Whoa, dude...

Escala de nerdice: 5.8928388109032984293299991001000009212

Como normalmente faço, decidi o tema desta coluna alguns minutos após abrir o editor de texto e começar a escrever. Uma das minhas táticas é escrever um título praticamente aleatório e ver se consigo desenvolver. Desta vez escrevi “inteligência artificial”, mesmo sem saber muito bem de onde saiu isso. Não tinha visto nada sobre o assunto recentemente e uma página em branco não é algo lá muito inspirador para o tema.

Mas, de alguma forma, surgiu uma idéia para seguir em frente com uma variação do título inicial. E a idéia tem a ver com a forma como ela surgiu. Sim… wat.

E mesmo nesse momento, onde já estou escrevendo a abertura da coluna, ainda não tenho muita idéia sobre como vou desenvolver a idéia sobre a qual vou me basear. Mas, que seja, é uma forma bem humana de se expressar.

Vamos então à inteligência artificial.

Nos vários e vários filmes, séries, gibis e jogos de ficção científica (livros são para perdedores) que já vi, sempre me pareceu “estranho” que os robôs nunca fossem capazes de produzir arte da mesma forma que um ser humano.

Claro, eu entendia a analogia com a “alma” humana e a impossibilidade de um ser sem emoções produzir algo tão cheio de significados emocionais como a boa arte. Mas apesar de entender qual o objetivo conceitual das cenas, achava aquilo meio mal contado.

Como se fosse uma espécie de preconceito contra algo que ainda nem existia. Uma forma de diminuir as supostas máquinas dotadas de consciência para não nos sentirmos tão obsoletos.

Afinal, uma inteligência artificial teria praticamente todas as vantagens de um ser vivo, sem as desvantagens. Um robô não precisa comer, respirar, cagar… (morra de inveja, Sally) Um robô inteligente ainda pode se aproveitar da fragilidade da vida biológica para se tornar o dono da humanidade (roteiro batido).

Tremei, máquinas, pois se vocês são imortais, nós somos mais artísticos! Há! Acabamos com eles, não?

Claro que na vida real ainda estamos terrivelmente longe de uma verdadeira inteligência artificial, daquelas que sabem que existem e que podem aprender e evoluir sem intervenção humana. E por terrivelmente longe nesse tempo de evolução tecnológica exponencial pode ser 20 ou 200 anos… Mas de uma coisa eu não duvido: Uma inteligência artificial imitando a humana não é impossível e eventualmente estará disponível numa loja pertinho de você. (Por “você” eu quero dizer algum descendente seu…)

Mas, voltemos ao assunto da arte humana e a sua suposta irreprodutibilidade robótica. Um dos maiores clichês ao se retratar uma inteligência artificial nessa área é o caso da pintura de um quadro… O robô observa uma paisagem e começa a pintar numa velocidade impressionante. O resultado é quase sempre uma reprodução fotográfica da cena.

O robô é incapaz de enxergar algo além da cena, ele é incapaz de representar algo diferente do que consegue captar. Mas aí que sempre surgiu a minha impressão de que algo estava errado…

As brilhantes mentes que programaram essa inteligência artificial que não tinham a menor noção do que seria essa “alma” da arte humana. O robô foi programado para tomar as melhores decisões possíveis dentre uma quantidade de variáveis que simplesmente não cabem nas nossas cabeças.

Um robô com a capacidade de pintar um quadro perfeito, programado para tomar as melhores decisões… Não tinha como ser diferente. O que não quer dizer que o robô jamais conseguiria pintar como Picasso, por exemplo…

Basta o robô ser programado para tomar decisões aleatórias, limitar sua percepção e esperar até que um dos quadros seja cubista. Infinitos macacos em infinitas máquinas de escrever reproduziriam sim a obra de Shakespeare. Tanto que foi exatamente o que aconteceu na vida real.

Alguém poderia dizer sobre uma inteligência artificial: “Queria só ver esse robô pegar um pincel e fazer o que Salvador Dalí fazia!”, bom, eu queria só ver OUTRA pessoa pegar um pincel e fazer isso. Reproduzir é uma coisa, criar é que são elas. A quantidade de fatores que precisam estar reunidos para criar a mente única de uma pessoa é tão avassaladora que mesmo sendo virtualmente idênticos em nossos códigos genéticos, alguns humanos conseguem seguir por caminhos criativos tão únicos ao ponto de jamais serem repetidos.

Considerando que já nasceram mais de 100 bilhões de seres humanos nesse planeta, estamos muito próximos mesmo da analogia dos macacos e as máquinas de escrever. A diferença é que existe um bom grau de consciência nesses macacos pelados e isso nos direciona a seguir pelos caminhos mais corretos desde o começo.

QUANTAS PESSOAS não compuseram músicas antes de Beethoven? A probabilidade de um de nós chegar nesse nível de criatividade e excelência é tão baixa que esse compositor ainda é relevante séculos depois de sua morte. 20 bilhões de macacos tentaram, e só um escreveu a página certa.

Não tiro o mérito de nenhum grande artista por causa desse fator de probabilidade, afinal, “Queria só ver eu fazer isso…”. Mas isso corrobora com a idéia de que boa parte dessas decisões artísticas humanas provém da aleatoriedade. Quando um artista resolve tomar um caminho improvável, pode ser por falta de outras opções em mente, alguma limitação física ou mental, ou mesmo por incapacidade de fazer o que estava imaginando em primeiro lugar.

Que, adivinhem só, são constantes na vida de todo mundo que não é robô. Quantas vezes não deixamos de tomar a decisão mais simples/racional/óbvia em nossas vidas? Existe sim uma limitação na capacidade humana que torna nossas ações imprevisíveis. Que gera resultados absolutamente anômalos em relação ao padrão, seguidas vezes.

Esse teórico robô que só pinta quadros “fotográficos” é muito mais avançado que qualquer gênio das artes plásticas. Ele toma as melhores decisões para representar uma cena, cada mancha de tinta corresponderia exatamente ao local onde deveria estar de acordo com a imagem captada.

Se quisermos emular essa criatividade típica nossa numa máquina, ela vai ter que ser limitada propositalmente, e ainda por cima tomar decisões equivocadas com freqüência. Posso até imaginar como se programaria isso, mas até mesmo para um texto com aviso de nerdice no começo seria um abuso.

Com um bom planejamento uma máquina pode criar obras de arte ainda mais inovadoras e brilhantes do todos os “infinitos macacos” juntos. A aleatoriedade e a limitação são partes integrantes da evolução do nosso pensamento, e da vida como um todo.

Quem repete a melhor escolha seguidas vezes está sempre fazendo a mesma coisa. Se por um lado a melhor escolha tem seus ganhos, por outro quer dizer que apenas uma linha de possibilidades está sendo explorada. Grandes invenções (e CERTEZA que a maioria das grandes obras de arte) surgiram de distrações e erros que afastaram seus criadores do caminho planejado inicialmente.

Uma inteligência artificial teria que ser forçada a errar, sabendo que está errando, para conseguir esse fator surpresa. Mas como é tudo aleatório, uma espetacular obra de arte pode ser perdida para sempre na memória de uma dessas máquinas, pelo simples fato de outra forma de representação ter sido escolhida.

Quantas espetaculares obras de arte já se perderam até hoje antes mesmo de saírem da mente de seus autores? Ou mesmo na sua mente, caro(o) leitor(a)? Numa fração de segundo pessoas tomam decisões pela simples necessidade de um resultado.

Sim, uma inteligência artificial poderia ser uma grande artista. Desde que seja feita para isso. Mais ou menos como gênios artísticos são gerados: Numa sequência tão única que é como se a pessoa não pudesse evitar de se expressar da forma como a faz.

Talvez goste-se mais da idéia do andróide como sendo o ser limitado pela própria vontade de ser superior. De ter algo único intimamente ligado ao que se é, algo que não pode ser copiado, imitado ou tornado obsoleto.

Bobagem. Não tem nada na existência humana que não possa ser copiado, imitado ou tornado obsoleto por um ser/objeto imortal e programável, claro, dado o tempo certo para a tecnologia dos infinitos macacos chegar nesse ponto.

Se eu tivesse pensado nesse texto com muita antecedência, teria tomado melhores decisões e escrito de forma mais acessível, mas dificilmente teria paciência para escrevê-lo.

Para dizer que isso foi… foi… foi… sabe-se lá o que, para dizer que eu não devo postar bêbado, ou mesmo para dizer que a escala de nerdice te enganou hoje: somir@desfavor.com

Orca Miséria!!!

Graças a nosso mascote, Tilly, e às imbecilidades ditas por PETACHATOS e toda essa gentalha ecológica, nos sentimos na obrigação de aprofundar nosso conhecimento sobre orcas, para derrubar alguns mitos e colocar os pingos nos is, sem romantismo e sem idealizações. E como não pode deixar de ser, as informações técnicas serão permeadas por perguntas interessantíssimas feitas a um biólogo que, como todos os profissionais convidados, participou coagido e indignado.

Ao contrário do que muitos pensam, as orcas não são baleias. Elas são mamíferos, carnívoros da família Delphinidae (ordem dos cetáceos). Ou seja, estão mais próximas dos golfinhos do que das baleias. Sim, a orca é uma das trinta e cinco espécies de golfinhos. Ela foi apelidada de “assassina de baleias” por navegadores, no século XVIII, pois eles presenciavam diversos ataques de fenomenais a outras baleias, muitas vezes maiores- e as orcas sempre saiam vitoriosas. Uma tradução errada, no esquema “telefone sem fio” e as assassinas de baleias viraram baleias assassinas. Tadinhas, nem baleias elas são.

A orca é o que se chama “predador de topo de cadeia alimentar”, ou seja, aquele animal que caça geral e não é caçado por ninguém. Ela é capaz de comer praticamente qualquer coisa, até mesmo animais maiores do que ela, incluindo outras baleias. Ela é uma máquina mortífera, muito bem equipada para matar. A cor preta das suas costas dificulta que quem está fora da água as encontre, pois se camuflam nas águas escuras. A barriga branca dificulta que quem está debaixo da água a veja, pois se confunde com o reflexo da luz do sol. A orca usa esta camuflagem como fator surpresa para algumas para caçadas.

A Orca e o bêbado são os únicos seres que caçam e comem baleias na natureza.

Pergunta da Tia Sally: Orcas dormem? Como elas respiram quando dormem? Ganhei um olhar de pena com esta pergunta, do tipo “como você é ignorante!” Sim, orcas dormem. Elas dormem entre cinco e oito horas por dia, flutuando, o que permite que respirem de forma automática durante os sono. Porém, uma curiosidade: filhotes de orca não dormem no primeiro mês de vida, obrigando as mamães a ficarem acordadas e atentas 24h por dia. Ainda não se sabe porque isso acontece (acredita-se que seja para fugir dos predadores). Também não sabem explicar como o filhote cresce tanto sem dormir, uma vez que se achava que o sono era crucial para o crescimento dos mamíferos.

Eu, na minha ignorância, achava que orcas estavam ameaçadas de extinção. Nada disso, tem orca pacarai no mundo. Um dos critérios para classificar animais é “por área de distribuição”, ou seja, onde estes animais são encontrados no planeta. O primeiro da lista é o ser humano (que, convenhamos, é o piolho do mundo, está em tudo quanto é canto!). Adivinhem quem é o segundo? A orca. Ela pode ser encontrada em todos os oceanos e mares, inclusive nos mais inóspitos. Ela sobrevive a condições bastante precárias (nesta semana tinha uma nadando em uma praia do Rio de Janeiro, vejam só a resistência deste animal!). Elas nadam inclusive por baixo de calotas de gelo.

Muita gente está abrindo a boca para dizer que não há relatos de ataques de orcas a seres humanos na natureza. Não é verdade. Não costumam importunar o homem, mas há relatos de agressividade. Porém, é legitima defesa. Geralmente são ocasiões onde pescadores as atacam e as orcas se defendem.

São animais que vivem em família. O grupo adota um sistema matriarcal: é liderado pela fêmea mais velha do bando e é composto por seus descendentes. O grupo é muito unido, se separam por breves períodos de tempo, apenas para caçar ou acasalar. Não constam relatos de nenhuma expulsão ocorrida em grupos de orcas, o que me leva a crer que eles são animais mais tolerantes do que nós. A quantidade de orcas que compõe um grupo matriarcal é em média de dez orcas Cada grupo fala seu “dialeto” específico. Sim, as orcas tem linguagem própria. Algumas vezes, estas famílias lideradas pela matriarca se unem em GRUPOS (mais de uma família passam a andar juntas e formam um grupo), especialmente quando os grupos tem parentesco com a matriarca e falam o mesmo dialeto. Já foram registrados grupos compostos por cinquenta orcas. Também pode acontecer que vários grupos com o mesmo dialeto se reúnam, ainda que de forma temporária, e formem um CLÃ.

Quando os grupos, por algum motivo, se juntam e formam um clã, há um ritual: cada grupo fica de frente para o outro, cada membro alinhado em fila, e eles se saúdam antes de se misturar e virar um grupo só. Mais civilizado que muito colega de trabalho.

Pergunta da Tia Sally: Orcas cagam? O que acontece com sua bosta? Esta pergunta fascinante foi respondida com uma certa má vontade. “Claro que Orcas cagam!”. Perguntar não ofende, né? Parece que elas cagam um baita toletão que de tão enorme tem que ser coletado com uma rede de pesca. Porque alguém recolhe um tolete de orca? Para analisar seu conteúdo, a bosta diz muito sobre a autora. Quando não é coletado, o toletão bóia, devido à alimentação das orcas, rica em gordura. Plus: orca peida. E é possível perceber seu peido pelas bolhas que sobem à superfície. Plus desnecessário: quando a bolha sobe, fede como se o peido tivesse sido fora da água. Porque tem coisas que só o Desfavor te diz.

A orca tem a maior barbatana dorsal do reino animal. Maior do que a do tubarão branco ou do tubarão baleia. A barbatana de uma orca pode chegar a medir 1,8 metros de altura (sim, maior do que eu. *cantinho da vergonha). Os machos podem chegar a medir quase dez metros e pesar aproximadamente seis toneladas. As fêmeas são um pouco menores. Uma orca rescem-nascida mede aproximadamente dois metros e meio e pesa 200kg.

Não é um animal de fácil procriação. As fêmeas podem parir um único filhote, uma vez a cada cinco anos e só adquirem maturidade sexual para procriar após 15 anos de vida. Além disso, há grande moralidade de filhotes, estima-se que apenas metade dos filhotes de orca que nascem na natureza sobreviva. Os filhotes são amamentados até os dois anos de idade e as fêmeas só são férteis até os 40 anos de idade. Faça as contas: tem seres humanos que, em poucos anos, procriam mais do que a orca em sua vida toda. A expectativa de vida é de 50 anos para as fêmeas (podendo chegar até 90 anos) e 30 anos para os machos (podendo chegar até 50 anos)

O que faz uma orca em seu dia a dia? Bem, a rotina de uma orca consiste em basicamente quatro atividades: comer, viajar, descansar e socializar (sentiu inveja? eu também). As orcas socializam através de diversos rituais como saltos, bater de barbatanas e outros truques que nós as obrigamos a repetir em cativeiro

A orca é o único cetáceo que caça outros cetáceos. A orca pode comer tudo, até mesmo tartarugas marinhas. Geralmente os grupos adquirem predileção por um determinado “prato” e focam nele, porque sim, elas tem preferências gastronômicas: algumas preferem arenque, outras preferem salmão, atum, focas, etc. Já foi documentado orcas caçando uma baleia azul, o maior animal da face da terra. Elas são menores que sua presa mas ganham na malandragem: em bando, cercam a baleia azul e a obrigam a nadar cada vez mais para o fundo. A baleia, acuada, acaba fugindo para o fundo, até que chega um ponto em que ela não consegue mais subir para respirar e morre afogada. Sim, orcas sabem que se ficar muito tempo no fundo, afoga. Há até relatos de orca comendo orca. Por mais de uma vez foram encontrados restos de orcas no estômago de outras orcas. Elas também caçam tubarão branco, tido como um dos maiores predadores dos mares. Dizem os biólogos que elas gostam do fígado do tubarão branco, que seria muito nutritivo. Uma orca come em média entre 300 e 400kg de comida por dia.

Se o gosto for ruim, a Orca cospe...

E se você quer aliviar a barra delas, dizendo que, coitadas, não são assassinas, caçam só para comer, pense duas vezes (ou você achou que a gente ia escolher um bicho fofinho como mascote?). As orcas esboçam comportamentos sádicos ao praticarem suas matanças. Há registros de orcas atirando focas pelos ares (uma contra as outras!) até matá-las. É evidente que estas focas poderiam ser mortas de forma mais rápida e eficiente, mas as orcas parecem se divertir em matar as focas aos poucos. Fazem o mesmo com arraias: pegam uma arraia, abrem uma rodinha e ficam jogando a arraia uma para as outras. Sim, frisbee de arraia.

Elas criam grandes esquemas e armadilhas para caçar em bando mas também sabem caçar sozinhas. Por exemplo, uma orca cria uma onda com sua cauda, que obriga as focas a pularem das pedras para a água, enquanto que, do outro lado, outra orca as espera de boca aberta. Assim como os dialetos, a forma de caçar das orcas varia conforme o bando e é ensinado de mãe para filhos. Quem disse que orcas não tem sua própria cultura? Existe um único grupo único que caça “por encalhe”, se joga na costa para pegar focas e fica ali, literalmente no encalhe até uma onda levá-las de volta para o mar.

Pergunta da Tia Sally: Porque não podemos ver o pênis de orcas? Qual é o seu tamanho? Bom, parece que o pênis é “interno”. A gente só consegue ver uma fenda genital. O pênis fica todo enrolado do lado de dentro, contido por um músculo retrator. O tamanho? Avaliem vocês:

wat

Normalmente as orcas se comunicam por sons que mais parecem assobios. Cada grupo tem um determinado conjunto de assobios (chamados de “canções”) que são sistematicamente repetidos. Muitas vezes uma canção que é específica de um grupo passa a ser partilhada para outros grupos. Todo membro do grupo conhece o repertório. Cientistas acreditam que as orcas aprendem estas canções ainda bebês, enquanto estão sendo amamentadas. Enquanto elas mamam, a mamãe orca entoa as canções para os filhotes. Entretanto, quando estão caçando, são mais discretas para não acabarem com o fator surpresa. Nesses momentos de comunicam por um esquema de estalos chamados “estalido críptico”, que também atua como sistema de sonar, para localizar as presas.

E não é que o ser humano caça e mata este bicho simpático que canta e brinca com a comida antes de comê-la? O pior é que na maior parte das vezes nem ao menos é para comer. Como as orcas são excelentes predadoras, elas acabam “competindo” com pescadores, por isso vem sendo eliminadas: briga por peixes. Alegam que as orcas estão comendo muito e acabando com algumas espécies de peixes. Na década de 50, a Força Aérea Americana simplesmente usou BOMBAS E ARMAS DE FOGO para chacinar grupos de orcas na Islândia com esse argumento. Curiosamente, com o tempo, se provou que a redução do número de peixes era culpa do ser humano e de sua pesca predatória, e não das orcas.

Orcas fazem muito sucesso no cativeiro, por serem muito inteligentes. Aprendem rápido qualquer truque e elas podem aprender a fazer quase tudo. A primeira exibição ocorreu em 1964 e o sucesso foi tamanho que dezenas de orcas começaram a ser capturadas. Na década de oitenta se proibiu a captura de orcas, qualquer show deveria ser feito com animais nascidos em cativeiro. Isso vem gerando problemas aos parques, pois não é muito simples reproduzir uma orca. Quando eles encontram um macho comedor (como Tilikum, que já teve mais de dez filhotes) há esperanças.

Não presta colocar um animal como esse em cativeiro. Deu merda dezenas de vezes. Além dos ataques a treinadores, houve também ataques de orcas a orcas, em meio a apresentações, que geraram espetáculos sangrentos e mortes. Se alguém achar o vídeo decente do episódio Kandu vs Corky, favor postar aqui, afinal, uma hemorragia de 45 minutos em um tanque deve ser um mega-evento. Eu só achei um vídeo muito do mal feito e em alemão: http://www.youtube.com/watch?v=pXLx1SgMn7o Apesar de ser bem menor, Corky ganhou e Kandu morreu.

Pergunta da Tia Sally: Porque os treinadores jogam peixes na boca das orcas e elas simplesmente os engolem? Parece que orcas não mastigam seus alimentos. Quando as orcas mastigam alguma coisa, é porque estão brincando com ela.

Depois de detonar a imagem destes animais com um filme chamado “Orca”, o ser humano se redimiu com o açucarado “Free Willy”. A orca do filme, um macho chamado Keiko, (era ainda maior que Tilikum), ganhou fama. Daí vieram aquele bando de imbecilóides com um ótimo coração mas sem cérebro começar uma campanha para que devolvam Keiko ao seu habitat natural. Vi um documentário chamado Free Keiko de mais de duas horas detalhando o caso e já nos primeiros dez minutos comecei a me irritar com a burrice das pessoas e repetir “isso não vai prestar”. Keiko nasceu em 1976 e foi capturado em 1979. Eles acharam que vinte anos depois a orca saberia se virar e gastaram mais de sete milhões de dólares para matar Keiko, que morreu sozinha, de fome, perseguindo barcos nos quais ela via pessoas, únicos animais com os quais ela tinha laços afetivos. Não é possível, por maior que seja o esforço, devolver uma orca que passou a maior parte da sua vida em cativeiro à natureza.

Orcas não são bichos inofensivos. Orcas não funcionam em cativeiro, não são animais de estimação. O fato de que aprendam truques e obedeçam não quer dizer que sejam domesticáveis. Desfavor quer que acabem com o show de orcas? NEM PENSAR, queremos que AMPLIEM, que abram mais parques aquáticos, inclusive um no Brasil. Quer combinação mais divertida do que uma orca de mau humor e um ser humano imbecilóide pulando à sua volta? Sea World Brasil! Sea World Brasil! E tragam Tilikum!

Isso vai dar certo!

Para dizer que se sentiu diminuído pelo pênis da orca, para dizer vai tentar a sorte e começar a promover rinhas de orcas para sádicos como nós e para deixar um longo discurso politicamente correto, chato e ecológico: sally@desfavor.com

Dá pra mim...

Consideremos a seguinte situação: Um de seus amigos, e façamos a distinção entre amizade verdadeira e coleguismo, está usando drogas de forma abusiva, seguindo um caminho à lá Rafael Pilha rumo ao fim da linha.

Você chegaria ao ponto de contar isso para as outras pessoas próximas na vida dessa pessoa? Pais, irmãos, outros amigos próximos, namorada(o)…

Sally e Somir discordam, para variar.

Tema de hoje: “Entregar” um amigo drogado para as pessoas próximas dele?

Fatos e lógica ajudam pessoas, sentimentalismo não. Portanto, sim, eu conto e faço o que achar necessário para mostrar que há sim um “elefante na sala”. E eu digo isso porque em grande parte das vezes essa idéia de que fingir que não está vendo é o caminho que pessoas próximas de um viciado “terminal” tomam.

Estamos falando de uma pessoa que está tão desestabilizada a ponto de ser um perigo para a própria vida e à vida de outros. Já é o drogado que rouba “um real e um passe” para comprar drogas pesadíssimas. A pessoa que já está fora de si por causa do vício.

Não me importa minimamente a questão de escolha pessoal do drogado aqui. Existe uma linha entre comportamento perigoso e completo desastre, e alguém assim já está fora do campo das escolhas. Não abandona o vício sozinho, questão fisiológica. Somos matéria. Não existe força de vontade mágica que reverta um cérebro em completo colapso por si só.

E depois dessa linha de desastre, existe outra, a sem volta. É tanto neurônio frito que a pessoa não se recupera. Mas essa é basicamente impossível de se perceber a não que tenhamos evidências reais.

Como eu sou realista e não acho possível ler mentes, não dá para dizer que o fulano completamente drogado jogado na sarjeta está pensando de forma racional sobre o seu comportamento. E eu não respeito pessoas que não pensam de forma racional. Portanto: Foda-se a escolha pessoal desse amigo. Vai ME fazer mal deixar alguém de quem eu gosto na mão dessa forma. E façamos uma distinção vital aqui:

Apoiar sem confrontar uma pessoa que está se matando é a mesma coisa que ajudar a matá-la. E isso não faz o menor sentido. Falamos sobre amigos aqui. Até mesmo abandonar completamente essa pessoa é mais útil.

E a partir dessa noção, temos duas possibilidades:

Essa pessoa está suficientemente distante de familiares e outras pessoas próximas além de você para que você seja quem realmente pode perceber o problema. Nesse caso, é questão de lógica simples tentar aumentar o grupo de pessoas interessadas em ajudar seu amigo.

Ou ela está suficientemente próxima de outras pessoas que deveriam se interessar em ajudar para sabermos que essas pessoas estão se omitindo propositalmente. E eu não tenho NENHUMA simpatia por quem finge que não está vendo a realidade. Avisar de forma clara e inequívoca que seu amigo está se destruindo tira qualquer chance de auto-perdão por ignorância.

Quer fingir que não está vendo? Direito seu. Agora, querer te fazer sentir o cheiro da merda e sofrer o máximo possível e imaginário em cada etapa desse processo de auto-enganação é direito meu. Tem gente que só acorda quando a verdade é impossível de se negar.

E é a mesma gente que te acha um monstro quando você percebe a batalha perdida e se afasta. Se quer falar mal da pessoa que tentou ajudar o quanto pode e desistiu por não ver solução, que pelo menos tenha a decência de ter feito o mesmo.

A escolha está com as pessoas que não estão dopadas além da capacidade humana de compreensão do mundo que as cerca. Quando eu faço a minha escolha de tentar até onde achar que há possibilidades reais de solução, não vou deixar esse bando de hipócritas que acham o afastamento uma crueldade enquanto ignoram uma pessoa próxima saírem no lucro.

Podem até fazer pose para a opinião pública, mas vão saber pelo resto de suas vidas que tinham como tentar fazer algo para ajudar essa pessoa e ESCOLHERAM fazer a pessoa sofrer ainda mais. Porra, assumam a responsabilidade de suas ações, pelo menos.

E eu estou sendo amargo, achando que ninguém vai tentar ajudar.

O que acontece em alguns casos, mas não em todos. Gente que está fingindo que não vê precisa levar um tapa na cara dos fatos para ver se começa a pensar de forma lógica e tentar resolver um problema.

Mais uma vez, é uma questão numérica: Por mais que não se possa garantir que o viciado em questão tenha solução, é melhor ter apoio de outras pessoas nessa tentativa. O mais importante é tentar pelo menos recuperar a pessoa o suficiente para que ela tenha novamente a capacidade de fazer escolhas racionais.

O drogado só vai se recuperar quando quiser mesmo. Mas quem garante que ele já não passou desse ponto, talvez até por negligência de pessoas próximas (incluindo você)? Não custa tentar. Eu gostaria que tentassem pelo menos uma vez comigo se fosse o caso. “Limpa” a pessoa por um tempo, mesmo que na base da porrada, e espera para ver como ela reage.

Se realmente for um caso sem volta, que pelo menos quem participou da tentativa de resgate possa viver com a paz de ter feito alguma coisa ÚTIL.

E que quem se omitiu para “não sofrer” receba com juros e correção tudo o que preguiçosamente tentou evitar. Pelo menos vai me fazer feliz. Aposto que meu amigo gostaria de me ver feliz.

Para dizer que até minha solidariedade é egoísta, para dizer que vai fingir que não entendeu o texto para ter uma vida mais tranqüila, ou mesmo para pedir um pouco do que eu estou usando: somir@desfavor.com


Uma amiga (pode ser amigo também, onde se lê “amiga” leiam “amigo(a)”) sua começa a usar drogas de forma auto-destrutiva. Não estamos falando de uso esporádico e sustentável, estamos falando de dependência química hardcore, um Rafael Pilha Way Of Life. Você procura pessoas próximas a essa amiga, como parentes e namorado(a) para advertir sobre a situação?

Talvez todos respondam que sim. Eu não procuraria. Eu acho um horror fazer isso, ainda que seja para o suposto bem da pessoa. Já me deparei em muitas situações na vida onde pessoas estavam (ou diziam estar) em situações sérias onde poderiam se fazer algum mal e nunca me meti a ir falar com Papai e Mamãe da pessoa. Sim, eu acho isso um vexame. Fui inclusive acusada de ser má amiga por causa disso. O máximo que fiz ao ser pressionada para me meter foi dizer aos amigos que pretendiam se meter: “Se VOCÊ quiser fazer uma porra dessas, você faz, eu não vou te impedir, mas eu não vou fazer”.

Dá licença de me sentir ridícula de pegar um telefone, com trinta anos na cara, e ligar para importunar o pai e a mãe de outra pessoa de idade similar? GEZUIZ, é meio óbvio que o que esses pais podiam fazer pela pessoa, já fizeram! Vai fazer o que com uma pessoa de mais de 20 anos que insiste em DAR TRABALHO ao pais, em vez de dar sossego para que eles envelheçam em paz? Quem dá trabalho aos pais por pura falta de estrutura para encarar os trancos da vida não merece um arauto para protagonizar esse vexame.

Além do que, se a situação da pessoa é tão calamitosa assim (lembrem-se, eu disse Rafael Pilha Way Of Life), como é que as pessoas que o cercam não percebem? Talvez não QUEIRAM ver, ou queiram ver e ignorar. Quem sou eu para esfregar problemas internos de uma família ou de um casal na cara dos envolvidos cobrando um posicionamento? Evidente que essas pessoas não tem a menor estrutura nem condições de ajudar, se não conseguem sequer ver um problema desse tamanho!

“Mas Sally, você viraria as costas para sua amiga?”. Não, claro que não. Eu tentaria ajudar. Mas sem meter terceiros no meio. E provavelmente não conseguiria, porque drogado é uma praga, se eles não quiserem, ninguém os faz parar de usar drogas. Mas meu ombro amigo sempre estaria ali, bem como meu ombro advogado. Sabe como é, né? drogado a gente vive tendo que tirar da delegacia. Até o último minuto eu estaria presente. Sempre que precisar, pode contar. Mas só. Ficar advertindo as pessoas que nos cercam não me cabe.

Acho que se trata de uma questão de respeito. Não me entendam mal, não tenho o menor respeito pela vontade de um drogado. Drogado não tem vontade, quer dizer, até tem: tem vontade de fazer merda. Se preciso fosse e estivesse a meu alcance, eu mesma colocava a amiga drogada contra sua vontade debaixo de cacete no meu carro e internava em uma clínica de recuperação e ainda pagava as despesas. O que eu respeito não é a vontade da pessoa, é a privacidade. A dignidade. Ir fazer fofoquinha para os pais da pessoa me faria sentir ridícula. Fica parecendo que quem faz isso, o faz para se promover, sentindo um certo orgulho por estar composta enquanto que a amiga drogada está ali, toda desconfigurada. Quanto mais publicidade se dá à derrota de uma amiga, pior. E para que? Para nada, porque no final das contas, isso não vai ajudar.

Além disso, uma parte muito pouco generosa de mim acha que quem voluntariamente se faz mal tem mais é que se foder, por mais que isso me doa. Eu sei, eu sei, me falta compaixão, tenho que trabalhar isso. Mas não consigo deixar de me sentir assim! Drogados, fumantes, alpinistas irresponsáveis, pessoas que nadam com orcas… etc. Não consigo sentir pena nem achar que foi uma fatalidade, foi escolha. “Mas Sally! Você é um monstro! A pessoa é VICIADA, ela não teve escolha!”. Teve sim. A primeira vez que colocou uma droga no seu organismo ela escolheu. Sabia dos riscos de ficar viciada, porque hoje em dia isso é amplamente divulgado, e escolheu. É, pois é. Eu falei que me faltava compaixão.

Acho que fazer um grande circo envolvendo amigos, familiares e parceiro acaba por validar a merda auto-destrutiva que a pessoa está fazendo. É como montar um espetáculo de péssimo gosto e chamar mais gente para bater palmas. Porque vamos combinar, quem quer se matar se mata silenciosamente, sem importunar os demais. Quem apela para uma vida estilo Rafael Pilha quer antes de mais nada chamar a atenção. E eu não vou recompensar essa atitude bizarra sendo anfitriã do circo. É um pedido de ajuda? Ótimo, eu vou ajudar, ou ao menos tentar. Sem fazer alarde, sem dar publicidade. Porque se EU não consegui salvar, duvido que pai, mãe e namorado que sequer perceberam o problema consigam. Vamos combinar, se pai, mãe e namorado não percebem que tem algo errado com uma pessoa Pilha Way Of Life, é porque são piores do que ela em matéria de estrutura emocional.

Pergunta básica: Alguém aqui acha que falar com pai e mãe de drogado adianta? Se pai e mãe tivessem esse poder de curar vício do filho, só órfão usava drogas. Anota aí: SÓ O VICIADO pode controlar seu vício. Claro que apoio ajuda. Mas apoio um amigo pode dar, não precisa correr e contar para as pessoas que o cercam. E mais uma vez repito: os pais que não percebem o uso ostensivo-pilha de drogas são o tipo que não vai saber/poder/conseguir ajudar em porra nenhuma.

Existem formas e formas de ajuda. Eu prefiro as não invasivas, aquelas que não expõe a intimidade da pessoa. Não que eu ache que vale a pena sacrificar uma vida em nome da intimidade, é que eu simplesmente acho que NÃO ADIANTA espalhar a informação para aqueles que cercam o viciado – a menos, é claro, que o vicado não seja um burro velho da minha idade e ainda esteja em situação de poder familiar. O que não é o caso.

É como diz o ditado: de boas intenções o inferno está cheio. Eu desconfio dessa tática de ir contar a papai e mamãe. Tem um ar meio dedo-duro que não me agrada. Tem um cheiro de invasão de privacidade. Parece um motivo socialmente justificável para que as pessoas joguem o nome das outras na lama, para sair bem na fita, como alma boa que salvou o dia. Eu só faço boas ações quando elas ficam anônimas, caso contrário, acho cafona.

QUANDO é possível ajudar, também é possível ajudar sem se valer deste recurso de contar para as pessoas próximas. Garanto que se fosse um problema igualmente letal mas cujo contar não fosse visto como uma coisa boa, ninguém falava nada. Ou por acaso alguém aqui abre a boca para dizer que sabe que o marido da amiga fez sexo com um traveco portador de HIV, que é melhor ela usar camisinha com ele? Não, né? Invasão de privacidade do mesmo jeito, com a diferença que quando se trata de drogas não tem o fator sexo, que é mais constrangedor.

Quer ajudar uma pessoa drogada, nível Pilha? Faça-o dentro das suas possibilidades, sabendo que suas chances são pequenas e sem se meter na vida e nas relações da pessoa. Dê conselhos, dê porrada, dê o que quiser, mas só entre vocês dois. Não deu? Que pena. Não sou heroína (com trocadilho)

Para me dizer que eu sou uma péssima amiga, para dizer que você conta meeeeesmo e para constatar mais uma vez que o Somir é o lado sensível do Desfavor: sally@desfavor.com

Aqui procêis ó!

Uma notícia que passou relativamente incólume pelo crivo da mídia chamou a atenção do desfavor:

“Xingar o juiz, os bandeirinhas ou o perna-de-pau de um time de futebol está proibido nos estádios da Paraíba. Entrou em vigor nesta quarta-feira a ‘Lei Pimenta na Boca’. Representantes de torcidas organizadas e o promotor Valberto Lira assinaram em João Pessoa um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que cria essa limitação.”

PUTA QUE PARIU! CARALHO! VAI TOMAR NO CU!
Desfavor da semana.

Somir

Como já mencionei num “Ele disse, ela disse” passado, eu não sou um defensor do uso de palavrões e gírias. Mas não é questão de achar ofensivo ou moralmente errado, a idéia é que essas palavras acabam se tornando limitadoras da qualidade da comunicação.

Digamos que é uma expressão de elitismo cultural mais do que uma de elitismo de trato social.

Pois bem, é de imaginar que eu não ache a idéia de proibir palavrões num estádio de futebol como um desfavor, certo?

Errado. Comecemos pelo básico: É uma “lei” estúpida. E essas “leis” estúpidas fazem muito mal para a mentalidade de uma sociedade. Eu duvido, e muito, que as pessoas num estádio de futebol parem de xingar e berrar as maiores obscenidades quando o juiz marca um pênalti contra seus times. É um momento de grande passionalidade e é tanta gente junta fazendo a mesma coisa que precisaria da força policial de toda a Paraíba para controlar um estádio cheio.

E a própria IDÉIA de se estar entre centenas ou milhares de pessoas desrespeitando uma lei é um reforço da noção de impunidade que anda de mãos dadas com nossa visão sobre o poder público brasileiro. Essa noção de impunidade por si só não vai fazer um cidadão sair do estádio e cometer um crime, mas vai sim reforçar a mentalidade de que esse país não é sério.

Como, de fato, não o é. Mas no caminho para nos tornarmos uma nação razoavelmente melhor está justamente o respeito da população pelo próprio sistema de governo. Quanto mais pessoas virem as leis sendo respeitadas e criminosos sendo punidos, mais vontade de ajudar o processo. Uma das formas mais eficazes de “civilizar” um povo é manter as coisas em ordem até que esse mesmo povo comece a sentir orgulho dos seus avanços.

E é justamente nesse orgulho, nessa noção de manutenção de civilidade de um povo, que leis estúpidas (mal planejadas) fazem mais mal do que bem. A intenção de se diminuir a violência é nobre sim, mas além do que está sendo proibido ter pouco ou quase nada a ver com o problema, a lei ainda vai ser solenemente desrespeitada por muitas pessoas.

Isso desmoraliza o poder público. E se você quer viver num país civilizado, tem que respeitar as leis. Você e as pessoas ao seu redor. Esse tipo de lei, medida, norma, regra… tudo o que é criado sem um estudo do público ao qual se pretende regular tende a virar uma piada de muito mais mau gosto do que se imagina.

Quem quer diminuir a violência nos estádios tem que enfiar todos os chefes de torcidas organizadas na cadeia. POR MUITO TEMPO. E aqui o outro motivo pelo qual acho essa medida um desfavor. Assinar acordo de cooperação entre poder público e chefes de torcidas organizadas é pedir para ser feito de otário pelo inimigo.

Sally não deve concordar muito comigo aqui, mas é tapar o sol com a peneira dizer que não são as torcidas organizadas que realmente fazem a violência nos estádios ser como é hoje em dia. Claro que todo chefe de torcida (quadrilha) vai dizer que só quer a paz e até ajuda a sociedade, daquele jeitão mafioso de ser. Mas são as organizadas que causam os problemas sim, porque elas funcionam justamente como um grupo de pessoas “irreconhecíveis”, o que apóia a impunidade, o que nos leva ao mesmo problema de pessoa menos civilizadas por não respeitarem e não verem seus “iguais” respeitando a lei.

A violência nos estádios diminui quando “um torcedor” tiver nome, sobrenome, foto e acusação formal pelos crimes que comete. Quando diminuir a impunidade. A Inglaterra era pior que o Brasil nesse aspecto, começou a pegar as PESSOAS que estavam fazendo isso, hoje em dia os campos de futebol profissional de lá não tem nem separação entre campo e arquibancada.

Os ingleses xingam no estádio assim como nós, mas começaram a se orgulhar de seu novo comportamento pacífico. Viram a lei sendo cumprida. É “receita de bolo” para se ter uma população mais educada e civilizada.

Numa arquibancada de jogo de futebol, o palavrão é um direito sagrado. Faz bem xingar ali e é o momento de extravasar. Vejam só que divertido: Algum azarado pode acabar sendo preso por xingar a mãe do juiz, sabendo que uma torcida organizada armou uma confusão fora do estádio e ninguém foi preso.

“Esse país não é sério.”

Então, que tal começarmos a obedecer às leis que já existem (a maioria muito bem pensada) e não criarmos leis estúpidas só para aparecer na mídia, senhor Promotor?

Porque, francamente, puta que pariu, que idéia de merda!

Para dizer que é chefe de torcida organizada da paz e vai me matar, para dizer que gosta do Brasil bem corrupto para poder fazer merda à vontade, ou mesmo para me xingar de tudo quanto é nome: somir@desfavor.com


Sally

Entrou em vigor nesta quarta-feira a proibição de falar palavrões e fazer gestos obscenos nos estádios da Paraíba. Vale inclusive para o Campeonato Estadual. Eu sei que parece piada, mas não é. A intenção? Acabar com a violência nos estádios! Brilhante!

Vamos fazer um rápido exercício de imaginação: você pagou para ver seu time jogar. Onze jogadores, que ganham mais do que você e são pagos apenas para chutar uma bola entram em campo. Eles jogam mal, mas mesmo. Mal tipo Palermo (perder três pênaltis em um único jogo? Não, eu nunca vou esquecer!). Daí você não pode gritar, não pode xingar, não pode mostrar o dedo médio para desabafar sua revolta. As chances de alguém estourar em uma conduta violenta são menores ou maiores?

Já falamos aqui sobre a finalidade desabafo-pedagógica do palavrão. Quando você bate com o dedinho do pé na quina da mesa, um belo “PUTA QUE PARIU” ameniza a dor. Da mesma forma que quando o atacante do seu time pisa na bola em vez de chutá-la, um belo “FILHO DA PUTA!” ajuda a extravasar. Mas, com esta proibição, o torcedor tem que entubar. Parece uma proibição pouco inteligente, pois gera ainda mais chances de dar confusão nos estádios.

O que é violência? Xingar é violência? Em que contexto? Na minha opinião (who cares…) xingar em um estádio uma pessoa que sequer está te escutando não é violência. Mas agora não pode mais nem xingar o juiz! O xingamento faz parte do pacote que é ir assistir a um jogo de futebol. Ao menos eu nunca vi uma torcida que grite “Chato, feio, bobo e cara de mamão!”

Outro detalhe: como você vai fiscalizar QUEM está xingando e quando? Teriam que colocar um policial por cada torcedor, nas arquibancadas! A idéia já nasceu inviável, vejam só que coisa mais ridícula. E o representante das torcidas organizadas, ainda assim, assinou um TAC, Termo de Ajustamento de Conduta, que obriga os torcedores a seguir esta limitação. Desculpe, mas se o líder na minha torcida organizada faz isso, me perde como membro da torcida. Tá doido? Ficar negociando meu direito a falar um palavrão?

O que se divulga é que policiais militares fiscalizarão os estádios em dias de jogo (quantos? Não tem bandido para prender nas ruas não? Vai deslocar um monte de policial para isso?). Inclusive foi divulgado que músicas contendo palavrão ou qualquer alusão à violência também estão proibidas. Daí imagina um grupo de umas mil pessoas cantando uma música “proibidona”. Quantos policiais vão ser necessários para dar voz de prisão em flagrante para esse povo todo?

Esta medida tão sensata foi apelidada de “Lei Pimenta na Boca”. Vejamos declarações dos envolvidos para ver se conseguimos uma pista sobre esta determinação teratológica: “Não basta só segurança no estádio. É necessário também que o estádio seja um ambiente saudável à família paraibana, à família brasileira como um todo – diz o assessor jurídico da Federação Paraibana de Futebol”. Gentemmm… eu devo ser muito tosca, porque para mim, um ambiente saudável EM UM ESTÁDIO DE FUTEBOL, é com pessoas xingando juiz e jogador. Gostaria de perguntar a este Assessor Jurídico se ele não xinga quando assiste um jogo do seu time no estádio e se ele não tem vergonha de abrir a boca para dizer uma frase tão hipócrita em público. Vontade até de dar uma investigada na vida dele, para ver se ele é tão “moral e bons costumes” assim, porque sabe como é, quem mais aponta é quem mais tem um esqueletinho no armário.

A conseqüência natural do xingamento não é a violência física. Quem aqui nunca viu dois amigos homens se reencontrando após um período sem se ver? É um tal de “Faaala seu filho da puuutaaa!” e “Faaala seu viaaado!”. Em determinados contextos, palavrão é socialmente aceito. Porra! Tem palavrão em novela da Globo! Pode no horário nobre da TV, com criança na sala, mas não pode no estádio? Então valeu.

Nem vou entrar no absurdo que é punir criminalmente quem fala palavrão. Lesividade zero, insignificância total. É coisa de quem quer ser mais realista que o rei. Fica o alerta. Porque vai que isso se espalha em um esquema de “vamos educar a torcida para 2014”…

A babaquice nos estádios já tinha sido alvo de outro Desfavor da Semana, no ano passado (título “Macaquitos”, nosso campeão máximo de spam). Desfavor avisou. Agora a coisa piora e fica ainda mais ridícula: além dos jogadores não poderem se xingar, a torcida também não pode xingar os jogadores nem o juiz. Já que a palhaçada tomou estas proporções, façam uma lei específica para o TÉCNICO também ser proibido de xingar, porque é certo que o Dunga sai em cana. Ao menos algo divertido seria originado por essa grande imbecilidade.

Os torcedores, claro, não pretendem levar a sério a novidade. A torcedora símbolo do Botafogo-PB, uma senhorinha de 75 anos, disse que pretende continuar falando palavrões “muito feios”. Vejam que não se trata de “coisa de homem” nem de “coisa de gente jovem sem moral e bons costumes”. Uma mulher de 75 anos reconheceu a necessidade do palavrão.

Duas conseqüências podem vir desta lei: as pessoas pararem de freqüentar os estádios por causa da proibição (= prejuízo financeiro) ou as pessoas simplesmente ignorarem esta proibição e continuarem falando palavrão (= desmoralização). Qual será que os palhaços que montaram este circo preferem? Prejuízo financeiro ou desmoralização?

Essa proibição de proferir algumas palavras determinadas me lembra muito à censura na época da ditadura militar, onde não se avaliava o contexto, a intenção, a lesividade. Bastava falar “a palavra” e pronto, você já estava sujeito a uma visita à delegacia. É para frente ou para trás que estamos andando? Porque mesmo que ninguém cumpra, acho um absurdo por si só que alguém tenha ousado determinar uma coisa assim!

E para aqueles que adoram bancar de advogados, desde já devo advertir que antes que digam que há crime de injuriacaluniadifamação (porque sim, leigo acha que qualquer xingamento é os três aos mesmo tempo), para caracterizar uma ofensa como um ilícito penal, dentre outros requisitos, se exige que ela tenha sido proferida com “ânimo calmo”, ou seja, que a pessoa não estivesse de cabeça quente. Se você achar UM com ânimo calmo em um estádio de futebol, eu te dou uma medalha.

Desfavor de quem teve essa idéia, desfavor de quem ajudou a colocá-la em prática e DESFAVOR DA IMPRENSA, QUE APENAS NOTICIOU, SE OMITINDO, SEM MANIFESTAR QUÃO RIDÍCULA ELA É! Impressionante como jornalista brasileiro, no geral, não se compromete!

Para perguntar se cartaz com xingamento pode, para torcer pela adoção desta providência no Recife de modo a que os torcedores do Sport sejam obrigados a não falar palavrão e para dizer que acha que a gente inventou esta notícia: sally@desfavor.com

Des Contos

SÚÚÚ SÍÍÍ!!!

Siago Tomir é elitista para algumas coisas (por exemplo, para música) e extremamente bagaceiro para outras (Timão? Oi?). Quando se trata de hábitos alimentares, Siago Tomir é bagaceiro – e com orgulho. Siago Tomir come todo tipo de enlatado, embutido e fast food nocivos à saúde, apesar de saber que ele, em particular, deveria tomar especial cuidado com a sua dieta.

Eu sou uma pessoa mais dedicada à saúde, principalmente na época em que trabalhava com o corpo. Quando o corpo é seu instrumento de trabalho, você não pode se dar ao luxo de alguns excessos. Procuro comer de forma saudável. Não faço dieta de fome, apenas evito alguns hábitos que intoxicam o organismo, como por exemplo, passar uma semana inteira SÓ comendo Mc Donald´s, coisa que já vi Siago Tomir fazer sem o menor constrangimento.

O fato é que de uma forma ou de outra, somos pessoas que tem muito prazer em comer, cada um da sua forma. Então, nossos programas sempre envolviam um evento gastronômico. E na hora de escolher onde iríamos jantar, muitas vezes a chapa esquentava. Siago Tomir quase nunca cede.

Tomir: Você quer jantar onde?

Sally: Não sei porque você me pergunta, você nunca aceita uma sugestão minha… escolhe logo, não me faça perder tempo.

Tomir: Isso não é verdade

Sally: Escolhe você, me poupe de aborrecimento

Tomir: Se estou perguntando é porque quero a sua opinião

Sally: Se eu falar onde eu quero ir, você me leva?

Tomir: Só porque quero a sua opinião eu sou obrigado a acatá-la?

Sally: Aff

Tomir: Anda, fala logo, o que você quer comer?

Sally: Eu sempre falo e você recusa. Vamos fazer assim: te dou uma lista de três possibilidades e você escolhe uma das três

Tomir: Seeeem problemas!

Sally: Frutos do mar, comida italiana ou comida tailandesa?

Tomir: Hmmmm

Sally:

Tomir: Frutos do mar… NÃO

Sally:

Tomir: Comida italiana… NÃO

Sally:

Tomir: Comida tailandesa… NÃO

Sally: TÁ VENDO?

Tomir: Você quer me levar nesses lugares onde eles colocam uma miséria de comida no meio do prato!

Sally: Onde que cantina italiana serve pouca comida?

Tomir: Custa dar outras sugestões? A gente está conversando! Você não sabe dialogar!

Sally: *mostrando dedo médio a Tomir

Tomir: Ok, você ficou chateada. Eu deixo você escolher o que quiser, tá?

Sally: Aff

Tomir: E dessa vez eu vou aceitar, estou dizendo de antemão que vou aceitar

Sally: *sorriso maligno

Tomir: Não vai escolher aqueles restaurantes franceses, né?

Sally: Não, não.

Tomir: Ótimo. Então, o que vamos comer?

Sally: Comida japonesa

O rosto de Tomir se desconfigurou. Ele sempre fez aquele discurso de “não gosto, é cru” mesmo sem nunca ter provado. E também fazia um discurso um pouco mais preconceituoso que relacionava o hábito de comer comida japonesa à preferência sexual do homem, o qual me recuso a repetir.

Tomir: Japonesa?

Sally: É. Eu adoro e você disse que ia aceitar

Tomir: *rosnando entre os dentes Mas eu não gosto…

Sally: Você nunca provou. Se veste que hoje a gente resolve isso.

Caipira é foda. Esse discurso de “eca, é carne crua” é a maior mentira que eu já vi. Porque merda ele come carpaccio se é tão nojento comer carne crua? E porque essa mania DE POBRE de associar uma refeição satisfatória à quantidade de comida que vem no prato? É perfeitamente possível ter sensação de saciedade sem sensação de entupimento jibóia depois de devorar carneiro.

Lá foi Madame me levar em um restaurante japonês, todo contrariado e resmungando que achava ridículo um lugar onde a toalha era cozida e a comida era crua, que cobravam um preço absurdo por cubinho de peixe e arroz e que nem deveria se chamar restaurante japonês, porque em qualquer restaurante japonês que você fosse o sushiman era baiano.

Chegando no local, ele apontou para o sushiman e disse “Olha ali! Não disse? Olha lá seu colega de axé!”. Depois ele perguntou para o garçom foi se tinha alguma coisa que não fosse crua no restaurante.

Sally: Negativo. Você vai comer sushi e sashimi comigo, se não gostar depois você pede um prato cozido

Tomir: Você vai me obrigar a comer? É isso?

Sally: Não, eu estou te pedindo para PROVAR. Se não gostar, não precisa comer

Tomir: Você precisa levar um tiro para saber que é ruim?

Sally: Porque é quase a mesma coisa, né? Comer um sushi ou levar um tiro

Tomir: Se você faz tanta questão, eu até experimento, mas já aviso que eu não vou gostar

Sally: Aff

Quando o jantar chegou, um lindo barquinho cheio de sushis e sashimis coloridos, Madame ainda soltou um “Que gay!” bem na cara do garçom. Comecei a comer e percebi que ele apenas olhava.

Sally: Pode comer. É comida, não é merda não, tá?

Tomir: O que eu mais gosto em você é esse seu jeito meigo

Sally: Come logo, Siago!

Tomir: * cara de sofrimento

Sally: Anda, pega um pedaço de salmão, passa no molho shoyo e come!

Tomir: Nessa coisa preta?

Sally: É, nessa coisa preta. Fica muito mais gostoso

Tomir: Mas tem que passar nessa coisa preta?

Sally: CARALEEEOOOUUU! Come UM, se você não gostar, pede outra coisa!

Tomir: Qual é a pressa? Tá com medo que a comida esfrie? *rindo sozinho da própria piada

Madame ficou olhando uns dez minutos para o sashimi antes de pegar. Depois ficou cutucando com o hashi, como se fosse um bicho vivo ou algo assim. Depois tentou cheirar.

Sally: Tá com nojo do sushimi? Come um shushi então!

Tomir: Essa coisa com essa alga preta em volta? Nem amarrado!

Sally: Essa alga não tem gosto de nada, pode comer sem medo

Tomir: Nem morto

Sally: A alga faz bem à saúde!

Somir: Sério que é esse seu argumento? Conheça seu público!

Sally: CUSTA PROVAR?

Somir: CUSTA!

Sally: Ai que saco…

Depois de muito insistir, Siago pegou um sashimi de salmão, passou de leve no molho shoyo e, muito hesitante, colocou na boca. Foi ficando verde… verde… eu tava vendo a hora em que ele ia vomitar, e eu por conseqüência ia vomitar junto (Vômito solidário, lembram?). Ele deve ter mastigado o sashimi umas duzentas vezes, e engoliu com lágrimas nos olhos.

Tomir: Nada de mais

Sally: Mas você não detestou?

Tomir: Não, não detestei

Sally: Eu sabia que você ia gostar!

Tomir: Eu não gostei

Sally: Não detestou e não gostou? Então o que você achou?

Tomir: Nada de mais.

Sally: Bom, então não precisamos pedir outro prato…

Tomir: TÁ MALUCA?

Sally: Hã?

Tomir: ISSO AQUI NÃO ENCHE NEM O BURACO DO MEU DENTE!

Sally: Essa tua alma gorda e caipira te estraga…

Tomir: *batendo na barriga com orgulho

Sally: Come um sushi

Tomir: NÃO! A ALGA NÃO!

Sally: Que saco… Vai comer este jantar comigo. Come o que quiser, mas come comigo!

Tomir: A ALGA NEM PENSAR!

Sally: Garanto que no hambúrguer e na salsicha que você come tem coisa muito mais nojenta!

Tomir: Garanto que não!

Siago beliscou um ou outro sashimi, sempre com uma expressão duvidosa no rosto. Parecia que estava sendo obrigado a comer cocô de girafa.

Sally: Come esse aqui, é uma delícia!

Tomir: Ovas?

Sally: É

Tomir: Isso é foda de peixe, você sabe?

Sally: QUE NOJO!

Tomir: É sério. Eu não vou comer o produto da foda de dois peixes

Sally: Quem disse que os peixes foderam?

Tomir: Que seja, você comeria células reprodutivas não fecundadas de outro animal?

Sally: Você come ovo?

Tomir:

Acabamos de comer e eu perguntei à Madame se ele tinha ficado com fome e queria pedir outro prato. Ele resmungou que não, que estava enjoado. Fomos embora, ao som das reclamações de Siago Tomir, tecendo todo tipo de críticas ao lugar. No caminho de volta ele ficou repetindo que estava com gosto de sabão na boca e que aquela comida tinha embrulhado o estômago dele, falando sem parar. Até que, de repente, ele se calou. Ligou o pisca alerta fez um retorno com o carro. Sim, ele estava entrando em um Drive- Thru do Mc Donald´s.

Sally: Uéééé! Você não estava enjoado? Com o estômago embrulhado?

Somir: Estou

Sally: E vai comer aqui?

Somir: Sim, para tirar esse gosto de sabão da minha boca

Sally: Mas você disse que não estava com fome!

Somir: E não estou, estou com vontade de comer

A vontade de comer era grande, pelo visto. Duas promoções de Big Mac, deglutidos ao som de frases como “isso que é comida!” ou ainda “Isso sim tem um sabor agradável!”, como se ele fosse uma pessoa apta para emitir pareceres gastronômicos.

Sally: Você não vai viver para ver os seus filhos se formarem na faculdade

Somir: Você não quer ter filhos

Sally: Você está se matando, espero que saiba disso

Somir: Não, eu não estou me matando, estou te fazendo um favor

Sally: Posso saber COMO você está me fazendo um favor, detonando a sua saúde?

Somir: Pode. Você é mais velha do que eu. Você não gosta disso. Se eu detonar a minha saúde vou ficar com uma aparência acabada e você vai parecer mais nova do que eu.

Sally: Eu já pareço mais nova do que você.

Somir: Viu? Está dando certo! Depois você diz que eu não faço nenhum esforço por você…

Para dizer que seu namorado se comporta da mesma forma quando se trata de comida japonesa, para dizer que acha isso bem feito para mim porque quem mandou catar um caipira e para dizer que aquela alga é realmente nojenta: sally@desfavor.com