Skip to main content

Colunas

Arquivos

Ele disse, ela disse: Relacionamentos alegres.

| Desfavor | | 230 comentários em Ele disse, ela disse: Relacionamentos alegres.

eded_relacionamentos-alegres

Mais uma da série “heterossexuais conjecturando sobre homossexuais”. Sally e Somir tem visões diferentes sobre as chances de sucesso de um relacionamento com o mesmo sexo. Ela acredita que exista uma vantagem, ele acha que dá no mesmo. E vocês, impopulares, tiram suas opiniões do armário.

Tema de hoje: Relacionamentos homossexuais tem mais chance de sucesso?

SOMIR

Não. E guardem as pedras, caros e caras impopulares GLS, também não estou dizendo que tem menos chances… Homossexualidade é tão impactante na personalidade de alguém quanto a cor da pele. Seguindo as opiniões mais educadas (ou seja, baseadas em conhecimento científico) sobre o assunto, a tendência para sentir atração pelo mesmo sexo já está definida antes mesmo do nascimento.

O homossexual vai entrar na mesma “loteria do berço” que qualquer outra pessoa nesse mundo. Sua personalidade, gostos, atitudes e opiniões vão ser fortemente moldadas pela sociedade na qual está inserido. Por mais que não se possa negar que exista preconceito, desde a infância a pessoa é bombardeada pelos mesmos estímulos e expectativas irreais criadas pela nossa sociedade de consumo.

Ou seja: Grandes chances de terminar mais ou menos a mesma porcaria que qualquer outra pessoa heterossexual desse mundo. Gays podem ser tudo o que heteros são, para o bem e para o mal. Grandes merdas com quem você sente vontade de fazer sexo (desde que adultos e em pleno consentimento), não muda uma vírgula no universo. Lembro até de escrever um texto reclamando dessa obsessão com o assunto e como isso é um puta de um atraso para a humanidade. Acho bobagem demonizar ou ficar elogiando alguém por algo que nem mesmo escolheu…

Sério, foda-se! Dá no mesmo. Os problemas que atrapalham relacionamentos vão acontecer para gays e heteros basicamente na mesma proporção, sejam de natureza pessoal ou por motivos alheios à vontade.

Sei que pode-se argumentar que a pressão social torna os laços entre amantes do mesmo sexo mais resiliente, e em certos casos isso é mesmo verdade. Gays tendem a se sentir no mesmo barco que seus(suas) companheiros(as). Só que não vamos ignorar a motivação disso: Pressão social. Funciona num sentido, funciona no inverso. Pode gerar relações mais fortes, mas ao mesmo tempo cria dificuldades e desafios que voltam tudo à estaca zero.

Claro que não vou usar sociedades totalmente contrárias à homossexualidade como argumento, presume-se neste texto que não estamos falando de desafios muito alheios aos normais de um relacionamento heterossexual. Mas tem esse ponto da aprovação social sim, mesmo em sociedades menos retardadas, isso gera talvez a única variação perceptível entre as pessoas de diversas orientações sexuais além das… óbvias. Não é a mesma coisa crescer num ambiente onde seus desejos são reprimidos.

A dificuldade de não saber se a pessoa que você se interessou “joga no seu time” influencia no número de opções possíveis do homossexual. Sem contar os inúmeros casos de pessoas que não querem ou podem se dar ao luxo de expor sua orientação para o mundo. Qualquer vantagem oriunda de mentes mais “parecidas” por serem do mesmo sexo físico se esvai na dificuldade de selecionar parceiros(as) mais compatíveis, dada a gama de possibilidades reduzidas. Pessoas do mesmo sexo podem se odiar… cérebros mais parecidos não resolvem muita coisa não. Ou você gosta de todo mundo que por ventura tenha a mesma genitália que você? Faça-me o favor…

E mesmo dando sorte e encontrando uma pessoa que combine, ainda tem toda aquela história de se assumir como casal. A maioria das sociedades atuais no máximo TOLERA o homossexual, exigindo deles uma discrição (injusta) muito maior do que a dos casais heterossexuais. Uma das grandes vantagens de um relacionamento amoroso é juntar as forças e estar presente para apoiar a pessoa. Difícil lidar com um relacionamento onde essa noção de união sofra com rejeição pública.

A não confirmar, mas a vida sexual dos gays deve ser mais recompensadora, pelo menos (num relacionamento estável). Impossível não existirem vantagens com duas pessoas que brincam com o mesmo brinquedo desde crianças… E se você acha que eu estou colocando isso como argumento contrário a minha posição, pense de novo: Quem se acostuma com filé faz cara feia na hora de roer osso. Pode até ser que gays tenham sexo de maior qualidade, mas padrão é padrão e a pessoa se acostuma. Vão acabar mais exigentes. Deve ser bem mais complexo segurar um relacionamento onde o sexo vai mal… E a concorrência tende a ser mais qualificada.

A ideia geral do meu argumento aqui é que por mais possam existir diferenças entre relacionamentos hetero e homossexuais, não é como se elas criassem uma clara vantagem para algum dos lados. As coisas se equilibram, se compensam. Muita gente (provavelmente minha CARA) deve ter aquela sensação de “grama do vizinho” ao analisar uma relação gay. Sabe aquela coisa de “minha vida que é difícil”?

Sei que é difícil controlar esse tipo de pensamento, principalmente quando se lida com a frustração de entender o sexo oposto. Claro que homens e mulheres são diferentes, mas são diferentes entre si também. Existem homens e homens, existem mulheres e mulheres. Do outro lado da orientação sexual existem pessoas aguentando gente chata, carente, insegura, ruim de cama… Ninguém se relaciona com um “sexo” inteiro, e sim com pessoas (por isso minha repulsa por homens que dizem que “amam as mulheres”). Pessoas variam demais.

Estamos todos juntos nessa briga pelo relacionamento de sucesso. E não vai ser o que a outra pessoa guarda dentro das calças que vai mudar alguma coisa.

Porra… 2013, vai! Chega dessa coisa de achar que homossexual é um ser vindo de outro planeta… eu quero ir para Marte!

Para dizer que você sofre mais do que os outros, para reclamar que eu não disse que você sofre mais que os outros, ou mesmo para não perceber que as frases anteriores valem para os dois lados: somir@desfavor.com

SALLY

Somir riu da minha cara quando eu sugeri o tema. Eu sempre apanho de todos os lados, tanto de gays como de heteros quando defendo essa teoria e acredito que hoje não vai ser diferente. Mas continuo firme e forte na minha convicção: uma relação homossexual tem mais chances de dar certo do que uma relação heterossexual.

Antes de mais nada deixa eu me explicar: se você é hetero, evidente que suas chances de sucesso são maiores em uma relação hetero. Não estou mandando ninguém “virar gay” (até porque isso não existe!) para majorar as chances no relacionamento afetivo, ok? O que quero dizer é que se pegarmos um casal hetero médio e um casal gay médio, acredito que as chances de sucesso do casal gay sejam maiores. Joguem pedras.

Fato: cérebro de homens e mulheres funciona de forma diferente, a neurociência já mais do que comprovou. Homens tem mais aptidão para algumas coisas, mulheres para outras. Homens valorizam mais algumas coisas, mulheres outras. Um simples exemplo: a área ligada à afetividade e comunicação é muito mais desenvolvida nas mulheres. Isso gera mulheres falantes e emocionais ao lado de homens calados e desatentos para a parte afetiva, ou seja, gera uma combinação frustrante de uma pessoa que se sente preterida com uma pessoa que se sente paunocuzada.

Porém, se juntarmos dois cérebros iguais, as chances de um descompasso são menores. Sintonizar dois cérebros que pensam de forma semelhante me parece ser mais fácil. Nunca vou ter como provar a minha tese, mas, em tese, faz sentido. Cérebros com funcionamento e estrutura semelhante já eliminam de entrada uma série de dificultadores e criadores de conflito. É como colocar um argentino e um japonês trancados em uma casa para conviver de forma harmônica, e em outra casa colocar um argentino e um espanhol com a mesma finalidade. Evidente a relação entre o argentino e o espanhol fluirá melhor, já que falando o mesmo idioma será muito mais fácil, meio caminho andado.

É garantia que vai dar certo? Claro que não! Mas isso não significa que não seja mais fácil. Ouço muitos gays dizendo que eles também enfrentam muitos problemas de relacionamento. Ok, problema de relacionamento todo mundo tem, isso não invalida minha teoria. Eu não estou afirmando que relacionamento entre gays sejam um mar de rosas ou que tem a garantia de dar certo, estou afirmando que pela similitude do funcionamento cerebral eles se poupam de ALGUNS conflitos inerentes à relação homem/mulher e isso facilita as coisas.

Brigas, ciúmes, cobranças, decepções, conflitos, problemas de comunicação… algumas dessas chateações inerentes ao relacionamento humano existirão para ambos. Porém as chateações clássicas da categoria “guerra dos sexos” deixam de existir ou se apresentam de forma muito mais atenuada. Ter o mesmo mindset deve ajudar em alguma coisa, não é possível que um fator tão significativo não faça diferença!

Não tem como “tantofazer” homem com homem ou homem com mulher, meu povo! A diferença de estrutura e funcionamento cerebral entre pessoas do sexo oposto é uma realidade cientificamente comprovada, bem como é comprovado que ela cria dificuldades de comunicação, de compreensão e de convivência. Até sexualmente falando há diferenças de funcionamento que podem gerar problemas: mulher é fogão a gás, homem é um micro-ondas. Quando você não sabe direito como o corpo do outro funciona, quando você não vivenciou o funcionamento do corpo do outro, fica mais difícil agradar.

Estes argumentos ganham ainda mais força se a gente inseri-los no atual momento histórico. Uma época onde as pessoas estão excessivamente atarefadas e estão sendo educadas para olhar apenas para seus umbigos. Uma época onde as pessoas não tiram qualquer dez minutos do dia para olhar para o outro, para tentar compreender as necessidades e sentimentos do outro.

Neste contexto, quanto mais similitude na forma de funcionamento, maiores as chances de algo dar certo. Se você não vai ter tempo ou se dar ao trabalho de conhecer a fundo seu parceiro e tentar depreender seus gostos e necessidades, só vai dar certo se ele for muito parecido com você. Sabe pessoa tosca que quando quer agradar em vez de perguntar o que o outro quer faz o que ELA gostaria que fizessem para ELA, achando que seu gosto é referência mundial? Pois é. É no meio de gente assim que a gente vive. E gente assim só acerta quando se relaciona com uma pessoa parecida.

Vou repetir para que não partam de premissas erradas nos comentários: eu não estou dizendo que um relacionamento homossexual acaba com todos os problemas, muitos problemas persistem, pois são inerentes ao SER HUMANO. Porém, alguns problemas desaparecem ou são mitigados: os problemas oriundos do funcionamento físico ou cerebral diferente em homens e mulheres. A supressão desta classe de problemas não resolve a vida de ninguém nem garante o sucesso automático de um relacionamento homossexual, porém certamente facilita a vida. Quanto menos problemas ou obstáculos, mais fácil fica… ou não?

Admitir que seria mais fácil não é sinônimo de ser gay. Eu acho que minha vida seria muito mais fácil se eu fosse lésbica do ponto de vista dos relacionamentos (porém muito mais difícil do ponto de vista social) e nem por isso sou lésbica. Até queria, mas porra, não sou, vou fazer o que? Então, não se acanhem em admitir que seria mais fácil, isso não faz de vocês gays. Aqui não é terceira série, onde alguém vai apontar para você, rir e dizer “Viado! Viado! Viado!”. Sejamos adultos e tratemos a discussão de forma racional.

Funcionamentos cerebrais parecidos são mais compatíveis entre si. É neurociência, não é achismo. Cérebros de homens e mulheres são diferentes estruturalmente e funcionam de formas diferentes, é neurociência, não é achismo. Um exame de imagem cerebral comprova o que eu estou dizendo aqui. Mesmo sem eliminar todos os atritos, alguns deles são reduzidos em função da similitude do funcionamento cerebral. Você decide, abraça a ciência e admite que cérebros que funcionam de forma semelhante são mais compatíveis ou retrocede e joga no mesmo saco homem e mulher.

Para intimidar quem concorda comigo gritando “Viado! Viado! Viado!”, para intimidar quem não concorda comigo gritando “Homofóbico! Homofóbico! Homofóbico!” ou ainda para me chamar de lésbica achando equivocadamente que de alguma forma isso possa me ofender: sally@desfavor.com

Comentários (230)

Deixe um comentário para Rorschach, El Pistolero Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.