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Ele disse, ela disse: Bebedeira Social.

| Desfavor | | 64 comentários em Ele disse, ela disse: Bebedeira Social.

Estamos no final do ano, e isso significa um aumento considerável de eventos sociais de maior porte. E já que estamos na “estação”, os líderes desta impopular nação começaram a discutir sobre comportamentos aceitáveis nessas festas e reuniões. Mais precisamente, o hábito de encher a cara enquanto rodeado por pessoas nem sempre tão íntimas…

Tema de hoje: É aceitável se embriagar em eventos sociais de grande porte?

SOMIR

Sim, é. Não é necessariamente bonito ou te exime das responsabilidades pelo o que faz, mas tratar sobriedade como uma exigência indesculpável num evento social é tapar os olhos para o mundo que nos cerca.

Sejamos honestos, grande parte desses eventos sociais são um oceano de chatice pontilhado por ilhas de diversão. Alguns tem solenidades, outros tem muitos estranhos ou pessoas de pouco ou nenhum interesse… Não estou dizendo que todo mundo é tão chato como alguém anti-social por natureza como este que lhes escreve, mas em níveis menores, todo mundo vivencia momentos entediantes e desconfortáveis nessas situações.

E como eu sei muito bem, é quase que um crime mencionar algo óbvio assim. Nada pode ser interessante e agradável o tempo todo, mas dizer isso de algum evento social te tacha como pessoa horrível na hora. E o povo não tem muito interesse em carregar essa cruz.

Compreensível, às vezes enche o saco mesmo. O caminho de dizer que costuma achar essas coisas chatas e que prefere “escolher suas batalhas” não te torna uma pessoa popular, posso garantir. E é justamente nessa sanha de se mostrar como alguém que sempre se diverte e “está muito feliz, obrigado(a)!” que a bebida vem a calhar.

Não dá para tapar o sol com a peneira: Estar de fogo aumenta bastante as ilhas de diversão. A pessoa fica menos exigente, cínica e mais aberta a interações com outros seres humanos. Também pode se tornar uma babaca completa, mas eu já disse que nada pode ser interessante e agradável o tempo todo.

E é bom reforçar que eu não acredito numa escolha consciente nesse nível mais básico de “demonstrar felicidade”, a pessoa bebe no evento porque sempre fez isso, sempre viu isso e nunca está sozinha no comportamento. E vejam só, realmente as chatices da vida ficam muito mais tragáveis depois de algumas doses a mais. É uma forma de maximizar a estadia nos momentos divertidos de uma festa ou evento social.

A verdade é que boa parte da humanidade se comunica dizendo basicamente as mesmas coisas de forma previsível e repetitiva, esperando imitação e aceitação das outras pessoas. Nossos rituais de interação social são vergonhosamente parecidos com rituais de acasalamento e dominação encontrados em virtualmente todos os animais irracionais. É tudo muito padronizado e as pessoas esperam essa padronização. Se isso só te “acerta” inconscientemente, é quase certeza que você vai precisar de ferramentas para acreditar que não está simplesmente fazendo as mesmas coisas com pessoas diferentes a vida toda. Ah sim, você vai morrer um dia. Uma dessas ferramentas é a bebida (e/ou outras substâncias que mexem com sua percepção da realidade).

Não é a única ferramenta, bom ressaltar, mas é uma delas.

Claro que tem gente que encara a vida sem beber, claro que tem gente que vai dizer que nunca precisou de uma gota de álcool para se divertir, claro… Mas esse é um argumento dado a muitos subjetivismos. Se vamos começar a listar as coisas que as pessoas não precisam para ser felizes, podemos incluir até água encanada, luz elétrica e alimentação diversificada. Não PRECISAMOS de boa parte das coisas que utilizamos no dia-a-dia, mas isso não quer dizer que elas não possam aumentar a nossa qualidade de vida (ou mesmo nos divertir mesmo não tendo qualidade “existencial” nenhuma…).

Mesmo que eu seja contra essa cultura de exaltação adolescente de gente que bebe muito, usa muita droga, faz muito sexo e exagera em qualquer outra coisa; não é razoável exigir padrão de comportamento baseado em sobriedade e vida saudável. Se está exagerado de um lado, não é exagerando do outro que se resolve.

Existe um meio termo: As pessoas bebem, as pessoas fumam, as pessoas comem comidas gordurosas e se arriscam por bobagens o tempo todo. É bom tomar um certo cuidado, mas é até cruel exigir que esses muitas vezes prazerosos comportamentos auto-destrutivos sejam erradicados.

A vida também é um oceano de chatice. Se não fossem as ilhas da diversão (vou lançar esse livro de auto-ajuda… está bem cafona) não sei nem como a humanidade continuaria existindo. Pra muita gente beber é uma válvula de escape que não se torna um caso horrível de alcoolismo e cirrose hepática… E mesmo considerando que existe uma medida de moderação para não descambar para um vício destrutivo, alguns porres estarão pelo caminho. Algumas bebedeiras por ano não fazem do cidadão um bêbado incorrigível.

Sim, ele pode acabar passando vergonha e enchendo o saco das outras pessoas ao seu redor numa dessas situações, mas é realmente um preço tão alto a se pagar para que as pessoas possam ligar a tecla “foda-se” em eventos sociais como esse? E nem digo isso do ponto-de-vista de quem está advogando em causa própria, minhas maiores bebedeiras ficaram na adolescência e eu bebo cada vez menos com o passar dos anos. Mas não vou exigir que as pessoas sejam sóbrias “por mim”.

Os problemas decorrentes da bebida são problemas por si só. Não estou defendendo o filho-da-puta que dirige trêbado e o que chega em casa e bate na mulher, estou defendendo aquele seu tio mala que bebe demais na festa de Natal, conta uma piada suja na mesa e acaba roncando no sofá. Ou mesmo aquele amigo que vomita no banheiro e diz que te ama dez vezes depois disso.

Acontece, e é compreensível sim. A pessoa não precisa beber SÓ para se esconder dos problemas e tentar se matar lentamente, ela pode fazer isso só para parecer mais sociável ou mesmo para aproveitar a sensação divertida de estar um pouco alta.

É aceitável que pessoas diferentes lidem com a vida de forma diferente. E é aceitável que você não esquente a cabeça com elas.

Para me chamar de alcoólatra de duas latas de cerveja no Sábado, para contar alguma história triste sobre a bebida acreditando que isso seja minimamente relevante para a discussão, ou mesmo para me contar quanto você bebeu outro dia desses, como se fosse algo digno de mérito: somir@desfavor.com

SALLY

É aceitável se embriagar em eventos comemorativos de grande porte, como por exemplo, uma festa de natal ou de final de ano? Não, mil vezes não.

Na verdade, eu não sou a melhor pessoa do mundo para falar sobre o assunto, pois eu não acho que seja aceitável se embriagar NUNCA. Mas, independente desta opinião isolada, acho mais grave ainda se embebedar em um evento comemorativo de grande porte, uma vez que é um evento de grande visibilidade que pede um determinado comportamento mínimo de convívio social.

Uma coisa é ir na casa de um amigo e beber um pouco mais, estando apenas entre pessoas queridas (ainda assim, acho terrível beber para se divertir). Outra coisa é estar em um evento comemorativo, onde tem DE TUDO: amigos, conhecidos, desconhecidos, colegas de trabalho, familiares, familiares do seu cônjuge, crianças, pais, filhos… Porra! É, no mínimo inconveniente se embebedar na frente de um grupo grande de gente. Você nunca sabe quem está te vendo. Você pode não controlar muito bem o que vai fazer. Pode perder a civilidade e o senso de conveniência e se portar de forma a criar uma imagem negativa na frente de pessoas que um dia podem fazer uma diferença na sua vida.

Eu sei, eu sei. Talvez eu esteja sendo romântica de pensar que ficar bêbado e dar vexame vai depor contra alguém. Aqui no Rio, quase todo mundo faz, e a maior parte ainda acha bonito e tira onda “Ontem eu bebi mooooito! Nem lembro como eu cheguei em casa!” – *olhar de admiração dos colegas. Mas, apesar disso, eu acredito que existam seres humanos como eu, que achem uma bebedeira desnecessária, falta de postura e falta de controle. E ainda que todos achem lindo, é feio porque é feio, não porque os outros acham que é feio. Precisar ou querer beber até ficar bêbado quando se está em um evento para interagir com outros seres humanos, muito dos quais você sequer tem intimidade é idiota. Ficasse em casa então.

Sem contar que, mesmo que você não se importe em ser o bobo da corte da festa, em ser motivo de riso e piada, esse comportamento respinga merda naqueles que te cercam. Seus pais, seus filhos, seus irmão, seu parceiro, seu chefe… alguém pode se importar por uma questão de ter o nome atrelado a você. Respinga pelo simples fato da pessoa não ter compostura e se embebedar como também pelos eventuais vexames que cometa na bebedeira. São duas coisas diferentes.

Esses eventos comemorativos não são feitos para se portar como você quer, são feitos para se portar conforme um conjunto mínimo de regras sociais. É por isso que eu quase nunca compareço a esses troços, não suporto fazer meu papel nesse teatro de hipocrisia social. Não gosta? Não vá. Tem gente que se acha super rebelde porque vai e não segue a convenção social, bebe e fica afrontando os outros a noite toda. Me poupe! Ir e dar vexame não é contestar a hipocrisia social, é tomar um banho de merda da cabeça aos pés, é carimbar um atestado de sem noção, inconveniente e chato.

Mais: em tempos de celular com câmera e acesso à internet, é bem provável que um lapso de um bêbado vire um vídeo no YouTube que vai perseguir o protagonista para sempre. Foi-se o tempo onde um vexame bêbado era apenas uma história engraçada que poucos compartilhavam. Hoje você pode ver “ao vivo e a cores” o fato quantas vezes quiser na internet. A namorada(o) de quem deu vexame também. Os pais também. Os filhos também. Todo mundo vai sentir as consequências. Isso é justo? Não, isso é uma puta falta de consideração. Sério mesmo que alguém quer um vexame desses documentado para sempre e anexado implicitamente a seu curriculum?

Quando se está entre amigos, entre pessoas que nos querem bem e com as quais temos uma relação mínima de intimidade e confiança, podemos nos dar ao luxo de fazer certas coisas que talvez não fossem aceitas em um evento social. Não que eu ache aceitável ficar bêbado em algum lugar, continua inaceitável, mas, entre amigos, as consequências nocivas tendem a ser menores.

Porém, o presumível é que quando você estiver em um evento onde estão presentes pessoas com as quais você não tem intimidade, vai evitar esses comportamentos. Se não por respeito às outras pessoas, que não tem que assistir a inconveniência de um bêbado, por você mesmo, para não passar vergonha, mostrar inadequação e imaturidade.

Não acho saudável que um filho pequeno veja seus pais bêbados. Não acho apropriado que seu chefe e seus colegas de trabalho te vejam bêbados. Não acho adequado que seus pais te vejam bêbado. É uma questão de se dar ao respeito. Uma pessoa que protagoniza um vexame qualquer envolvendo falta de controle por estar bêbada não enseja muito respeito nem credibilidade.

Acho, inclusive, falta de consideração com quem promove o evento, pois esses vexames geralmente cagam a festa. E mesmo que um bêbado não dê vexame (duvido), bêbados são chatos e inconvenientes e podem acabar causando alguma confusão, o simples risco é motivo para não se embebedar. O fato da pessoa correr esse risco já mostra que é idiota. Porque tem gente que mede o quão grave é um ato pela consequência: se não sair prejudicado então não é grave. Isso é um absurdo. Se fosse assim todo mundo poderia dirigir bêbado e só seria punido aquele que causasse um acidente. Não é assim que a banda toca. O simples fato de assumir o risco basta. Se embebedar nesses eventos é um risco desnecessário.

Quer dizer, deveria ser um risco desnecessário. Para muitas pessoas é de fato necessário pois um misto de insegurança e fobia social faz com que PRECISEM beber para comparecer a uma festa de grande porte e interagir, rir, se divertir e socializar. Isto, na minha opinião, é o maior vexame de todos. Pior do que vomitar dentro do fuckin’ piano da festa. O que é mais triste: precisar desse recurso para socializar ou optar voluntariamente por queimar seu filme na frente de quem quer que seja?

Quando estamos em público uma certa postura é exigida e esperada, até mesmo por uma questão de educação. Não se peida no meio da ceia de natal na casa da sua sogra, levanta o dedo e diz que peidou. Não se mostra a bunda na festa de final de ano da empresa. Não se caga na varanda na festa de ano novo. Um mínimo é necessário para que os seres humanos possam conviver uns com os outros sem se matarem. Na minha opinião, encher a cara ultrapassa esse mínimo não só pelo ato em si, mas como também pelos riscos que ele implica e pelos atos que serão consequência da bebedeira.

Beber em excesso é vulgar e inapropriado. Se você não concorda, procure se manter completamente sóbrio em uma meia dúzia de eventos onde existam pessoas bêbadas e me diga se não muda de idéia. Beber em um evento de grande porte é falta de consideração com seus acompanhantes e com todas aquelas pessoas às quais seu nome está atrelado. É bobo, imaturo e infantil.

É típico de quem gosta de se exceder na bebida minimizar o problema desmerecendo o ponto de vista das pessoas corretas que não gostam de vexame. Observem eu não me importar… Pessoas que bebem até ficarem bêbadas e não se envergonham disso invariavelmente tem uma mente torta e partem de premissas erradas para se auto-perdoar. Nem sequer discutirei com esse grupo.

Para dizer que inconveniente é não beber já que se todos estiverem bêbados ninguém vai se lembrar dos vexames, para citar bêbados bem sucedidos na vida ou ainda para me perguntar como encarar esses eventos de cara limpa: sally@desfavor.com

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