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Desfavor Convidado: Pessoa Desaparecida.

| Desfavor | | 14 comentários em Desfavor Convidado: Pessoa Desaparecida.

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Desfavor Convidado é a coluna onde os impopulares ganham voz aqui na República Impopular. Se você quiser também ter seu texto publicado por aqui, basta enviar para desfavor@desfavor.com.
O Somir se reserva ao direito de implicar com os textos e não publicá-los. Sally promete interceder por vocês.

Pessoa Desaparecida

Não sei se esse texto pode ajudar muita gente, vou tentar detalhar a história o máximo possível sem abrir muito minha vida pessoal.

Tive uma história de uma pessoa desaparecida na minha família. Ele ficou desaparecido por mais de 15 anos, sem ninguém nunca saber nada sobre ele, foi colocada policia atrás dele, tem muitos processos judiciais correndo contra ele, foi contratado detetive particular, colocada a foto dele em vários sites, teve parente que até no programa do ratinho foi para tentar achar, e nunca tivemos nenhuma noticia.

Bom acho que eu não vou conseguir escrever todos os sentimentos que eu passei sem falar qual era o grau de parentesco dele comigo, ele era meu pai, e ele e minha mãe se separaram quando eu ainda era bebê, ele casou de novo e se separou de novo, mas os dois sempre tiveram um bom relacionamento, até ele sumir. Ele sumiu quando eu estava com quase 15 anos, estou hoje com um pouco mais de 30 e ele foi encontrado o ano passado.

Na família tinha muitas teorias do porque ele estava sumido, muitos de nós achávamos que ele tinha morrido, pois ele sempre foi uma pessoa que se importava com a família, e ele deixou tudo pra trás filhos de dois casamentos diferentes, mãe, pai, irmãos, sobrinhos…
A mãe dele nunca acreditou nisso, tinha certeza que ele estava vivo, e que mais cedo ou mais tarde ele iria aparecer, quando não queríamos acreditar que ele estava morto, achávamos que estava com amnesia vivendo como mendigo em algum lugar.

Nunca consegui ter um relacionamento com a família dele, pois cada vez que eu via minha vó, meus tios ou irmãos parecia que estavam jogando álcool em uma ferida aberta, parecia que tinha um murro entre nós que impedia que a conversa entre a gente fluísse normalmente, sempre ficávamos pisando em ovos para impedir que um assunto que tivesse relação com ele aparecesse…
Então por me sentir mal e achar que eu fazia mal para os outros me afastei, nunca chamei para aniversários, nunca liguei, simplesmente enterrei lá no fundo do baú cerebral a existência dele e da família dele e vivi minha vida, fui criada pela minha mãe e tenho certeza que ela fez o melhor que ela pode.

Todos esses anos sempre, a cada mês ou quando desse na telha buscava o nome dele no google, ano passado acharam um protesto de um cheque devolvido de uma semana antes da pesquisa, a pessoa que achou essa pista ligou no jornal aonde foi publicado o protesto, no cartório, e conseguiu um telefone e conseguiram achar ele, vivo, bem, com a memoria intacta, se lembra da vida inteira dele, com outro nome, e outra esposa e mais dois filhos, morando em uma cidade muito próxima da nossa cidade. Não sei o qual motivo que levou ele a usar o nome real, se foi um descuido, uma forma dele tentar voltar as origens, realmente não sei.

O reencontro foi uma festa pra todo mundo, uma caravana para ir visitar ele, festa sendo feita pra ele, ligações e mensagens sendo trocadas direto, ele visitando a família algumas vezes, disse que ia voltar a morar na nossa cidade… essa empolgação durou uns quatro meses, depois a vida vai voltando ao normal e o contato cada vez menor.

Sei que dessa historia, a pessoa que menos saiu machucada foi ele, pois ele fez outra família e viveu bem seus últimos anos, apesar de não saber do que acontecia com a sua família “original” sabia como e aonde encontrar se ele quisesse.

Eu não aceitei o que minha família se propôs a aceitar, que era não perguntar o que tinha acontecido, não querer saber o motivo e aceitar o daqui pra frente, eu fui atrás pressionei, busquei respostas e não consegui nenhuma resposta direta dele, consegui através de outra pessoa, o motivo foi por causa de divida com pessoas erradas, pessoas essas que ameaçavam a família e ele desapareceu para não colocar mais em risco a vida dos outros. Eu não sei se é verdade ou não, muita coisa se encaixa, mas eu acho que a historia real foi floreada para ele não ficar tão queimado e eu não ter tanta raiva e magoa como eu tenho.

Eu sei que eu buscando ter respostas para o que tinha acontecido e como seria o futuro, mandei uma carta que eu não tenho 100% de certeza que ele chegou a ler, falando e soltando os cachorros em cima dele, de tudo o que eu pensava e não aceitava. Depois disso nunca mais soube dele, e nem quero saber eu dei um ultimato falei que se ele quisesse fazer parte da minha vida teria que ser como pai, e não como uma visita, nunca tive uma resposta. Sei que ele está bem através de outras pessoas, mas entre eu e ele não há nenhum relacionamento.

Acho que meus irmãos que conviveram mais com ele antes dele sumir, foram mais prejudicados do que eu nessa história, não tem um ensino superior, tem problemas de relacionamentos, e problemas emocionais mais aparentes que os meus, não sei se mudaria o rumo de nossas vidas se ele estivesse presente, pois ele nunca teve muita força na educação dos filhos, com certeza eu e meus irmãos teríamos mais proximidade com a família do lado dele, eu sei que eu seria uma pessoa mais leve e alegre, sem uma tristeza no fundo dos olhos.

Bom fiz um relato bem básico, para não expor muito da vida da minha família, mas se alguém tiver alguma duvida eu respondo, se eu puder ajudar alguém de alguma forma já é alguma coisa.

ASSINADO: ANÔNIMA

Comentários (14)

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