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Toma essa, fascista!

Toma essa, fascista!

| Desfavor | | 2 comentários em Toma essa, fascista!

O ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus foram condenados por participação na tentativa de golpe de Estado em 2022. A maioria dos ministros da Primeira Turma concluiu pela punição, da forma como proposta pela Procuradoria-Geral da República. LINK


O FBI apresentou, na manhã desta sexta-feira (12), em uma entrevista coletiva, o jovem suspeito de ter matado o ativista Charlie Kirk. Agentes disseram que ele tinha deixado mensagens nos projéteis usados na arma do crime, um deles disparado e outros três sem uso. O suspeito, identificado como Tyler Robinson, de 22 anos, teria gravado mensagens como: “percebe o volume?”, “toma essa, fascista”, “o bella ciao, ciao” e “se você ler isso, você é gay”. LINK


Agora começa a guerra civil? Antes de considerar essa possibilidade, sugerimos pensar um pouco. Desfavor da Semana.

SALLY

A condenação do Bolsonaro e o assassinato de Charlie Kirk possuem diversos pontos de intercessão e, para o texto de hoje, só vou poder falar sobre um deles: a desconexão da realidade que as pessoas estão experimentando: no caso do Bolsonaro, a direita, no caso de Kirk, a esquerda.

As pessoas estão perdendo a noção do que é a realidade ao adaptarem tudo que acontece a seu viés de confirmação, à sua narrativa, ao seu querer. E essa irrealidade é confirmada por sua bolha, que sofre do mesmo problema, fazendo com que a pessoa acredite que aquilo de fato corresponde à realidade. Isso está levando muita gente a tomar péssimas decisões e inclusive a arruinar sua vida e a da sua família por tabela.

Bolsonaro foi condenado. Não é Xadrez 4D, ninguém vai agir e reverter isso. É um fato, ele está condenado e provavelmente estará inelegível nas próximas eleições. Reviravoltas acontecem? Sim, claro, podem acontecer. Mas na maior parte das vezes, acontece a regra geral mesmo. Então, o saudável é trabalhar com a regra geral. Parem de fazer Pix, ir para a rua, espalhar que ele vai reverter isso. Provavelmente não vai.

Não adianta fazer protesto, esperar o exército agir ou Trump te salvar. O Brasil não vale o custo que o Trump teria em intervir, tanto em capital político como em despesas. Trump não vai salvar nada nem ninguém. Nada disso vai acontecer.

Os esforços devem ser em formar um novo nome para concorrer em 2026 e quanto antes, mais chances de conseguir vencer. Não adianta ficar abraçado ao nome do Bolsonaro esperando um milagre. Isso é burrice. A direita está insana e vai afundar junto com ele, como aconteceu com o PT quando só lançaram o Haddad para candidato aos 48 do segundo tempo.

A realidade nua e crua, se é que vocês me permitem, seria pensar que o Bolsonaro não volta, não importa as viradas de mesa que consiga dar. Idoso, desgostoso com a vida e com sequelas terríveis da tentativa de homicídio que sofreu. Ele não tem um futuro muito promissor, mesmo que por um milagre alguém o “salve”. Certo ou errado, ele foi derrotado e isso é fato. Aceitem. E por culpa exclusiva dele: nunca se esqueçam que foi no governo Bolsonaro que esse acordo bosta de tirar o Lula da cadeia e anular processos aconteceu.

Então, antes de culpar Alexandre de Moraes, de falar que Brasil virou Venezuela ou o que mais você queira falar, lembre-se de que Bolsonaro fez isso a Bolsonaro. Justo ou injusto, esse desfecho foi fruto direto de uma escolha dele. Não é como uma pessoa que tem um aneurisma rompido do nada e falece, sem qualquer responsabilidade. Ele escolheu esse caminho e muito me admira quem é de direita não estar puto com ele, pois foi graças a ele e a sua tentativa de salvar seus filhos estrupícios que vocês estão amargando esses quatro anos de Lula.

Bolsonaro é carta fora do baralho, justa ou injusta a decisão. Quem não partir dessa premissa não vai fazer boas escolhas, não vai conseguir antever o que está por vir e ainda periga passar vergonha. Acha que a condenação dele foi injusta, ilegal, imoral? Sem problemas. Só não negue a realidade: Bolsonaro é carta fora do baralho. Paute tudo partindo dessa premissa. Não é um desejo meu, é a realidade.

A mesma premissa vale para o assassinato de Charlie Kirk. Não se mata uma pessoa por divergência de opinião. Não é um motivo válido para tirar a vida de outro ser humano. Uma coisa é matar alguém que estava partindo para cima de você para te matar ou te estuprar, agindo em legítima defesa, outra é matar uma pessoa por discordar das suas opiniões. Não é a minha opinião, é a realidade.

Relativizar isso é ter falta de caráter, psicopatia ou então estar cego por lavagem cerebral de militância. Desumanizar para abrir caminho para destruir alguém, repetindo conceitos que nem de perto se aproxima da pessoa, como nazista, fascista e outros, é um método baixo que só torna a sociedade pior.

Mas, supondo que a pessoa tenha perdido completamente a noção de civilidade, humanidade e moral e tenha caído nesse discurso recorrente de desumanizar o outro para poder atacá-lo sem freios, ainda assim, por uma questão de estratégia, é burrice o que estão fazendo.

Meus queridos, não virem as costas para a realidade, vocês serão tratorados. Repito: não é um desejo meu, é um cálculo muito simples. Não sei em qual mundo as pessoas vivem que acham que isso pode funcionar. Tem um erro de cálculo enorme aí, e vai custar caro para quem está calculando errado.

Quer ameaçar os outros de morte, como estão fazendo com o Nikolas? Fatalmente parte da sociedade vai te reprovar e você pode perder amigos, seu emprego e até pode ser processado. Rede social não é boteco, o que se diz ali fecha portas. Você tem liberdade de expressão para dizer, ninguém está te impedindo. Mas tem consequências. Seu patrão tem a liberdade de te demitir. E seu patrão é mais forte do que você: ele consegue dez para trabalhar no seu lugar no dia seguinte. Você talvez não consiga outro emprego tão cedo.

“Ain quedizê que eu tenho que me calar por medo do meu patrão?”. Não, meu anjo, você não tem que desejar a morte de outras pessoas em público para não ser uma bosta de pessoa, um lixoso, um filho da puta sem humanidade mesmo. Esse é o ponto. Mas, se você for um merda, saiba que é um merda mais fraco do que as pessoas que está xingando e vai perder essa briga.

É completamente delusório achar que um Zé Cu de Pindamonhangaba vai ameaçar um parlamentar e ele, o Zé Cu, vai sair vitorioso nesse cabo de guerra. É completamente descolado da realidade achar que um funcionariozinho vai desejar a morte de alguém, causar polêmica e a empresa vai comprar o barulho dele. Como eu disse, tem dez, cem para ocupar o seu lugar. Você não é especial, a empresa não é sua amiga. Se as bostas que você faz respingam na empresa, você vai para a rua. Ameaçar de morte gente mais forte do que você é apenas burrice. Nem bicho faz isso. Voltem para a realidade: não resolve e quem se ferra é o mais fraco.

Só ontem uma lista com mais de 1200 prints de brasileiros postando coisas desagradáveis sobre Charlie Kirk foi enviada para a Embaixada dos EUA, que respondeu publicamente pedindo para ser marcada em qualquer comentário desse tipo sobre Kirk, pois essas pessoas não só serão impedidas de entrar nos EUA como também terão que pagar indenizações.

Só ontem Nikolas conseguiu prender pessoas e demitir várias outras pela mesma postura. Tudo de forma pública, online. Estão comprando uma briga que não tem força para lutar e serão trucidados. E todos os envolvidos apareceram chorando, se desculpando, se humilhando. Parem de passar vergonha.

Ao leitor do Desfavor, eu recomendo realismo e distanciamento dessa rinha social. A tendência é a coisa se intensificar e vai ficar pior, inclusive mais violenta, então, é uma boa hora para sair da briga e passar a ser observador, não importa de qual lado você esteja. “Ain mas eu vou me omitir?”. Não, você simplesmente não vai gastar tempo e energia com o que não funciona. Rinha social não funciona, isso não muda ou melhora a sociedade. E ainda pode destruir sua vida e a da sua família.

Comecem a se educar hoje mesmo para não discutir com desconhecidos, para não dizer nada polêmico ou que feche portas em redes sociais. Porte-se em redes sociais como se o William Bonner fosse ler tudo que você posta no Jornal Nacional. Rede social é praça pública, não diga nada a ninguém em redes sociais que você não diria em praça pública ou ao vivo, olhando olho no olho para o interlocutor.

“Ain conformista abaixando a cabeça”. Tá bom, meu anjo, vai lá e briga com alguém mais forte do que você achando que vai fazer uma revolução ou mudar o mundo. Depois me conta que consequências isso gerou na sua vida e na sociedade, beleza?

Tomara que não, mas essa situação pode escalar muito nos EUA e sabemos que o Brasil adora importar tudo que não presta dos EUA. Também sabemos que ano que vem é ano de eleição no Brasil, então, os ânimos estarão ainda mais exaltados. Quem estiver de um dos lados da polaridade, se portando de forma bélica, agressiva, fazendo ameaças, vai virar alvo. Saiam do jogo, ele não está favorável para nenhum dos lados. E trabalhem com realidade e coerência, se não, vão fazer péssimas escolhas.

SOMIR

Havia uma discussão interna aqui sobre o caso do Bolsonaro realmente valer a pena ser mencionado. Sim, foi um evento grandioso que vai acabar em livros de história, mas… pouca ou nenhuma surpresa envolvida. Mesmo o voto de Fux não muda tanto a situação, que havia uma discordância já sabíamos, mas não o quanto ele discordaria. De qualquer forma, era previsível a condenação de Bolsonaro e companhia, e no dia marcado para a sentença, aconteceu justamente isso.

O caso do ativista americano Charlie Kirk foi impactante pela forma horrível como aconteceu, numa semana normal seria a notícia única. Mas nessa, conseguimos perceber paralelos que trouxeram de volta o tema de Bolsonaro. Como Sally bem disse, muita gente parece alérgica a lidar com a realidade das coisas.

Sob o risco de normalizar o que não deveria ser normalizado: não aconteceu nada de realmente novo na nossa história. Nenhum poderoso é eterno na sociedade, muitos daqueles que estiveram no topo do mundo são derrubados tempos depois quando os ventos mudam. E pessoas matam pessoas por opiniões políticas há… bom, desde que existe política.

O ponto que eu quero trazer aqui é de novo o tal do “culto do fim do mundo” que quase sempre se estabelece na cabeça de pessoas radicalizadas. A ideia de que estamos a um evento da queda da sociedade como conhecemos, e quase sempre a expectativa do que se segue é uma distopia horrível. Um julgamento com erros não é sinônimo de ditadura, um maluco atirando num ativista político não é o começo de uma guerra civil.

São pontos de crítica que exigem ação para melhorar o mundo. Você pode querer ver o Alexandre de Moraes tomando impeachment por suas ações contra a liberdade de expressão e pode querer ver o Bolsonaro impedido de chegar perto de qualquer cargo público para sempre. Não precisa escolher qual seu autoritarismo favorito, pode escolher ser contra supressão de direitos, seja ele de falar o que pensa, seja ele de viver em um sistema democrático.

Você pode ser contra basicamente tudo o que Charlie Kirk dizia e ser contra alguém matar ele por causa disso. A sociedade funciona com essas ideias, porque elas não são contraditórias. Agora a discussão nos EUA reaqueceu porque esquerda e direita querem jogar o atirador um no colo do outro. Como se fosse uma escolha necessária: o ponto é que não pode atirar um no outro, é a lei base de qualquer lugar funcional. Ao ficar procurando quem radicalizou a pessoa, esquece-se de que o problema é a radicalização.

Cultos são conhecidos por tentar afastar seus membros de influências externas, porque eles perdem o poder sobre a pessoa se família e amigos estiverem dando uma visão diferente das coisas. Cultos precisam programar a mente do cultista, senão ele vira uma fonte de questionamentos que contamina outros cultistas. O culto do fim do mundo precisa te convencer que ser radical é necessário. Que enxergar o fim de tudo na próxima esquina é a única coisa que você pode fazer para se proteger.

E ninguém é imune à propaganda. Com tanta gente divulgando a necessidade de estar no culto do fim do mundo, é normal que comecemos a desconfiar que tem algo válido ali. E quanto mais barulho os cultistas fazem, mais a sociedade começa a se moldar ao seu redor. Não é a primeira vez que acontece, não vai ser a última. São ciclos de destruição e reconstrução que antigamente aconteciam de forma isolada em sociedades diferentes, mas que hoje se conectam na velocidade da luz pela internet.

Nos EUA, pudemos perceber uma degradação da posição ideológica da direita ao aceitar e valorizar cancelamento com aqueles que debocharam ou celebraram a morte de Kirk. Não se discute reação emocional, porque ela é emocional, mas de tanto que sofreram com cancelamento da esquerda, sentiram-se justificados em devolver. E eu chamo de degradação por um motivo que vai além de achar que é certo ou errado, é pelo precedente de perder uma posição idealizada de como tocar uma sociedade. A liberdade de expressão sempre teve esse ponto fraco de deixar pessoas falarem coisas que você acha horríveis…

Se você acha que o mundo não está acabando, você pode se dar ao luxo de ter ideias mais abstratas sobre o que é mais funcional no longo prazo. Se você acha que está prestes a ser escravizado ou morto pelo inimigo, não sobra espaço para idealismo: a resposta é prática, não importa quão suja você ache. O culto do fim do mundo faz as pessoas pensarem no curto prazo, porque não tem mais futuro para moldar.

Eu sei que é irritante ler análises como a que estamos fazendo aqui se você acha que o mundo está sob ameaça iminente de destruição, mas o ponto é te incomodar mesmo: existem argumentos decentes para considerar que as coisas não estão perdidas. Eles não estão nos discursos radicalizados, porque quem é radical e foi convencido que está em minoria sendo destruído pelo inimigo tem um incentivo inconsciente de perpetuar a ideia de fim de mundo: toda sua defesa contra o horror futuro depende de aumentar sua tribo.

Quem se posiciona muito à direita ou à esquerda não consegue mais te dizer que as coisas podem melhorar sem revolução, sua visão de mundo depende de não ter, já aceitaram o fim. E é claro, no meio dos assustados existem os parasitas que aumentam o medo por interesses financeiros ou políticos.

O mundo tem um monte de problemas, mas eles não vão acabar com a humanidade. A visão radical de fim do mundo é só um caminho para quebrar tudo e ter o trabalho de reconstruir, atrasando a humanidade por histeria. E sim, estou dizendo que nem uma guinada nazista ou comunista acabam com a gente, só demora mais para voltar ao ponto de evolução novamente.

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