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Desfavor Convidado: Um mago sem destino. (2)

| Desfavor | | 2 comentários em Desfavor Convidado: Um mago sem destino. (2)

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Desfavor Convidado é a coluna onde os impopulares ganham voz aqui na República Impopular. Se você quiser também ter seu texto publicado por aqui, basta enviar para desfavor@desfavor.com.
O Somir se reserva ao direito de implicar com os textos e não publicá-los. Sally promete interceder por vocês.

Desfavor Convidado: Um mago sem destino

Capítulo 1 – Tabula Rasa Parte 2

Raul pegou o copo, cheirou-o e sentiu seu estômago embrulhar. De um único gole, tomou todo seu conteúdo e quase vomitou com o sabor horrível daquele líquido. Após algum tempo o sabor foi sumindo, mas Raul não havia sentido nenhuma mudança radical no ambiente e perguntou:

_Afinal de contas, o que era isso? – perguntou para o atendente apontando para o copo.

_Isso daí? Era apenas água suja e um pouco de óleo velho.

_Por que me fez tomar isso?

_Eu estava te testando rapaz, para ver se você era mesmo um despertado. Pelo menos em um teste você já passou, que é superar o medo do desconhecido. Agora me acompanhe!

Raul seguiu o atendente e juntos foram para o fundo do local, onde haviam algumas máquinas caça-niqueis. O atendente acionou a alavanca de uma das máquinas e uma porta secreta se abriu. Antes de entrar, Raul perguntou:

_Como você disse que se chama mesmo?

_Eu ainda não disse meu nome, mas me chamo Paulo. – respondeu o atendente entrando pela porta secreta.

Sem muitas opções, Raul o seguiu e precisou se acostumar com a penumbra do local antes de conseguir identificar onde estava. Pasmo, ele considerou que aquele lugar só podia ser um laboratório, mas mesmo assim não conseguiu distinguir metade do material que era usado ali. Luzes piscavam de algo que mais parecia um pequeno disco voador preso ao teto e diversos potes de vidro estavam colocados em prateleiras sem nenhum padrão visível. Raul quase vomitou quando notou que havia um feto humano em um dos potes e evitou reparar no que havia nos outros recipientes, pois só o cheiro de formol já lhe dizia tudo. Paulo lhe indicou uma cadeira e ele se sentou, evitando assim um possível desmaio:

_Você nesse momento já deve desconfiar porque está aqui. – disse Paulo, se sentando em outra cadeira.

_Não, não faço a mínima ideia.

_Bem, você é um despertado.

_E o que diabos isso significa?

_Significa que você faz parte de um seleto grupo de seres humanos que desenvolvem certas habilidades psíquicas como, por exemplo, ver como as pessoas morreram.

_E de que adianta ter tais poderes se não se pode controlá-los?

_Aí é que você se engana, não só é possível controlar essas habilidades, como também é possível utilizá-las ao seu favor.

_Duvido.

Paulo se levantou e saiu do “laboratório”. Voltou instantes depois com dois copos de água e ofereceu um deles para Raul:

_Esse é mais um de seus testes? – perguntou Raul.

_Não, é apenas água. Imaginei que você poderia estar com sede ou que seria benéfico para amenizar as suas náuseas.

Raul pegou o copo e o tomou todo de uma única vez, sentindo que suas náuseas estavam realmente melhorando.

_Qual seu nome completo? – perguntou Paulo, assim que Raul devolveu-lhe o copo.

_Raul Seix…..

_NUNCA! – gritou Paulo largando os dois copos, que se espatifaram no chão. _ NUNCA diga seu nome completo para ninguém, me entendeu?

_Si… si… si…. sim….

_Essa é a sua segunda lição do dia, pois se algum inimigo ficar sabendo seu nome completo, ele pode fazer qualquer coisa com você, entendeu? Inclusive te tornar um escravo sexual e você não quer isso, quer?

_Não… não…. definitivamente, não….

_É por isso que na Grande Fraternidade Branca todos são tratados pelo primeiro nome, apelidos, nomes falsos e coisas assim.

Paulo saiu novamente e voltou com uma vassoura. Após alguns instante, começou a varrer os cacos de vidro na direção de um buraco que Raul não havia notado até então. Após terminar o serviço, ele voltou a se sentar e disse:

_A Grande Fraternidade Branca são os mocinhos dessa história toda e costumam chegar primeiro para recrutar os despertados.

_Então você faz parte desta fraternidade?

_Não, não. Eu trabalho por conta própria, mas prefiro negociar com eles do que com a Grande Fraternidade Negra, que basicamente é formada por caras malvados, traidores e que sempre dão calote na hora de pagar. Bom, é isso, espero que tenha entendido tudo o que falei. – Paulo ia se levantando, quando Raul o interrompeu:

_Cara, não entendi bulhufas do que você me falou ate agora.

Paulo bufou e se sentou novamente, dizendo:

_Então você precisa ficar sabendo de duas coisas: Primeiro que você é um mago e segundo que, invariavelmente, você vai acabar morrendo por causa disso. Quer saber mais alguma coisa?

_Ok, pra mim chega, eu vou embora daqui. – disse Raul, indo em direção a porta do laboratório.

_Isso mesmo, fuja enquanto há tempo, afinal de contas não é isso o que você fez a vida inteira?

Raul olhou para trás e encarou Paulo nos olhos, dizendo:

_Quem é você para me julgar?

_Rapaz, não fique assim. Se você está com medo de morrer, sinto lhe falar que isso ocorrerá de qualquer maneira. A diferença é que, aceitando o convite da Fraternidade Branca, você pode aprender a controlar algumas variáveis e tornar seu cotidiano menos…. medíocre.

_Primeiro você me chama de covarde, agora de medíocre. Isso tudo é uma piada, e de muito mau gosto.

Raul saiu do laboratório e foi até a entrada do bar. Paulo já o esperava na calçada, pegando-o de surpresa:

_C­omo fez isso? – perguntou Raul.

_Digamos que aprendi a controlar algumas variáveis da minha vida medíocre.

_Pare com essa baboseira, aposto que você possui algum tipo de saída secreta ou algo assim.

_”Saída secreta”, humpf, e depois diz que eu que o estou ofendendo. Meu caro, você nunca ouviu falar em teletransporte? Leitura mental? Poderes mágicos?

_Leitura mental? Então leia isso… – “Vá se foder”, pensou Raul.

_Não preciso ler sua mente para saber o que está pensando, aliás nem perderia meu tempo com isso, já que só encontraria merda nessa sua cabecinha oca. Para mim você não passa de uma “tabula rasa”.

_Tabula rasa?

_Sim, algo como um caderno vazio onde eu tenho que escrever as regras do jogo.

_Pois então economize grafite e vá escrever em outro lugar. – Raul começou a se distanciar do bar, mas Paulo o seguiu.

_Escute jovem, se eu não o ensinar os magos negros virão atrás de você. Eles prometerão dinheiro, mulheres e uma vida feliz. Você aceitará a proposta deles, pois este é o caminho mais fácil. Porém tudo não passará de uma farsa, pois a magia negra sempre cobra seu preço.

_Contanto que eles façam com que você suma, aceitarei de bom grado.

_Sinto ouvir isso, mas depois não venha me procurar como um cão arrependido.

Raul continuou andando, deixando Paulo para trás. Preocupado em chegar atrasado ao trabalho, ele olhou para o relógio, mas apenas um minuto havia se passado desde que havia entrado no bar. Desconfiado de que seu relógio havia quebrado, Raul perguntou para um transeunte que horas eram, mas ele apenas confirmou que o horário estava correto.

_Não é possível. – Raul murmurou.

Continua…

Chester Chenson

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