
Herdando no trono.
| Desfavor | Ele disse, Ela disse | 9 comentários em Herdando no trono.
Se você assiste Game of Thrones, vai entender sobre o que estamos falando. Se não assiste, pode passar amanhã ou tomar uma tonelada de spoilers: depois de tantas temporadas e pretendentes ao trono de ferro, Sally e Somir discordam sobre quem deve ganhar essa disputa. Os impopulares fazem suas tramas.
Tema de hoje: quem deve sentar no trono de ferro e reinar sobre os sete reinos de GoT?
SOMIR
Daenerys Stormborn, primeira de seu nome, mãe dos dragões, a libertadora dos oprimidos e macaco com uma navalha. Eu até pensei em outros nomes quando estava considerando o que seria mais justo no final das contas, mas aí me veio a realização: GoT não é sobre justiça, é sobre a terrível natureza humana. A série com certeza está divertida nesses últimos episódios, mas mudou totalmente de foco, para algo mais agradável à massa de espectadores que atrai a cada semana.
Não fosse o começo impiedoso da narrativa, onde ninguém estava a salvo e as coisas mais terríveis que poderiam acontecer aconteciam, nem sei se essa fase recente da série teria tanta graça. Investimento emocional na série custou tão caro nesses últimos anos que é até um alívio ter um grupo de personagens com “armadura de protagonista” carregando a história. O nível da trama, dos diálogos e até mesmo o nível intelectual das personagens caiu abruptamente quando teve que seguir em frente dos livros.
No modo de funcionar antigo da série, eu até torceria por Jon Snow ou mesmo pelo Tyrion Lannister pra assumir o poder, porque eles passaram por perrengues enormes com chances muito reais de não sobreviver. Seria grandioso ver gente assim escapar do moedor de carne que era a escrita de G.R.R. Martin. Até porque, no modo antigo de funcionar da série, eu não ficaria assustado se toda a trama terminasse com o Littlefinger (acho que chamam de Mindinho na versão macaquita) assumindo o poder e mandando matar todos os outros possíveis proponentes ao trono só por garantia.
Mas no modo “vamos agradar os fãs” que a série entrou agora, já é meio óbvio que não vai ter mais reviravoltas grandiosas na disputa pelo trono, vai ficar na mão de quem tem exército pra bancar e uma legião de fãs do outro lado da telinha. Mas eu ainda não disse porque estou “torcendo” pela mãe dos dragões: simples, é a única medida de injustiça carregada por poder que podemos ter na série suficientemente factível pelo andar das coisas.
E com o passar do tempo, eu fui criando um certo desgosto pela população de Westeros, bando de gente atrasada e teimosa que depois de dezenas de milênios ainda não foi capaz nem de testar uma democracia ou algo do tipo. Um lugar onde o conhecimento é escondido para virar poder. Essa gente não merece um bom rei, porque vai acabar cortando a cabeça dele eventualmente. Essa gentalha westerosi merece uma rainha que vai agir feito uma criança mimada e causar muito mais problemas que resolver. Vejam o histórico dela nas cidades que dominou: todas terminaram na merda e depois foram abandonadas para o retorno dos opressores que ela tão bravamente apontou e mandou matar… ou vocês acham que a escravidão não voltou assim que ela foi embora?
Dany só se importa com o poder dela, e se engana achando que está fazendo algo por motivos maiores. Ela nada mais é do que uma Cersei sem culhões de assumir o que é. Os últimos episódios mostram claramente isso, e se não estivéssemos no modo “alegrar os fãs”, com certeza ela piraria como seu pai e viraria o grande inimigo da série ao invés de ser só uma previsível parte da jornada do herói onde ela está avaliando suas escolhas para se tornar uma pessoa melhor. O problema dessa lógica é que a série acaba, e é no “felizes para sempre” onde a vitória dela significaria algo relevante para o mundo.
Ok, Daenerys e seus dragões chegam ao poder. Ela tem um histórico enorme de cagadas na função, e vai ter que lidar com um exército bárbaro e um bando de eunucos que só sabem lutar debaixo de suas asas. Vai dar merda ou vai dar merda? Eu apostaria na primeira e na segunda. Sem contar os dragões, que eventualmente vão ficar entediados com a “paz” na região. Está na cara que simplesmente para assentar sua horda muç… estrangeira na Eur… em Westeros, teremos muitas guerras.
O que vai ser positivo no longo prazo. Eu estou apostando num efeito Dilma: a sangra final de um modelo de governo terrível para o povo. Desconfio que a guerra que vai fazer Westeros evoluir não vai ser a contra os mortos-vivos, mas contra os dragões. Os dragões simbolizam o misticismo e o atraso, a violência como única língua. Sua erradicação é essencial para a evolução humana por lá. Jon Snow ou outro de rei só vai atrasar o processo mais e mais, porque Daenerys como personagem secundária no poder, viva ou morta, vai causar mais e mais problemas com a gentalha que ela trouxe a tiracolo.
As coisas não tem que acabar bem nessa história, elas tem que seguir a lógica do mundo. E a lógica do mundo é que ninguém ganha o poder sem botar medo na população local. Mesmo com os reinados terríveis dos Lannisters, o povo não se rebelou. Não está pronto, precisa de algo bem mais pesado. A última rebelião deu errado porque o verdadeiro câncer na sociedade de Westeros não foi extirpado: a monarquia. Tem que piorar antes de melhorar. E se não for Daenerys cagando tudo no futuro, só vai ter mais e mais décadas de zona de conforto negativa.
E mais um detalhe: GoT me traiu milhares de vezes, é algo que eu já espero da série. E se uma empoderada (com o poder do papai e do marido) despreparada vencer a grande batalha da série, vai ser o casamento vermelho ao cubo. Chega de momentos felizes, eu quero a minha série escrota como sempre foi. Deixa a vilã ganhar.
Para dizer que não esperava essa lógica, para dizer que eu levo isso muito a sério, ou mesmo para dizer que eu ando atacado com um tema recentemente: somir@desfavor.com
SALLY
Se você não assiste ao seriado Game of Thrones, passa amanhã, pois hoje você não vai entender nada e, pior, vai ler um monte de spoilers, que arruinarão o seriado para você, caso um dia queria assistir.
Dito isso, a pergunta de hoje é: Quem deve ser o Rei dos sete reinos e sentar no trono de ferro? Só existe uma resposta justa: Jon Snow.
Confesso que em um primeiro momento eu não gostava dele, o achava com uma aura “pobre porém honrado” irritante. Meio submisso, meio complexado, meio inseguro. Mas, à medida que o pessoal foi morrendo, foi sobrando um espaço de liderança e ele foi sendo ocupado gradativamente por Jon Snow com muita graça e competência. O menino rejeitado deu lugar a um belo líder, sem qualquer rancor da infância bastarda, sem vitimização. Agora sim temos um Jon Snow com o qual eu posso lidar!
Enquanto todo mundo farreava de alguma forma, Jon Snow ralava. Sempre foi o bastardinho rejeitado, sempre teve que fazer mais do que todo mundo para se provar. Jon Snow nunca teve mordomia na vida, aprendeu a lutar desde cedo, desempenhou diversas tarefas pouco nobres, conhece o povão e suas necessidades. Seria um belíssimo rei.
Além disso, ele é ponderado, centrado. Ótimo estrategista, ele ganha no braço, na espada, não na base de lagartixa gigante cuspindo fogo ou feitiços estranhos. Jon Snow é meritocracia pura. Não ganhou nada de graça nessa vida, teve que batalhar muito por tudo. Sabe ser duro quando necessário e já teve experiência em liderar pessoas. Não é um deslumbrado que nasceu em berço de ouro, ele conhece a realidade da vida.
Um bom líder faz, não manda fazer. Se for preciso lutar, Jon Snow vai pegar sua espada e liderar seus homens. Ele construiu essa confiança e habilidade durante toda sua vida, não é como se ele tivesse encontrado três ovos mágicos nos quais ele se garante. Jon Snow é hardwork. Ele é gente que faz, enquanto que Daenerys é gente que manda fazer. Jon Snow é gente que faz e que capacita, ensina os que estão à sua volta, é capaz de formar um exército de homens competentes do nada. A mocinha aí passa recrutando os exércitos que já existiam, não cria nada de novo.
Há quem diga que Daenerys é a legítima herdeira do trono, pois o trono de ferro pertencia a seu pai, uma pessoa muito querida, conhecida como “O rei louco”, que saiu matando seus súditos. Porém, acredito que a trama caminhe para uma reviravolta que colocaria Jon Snow como legítimo herdeiro: especula-se que ele seja filho de Lyanna Stark (irmã de Ned Stark) e Rhaegar Targaryen e tenha sido salvo da morte quando o Rei Louco surtou. Ned Stark correu em socorro da sua irmã e levou a criança para bem longe dali e mentiu que era seu filho bastardo para que não fossem atrás do menino. Sim, isso torna Jon Snow primo de Daenerys, ou seja, sendo homem, ele tem prioridade no trono de ferro. E, pelo visto a HBO vai investir no incesto mais uma vez, então, de qualquer forma, se eles ficarem juntos o trono continua sendo de Jon Snow.
Enquanto não tacarem fogo em Jon Snow, não saberemos se ele é ou não um Targaryen, mas é fácil dizer que ele é mais maduro e mais bem preparado que uma menina que só subiu na vida por ter casado com um marido poderoso que emprestou seu exército para ela. Daenerys é carismática, e só. Populistas são perigosos, especialmente com histórico de loucura familiar.
Jon Snow é um dos poucos que conhece o problema dos White Walkers (que a HBO, em uma Síndrome de Lost, traduziu para “os outros”). É melhor para os sete reinos ter como líder alguém que conhece o maior problema da atualidade e sabe lidar com ele. Enquanto Daenerys se comporta como uma criança mimada que quer de volta o brinquedo que perdeu, Jon Snow está preocupado com a sobrevivência da raça humana.
Sabemos que desde sempre Jon Snow come o pão que o diabo amassou: foi criado como bastardo, sofrendo preconceito, seu pai e mãe (ainda que de consideração) foram assassinados, foi confinado naquela muralha com os Patrulheiros da Noite, viu a mulher que ele amava morrer e ele mesmo morreu assassinado por seus colegas e voltou dos mortos. Um currículo e tanto. A vida dele não é fácil, não é só sussurrar “Drakarys” que as coisas se resolvem.
Enquanto Daenerys é uma menininha mimada que só pensa em poder e vingança, Jon Snow tem uma visão mais madura da vida, aprendeu a controlar sua raiva e ponderar valores. Exemplo: apesar de tudo, ele não matou Theon Greyjoy, pois quando sua irmã Sansa passava por momentos difíceis, Thein a ajudou. Jon está em uma ascendente com o pé no chão, enquanto a mocinha está cada vez mais deslumbrada e arrogante.
O encontro dos dois mostra bem isso. Ela mandando ele ajoelhar, se curvar perante a rainha. Ele pedindo que se unam para salvar o mundo de um perigo maior. Filha, pra que tanta questão do título? Pare de pensar só em você e pense na raça humana! Mas não, a mocinha, que se diz do povo, também quer ser rainha e fica mandando os outros ajoelharem.
Pensando socialmente agora, seria um desfavor que uma série politicamente incorreta por premissa tivesse um desfecho “empoderamento feminino”. Francamente, no contexto da série, mulher vale merda, o trono pertence a homens. Cersei teve que matar todos os homens da linha sucessória para sentar no trono de ferro e, ainda assim, está sendo bastante sacaneada. Em tempos onde as coisas se resolvem com força física mulher nunca vai ter protagonismo, não seria verossímil. Espero que não forcem a barra nesse sentido.
Por uma questão de coerência e mérito, Jon Snow é a melhor opção. Fosse vivo eu daria o trono para Khal Drogo, por motivos meramente estéticos, mas como esta opção não existe, vamos com o segundo melhor.
Para me chamar de machista, para ficar puto com o possível spoiler que eu soltei ou ainda para dizer que quem merece mesmo o trono é o Tyrion Lannister: sally@desfavor.com
Estou adorando ver vocês falarem sobre teorias de game of thrones! Sou viciada no universo das crônicas de gelo e fogo. Estou achando essa temporada bem meia boca, mas estou acompanhando afinal o sexto livro parece nunca chegar. Gostei de ler seus pontos de vista sobre os dois personagens com mais probabilidade de se tornarem rei/rainha dos sete reinos. Eu gostaria de ver o Jon sentado naquele trono, ele realmente evoluiu muito como líder e tem uma empatia muito maior do que a mãe dos dragões. Concordo com o Somir sobre o povinho de westeros, mas tem que ver que eles são assim porque foram condicionados aquela situação por muitos anos, eles apenas se ajoelham para quem está no poder por não saberem fazer outra coisa pra mudar. Apenas os mais letrados, mais manjados das coisas pensam de uma forma diferente, eles e os selvagem que não estão dentro daquela roda de poder e reis. Concordei muito com a ideia de que a Dany só trará mais caos ao trono, será realmente complicado trazer alguma ordem o povo que ela trouxe para os sete reino. Mas como disse o Tyrion quebrar a roda levará anos e junto a isso poderia tentar trazer uma convivência pacífica entre as culturas diferentes. Afinal os sete reinos se resume a um monte de gente com crenças e costumes diferentes. Pode ser só a minha visão sonhadora de que tudo possa se ajeitar no final…mas o caos é uma escada não é? Primeiro comentário e já escrevi demais!
Você tem alguma teoria?
Os dragões vão morrer (os que sobraram), os White Walkers vão ser derrotados e o trono de ferro vai ser destruído. Mais detalhes não dá pra imaginar já que a série não está sendo muito fiel ao universo das crônicas de gelo e fogo. Ah e a magia vai acabar novamente, quando os dragões morrerem.
Quem vai governar? Um Conselho com representantes dos sete reinos?
Perfeito! Também concordo que Jon Snow tem que sentar no trono de ferro. Eu pensei a mesma coisa sobre a Daenerys quando o maneta Jaime tentou matar ela: essa menina fica só na “lacração”, no dracarys… “bend the knee”. E Somir tem razão. Parece que a trama não se sustenta sem os livros. Arya virou uma cuzona, Bran foi Prá lá da Muralha tomar chá de jujo pra nada, Samwell cruzou mar pra curar Jorah “Friendzone” Mormont e sem falar nos Martell e nos Greyjoy que sumiram depois dos primeiros episódios. Na boa?! Desfavor mesmo é eu ter gasto dinheiro comprando os livros do velho esse e ter que ver essa série meia boca pra saber o fim da história.
P.S.: Rhaegar e Daenerys são irmãos. Portanto Jon Snow é sobrinho dela, não primo.
Wtf. Como podem ser irmãos com tantos anos de diferença?
Vish… os Targaryen eram dessas famílias divertosas que se casavam entre si. Aegon, o Conquistador, dominou Westeros e se tornou o primeiro rei Targaryen dos Sete Reinos ao lado das duas irmãs, Visenya e Rhaenys, que também eram suas esposas. A diferença de idade entre Dany e Rhaegar é detalhe pequeno no meio da coisa toda.
Sou #TeamJonSnow, se bem que eu também não tenho nada contra a Daenerys. Qualquer um dos dois herdando o trono tá bom pra mim, só quero mesmo é que os Lannisters se fodam (com exceção do Tyrion. Aliás, ia amar se ele fosse o rei). E eu acho que devo ser uma das únicas que não vê graça no casal “Jonerys”, como estão querendo forçar! E nem é pela questão do possível incesto (ok, isso também é bizarro, mesmo Cersei e Jaime tendo o relacionamento deles desde sempre), mas sim porque, pra mim, os dois juntos não tem aquela química e tals… Acho bem nada a ver!
“Pensando socialmente agora, seria um desfavor que uma série politicamente incorreta por premissa tivesse um desfecho “empoderamento feminino”
Faz sentido. Curto a Dany, mas só de pensar na chatice lacradora que viria de brinde com isso, e com os inúmeros textões sobre como ela “quebrou tabus e preconceitos”, “pisou na cara dos machistas” e outras cretinices ~empoderadas~, dá um desânimo…
Olha, eu torcia para o He-Man ficar com a She-Ra quando eu era criança, então, nem me atrevo a comentar a questão do incesto…