Contatos imediatos.

Chegou a hora da “verdade”: você está sozinho(a) e dá de cara com uma presença aparentemente inexplicável. Sally e Somir preferem não serem incomodados por estranhos, mas discordam sobre a natureza desse encontro. Os impopulares manifestam suas opiniões.

Tema de hoje: o que seria menos pior, encontrar-se com um fantasma ou com um alienígena?

SOMIR

Entre fazer contato com um ser vindo de outro planeta dotado de conhecimento incrível ou uma entidade medíocre que faz barulhos estranhos de noite, pra mim a escolha fica bem clara. Eu detestaria gastar minha cota de contatos com o desconhecido com um fantasma… se eu quisesse falar com gente genérica, eu andaria mais de ônibus. Um ET é de longe a melhor escolha aqui.

Se conseguiu viajar até outro planeta, deve ter aprendido muita coisa bacana nesse caminho. Deve ter uma visão muito mais expandida da realidade e pode te ensinar muito. E se você tem medo de alienígenas malignos, pense melhor: as histórias que contamos na ficção de seres de outros planetas que vem para a Terra nos fazer mal são baseadas em conceitos nossos de invasores militares. ETs de filme são só uma roupa diferente para as guerras que tivemos aqui. Nem faz sentido: a Terra não tem nada de especial em questão de recursos, todos os elementos que existem aqui estão disponíveis em extrema abundância no resto do Universo.

Desde ouro até água, tem em tudo quanto é canto. E não precisa atacar ninguém para pegar, está lá, flutuando sem dono para qualquer lado que se olhe. Vida? O simples fato de existir um alienígena já abre a porteira para a existência dela fora da Terra. E se existem dois planetas com vida confirmados, vão existir outros bilhões ou trilhões. Ou somos únicos e não existem alienígenas, ou não somos, o que quer dizer que não tem NADA que valha a pena roubar daqui.

Evidente que podemos ter dado o azar de encontrar com um alienígena psicopata, mas não é muito provável que tenham mandado um com essa personalidade por bilhões de quilômetros para enfiar coisas na sua bunda. Não é impossível, mas é bizarro que seja sua primeira presunção ao lidar com alienígenas. Nem a sua bunda é tão importante assim. Para alcançar um feito como uma viagem interestelar, uma civilização precisa de conceitos como cooperação e um mínimo de ética. Você provavelmente estaria lidando com um astronauta deles, treinado exaustivamente para o momento, ou mesmo um cientista fascinado pela sua existência. Lembrando que do ponto de vista deles, estão estudando chimpanzés ou algo ainda mais atrasado. Você sequer é uma ameaça.

Já um fantasma? Mais do mesmo. Uma pessoa tão limitada como nós cuja única diferença é ter morrido antes. Levando em consideração a produção cultural atribuída aos desencarnados até aqui, não parecem mais brilhantes que o brasileiro médio. Eu honestamente tenho medo de existir vida após a morte, porque parece que você fica eternamente preso na mediocridade. Talvez se o espiritismo fosse mais forte na Alemanha, tivéssemos alguns avanços científicos bacanas vindos do mundo dos mortos, mas como basicamente só brasileiros e indianos acreditam nisso, ficamos nesse limbo intelectual. Está na cara que não vai sair um Nobel dali, não?

Mas escrotices à parte: eu tenho menos medo de pessoas inteligentes, porque dá para se comunicar direito com elas. Se o Universo vai me permitir um contato desse tipo, por favor, que seja com alguém que possa me acrescentar algo e não ser só mais uma conversa com gente sem estudo, porque dessas eu enjoei há décadas.

E olha que eu estou concedendo bastante só de considerar a existência de fantasmas. Embora certeza seja impossível pela natureza da realidade na qual vivemos, já deveríamos ter aprendido que algumas coisas são mais prováveis que as outras, não? Fantasmas e vida após a morte em geral são conceitos que só dependem de estudos realizados aqui mesmo no planeta Terra. Estamos falando de humanos que já morreram e que por algum motivo, ainda fazem contatos com os vivos. Já no caso dos alienígenas, temos um universo incompreensivelmente grande e mecanismos de existência que já foram provados.

Explico: para um fantasma existir, precisamos aceitar que milhares de anos de estudo de seres humanos vivos realizados na Terra não conseguiram provar absolutamente nada, e ainda sim acreditarmos que eles existem. Quando falamos de alienígenas, precisamos aceitar que não tivemos acesso a uma fração de fração do Universo ainda, e nos basear no fato que a vida existe aqui para presumir sua possibilidade ao redor de trilhões de outras estrelas. Embora não seja impossível que sejamos a única forma de vida inteligente que existe, é muito pouco provável.

Seguindo essa lógica, eu temeria pela minha sanidade caso encontrasse um fantasma. Não que quem os veja e interaja com eles seja necessariamente maluco, mas uma pessoa como eu que não é sugestionável ao tema provavelmente estaria tendo um episódio alucinatório bem severo. Se você cresceu acreditando em fantasmas e lida no dia a dia com outras pessoas que acreditam, é um processo até que normal do cérebro gerar essas aparições. A ideia de fantasmas é um “bug” cerebral causado pela nossa noção de empatia: já expliquei várias vezes aqui que como não podemos entrar na mente do outro, imaginamos essa pessoa para poder interagir com ela. Toda vez que você tenta imaginar como uma pessoa conhecida vai reagir a um fato, está vendo um fantasma. Aquela pessoa só existe na sua cabeça. É inclusive a mesma explicação mecânica de deuses e religião em geral.

Sério, imagine uma pessoa que você conhece de pé logo atrás de você, fora da sua visão, e imagine o que ela diria. Conseguiu? Isso é um fantasma. Você faz quantos quiser enquanto está usando só a mente consciente, imagine o que o inconsciente pode fazer com a mesma matéria prima? Se você acredita que fantasmas existem, não é tão terrível assim ver um, você está vendo algo que acha ser real mesmo. Mas, se como eu, você entende de verdade esse processo, é sinal de problema mental sério: a linha entre realidade e imaginação desapareceu, como se você tivesse usado drogas pesadas. Não me atrai a ideia de um cérebro deteriorando.

Já o alienígena, por mais improvável que seja, ainda pode ser realmente um outro ser vivo que veio de muito longe. Muito embora eu aposte que virtualmente todas as aparições físicas de ETs sejam resultado do mesmo processo mental. Pega aquela pessoa que você imaginou agora de pouco e coloque mais dois braços nela: foi fácil, né? Na imaginação não existem esses limites. Pode ser um humano ou um baixinho cinza com olhos grandes com a mesma facilidade.

O que importa é que no final das contas, na rara possibilidade de ser mesmo algo real, o ET vai ser bem mais interessante. Fantasma só escreve livro de auto-ajuda, eca.

Para dizer que hoje eu estou especialmente arrogante, para dizer que me imaginou te enchendo o saco, ou mesmo para dizer que viu um papel se mexendo uma vez e todo meu argumento é inválido: somir@desfavor.com

SALLY

Um minuto de silêncio, para agradecer ao Somir por nos esclarecer o que existe e o que não existe no universo. O que é verdade e o que é ilusão. Parabéns por tantas respostas e tantas convicções.

Dito isto… Que encontro seria “menos pior” ou menos assustador para você: um encontro com uma pessoa morta ou com um ET?

Importante: a pessoa morta não será conhecida, será alguém randômico. Além disso, em ambos os casos você estará sozinho no momento do encontro e não conseguirá provar isso para ninguém.

Eu sinceramente prefiro encontrar uma pessoa morta, pois, apesar de estar morta, ao menos eu sei as regras de conduta que regem as relações humanas. Além disso, se está morta, me parece menos provável que tenha potencial para me fazer algum mal, uma vez que não possuí mais matéria.

Não me atrevo a dizer o que existe o que não existe, o que é verdade, o que não é verdade, muito menos a explicar um encontro com uma pessoa que já morreu ou sequer atestar que a morte de fato existe como a concebemos. Não sabemos muito a esse respeito. Quando não tenho certeza sobre o que falo, prefiro deixar em aberto.

Então, não vou entrar no mérito se seria uma manifestação paranormal, normal, uma ilusão da minha cabeça ou o que quer que seja. Eu não sei. É simples assim. Eu não classifico o que eu não sei, pelo simples motivo de não saber. Me falta informação, conhecimento e vivência para fechar um evento em uma classificação e felizmente não preciso mais disso. Fica em aberto.

Estamos falando sobre possibilidades aqui, não certezas. Um encontro com uma pessoa morta ou com um ET são um encontro de Schroedinger: tudo pode acontecer quando a hora chegar. Há um universo de possibilidades. Como eu tenho mais informação sobre seres humanos do que sobre ETs, isso me faz pensar (e sim, pode ser que eu esteja errada, são meras possibilidades) que eu performaria melhor em um encontro com uma pessoa morta.

Tudo pode acontecer, mas as chances de que eu compreenda e interaja da melhor forma possível me parecem pender para um encontro com um “espírito” (não gosto do termo, mas me falta outro melhor). Pode não ser um humano, mas um dia já foi, já teve a vivência de ser o que eu sou e entende minhas reações e intenções.

Esse facilitador na comunicação, essa “empatia” pelo fato do interlocutor saber o que você é e como se sente, podem tornar o encontro menos traumático. Pode ser muito assustador para quem tem a certeza fechada de que não existe qualquer tipo de vida após a morte, pois ruiria com todas as suas certezas, mas, felizmente, de uns anos para cá fui limpando a minha mente e aprendendo a não ter certezas. Então, estou aberta para o que aparecer, sem apego às minhas crenças. Isso, meus amigos, se chama liberdade.

Provavelmente ambos os encontros despertariam alguma inquietação, não por ver certezas ruindo, mas por uma dificuldade em me comportar diante do desconhecido. Acredito que essa dificuldade seria menor ao conversar com alguém que já foi humano um dia, a comunicação me parece mais fácil e o entendimento das intenções do outro também.

É como se eu tivesse que falar com um brasileiro que não mora mais no país há muitos anos ou falar com um chinês. Por mais que o brasileiro não tenha mais referências do Brasil atual e esteja afastado do país faz tempo, por mais que ele mal lembre do idioma, certamente seria mais tranquilo interagir com ele do que com um chinês que não tem qualquer noção de nada relacionado aos meus hábitos, costumes e cultura.

Garante alguma coisa? Nada, absolutamente nada. Como eu disse, estamos diante de um universo de possibilidades. Pode ser que o ET te dê uma flor e o morto tente te matar. Porém, eu acredito que há mais possibilidade de um final feliz quando eu consigo de alguma forma me comunicar com o outro lado.

Dentro da minha limitada experiência o que eu consigo depreender é que o resultado final de um contato depende da capacidade de comunicação e entendimento entre os envolvidos. Vale para tudo que eu conheço até hoje, desde um assalto até redes sociais. Se houver uma chance de dar um desfecho positivo, está na comunicação entre os envolvidos. Posso estar errada, mas, por hora, é o que a minha vivência me diz, portanto, é nisso que eu apostaria nesse evento.

Não é uma proposição que tenha uma resposta “certa”, não se pode ter certeza alguma. Talvez você, pela sua vivência, chegue a outra conclusão sobre qual seria o encontro “menos pior”. Talvez você, pelas suas características ou por suas habilidades, acredite que seria mais agradável um encontro com um alienígena. Só, por favor, não bata o martelo sobre o que existe e o que não existe, sobre o que é real e o que é ilusão.

Mente aberta, vai por mim, vai te poupar de muito sofrimento, medo e tropeços na vida. Quem tem certezas, quem cria cercas delimitando o que é e o que não é, se limita junto. Não viva num cercadinho, independente de escolher encontro com morto ou com ET.

Para dizer que não quer encontrar nenhum dos dois, para dizer que quer encontrar ambos ou para torcer para que o Somir encontre com um morto e eu com um ET: sally@desfavor.com

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Comments (9)

  • Os maiores pesquisadores sobre reencarnação tipo os psiquiatras Jim Tucker, Ian Stevenson não são nem br nem indianos. É mano, tu não manja mesmo nada desse assunto…

    • Psiquiatra que investiga reencarnação é tipo geólogo que estuda Terra Plana. Periga de eu levar mais a sério o pessoal do terreiro aqui do bairro.

      E a maior população espírita do mundo está no Brasil e na Índia. Busque conhecimento.

  • Eu teria mais medo de um alienígena. Mais inteligente (deduzo que seja, pois chegou até aqui), portanto com mais potencial pra me fazer mal. Sou o contrário do Somir, tenho mais medo de pessoas/aliens/whatever mais inteligentes, pois algo mais inteligente do que eu pode conhecer armas que eu desconheço.
    O fantasma eu posso mandar caminhar em direção às luz, jogar água benta, sal, rezar um pai nosso, chamar um padre, um vizinho evangélico… HAHAHA, acho que teria menos medo e reagiria melhor.

  • Somir vai sonhando que ET evoluído viria pra esse lixo nos ensinar coisas… Se vier é com as piores das intenções.

  • Fantasma o máximo que aconteceria seria eu infartar. Já E.T é um bagulho perigoso, alguns sequestram terráqueos pra transformar em ratos de laboratório. Boo!

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