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Reincidência.

Reincidência.

| Desfavor | | 4 comentários em Reincidência.

Misturamos duas notícias hoje: uma que passou pelos sites de notícias mais sérios e uma que passou pelos sites de fofocas sobre subcelebridades.


No relatório, a corporação revela conversas entre Eduardo e Jair Bolsonaro. (…) “Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você ‘aprender’. VTN* SEU INGRATO DO CA**!” , escreveu Eduardo. LINK


Na noite de quinta-feira, 21, Wanessa Camargo teria sido alvo de uma agressão do ator Dado Dolabella durante um evento no Bar do Vidal, localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. As informações são da jornalista Fábia Oliveira, do Metrópoles. LINK


Como conectar as coisas? Recorrência de maus comportamentos que não parecem convencer o brasileiro médio que é hora de ser melhor. Desfavor da Semana.

SALLY

O que mais nos chocou não foi ver um filho falando nesses termos com um pai idoso, com saúde debilitada e passando pela pior fase da sua vida. O que mais no chocou foi ver o tanto de gente que acha isso normal, justificável, relativizável ou aceitável. É a mesma sensação que tivemos quando o goleiro Bruno disse “quem nunca saiu na mão com sua mulher?”. E, atenção: os dois lados estão errados!

Vamos começar com o lado da oposição. Primeiro, não tolero que se façam de finos, educados e civilizados. Janja mandou Elon Musk se foder, aos gritos, em um microfone em um evento oficial (uma palestra no G20). O filho do Lula chama Janja de xingamentos muito baixos quando se refere a ela. Uma das mensagens que acabou vazando mostra ele dizendo “a puta vai estar junto”. Lula então, é o rei das barbaridades e baixarias. São tão mal-educados quanto, tão baixos quanto, mas adoram dizer que são melhores.

Outra coisa que eu não tolero é culpar o Bolsonaro, ou qualquer pai ou mãe, pelo comportamento do filho. Isso pode ser feito quando o filho é criança, mas adulto? Por favor. Adultinho é responsável por seus atos e tem total capacidade de entender o que é aceitável ou não, o que é educado ou não, independente do que tenha visto na sua casa. Se seus pais foram um péssimo exemplo, se corrija. Muito cômodo um adulto imputar seus erros aos pais. Faça o favor, depois dos 18 você é responsável por não se corrigir no que tem de ruim em você.

E gente que enche a boca para dizer que nunca falou assim com o pai pois perderia os dentes? Como se isso fosse uma coisa boa, como se isso fosse um motivo de orgulho, como se quebrar os dentes do filho fosse um sinal de que o pai deu uma educação correta. Sinto te dizer, mas se você não falou esse tipo de coisa para o seu pai pois perderia os dentes, você não é educado, é adestrado. Não deixou de falar por respeito, por amor e sim por medo. Isso para mim não vale absolutamente nada nem depõe a seu favor.

Não passa pela minha cabeça, nem nos meus sonhos mais obscuros, falar qualquer coisa remotamente parecida com isso para o meu pai. Minha boca não conseguiria falar essas palavras, isso rasgaria meu coração, isso me geraria um mal-estar tamanho que eu simplesmente não conseguiria dizer. Por amor a ele, por respeito, por toda a relação que construímos. E eu estou com sérias dificuldades de entender como alguém pode achar normal, aceitável ou saudável uma relação na qual isso acontece.

Aí sempre vem o bárbaro e diz “ain, tá querendo bancar a superior”. Amigo… primeiro que não é “bancar”, essa é a minha realidade. Segundo que… superior? Isso é o básico do básico, do básico da decência, civilidade e humanidade. Não é superior, é o mínimo que se espera de uma pessoa decente. O mínimo mesmo.

Mais um argumento que me causa arrepios: achar graça ou aplaudir por ser contra o Bolsonaro. Não é uma discussão política. Não é o político Bolsonaro quem está sendo criticado. É o pai. E é muito triste ver um filho fazendo isso comum pai idoso, doente e passando por um momento delicado da vida. Foda-se o que eu acho do Bolsonaro político. Foda-se que tipo de pai o Bolsonaro foi, se seu pai foi um bosta, não seja um bosta de filho. É triste. É escroto. É errado.

Ver um filho, que só chegou aonde chegou pela ajuda que recebeu do pai, se referindo nesses termos a ele sempre vai ter o meu repúdio. Ver um adulto tratando assim um idoso com a saúde em frangalhos sempre vai me causar repulsa. Minha humanidade não está condicionada a política. Acha que seu pai é um bosta que não merece respeito? Corta contato. Fazer isso não é aceitável em nenhum cenário.

O curioso é que o que eu mais escutei foi: “Ain mas ele estava nervoso”.
OI?
OOOOOOOOOOOOOOOIIIIIIIIIII?
Para vocês, estar nervoso justifica mandar o pai tomar no cu?
Chamar o pai de “ingrato do caralho”?
Em que mundo, em que povo, em que casa estar nervoso justifica xingar, ofender e atacar pessoas que você ama? No meu certamente não. E me preocupa que seja tão justificável para tanta gente.

Estar nervoso não é aval para NADA, vocês estão me entendendo? Estar nervoso só justifica ter uma tremedeira, nada mais. Um adulto consciente, civilizado e maduro não xinga os outros por estar nervoso e normalizarem que xingue me preocupa muitíssimo. Não é normal. Não é aceitável.

E se eventualmente acontecer, a postura de qualquer pessoa sã é entender que foi um erro gravíssimo e procurar ajuda, tratamento, ferramentas para que isso nunca mais se repita. Tem que ficar mortificado, pedir desculpas (inclusive públicas) e se mexer para que isso nunca mais aconteça.

Para mim, o grau de barbárie do “ain, ele estava nervoso” é o mesmo de quem estupra uma mulher porque ela estava de saia curta. São argumentos completamente desconexos e desproporcionais que beiram a psicopatia.

Fez isso quando está nervoso? Pois muito bem. Primeiro saiba que não é aceitável. Depois se comporte de acordo com esse entendimento e procure ajuda para não repetir esse comportamento em vez de cruzar os braços e deitar no berço esplêndido do “estava nervoso” ou fazer promessa vazia de que nunca mais vai fazer. Se não procurar ajuda, vai fazer novamente sim.

E se a gente for entrar no mérito da questão, a coisa fica ainda pior. Eduardo Bolsonaro é cria do pai, se não fosse o pai, nunca teria entrado na política, muito menos com o sucesso que entrou. Deve ao pai sua carreira. E chama o pai de “ingrato do caralho”? Não dá.

Fora que, além de tudo, é contraproducente. Ficou puto por ser chamado de imaturo e foi lá e deu uma enorme, gigante e robusta prova de imaturidade. Se queimou, queimou o pai e ainda se queimaram com os EUA, afinal, não é muito elogioso reclamar que vai ter que passar o resto da vida “nesta porra aqui”.

Com meia dúzia de frases Eduardo Bolsonaro matou sua carreira política, desmoralizou seu pai (pois a imagem do grande capitão imbroxável ruiu ao ser humilhado pelo próprio filho), se indispôs com os EUA, provou que de fato é imaturo e reforçou na sua família a fama de pessoas mal-educadas que usam termos chulos. Meus mais sinceros parabéns.

A utilidade que você pode tirar desse evento lamentável é avaliar como você anda tratando as pessoas que ama, às quais deve gratidão. Apontar o erro do outro e tripudiar pode ser muito divertido, mas não te ajuda em nada. Aproveite a ocasião para se perguntar como em tratado as pessoas importantes da sua vida.

E repita comigo: não é normal xingar seu pai, seu marido, sua mãe, sua esposa, por estar nervoso.

SOMIR

Tem toda uma conexão aqui entre o tipo de relação que as pessoas toleram, e como isso acaba definindo que tipo de vida elas vão viver. Especialmente no Brasil, onde não existe nenhuma repressão razoável de comportamentos agressivos, as pessoas parecem achar que passionalidade é isso mesmo, macacos berrando e se batendo.

E no caso das subcelebridades em questão, podemos ver uma mulher totalmente capaz de se livrar de uma relação com uma pessoa agressiva voltar com uma pessoa agressiva só para… ser agredida. Não é o caso da mulher refém de um homem violento numa comunidade carente, é uma mulher rica e bem relacionada que escolhe esse tipo de relação.

Porque na média brasileira, homens gostam de mulheres malucas e mulheres gostam de homens violentos. É uma atração fatal típica de grupos socialmente atrasados. Acontece em outros países quando as condições se equiparam às brasileiras, mas os números da violência aqui sugerem que o Brasil passa do esperado, é meio que uma identidade nacional nesse ponto.

Podem até passar a imagem para o gringo que aqui todo mundo é feliz e dança na praia; mas de brasileiro para brasileiro, eu sempre entendi a alma nacional como uma pessoa agradável e risonha que DO NADA fica extremamente furiosa e violenta. E eu sinto que o problema é que a gente não reprime suficiente essa parte do comportamento alheio. Entre nós fica esse acordo nefasto de tolerar excessos porque tem vantagem secundária na passionalidade.

Antes de jogar pedra na amiguinha, vou falar de homem: mulher maluca é divertida quando ela está no modo maluca para agradar. Mulher descompensada quando cisma que quer ganhar homem faz tudo o que você quer com um grau de desprendimento pela dignidade sem paralelos em mulheres mais estáveis da cabeça. Mulher maluca lambe o chão que você pisa. Mas ela vai cobrar em outros lugares. E vai cobrar caro. Ser adulto é perceber que a lambeção é passageira, mas a maluquice é eterna.

No caso das mulheres, existe uma atração especial por violentos e bandidos, e não é pela parte de ser vítima da violência, e sim pela fantasia de poder. Eu não sou mulher para sentir de verdade isso, mas eu sinto que é algo próximo de segurar uma arma de fogo. Tem um monte de riscos, mas é poder emprestado na sua mão. Todo mundo tem que lidar diferente com você quando você está com uma arma na mão. E é claro, provavelmente todo o instinto de estar junto com o macho que manda nos outros machos.

E sim, tem a parte da beleza que vale para os dois sexos. Que atire a primeira pedra quem não passou um sinal vermelho ou outro por atração sexual.

O ponto aqui é que é algo compreensível essa atração, mas não é uma boa ideia para a vida. E se a visão predominante for que mulher maluca e homem violento são só “passionais demais”, normalizam-se os comportamentos ruins. Não queremos gente maluca e violenta no mundo, a parte divertida dessas pessoas não compensa. Parece que compensa na hora que elas estão agindo de acordo com nossas vontades, mas quando você tira a média de como é sua vida entre esses momentos, é muito mais sofrimento que felicidade.

É uma conta que não fecha. Mas a sociedade brasileira se recusa a olhar para esse problema. Ou entra o discurso de “não culpar a vítima”, ou entra a desistência total de melhorar achando que “homem ou mulher” é tudo igual. Dois caminhos expressos para não lidar com o problema. O brasileiro escolhe político e parceiro sem fazer juízo de valor de sua estabilidade emocional, e quando reclama dos resultados e ouve que tem uma parte da culpa, entra na defensiva. Parece que o direito de agir feito um animal raivoso a qualquer sinal de contrariedade é o mais importante de todos.

Eu estava até falando com a Sally sobre minha ideia de “recorrência” em casos de violência doméstica. Tem que ter alguma diferença entre a mulher que vai denunciar o homem com o qual convive pela primeira vez e pela décima. É uma mulher que não consegue se livrar na prática do homem violento ou é uma mulher que continua por motivos emocionais? Chega uma hora que precisamos definir se é uma questão de sequestro ou de problema emocional sério que faz a mulher continuar escolhendo voltar para o agressor.

Minha ideia é que o agressor seja sempre punido pela agressão, mas que existam mecanismos para literalmente culpar a vítima se ela podia se afastar e não quis. Não precisa prender a mulher, mas tem que fazer acompanhamento psicológico. Se uma pessoa fica tentando pular na jaula do leão no zoológico seguidas vezes, tem que no mínimo ser banida de visitar o zoológico.

Porque é importante definir como sociedade que não existe essa desculpa da passionalidade para comportamentos antissociais contínuos. Deu algo errado que deveria ser tratado. Não tem o próximo passo rumo a um desenvolvimento humano maior se não conseguirmos acabar com essa glorificação de descontrole emocional: só é descontrole se a pessoa consegue controlar. E vejam os exemplos que se repetem no país, é gente que simplesmente não entende que não pode ficar berrando e batendo toda vez que não está contente com algo.

Todas as sociedades precisam controlar seus violentos. Não tem jeitinho que resolva.

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