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Desfavor Convidado: Wicca.

| Desfavor | | 16 comentários em Desfavor Convidado: Wicca.

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O Somir se reserva ao direito de implicar com os textos e não publicá-los. Sally promete interceder por vocês.

Wicca

Falar da Wicca é difícil pois atualmente ou ela é vista com desdém ou é temida por quem não entende lhufas do assunto. É comum as pessoas pensarem em wiccas como “bruxinhos bons”, “magia branca” e outras coisas do tipo. Primeiro gostaria de ressaltar que não existe magia branca, nem rosa, nem roxa com bolinhas pretas. Existe a magia e existe o que você faz com ela, qual a sua intenção. É como se fosse uma faca, você pode usa-la pra passar manteiga ou pra matar alguém. É a sua escolha pessoal que define o uso. A crença de que os wiccanos são bruxinhos bons vem do forte código de ética que rege todo e qualquer trabalho mágico/ritual: “Faça o que tu queres, desde que não faça mal a nada e nem a ninguém.” Isso é muito amplo e dá pano pra manga pra inúmeras discussões, o que não vem ao caso agora. Mas de modo geral, todo bruxo wiccano segue essa máxima e acredita na Lei do Retorno, que diz que tudo o que fazemos, de bom e de ruim, retorna a nós triplicado e ainda nessa encarnação.

Mas vamos do começo, os Wiccanos são em geral politeístas, acreditam na Grande Mãe/Deusa e o Deus Cornífero, e nas inúmeras manifestações desses.

Pra explicar a crença na Deusa, precisamos retornar “um pouquinho” no tempo. O primeiro elemento cultuado pelo homem foi a terra. Era ela quem produzia os frutos, dela se alimentavam os animais, de suas entranhas nasciam grutas e fendas, e suas inúmeras manifestações de força, rochas, montanhas, desertos, mares, rios, despertavam admiração e temor no nosso homem pré-histórico. No período paleolítico cultuava-se a fecundidade e a fertilidade, e não foi difícil estabelecer uma analogia entre a terra e a mulher. Todo o simbolismo do qual a terra foi investida não desaparece, se incorpora à Grande Mãe. A terra e suas inúmeras manifestações foram comparadas à mulher, ambas foram vistas como um ventre capaz de gerar a vida. Nessa época, os homens não entendiam a função reprodutora vinculada à sexualidade, pelo desconhecimento total do homem do seu papel na fecundação. Por isso, todos os mistérios femininos, a menstruação, a gravidez, o parto, era vista como um mistério, causando ao mesmo tempo encanto e medo. Esse poder exclusivo da mulher de gerar a vida transformou-se em respeito ao feminino, estendendo seu poder sobre a terra, os animais e os vegetais. A mulher era vista como Senhora da Vida em todas as suas vertentes.

A mulher, como representante da função materna, ligou-se a inúmeras formas que ou lembravam sua anatomia ou a caracterizavam a partir de seus poderes. Vulvas, conchas, ocres vermelhos eram frequentes nos túmulos do Paleolítico. Também eram frequentes estatuetas e pinturas em cavernas, reproduzindo mulheres em posição de parto ou exibindo o ventre grávido, quadris largos e os seios pesados. Os signos da maternidade serão grosseiramente acentuados, são as famosas Vênus Esteatopígias.

Outro símbolo normalmente associado à Deusa era a Lua. Quando, na lua crescente, a mulher iniciava a sua ovulação, chegando ao máximo na lua cheia e, por fim, menstruando, essa sintonia trouxe, então, a associação da lua como uma nova face para a Deusa. Dessa associação também vem suas três diferentes faces, como Donzela, representada pela Lua Crescente, Mãe, representada pela Lua Cheia, e Anciã, com a Lua Minguante.

Durante milênios a mulher reinou soberana, foi a primeira divindade conhecida, a mais antiga, universal. Mas um dia o homem descobriu seu papel na fecundação. Com o advento da charrua, que fere a terra e nela introduz a semente, a agricultura passou de mãos femininas para masculinas e os homens, de alguma forma, vivenciaram a criação da vida. Mas foi a domesticação dos animais que fez os homens observarem que as fêmeas eram incapazes de procriar sozinhas, enquanto que ao lado dos machos o fenômeno sempre ocorria.

A Deusa Mãe reinou sem companheiro por milênios, mas aos poucos começou a ser associada a jovem deus, seu filho e Amante. E é quando o homem deixa de ser nômade e passa a plantar e caçar seus animais, que reconhece de fato seu papel na fecundidade, que o Deus Cornífero aparece no cenário. O Deus Cornífero é um deus fálico relacionado, obviamente, à fertilidade, à natureza selvagem, a tudo que é silvestre e livre. Geralmente é representado como um homem com barba e chifres. E na wicca, esta relacionado aos mistérios da fertilidade, da morte e do renascimento.

O culto ao Deus Cornífero surgiu entre os povos que dependiam da caça, por isso Ele sempre foi considerado o Deus dos animais e da fertilidade, e ornado com chifres, pois os chifres sempre representaram a fertilidade, a vitalidade, força e poder. É o deus pagão dos bosques, o rei do carvalho, o senhor das matas.

Com a crescimento do Cristianismo e com a intenção do Clero em derrubar a Bruxaria, a figura atribuída ao Deus Cornífero acabou por personificar o Diabo e, na atualidade, resgatar o status desse Deus torna-se bastante difícil. O conceito de demônio jamais foi adorado, invocado, cultuado e reverenciado nas práticas pagãs ou como deidade da Bruxaria.

Falei longamente sobre os deuses porque entender a Wicca ou o que move um Wiccano é basicamente entender seus dois principais deuses. Cada um deles possui 3 faces, inúmeros nomes e manifestações. Em cada sociedade eles se apresentam de uma forma.

O culto à Deusa e ao Deus Cornífero simboliza a crença de que tudo que existe no universo está dividido em dois opostos: feminino e masculino, negativo e positivo, luz e trevas, vida e morte e isso significa o equilíbrio da Natureza.

E falando em equilíbrio da Natureza, um dos principais objetivos de um wiccano é se sincronizar com os ciclos da Natureza ao seu redor. Pra isso eles estudam sobre os elementos, terra, ar, fogo, água e espírito, fazem rituais harmonizados com as fases lunares e com as chegadas e ápices das estações.

Os wiccanos praticam os seus rituais sozinhos (bruxos solitários) ou em pequenos grupos de pessoas chamado de coven. Seus rituais são chamados de esbaths, quando tem ligação com os ciclos lunares, ou sabbaths, quando tem ligação com as estações do ano e o período de plantio/colheita.

O significado de cada sabbath daria um outro texto longuíssimo, então não vou me aprofundar nisso. Caso queiram pesquisar a respeito, procurem por “Roda do Ano”. Essa parte é interessante pois algumas das mais famosas festas cristãs tiveram na verdade sua origem no paganismo. Como exemplo, o Natal teve sua origem no Yule, ou a comemoração do solstício de inverno (e em diversas mitologias uma criança sagrada nasce nessa época), a Páscoa cristã, com seus ovos, tem origem no ritual pagão de Ostara, onde se cultua a fertilidade, sendo o coelho e os ovos os símbolos mais óbvios de associação à fertilidade. O dia de finados é exatamente na mesma época do Samhain, o festival que reverencia os mortos e principal ritual dos Wiccanos. Isso tudo pode ser facilmente explicado pela assimilação dos costumes pagãos com o advento do cristianismo.

O principal símbolo wicca é o pentagrama. Há diversas explicações para o uso do pentagrama pelos bruxos, algumas delas são a representação dos quatro elementos mais o quinto elemento que é o espírito (Akasha). Ou o homem – corpo humano, com os 4 membros e a cabeça. O homem em contato com o divino, representado pelo circulo.

Há uma quantidade absurda de absurdos escritas com o nome Wicca. Esquisotéricos, bruxos de shopping, pessoas que misturam de um tudo, desde wicca cristã, até invocação de anjos, wiccumba, iniciações em massa feitas em público, revistinhas de banca de jornal ensinando a ser bruxo. Na verdade, há pouco material confiável pra se estudar a respeito, se levarmos em comparação a quantidade de besteiras já escritas. Caso queira conhecer mais a respeito, procure fontes confiáveis, recomendo esses livros e autores:

  • Os mistérios Wiccanos – Raven Grimassi
  • Oito Sabás para Bruxas – Janet & Stewart Farrar
  • Enciclopédia de Bruxaria – Doreen Valiente
  • O Deus das Feiticeiras – Margaret Murray
  • O Culto das Bruxas na Europa Ocidental – Margaret Murray
  • As deusas, as bruxas e a Igreja – séculos de perseguição – Maria Nazareth Alvim de Barros
  • A bruxaria hoje – Gerald Gardner
  • O significado da bruxaria – Gerald Gardner

(esses dois últimos citados são importantíssimos pois deram origem à wicca moderna, mas se eu for explicar tudo daria mais 4 páginas).

Para me perguntar se eu acredito em fadinhas ou para me pedir um feitiço pra trazer seu namorado de volta: pamina.volanges@gmail.com

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