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Ele disse, ela disse: Dois pesos e uma medida.

| Desfavor | | 45 comentários em Ele disse, ela disse: Dois pesos e uma medida.

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O mundo está ficando mais gordo. Consequentemente, os casais também (sejam lá os gêneros envolvidos). Com tanta fartura disponível no mercado, é cada vez mais relevante o que Sally e Somir discutem aqui. Os impopulares colocam seus pesos para desequilibrar a balança.

Tema de hoje: Quem está gordo tem a moral de reclamar que o parceiro engordou?

SOMIR

Sim. E eu vou dividir minha argumentação em duas partes: na primeira eu digo como a discussão nasceu morta porque da lógica não se ganha, e na segunda eu entretenho o “argumento uterino” que aposto que a maioria de vocês valorizam no final das contas. Spoiler: não fica tão mais fácil assim discordar.

Primeiro, o que realmente importa: Podemos reescrever a pergunta de novo, segunda semana seguida! Dessa vez a pergunta é: “Uma falácia invalida um argumento?”. E para essa pergunta minha resposta também é sim! O argumento independe de quem o utiliza. Mesmo que o Hitler te diga que matar é errado, o argumento ainda vale. Essa coisa de “moral para falar” é uma fabricação de gente que coloca o ego acima da razão.

Ninguém precisa de “moral” para ter um ponto de vista aceitável. Tanto que só usamos essa escapatória ilógica quando nos é vantajoso. Se um gordo olha para você e te diz que você está bem fisicamente, você não vai franzir a testa e perguntar que moral ele tem em tom desafiador, vai? Se o gordo não tem moral para falar mal, não teria para falar bem. Se a falácia te protege de uma crítica, ela é nobre, certo? Que conveniente.

De qualquer forma, estou apenas colocando essa ideia para ver se mais gente percebe a BOBAGEM que é essa coisa de ter moral para falar. Não se sustenta do ponto de vista lógico. Podem usar na vida cotidiana (até porque escapa, principalmente no meio de uma discussão mais acalorada), mas pelo menos tenham vergonha depois. É feio. Você provavelmente pode mais do que isso, ok? Falácia faz mal para o seu cérebro.

Mas é claro que eu não sou tão desconectado da realidade para não perceber que no fundo essa discussão é sobre ser aceitável que um gordo reclame da gordura da parceira. Ou vice-versa. Mas cá entre nós, é mais comum mesmo que o homem faça isso. E imagino que boa parte de nossas leitoras já estejam com a mentalidade de turba enfurecida, acendendo tochas e afiando os tridentes só de imaginar a cena proposta. Menos emoção e mais razão, por favor.

Atração física é um componente essencial numa relação que envolve sexo. E nem estou falando só do corpo da pessoa, sabemos muito bem que outros fatores fazem as vezes de Photoshop dos olhos, deixando a pessoa querida muito mais atraente do que seria se fosse uma mera estranha. Essa atração “extra-corpo” é um fator importante nas relações, mas não nos esqueçamos que eventualmente ela desemboca na aparência da parceira. Evidente que ela não precisa parecer com uma modelo anoréxica ou como uma boneca inflável falante à lá atriz pornô, mas é como se a mulher que você gosta assumisse um pouco das características de sua beleza idealizada na hora que a atração bate mais forte. Não precisa ser derivado exclusivamente da aparência física, mas na hora do “vamos ver”, assume essa forma.

Digo isso mais para deixar possíveis detratoras sem a escapatória fácil de simplesmente me chamar de fútil e superficial. Vão ter que se esforçar mais do que isso… ninguém disse que seria fácil defender irracionalidade. Boa sorte, contanto. Pois bem… É aceitável que alguém tente manter sua atração pela parceira? É mesmo tão horrível enxergar um problema na relação e tomar uma atitude?

Não dá para ficar mandando mensagens contraditórias e esperar coerência dos outros. Ou é uma medida de interesse verbalizar os problemas para encontrar soluções, ou é uma sacanagem com a mulher apontar o problema. Não dá para ser as duas coisas ao mesmo tempo. Se o cidadão acha que a parceira está muito gorda para o que ele considera atraente, seria mais digno ir embora e achar outra mais magra? Ou vocês acham que o nobre mesmo é fazer vistas grossas até perceber que o casal só faz sexo duas vezes por ano?

Grite, esperneie, chore… mas a medida do que é atraente para outras pessoa NÃO TE PERTENCE. Esse valor é alheio à sua vontade. O problema do homem achar a mulher gorda existe, e não dá para “querer” que ele desapareça. Força para as mulheres que tocam o foda-se para o que o homem quer, mas que pelo menos assumam as consequências de suas escolhas feito adultas. Sagrado direito da pessoa de não querer se conformar às expectativas do parceiro, claro! Agora… toda moeda tem dois lados: sagrado direito do parceiro de não querer continuar com você.

Quem disse que um homem dizendo que sua mulher está gorda está necessariamente sendo egoísta? Egoísmo é deixar a pessoa se foder sozinha e pular fora. Enquanto ele está reclamando e se dispondo a acompanhar o processo, ele está jogando pelo time. Se ninguém abrir o bico, a relação colapsa sob o próprio peso (ha!). Quer ser o sapo na panela? Tudo bem, só não vem encher o saco de quem está tentando resolver.

“Mas ele também está gordo!” – Disse a pessoa imune à lógica.

E para ela, eu respondo: Existem dois caminhos possíveis aqui, ou você enxerga o sobrepeso dele como um impedimento para a atração física ou ainda sente vontade de fazer sexo com ele normalmente. Se for o primeiro caso, essa bola está no campo dele. Você continua estando mais gorda do que ele acha atraente. Ponto. Ele não vai te achar mais magra se tiver se olhando no espelho… Evidente! Você pode até ficar brava por achar que ele não está dando exemplo algum, mas… novamente… você emagreceu por esse motivo? Não, né? Precisamos aprender a separar os problemas. Ninguém disse que no exemplo de hoje ele vai se negar a emagrecer também. É até comum que o casal entre nessa unido. E se ele se negar, oras, aí ele que está se arriscando a te perder. Direito dele.

E se na verdade não te incomoda que ele esteja gordo, não existe um problema real. É picuinha de quem não gosta de sofrer críticas. Quer ver o outro sofrendo só porque vai sofrer? Ao cidadão não basta aguentar uma mulher gorda como uma sádica também? Depois não sabem porque tantas relações dão errado. Reclame de problemas que existem pelo menos, oras.

E só para cagar na saída: homem tende a relevar MUITO falta de ambição ou independência numa mulher. Mulher quase nunca releva. Percebam que eu não estou falando de dinheiro especificamente. Mulher “passada” e preguiçosa ainda consegue “casar para cima” na sociedade, homem não. Se somos mais chatos com aparência, faz parte. Cada um que reclame do que acha importante, e que não nos escondamos dos problemas com essa historinha furada de “ter moral”.

Quebrar o espelho não muda sua aparência.

Para bater o útero no teclado até sair alguma frase coerente, para dizer que eu devo pesar um quilo para cada palavra que escrevi, ou mesmo para perguntar onde fica o amor (de preferência num quarto com a luz acesa…): somir@desfavor.com

SALLY

Oi? É o quê???

Por questões práticas (pois é quando isso majoritariamente acontece), vou trabalhar com a hipótese onde um homem critica uma mulher durante todo o texto, mas saibam que vale para qualquer relação amorosa entre dois seres humanos, quaisquer que sejam seus gêneros: quem está gordo simplesmente NÃO TEM MORAL para reclamar que o outro engordou.

É uma questão de coerência, de vergonha na cara, de semancol: quem está acima do peso não pode reclamar de quem está engordando. É como estar com um namorado que te chifra toda semana e quando um dia você resolve traí-lo, ele faz um escândalo. Por favor, onde foi parar o bom senso? Como é que um gordinho vai se sentir no direito de reclamar que outra pessoa está engordando? Quem está gordo não tem o direito de reclamar que a parceira engordou e um belíssimo palavrão para quem pensa que deve ser aceito de cabeça baixa que mulher tem mais obrigação estética do que homem. O fato da sociedade ser escrota e tratar a mulher assim não avaliza seu parceiro a reproduzir a babaquice.

Eu já acho meio asquerosinho a pessoa dar tanta importância ao físico a ponto de se indispor com um parceiro(a) por causa de corpo. Mas tudo bem, vamos lá, nem todo mundo tem esse desapego. Que seja, vamos trabalhar com uma hipótese onde a questão estética seja realmente importante, seja realmente prioridade para aquela pessoa. Eu posso entender ISSO. Eu posso compreender ou ao menos aceitar que para algumas pessoas a estética seja prioridade. O que eu não posso entender é a hipocrisia, a contradição de dizer que estética é prioridade e não cuidar do próprio corpo!

A gordura localizada só incomoda quando está localizada nos outros?  Como é que um gordinho não sente PROFUNDA VERGONHA de abrir a boca para fazer exigências estéticas sobre sua parceira, sobretudo referentes a gordura? Isso me parece um sinal claro de uma pessoa sem noção, inconveniente e egoísta.

Estar em forma não é uma dádiva, como muitas pessoas gostam de fazer parecer: “Você tem SORTE de ser magrinho”. Não. Depois do 40 dificilmente alguém é magro por sorte. Geralmente essa “dádiva” vem de disciplina que conjuga uma alimentação minimamente decente com exercícios de qualquer espécie. Isso não deixa de ser um esforço: ninguém acorda diariamente com vontade de comer um grelhado e de ir para academia. Partindo da premissa que é um esforço, me parece uma tremenda cara de pau pedir que uma pessoa o faça quando o próprio requerente não o faz. COM QUE MORAL?

Além da escrotidão de priorizar atributos físicos, quando na verdade uma pessoa é bem mais do que isso, se soma a injustiça, a cara de pau e a incoerência de quem faz uma coisa dessas. Dá vontade de perguntar: “Vem cá, você tem espelho em casa?”. Mas se tem uma coisa que eu aprendi na vida é que todo filho da puta vive cheio de argumentos para justificar sua filhadaputez. Vai ter quem insista que a exigência estética é outra para a mulher. Ok, não sou inocente, eu sei que existe uma cobrança maior, mas daí a me valer de uma realidade escrota para fazer exigências injustas é um mundo de diferença! A questão social vai ditar regras de relacionamento? Acho que não, né? Eu espero que meu parceiro me olhe com um olhar único, especial, porque me conhece bem e sabe meu valor, e não com o olhar genérico da sociedade, que não me conhece e me trata com mais um na manada baseando-se no físico, que é o que podem ver.

Também vai ter quem venha com o hediondo “me conheceu assim”, para justificar porque se sente no direito de permanecer gordo enquanto cobra magreza. Adoro esse argumento, ele é ótimo para filtrar pessoas. Gente “me conheceu assim” é gente acomodada, predisposta a não refletir, não evoluir e não mudar. Gente que acha que relacionamento é se manter exatamente como sempre foi, sem implicar em qualquer sacrifício, em ceder. Ou seja, gente com a qual não quero me relacionar. Se sua namorada te conheceu assim, GORDO, e ainda assim ela teve a generosidade de não usar isso contra você, você poderia seguir o exemplo dela e fazer o mesmo, não?

Mesmo que o sobrepeso da pessoa incomode, a atitude decente a tomar é criar vergonha na cara, EMAGRECER e depois se for o caso ponderar com muito tato sobre a gordura alheia. E aqui não falo apenas de sobrepeso, QUALQUER reclamação que se faça a seu parceiro deve ser precedida de uma boa reflexão para constar se você também não faz o objeto da reclamação. Se o faz, não tem o direito de reclamar. Mude de atitude primeiro e depois cobre que a outra pessoa mude também. Ou, em vez de cobrar uma mudança unilateral e reclamar, convide a pessoa a mudar de atitude junto com você.

Se estar acima do peso é uma coisa assim tão reprovável para merecer uma reclamação, todos aqueles que estiverem acima do peso devem rever suas escolhas de vida. Mas coerência é o maior limitador de atos e argumento que existe, ninguém quer fazer um pacto com ela. “Se ela não se importa com meu sobrepeso, bom para ela, mas eu me incomodo que ela engorde”. Vontade de dar uma tijolada na boca, não? Infelizmente não pode.

Acho que o tema de hoje fala mais sobre a necessidade de reciprocidade do que o sobrepeso em si. Essa pergunta poderia ser feita de diversas outras formas: “Se ele sai sozinho com os amigos, tem o direito de cobrar que você não saia?”, “Se ele não toma banho, tem o direito de reclamar porque você não toma?” ou “Se ele bebe industrialmente, tem o direito de reclamar porque você tomou um porre?”. Não importa como se coloque a questão, pessoas com bom senso sabem que é simplesmente INJUSTO cobrar das outras algo que não dão em retorno.

Não que se deva exigir que a pessoa se porte sempre exatamente igual a você, pessoas são diferentes, mas em matéria de cobrança, se for algo onde caiba a reciprocidade, só é digno cobrar aquilo que se está disposto a dar, sob pena de ser um tremendo de um escroto egoísta injusto.

Para me perguntar se uma mulher pode sair sem camisa na rua já que o homem pode fazê-lo, para dizer que os únicos homens que reclamam do peso da mulher são justamente os gordinhos ou ainda para dizer que a reclamação não é para que a mulher emagreça e sim uma forma de minar sua autoestima: sally@desfavor.com

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