praia
Somir: *cara de nojo
Sally: Eu te dei a chance de ficar… eu te avisei.

Chegando no quiosque, fizemos o pedido, que demorou cerca de duas horas para ficar pronto (e não se tratava de nenhum prato muito sofisticado)

Garçom: Óóóóliii… a Sinhoraa é Argentiiiina?
Sally: Sou
Garçom: Poooois si eu soubééésssssi tinha é posto VENÉÉÉNO na sua comiiida, que eu ÓÓÓÓDEEEIO ARGENTINO
Sally: Ok, isso foi desagradável
Somir: Todo mundo odeia argentinos
Sally: Mas ninguém fala, principalmente quando a pessoa está PAGANDO
Garçom: ÓÓÓDEEEIO ARGENTIIIINO! ÓÓÓDEEEIO
Sally: Eu não vou pagar
Somir: Tudo bem, eu pago
Garçom: ARGENTIIINO E PAULIIIISTA, EU ÓÓÓDEEEEIO PAULISTA
Somir: Ok, vamos sair sem pagar
Sally: Eu não vou comer aqui
Somir: Deixa o nosso amigo voltar para a cozinha que a gente vai embora
Sally: Ok
Somir: Tava foda aqui mesmo, cheio de moscas
Sally: HAHAHAHA, acostume-se, até no shopping é assim

Estávamos andando procurando um lugar para comer que tivesse ar condicionado quando passamos pela porta de uma grande academia. Resolvi entrar, afinal, tinha que ter algo de bom estar no Nordeste. Dar uma dançadinha ia me animar!

Sally: Olá, que horas é a aula de lambaeróbica?
Recepcionista: A gentiii não faiiiiz dessas cóóóisas por aqui nãããão
Sally: “Dessas coisas”?
Somir: Cobrar por aula de axé é praticamente vender drogas, Sally
Recepcionista: Isso éeéé cóóóisa de Pernambucano!
Somir: Achei que do Espírito Santo para cima todo mundo dançasse axé…
Sally: Achei que pelo menos no Nordeste as pessoas dançassem axé…
Recepcionista: Isso éeéé cóóóisa de Pernambucano!

Saímos da academia e continuamos nossa procura.

Somir: Povo hospitaleiro, não?
Sally: Não gostam de Argentino, de Paulista, de Pernambucano
Somir: Também não gostam de carioca, o taxista que me trouxe me falou
Sally: Um povo muito simpático
Somir: Depois o pessoal do Sul é que é metido
Sally: Meu querido, o Brasil, quanto mais perto da Argentina, melhor fica. E quanto mais longe, pior.
Somir: Ainda bem que você não tem medo de barata…
Sally: Para! Olha o tamanho daquela barata! Pega a máquina!
Somir: Parece um fusca preto! Só falta a placa na parte de trás!
Sally: Parece um Ford K, tira foto! Tira!
Somir: Espera, ela se escondeu atrás do pastel, deixa ela sair…
Atendente da padaria: Tããão namóóórando o pastéééél, né? Quééé um pastééél? Tão olháááándo faiiiiz tempoooo pru pastéééél!
Sally: Não, não, obrigada
Somir: De dieta *passando a mão na barriga

Desistimos de encontrar algum lugar com ar condicionado e sem insetos e voltamos para o hotel. Quando estávamos entrando na porta do hotel, entra junto com a gente um casal gay e o recepcionista solta um comentário extremamente preconceituoso

Somir: Sally, não
Sally: Desculpa, o que foi que você falou?
Rapaz da recepção: QUI SI EU PUDÉÉÉSSI, EU MATAVA
Sally: Ontem eu te pedi para matar um calango e você se recusou citando o nome de Deus e agora está me dizendo que mataria outro ser humano? O calango é melhor do que gente?
Rapaz da recepção: É bichuuuu lindu di Deeeeus
Sally: E aquelas pessoas que entraram aqui, não são de Deus?
Rapaz da recepção: Sãããão nããããão, são tudo di Péééérnambuco!
Somir: HAHAHAHAHAHAHA
Sally: Ah é? Não tem gay aqui não?
Rapaz da recepção: Tem nããão
Sally: Que mentira! Já vi vários casais gays aqui!
Rapaz da recepção: Veeem tudo di Péééérnambuco!
Somir: O que é pior, ser pernambucano ou ser argentino?
Rapaz da recepção: *pensando
Sally: *dando porrada no braço do Somir

Comemos (mal) no hotel e depois saímos para dar uma volta. A grande atração era uma feirinha de artesanatos. Porque as pessoas gostam desses artesanatos bizarros e mal feitos? Só eu que acho horrendos aqueles bonequinhos de barro tortos e aquelas carrancas?

Somir: Não tem nada digital pra vender aqui não?
Sally: Tá achando que tá onde, Madame? Mal tem luz elétrica nessa cidade…
Somir: Não era exagero seu, este lugar é uma merda completa
Sally: Vamos ter que passar quase dez dias aqui, não estou acreditando
Somir: A gente vai ter que se acostumar
Sally: É
Somir: Que cara é essa?
Sally: Tenho uma coisa para te contar
Somir: Você está grávida?
Sally: Pior
Somir: Você está grávida de outro?
Sally: Pior
Somir: Medo
Sally: Não tem internet no nosso hotel e não achei nenhuma lan por perto
Somir: NÃÃÃÃÃÃÃOOOO
Sally: Vamos ter que ficar dez dias aqui porque não tem passagem para voltar
Somir: Se a gente cometer um crime quem sabe eles nos coloquem em uma avião e nos mandem de volta à força!
Sally: Quem você prefere matar, o recepcionista do hotel ou o garçon no quiosque?
Somir: Um pra mim, um pra você

Continuamos andando em silêncio

Somir: Olha ali, a prole dançando axé
Sally: Somir, isso é forró
Somir: Tudo a mesma merda
Sally: Eu não acredito que nem mesmo toca axé aqui!
Somir: Depois você liga para as tuas amigas que te recomendaram este lugar e agradece, viu?
Sally: Muita gente fala bem daqui
Somir: As pessoas daqui vivem em slow motion
Sally: Vai ver é a gente que vive muito acelerado…
Somir: É, porque o normal é um hóspede pedir uma água e demorarem uma hora e vinte para trazer! Receita de sucesso, eficiência e bom atendimento!
Sally: E se a gente for para o aeroporto e ficar ali esperando vagar um vôo?
Somir: Não estou tão desesperado assim para viver em um aeroporto!
Sally: Tom Hanks me entenderia

Chegando no hotel

Somir: Sally, você desligou o ar condicionado antes de sair porque?
Sally: Eu não desliguei
Somir: Desligou sim
Sally: Não desliguei não
Somir: DESLIGOU, SALLY, DEIXA DE SER TEIMOSA!
Sally: Preta atenção: EU NÃO DESLIGUEI A PORRA DO AR
Somir: Então porque o quarto está um forno?
Sally: Somir… *apertando o botão do ar
Somir: Sally?
Sally: SOMIR!
Somir: Não…
Sally: Somiiiiiir!
Somir: Quebrado?
Sally: sim
Somir: Alô? É da recepção? Vocês podem mandar um funcionário aqui JÁ, NESTE MINUTO, E UMA EMERGÊNCIA?
Sally: Eles disseram que vão mandar?
Somir: Sim
Sally: Você sabe que é mentira, né?
Somir: Sim
Sally: Você sabe que quando vier, vem o I Hate Pernambuco, que não vai poder fazer nada para nos ajudar, né?
Somir: Sim
Sally: *fazendo as malas

Contados no relógio, uma hora e meia depois, chega o recepcionista I Hate Pernambuco

Somir: O ar condicionado quebrou
Recepcionista do hotel: Vô mandáááá chamááá um tééééquiiinicuuu
Somir: Vem agora:
Recepcionista do hotel: Nãããão
Somir: Vem ainda hoje?
Recepcionista do hotel: Nãããõ
Somir: Vem de Pernambuco?
Sally: Obrigada, viu? Obrigada por chamar um técnico, enquanto isso, para que quarto a gente pode ir?
Recepcionista do hotel: Teeeiiim mais quarto nããããão
Sally: Vamos ter que dormir aqui sem ar condicionado?
Recepcionista do hotel: É siiiim
A cara do Somir estava desfigurada. Achei que ele fosse matar o recepcionista de pancada, mas apenas ficou imóvel enquanto ele se retirava.

Somir: Isto não pode ficar pior!
Sally: Sem querer ser escrota, mas pode sim. Às seis da tarde começa a hora do lanche dos mosquitos, aí você vai ver
Somir: Vou trazer calangos para o quarto, eles comem mosquitos!
Sally: Quer morrer?
Somir: Tem idéia melhor?
Sally: SIM, VOLTE NO TEMPO E ESCUTE A SALLY!
Somir: Vamos para outro hotel!
Sally: Véspera de carnaval, tudo lotado
Somir: Vamos ficar com tudo fechado, foda-se o calor
Sally: Ok, podemos tentar

*horas depois

Somir: EU VOU MORRER! ESTOU DESIDRATANDO!
Sally: Abre a janela então, já anoiteceu mesmo…
Somir: Pronto, está aberta
Sally: Vai entrar de tudo por essa janela, até javali
Somir: Chega, vamos dormir, amanhã tenho que estar bem para fazer a apresentação durante o jantar
Sally: Dorme você, eu não vou dormir. Os bichos de Deus vão dar uma festa neste quarto hoje
Somir: Eles vem vingar a morte do Fred
Sally: Nisso que dá não enfiar o cacete em qualquer animal menor que cruze o caminho do homem, esses bichos ficam insolentes
Somir: O que é aquilo?
Sally: Ou é o Batman, ou é o maior morcego que eu já vi
Somir: *correndo para o banheiro
Sally: Qual o seu problema:
Somir: ESSES BICHOS TRANSMITEM RAIVA! *gritando do banheiro
Sally: Tá com medinho do morcego?
Somir: É uma questão de saúde pública! *gritando do banheiro
Sally: Eles tem um radar sofisticado, já já ele acha a saída do quarto
*morcego se esborracha contra a parede
Somir: CHAMA ALGUÉM DA RECEPÇÃO PARA MATAR! *gritando do banheiro
Sally: Pra que? Pra dizer na minha cara mais uma vez que é bicho lindo de Deus?
Somir: FALA QUE É UM MORCEGO PERNAMBUCANO! * gritando do banheiro
Sally: AAHHHHHHHH! SOMIIIIIR!
Somir: ELE TE MORDEU?
Sally: UM CALAAAAANGO! ABREEEE! ABRE A PORTAAA! *esmurrando a porta do banheiro
Somir: E se o morcego entrar?
Sally: ABRE OU EU DERRUBO, DAÍ OS DOIS FICAM SEM ABRIGO!

Somir abriu uma frestinha e eu entrei correndo. Lá estávamos nós, dois marmanjos, sentados no chão do banheiro.

Sally: E agora? Vamos dormir aqui?
Somir: É mais fresquinho que o quarto
Sally: Não! Vamos fazer uma força-tarefa, eu cuido do morcego e você do calango!
Somir: Sally, aquele morcego pode te carregar para fora do quarto se ele quiser
Sally: Então mata o calango que eu saio e vou buscar ajuda
Somir: Não! E se o morcego me morder? Já imaginou como são os hospitais daqui?
Sally: Ele não vai te morder
Somir: Além disso não adianta nada chamar os funcionários do hotel!
Sally: E quem disse que eles são a ajuda? Eu pensei em pegar meia dúzia de gatos vira-lata na rua para espantar ou caçar os bichos…
Somir: Sério?
Sally: Muito sério
Somir: Então eu vou abrir a porta do banheiro e você sai correndo para fora do quarto do hotel
Sally: Tá, mas você vem comigo, porque tem os calangos do quintal
Somir: Pega a bolsa antes de sair, aquela grande, e a gente vai
Sally:

Em um movimento rápido Somir abriu uma fresta da porta e saímos correndo. Peguei a minha bolsa numa vibe meio Indiana Jones, com a porta quase fechando. Somir chutou uns calangos no jardim e fomos para a rua atrás de gatos.

Catamos uns três gatos e colocamos dentro da minha bolsa. Na volta ao hotel, o demorado e doloroso processo de conseguir a chave do quarto.

Somir: Amigo, é só pegar a chave
Recepcionista: *vendo TV
Somir: Posso pegar? Se você está ocupado eu pego…
Recepcionista: *vendo TV
Sally: Eu vou subindo, tá? *passando correndo pela recepção
Miiiaaaaaaaaauuuuuuu
Recepcionista: *olhando desconfiado e pegando a chave
Somir: Pronto, Sally, vamos!
Sally: os calangos, Somir! Mata!
Somir: Olha! Alguns já estão até correndo da gente!
Sally: Só a porrada contrói!
*abrindo a porta do quarto
Recepcionista: Óóóó Dóóóóna, u quê qui teeeein na sua bóóóólsa?
Sally: Um vibrador
Somir: *tapa na testa
Recepcionista: *confuso, coçando a cabeça

Teria dado certo se um dos gatos não tivesse colocado a cabeça para fora da bolsa

Recepcionista: Óóóóliii, aqui nóóóis não pééééérmitimos animaaaais!
Sally: AH NÃO? PODE CALANGO, PODE MORCEGO, PODE MOSQUITO… Só não pode gato?
Recepcionista: Nuum póóódiii entrááá cum gaaaato nãããão
Sally: *batendo a porta do quarto na cara do recepcionista
Somir: Cadê o morcego? Cadê o calango?
Sally: Devem estar escondidos, mas eles vão achar
Toc! toc! toc!
Somir: Sim?
Gerente: Óóóliii, eu sou a géééééérenti do Hotel
Somir: Foda-se
Gerente: Mi diiisseram qui vóóóceis trouxeram animáááis pru quartu
Somir: mentira
Miaaaau
Somir: É a minha esposa, ela mia
Gerente: Vóóóóceis tem que tiiirar esses animaaaais do quááárto agóóóra
Sally: PÓÓÓSSU NÃÃÃÃO, sabe porque? Porque são BIIICHUUUS LIIINDUS DI DÉÉÉÉUUUS, Minha Querida!

Somir: “Convidados a nos retirar”, que eufemismo para “expulsos”
Sally: Olha o lado bom, estamos em um táxi, indo para o aeroporto
Somir: Vamos viver no aeroporto por dez dias
Sally: Lamento pelo seu trabalho
Somir: Tudo bem, se desse certo, a proposta era para morar aqui
Sally: O QUE?
Somir: Relaxa, eu nunca moraria aqui!
Sally: Mas você nem me consultou?
Somir: Mas eu não estava me mudando!
Sally: MESMO ASSIM! Se eu soubesse que a proposta era essa, NEM VINHA!
Somir: Vai começar o show…
Sally: Você decide tudo sozinho, você é um egoísta, Somir!
Somir: *colocando fones de ouvido

No aeroporto:

Sally: existe alguma chance de ter alguma passagem para o Rio de Janeiro?
Atendente: Não
Sally: Para Campinas?
Atendente: Sim
Sally: Viu, Somir? Ninguém quer passar o carnaval em Campinas
Somir: A gente quer, mais do que tudo! Duas passagens, para o quanto antes
Atendente: O vôo sai em vinte minutos
Somir: Maravilha! Vamos, Sally, o embarque é logo ali
Sally: Espera
Somir: Você não vai fazer isso…
Sally: VOU SIM *tirando os sapatos e batendo um no outro
Sally: DESSA TERRA EU NÃO QUERO NEM O PÓ!
Somir: Vamos Carlota, se acalme.

Nunca passei um carnaval tão feliz em Campinas.

Se você vai ao Nordeste, pense bem se é seu tipo de lugar. As pessoas aprenderam a falar bem culturalmente de lá e os elogios foram se espalhando e aumentando com o tempo, como uma espécie de lenda urbana do bem. Dependendo da cidade é tudo muito precário e tosco. Não é para qualquer um. Estude, se informe. Não caia na furada que eu caí.

Para rir da cara do Somir porque esta postagem ficou com TREZE páginas, para me chamar de PREconceituosa apesar de saber que não se trata de PREconceiro pois eu conheci o lugar ou ainda para dizer que quando eu conto a história ao vivo é bem mais divertido porque eu pego beeem mais pesado: sally@desfavor.com

FuckfuckfuckfuckfuckComprovando a vocação intelectual do desfavor, hoje trataremos sobre um assunto de suma importância na vida de um ser humano que se preze: O dilema da falta de papel higiênico. Diante da merda literal e da figurativa, Sally e Somir divergem sobre o papel mais aceitável…

Tema de hoje: É aceitável pedir papel higiênico para terceiros?

SOMIR

Não é agradável, não é motivo de orgulho, mas dadas as seguintes circunstâncias é mais do que aceitável! A vida é feita de escolhas, a vida é feita de comprometimentos com seus ideais… E podem me chamar de romântico incorrigível, mas manter minha bunda limpa é um desses ideais.

Mesmo que exista um preço a se pagar por isso. Reconheço que não é um dos momentos mais glamourosos da vida berrar pela porta do banheiro que precisa de um rolo de papel higiênico, mas ignorar completamente sua humanidade por um senso de dignidade distorcido também não diz maravilhas sobre você.

Sempre considerei o papel higiênico uma das maiores invenções da humanidade. Frequentemente negligenciado por sua função desagradável no imaginário popular, é definitivamente uma das idéias mais brilhantes da humanidade. Uma que nos carregou a uma nova era de cus menos fedidos no dia-a-dia. Vamos cagar em cima da evolução social e tecnológica humana por medo de descobrirem que cagamos?

Ah, vá à merda!

Pensemos numa situação possível: Você acaba de fazer sua arte barroca, pintando a porcelana. Aquele alívio que só um intestino seguro de ter cumprido sua missão dá lugar ao desespero ao se notar que não há mais papel higiênico no rolo… E agora? Temos uma bunda cagada e uma tragédia anunciada!

Primeira idéia: Adeus, meia! Mas… isso só funciona em alguns casos específicos, e mal e porcamente, para completar. Se você está usando uma meia branca comum, o tecido consegue absorver os resíduos, até mesmo se eles forem mais líquidos que o normal (Diarréia atrai falta de papel, lei de Murphy…). Mas nem sempre estamos de tênis. Principalmente no caso das mulheres… E várias meias são feitas de tecidos mais finos e elásticos, que além não coletar merda ainda fazem o desfavor de espalhá-la mais ainda.

E para completar, convenhamos que é uma oferta de área útil muito limitada. Duas meias, frente e verso. Mas é tecido, capaz do verso já estar irremediavelmente amarronzado quando você finalmente puder utilizá-lo.

O mesmo vale para a maioria das outras peças de roupa que acabam se tornando vítima da falta de papel. Falta espaço e nem todos os tecidos servem para isso. E reze para o banheiro ter lixo. Resultado: BUNDA SUJA.

Segunda idéia: Água! Parece a solução mais higiênica, mas as coisas não cheiram tão bem assim na realidade. A primeira idéia é o bidê, caso você o tenha por perto… Mas sem usar o papel antes, grandes riscos de você soltar micro-toletes (os famosos Tarzans de pelo de cu) no fundo da porcelana, e eles tem o péssimo hábito de ficar onde pousam. Uma pequena distração e a próxima pessoa que usar o banheiro vai ter a maravilhosa oportunidade de ver um pequeno pedaço do seu almoço do dia anterior depositado no fundo do bidê.

E jamais nos esqueçamos: O cidadão (ou cidadã) não vai enfiar a bucha da privada no rabo para fazer o serviço, vai ser na mão mesmo. Sexy. Essa pessoa vai secar a mão na toalha do banheiro e usar o sabonete da pia? Que bênção!

E sem o bidê na equação, temos a nefasta possibilidade da pia. Imagine a cena: A pessoa fazendo conchinhas com água da torneira e se limpando enquanto aquela água cagada escorre livremente pelas pernas. Se não for esperto para tirar a meia, é mais ou menos como utilizar a primeira opção sem o bônus de jogar a meia fora.

Fica também a possibilidade de tomar um banho completo: O que depende de se estar num banheiro com chuveiro. E como a idéia original era cagar, duvido que se tenha uma toalha à disposição. Pedir uma toalha é mais digno, mas não engana o elemento externo… É capaz até da outra pessoa achar que você cagou nas calças. Lá se vai o fator “não tenho cu”.

E outra: Prefiro mil vezes entregar papel para alguém do que imaginar que essa pessoa limpou a bunda cagada num chuveiro que eu pretendo usar. Água é um passo posterior ao papel.

O resultado de usar a água pode ser uma PORQUICE ou mesmo a CONFIRMAÇÃO que você estava lá para cagar.

Uma última idéia: Mão marrom. Nem preciso dizer como isso joga muito mais contra a presunção de dignidade de um ser humano do que pedir um rolo de papel, não?

O certo é largar de frescura e usar a opção mais higiênica. Nem que isso te exponha ao “ridículo” de assumir que tem funções fisiológicas como qualquer outro ser humano.

Uma pessoa digna escolhe o caminho mais digno NO CONJUNTO DA OBRA(da), e não apenas na visão de outras pessoas. Erguer a voz e pedir por um rolo de papel higiênico te exporá como ser humano cagador, mas pelo menos demonstrará sua determinação em se manter limpo.

A longo prazo é melhor entregar alguns rolos de papel higiênico do que ficar imaginando que cheiro estranho é aquele na sala… Merda fica no banheiro! E longe da pia, bando de porco!

O correto mesmo é prestar atenção se tem papel no banheiro antes de arriar as calças, mas todos sabemos que em alguns momentos da vida esse é um luxo com o qual não podemos contar: Nossas calças estão em jogo.

Não inventaram meias ou pias para limpar a bunda, inventaram o papel higiênico, parte do grupo de coisas que nos diferenciam dos animais irracionais. E eu faço questão de honrar nossa tradição racional.

Olhos podem ser fechados, respirações podem ser seguradas… Só vê e cheira o produto final dos outros quem QUER.

Para me chamar de porco para fazer pose na internet, para me perguntar se eu pedia papel para a Sally, ou mesmo para sugerir formas mais eficientes/nojentas/criativas de limpar a bunda sem papel: somir@desfavor.com

SALLY

Lá está você, sentado(a) no troninho, obrando. Acaba o processo desagradável de soltar um tolete e você se depara com aquela verdade que causa aquela sensação de desamparo, como se a alma estivesse escorrendo pelo pé: não tem papel. Qual é a sua reação? Isso nos leva ao Ele Disse, Ela Disse de hoje: Se acaba o papel higiênico no banheiro, você pede para alguém de fora?

Uma das coisas que eu mais prezo nesta vida é dignidade. Sim, eu acho indigno você, toda cagada, pedir aos berros (porque vamos combinar que você não vai se levantar e ir até a pessoa com as calças arriadas e a bunda suja) para trazer papel. Principalmente quando esta pessoa for o seu parceiro, ou seja, uma pessoa que, presume-se, fará sexo com você poucas horas mais tarde. Não há condições.

Existem momentos em nossas vidas que, apesar de todos nós sabermos que existem e que acontecem com todo mundo, não devem ter a participação de terceiros. Muito pelo contrário, terceiros não devem sequer se lembrar de que este momento existe. Solicitar os préstimos de terceiros para viabilizar sua limpada de bunda depois de cagar fere a dignidade da pessoa humana. Ninguém tem que lembrar que você caga, muito menos saber quando está cagando.

Há outras opções. Sempre há outras opções. E todas elas me parecem melhores do que gritar por terceiros! Sei lá, toma um banho. Limpa com notas de dois reais (foi o Jacinto que uma vez contou nos comentários uma história muito engraçada sobre alguém ter limpado a bunda com notas de um real? queria ouvir essa história em um Desfavor Convidado). Tira a meia, limpa com a meia e depois joga fora. Dá um jeito. Tudo é menos indigno do que pedir auxílio externo, sabe porque? Porque o que quer que você faça para se limpar, o fará na privacidade do banheiro e ninguém nunca vai saber.

Não é inofensivo uma pessoa levar papel higiênico para outra pessoa toda cagada. Equacionem a cena: primeiro a pessoa vai saber QUANDO você está cagando. Sabemos que todo mundo caga e todo mundo fode, mas é extremamente constrangedor saber o exato momento em que a pessoa está cagando (ou fodendo). Excesso de informação. Segundo que quando a pessoa se aproximar para te entregar o papel (ainda que ela não entre no banheiro), vai sentir aquele aroma floral. Ninguém tem porque cheirar o seu cocô. Levar papel para uma pessoa que acabou de cagar é constrangedor e desconfortável tanto para quem demanda como para quem provê o papel.

O tamanho do vexame é inversamente proporcional ao grau de intimidade que se tem com a pessoa. Ao pensar neste tema fascinante de total relevância para a humanidade, provavelmente você se imagina pedindo papel higiênico para sua mãe ou para sua irmã. Pois bem, esta seria uma exceção, pois se você estivesse em uma casa onde tivesse total intimidade com o anfitrião poderia tomar um banho sem constrangimentos ou abrir os armários em busca de papel. Pedir papel a um familiar próxima continua sendo inaceitável, apesar de que algumas pessoas bizarras fazem questão de ter uma relação de total evasão de privacidade com a família. Existem coisas que são personalíssimas. Não devem ser compartilhadas nem com seu irmão gêmeo siamês. Você faria sexo na frente da sua mãe? Você faria sexo na frente da sua irmã? Cagar está nesse grau de privacidade na minha opiniãom e quem discordar de mim está mais perto de ser bicho do que de ser gente. (e lá vai alguém nos comentários dizer que eu disse que cagar e fazer sexo é a mesma coisa… aff).

Atentem como tudo piora quando se está na residência ou no consultório de uma pessoa com a qual não temos muita intimidade. Novamente quero frisar que a existência de intimidade não justifica o ato. Roubar um real ou roubar um milhão são crimes da mesma forma. Mas é inegável que a falta de intimidade piora as coisas. Realiza você berrando por papel na casa de um mero conhecido ou no consultório do seu dentista. Para começo de conversa, você NEM DEVERIA ESTAR CAGANDO LÁ, ok? Pessoas com semancol tem uma trava anal imaginária e involuntária que tampona seu cuzinho quando estão fora de casa. Pessoas dignas só cagam em casa e não me importa o quanto eu vou ser criticada por essa frase.

Mas supondo que você seja um hippie anal, super liberal e desprendido com essa questão e saia cagando sem a menor cerimônia em locais estranhos tal qual uma vaca ou um cavalo. Ciente disso, você deveria andar com um pacotinho de lenços de papel no bolso ou algum outro material de emergência. Supondo que além de hippie anal, você seja relapso e desprevenido e não ande com nenhum lenço, ainda assim, pense na vergonha recíproca que pedir papel vai implicar. Pense nos efeitos irreversíveis de perda de dignidade. Pense nos comentários que as outras pessoas que estão no recinto farão, pense no constrangimento e na fama de sem noção que você ganhará. É uma mancha na sua dignidade que não se apagará mais.

Pense, antes de fazer um estrago irreversível. A gente nunca sabe quem está nos vendo. A pessoa que hoje lhe leva um papel higiênico enquanto sua bunda está melada pode ser seu chefe ou sua esposa no dia de amanhã. E mesmo que você nunca mais veja esta pessoa, dignidade é como confiança: uma vez perdida, demora-se anos para reconquistar.

Solictar auxílio de terceiros para qualquer ato que envolva defecção em qualquer fase do processo é FUCKIN´ INACEITAVELMENTE SEM NOÇÃO, e se você não pode ver isso, bem, lamento informar mas você não é bem resolvido e sim um porco sem noção que paunocuza os outros com situações constrangedoras.

Para dizer que lamenta que o número de comentários em postagens como esta seja superor aos comentários de postagens de cunho político e social, para dizer que seu comparo cagar com sexo devo ter merda na cabeça ou ainda para dizer que sem noção é a pessoa que faz o desfavor de deixar seu banheiro sem papel higiênico: sally@desfavor.com

Deja VúDesfavor da semana, mas pode chamar de “NÃO DISSE?”.

SOMIR

Excepcionalmente vamos só com o texto da Sally hoje. Concordo em gênero, número, grau e volume pluviométrico com o que ela escreve.

SALLY

Ano passado, dia 09 de janeiro de 2010, ou seja, no segundo final de semana do ano, escrevíamos um Desfavor da Semana chamado Águas de Mais, onde falávamos de fortes chuvas que provocaram mortos e desabrigados e da falta de preparo do Poder Público para lidar com a situação. Pior do que isso, dissemos que apesar destas mortes e do escândalo que foi, NADA IRIA MUDAR e a história iria se repetir. E esse é o grande desfavor da segunda semana de 2011, que dois cretinos como nós estejam corretos.

Vocês sabem, somos pessoas azedas, escrotas, céticas e pessimistas. Quando nossas previsões se concretizam é sinal que se deu o que os americanos chamam de “worst case scenario”, ou seja, aconteceu a pior coisa possível. Alguns trechos da nossa postagem do ano passado:

SOMIR:

“tem algo de muito errado acontecendo quando um país tropical não consegue mais lidar com as chuvas, deixando um rastro de vítimas fatais e desabrigados por onde quer que as nuvens”

“evitar que uma ocorrência comum e previsível como a chuva numa merda de um país tropical acumule-se de tal forma a alagar cidades e causar gigantescos estragos estruturais nas cidades é a porcaria da obrigação”

“O problema não é ser pego de surpresa por uma catástrofe (meteorologia é uma das ciências mais afetadas pela Teoria do Caos), o problema é ser pego de surpresa pelo fato de que vai chover em locais onde sempre chove.”

“Assim que acabar a temporada das chuvas nossos queridos governantes vão ficar livres para “esquecer” do assunto. Até o próximo desfavor da semana sobre tragédias causadas pela chuva, ano que vem.”

SALLY:

“Pura que me pariu! Água caindo do céu desestabiliza nosso país, mata gente, fecha estrada etc. Ainda bem que aqui não tem terremoto, porque se apenas com chuva já dá essa merda…”

“Somos um país que tem dificuldade em escoar a água que cai do céu. Somos cheios de rios e de mar, e mesmo assim, nos fodemos todos quando chove. Prefeitos fazem caras obras de embelezamento em seus Municípios e não dão conta de fazer um sistema de escoamento de água funcional”

“Tá chovendo mais? Beleza, se prepara que vai piorar. Tudo vai piorar (pérolas de otimismo com a Tia Sally), porque do jeito que estamos tratando o planeta, me espanta que não tenha nevado no Rio de Janeiro ainda. Não sou ecológica, vocês sabem. Não estou pregando desenvolvimento sustentável. Estou dizendo que os imbecilóides que decidem sobre infraestrutura neste país tem a ciência de que a coisa vai piorar e tem a obrigação de estar preparados para isso. E com uma margem segura de erro. A desculpa do “eu não sabia” não cola se você tem mais de cinco anos de idade.”

Sem falsa modéstia eu lhes digo, um mundo onde Somir e eu temos razão é um mundo DE MERDA. Ano passado a Defesa Civil disse “aprendemos nossa lição” depois dos desabamentos em Angra e em Niterói (Morro do Bumba e cia). Aprenderam? Então, por favor, coloquem em prática, porra!

E nem adianta vir com esse papo de que gente pobre vai morar em área de risco blá blá blá. Desabou casa de rico, casa de pobre, casa de classe média… o evento foi bem democrático. Teresópolis está debaixo dágua, Friburgo virou um grande barro. Não estamos falando de um bairro ou uma área, estamos falando de FUCKIN´ MUNICÍPIOS INTEIROS DESTRUÍDOS. Já se tem notícias de mais de 400 mortos e tem áreas onde os bombeiros ainda nem conseguiram chegar! Não duvido que esse número bata na casa dos mil (isso se divulgarem).

E o discurso continua o mesmo: choveu mais do que o esperado. Cacete! Todo mundo sabe que no Rio de Janeiro CHOVE MUITO nesta época do ano. Tem que estar sempre preparado para chuva além do esperado. Está na hora de “esperar” mais chuvas, de ter uma margem de segurança bem maior. Até entenderia um pequeno alagamento, mas porra, um MUNICÍPIO inteiro destruído porque choveu mais do que o esperado? Isso não pode acontecer, a chuva, por mais exagerada que seja, NUNCA pode ter a capacidade de destruir um MUNICÍPIO!

É possível achar notícias de jornal falando dos estragos da chuva mais velhas do que eu. E sempre com os mesmos argumentos. A chuva era imprevisível, choveu mais do que o esperado. Vamos combinar assim: a partir de 2011, todos os municípios devem esperar um dilúvio de 40 dias e 40 noites e estar preparados para ele, pode ser?

Sergio Cabral, nosso alcóolatra favorito, não deve mais nem estar bebendo, deve estar INJETANDO WHISKY DIRETO NA VEIA, porque, puta merda, beber é pouco depois de mais este vexame. Teve um ano inteiro para aprender com os erros, para se preparar e em 2011, a catástrofe foi PIOR! É assim que ele quer chegar à Presidência da República? A coisa piora a cada ano que passa, ano que vem vai ser o que? Vai desabar o Cristo Redentor por causa da chuva?

O que foi a entrevista que ele deu à rádio CBN culpando os Municípios pelo desastre e pelas mortes por permitirem ocupações irregulares? Governador, teve muita mansão que não estava no morro destruída. Eu perguntaria se ele bebeu, mas seria uma piada óbvia demais. Coisa mais horrenda culpar as vítimas.

Além disso, nada justifica que vários Municípios estejam sem telefone (fixo ou móvel), sem transporte público, sem hospitais e sem luz. É culpa do pobre que fez um barraco no morro que não tenha luz? Que celular não funcione? Ok, continuem culpando as vítimas, mas cuidado porque um dia elas cansam e se revoltam. Isso me enoja. Tem que culpar alguém, né? Vai que as pessoas percebem que a culpa é dele! E só para constar, não excluo a culpa nos Municípios não. A culpa é do Poder Público como um todo.

Vão catar os corpos, pagar um aluguel social merreca para aqueles que sobreviveram e perderam suas casas, vão dizer que aprenderam a lição, culpar o pobre, culpar a mãe natureza e o assunto vai se abafado por algum outro escândalo ou alguma outra cagada. E ano que vem vai ser a mesma coisa novamente – ou pior. Ano que vem? NÃO, DESCULPEM, esse ano ainda. Esse ano tem mais morte e desastre por causa de chuva.

Enquanto os representantes do Poder Público não sentirem MEDO, nada vai mudar. É preciso cogitar atos de desobediência civil, um terrorismo sócio-educativo. Eles tem que ser compelidos a fazer seus trabalhos e ter respeito pelas vidas humanas e já que não o fazem por ética, que seja pelo medo. Tá na hora do brasileiro acordar para a vida e começar a se organizar e trollar. Vou bater muito nessa tecla neste ano.

Não estou pregando violência nem assassinato. Existem formas dentro da lei de infernizar uma pessoa, de assustá-la, de aterrorizá-la. Chega de ser espectadores dessa baixaria que está se transformando o Brasil. Tá na hora que tenham um pouquinho de medo da gente para que esse descaso não continue.

Na Argentina fizeram muito esse tipo de coisa. Uma operação chamada “escracho”. Por exemplo, descobriam em que colégio estudavam os filhos dos torturadores na ditadura militar e iam até as salas de aula informar a todo mundo o que o pai do Fulaninho fez. Mostravam documentos, passavam slides com fotos das pessoas mortas ou machucadas depois das torturas… e se o aluno mudasse de colégio, eles iam atrás e faziam tudo novamente. Muitos tiveram até que sair do país.

Vamos todos desenvolver esta idéia, com muito amor e carinho, ao longo do ano. Vamos todos traçar estratégias para paunocuzar aqueles que nos paunocuzam por anos. Revolução com armas e sangue é brega e ultrapassado. Somos mais sofisticados do que isso. Estão comemorando que uma presidente mulher assumiu no Brasil e um presidente negro assumiu nos EUA? Pois esperem só até ver o que acontece quando um presidente TROLL assumir em algum lugar. Aí sim teremos motivos para comemorar.

Está na hora da nossa dor doer neles também. Pensem nisso. Com inteligência é possível fazer isto sem cometer nenhum crime. Sally, sua Assessora Jurídica para trollagens, à sua disposição.

Para dizer que tem certeza que deste ano eu não passo, para dizer que concorda plenamente mas não tem uma mentalidade do mal, por isso precisa de sugestões de trolladas ou ainda para reclamar com o Somir do Sally Surtada desta semana: sally@desfavor.com