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Ele disse, ela disse: Discussão desmembrada.

| Desfavor | | 75 comentários em Ele disse, ela disse: Discussão desmembrada.

eded-desmembrada
Mal tem o que explicar… Mas tem o que discutir.

Tema de hoje: É pior quebrar um braço ou uma perna?

SOMIR

Um braço. Vamos entender que a discussão é sobre o membro imobilizado e não sobre as variadas formas como se pode quebrá-lo ou o tempo de recuperação. Sei que quebrar perna normalmente implica em um acidente mais sério, mas novamente: Não estamos discutindo isso.

Escolhi o braço porque ele é um dos elementos mais emblemáticos das vantagens evolutivas das quais goza a espécie humana. Ele é muito móvel, preciso e quando bem treinado, poderoso. Sem contar que desemboca justamente na mão, que usamos para fazer praticamente tudo que nos diferencia de outros animais…

Perna quase qualquer ser terrestre também tem. É importante, é claro, mas analisando o quadro geral fica claro que nossos membros superiores que cuidam da maioria dos aspectos da vida moderna. A inutilização de uma perna, mesmo que de forma temporária, ferra sua mobilidade. Com o braço, o buraco é mais embaixo… metade (ou mais se for o membro “hábil”) das suas funções como ser humano ficam seriamente prejudicadas.

Uma perna pode ser “simulada” com uma facilidade absurdamente maior do que um braço. Cadeiras de rodas, muletas, veículos em geral… todas formas de compensar o problema de mobilidade. Claro que não são soluções ideais, mas pelo menos dá para diminuir o impacto da perda momentânea de mobilidade. A tecnologia humana já trabalha com soluções nessa área desde a invenção da roda!

Agora, vai simular um braço, vai… A robótica rala há décadas para substituir e aprimorar os movimentos do braço humano. A complexidade dos equipamentos e sistemas utilizados para controlá-los é prova de QUANTO se pode fazer com um braço. Não dá para tacar uma vareta debaixo do suvaco, prendê-la no pulso e dizer que quebra um galho enquanto as coisas não melhoram. Ou está com o braço funcional, ou perde-se a capacidade de fazer uma tonelada de coisas na vida.

Braço é mais do que movimento, braço é arrumação, alimentação, direção, utilização, comunicação… É muito “ão”. Mesmo que tenhamos dois deles, isso não quer dizer que um é supérfluo… a expressão “com um braço nas costas” não é mera galhardia popularesca (que pomposo…), é uma aceitação do fato de que fazer as coisas com um braço só é muito mais difícil. Não se compensa um braço quebrado, perde-se um braço até segunda ordem!

Sem contar que no caso do braço, qual deles quebra é de suma importância para definir o tamanho do problema da pessoa. Tudo bem que também existe uma perna mais hábil que a outra, mas cidadão não vai precisar bater uma falta quando estiver com uma delas quebrada. Existe um mundo de diferença entre a perna e o braço hábil. Estou chamando de hábil o braço direito dos destros e o esquerdo dos canhotos. Aquele que efetivamente faz a maioria das tarefas que exigem precisão e controle. Mesmo que você seja ambidestro, ainda sim existe uma diferença entre o braço mais treinado e o outro. Quer sentir o tamanho da diferença?

Coloque as duas mãos na altura dos olhos, polegares voltados para o rosto. Agora mova o dedo médio e o indicador para cima e para baixo, intercaladamente, o mais rápido que puder, sem mexer o resto da mão. Não dá vergonha da mão “destreinada”? Imagina ficar só com esse lado para cuidar da sua vida diária?

A vida moderna é muito “braçodependente”: Computadores, celulares, máquinas em geral… Aliás, desde que o humano começou a andar só em duas pernas, as coisas mudaram. Dois membros livres realmente fazem muita diferença no quadro geral. Evoluímos usando essas ferramentas… As pernas, embora importantes, começaram a ter um papel secundário na vida cotidiana.

Hoje em dia ficar sem um braço significa perder muita produtividade na maioria das profissões, principalmente aquelas que dependem de uso de computadores. Quem pode trabalhar em casa não fica improdutivo se quebrar uma perna… E mesmo que seu trabalho normal signifique se locomover por aí, pode-se criar alternativas para a pessoa em questão. Gostando ou não, estamos vivendo num mundo cada vez mais sedentário.

E podem apedrejar: Gente cujo instrumento de trabalho está nos braços e mãos tende a ser muito mais importante para o mundo do que quem usa as pernas. Mesmo que o trabalho em questão não seja muito intelectual… Braços constroem coisas. Um braço a menos é uma perda significativa!

E na vida cotidiana com a o membro inutilizado, não digo que a vida de quem quebrou a perna seja feliz, mas do jeito que o mundo é… é mais ou menos como se tudo convergisse para fazer da sua vida algo mais fácil. Tecnologia se desenvolve muito em função de comodidade, ou, em português claro: Para facilitar a vida de quem quer ficar engordando num sofá. O mundo chega até sua casa para você não se levantar além do estritamente necessário.

Quem pode se levantar, mas não utilizar uma porcaria de um tablet em sua plenitude… esse está em desvantagem hoje em dia. Sem contar que tarefas banais como se alimentar, tomar banho ou mesmo limpar a bunda ficam bem mais complicadas quando metade da sua “força de trabalho” está de greve dentro de um casulo de gesso. Perna quebrada normalmente significa perda de dignidade diante de pessoas mais próximas, braço quebrado estende essa sensação para praticamente todas suas atividades, onde quer que esteja.

Porque não tem dessa de “perdoar” braço quebrado. Espera-se que a pessoa se vire e continue sua rotina como se nada. Valorizamos TANTO o braço que mal enxergamos uma pessoa com um deles paralisado como alguém em necessidade. Quebrar um braço é se foder sem sequer ter benefícios de intocabilidade! É só perder.

Para dizer que eu só escrevi este texto porque não me consigo imaginar sem poder jogar videogames, para fazer concurso de vida sofrida nos comentários, ou mesmo para dizer que o pior membro de quebrar não é nenhum desses: somir@desfavor.com

SALLY

Hoje acordamos simples, prosaicos e concretos: o que é PIOR, quebrar a PERNA ou quebrar o BRAÇO?

Quebrar a perna, né gente? Porque a menos que você seja jogador de volei ou queira bater palminhas, os braços executam suas funções de forma separada: cada braço é capaz de, sozinho, executar uma tarefa. O mesmo não se pode dizer da perna, você precisa das DUAS pernas para executar uma tarefa: andar.

O que um braço imobilizado pelo gesso não puder fazer o outro provavelmente vai suprir, salvo tarefas excepcionais que demandem uma habilidade especial como escrever. Mas o grosso das tarefas do dia a dia, o outro braço dá conta. Já uma perninha quebrada acaba inutilizando as duas, o que te leva fatalmente para muletas, cadeira de rodas ou a humilhante condição de ficar pulando em uma perna só para chegar nos lugares.

Sim, eu acho braços mais importantes do que pernas, acho que um paraplégico vive melhor do que uma pessoa sem os dois braços, mas a pergunta diz respeito a UM dos braços ou UMA das pernas. Um braço inutilizado não elimina a função dos braços, uma perna inutilizada elimina a função das pernas e por consequência disso prejudica a sua locomoção. Prejudicar a locomoção de uma pessoa é algo bastante grave.

Sejamos honestos, se você quebrar seu braço “principal”, o mais “habilidoso”, aquele que você usa para escrever… o que é o pior que pode acontecer? Uma limpeza anal que deixe a desejar após uma cagada, um desembaraçar de cabelos precário, um aplaudir capenga. Agora porra, quebra uma perna e me diz se o numero de restrições não fica maior e pior. Perder o direito de ir e vir é perder sua independência e autonomia! Depender dos outros para ir trabalhar deve ser muito ruim. Ter que estar atento aos primeiros sinais intestinais de uma cagada em função da demora em chegar ao banheiro não é vida.

Pensem comigo: não são muitas as atividades que exigem os dois braços. Geralmente um braço só é capaz de fazer a maior parte das atividades do dia a dia. Certamente alguém está pensando em um exemplo extremo: “Mas Sally, imagina só um neurocirurgião de braço quebrado! Muito pior!”. Será? Primeiro que a grande parcela da população não é composta por neurocirurgiões (infelizmente) e segundo que ficar de pé operando por três, quatro, às vezes oito ou doze horas com uma perna quebrada também não é viável. Usamos as pernas para quase tudo e só nos damos conta disso quando perdemos esta prerrogativa.

Outro detalhe: tomar banho com um gesso na perna é bem mais trabalhoso do que tomar banho com um gesso no braço. O braço você levanta, coloca para fora e pronto, a água não escorre nele. Só quero ver levantar a perninha de modo que a água não escorra! Só se você for a Daiane dos Santos! E na hora de se vestir, que calça cabe em uma pessoa com a perna engessada? Muitas vezes nem a bermuda passa. Se você for mulher, vai viver de saia, se for homem vai ter que trabalhar de short!

Um eventual problema de cicatrização que deixe seu braço meio tortinho, meio fora de ângulo, pode passar despercebido, mas uma perna que não esteja perfeita te transforma em um manco. Um braço torto ainda executa as principais funções, uma perna desconfigurada atrapalha a locomoção.

A fisioterapia de braço é muito mais simples: balança para cá, balança para lá. A de perna tem que preparar um membro fragilizado para suportar o peso de um corpo todo. O próprio gesso em si, é mais cruel na perna: quando o gesso do braço coça você pode enfiar objetos e se coçar, enquanto que quando coça seu tornozelo lá na perna você pode apenas falar um palavrão, sem contar que uma perna é maior do que um braço, portanto a área engessada é maior, o que faz o calor ser maior. E nem te conto a nojeira que é dormir numa cama com um gesso que pisou na rua e não pode ser nem lavado nem retirado.

Quebrar a pena compromete a higiene e causa desconforto maior. É mais complicado e mais sofrido. Pergunte a quem já quebrou a perna a merda que é. Uma pessoa de perna quebrada fica indefesa, vulnerável, já uma pessoa com o braço engessado é plenamente capaz de se defender, inclusive batendo nos outros com o próprio gesso se a fratura já estiver mais ou menos consolidada. A própria calcificação é mais complicada na fratura de um osso da perna, pois além do osso ser maior, é um membro que suporta o peso do corpo.

Em resumo, quebrar a perna te torna dependente de outras pessoas, quebrar o braço não. E nada pior do que ser dependente de outras pessoas, dar trabalho para outras pessoas, ficar nas mãos de outras pessoas.

Para dizer que ruim mesmo deve ser ter quebrado os dois braços como Siago Tomir, para dizer que ruim mesmo deve ter sido quebrar a costela como eu ou ainda para dizer que quebrar a perna é melhor porque é motivo para não ir trabalhar: sally@desfavor.com

Comentários (75)

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