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Ele disse, ela disse: Casado e mal acompanhado.

| Desfavor | | 37 comentários em Ele disse, ela disse: Casado e mal acompanhado.

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Quem casa quer casa. Mas principalmente nos grandes centros urbanos isso nem sempre é possível. Vários casais acabam “presos” nas casas dos pais de um dos dois. Sally e Somir concordam que as duas situações apresentadas aqui são ruins, mas querem saber qual delas é pior. Os impopulares estão convidados a fazer seus votos…

Tema de hoje: Depois de casar, é pior morar com a mãe ou com a sogra?

SOMIR

Sogra. Eu sei que esse ódio todo por sogras é um clichê dos mais antigos, mas é difícil ignorar que ele carrega um fundo de verdade. Sogra é sogra. E isso acaba pesando na balança do “pior”. Lembrando que como a maioria dos textos desta coluna, a premissa não permite uma terceira opção. Não pode morar debaixo da ponte ou na cracolândia local, tem que encarar!

Apesar de não podermos lidar com a escolha de uma opção alheia a morar com a mãe ou com a sogra, podemos trazer para a discussão um dos motivadores dessa decisão: Se casou e precisa morar com os pais de um ou de outro, está meio na cara que não era exatamente a hora de casar. Talvez tenha sido uma união precipitada, inconsequente ou por mero capricho (não que as três opções não possam coexistir), mas fica claro que faltou capacidade de planejamento no processo.

Mas, a título de desenvolvimento do tema de hoje, a merda já está feita. Você já casou e precisa ficar na casa de uma ou de outra. Essa cagada de ter casado na hora errada vai contar na hora de decidir qual situação é menos pior… Por mais que sogra seja uma forma de parentesco, ainda sim a casa dela é uma casa estranha. Você pode ser muito bem recebido, mas ainda não está na SUA casa.

E uma situação problemática como um casamento inconsequente (lembrando: a pessoa com a qual se casa pode até ser a certa, mas o momento foi provavelmente errado) tem muita sinergia com outras situações problemáticas que costumam “à casa os bons filhos tornarem”. Não é vergonha precisar de um apoio familiar mais próximo de vez em quando, de uma certa forma é para isso que ela serve: Suporte.

Pode-se argumentar que muitas famílias por aí providenciam o mesmo suporte que uma caixa de papelão ensopada, mas para cada possibilidade de mãe desnaturada também existe uma de sogra maluca que te odeia. Vamos pensar na média: Na média, cada mãe está mais concentrada no bem estar dos filhos do que das pessoas que porventura se casem com eles. Precisando de suporte, é melhor estar por perto dela do que da mãe de outra pessoa.

E pelo fato de ser a sua mãe, presume-se que você conheça melhor a peça. Ninguém é perfeito, mas não é nem um pouco fácil conhecer uma pessoa a ponto de saber seus defeitos e qualidades de cor e salteado. Você vai saber se sua mãe é do tipo controladora, se é carente, se vai tentar prender o casal sob suas asas ou tentar jogá-los para fora do ninho… Do outro lado, do lado da sogra, você não tem essa percepção bem definida. Difícil se planejar, e pior… negociar a situação. Você fica nas mãos da pessoa com quem casou para navegar pelo mar agitado da convivência diária com uma sogra. E mesmo com esse apoio, ainda sim pode dar de cara com uma sogra intransponível em suas vontades e caprichos.

Se até agora fiz uma exposição mais estratégica, agora vou abordar o lado mais… egoísta… da situação. Até por uma questão de respeito, não dá para querer mandar na casa de outra pessoa. A mãe ou a sogra ainda vão ter pelo menos a presunção de controle sobre o ambiente no qual você vive… Sejamos honestos, em casa homem não apita nada (até porque isso nos livra de uma cacetada de trabalho e responsabilidades… hahahah!). É a mulher da casa que decide como as coisas vão ser, e mesmo que ela não seja exímia manipuladora ou controladora, como eu já disse, é questão de respeito…

Nesse caso, é melhor estar na casa controlada pela mulher que vai puxar a sardinha para o SEU lado. A situação não é a ideal, mas já que estamos nela, não faz sentido não tirar o melhor dela. Mãe tende a ser um bicho partidário… Partido meu/minha filho/filha. Um dos grande motivos pelos quais sogra é tão execrada pela opinião popular é que ela dificilmente estará do seu lado em qualquer decisão ou situação.

Um dos dois vai ser beneficiado por isso. Difícil escapar. E se é para escolher, escolho eu. Até porque eu sempre confio mais no meu senso de justiça do que no dos outros (costuma ser mais frio e racional). É bonito fazer essa escolha? Não. Mas alguém vai fazer.

Além disso, você vai estar na casa mais perto de ser “sua” possível antes de finalmente sair e proclamar território próprio. Sei que eu sou mais encanado com essa coisa de se sentir à vontade na casa alheia que a maioria das pessoas, mas mesmo assim a sensação passa longe de ser exclusividade minha. Botar os pés no sofá, abrir a geladeira a hora que quiser… tem coisas que é bem mais fácil de fazer quando você se sente no seu território.

Muito chato ter que viver o dia-a-dia em um lugar onde você ainda precisa ser totalmente aceito como “de casa”. E muito triste no caso deste texto que você fique tempo o suficiente na casa da sogra para que você se sinta totalmente à vontade.

E morar com a mãe nesse caso também tem a facilidade de simplificar o processo de saída, principalmente se você é a pessoa menos à vontade com a situação: Você pode por a culpa na outra pessoa e continuar numa boa com a sua família (“Ela precisa sair…”). No sentido oposto, pressão para sair pode soar como falta de apreciação pela estadia. Chato sair com presunção de ingratidão. Joga isso para o outro lado! Bom, eu disse que entraria na parte mais egoísta da argumentação, não disse?

Bônus: A convivência com a sua família vai fazer o casal ficar mais à vontade de um lado do que do outro. Melhor que seja do seu… até mesmo se você for que nem eu e não gostar de visitar parente. Visitar a casa da sogra continua sendo uma ocasião um pouco mais formal… quando não se convive muito, as pessoas tendem a ser mais agradáveis. Visitar sogra depois de morar com ela por algum tempo significa que ela vai ter mais intimidade… e abrir brechas para a sogra não é prenúncio de boas notícias.

Já a sua mãe… ela já trocou suas fraldas. Já perdeu, preibói. Ela vai SEMPRE ir na veia, SEMPRE que quiser. O segredo aqui é não criar uma outra cidadã com esse poder. Sogra é sogra, e que ela continue no seu canto o máximo de tempo possível…

Para dizer que vai ignorar as opções mesmo assim e dizer como seria melhor morar na cracolândia, para fazer generalizações baseadas na sua relação específica com a sogra, ou mesmo para dizer que queria só ver eu morando com a sua mãe e mantendo a minha escolha: somir@desfavor.com

SALLY

O tema de hoje é desagradável, daquele que você olha e pergunta: “A morte é uma opção?”. Não, a morte não é uma opção. O que é PIOR, morar com a sogra ou com a própria mãe dentro de casa depois de casado?

É PIOR morar a própria mãe, porque sua sogra você pode envenenar sem culpa (é brincadeira, por favor, vamos ter um pouco de bom-humor).

Falando sério, ambas as opções são terríveis, mas se é para aturar alguém te enchendo o saco, que seja uma pessoa com a qual você não tenha tanta intimidade e possa se desentender sem um custo afetivo tão alto. “Bater” (no sentido de discutir, antagonizar, brigar verbalmente) na sogra pode ser compreendido, bater na própria mãe fica mais complicado. Morar com qualquer uma das duas depois de casado vai desgastar a relação, então, que se desgaste a relação com a sogra, que faz muito menos falta na vida do que a sua mãe.

Desentendimento com a sogra é esporte nacional. Brigar com a sogra é socialmente aceitável. Ficar sem falar com a sogra não gera campanha para que sejam feitas as pazes. Nada disso seria tão simples se fosse com a sua mãe. Melhor sacrificar uma relação com a qual se tem menos proximidade.

Morar junto com um progenitor depois de casado (principalmente quando o progenitor se muda para a casa do casal) desgasta a relação entre o casal e o progenitor. Então, tem que pensar no lado da pessoa também. A culpa deve ser menor quando se vê a vida da sogra virar um inferno. Gerar um mal estar na própria mãe deve gerar uma culpa maior.

Foco no que se perde se ocorrer uma briga: sua mãe provavelmente te faria muito mais falta como conselheira, ombro amigo ou até mesmo um socorro em uma emergência do que a sogra. Além disso, brigar com a sogra muita gente briga, é algo (infelizmente) tido como normal. Brigar com a sua mãe é diferente, confere uma aura problemática a quem briga.

Ao brigar com a sua sogra, você pode chamar seu parceiro para participar, afinal, é a porra da mãe dele quem está causando problemas e tumultuando. Mas se fosse a sua mãe, isto não seria possível: “Ela é sua mãe, vocês que se entendam, não vou me meter”. Percebe a diferença? Morando com a sogra dá para cooptar seu parceiro(a) e, com um pouco de habilidade (afinal, ele ou ela também estará desgastado pela convivência) fazer um dois contra um, aumentando as chances de sucesso ao resolver o conflito.

Morando com a sogra, quando ela te encher o saco, você pode simplesmente virar as costas para ela. É mais difícil virar as costas para sua mãe. Supondo que a sogra esteja doente, você não é obrigado a se fazer cargo dela. Pode até ajudar, mas ninguém vai te jogar nas costas a responsabilidade total pela sogra. E se jogar, um NÃO é plenamente aceitável. Sogra não é sua responsabilidade, isso permite um distanciamento maior em certas situações complicadas.

Sogras tem presunção social de chatice, ninguém vai estranhar se você reclamar de morar com a sua sogra, muito pelo contrário, todos serão solidários e te tratarão como parte do casal que tem crédito, enquanto seu cônjuge, que enfiou uma sogra na sua casa (ou que não esperou para conseguir um lugar longe da sogra para morar), será eternamente aquele que está em débito. Por mais que essa dinâmica de contar pontos em relacionamento não seja nada saudável, ela é socialmente aceita. E é horrível ser aquele que está em débito.

A presunção vai militar a seu favor em qualquer reclamação, pois sogras são socialmente execradas enquanto que mães são sagradas. É mais fácil entrar em um embate com quem é execrado, até porque a credibilidade do oponente já está minada em função de uma rixa social.

Pessoas normais com mães normais supostamente tem uma dívida de gratidão com a mulher que as colocou no mundo. Isso é uma trava ética fortíssima que nos faz engolir muito sapo e tolerar muita coisa que não gostaríamos. Já com a sogra… você está livre, leve e solto para criticar, estabelecer limites de forma contundente e, se necessário for, coloca-la em seu devido lugar. O risco do seu parceiro surtar defendendo a própria mãe será pequeno, pois com a coabitação ele mesmo vai estar de saco cheio da criatura.

A sogra, por mais escrota e metida que seja, tende a se meter menos na sua vida do que sua própria mãe, por não ter tanta intimidade. O foco de atenção da sogra costuma ser seu filho ou sua filha. Uma sogra não vai se preocupar se você está se alimentando bem e ficar tentando te empurrar uma fruta como se você tivesse seis anos de idade. Ela também não vai questionar o quanto você bebe ou a hora em que você está indo dormir. A sogra não liga para a sua saúde, ao menos não com a mesma intensidade que sua mãe liga e vai pensar duas vezes antes de se meter na sua vida se comparado à facilidade com a qual a sua mãe se meteria.

Também é preciso levar em conta que essa terceira pessoa intrusa vai incomodar a AMBOS, às duas partes do casal, que fatalmente falarão mal, brigarão e criticarão. Logo, é muito mais agradável ouvir seu cônjuge falando mal da própria mãe do que da SUA mãe. E, em última instância, se as coisas ficarem realmente insuportáveis, dá para meter um “ou ela ou eu” se for a sogra quem está na sua casa.

Em resumo, acho que o que estou tentando dizer é: quem quer que seja que morar com você e seu marido/esposa vai atrapalhar a vida do casal e vai causar indisposição. Se é para ficar nesse papel desagradável, melhor que seja sua sogra, uma pessoa na qual você pode brigar e por quem você provavelmente não morre de amores, do que sua mãe, uma pessoa pela qual você nutre um afeto que seria uma lástima arruinar.

Para aproveitar a ocasião e falar mal da sua sogra, para dizer que não vai comentar porque não gosta nem de cogitar esta hipótese ou ainda dizer que pior ainda seria conviver com cunhados: sally@desfavor.com

Comentários (37)

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