Desfavor Convidado: Salvador na Manifestação.
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Salvador na Manifestação.
Irei contar como foi a minha experiência nos protestos desse dia da pseudoindependencia. O dia que deveria ser mais um de protestos, acabou com confrontos entre policiais e manifestantes nas maiores capitais do país, estou aqui para contar o que aconteceu aqui em Salvador.
Como não deveria deixar de ser a manifestação foi convocada pelo Facebook por grupos como Anonymous, Black Bloc e outros. Aqui em Salvador a reunião se deu na Praça do Campo Grande, a mais famosa de cidade, localizada no centro e local de partida do desfile cívico-militar. O horário foi marcado para as 14 horas, no qual cheguei as 13: 30 e já tinha uma quantidade de 300 pessoas reunidas no local, em sua maioria gente de preto e com os rostos cobertos certamente integrantes do Black Bloc.
Após esperarmos por uma hora a chegada de mais pessoas resolvemos seguir com nossa manifestação pela Avenida Sete de Setembro, uma avenida comercial. Se você já veio ao carnaval de Salvador estará familiarizado com ela, mas se você nunca veio e só ouviu falar, essa região é o circuito secundário, já que o primário é o Barra-Ondina (orla de Salvador), na configurando-se por ser um local estreito e com poucas rotas de fuga.
O efetivo da Policia Militar era enorme, desproporcional para a quantidade de pessoas que estavam na manifestação, por volta de 500 pessoas, no qual era formada por jovens, idosos, criança, brincávamos dizendo que cada um de nós tinha um policial para chamar de seu. O interessante a dizer é que em momento algum a policia falou nada conosco, não revistou bolsas e mochilas ou importunou os mascarados. Vocês estão acostumados a ler o que Sally fala sobre a PM fluminense, mas gostaria de deixar para registro que a PM baiana não fica atrás da sua coirmã da Guanabara não, sendo tão brutal quanto. Fazendo uma analogia carioca pode ser comparada ao personagem Jason de “Sexta-feira 13”, a baiana está mais para Freddy Krueger.
Nossa caminhada seguia para a prefeitura que fica próximo ao Pelourinho, onde também fica o Elevador Lacerda, com a escolta da PM, foram destacadas para esse ato as equipes da RONDESP- Rondas Especiais, tropas especiais que são temidas pela sua brutalidade perpetrada nas periferias e que possuem o único modo de operação de atirar primeiro e perguntar depois. O destacamento dessas tropas deixou o clima bastante tenso, afinal era fato consciente que iria rolar confronto só faltava saber era o quando e onde.
Pois bem, continuamos seguindo pela Avenida Sete de Setembro, entoando gritos de guerra como “Mídia Fascista, encobre a Polícia Terrorista” e “Ei PM vai tomar no cú”, algo que não deve ter deixado os policiais muito contente hehehehe. A questão é que se eles alegassem que esse seria o motivo do confronto só comprovaria a minha hipótese de que policiais são seres com baixa autoestima e que não aceitam ouvir criticas e provocações, pois necessitam constantemente de elogios para massagear a baixa autoestima desses elementos, sabe como é né: baixos salários e sendo massacrado pelo governo destrói a cabeça de muitos.
Quando chegamos próximo ao final da Avenida mudamos de percurso, entramos em uma avenida paralela chamada de “Avenida Joana Angélica” que fica no bairro de Nazaré, em homenagem a uma freira que foi morta ao impedir a entrada de soldados portugueses no seu convento à caça de soldados baianos que os combatiam na luta pela independência do Brasil na Bahia, em 1823. Essa avenida é mais estreita e problemática do que a outra, e já tinha sido palco de confrontos em junho, fato esse que comentamos e percebemos que foi um erro, mas não tinha mais volta a polícia já tinha fechado a passagem de volta, o jeito era seguir em frente e torcer para que não ocorresse confronto. Ledo engano!
Quando contornamos uma curva vimos a Tropa de Choque chegando, então paramos, resolvemos seguir em frente, com o objetivo de chegar a Fonte Nova, local onde se encontrava o Governador Jaques Wagner, em uma eleição para definir o presidente do esporte clube Bahia. Do nada só ouvimos o estouro da primeira bomba, depois outra e mais outra, até que uma foi lançada no meio da multidão, o gás se espalhou e tivemos que correr, não tinha como correr para trás por estarmos com a Rondesp nas costas, corremos para uma rua que fica ao lado da Joana Angélica e que dá de volta a Avenida Sete, nesse momento eu olhei para trás e vi os policias convencionais que estavam nos acompanhando desde o começo sofrendo também como o gás, mas não sem antes de meter a mão em um rapaz que usava muletas, acho que ele foi o primeiro a ser detido. Nesse local tinha três ônibus com passageiros que não foram considerados pelo Choque.
Estava com vinagre na mochila, “equipamento de guerra” que sempre levo para as manifestações que vou, mas muitos não estavam então tive que dividir com o maximo de pessoas que deu. Eu moro na região então conheço todos os buracos do bairro, consegui guiar para fora do cerco da policia umas 15 pessoas, mas outras não tiveram chance, foram cercadas, espancadas e detidas, onde dois policiais cercaram e bateram em uma garota com seus cassetes, quem tentou defender apanhou também e foi detido; outros grupos começaram a reação, o Black Bloc resistindo ao Choque em uma batalha campal pela rua, a policia com bombas e tiros de borracha e manifestantes com escudos e pedras, outro grupo começou a destruir tudo o que via pela frente, uma agencia do Banco do Brasil teve seu vidros quebrados, uma do Bradesco e outra do Itaú, é bom frisar que lojas de pequenos empresários e bens de cidadãos não foram tocados.
Um grupo de cinquenta pessoas conseguiu se reunir próximo ao Campo Grande e marchar em direção a 1º Delegacia Territorial, responsável pela área. No caminho mais pessoas se juntaram e foram para a delegacia. Soubemos das detenções e eu e mais sete pessoas também deslocamos para lá, no total era umas 80 pessoas na frente da delegacia, protegida por uns trinta policiais fortemente armados, isso já era umas 18h30min. No local descobrimos que se encontravam na delegacia 35 manifestantes, a tropa de choque foi chamada de novo novamente nos cercando, mas dessa vez não houve confronto pelo fato de que os advogados da OAB já estarem presentes. Os manifestantes foram sendo liberados aos poucos tanto que saímos de lá com eles às 22 horas.
No fim do dia o saldo foi de 35 detidos e vários feridos, três bancos depredados, embora a mídia tenha colocado em nossa conta um ônibus queimado, algo que não aconteceu. O que posso dizer é que eu continuarei indo para as ruas, não mais por apenas querer alguma mudança no país, mas sim por ódio e raiva. O ódio e a raiva serão os meus motivos para ir para a rua.
Anônimo
A polícia do Brasil inteiro é mal preparada, e quanto menor a manifestação maior a presão dos policiais para tentar coibí-la. Aqui na minha a maior manifestação teve 1500 pessoas, e todo o contingente policial foi deslocado para o local. A parte boa é que aqui a polícia não é violenta porque está em menor número e sabe que se bater apanha muito mais.
Sally, vc mete tanto o pau na Bahia e olha só um texto super bem escrito por um cara de Salvador.
É… leitores do Desfavor são destaque mesmo em qualquer lugar. Sabem ler e escrever bem!
Ué, mas para meter o pau é necessário que todos, sem exceção, sejam energúmenos? Não pode ser 99% de energúmenos não?
Digo, mantenho e repito: lugar horrível, gente burra, feia, cafona e fútil. Honrosas exceções apenas confirmam a regra.
Mas o que eu entendo por “energúmenos” chega a 99% no país inteiro, não somente em Salvador. Acho que tiraria São Paulo e Pará daí desse meio. A energumenada ali não parece chegar a tanto.
O triste da exceção é que pode até consolar um pouco, mas não faz revolução.
Quanto à violencia policial, percebe-se claramente que depois do pt foi desviada dos bandidos para os manifestantes. PT hoje pra mim significa protetor de traficante.
Maria, tem coisas que acontecem em Salvador que não acontecem em nenhum outro lugar do país ou do mundo…
Tem coisas que acontecem em muitos lugares do mundo que somente ali acontecem, tanto boas como ruins.
Certamente. No caso de Salvador, são as ruins. Boas não vi nenhuma.
Lamento pela sua má sorte. Eu vejo coisas boas e ruins todos os dias. Mas também não dou moleza: vivo buscando as boas e repelindo as ruins (e desafiando-as, que é o mais importante). Vai ver até vc se deparou com coisas boas também mas aí então talvez já estivesse com o olhar/psique impregnados.
Não, Maria. Não tinha coisa boa não. E olha que eu procurei. Salvador é sujeira, é bagunça, é oba-oba, é incompetência, é futilidade e ostentação. E não foi má sorte, o Brasil inteiro parece concordar comigo.
Eu também concordo então, pela primeira vez, com o Brasil inteiro. Com relação às mazelas. Mas dái a dizer que só existem mazelas. Aí não. Se assim fosse, a cidade já não existiria mais.
Então conta para a gente alguma coisa BOA de Salvador. Talvez o que eu acho uma bosta para você seja uma coisa boa… No aguardo.
Hump, tiraria São Paulo e Pará?
Vc não conhece o Brasil, fia…
O lugar menos pior é no Sul, mesmo assim porque tem raízes estrangeiras e fica perto de outros países. Brasileiro é lixo, bem merda mesmo.
1 – Não preciso conhecer todo o Brasil e nem todo o mundo para ter conhecimento dos lugares que efetivamente conheço.
2 – Raízes estrangeiras todo o Brasil e todo o mundo, a estas alturas, possuem. Não mais existe local neste planeta onde cem por cento da cultura seja autoctone sem nenhuma influencia externa.
3 – O sul brasileiro está estre os o “mais piores” do mundo por não ter o mais básico: ser resolvido com a prória condição/identidade latinoamericana. Essa é a pior merda da grande merda Brasil: não consegui se resolver/assumir o próprio espelho ainda que tendo as melhores (ou menos ruins) condições materiais do país.
Eu acho mérito relutar em se assumir latRinoamericano quando a pessoa não se identifica com isso. Eu vou lutar contra isso até o fim dos meus dias.
Mérito não se identificar nem assumir aquilo que se é e nunca se vai deixar de ser? Não creio. Especialmente quando aquilo que se é não configura nenhum crime.
Quem disse que eu sou? Não me identifico com essa gente e acho ótimo que mais pessoas não se identifiquem. O que você é transcende muito a região geográfica onde você nasceu…
Arrasou, Sallyta!
Uma coisa eh vc ter nascido na America LatRina por um acidente geografico e outra eh aceitar uma merda dessas numa boa.
Não é porque eu nasci aqui que eu SOU isso aqui. Que fatalismo geográfico é esse?
Quando foi que apregoei aqui fatalismo geográfico? Não estou apregoando isso e nem nada. Falo é do ser resolvido com a condição latinoamericana, assumi-la. Se resolver com o fato de ter nascido e crescido aqui e isso e assim se aceitar ainda que não haja identificação. Ser resolvido com isso tem ainda mais mérito quando existe a condição sem a identificação. Não significa abrir mão da independencia nem do senso critico, ao contrário: os cucarachas mais engajados que conheço acreditam na missão de terem nascido nesta terra. Além do que, se não me identifico eu com minha região geocultural, vou então me identificar, em escala maior, com o que mais? O que é então ser: nascer, crescer, usufruir dos benfícios e malefícios da problemática porém rica América e viver invocando a mama Africa e o papa Europa? Pois eu vou morrer achando igualmente idiotas os sulitas e militantes negros que uns dos outros merecem ser compatriotas.
Mas alguém é esquizofrênico de acreditar que nasceu na Europa tendo nascido na América LatRina? Todo mundo sabe muito bem que nasceu aqui, só não temos orgulho disso, muito pelo contrário. Também não temos a menor vontade de lutar para melhorar isso aqui, porque achamos que o povo simplesmente NÃO MERECE.
Se é esquizofrenia eu não sei. O fato é que tem gente que é latinoamericano se achando e/ou se sentindo europeu ou africano. Quanto ao orgulho, não tenho disso nem daquilo nem de nada. Quem precisa de orgulho é o problemático sem autoaceitação. E também não tenho vergonha nem culpa. Inveja então nem comento. SEntimentos autoenvenenadores e anticivilizadores. Quanto ao povo merecer ou não que eu seja melhor ou dê o meu melhor, também não sei. O que sei é que eu mereço ser e viver assim.
Não conheço ninguém que tenha nascido aqui e que ache que nasceu na Europa. Defina “se sentindo europeu”
O que pode acontecer, e EU SINTO, é da pessoa nascer aqui e se sentir MUITO MELHOR do que essa brasileirada média, ignorante por escolha, acomodada. Eu me sinto melhor do que a massa.