Skip to main content

Colunas

Arquivos

Ele disse, ela disse: Casal que trabalha unido…

| Desfavor | | 18 comentários em Ele disse, ela disse: Casal que trabalha unido…

O relatório está errado porque você broxou ontem!Permanece unido? Considerando que hoje em dia ser dona-de-casa exclusivamente beira ao luxo para a maioria das mulheres, o mercado de trabalho encontra cada vez mais casos de casais que estendem sua relação para os empregos.

Sally e Somir trabalham suas argumentações sobre o assunto partindo de pressupostos diferentes: Ela acha que a harmonia entre vida afetiva e profissional é possível, ele, por sua vez, acredita que a relação fica cada vez mais longe de uma promoção…

Tema de hoje: Trabalhar juntos desgasta a relação?

SOMIR

Sim, é o que tende a acontecer. É importante que prestemos atenção no verbo que define o tema: Desgastar. Uma relação desgastada não é apenas aquela que termina em briga e ódio mútuo, muitas vezes esse desgaste não serve como estopim para uma separação, mas torna a vida a dois bem mais incômoda e sofrida para as partes envolvidas.

Aposto que todos vocês conhecem (ou já vivenciaram) relações onde o casal fica reclamando de como as coisas vão, mas continuam juntos. Uma relação desgastada é aquela onde o futuro dos dois parece cada vez pior a não ser que algo de muito sério mude no meio do caminho.

E o ambiente de trabalho raramente é um lugar planejado para harmonizar relações. Uma empresa minimamente profissional incentiva seus funcionários a competir e a alcançar metas específicas, aumentando a produtividade e consequentemente, o stress. Essa pressão por resultados normalmente considera que o funcionário terá suas válvulas de escape fora do emprego para não sucumbir à pressão.

E há de concordar que uma boa relação afetiva faz milagres pelo ânimo de uma pessoa. Depois de um dia sofrido e concorrido no trabalho, por mais que se esteja cansado, faz bem voltar para uma outra “realidade”, uma onde o que te une à outra pessoa é o interesse mútuo de ficar juntos.

Da mesma forma como é um alívio voltar para os braços de sua mulher para recarregar suas forças depois de sofrer no emprego, pode ser igualmente útil mudar de ambiente para esfriar os ânimos depois de uma briga em casa.

Meu principal argumento aqui é: A separação entre relacionamento e trabalho tem como vantagem manter (na medida do possível) os problemas contidos em seus devidos lugares. Claro que as coisas não são tão simples assim e sempre passa um pouco de um ambiente para o outro, mas não duvidem do poder de se afastar um pouco do problema para enxergar soluções melhores.

Imaginem só um casal que briga em casa e tem que trabalhar junto no dia seguinte… Nenhum dos dois vai conseguir se afastar disso. Por mais profissionais que sejamos, ainda somos humanos. Vai afetar rendimento e um problema conjugal vai virar um problema profissional. E quando ambos voltarem para casa, serão dois problemas, provavelmente se agravando mutuamente.

Cá entre nós: Saudade (em doses bem controladas)( faz bem para um namoro ou casamento. Esse negócio de ficar grudado o dia todo tem mais cara de receita de desgraça do que de sucesso. Não posso falar pelas mulheres, mas no caso dos homens, um pouco de distância e “momentos solitários” (Não estou falando de masturbação! Quer dizer, não SÓ…) faz maravilhas. Vai fazer tudo junto a semana toda e ainda tomar bronca da mulher porque resolveu sair para tomar umas cervejas com os amigos no final-de-semana? Obrigado, não.

E eu ainda estou considerando que o casal não tenha relação de hierarquia no trabalho, porque com mais isso somado existe ainda a chance de uma transferência de poder que só pode fazer mal para o lado afetivo da relação. E eu não digo isso só porque sou terrivelmente insubordinado, é que num namoro ou casamento de gente minimamente razoável, não existem chefes e empregados. Pressupõe-se que um casal tenha igual ascendência um sobre o outro. (Não se preocupem, histéricas, eu ainda acho que o líder de uma relação é o homem, mas daí a entender que isso não significa ser “chefe” ou “dono” exige um pouco mais intelectualmente… Então sintam-se livres para continuar me chamando de machista.)

É muito difícil conseguir separar conscientemente superioridade hierárquica do trabalho da condição de “sociedade” da relação amorosa. Periga do cidadão ouvir da mulher que não tem moral para reclamar da desorganização do relatório dela depois de deixar uma bagunça no banheiro todo dia após o banho… São discussões inúteis e desgastantes causadas pela natural confusão de papéis decorrente do ambiente de trabalho comum. Sem contar que a alegria de falar mal do chefe em casa pode ser completamente tolhida se o chefe estiver escutando…

E ainda por cima temos a relação entre os colegas de trabalho. São amizades, brigas, rivalidades e claro, flertes discretos ou descarados correndo simultaneamente com todo o trabalho. Existem inúmeras situações onde a convivência com a namorada ou esposa ali potencializa os aspectos negativos dessa relação profissional.

Seus amigos/colegas de trabalho podem se sentir bem mais inibidos para socializar (contar aqueles causos escabrosos, divertidíssimos) com você se a patroa estiver do lado. Uma briga de um dos dois com um superior pode colocar em risco a estabilidade financeira (e afetiva, se tomar partido errado) do casal de uma só vez. Seria horrível ver que sua mulher ajudou o seu rival numa promoção a ganhar a vaga que você tanto queria. Sempre tem um (ou uma) dando em cima, o que desconcentra e irrita mesmo sabendo que sua companheira não vai dar trela…

Não vamos nos enganar achando que todo mundo vai lidar bem com a pressão extra de levar uma relação afetiva para o trabalho. Não estou dizendo que sempre vai dar errado, até porque eu sempre achei que eu e Sally temos um potencial gigante para trabalharmos juntos mesmo num namoro, mas existe uma série de fatores pessoais nessa relação que corroboram com a minha expectativa: Fosse ela um pouquinho só diferente do que é e eu já acharia um perigo.

E não é questão só de gostar da pessoa. Já gostei de mulheres que tinha certeza que não durariam uma semana trabalhando comigo. Tem gente que não separa bem as coisas, e essa gente é a maioria. Eu mesmo não separo bem: Se me der ordens e começar a me pentelhar com prazos, eu vou desgostando aos poucos da pessoa. E assim como eu, muitos de nós temos algum elemento de personalidade que vai desgastar uma relação nesse caso de trabalho conjunto. Custa não levá-lo para casa?

Para dizer que ninguém seria feliz trabalhando comigo mesmo, para reclamar que sem algum argumento absurdamente machista você não tem como comentar direito, ou mesmo para me mandar postar os textos na hora certa: somir@desfavor.com

SALLY

Trabalhar junto desgasta a relação? Não. O que desgasta a relação é desconfiança, paranóia, insegurança, pentelhação, egoísmo, carência, falta de consideração e mentiras. Se o casal funciona em harmonia e tem uma relação saudável, desenvolver projetos juntos todos os dias acaba mais por uni-los do que por desgastar sua relação.

Antes que os pentelhos de plantão venham reclamar que generalizamos, nós sabemos que existem casos e casos e que para toda regra tem uma exceção. O que está sendo discutido aqui é se, COMO REGRA GERAL, a tendência é que trabalhar junto desgaste ou fortaleça uma relação amorosa.

Ao contrário do que se costuma dizer, eu acho que trabalhar junto fortalece os laços. É mais um projeto em comum do casal. Mesmo que eventualmente aconteça algum desgaste em função do maior tempo de convivência, eu acho que o saldo final é favorável.

Essa história de que trabalhar junto desgasta a relação já foi verdade, em um tempo onde a carga horária e a carga de trabalho era razoável. Vinte ou trinta anos atrás eu também concordaria que desgasta uma relação. Hoje em dia me permito discordar. Considerando a carga horária insana e a quantidade de trabalho absurda que costumam ser cobradas no atual mercado de trabalho, estou até começando a achar que se você quer um namorado presente, tem que namorar alguém do trabalho mesmo!

Quando você gosta de alguém, tem intimidade, empatia, afinidade e uma vida em comum, trabalhar junto rende mais e acaba se tornando uma atividade mais prazerosa. Funciona melhor. É mais tempo para passar com a pessoa e mais chances de construir algo juntos. É mais um campo da sua vida que se abre para que seu parceiro participe, opine e te ajude.

Qual relação é mais forte, aquela onde cada um trabalha em um canto e só conseguem se ver no final do dia, exaustos, depois de dez horas de trabalho, restando tempo só para jantar, tomar um banho e dormir ou aquela onde o casal trabalha junto, sai de casa junto, almoça junto e volta para casa junto conversando sobre o dia de trabalho? Nesse esquema de rotina neurótica de trabalho, trabalhar junto é a melhor chance que você tem de ver o seu parceiro durante a semana.

Madame não sabe disso porque Madame é seu próprio patrão e Madame é gênio popstar da sua área, o que lhe permite eventualmente trabalhar em casa, fazer seus próprios horários ou até mesmo não trabalhar quando não tem criatividade para tal. Mas para você, que não é a Madame aqui de cima nem é funcionário top de linha de alguma empresa gente boa, como a Microsoft, que permite que seus top de linha façam seu próprio horário, trabalhar com o parceiro pode ser a única chance de vê-lo durante a semana.

Quer coisa melhor do que trabalhar e desenvolver projetos com uma pessoa que você confia e que te conhece muito bem? Saber que você está trabalhando com alguém que não vai puxar seu tapete e que ainda por cima vai cuidar de você e impedir que outras pessoas o façam? É muito bom trabalhar com alguem que sabe da sua vida pessoal, que sabe quando você está passando por maus momentos e por isso sabe quanto e quando você pode render. Casais sabem como seus parceiros funcionam e justamente por isso conseguem obter o melhor do outro em um ambiente de trabalho.

Se antigamente as empresas viam com maus olhos e até mesmo proibiam o relacionamento entre funcionários, hoje em dia elas vem mudando de postura. Algumas até incentivam o relacionamento entre funcionários. O entrosamento melhora, o casal investe junto na empresa, sem preocupação com ciumes, com estar ausente de sua casa ou com qualquer outro problema que possa surgir em função de trabalho em um relacionamento.

Para casais estruturados, maduros e bem resolvidos, trabalhar junto só tem a acrescentar. Claro que se o casal não funciona bem como casal na vida privada, também não funbcionará bem como casal de empregados. Desconfiança, paranóia, imaturidade, barraco… nada disso combina com ambiente de trabalho. Se o casal é adepto destes comportamentos em casa, é possível que os repita no trabalho. Neste caso, não funcionam como empregados PORQUE não funcionam em primeira instância, como casal.

Pessoas que tem maturidade, afinidade e uma cabeça boa não deixam que problemas profissionais interfiram na relação. Os problemas do trabalho ficam no trabalho, ou, quando são levados para casa, são levados de uma forma produtiva, onde o casal se une para vencer obstáculos. Nada melhor para unir as pessoas do que um “inimigo” em comum (no caso, o inimigo não seria o trabalho em si e sim os problemas que decorrem dele).

Estresse no trabalho todo mundo sofre e eventualmente pode refletir no relacionamento, ainda que o parceiro não trabalhe com você, com o agravante que é muito mais difícil que o parceiro compreenda o que se passa quando ele não está lá dentro para ver. Está na hora de acabar com esse mito de que trabalhar junto desgasta relacionamento. O que desgasta relacionamento é filho! Trabalho une.

Para dizer que se trabalho unisse os donos deste blog seriam namorados, para dizer que quer um casal de funcionários trabalhar nessa harmonia mágica depois de uma DR em casa e para dizer que já basta seu parceiro(a) mandar em você em casa, se mandasse no trabalho também você surtaria: sally@desfavor.com

Comentários (18)

Deixe um comentário para Deja Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.