Estava faltando classe aqui no desfavor. Isso será corrigido imediatamente: com mais uma da série “menos pior”, Sally e Somir discordam sobre o grau de humilhação envolvido em não estar sozinho na hora de limpar a bunda. Os impopulares estão convidados a presenciar a discussão, e até se sujar um pouco.

Tema de hoje: O que é mais humilhante, ser visto limpando a bunda ou alguém ter que limpar sua bunda por você?

SOMIR

Eu vou com a opção de alguém ter que limpar minha bunda por mim. Como a mais humilhante, é claro. Essa frase fora de contexto ainda vai me causar problemas… seja como for, já que eu não posso escolher pela morte, tenho que ter uma resposta dentro desse universo de possibilidades terríveis. Acharia menos humilhante ser visto limpando meu traseiro principalmente porque apesar de estar fazendo merda, pelo menos eu estaria cuidando dela.

Mas deixa eu ser honesto, dessa vez meu ponto tem uma vantagem considerável, porém mentirosa: o contexto. É muito melhor imaginar as situações onde você é visto se limpando do que as que te levariam a ser limpo por outra pessoa. Se tem alguém limpando sua bunda depois de adulto, alguma coisa muito ruim aconteceu. Ok, isso é lógico, mas não é o que se discute aqui. Estamos falando de humilhação. Estar doente ou incapacitado não é motivo de vergonha por si só, mas isso não significa que sua dignidade não será ferida por um ato assim.

Vamos considerar os significados de “humilhante”. Pode-se pensar na palavra com dois significados próximos até: o de algo que gera vergonha, ou de algo que torna humilde. Humildade está na raiz da palavra, e não é à toa. Não estou saindo pela tangente, estou apenas demonstrando como não se pode tratar o assunto apenas pelo viés de uma timidez pontual. Ser humilhado é ser apresentado inequivocadamente às suas limitações, e poucas coisas na vida de um adulto são mais humilhantes do que ter alguém limpando sua bunda.

Desde cedo aprendemos que devemos manter o resultado do nosso sistema digestivo longe de outras pessoas. É uma das coisas que se aprende o mais cedo possível, até para o alívio de quem cuidava de nós. Logo se torna a atividade mais solitária e independente de uma vida humana média. Espera-se conviver com uma pessoa depois da sua infância sem nunca ser apresentado ao que sai de sua bunda. E nos acostumamos com isso. É uma das fundações de uma vida relativamente independente.

Ao perder o direito à privacidade e a auto-suficiência nesse departamento, somos jogados diante de uma dura realidade de impotência. Se isso não deixar uma pessoa mais humilde, pouca coisa na vida vai. Mas, ei, eu sei… podem achar que eu estou sendo esperto e brincando com significados de palavras só para vencer no argumento. Mas convenhamos que no da humildade, é impossível vencer a minha escolha… vamos considerar então o significado de vergonha pura: mesmo assim, ainda é vergonhoso.

Não querer ver ninguém limpando sua bunda por ser uma vergonha é a condição que iguala as duas opções, não importa o motivo, é uma vergonha. A pessoa tem todo o direito de se sentir mal por outro ser humano presenciar essa cena. As duas opções aceitam essa vergonha, mas a que eu acho pior adiciona um elemento extra: é alguém vendo e fazendo isso por você. Quem tem vergonha de ser visto com um papel sujo nas mãos deveria ter muito mais de mostrar a fábrica logo após terminar de produzir mais um lote.

E outra: a não ser que quem esteja te limpando seja um coprófilo atraído por você, é algo que não deixa ninguém feliz de fazer. Tem a sua humilhação de mostrar mais do que quer e a humilhação de “obrigar” outra pessoa a fazer algo nojento. Pra mim a pior coisa sempre foi arrastar outra pessoa pro buraco comigo… e essa analogia não é bacana nesses temas… uma coisa é se foder sozinho, outra é foder por tabela. Tudo bem que pode ser um profissional ao invés de uma pessoa querida, mas mesmo assim ainda é uma sensação escrota. Eu fico chateado quando derrubo algo num restaurante e alguém tem que vir limpar, então… dá pra presumir o grau de estresse dessa situação hipotética (e cagada).

Sem contar que alguém te vir limpando a bunda pode significar culpa de quem está vendo. No caso de outro limpar sua bunda, é só uma situação horrível onde não se pode nem apontar o dedo… porra, todas as analogias estão perigosas hoje… se alguém vir você limpando a bunda sem participar do processo, grandes as chances dessa pessoa ter feito algo errado e invadido privacidade alheia. É muito menos humilhante quando você tem motivos e capacidade de encher quem te viu de porrada para largar de ser bisbilhoteiro.

Se é para ser humilhado de alguma forma, prefiro uma que permita reação. Não ter controle algum sobre a situação deveria ser um atenuante, mas na verdade só te deixa mais exposto. No caso que eu acho menos pior, você pode até dar algum jeito de fingir que não foi isso que viram, de mentir sua escapatória da vergonha. Muita gente vai preferir acreditar que não te viu com o rabo sujo, o poder da auto-sugestão humana é poderoso. Agora, se alguém limpou sua bunda, aquela imagem está colada na retina dela pra sempre.

E tem até isso: a quantidade de detalhes visuais, sonoros e olfativos escabrosos aos quais você vai expor outros seres humanos difere muito nos dois casos. Alguém limpando sua bunda vai sentir cheiro de merda. Alguém te ver limpar a bunda pode ser só um momento estranho num banheiro, com sua mão por trás do corpo e nada de muito mais explícito. E mesmo que veja por outro ângulo mais revelador, os detalhes mais horríveis estão escondidos pelas cortinas das nádegas! A natureza foi sábia colocando o cu num lugar mais protegido.

É mais humilhante alguém ter que fazer por você. Não estou nem dizendo que não faria por uma pessoa querida se precisasse, ou mesmo que a acharia horrível e nojenta por isso, claro que não. Quando precisa, precisa e não é pra ter cara feia. Mas ao fazer isso, nada além da vontade de nunca mais precisar fazer, não só pelos motivos óbvios, como por não precisar mais ver alguém querido passando por essa… humilhação.

Prefiro que me vejam limpando a bunda. Pelo menos essa merda é só minha.

Para dizer que adorou o tema de alto nível, para dizer que minha opinião é uma merda, ou mesmo para dizer que vai me citar sem parar por causa desse texto à partir de hoje: somir@desfavor.com

SALLY

Atenção Impopulares, hoje acordamos profundos: O que é mais humilhante: alguém assistindo você limpar a sua bunda ou alguém limpando a sua bunda?

Vejam bem, não há vencedores do tema de hoje. Tudo é horrível, tudo é humilhante. Hoje trabalharemos com o “menos pior”. Longe de mim querer dizer que qualquer uma das duas situações são boas. Em minha opinião, dos males, o menos pior é alguém limpando a minha bunda.

Em um primeiro momento pode parece chocante, afinal, o grau de inutilidade é pior ainda: não conseguir limpar a própria bunda. Para mim, é nota de corte na hora de decidir se quero ou não continuar vivendo. É o último bastião de dignidade, quando ele se vai, se vai junto a esperança de uma existência digna. Critério para definir se quer continuar vivendo: conseguir limpar minha própria bunda. Mas, como dignidade não é uma possibilidade nas opções de hoje…

Ter alguém limpando sua bunda é de fato muito ruim e humilhante, mas ao menos pressupõe que seu grau de inutilidade seja tão elevado, mas tão elevado, que te deixa totalmente incapacitado. A humilhação se mistura com a pena e a coisa entra na esfera da incapacidade. Já conseguir limpar a própria bunda e ter plateia me parece muito pior: é humilhação pura, sem qualquer atenuante. Um mero espectador desse momento ridículo e horroroso do nosso cotidiano é injustificável, se é para participar, que seja como protagonista.

No rol das humilhações, acho que a danação completa é redentora. Ultrapassado um ponto de desgraça, a humilhação tende a ser menor, mitigada pela compreensão da inexigibilidade de algo diferente. O que é mais humilhante: se cagar nas calças em público por causa de um peido mal calculado ou se cagar nas calças em público por causa de um AVC? Lembrando sempre que o tema não é “o que você prefere” e sim o que é MENOS HUMILHANTE, ok?

Quando a pessoa protagoniza o momento com você, ela entra junto na humilhação, o que, a meu ver, diluí o sentimento. Quando a pessoa é mera espectadora, a humilhação está toda em quem se limpa e ainda é potencializada pela plateia. Quando quem está envolvido na cena o está como cúmplice, alguém que também foi colocado em situação de humilhação, atenua a sua humilhação e reduz drasticamente as chances da humilhação se alastrar e/ou ser motivo de chacota. Quando a humilhação tem apenas plateia, bem, nada de bom pode vir daí.

Se alguém tem que limpar a sua bunda, estão todos no mesmo barco. Sem trocadilhos: quem precisa ter a bunda limpada e quem precisa limpar a bunda de alguém estão igualmente na merda. Mas quando alguém apenas presencia você limpando sua bunda, essa pessoa continua digna (apenas terá más recordações), enquanto você é o bosta que limpou a bunda na frente de outra pessoa. Em situações de humilhação, eu acho menos grave ter cúmplice do que ter plateia. É menos humilhante quando é dividido: 50% da humilhação para cada um.

Se for para estar na merda, se é para passar vergonha e humilhação, que seja acompanhado! Sim, eu sou mesquinha. Sim, eu sou escrota. Ter outra pessoa o fundo do poço comigo atenua meu fundo do poço, joguem pedras! O que seria menos humilhante: sair na rua pelado sozinho ou sair na rua com outra pessoa pelada?

Fora o fato de que quem está envolvido no processo, imbuído dessa missão pouco agradável, não vai ter muito tempo/cabeça/disposição para focar nos detalhes da cena. A pessoa está ali a trabalho e certamente quer que aquilo acabe o mais rápido possível. Não só isso, ela também precisa de foco para desempenhar seu trabalho bem feito, afinal, se ela não o fizer, a maior prejudicada vai ser ela. Entrar em contato com a merda alheia é algo que ninguém merece.

Logo, o fato da pessoa estar focada no trabalho em si e não na cena me parece gerar um grau de compartimentação e abstração que atenuam a humilhação como um todo. Quem é mero espectador pode dispor de toda sua atenção para analisar a cena, em seus mínimos detalhes. Melhor não, não é um momento em que eu queira a plenitude de olhares voltados para mim.

Quais são as chances de alguém que limpou sua bunda alardear isso? Poucas, afinal, acho que é ainda pior para quem limpa do que para quem recebe a limpeza anal. Mas… Quais são as chances de alguém que apenas te viu limpar a bunda alardear isso? Pois é, um tratamento discreto à ocasião também cai muito bem.

Já que a humilhação é inevitável, que ao menos ela seja o menos detalhada e alardeada possível. Que tenha um caráter funcional que tire o foco para a cena em si. A dignidade sucumbirá de qualquer maneira, então, que seja de uma forma que resguarda mais a pessoa humilhada.

Para dizer que a gente tem merda na cabeça, para dizer que estava demorando a voltar um tema desses ou para dizer que somos nojentos e só vai voltar amanhã: sally@desfavor.com

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Comments (9)

  • Hahahahahaha…”Eu vou com a opção de alguém ter que limpar minha bunda por mim.”

    Pronto, Somir. Fiz o que você temia. Mas não vou falar nada. Minha boca é um tumulo. Mas, da próxima vez, não dá ideia!

    Certamente, eu ficaria mais constrangido de ser limpado por alguem.

  • Concordo com Somir, é pior que alguém venha limpar por você. Se te virem limpando a bunda alguém está sendo sem noção aí: ou o que viu entrou na hora que não devia ou o cagador foi fazer em público. E como eu não irei na janela limpar a minha, se me virem vou logo perguntar se não limpa a própria e deixa suja. Limpar a própria é normal, um terceiro vir fazer isso não.

  • Não ando comentando tato por aqui, Mas com um tema tão significante não poderia novamente me abster.

    Aqui no escritório sempre discutimos – como adultos que somos – sobre cocô – é um assunto inesgotável.

    Não conseguimos definir qual a situação é pior, mas chegamos num acordo pela situação que chamamos de “A CAGADA PERFEITA”.

    Que seria aquela em que vc caga, e ao olhar dentro da patente, o cocô sumiu. Já foi embora. E ao mesmo tempo, ao se limpar a bunda, o papel sai completamente limpo.

    Longos debates sobre a relação gordura/fibras/pressão do diafragma foram levantadas, mas ainda permanecemos sem um resposta absoluta.

    Se um dia puderem nos ajudar, agradecemos.

    • Isso que você descreveu se chama a “merda fantasma”. Já refleti muito sobre ela. Sim, tem seus pontos positivos: é mais prática, higiênica e tal, mas… ela me transtorna. Eu fico meio confusa me perguntando se eu realmente caguei. Eu caguei? Não pode ser… não existem provas. Entro em uma especie de Matriz intestinal. Sei lá, não sei lidar com isso.

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