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Paranormal?

Paranormal?

| Desfavor | | 6 comentários em Paranormal?

Sally e Somir concordam que ainda tem muita coisa no universo que simplesmente não tem explicação. Mas, quando o verbo começa a ser conjugado no futuro, surge a discussão da vez. Os impopulares tentam explicar o inexplicável.

Tema de hoje: existem fenômenos paranormais?

SOMIR

Não. Fenômenos paranormais são por definição os que não podem ser explicados pelo conhecimento científico humano vigente. Mas nós resolvemos disputar um pouco essa semântica: se você quer realmente tratar algo como paranormal, deveria aceitar também que mesmo com o avanço da ciência, ele vai continuar inexplicável indefinidamente. O motivo é simples, se você acredita que um dia vamos explicar, a palavra “paranormal” torna-se inútil, afinal, é muito mais simples só chamar de desconhecido, não? Portanto, que fique clara a discussão de hoje: eu digo que não há nada que não possamos explicar eventualmente, e Sally vai no sentido oposto. Não estamos discutindo milagres, discos voadores ou o pé-grande em específico, e sim o conceito geral.

E não, eu não acredito no paranormal. Não porque acho que já entendemos tudo ou por ter certeza que TUDO o que foge do nosso conhecimento é mentira e pronto. Longe disso, eu me amarro em estudar casos estranhos e fenômenos supostamente sobrenaturais, mas usando um pouco de bom senso para não ter que fugir da realidade para poder apreciar tudo isso. Cético sim, mas empolgado para aprender sobre coisas que não fazem parte do status quo científico atual. Não precisa ser amargo e fechado para rejeitar a ideia do sobrenatural, basta trazer ele de volta para a realidade e descobrir onde isso nos leva.

Complicado estabelecer toda a linha de pensamento num texto curto, mas em linhas gerais, o que eu estou argumentando aqui é que seja lá o quão fantástico um evento seja, ele ainda faz parte do conjunto de leis da física, química e biologia que conseguimos estabelecer estudando o mundo natural. Não tem nada de errado com a ideia do disco voador ser feito de átomos que já conhecemos, ou que seres mitológicos tenham uma fisiologia interna compatível com outras formas de vida conhecida. Num exemplo besta: não tenho nada contra a existência de unicórnios (não me ofendem pessoalmente), mas se existirem, eles cagam.

Mas não perca a animação com o fantástico, a realidade é mais do que capaz de nos fornecer essa sensação: nenhuma religião conseguiu apresentar algo sequer próximo do espetáculo e grandiosidade de uma supernova, por exemplo. Parto de virgem? Qualquer casal adolescente descuidado com as preliminares consegue fazer isso. Transformar hidrogênio em urânio numa explosão visível a bilhões de anos-luz de distância? Isso sim é fantástico. Muita gente acha que pessoas como eu são chatas e sem imaginação por não acreditar no sobrenatural, mas eu argumento é que chato é quem pensa tão pequeno ao ponto de achar a maioria das alegações místicas do ser humano interessantes.

Fantasma? Astrologia? Cura espiritual? Converse com qualquer defensor dessas histórias e eles esgotam as novidades em meia hora. Teorias furadas fugindo do conhecimento científico por medo de serem expostas como não só falsas, como medíocres. Desculpa aí, mas sua religião ou crença não é mais profunda que 50 Tons de Cinza. Sério, é chato, é pequeno… é um bando de macaco pelado discutindo sem parar sobre sexo e medo de morrer, e pior, tentando fingir que não é só sobre sexo e medo de morrer (não se enganem, são temas muito interessantes, mas… SÓ isso?). Em uma hora de pesquisa, a física quântica vai te dar muito mais o que pensar – incluindo possibilidades incríveis sobre a realidade – do que qualquer sistema de crenças místicas humanas. Até porque esses sistemas foram criados por gente que em comparação com o ser humano médio atual eram basicamente retardadas, intelectualmente falando.

O maior engano que eu vejo muita gente cometendo nesses temas é achar que a realidade conhecida é muito pequena para encaixar nossa curiosidade. Baboseira. O mundo real pode ter suas limitações, mas estamos falando de um universo tão vasto para qualquer sentido que você olhe, seja para grandes aglomerados de galáxias, seja para dentro de um átomo, que mesmo com elas ainda sobra conhecimento quase que infinito para ser adquirido. E mesmo as limitações que parecem definitivas hoje em dia como a velocidade da luz podem ser derrubadas no futuro. Cada parede que a ciência quebra abre territórios imensos de novidades.

Embora eu mantenha a ideia que a imensa maioria dos fenômenos ditos paranormais são resultados diretos de ignorância ou má-fé das testemunhas, como vem sendo provado vez após vez desde o começo da vida em sociedade do ser humano, ainda sim sobram muitas coisas que não podem ser explicadas nem por isso. Mas como também é provado pela história da humanidade, as coisas são inexplicáveis até uma ou mais pessoas descobrirem o que está acontecendo. Quando um fenômeno finalmente se torna reprodutível e testável, das duas uma: ou ele encaixa nas teorias vigentes, ou as teorias vigentes são modificadas por causa dele.

NADA quebrou a realidade até aqui. Porque a realidade é o conjunto de informações que temos sobre ela. A realidade sob a tutela do método científico só ficou maior até hoje, porque esse é o objetivo dele. As limitações que temos atualmente não serão as mesmas do futuro. E seja lá o que descobrirmos daqui pra frente, vira conhecimento científico aplicável. Se descobrirmos discos voadores de verdade, ao ponto de ter acesso a um deles para estudo, discos voadores viram realidade rapidamente, e em alguns anos eles se tornam algo tão comum que teremos que fazer campanhas para evitar que as pessoas bebam antes de usar um deles.

Se provarem a vida após a morte, isso invariavelmente chega com um canal de comunicação livre entre os dois estados (vida e morte) e a mágica de tudo desaba em questão de meses, porque se existem, respeitam os mesmos processos físicos que nós (mesmo que tenhamos que rever os nossos no processo). Os mortos vão encher o saco de todo mundo nas redes sociais, vamos ter turistas entre os planos e o Hitler vai ser uma mega celebridade quando se disser arrependido numa entrevista exclusiva no programa da Oprah.

A mágica só existe onde não estamos olhando. Tudo se torna banal com o tempo. A minha fascinação com supernovas pode ser uma bobagem para uma criança daqui a milhares de anos que tem que criar uma para um trabalho escolar da quinta série. O sobrenatural não existe. Porque o que existe é natural. A imaginação continuará imaginação, a realidade continuará realidade. Só te resta escolher para que lado você quer abrir sua mente, tem muita coisa divertida de ambos os lados. Mas, por favor, pare de misturar imaginação com realidade, as pessoas se matam por isso e ninguém aprende nada.

Para dizer que preferia discussões sobre papel higiênico, para dizer que sua fé não é chata, ou mesmo para dizer que eu devo ser uma pessoa muito limitada por querer conhecer mais: somir@desfavor.com

SALLY

A pergunta de hoje é simples, mas exige algumas explicações para que vocês entendam exatamente do que estamos falando: Existem fenômenos “paranormais”?

Não pretendemos dar nomes, explicar ou provar nada. O que se pergunta basicamente é: existem fatos ou acontecimentos que não são e não serão explicáveis pelas leis da física ou pela ciência que regem o Planeta Terra?

Sim, existem. Não tenho a menor pretensão de classifica-los ou explica-los (espíritos, fantasmas, extraterrestres, um poder oculto do nosso cérebro, pouca diferença faz). Existem coisas que a ciência não explica, até porque, a ciência foi criada pelo serhumaninho, essa coisa limitada.

Sim, seria mais seguro, mais confortável, acreditar que a resposta para tudo está nas nossas mãos, se não descoberta, passível de ser descoberta um dia. Pois, adivinha só? O universo é gigantesco, infinito e muito variado. Desculpa aí, coleguinhas humanos, mas nós não temos a menor condição de ver, entender ou explicar tudo com base na ciência. Existem coisas que só são sentidas e explicadas a partir de outros lugares, que provavelmente nós não conseguimos nem mensurar.

E não se trata de estudo, empenho ou tecnologia. O cérebro humano tem um limite, o que passa desse limite não pode ser compreendido, aventado, explicado e muitas vezes sequer percebido. É como querer enfiar em um computador algo que ele não tem processador ou memória para rodar: simplesmente não vai ler. Temos uma limitação física, que é a capacidade do nosso cérebro, qualquer coisa que ultrapasse isso não está passível de compreensão. E achar que em todo o universo nada, absolutamente nada, ultrapassa a capacidade do nosso cérebro é meio ilusório.

Uma vez assisti uma palestra de um físico que dizia que um dia se provaria que o ser humano é o retardado do universo: a espécie mais tosca, mais involuída e mais burra. Metade das pessoas levantou e foi embora ao longo da palestra. Mas não foi embora de boa, foi embora puta, ofendida. O cara tinha zero provas, mas bons argumentos. Ainda assim, as pessoas saíram mexidas, doídas, incomodadas, se recusando a acreditar.

Temo que este texto de hoje tenha um efeito parecido. O que eu estou te dizendo é: não, você não pode saber tudo. As regras, ciências e cientistas do seu planeta não podem saber e explicar tudo do universo todo, a infinidade do universo vai muito além de um planetinha azul. Existem coisas sobre as quais nenhum de nós tem controle e provavelmente nunca teremos. Escroto, né? Muito escroto. Dá medo em um primeiro momento, mas é libertador após uma segunda olhada mais cautelosa.

Admitir que existam outros sistemas de pensamento, outras ciências, outras físicas, outras formas de funcionar é libertador e muito interessante. Pretender que um universo inteiro seja regido apenas pelas leis da física e química que nós, humanos, piolhos do planeta, resolvemos convencionar, é um pouquinho arrogante. O universo não está nem aí para o que a gente convenciona, cedo ou tarde todos nós vamos aprender isso, no amor ou na dor.

Se deparar com algo “paranormal” é assustador, somos criaturas condicionadas a só sentir segurança quando temos controle, o que é uma grande besteira, pois, em última instância, quem é um pouco mais observador já deve ter percebido que controle é uma ilusão e que não temos controle de porra nenhuma.

E quando falo em “paranormal”, não me refiro a algo anormal, afinal, se aconteceu é normal e não paranormal, me refiro apenas a algo que não sabemos explicar. Coloquem a mão na consciência e me digam se, em todos estes anos de vida, vocês nunca se depararam com um algo que não conseguiram explicar? De onde vem essa certeza toda de que um dia a ciência vai conseguir explicar isso? Do medo, só pode. Não há o menor indício de que um dia a ciência consiga explicar tudo. E tá tudo bem, a verdade é que não precisamos ter explicação para tudo.

Quem precisa de explicação para tudo acaba criando/encontrando explicação para tudo a qualquer preço e tendo a visão turvada por essa necessidade. Encontrar explicação para qualquer coisa é fácil, todo mundo é capaz de tirar uma explicação da cartola e, quem precisa dela, fatalmente vai acabar aderindo. Converse com um terraplanista que você vai ver. O difícil é conseguir ver o que é real em meio a alegorias que utilizamos para sentir mais calma e segurança.

Só quem não precisa de explicações, só quem não se coloca na crença falsa de que a ciência explica tudo, estará verdadeiramente aberto e apto para filtrar se há ou não explicação para eventual “fenômeno paranormal”. Só quem tem a segurança de dar um ok e deixar em aberto, sem a necessidade de explicar, catalogar e entender terá a imparcialidade para olhar a questão sem se contaminar com o que sua própria mente tem de crenças e mecanismos (Efeito Pigmaleão).

Eu sei que é muito mais legal acreditar que a raça humana sabe tudo, explica tudo, se não hoje, em um futuro. Que é questão de tempo para que tenhamos todas as respostas e as explicações. Mas… olhe à sua volta. Olhe para o ser humano. Te parece verdade? Você acha mesmo que este ser humano que vemos, que sabemos o rumo que está tomando, é desta fodasticidade toda? Não é não, gente. Tem coisas que não sabemos, não entendemos e nunca vamos conseguir explicar pelas nossas regras, pela nossa ciência.

O curioso é que quanto mais conhecimento um ser humano tem, mais ele se posiciona nesse sentido. Não creio que vocês encontrem uma mente científica pensante atualmente que diga: “Nós podemos explicar tudo apenas pela ciência, se não hoje, no futuro. Tudo se resume às nossas regras”. Muito pelo contrário, cada vez mais neurocientistas, físicos e gente “da ciência” deixa a questão em aberto, principalmente depois do pau que levaram com a Física Quântica, sambando na cara de todas as regras que existiam.

Não sabemos tudo. Não há indícios para afirmar com certeza que um dia saberemos tudo, explicaremos tudo, conheceremos tudo. Pode sim acontecer de coisas ficarem sem explicação pelas regras que temos hoje. A ciência humana não é essa Coca-Cola toda, sinto muito informar.

E tá tudo bem, explicações são muletas para nos ajudar a sentir que estamos no controle, quem realmente pensa de uma forma fora da caixinha, em profundidade e fora do medo, não precisa delas.

Para perguntar se eu estou usando drogas, para dizer que esperava este texto do Somir ou ainda para dizer que você precisa sim de explicação para tudo: sally@desfavor.com

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