
Cogitando.
| Desfavor | Ele disse, Ela disse | 64 comentários em Cogitando.
Todo relacionamento vem com suas tentações. Sally e Somir concordam que se entregar a elas e trair é algo errado, mas não na extensão do que configura o erro. Os impopulares são fiéis aos seus princípios.
Tema de hoje: Cogitar trair já é uma traição?
SOMIR
Não. A não ser que você tenha caído naquele conto do “Segredo”, sabe diferenciar pensamento de realidade. Pensar em algo não é fazer algo. Longe de mim dizer que cogitar trair é uma coisa bonita, mas tem muito chão entre a ideia e a realização.
Acredito que a primeira coisa a se fazer aqui é definir ‘cogitar’. Cogitar é pensar no assunto, planejar, analisar probabilidades… Sally vai tentar fazer vocês pensarem que cogitar é sinônimo de ligar para a(o) amante e marcar um encontro no motel. Não é isso. Cogitar é algo solitário e essencialmente mental. Estamos falando de imaginação e não de realidade.
Cogitar significa que nenhuma das partes foi cientificada: a(o) oficial e a(o) potencial caso nem imaginam o que está acontecendo. Claro que cogitar é um grau além do fantasiar, e isso eu não vou negar aqui. É mais do que uma ‘brincadeira’ da mente, é alguém considerando suas possibilidades. Por isso já abri o texto dizendo que bonito eu não acho.
Mas a mente alheia raramente nos é integralmente bonita. A maior dificuldade de todos os relacionamentos é lidar com outro ser humano com ideias e vontades próprias. A outra pessoa sempre vai pensar em coisas que não gostaríamos que ela pensasse, mas isso é parte do jogo. Ridículo querer patrulhar até mesmo a mente da(o) parceira(o).
Se eu gostaria que uma namorada minha cogitasse me trair? Claro que não! Agora, tem uma sutileza aqui que Sally vai fazer questão de desviar quando estiver argumentando: enquanto for cogitação e a outra pessoa não confessar, você nunca vai saber. Para que isso venha à tona sem ser num sincericídio, a sua cara metade vai ter que sair do plano do cogitar para o agir. E esse agir tem muitas faces.
Sim, traição não existe só quando há contato físico, concordo. Uma mísera mensagem dizendo para um terceiro que há vontade de trair já conta como traição. Traição é a quebra da exclusividade e também a exposição de alguém que confia em você. Cogitar apenas não expõe o ‘traído na imaginação’, precisa trair de verdade para tal.
Entendemos o que é cogitar? Entendemos que cogitar não é agir? Ótimo. Agora vamos lidar com as pessoas malucas que consideram pensar em algo sinônimo de fazer algo: quanto mais complexa a mente de um ser, maior a possibilidade dele ter ideias distantes da realidade. Um animal selvagem tende a pensar no que está fazendo, um animal evoluído ou um ser humano simplório pensa no que VAI fazer. Já um ser humano com habilidade de pensamento abstrato mais apurado (como a esmagadora maioria de nós aqui) tende a pensar até mesmo no que NÃO vai fazer.
A mente permite incontáveis possibilidades. Podemos criar realidades alternativas com nossas sinapses! Se você está vendo um filme de super-heróis, você tem a capacidade de se inserir nesse universo e continuar não acreditando que os poderes deles existam no mundo real. Faz parte do pacote básico do que é ser uma pessoa dotada de imaginação.
É absurdo que se regule o pensamento. É tirar de nós o que de mais precioso temos. Tenho certeza que nisso Sally concorda comigo, mas aparentemente para ela o problema é transformar a fantasia em plano. Como se planejar algo fosse sinônimo de fazer algo. Eu concordei que cogitar estava um passo a frente de fantasiar, não estou mudando de ideia. Só que cogitar ainda está protegido pela liberdade de pensamento tão necessária para nossas vidas.
Muita gente é capaz de planejar nos mínimos detalhes algo que nem quer fazer. Basta um pouco de tempo livre e propensão para se perder nas próprias ideias. Eu mesmo adoro me perder nessa etapa mais complexa da fantasia: criar regras e obstáculos para ‘aumentar a carga’ desse exercício cerebral. É muito fácil confundir esse tipo de fantasia com o cogitar.
Enquanto ainda está dentro da cabeça, a linha divisória está borrada. A forma mais segura de não passar atestado de maluco com ciúme de ideias é permitir que a mente seja livre, gostando ou não do que está dentro dela. Como eu já disse: nem sempre você vai gostar do que sua(seu) parceira(o) está pensando, e isso é normal.
Meu argumento é baseado em consistência. Às vezes precisamos aceitar o que não gostamos junto com o que queremos. Se você acredita na liberdade de pensamento e fantasia, precisa estender a cortesia ao cogitar. Você nunca vai saber se a outra pessoa cogitou por exercício imaginativo ou por vontade de colocar em prática. Aliás, na maioria das vezes, nem mesmo quem cogitou. A mente é complexa assim.
Eu não admito em hipótese alguma ter minha mente censurada. Não conseguiria viver feliz num mundo com patrulha de pensamento. E por isso, tenho que ser coerente e aceitar que os outros tem os mesmos direitos. Pensamento é livre! Nisso não se deve ceder, principalmente por insegurança pontual.
E sim, é insegurança. É medo de não ser insubstituível ou de não ser a ÚNICA pessoa na mente de quem se gosta. Eu tenho horror disso e teria medo de alguém que só pensasse em mim. Gente assim muda de amor para ódio em um piscar de olhos. Pode cogitar à vontade, só não pode trair.
E daí que a outra pessoa cogitou te trair? Te traiu? Eu quero alguém fiel na prática… a teoria é muito complexa.
Para me chamar de corno em potencial, para dizer que não gosta que os outros pensem em geral, ou mesmo para dizer que trai seus princípios assim que algo não te agrada neles: somir@desfavor.com
SALLY
É um daqueles temas onde tenho a certeza de que metade não vai compreender meus argumentos. Eu me importo? Não, eu não me importo. Infeliz daquele que não compreende sutilezas argumentativas e se prende a argumentos padronizados por medo de ampliar seus horizontes e derrubar certezas.
Em um relacionamento declaradamente monogâmico, COGITAR TRAIR é, por si só, uma traição? Sim. Mil vezes sim.
A mente é livre. Fantasiar é permitido. Pensar em outras pessoas é normal. Mas quando se cogita efetivamente sair da imaginação para cair no plano da ação, acredito que se cruze uma linha ética.
Traição não é apenas beijar outra boca ou fazer sexo com outro parceiro. Traição pode não ser física. Traição pode nunca ter qualquer contato físico. Se partirmos da premissa que sem contato físico não há traição, um parceiro que se apaixona e chega até a amar outra pessoa com a qual se corresponde via internet não está traindo o cônjuge, por exemplo.
Existe um mundo de diferença entre fantasiar e cogitar concretizar essas fantasias. Pensar em algo não é cogitar fazer esse algo. Uma coisa é ter vontade momentânea de matar alguém em um surto de raiva, outra bem diferente é cogitar matar uma pessoa. Quando se sai do plano do pensamento e se foca na concretização, se sobe um degrau importante.
Chamem de romântica, chamem de inocente, mas insisto em acreditar que quando se ama uma pessoa, por mais que eventualmente se sinta desejo por outras, não se chega a cogitar efetivamente trair. Provavelmente eu e todos que pensam assim somos minoria, mas… quem quer ser maioria em um país cheio de Brasileiro Médio?
É muito simplório pensar que se a pessoa cogitou te trair mas no final das contas desistiu então não houve traição. É reduzir a traição a algo meramente físico. Da mesma forma que nem todo pensamento significa traição, nem toda traição tem que ter necessariamente contato físico.
Uma coisa é se pegar pensando como seria sua vida se você estivesse com Fulano ou como seria se ficasse com Beltrano. Outra bem diferente é cruzar uma linha ética e começar a cogitar efetivamente concretizar a coisa e trair o parceiro. Pensar “Acho que vou ficar com Fulano e trair a pessoa que está comigo” é totalmente diferente de pensar, no plano da fantasia, que sabe-se que não será realizada, como seria ficar com outra pessoa.
Quer uma prova simples de que cogitação é traição? Experimenta dizer ao seu parceiro que cogitou ficar com outra pessoa. Você não vai fazer isso, sabe por quê? Porque vai dar uma merda sem precedentes. Ninguém quer atrair um tsunami de bosta para seu relacionamento falando um troço desses.
Sim, o pensamento é livre. Mas pensamento não se confunde com cogitação. Quando se cogita se dá o primeiro passo para concretizar o pensamento. O fato de cogitar já é desleal o suficiente para quem se propôs a um relacionamento monogâmico. Já existe, com a cogitação, a quebra de um pilar fundamental da relação. Pois é, certas coisas nem se cogitam. É como dizem: “nem em pensamento”.
Supondo que você conhece um homem que cogitou fazer sexo com crianças de três anos de idade, mas nunca chegou a concretizar essa cogitação… isso aliviaria a barra dele? Desculpa mas para mim, quem cogita fazer sexo com uma criança já não serve para estar ao meu lado, mesmo que nunca tenha concretizado. Tem coisas que não são admissíveis nem na cogitação.
É hora de acabar com esse mito de que tudo que está na nossa cabeça é inofensivo. Alguns pensamentos, por mais que morram como pensamentos, são extremamente graves e depõe contra a pessoa sim. Eu não quero ao meu lado uma pessoa que cogita me trair. Pode fantasiar, pode se perguntar como seria, pode pensar, mas parou por aí. Cogitação não dá. Começar a pensar e equacionar uma forma de ficar com outra pessoa enquanto está comigo? Não, obrigada.
O que você diria de um homem que cogitou fazer sexo com outro homem? Provavelmente o chamaria de gay, mesmo que ele nunca tenha consumado o ato, afinal, só de cogitar uma coisa dessas temos um claro sinal de homossexualidade.
Pois é, curioso que na hora de manter a coerência e deslocar esse pensamento para uma situação próxima, o discurso muda. Homem que cogita fazer sexo com outro homem, que tem vontade de fazê-lo, já é gay, independente se chega ou não a concretizar. Homem que cogita trair a parceira, já a traiu, independente se chega ou não a fazê-lo.
Nesse ponto você pode perguntar como saber se uma pessoa está ou não cogitando te trair. Não tem como. O pensamento é de foro íntimo. Estamos trabalhando com abstração, com uma questão em tese. Não me venham com “não tem como saber o que a pessoa está pensando”. A pergunta é se cogitar trair é traição.
Fico curiosa me perguntando se todos os pseudo-liberais que defenderão o direito a cogitar traição topariam continuar com seus parceiros caso descobrissem de forma inequívoca que estes estavam cogitando ou já cogitaram traí-los. Sim, porque quando se faz esta pergunta que estamos fazendo, a pessoa sempre pensa em si mesma, se seria traição ELA cogitar. Vamos pensar fora da caixa e usar um pouco de empatia? Se fizessem isso com VOCÊ, você não acharia uma traição?
Supondo que você encontrasse um e-mail ou ouvisse uma conversa onde seu parceiro(a) diz que está pensando em te trair, você viria com essa baboseira de liberdade de pensamento? Não. Sabe por quê? Porque ter vontade de trair e começar a tirar essa vontade do campo da imaginação para equacionar esse ato é trair.
Poucas pessoas são fiéis fisicamente e quase nenhuma é fiel e leal na postura. Traição não é só contato físico, uma postura incorreta pode ser tão devastadora quanto uma noite de sexo com outra pessoa.
Ah, Sally, acho que você está exagerando. Concordo com o Somir, ninguém falou em anunciar aos 4 ventos. Cogitar é só na cabeça da pessoa, não quer dizer que vá se concretizar. A partir do momento que saiu da mente será um problema. Talvez a diferença seria perguntar se é infidelidade ou deslealdade. Quem cogitou não está sendo infiel, mas está sendo desleal, não é legal ficar pensando em outras pessoas.
Eu parto do princípio que se eu fiquei sabendo disto, é porque foi externalizado de alguma forma e se foi externalizado é porque algum “plano” já há em mente ou algum tipo de situação já aconteceu. Então se há um plano, mesmo que nada tenha sido consumado ainda, para mim é inaceitável.
Justamente. Eu acho o plano uma forma de traição. Mas parece que se não tiver beijo na boca a maioria dos impopulares não acham traição.
Muitas vezes eu cogitei comer um X-tudo durante dieta. Nas vezes que comi, engordei.
Muito bom!
Estou com o Somir.
Ninguém gostaria de saber que seu parceiro está cogitando te trair, PORÉM! cogitar é trair? NÃO! Simples.
E comparar traição com pedofilia é bizarro.
Somos animais também, a monogamia já é por si só um modo de controlar nossos impulsos.Cogitar trair é algo tão comum do ser humano que chega dou risada.
http://humoncomics.com/archive/animal-lives
lembrei daquele filme minority report , eles conseguem prever os crimes simplesmente se a pessoa cogitar em cometer o crime; e aquele que cogitou é preso antes mesmo de por seu plano em pratica, por isso eu acho ridículo a ideia de traição antes do ato consumado não posso ou pelo menos não deveria julgar ninguém antes que essa pessoa faça algo errado; eu posso perfeitamente cogitar matar alguém e nunca executar meu plano ou até mesmo mudar de ideia no meio do caminho e voltar pra casa, eu seria um assassino se agisse assim ?
Se voce for comparar crime a traiçao fica mesmo muito dificil. Seu discurso é lindo, mas falho.
Concordar com a tese do Somir e depois ser convencido pelos seus argumentos, Sally, é muito comum no meu caso. Mas isso nao me entristece, pelo contrario…
No entanto, desta vez, posso dizer que se minha companheira cogita me trair e eu fico sabendo disso, certamente ficaria com um pé atras. Afinal, se alguem cogita faze-lo, é porque muita coisa foi pro brejo: consideracao, respeito, lealdade, enfim. Apesar disso, nao consigo ver traicao em algo que nao saiu do “papel”.
Eu consigo. Traição virtual é ok para voce?
Ok, nao! Mas, como disse, passo a dar atencao ao alerta vermelho: se ha cogitacao, e isso pode incluir traicao virtual, é hora de tentar detectar o problema ou…cair fora! Traicao virtual, para mim, nao passa de cogitacao. Isto nao significa, porem que vou achar isto legal.
Lembro-me agora de alguem ter dito na TV (esses programas de debates dirigidos ao publico feminino)que homem e mulher encaram traicao de forma diferente. Por exemplo, para o homem, ele so é corno se a sua mulher der para outro. A mulher, no entanto, considera atencao indevida dada ao sexo oposto como traicao. Voce concorda com esta teoria?
Nesse ponto discordo de você. Traição virtual, pra mim, é traição sim. Se a coisa deixou de estar só na mente daquele que quer trair e veio para o “mundo real” de alguma forma, deixou de ser mera cogitação.
Deixar alguem saber do meu plano, levando pro mundo real, para mim, continua no plano da cogitação.
Embora a pessoa possa sentir-se traida, ela nao o foi de fato. Caso o traidor CONCRETIZE seu plano…bom, neste caso, ocorreu o adulterio, saindo da mera situacao do COGITAR.
Trair é trair a confiança, meu bem. Para trair a confiança de alguém não precisa de atos físicos. Um dia você vai descobrir isso na prática e vai lembrar de mim.
Sally, só agora que vi isso!
Fiquei preocupado, pois é sabido pelos impopulares que sua praga SEMPRE pega.
Minha praga tem um certo poder…
Vcs sabem ser polêmicos heim!
Cogitar transar com outro cara é coisa de viado hahaha
A Sally é foda!
Dessa vez é com o Somir. Por mais que o pensamento seja nefasto (pedofilia) ainda é um mero pensamento preso a cabeça de alguém. Ninguém foi ferido.
No caso de “achar válido” se separar de alguém que cogitou algo, bem, existe algo mais privado do que sua mente? Na minha há de tudo porque lá é o meu refugio, lá eu sou Deus (nosso amigo imaginário). Se a outra pessoa quer ser dona da minha mente, eu é que não vou querer entrar nessa.
Não tem como julgar, punir alguém por algo que ela cogitou, pois por mais que o plano tenho data, hora e local ainda é preciso dar o primeiro passo.
Minha mente é tão fértil que as vezes sou flagrado pela minha esposa simulando dialogo que nunca irão acontecer de cenas perdidas em dimensões paralelas. É muito embaraçoso explicar que pra você é fácil se perder em pensam netos. #EsquizofrênicaFeelings
Diferenciem: crime x motivo para nao ficar com a pessoa
Ter vontade e cogitar estuprar uma criança não é crime. Mas certamente é um baita motivo para não quere continuar com a pessoa. Ou não?
Cogitar é algo muito além de pensar sobre um assunto.
Porque traição e pedofilia estão no mesmo nível, certo?
Exato, F.A. Sally comparou coisas absolutamente incomparáveis.
E ignorou que há diferenças gritantes entre cogitar coisas terríveis e planejar fazê-las na liberdade insubordinada e incontrolável da mente e a concretização disso no mundo exterior de alguma forma, ultrapassando as barreiras da mente.
Se a pergunta fosse: “Se você descobrir que o seu parceiro cogitou ser pedófilo você aceitaria?” A resposta não poderia ser a mesma da pergunta: ” Cogitar trair já é uma traição?”
A questão remete à empatia, e também alteridade, no sentido de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, no seu direito a ser respeitado e, sobretudo, do ponto de vista divergente do seu. Pessoalmente, sobrepõe qualquer liberdade de pensamento.
Hoje concordo com SOMIR.
O Argumento da Sally serve pra outros assuntos. Cogitar trair é horrível, mas não se compara a cogitar pedofilia, pois é um crime, um desvio de caráter, em que considero inaceitável até o simples fato de ‘pensar” em fazer .
Trair É RUIM sim, É PÉSSIMO, mas embora eu não planeje fazer isso, sei que existe a possibilidade de acontecer comigo, pois reconheço-me como um ser humano passivo de falhas desse tipo.
Eu perdoaria alguém ter cogitado, na medida em que ficasse no plano “mental”. Sexo virtual com outra pessoa é traição sim, embora não tenho contato físico.
A questao não é mensurar o que é mais grave e sim o que voce TOLERARIA. Eu nao tolero muita coisa grave ou nao
Não está diretamente ligado ao tema de hoje, mas muito interessante.
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/11/canal-de-tv-gera-polemica-ao-entrevistar-pedofilo-na-gra-bretanha.html
Ai eu pergunto, será que ele nunca cogitou? Passou horas cogitando, mas na hora “H” pôs os pés no chão e desistiu de por em prática.
É, o argumento da Sally é pesado e convincente! Interessante que outro dia perguntei a um grupo no face: “transar com um pensando em outro… Fetiche ou traição de pensamento?”
O mero pensar nao me parece traiçao
Mas mesmo que seja pensar DURANTE o sexo?
Aí depende. Se EU fizer não é traição. Se meu parceiro fizer é traição e ele é um escroto filho da puta sem consideração.
Wat? Então é uma vibe do tipo um pode e outro não pode? oO
Sally é cristã nesse ponto. Jesus disse isso pra rapaziada: quem pecar no seu coração, já pecou (especificamente sobre adultério).
Negativo. Se quiser fantasiar, sem problemas. O problema é sair da fantasia e ir para a cogitação.
Abro meu comentário discordando do Somir em um ponto crucial: planejar algo por puro exercício de imaginação, analisar probabilidades e desenvolver modos de algo que não se quer NÃO é cogitar. Eu já planejei um roubo a banco na minha mente, mas nunca cogitei fazê-lo. Para mim não era uma possibilidade real.
Para mim, quem melhor definiu cogitação até agora foi a Marina: pensar em algo que se PRETENDE fazer. Cogitar implica em PRETENDER. Realmente querer aquilo. Ou seja, quem cogita trair QUER DE FATO trair. Só não colocou em prática. E colocar em prática não significa apenas ter contato físico. Um email, um telefonema, qualquer coisa que envolva outra pessoa que não o(a) próprio(a) pensador(a) já configura colocar a traição em prática.
Agora vamos à pergunta: cogitar trair é trair? Não. Está a meio passo de, mas não é. Eu ainda acredito no limite entre o pensar e o agir. Não considero um pensamento bobinho, inofensivo, pois não é, mas não é o mesmo que pôr em prática.
E já que a Sally nomeou de antemão todos os que discordarem dela de pseudo-liberais, me permito um parêntese: creio que eu seja um dos mais conservadores aqui. Até por isso comento pouco: muito da minha visão do mundo não bate com a dos autores e da esmagadora maioria dos leitores (pelo menos dos que comentam com frequência). Mesmo assim, sendo conservador, não considero que cogitar uma traição seja, de fato, trair.
Ah, e se fosse comigo? Bem, se um dia eu soubesse, de algum modo, que minha parceira cogitou me trair, certamente isso me abalaria, e muito. Seria um sinal vermelho gigante, um alerta. Mas eu não terminaria como se ela tivesse me traído. Pelo contrário: talvez seja um último suspiro do relacionamento, uma última chance para refletir e olhar o que está errado. Ela pretendeu trair, ela quis fazer isso, mas por algum motivo guardou para si e não o fez? Pode ser que ainda haja algum fôlego, ainda possamos tentar corrigir o rumo. Daria certo? Não sei. Talvez fosse o fim mesmo, talvez não. É o tipo de coisa que só podemos saber se houver o caso concreto.
Planejar trair não é trair, pretender trair não é trair, querer muito trair não é trair. Trair é trair. Não se trata meramente de vontade, trata-se de escolha.
Só é trair se houver contato físico?
Bom, revejamos o comentário:
E também:
Isso responde sua pergunta?
F.A., é que eu copiei a definição do dicionário!!!!!!
co·gi·tar
verbo transitivo e intransitivo
1. Pensar com insistência (em coisa que se pretende resolver ou obter).
“cogitar”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/cogitar [consultado em 09-12-2014].
Não, cogitar trair não é uma traição.
Partindo do princípio de que COGITAR é pensar com insistência em coisa que se pretende resolver ou obter, não é traição. Ainda que a pessoa fique pensando em como seria ficar com a outra, ou fique, como definiu a Sally, equacionando uma forma de ficar com outra. Ela não ficou de fato? Não agiu de fato? Então não traiu.
Se pensar com insistência, desejar, querer, elaborar ideias de como seria, mas NUNCA CONCRETIZAR for traição, tudo é traição. Acreditar nisso é banalizar o conceito de fidelidade.
O que importa é o que fazemos, não o que pensamos.
O pensamento é o nosso último refúgio de liberdade. É o nosso último retiro de privacidade. Não vai durar muito tempo, porque um dia ainda vão inventar máquinas que vão decodificar nossos pensamentos e desejos com precisão. Mas, por enquanto, ainda somos livres para pensar (insistentemente sim se quisermos!). Somos livres para imaginar como seria, para fantasiar, querer e desejar o que quisermos.
Se um relacionamento for rígido a ponto de o casal não poder nem cogitar uma traição, então é pior do que o inferno de Dante. É uma prisão sem grades.
Outra coisa: relacionamentos, ainda que monogâmicos, são muito pessoais. Não podem ter regras rígidas que valem igualmente para todos os 7 bilhões, porque nossos conceitos de lealdade são profundamente diferentes. Cada casal tem que criar os seus.
O que pode é alguém, como a Sally, deixar claro que entende que traição e falta de ética dizem respeito a TUDO, até ao pensamento. Aí, a pessoa que for se relacionar com a Sally já fica sabendo o que ela acha que é traição e pode escolher cair fora a tempo. (Desculpe a brincadeira, Sally. Mas é que você dá a impressão de ser muito rígida e um pouco conservadora. Mas a interpretação é de quem lê e eu posso estar interpretando errado.)
Quanto aos textos: Embora os dois escrevam muito bem, o do Somir foi melhor hoje, não apenas porque eu concordo com ele, mas porque eu senti um tom meio “defensivo” da Sally, que já abriu o texto dela com: “É um daqueles temas onde tenho a certeza de que metade não vai compreender meus argumentos. Eu me importo? Não, eu não me importo.”
Sally também usou a expressão “pseudo-liberais” no seu texto. Por que “pseudo”? Você não acredita que as pessoas sejam verdadeiramente liberais? Você acha mesmo que todo mundo do mundo tem ciúmes e é possessivo? Você acha que as pessoas querem parecer liberais porque ganham afagos sociais por isso? Mas o discurso de ser liberal não é o mais aceito na sociedade… A sociedade é conservadora, cristã e preconceituosa. Não se tem nada a ganhar confessando que se vive relacionamentos abertos, que se gosta de coisas que a maioria acha pecado… Ainda mais sendo mulher! É implorar pra ser rotulada, no mínimo, de puta. O que pode prejudicar carreira e relações familiares.
Lembra do Desfavor da semana! A gente não pode sair por aí dizendo que é liberal, porque nem os jovens entendem.
Pessoas verdadeiramente liberais não são agem assim, com dois pesos e duas medidas. Voce continuaria com um homem que cogitou fazer sexo com uma criança pequena? A cogitação tem peso e diz muito sobre a pessoa.
Sim, porque eu nunca iria saber. Cogitar é pensar em fazer, planejar fazer. Não é contar, não é falar, não é colocar pra fora, não é fazer. É pensar. Não quero saber o que os outros pensam. Acho que todos nós temos o pequenino direito a esse refúgio de liberdade.
Querer controlar o pensamento do outro é, usando uma expressão do Desfavor, viver em uma prisão sem grades.
Mas… nao fica meio obvio que no tema proposto a pessoa DESCOBRIU?Caso contrário nem existiria a pergunta. Vai por mim, essas coisas se sabem. Pessoas se entregam, cedo ou tarde. Pessoas insistem em falar demais. Pessoas falam dormindo. Pessoas tem o computado invadido, etc
Opa! Isso do descobrir você inventou agora.
Não ficou óbvio, não, porque em nenhum momento vocês falaram isso nos textos. Falaram em COGITAR. Não em colocar pra fora de alguma forma. Não ficou óbvia a parte do “descobriu”, não.
Sem contar que a pergunta não é “você continuaria com alguém que cogitou te trair?” e sim “cogitar trair já é traição?”
Fiz essa pergunta só para desarmar esse discurso de que o pensamento é inofensivo
Sally, sua argumentação foi meio maniqueísta, sem nuances. Radical. Preto ou branco. Certo ou errado. Ético ou escroto. Mas não é tão simples assim. Nunca é. Sua argumentação pareceu com a daquele povo que fala que, se você é a favor dos Direitos Humanos, então você deveria levar o bandido pra casa pra ser coerente. Ou, se você é feminista e odeia racismo, você não pode rir de piada machista ou racista, só pode rir de piadas com o opressor e não com o oprimido, senão você é incoerente. Você também está proibida de gostar de Monteiro Lobato pra não ser incoerente, já que ele era supostamente racista.
Uma coisa é respeitar a liberdade das pessoas de cogitarem, planejarem, mas NUNCA concretizarem. Eu não tenho nada a ver com o que existe na mente dos outros. Eles ainda são livres para cogitarem o que quiserem por pior que seja. Liberdade é bênção, é privilégio raro, é ouro. Mas outra coisa, muito diferente, é lidar com algo que deixou de ser pensamento, atravessou as barreiras da mente e passou a ser exteriorizado no mundo de alguma forma. Se a linha de raciocínio for essa, você vai me desculpar, mas tem muita diferença entre EU SABER que a pessoa cogitou me trair com outro adulto e EU SABER que a pessoa cogitou transar com crianças ou animais. Não há incoerência alguma em ser liberal com “dois pesos, duas medidas”, porque estamos falando de abismos de diferenças que não podem ser mensurados da mesma forma. São coisas incomparáveis. Pedofilia, estupro e zoofilia não são traição, são atitudes bárbaras e hediondas.
Enquanto a coisa está na cabeça do outro, ele pode e deve pensar, cogitar, querer, planejar o que quiser, por mais hediondo que seja, desde que não faça nada e desde que eu não descubra, porque se eu descobrir é porque a cogitação extrapolou os limites da mente da pessoa. Se a vontade se exteriorizar de alguma forma, ou seja, se eu descobrir, obviamente que a minha reação não seria a mesma.
Mas, vamos supor que eu descobri. O meu namorado está cogitando me trair com outra mulher. Se ele sente desejo, tem vontade e planeja em sua cabeça como seria transar com outras mulheres, eu vou achar absolutamente normal, previsível e humano. Não é traição, ainda que eu descubra.
Supondo que eu descubra o que meu namorado está cogitando.me trair com outro homem. Se ele sente desejo, tem vontade, cogita e planeja em sua cabeça como seria transar com outros homens, eu vou achar absolutamente normal e humano. Porque ser bissexual, na minha opinião, é normal. Portanto, não seria traição, ainda que eu descobrisse.
Agora, crime hediondo não, Sally. Pedofilia e zoofilia são covardia, são estupro de vulnerável. Não há nada de incoerente em fazer essa diferenciação. Não sei de onde você tirou que ser liberal é ser liberal em relação a TUDO, inclusive crimes tenebrosos injustificáveis feito esses. (Como a interpretação é de quem lê, eu posso ter te interpretado errado.)
Enfim, ele pode cogitar o que ele quiser. Ela pode cogitar o que ela quiser. A mente é livre inclusive para cogitar coisas terríveis. Eu não tenho nada a ver com isso. A mente é deles. A fantasia é só deles, não tem nada a ver comigo. Não tenho a pretensão de controlar ninguém. Mas, uma vez que a cogitação foi descoberta, ou que houve uma ação, haveria diferença de reação, sim e isso não é incoerência. Muito pelo contrário.
PS: Gostei da polêmica. Vocês tiram leite de pedra dos temas mais malucos todos os dias.
Vontade não é cogitação. É sutil, mas existe difença. Eu explicaria mais, mas estou sem tempo.
Assim como cogitação não é ação. Mas a resposta padrão para qualquer um que aponta isso tem sido: “então só é traição se tiver contato físico e blá blá blá?…”. Como se a única forma de agir fosse essa.
Precisa ser ação para ser traição?
Um exemplo: se uma mulher está dando em cima ostensivamente de um parceiro meu e este consente no mais absoluto silêncio, sem mover um único músculo, sem praticar uma única ação, eu vou sim me sentir traída. Omissão pode ser traição. Cogitação pode ser traição.
Mas eu não vi ninguém aqui afirmando que o pensamento é inofensivo. Vi pessoas dizendo que o pensamento não é ação.
Justamente. Precisa ser ação para ser traição?
Sim!
Sim!
Há menos de 1000 anos diversos antepassados nossos faziam sexo com crianças. Pedofilia era até considerado ‘norma’ entre alguns cidadãos gregos, mais outros mil anos antes…
Nossa moral é fruto de nosso tempo. Trepar com a mãe, ser sodomizado por uma cabra, não faz muito tempo era apenas um fato que podia acontecer e ser, no mínimo, engraçado. É o tal do que consideramos ‘tabu’ hoje em dia, que não era no passado.
Embora não tenha a ver DIRETAMENTE com o assunto, a questão da cogitação é uma coisa que só poderia ser tomada ao pé da letra por, sei lá, Monges Budistas Shaolin que se dedicam 101% (ou pelo menos em teoria) a dominar sua vontade. Fora isto, todo mundo já sonhou ou pensou em fazer algo considerado merda por família/sociedade. Se não, parabéns, conseguiste dominar a si mesmo.
Embora eu como bom e velho ocidental acho uma ‘grandes merdas’ chegar no Nirvana. Tipo, e daí em diante, o que acontece?
Intenção como vertente da ação é muito São Tomás de Aquino pra mim… estou com os pagãos antigos que cagavam para o que você estava pensando, desde que AGISSE corretamente.
Eu li isso? Eu não li isso. Eu opto por me portar como se nunca tivesse lido essa linha de argumentação.
Qual o problema ? Nosso DNA não mudou nada do DNA dos Assírios, Gregos e etc…
Se você não vê problema, não tenho nem o que discutir. Estranho não ver problema mas postar no anonimato…
Eu citei fatos históricos, não minha opinião. Exceto onde digo que achar que dominar a própria mente é subjetivo em múltiplos níveis, e que ações falam mais alto que palavras (ou intenções).
Na nossa existência atual, se uma pessoa acredita que exista um bastião de pura virtude ‘em algum lugar com alguém’, e que isto deveria ser alcançado, seria hipócrita não acreditar também que exista um antro de perversidades inimagináveis em algum outro canto, com outra pessoa. Se fosse mais equilibrado, nem tanto ao céu nem tanto ao inferno, a existência se tornaria menos insuportável…
Cogitar trair é quase igual a trair. É bem diferente de apenas achar alguém atraente. Quem cogita já tem um plano pronto, só ainda não colocou em prática. Eu acho tão grave quanto.
Fico com o Somir. “Crime de pensamento” ainda não é crime. ;)
Certamente não é crime, mas pode ser motivo para não querer ficar com a pessoa, certo? Voce nao acha valido se separar de a
guem porque a pessoa cogitou praticar pedofilia, por exemplo?
Cogitar é uma coisa.
Expor seu pensamento já implica em ação. Mas isso é o cerne da pergunta.
Se alguém me dissesse que pensa em me trair, ou que pensa em transar com bodes, eu não continuaria com a pessoa. mas neste caso, ela já estaria indo num limite além da simples cogitação.
Não que a pessoa vá te dizer, mas você pode descobrir. É meio obvio que se a questao esta sendo levantada, a pessoa ficou sabendo!
“Opa. Isso de descobrir vc inventou agora” [2]
E… o tema fala de traiçao.
Eu me separaria de quem cogita pedofilia e de quem cogita homossexualismo. De quem cogita me trair também.