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Aprendendo em grupo.

Aprendendo em grupo.

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A internet facilita, mas não é a resposta para tudo: ter tempo dedicado e acesso a pessoas que conhecem algo profundamente melhora muito o aprendizado. Sally e Somir discutem qual grupo seria mais construtivo de se ter por perto. Os impopulares ensinam.

Tema de hoje: se você pudesse se reunir semanalmente por três horas com um grupo de pessoas exímias conhecedoras de qualquer assunto que te acrescentariam enormemente sobre ele durante um ano, escolheria detentores de qual conhecimento?

SOMIR

Eu iria de Inteligência Artificial. Quando algo começa a ficar tão prevalente na sociedade, a coisa vai muito além da tecnologia pura: quer dizer que existe a demanda humana pela coisa. Sim, smartphones são maravilhas tecnológicas, mas eles estão na mão de virtualmente todo mundo porque eles entregam comunicação e/ou distração instantâneas.

Pensar em IA não é só pensar em algoritmos e processadores poderosos, é enxergar o que vem por aí em padrões de comportamento humano. Pessoas antes e depois dos celulares são bem diferentes. Entender o que a tecnologia faria com as pessoas seria um excelente ponto de partida no final do século passado.

Pois bem, aparentemente estamos nesse mesmo ponto em relação a IA. Vai mudar como as pessoas agem, o que desejam e até mesmo o que são capazes de fazer. Pode parecer que minha escolha é puramente nerd, mas o fator humano é fundamental para o assunto ter valor. O que o ser humano vai se tornar está relacionado com o que a tecnologia da IA vai oferecer.

E aí algum de vocês pode pensar: para aprender sobre IA basta perguntar para a IA. Aprender ficou fácil. Mas aí eu volto para o fator humano. Porque a IA sabe o que já foi ensinada e o que pode pesquisar. O que você não vai entender a não ser que fale sobre o tema com especialistas é o que ela ainda vai ser. Esse é o ponto central da minha escolha. Informação futura.

Porque ainda é da mente humana que virão os próximos desenvolvimentos da tecnologia. E mais importante do que isso, como serão entregues para a população. Além de vários campos de pesquisa sobre funcionalidades e eficiência, ainda existe todo o campo de segurança. Como a IA vai lidar com ética, como vai fazer escolhas alinhadas com valores humanos, como vai balancear privacidade e responsabilidade legal…

Ao se reunir com um público especializado, você ganha acesso às novidades da área e começa a enxergar melhor o contexto de cada uma delas. O que é possível entregar, o que as pessoas estão querendo dela. Porque partindo do princípio que vamos ser tão dependentes dessa tecnologia quanto somos de smartphones, você vai se adiantar se souber o que acontece nesse campo específico do conhecimento.

E por mais que exista muita gente que fala disso na internet, tem muito curioso e desesperado por cliques no meio. É trabalhoso achar bons curadores de conteúdo, e ainda mais os que conseguem se manter no mercado com informações sérias e confiáveis.

Some-se a isso a dificuldade de manter bons conteúdos científicos com uma vida acadêmica ou profissional focada na área. Ganhar esse tempo dessas pessoas é valioso porque você pode só acompanhar o papo que elas naturalmente teriam como também fazer perguntas específicas. Criadores de conteúdo têm tempo limitado para te atender. E não necessariamente tem o conhecimento aprofundado para uma boa resposta.

Sim, eu pegaria um tema com base mais técnica de computação por afinidade de interesses, acho divertido de verdade. Mas a receita do sucesso aqui (sucesso pessoal, aprender é válido por si só, mas se quiser pensar sucesso financeiro também ajudaria) é entender quais são os próximos passos da IA, porque isso ela não vai saber te explicar.

Afinal, ela é o objeto que vai ser programado e treinado pelos humanos. Todos os peixes grandes foram para essa área sem ficar contando dinheiro porque perceberam que é um novo paradigma de humanos e sua relação com o mundo. Se muitos de nós nos acostumamos a enxergar as coisas através da telinha de nossos computadores portáteis, é porque havia uma demanda enorme por ter essa janela portátil para o mundo.

E há uma demanda por terceirizar mais e mais pensamento para as máquinas, não sei te dizer se é comodidade ou se realmente estamos passando dos nossos limites de armazenamento e processamento de dados só com o cérebro. Mas não é só um novo brinquedo, é como vamos ser a partir daqui.

Quem entender esse novo filtro pelo qual a realidade da maioria vai passar vai entender as duas partes: a antes e a depois de passar pela IA. Ajuda muito a manter um grau de clareza de informação que protege de acreditar piamente no que a máquina te diz, e te ajuda a saber como entrar nesse filtro para mexer nessa realidade percebida. Espero que com intenções éticas, mas todo poder é arriscado.

Melhor conhecer por dentro como a coisa funciona e saber antes de chegar pronto para o uso quais os ingredientes dessa receita. O grau de confiança do cidadão médio na IA deve subir de tal forma que vai ser apenas uma minoria bem-informada que vai saber não pular da ponte se ela mandar.

E considerando como o mundo mudou progressivamente mais rápido com cada tecnologia de propagação de informação nas últimas décadas, é coisa para nossas vidas mesmo. Você vai ter que lidar com seres humanos turbinados por IA, e ao mesmo tempo fragilizados por dependência. Não é melhor ter um conhecimento aprofundado com quem sabe o que está acontecendo agora, antes de você não saber mais o que passou ou não passou pela ferramenta antes de chegar na sua mente?

SALLY

Se você pudesse se reunir semanalmente por três horas com um grupo de pessoas exímias conhecedoras de qualquer assunto que te acrescentariam enormemente sobre ele durante um ano, escolheria detentores de qual conhecimento?

Autoconhecimento. Assuntos técnicos eu posso aprender por livros, textos, cursos, vídeos no Youtube. Assuntos subjetivos não.

Autoconhecimento deve ser um dos maiores nichos de estelionatários do mundo. 99,999% das pessoas que falam sobre o assunto são mais fodidas da cabeça do que você, falam merda e são burras (inclusive emocionalmente). Esse é um dos motivos pelos quais eu escolheria essa área, acho o tema mais difícil de peneirar mentes pensantes.

Eu não aguento mais ver autoconhecimento tratado como autoajuda, misticismo ou cagação de regra. Lei da Atração, reforço positivo, não sei o que lá quântico, fazer ritual X ou Y… nada disso é autoconhecimento. Na verdade, são o oposto de autoconhecimento, são mentiras, estelionatos, enganações, “soluções” mágicas genéricas e fáceis que só fazem a pessoa se distrair do que ela realmente tem que fazer para ser uma pessoa melhor e ter uma vida melhor.

Eu adorar que alguém pudesse magicamente selecionar pessoas sérias e com real capacidade de me acrescentar algo para mim. Em todas as demais áreas eu mesma consigo selecionar, pela formação, pela qualificação técnica, pela didática. Infelizmente autoconhecimento depende do grau de consciência e evolução pessoal de cada um e isso não é mensurável de forma objetiva.

Além disso, em maior ou menor escala, para conhecimentos acadêmicos ou técnicos, somos todos autodidatas. Mesmo que seja preciso educar nosso cérebro, pesquisar um pouco ou fazer um esforço de concentração, todos conseguimos aprender sozinhos algo externo.

Infelizmente o mesmo não acontece com o interno. Para isso, somos péssimos sozinhos. Péssimos em reconhecer onde está o problema, péssimos em descobrir qual é a melhor estratégia para operar mudanças e resolver o que nos incomoda e péssimos para determinar a melhor forma de colocar essas estratégias em prática. Quando se trata de nós mesmos, quando se trata de olhar para dentro, de nos entender, é quando mais precisamos de ajuda.

A jornada é só sua, mas as ferramentas que você pode usar nessa jornada podem ser compartilhadas. Quem tem que percorrer o caminho é você, não existe mapa pronto, cada um tem um caminho, mas como superar os obstáculos em cada caminho pode ser conversado. A resposta, em última instância, vem em quietude, olhando para dentro, silenciando a mente, mas, como se manter nesse estado receptivo para conseguir escutar a resposta requer informação e prática.

Some-se a isso o fato de que uma oportunidade única de magicamente selecionar os melhores para se reunirem comigo durante um ano não pode ser desperdiçada com pessoas que eu seria capaz de reunir sozinha pois não topariam esse esquema.

Os melhores de qualquer ensinamento externo certamente podem ser contactados, podem ser remunerados, contratados ou até vistos em palestras, worshops ou vídeos. Eu sinceramente duvido que as melhores pessoas do mundo em autoconhecimento estejam vendendo curso, livro ou palestrinha. É gente que, justamente pelo patamar de consciência que está, não tem interesse nisso.

E não quero desmerecer quem vende curso, livro, etc. Tem gente boa. Não precisa ser o melhor para ser bom, certo? Mas quem está no topo, quem zerou a vida, transcendeu faz tempo todo esse esquema não consegue fazer o mesmo por você em um livro. Então, são pessoas que eu só poderia acessar, reunir e botar nessa dinâmica assim: por mágica. De nenhuma outra forma conseguiria reuni-las.

Eu entendo e até acho louvável quem tenta melhorar algo da sua profissão, mas… quando você melhora a você mesmo, todo o resto melhora como consequência natural. Uma habilidade profissional só serve para atender à matéria: ganhar dinheiro ou ter status de ser um bom profissional. E eu não encaro nenhum dos dois como causa em si mesma, e sim como consequência de estar bem, inteira, equilibrada.

É volátil. É efêmero. Sua profissão pode mudar ou até deixar de existir em alguns anos. Seu cargo também. Sua empresa ou o que quer que ela venda pode se tornar completamente obsoleto. Tudo muda muito rápido. A única coisa que sempre será necessária para você é… você. Eu investiria na única coisa que sei que vai me ser útil até o fim da vida: eu, minha mente, as ferramentas que tenho para lidar com a vida.

Vai por mim, mesmo que sua vida esteja ótima hoje, momentos difíceis virão. E quando eles chegarem, você tem que estar com a sua mente pronta, com todas as ferramentas necessárias para sobreviver com sanidade, dignidade e resiliência. E isso não se consegue em poucos meses, tem que começar a se aprimorar agora.

O mundo muda, a realidade muda, a sociedade muda, mas o que somos sempre nos será útil. E é nosso pilar principal. Não adianta nada externo se a saúde mental não está boa, se não nos conhecemos, somos bons para com nós mesmos e se não conseguimos manter uma mente sã e equilibrada. Então, eu prefiro investir nisso. Sem o pilar de sustentação, todo o resto vai ruir.

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