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Des Contos: Escalando.

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desc-escalando

Numa badalada casa noturna:

HOMEM: Oi!
MULHER: … Oi.
HOMEM: Loucura lá dentro, hein?
MULHER: Hã?
HOMEM: Na pista, eu digo. Todo mundo muito louco!
MULHER: É…
HOMEM: Cláudio!
MULHER: Car… mila!
CLÁUDIO: Carmila?
CARMILA: É… Carmila!
CLÁUDIO: Nome diferente.
CARMILA: Meus pais… super criativos.
CLÁUDIO: Achei bonito o seu nome. Bonito que nem você!
CARMILA: Eu sou tão bonita como o nome Carmila?
CLÁUDIO: Até mais! *sorriso confuso*
CARMILA: Obrigada. *sorriso desinteressado*
CLÁUDIO: Você veio com suas amigas?
CARMILA: É…
CLÁUDIO: Se divertindo?
CARMILA: Hã?
CLÁUDIO: Você está se divertindo?
CARMILA: … *fazendo “mais ou menos” com as mãos*
CLÁUDIO: … *olhando ao redor*
CARMILA: Bom, Paulo… eu…
CLÁUDIO: Cláudio. *olhando para o alto*
CARMILA: Cláudio! Tá bom… eu vou lá com as minhas amigas agora.
CLÁUDIO: Se eu fosse você eu não faria isso.
CARMILA: Por sorte eu não sou você. Boa noite!
CLÁUDIO: *segurando Carmila pelo braço*
CARMILA: Me solta agora!
CLÁUDIO: Três.. dois…
CARMILA: ME LARGA!
CLÁUDIO: Um…

Um estrondo abafa a música ambiente. Logo após pode-se ouvir gritos de desespero. O ar fica coberto de poeira e fumaça, impossibilitando-se enxergar mais que um palmo à frente do rosto.

CARMILA:
CLÁUDIO: Carolina, você está segura.
CAROLINA: O que tá acontecendo?
CLÁUDIO: O primeiro ataque. Precisamos nos deslocar para uma área mais remota!
CAROLINA: Não! Cadê as minhas amigas? Não estou vendo nada!
CLÁUDIO: Calma…

Carolina sente um tremor por debaixo de seus pés, a fumaça ao seu redor vai se desfazendo até exibir por completo uma vista aérea da cidade. Por todos os lados vão surgindo grandes explosões, levantando gigantescos cogumelos de fogo e fuligem. Sob seus pés, nada.

CAROLINA: AAAAH! *se agarrando em Cláudio*
CLÁUDIO: Eu já disse, estamos seguros. Eles não conseguem nos acertar dentro deste campo de força.
CAROLINA: Não me deixa cair! Não me deixa cair!
CLÁUDIO: *colocando a mão no ouvido* Ok! Estamos a caminho.
CAROLINA: *segurando ainda mais forte em Cláudio*

Carolina sente novamente um chacoalhar, mas dessa vez prefere manter os olhos fechados, rosto encostado no peito de Cláudio. Alguns segundos depois:

CLÁUDIO: Chegamos!
CAROLINA: *abrindo lentamente os olhos*

O céu está muito mais escuro que o de costume. Nenhuma estrela à vista. Ao redor, uma paisagem desolada e acidentada, o chão esbranquiçado incomodando os olhos de tão brilhante.

CLÁUDIO: Pena que você tenha que ver isso pela primeira vez nessas circunstâncias. *apontando*

Na direção do indicador de Cláudio, Carolina não podia acreditar no que via: A Terra. Tal qual uma das inúmeras fotos tiradas por astronautas. O azul dividia espaço com flashes avermelhados por todos os lados, grandes manchas negras começavam a tomar o lugar das alvas nuvens que complementavam a paisagem.

CAROLINA: O que que aconteceu? A gente está na Lua?
CLÁUDIO: Isso. Não se assusta quando a gente começar a descer, ok?
CAROLINA: Hã?

A fina camada de poeira sob seus pés começa a tremer. Rapidamente uma espécie de plataforma se forma abaixo dos dois e age como um elevador, descendo em alta velocidade por uma estrutura metálica. Ela se segura novamente no homem que conhecera há no máximo dez minutos atrás. Em questão de segundos, a plataforma desacelera e os deixa diante de um longo corredor iluminado, com uma única porta no final.

CAROLINA: Começou uma guerra? Minhas amigas estavam lá na boate! Me diz o que está acontecendo!
CLÁUDIO: Eu não teria muitas esperanças em relação às suas amigas. Aliás, a essa altura do campeonato eu não teria muitas esperanças em relação a ninguém. *começando a andar*
CAROLINA: Elas morreram? *expressão de desespero*
CLÁUDIO: Elas não devem ter sentido quase nada. Vem!
CAROLINA: Quem é você?

Cláudio segue com passos acelerados até a porta. Carolina titubeia um pouco, mas resolve seguir no melhor ritmo possível usando um par de saltos. Assim que ele chega próximo, a porta se abre sozinha, escorregando lateralmente para dentro de uma fenda. Ele atravessa, Carolina toma um tempo para se descalçar e acompanha.

Lá dentro, algo muito parecido com uma sala de comando vinda diretamente de um filme de ficção científica. Monitores gigantes numa grande parede exibem cenas de devastação por todos os lados do planeta. Numa mesa redonda no centro da sala, várias pessoas parecem discutir de forma acalorada. Se isso não fosse estranho por si só, todas essas pessoas pareciam fantasiadas. Muitas com colantes multicoloridos, máscaras curiosas e alguns até usavam capas.

CLÁUDIO: Desculpa o atraso.

Vários dos presentes se voltam para os dois recém chegados. Eles parecem mais impressionados com Carolina do que com Cláudio. Uma mulher vestindo um obviamente incômodo maiô dourado cujo decote deixava pouco para a imaginação é a primeira a se pronunciar:

MULHER: Quem é ela?
CAROLINA: Car…
CLÁUDIO: Ela estava comigo na hora, não tinha como não trazer!
MULHER: O mundo sendo destruído e você tentando impressionar uma vadiazinha? Incrível!
CLÁUDIO: Capitão! É Capitão Incrível para você, Ultramulher!
ULTRAMULHER: Que seja, não tenho tempo para o seu complexo de pinto pequeno agora! Estamos sob ataque!
CPT. INCRÍVEL: Não foi isso o que você disse daquela vez…
ULTRAMULHER: Eu estava bêbada!
CPT. INCRÍVEL: Você é fisiologicamente incapaz de ficar bêbada!
ULTRAMULHER: É que você é uma droga bem mais pesada!
CAROLINA: Gente… gente… o que está acontecendo?
CPT. INCRÍVEL: Carol, dá um tempinho que eu tenho uma reunião importante agora.
ULTRAMULHER: É… Carol… isso não tem a ver com você.
CAROLINA: Mas…

Um homem de meia idade vestindo uma berrante robe roxo se levanta de seu lugar e esmurra a mesa:

HOMEM: Chega! O Sábio exige uma resposta! Quem foi que provocou os zapxianos?

Um homem esguio trajando uma roupa cheia de peças eletrônicas e fios aponta para o Capitão Incrível:

HOMEM: Quem estava fazendo o contato com eles para devolver a pedra do poder era o Incrível!
CPT. INCRÍVEL: Mentira! Foi o Shoke que ficou responsável pela negociação! Ele nem me passou o contato!
SHOKE: Queria o quê? Que eu te passasse o e-mail deles? Você sabia o que tinha que fazer!
CPT. INCRÍVEL: Eu DISSE que estaria ocupado semana passada! A culpa é sua!
SHOKE: Por que não foi nessa semana então? Eu deixei umas cinco mensagens no seu celular!
CPT. INCRÍVEL: Ah, eu troquei de número. Na confusão nem avisei…
ULTRAMULHER: Você está brincando, né?
SÁBIO: Chega! Precisamos formular um plano para contra atacar as naves zapxianas destruindo o planeta! Eles devem ter uma nave mãe ou algo do tipo.
CAROLINA: Saiu tudo do ar…
ULTRAMULHER: Deixa os adultos conversarem, meu bem!
CAROLINA: Mas…
SÁBIO: Chega! O que as leituras estão dizendo, Comunicatorr?
COMUNICATORR: A planeta toda foi destrrruída.
CPT. INCRÍVEL: Já?
CAROLINA: Ai meu Deus! Não! Não! Minha mãe! Minha irmã!
SHOKE: Devem ter usado aquele desintegrador que estavam ameaçando, lembra?
CPT. INCRÍVEL: Saco!
CAROLINA: SACO? SACO? O MUNDO ACABOU E É ISSO QUE VOCÊ DIZ?
ULTRAMULHER: Tenho que concordar com ela. Isso vai ser muito mais do que um saco de consertar.
SÁBIO: Chega! Capitão Incrível, você pelo menos entregou a papelada do seguro para os zoolofteanos?
SHOKE: Esse eu mesmo consegui entregar. Mas vai dobrar o preço depois de um sinistro desses!
ULTRAMULHER: Parabéns, viu, Capitão Inútil!
CPT. INCRÍVEL: Alguns de nós tem uma vida além da capa!
CAROLINA: Como assim seguro?
SÁBIO: Chega! A gente tem um seguro para reverter situações desse tipo. Acontece uma tragédia dessas por mês desde que a gente se juntou para defender a liberdade e a justiça. Incrível, vai entregar a pedra para eles antes que explodam tudo de novo.
CPT. INCRÍVEL: Nunca mandam o Magus, ele também consegue viajar pelo espaço!
MAGUS: *mostrando a língua*
CPT. INCRÍVEL: *mostrando o dedo do meio*

Capitão Incrível vai até um compartimento numa das paredes da sala, digita um código e pega uma caixa metálica cheia de símbolos estranhos.

CPT. INCRÍVEL: Já volto! *fazendo tchau para Carolina*
CAROLINA: Onde você vai?

O suposto herói passa pela porta, atravessa o corredor e sobe pela plataforma. Carolina se senta num degrau próximo, com cara de quem não entendia nada e esperava acordar de um pesadelo a qualquer momento. Os outros ocupantes da sala mal fazem menção de se comunicar com ela. Cinco minutos depois, a porta se abre novamente.

CPT. INCRÍVEL: Pronto! Felizes? Pode liberar o pessoal do seguro.

Passados mais alguns minutos, nos quais Carolina continuava estática e visivelmente confusa, os monitores deixam de mostrar chiado e começam a exibir cenas estáticas da programação habitual de diversas emissoras de TV ao redor do mundo.

CPT. INCRÍVEL: Vem! *pegando Carolina pela mão*

Ela o acompanha de volta até a Terra. Eles descem rapidamente para os fundos da boate onde se conheceram há pouco mais de uma hora. Ainda segurando a mão de Cláudio, o Capitão Incrível, ela percebe que todas as pessoas do local estão estáticas, como se estivessem paradas no tempo. Silêncio absoluto.

CLÁUDIO: Nós estávamos… isso… aqui! Tudo certo?
CAROLINA: Ahã… eu acho…
CLÁUDIO: *colocando a mão no ouvido* Pode liberar.

A música volta, as pessoas ao redor começam a se mexer. Tudo parecia idêntico ao momento que antecedeu a primeira explosão.

CLÁUDIO: Então, depois de uma loucura dessas o mínimo que eu posso fazer é te pagar um drinque, Carolina.
CAROLINA: Eu… peraí…
CLÁUDIO: Hm?
CAROLINA: Eu nunca te disse o meu nome…

FIM!
Quer dizer, a não ser que você tenha feito um seguro com os zooloftianos.

Para dizer que o texto foi uma droga no mau sentido, para dizer que o texto foi uma droga no bom sentido, ou mesmo para dizer que quando eu crescer vou ser um bom escritor: somir@desfavor.com

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