
Festa infe… infantil.
| Desfavor | Ele disse, Ela disse | 17 comentários em Festa infe… infantil.
Se você sobreviver tempo o suficiente, é provável que comece a lidar com festas infantis. Mesmo se não tiver um filho, seus amigos e amigas com certeza vão ter. Sally e Somir discutem sobre a etiqueta na hora de responder aos inevitáveis convites. Os impopulares fazem a festa.
Tema de hoje: é aceitável se recusar a ir em festa de aniversário de filhos de amigos seus?
SOMIR
Evidente que é. Imagine que um amigo seu adora jogar futebol e você não se interessa. Se ele te convida para ir bater uma bolinha com ele, vocês são menos amigos se você disser que não é sua praia e passar a vez? Ás vezes é só questão de analisar a situação de forma mais fria e perceber que mesmo nas melhores e mais fortes amizades desse mundo, não existe obrigação alguma de interesses 100% convergentes.
E aí alguém pode argumentar que eu acabei de comparar uma pelada com a coisa mais importante da vida de um amigo ou amiga. Sim. E não. Foi uma comparação sobre atividades: a atividade de ir jogar futebol não é análoga a gostar ou se interessar por futebol. A atividade de ir numa festa de criança não é a análoga a gostar ou se interessar pelo filho do seu amigo. Num mundo ideal, bastaria usar esse argumento e estava tudo resolvido. Mas, obviamente, nada é ideal nessa vida, então, desenvolvo melhor.
Pra começo de conversa, vamos abrir o jogo: a não ser que você tenha a idade-alvo da festa em questão, a festa em si não tem grandes atrações. Uma festa infantil interessa às crianças. Se eu tivesse um filho na idade-alvo e recebesse o convite, compareceria para dar esse momento de diversão para meu filho. Mas como não tenho, minha única motivação para estar lá é ter contato com as pessoas que me são queridas. Pessoas que eu posso ver em diversas outras situações onde elas não estão em função de seus filhos…
O filho do seu amigo dificilmente vai se importar com sua presença, afinal, tem outras crianças ao redor. E, bom para a criança, porque essa é a reação saudável a ter mais crianças ao seu redor. O seu amigo, caso não seja um daqueles bichos que abandona criança e acha que é pai ou mãe só porque mora junto, vai estar com o foco quase que total no filho. Eu tenho sorte de ter amigos com filhos que se importam com eles, então pra mim é muito óbvio que na presença dos pequenos, eles tem outro objetivo ali. E, de boa? Tudo bem. É assim que se faz mesmo. Amigos são importantes, mas desconfie muito de quem não coloca os filhos na frente sempre. Tenho orgulho dos meus amigos com filhos por causa disso.
Então, basicamente, eu só estou lá para comer porcarias e escutar pais reclamando da vida nos segundos livres entre os pulsos dos furacões que batizaram com seus sobrenomes. Sério, que diferença eu faço ali? Amigos que te conhecem (e por tabela os que realmente importam no tema de hoje) sabem que se você não tem filhos, ou se não tem mais filhos na idade-alvo das festas infantis, não está, no presente, no passado ou no futuro, interessado naquele fascinante mundo de seres humanos miniatura.
E tudo bem, porque o que não falta nesse mundo é gente procriando. Pra cada amigo como eu que não tem filhos, eles acham uns dez que tem e topam festas infantis para agradar seus pequenos. A grande vantagem da humanidade sobre outras espécies é a adaptação de funções: cada um pode seguir num caminho e todos trocam informações e serviços entre si. Eu não sirvo para esse interesse deles, mas posso ser importante em outros aspectos. E não há nada de errado nisso. Eu não sou o amigo da festa de criança. Se fosse só essa a minha função naquela relação, ela não existiria mais, né?
Não compreendo essa coisa do “estar presente” a qualquer custo. Ok, pode ser uma prova de amizade ir num programa furado com seus amigos para tornar aquilo menos infernal, mas quando tem crianças ao redor, esse apoio é quase nulo. Vou fazer o quê? Dar cerveja para as crianças e torcer para elas apagarem? Se queria um programa mais sossegado, com certeza não era uma festa infantil que resolveria isso, não? Se meus amigos estão enfrentando algo potencialmente chato, com certeza enxergam muitas e muitas vantagens no processo da paternidade que compensam tudo isso.
Mas eu? Eu não estou no mesmo barco. Só é chato. E sem contar que eu acho o cúmulo do absurdo ficar bêbado em festa com criança, então nem isso para me salvar. E nem comece sobre o presente: a criança de hoje de classe média BAIXA já ganha mais brinquedos por aniversário que nós com mais de 30 ganhávamos por INFÂNCIA. Presentes, a não ser que você consiga investir 4 ou mais dígitos nele, são irrelevantes até para a criança, que na verdade vai cagar pra tudo aquilo e ficar jogando num tablet. E quando eu tiver esse tipo de dinheiro pra dar de presente para meus amigos e seus filhos, que seja algo que não vai ser abandonado num canto porque não é instalável no tablet!
Eu nego e nego, alguns amigos mais insistentes conseguem me forçar às vezes, mas eu nunca tive papas na língua pra dizer que não gosto de festa de criança e que não quero ir. E se ficar chateado por isso, que pena. Amizades sobrevivem tranquilamente a momentos chatos.
Não querer fazer o programa mala não significa não gostar da criança, desejo tudo de bom e se precisar de mim, tem o mesmo valor pra mim que meus melhores amigos e talvez até mais, porque eu sei que eles pagam qualquer preço pelo bem das crianças. Mas, porra, eu não tenho filhos. Não sirvo pra programas de filhos. E isso não tem nada a ver com gostar ou não de nenhum dos envolvidos nessa discussão.
Se não consegue escapar de uma festa infantil sem arranjar uma briga, escape desses amigos! Eu hein.
Para dizer que eu vou ser convidado para todas as festas a partir de hoje, para dizer que nem me queria no seu aniversário mesmo, ou mesmo para dizer que não comemora nem o seu: somir@desfavor.com
SALLY
É aceitável se recusar a ir na festa de aniversário do filho de um amigo seu?
Atenção para o termo: AMIGO. Não colega, não conhecido, não vizinho. AMIGO. Por mais que eu não goste do evento, por mais que eu não seja grande entusiasta de crianças, por mais que eu passe a festa toda pensando “eu podia estar dormindo”, eu não deixaria de ir a uma festa de aniversário do filho de um amigo meu.
Minha presença vai fazer alguma diferença prática? Provavelmente não, na maior parte dos casos nem a criança entende bem o que está acontecendo, mas minha ausência vai fazer diferença sim, provavelmente vai acabar magoando uma pessoa que me é querida e que, erroneamente, como todos os pais, pensa que seu filho é a coisa mais maravilhosa, inteligente e intressante do mundo. Não é. Crianças são todas iguais e evento de criança é sempre um saco, mas não serei eu a dizer isso.
Não gostar de um evento não é motivo para se recusar a ir no evento, ao menos não na vida adulta. Certos eventos desagradáveis precisam ser enfrentados, para não causar dano ou mágoa a pessoas queridas. Faz parte da vida adulta se sujeitar a coisas que não gostamos muito. Você gosta de hospitais? Você gosta de velórios? Suponho que não, mas quando é para dar apoio a uma pessoa querida, você vai (ou deveria ir).
O mesmo vale para festa de criança. Uma festa onde não vai ninguém é algo extremamente deprimente. Nem sempre vamos a festas por gostar delas, muitas vezes vamos para prestigiar o evento e, em um esforço conjunto de pessoas, evitar que ele seja um fracasso deprimente. Amigo é para essas coisas, ser amigo só nos momentos que te dão prazer não é amizade. Se, para seu amigo aquilo é importante, tem que ir, foda-se se você gosta ou não, é assim que se cultiva amizade, ou qualquer relacionamento.
Além disso, seu amigo está passando por um momento que, para ele, é muito importante. É normal e esperado que as pessoas queiram dividir os momentos importantes da sua vida com amigos. É inerente à amizade. Eu acho casamentos um saco, festas de formatura um tédio e festa de criança incentivo ao suicídio, porém, faço um esforço para estar presente quando estes eventos tem importancia na vida dos meus amigos, assim como eles se fazem presentes nos momentos que são importantes para mim.
Então, a pergunta de hoje não é sobre querer. Repito: a vida adulta significa fazer um monte de coisas que não queremos, por um bem maior. Aí cabe a você escolher o que vai sacrificar: tem gente que atura festa pau no cu da empresa para tentar uma promoção, eu prefiro canalizar meus esforços para cultivar minhas amizades verdadeiras.
“Mas Sally, a criança não vai nem lembrar se eu estava lá ou não!”. Concordo. Vou além: a criança provavelmente não vai nem lembrar da porra da festa, é dinheiro jogado no lixo por pais que em vez de prover mais conforto para o filho gastam dinheiro em um evento para ostentar algo que a criança nem entende e, que no final das contas, deixa a criança cansada, irritada e com sono. Porém, você está lá pelo seu amigo, não pela criança. Além disso, estes eventos são imortalizados em fotos e, quando esta criança for adulta, terá um peso ver o Tio Fulano presente em todos os seus aniversários.
Esta é a palavra: presença. Em um mundo virtual, digital e à distância, estar presente é o maior bem que você pode fazer a alguém. Acredito muito na importância de estar presente para as pessoas que você ama. Não é enviar um presente, não é dar um telefonema, não é deixar recado em rede social. É estar presente. Nada substituí o estar presente, ajudar, celebrar olho no olho. Sua obrigação de amigo é estar presente, menos do que isso não é amizade.
Além disso, não é incomum que aconteçam imprevistos nesse tipo de evento. Um amigo para ajudar, para ir comprar mais gelo ou até para quebrar um barraco com a casa de festa é sempre bem vindo. Promover uma festa sabendo que você tem uma safe net no seu entorno para te ajudar em caso de necessidade ou até dividir tarefas é muito menos desgastante. Pode ser que não aconteça nada, mas também pode ser que aconteça tudo. Como não temos bola de cristal, nos resta estar lá, prontos para colocar a mão na massa caso seja necessário.
Meio egoísta só estar presente para aquilo que você gosta ou que você considera importante, não acha? Amizade pressupõe respeitar e celebrar as diferenças. Se observar formigas no chão da varanda é algo super importante para um amigo meu e ele me chama para participar, eu vou, e vou contribuir com o que puder. É sobre ele e o que ele quer celebrar, não sobre mim. O olhar deve ser voltado para ele, não para mim. Por isso a sociedade está a grande merda que está, pessoas só olham e validam suas próprias necessidades. Não quero me comportar assim.
Acreditem, não existe forma possível de dizer a alguém que seu filho te é extremamente desinteressante sem magoar. Já tentei, de tudo quanto é jeito, em tudo quanto é contexto. Infelizmente pais superestimam e supervalorizam seus filhos. É uma cegueira biológica inevitável e incombatível. Aquela criança feinha e burrinha é a oitava maravilha do mundo, faça as pazes com isso e aplauda a criaturinha, caso contrário vai magoar seu amigo e até estremecer a amizade. Vá na festa, participe, ajude. É esse seu papel de amigo. Certamente seu amigo também te acompanhou em eventos que não eram os favoritos dele.
E, para terminar, um plus de uma mente gorda: comida de festa de criança é uma delícia! Qualquer evento fica menos merda quando tem coisas gostosas para comer. Encha a cara de comida e esteja lá para o seu amigo!
Para se perguntar para toda a eternidade se eu só estou indo na sua festa para comer, para dizer que seus amigos já desistiram de te convidar ou ainda para tentar me convencer que seu filho é a coisa mais linda e interessante do mundo (não é): sally@desfavor.com
Sally, você é um grande exemplo de “ateu com caráter”, contrariando a idéia equivocada que a crença em deus é determinante para a moral.
O que norteou sua resposta foi o altruísmo, a abnegação, o sacrifício. E é mais ou menos nesta linha que exponho minha opinião. Sair um pouco do meu universo umbigo e pensar no outro.
Tá raro isto hoje em dia.
Não existe relação sem algum grau de sacrifício, é necessário abrir mão de parte do seu bem estar pelo bem estar do outro.
Eu vou, tomo umas geladas com meu amigo, como uns salgadinhos e vou embora um pouco depois de cantar parabéns. É diferente de ser convidado para um filme iraniano sobre uma criança que perdeu um cabrito e ficou com medo de voltar pra casa. E acho jantar de negócios com cliente muito pior, assim como festa de empresa – que só é boa se você chutar o balde e comer a estagiária… e só é horrível se você fizer a mesma coisa. Em outras hipóteses, é um tédio, aquela conversa de serviço ou de fingir se interessar pela vida pessoal dos colegas de trabalho.
Tem álcool em festa de criança???
Se for a festa de criança “nutella”, feita em buffet, com monitores e almoço completo, tem. Aliás, festa “creme de avelã” é bem melhor do que a “raiz”, pode ter certeza.
pior que tem
Pros adultos, tem. Pras crianças, não.
Eu sou do time dos que vão. Aliás, já fui a muito evento “marromeno” por consideração a quem me convidou. E festa de criança pra mim é sinônimo de comida e bebida gostosas de grátis, como não ir? :P
Eu tenho poucos amigos. Até hoje só uma amiga me perguntou se eu queria ir à festinha do filho dela, eu respondi na sinceridade que não curtia, ela aceitou de boa e nunca mais falou no assunto.
Mas será que ela não ficou magoada?
Estou 100% com a Sally nessa. Nem cogito inventar qualquer desculpa para não ir.
Sally, como vc faz para evitar diálogos sobre filhos? É difícil cortar sem parecer desinteressada, a pessoa pode ficar chateada por achar q não estamos dando a devida atenção para a pessoa mais importante da vida do amigo…
Diga que não pode ter filhos, que é estéril, que nunca vai ter essa alegria. Simule choro. Nunca mais ninguém fala de filho ou criança perto de você.
Eu tendia a concordar com o Somir, mas Sally pontuou algo importante: é amigo. E amigo mesmo sabe se tu gosta ou não de ir em festa de criança. Se não convidou, ok. Se convidou é por que quer que tu vá. Até os pais mais responsáveis uma hora vão cansar e alguém vai ter que passar o copo com água com gás pra eles aguentarem até o fim da festa. No resto do tempo é só aproveita a comilança, como diz a Sally.
Amizade é nos bons momentos e nas festas de criança
Veja bem: se a festa for no padrão europeu, só com crianças e os pais, e você não gosta de crianças, não compensa ir, MAS…. no caso brasileiro, via de regra, festas são um pretexto para convidar todo mundo que você conhece para comer, beber e descansar dos fedelhos, que via de regra estarão sendo cuidados por monitores, em um BUFFET.
Sim, porque hoje em dia festa decente de aniversário é feita em “buffet”, com tudo o que há de bom e de melhor, para convidados, crianças e pais. Se não for num buffet, ou num local onde haja espaço de sobra para as crianças, você e sua cerveja, um conselho: não vá.
Mas não tem que ir pela comida e sim pelo seu amigo!
Eu iria pelo amigo porque sou “de boa” quando o assunto é criança. Parto do princípio de que os fedelhos não são diferentes de nós, apenas não sabem se expressar direito.
Um velho reclamão e uma criança chorona, por exemplo. Ambos estão fazendo a mesma coisa: expressar descontentamento. É chato? Sim, mas a gente também resmunga o tempo todo – só que utiliza lugares mais elegantes para se expressar.
Como a internet, por exemplo.