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A Fundação Oswaldo Cruz divulgou nesta quinta-feira, 10, o novo Boletim InfoGripe Fiocruz. O documento aponta para a elevação do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com testagem positiva para covid-19 na população adulta dos estados do Rio de Janeiro, Amazonas, Rio Grande do Sul e São Paulo. LINK
Você pode ter esquecido da Covid, mas ela não esqueceu de você. E a Copa vem aí… Desfavor da Semana.
SALLY
Seguindo o curso totalmente previsto de sazonalidade, os casos de covid-19 voltaram a aumentar no Brasil. Terceiro ano que, entre novembro e dezembro a coisa começa a piorar, ninguém leva a sério e ninguém assume sua parcela de responsabilidade. Parece o Dia da Marmota, mas com um agravante: em pouco tempo tem Copa do Mundo, uma ocasião em que as pessoas costumam se reunir e se aglomerar.
Eu tenho certeza de que, neste exato momento deve ter gente pensando “mas qual é o problema, eu tomei as vacinas”. O problema é que tem muita criança não vacinada no Brasil, o problema é que idoso, mesmo vacinado, pode não fazer uma boa resposta imune. Se você nunca convive nem com criança, nem com idoso, nem com terceiros que convivam com eles, você pode usar o argumento do “mas qual é o problema?”, caso contrário, não.
Mas, já conhecemos a mentalidade: “Se EU não vou morrer, foda-se, EU não vou me privar de nada”. Esta é a mentalidade filha duma puta de pessoas que se dizem “do bem”, que acham que estão “do lado certo” na atual dicotomia (spoiler: se você aderiu a um lado, você está do lado errado). As mesmas pessoas que vão ficar gritando “Bolsonaro genocida!” se pegarem covid-19 em uma rave, passarem para sua avó e sua avó morrer.
Bolsonaro está de saída. Quem vocês vão culpar quando não for ele o Presidente da República? Por sinal, atualmente, o Brasil dispõe de vacinas, as pessoas é que parecem não terem “tempo” para se vacinar. Metade da população brasileira não tomou todas as doses de reforço que deveria, portanto, está vulnerável às novas variantes. E a vacina está aí.
Por mais que se diga que houve uma campanha difamatória contra essa vacina (que de fato houve), outras vacinas como da pólio também estão encalhando nas prateleiras. No site do próprio governo, a informação oficial é a de que a cobertura vacinal para poliomielite é de 52%. Isso é indecente. Isso é inadmissível. Isso é um completo absurdo.
É culpa do “Bolsonaro genocida”? Uma vacina que não é nova, que todo adulto tomou, que não causou nenhuma controvérsia e, ainda assim, metade das pessoas parece não se dispor a vacinar seus filhos. Será que dá para colocar tudo na conta do Bolsonaro ou o brasileiro é um ignorante/preguiçoso/inconsequente/imbecil?
Durante algum tempo eu pensei: quando as consequências surgirem, vão se arrepender. Mas não. O Brasil foi um dos países com mais mortos por covid e as pessoas não parecem ter aprendido nada. Muito pelo contrário, virou normal ter 50 mortos por dia. É aceitável. É o esperado. “Pelo menos não são mais 4 mil”. E se aumentar para 100, 200, 300, vão continuar achando pouco.
Eu não sei o que foi que morreu por dentro do brasileiro, mas é muito grave. Essa perda da mensuração do que é sério, essa imbecilidade de colocar saúde (da pessoa e dos seus filhos) em segundo plano, essa dessensibilização com doença e morte… tudo inaceitável e, ainda assim normalizado.
E se você tenta pegar as pessoas pelo ombro, sacudir e dizer que nada disso é normal, o errado acaba sendo você. A pessoa que tenta fazer isso é chamada de histérica, hipocondríaca, chata ou coisa pior. Ou seja, as pessoas estão agindo de forma totalmente irracional e autodestrutiva e ainda te atacando se você não escolhe se juntar a elas.
E nada parece ser capaz de acordá-las. O brasileiro não aprendeu nada. Poliomielite não é coronavírus, que em poucos meses mostra o estrago que faz: a paralisia infantil é uma doença que mostra resultados no longo prazo, e eles podem ser incapacitantes e irreversíveis. Além disso, poliomielite não afeta o idiota que escolheu não se vacinar, afeta crianças inocentes que tiveram o azar de nascer em uma família de irresponsáveis.
A responsabilidade é de cada pessoa que não se vacina, que não vacina os filhos, mas também de cada pessoa que fica inerte diante disso: que não fala uma palavra em favor das vacinas, que replica notícia de zap que pode de alguma forma causar hesitância vacinal, que se omite diante de informações que depõe contra vacinas.
Não existe “eu” em pandemia. Ou saímos todos, ou não sai ninguém. E para sairmos todos, todos tempos que colaborar. Colabore como você puder: compartilhando informação que incentive vacinação, tomando os cuidados devidos e não compartilhando conteúdo do qual você não tenha absoluta certeza. Se você convive com crianças ou idosos (ou convive com quem convive com eles), dê o exemplo e se cuide muito, para proteger essas pessoas.
Não adianta ficar apelidando o Presidente e seus seguidores e personificar neles tudo de ruim que acontece. A coisa que eu mais vi na pandemia foi a beautiful people da esquerda ignorando normas de segurança para contágio e depois estes mesmos jogando a culpa de tudo no Bolsonaro. O “minion que não se vacina” é a mesma merda do petista que vai para festa e depois vai visitar a avó. Não tem um mais culpado do que o outro, são todos uns bostas sem consideração que se acham cobertos de razão.
Mas, por algum motivo, só é condenável se for uma postura escrachadamente de direita. Até isso politizaram. Não quer ser um “Minion ignorante”? Beleza, para isso não basta tomar vacina, tem que fazer alguns sacrifícios na sua vida social também. Não vão fazer e vão continuar construindo a narrativa de que a culpa é dos antivax. Parece que convém fingir que não entende como vacina funciona.
Vacina não é para não pegar a doença, vacina é para não morrer dela. E o problema maior, no momento, é o contágio. Contra o contágio a fórmula vocês já conhecem: máscara PFF2 usada de forma correta, higienizar bem as mãos com frequência, não aglomerar, evitar locais fechados, não conviver com quem ainda não está com todas as doses de reforço da vacina se houver risco de expor a pessoa à doença (e se você saiu na rua sem máscara, esse risco existe). Alguém vai fazer tudo isso na Copa do Mundo? Eu duvido muito. E no final a culpa vai ser dos “minions” e do Bolsonaro.
Pode ser que essa nova onda seja pequena e não gera maiores problemas, mas também pode ser que não. Nós não somos capazes de prever como o vírus vai se comportar, nós não somos capazes de prever como, quando e quanto o vírus vai mutar. Então, seria muito recomendável não jogar do lado do adversário.
E seria bem bacana entender, de uma vez por todas, que se dessa vez não deu merda, isso de forma alguma é aval para comportamento irresponsável. E irresponsabilidade vai muito além de não tomar vacina. A vacina é apenas o começo entre uma longa lista de posturas que quase nenhum brasileiro cumpre – mas todos adoram arrotar virtude.
Semana que vem tem FAQ, para manter vocês atualizados dessa provável nova onda.
Para dizer que não quer FAQ, quer Histórias de Vida, para dizer que não entende por qual motivo eu ainda me dou ao trabalho ou ainda para dizer que se acha super cidadão por fazer sua obrigação de tomar uma vacina: sally@desfavor.com
SOMIR
Não se pode dizer que o ser humano não é adaptável: há pouco mais de 2 anos atrás, 50 pessoas morrerem por dia de Covid era uma tragédia, atualmente é só um fato da vida. Nesse meio tempo o brasileiro acabou aceitando essa nova doença e as mortes que ela causa. O preço de usar máscara, tomar vacina e fazer distanciamento social foi calculado em troca do risco da doença e a doença pareceu mais barata.
Por isso que voltamos ao tema. Se você quiser acreditar que acabou e que essa preocupação não faz mais parte da sua vida, não vai faltar gente para concordar com você. A Covid foi para debaixo do tapete e salvo um surto muito violento, deve ficar por lá. Especialmente quando tem algo que esse povo gosta no caminho. Em 2020 todo mundo sabia que vinha algo complicado por aí, mas o Carnaval rolou solto. Em 2022 todo mundo deveria saber que a Covid tem tudo para iniciar mais uma onda, mas a Copa do Mundo vai rolar solta.
Os textos de hoje não são para te deixar em pânico sobre a pandemia, nem nós que levamos ela muito mais a sério do que a média estamos assim. A ideia é relembrar alguns pontos básicos que já “saíram de moda” e não deixar a baboseira política passar por cima de lógica básica de saúde de novo.
Usar uma máscara não é se posicionar politicamente, tomar vacina não é escolher entre Lula e Bolsonaro… eu sei que a maioria de vocês tem neurônios o suficiente para entender isso, mas no meio da confusão que é o Brasil atualmente, é fácil se distrair e entrar na pilha dos fanáticos. Se você esquecer essa gentalha que fica brigando na rede social, vai perceber que toma cuidado com doenças desde criança.
Em dado momento da sua vida você não tinha problema nenhum em colocar qualquer coisa que visse na boca. Alguém teve que ensinar sua mente infantil a se proteger de doenças, e isso nunca foi uma questão de ideologia, era apenas bom-senso acumulado pela espécie humana depois de centenas de milhares de anos de erros e acertos.
Então, se você tiver que lidar com alguém que chacoalha suas bandeiras na questão de saúde, faça um bem para você e para o mundo não dando trela. Tem uma doença por aí causada por um vírus, depois de muito bater cabeça a medicina achou um jeito razoável de lidar com ela e diminuir imensamente o número de mortes. O resto é gente brigando com moinho de vento.
A gente se protege do coronavírus pelo mesmo motivo pelo qual não tomamos água de poças na rua…
Com o poder do Bolsonaro diminuindo e as tentativas de golpe dando em nada (como avisamos), o brasileiro médio não vai ter mais a desculpa do presidente maluco. O garoto-propaganda da cloroquina fez tanta coisa absurda que acabou servindo como um bode expiatório para os nossos pecados da pandemia. O presidente foi terrível nesse sentido, mas ele não forçou ninguém a ir para a balada e visitar o avô logo depois, né?
A culpa das mortes foi com tanta força para cima de Bolsonaro que aliviou a barra de muita gente que fez coisa errada. Repito que ele falhou em cumprir a atribuição do seu cargo, mas Bolsonaro só tem um. O povo ajudou muito no número imenso de mortes causadas pela Covid. Se estiver vindo uma onda forte da doença de novo, será que dá tempo de colocar na conta só do presidente de novo?
Será que o brasileiro vai conseguir perceber o seu papel nesse problema? Cada merdinha que fizemos na tentativa de conter a Covid pode até não parecer consequente, mas isso acumula. Um governo mediano teria feito a sua parte muito melhor do que Bolsonaro e seus malucos da cloroquina fizeram, mas não teriam impedido mais do que a metade das mortes, mesmo nos estudos mais otimistas.
O brasileiro está dando a impressão que vai fazer vistas grossas para essa nova onda que chega, e muitos deles por um motivo pior ainda que egoísmo: por cansaço de política. Pior porque egoísmo é uma questão pessoal com a qual lidamos desde sempre, mas esse excesso de estímulo político é uma doença mais social, psicológica, uma doença dos tempos modernos que se instalou feito uma infecção oportunista com a Covid.
Então, fica a minha sugestão de estado mental pelos próximos meses: esquece qualquer elemento político da Covid. É um fuckin’ vírus que gosta do seu sistema respiratório e detesta álcool e sabão. Ele se enrosca nas fibras das máscaras na maioria das vezes (não todas, porque seria impossível) e tem uma série de vacinas que ensinam seu corpo a lutar contra ele, não o suficiente para você nem sentir, mas o suficiente para você não acabar num hospital.
Quem te disser que uma doença causada por um vírus é uma questão política é um maluco da porra e deve ser evitado que nem sujeira num machucado. Ninguém vai se aglomerar na Copa para “enfrentar o sistema”, vão apenas fazer algo pouco sanitário porque querem. Biologia é maior que ideologia.
Para dizer que somos exagerados, para dizer que é só o Brasil perder logo que fica tudo bem, ou mesmo para dizer que estamos passando pano pro Bolsonaro (você está doente): somir@desfavor.com
“Mas já superamos a covid!”, dizem por aí.
Se o povo não levou a sério nem quando a coisa estava no ápice, imagine agora então, que “tá resolvido, tem vacina e menas gente morrêno.”
Vc sabia que a maioria dos ônibus do Rio agora tem janelas com trava? Não ligam o ar condicionado nem tem como ventilar e as pessoas ficam prensadas umas nas outras. Por isso que não adianta abrir mão da vida social se vai se foder no transporte coletivo. A administração da minha empresa é de uma burrice extrema, que nos fazem pegar condução pra usar o computador deles ao invés de nos deixar trabalhar em home office.
E a varíola do macaco?
Agora que as eleições acabaram é bem provável que os governos voltem a impôr medidas de contenção. No ano que vem, é garantido que isso vai acontecer.
Mas o Brasileiro Médio já não se importava muito com a doença, pra ele ela objetivamente acabou quando acabaram com a obrigação das máscaras, e vai ser ainda mais difícil, talvez impossível, fazer ele voltar a se importar com ela especialmente porque ele passou um ano sem máscara e sem tomar dose de reforço e não deu nada pra ele.
Quanto à Copa, vai ser um flop monumental.
Não vão, não! Quem trancava as atividades eram os esquerdinhas pra prejudicar o Bozo. Como o Lulinha ganhou, ninguém vai querer atrasar as atividades econômicas do país.
Quem te disser que uma doença causada por um vírus é uma questão política é um maluco da porra e deve ser evitado que nem sujeira num machucado.
A desídia do brasileiro com a própria saúde é impressionante.
Verdade. Ou, como o próprio Somir disse: “O preço de usar máscara, tomar vacina e fazer distanciamento social foi calculado em troca do risco da doença e a doença pareceu mais barata.” E , para mim, o que é constatado nessa frase é simplesmente horripilante.