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Vida lá fora?

Vida lá fora?

| Desfavor | | 2 comentários em Vida lá fora?

Um dos grandes mistérios do universo até aqui é a suposta solidão da humanidade. Num universo tão grande e tão antigo, não deveríamos ter civilizações alienígenas por todos os lados? Sally e Somir discutem a possibilidade, os impopulares fazem contato.

Tema de hoje: qual é a hipótese que você acredita explicar melhor nunca termos conseguido contato com vida inteligente fora da Terra?

SOMIR

Tempo de leitura: dez anos-luz

Resumo da B.A.: olhe, chegar antes da hora parece coisa de alienígena.

POWERED BY B.A.

Eu gosto bastante desse tema, já escrevi alguns textos sobre o Paradoxo de Fermi, e de tempos em tempos vou atualizando minha melhor teoria sobre o tal silêncio cósmico. Hoje eu sou mais do time universo jovem.

E o que seria esse time? Bom, depende de duas presunções: a primeira é que realmente não existem civilizações alienígenas contactáveis e a segunda é que bilhões de anos não são nada de tão impressionante assim, não em escalas cósmicas. Não estou dizendo que é impossível existirem aliens, mas estou dizendo que baseado no que já entendemos, é bem possível que sejamos umas das primeiras espécies capazes de comunicação nessas escalas.

A ideia é que estatisticamente o universo mal começou. Mesmo com a estimativa (bem confiável) de que passamos de 13 bilhões de anos, não é tanto tempo assim. As melhores teorias vigentes sobre a duração do universo capaz de sustentar alguma forma de consciência colocam o limite na casa dos… zilhões. São números que nem fazem sentido escrever aqui, de tantos zeros.

O que talvez te dê algum contexto é comparar com algo que conhecemos: se o universo fosse um ser humano, não passou nem um segundo desde que saiu do útero da mãe. Quase quatorze bilhões de anos é muito para quem mal vive um século, mas é nada nesse nível para o universo. Se você adaptar suas expectativas com esses números, vai começar a entender sobre o que eu estou falando.

A criança nem puxou o ar para chorar pela primeira vez na vida e já está preocupada por não ter uma vida social. Tudo bem que baseados na nossa experiência, bilhões de anos são mais do que suficientes para desenvolver vida, inteligência e tecnologia de comunicação, mas alguém tem que começar. De novo com a estatística: não tem nada de absurdo em estarmos entre os primeiros, nem mesmo de sermos os primeiros. Acertar os números da Mega Sena é difícil, mas alguém faz quase todo sorteio. Coisas com baixa probabilidade ainda acontecem.

Então, podemos ir por dois caminhos nessa história de universo jovem: o de que somos, de fato, os primeiros e não vamos receber comunicações tão cedo. Talvez por bilhões de anos salvo alguma tecnologia que nos permita viajar mais rápido que a luz. E mesmo assim, o universo é grande e a teoria vigente é que está aumentando. Não é impossível que não tenha mais ninguém e que mesmo que tenha, não consigam se comunicar com a gente a tempo de estarem dentro do horizonte cósmico (a ideia de que um universo em expansão eventualmente separa seus pontos mais rápido que a velocidade da luz, por isso há um limite de onde podemos interagir que vai ficando mais limitado com o passar dos anos).

Se somos os primeiros, está explicado por que não temos contato. Ainda não deu tempo de surgir outra espécie capaz de chamar nossa atenção. Eu sei, parece bizarro, mas a matemática faz sentido: contando todo o tempo possível onde o universo pode abrigar vida, a humanidade surgiu muito rápido. O universo piscou, estávamos cutucando a Lua.

Se não somos os primeiros, mas estamos entre os primeiros, isso também explica: não deu tempo dos nossos sinais se cruzarem. Olhar para as estrelas é olhar para o passado. Se estamos vendo agora um planeta fora do Sistema Solar há 50 mil anos luz de distância, estamos vendo sua luz de 50 mil anos atrás. Se alguém visse a Terra dessa distância hoje, teria zero indicações de uma espécie inteligente. Aliás, se a tecnologia dos aliens não for imensamente superior à nossa, há o que se discutir se o ser humano de um dois séculos atrás seria perceptível.

Poderiam ver um planeta com bons sinais de vida, mas não necessariamente algo que indicasse uma espécie inteligente. Isso se a vida no planeta dos aliens for parecida com a nossa e estiverem procurando pelos sinais certos de vida aqui. Sei que isso começa a se misturar com outras opções de respostas para o Paradoxo de Fermi, mas meu foco aqui continua sendo temporal.

Uma espécie alienígena perceptível para a gente teria que ter começado a ser tecnológica e mandar sinais no mínimo quantos anos-luz de distância estão da gente no passado. É bem provável que não tenha ninguém inteligente tentando se comunicar nas nossas imediações, porque já teríamos captado alguma coisa. Mas começa a pensar em distâncias maiores que cem anos-luz (99,9999…% do universo) e já fica difícil saber se tem alguém por perto se estão mais ou menos no mesmo nível de tecnologia que a gente.

Pode ser que ainda no meu tempo de vida consigamos ver alguém inteligente lá fora, pode ser que demore bilhões de anos. Basta que estejamos nos primeiros 1% das formas de vida evoluídas para ter tecnologia para que seja praticamente uma certeza que não deu tempo. E como já disse, contando o tempo possível do universo e o tempo que já passou, estamos absurdamente adiantados até nesse 1%.

Os números sugerem que a gente começou muito cedo, que praticamente toda vida inteligente do universo ainda está para evoluir. Chato ser o primeiro na festa, mas talvez tenha uma vantagem: é a nossa festa. É como se o ser humano fosse uma daquelas raças alienígenas antigas da ficção, que durante quase toda a existência do universo vai ser incompreensivelmente sábia e experiente em comparação com as outras. Não parece agora, eu admito, mas o tempo é o melhor professor.

A verdade pode até estar lá fora, mas ainda está dirigindo.

SALLY

Tempo de leitura: 40 minutos

Resumo da B.A.: é uma coisa linda, assim… na essência.

POWERED BY B.A.

Qual é a hipótese que você acredita explicar melhor nunca termos conseguido contato com vida inteligente fora da Terra?

Não compreendemos ou não escutamos quando eles falam com a gente.

É aquela velha premissa que eu sempre defendo: o universo é grande demais para não ter outra civilização mais evoluída do que o ser humano. É se achar muito especial acreditar que somos a única vida inteligente em uma infinidade de espaço.

E, se existem civilizações mais evoluídas, distância não é um problema para elas. Se não estão entrando em contato é por não querer (um motivo que eu considero mais do que justo, vide a bela bosta que é a humanidade) ou por não conseguir se comunicar.

É muita arrogância acreditar que o único tipo de comunicação que existe é a verbal. Por sinal, a comunicação verbal é primitiva, rudimentar, desperdiça tempo e energia. Não faria o menor sentido que uma civilização realmente evoluída se comunicasse verbalmente.

E talvez o ser humano não tenha inteligência, sofisticação ou aparelhagem para compreender qualquer outro tipo de comunicação. Não me refiro apenas a algum tipo de comunicação telepática, mas a todas as formas possíveis, algumas cujo conceito chega a ser tão diferente de tudo que conhecemos que não conseguimos nem imaginar.

Essa é a minha aposta: tem alguém tentando falar com a gente, mas nós simplesmente não conseguimos nem escutar, nem entender. Não percebemos que tem alguém tentando falar com a gente, provavelmente por não sermos capazes de nos comunicar pelos meios que eles se comunicam.

“Ain Sally, não faz sentido, é meio absurdo que a gente não possa escutar”. Será? Será mesmo? Você consegue escutar um simples apito de cachorro? Não, né? Um animal de quatro patas que lambe o próprio cu consegue escutar algo que você não consegue, será que é mesmo tão absurdo que não escutemos uma civilização mais avançada?

Eu entendo a resistência inicial à ideia de que somos tão inferiores quando comparados a outras civilizações, mas provavelmente é verdade. Olhe para o ser humano. Olhe para o que está acontecendo com a humanidade e com o planeta. Parecemos evoluídos? Nem o mínimo do mínimo da evolução nós conseguimos, o starter pack telepatia e teletransporte. O ser humano fala aos berros e anda de ônibus. Somos uma bosta.

Dentro dessa premissa de que tentam falar conosco e não escutamos eu insiro um desdobramento: será que algumas coisas que acontecem, para as quais não temos explicação, não seriam tentativas de comunicação por outras vias? Talvez, ao perceberem que não conseguimos alcançar modalidades mais evoluídas de comunicação, esses seres podem estar tentando formas alternativas que nossos sentidos consigam captar, mas, mesmo assim, não conseguimos olhar para isso como uma forma de comunicação.

Imagina o diálogo entre dois alienígenas: “Não adianta, Jorge, eles não nos escutam, o que você quer que eu faça? Desenhe?”. “Sim, Cláudio, procura a plantação mais próxima, vamos deixar um recado escrito”. Brincadeiras à parte (duvido que seres inteligentes viagem galáxias para deixar círculos em plantações), talvez muitas coisas que não entendemos ou até que atribuímos outras explicações sejam tentativas de comunicação.

Não seria a primeira vez. Durante muito tempo golfinhos tentaram se comunicar com seres humanos sem sucesso. Apenas recentemente começamos a prestar atenção a eles e compreender que pode existir uma troca. O mesmo vale para grandes primatas e até para elefantes. O ser humano é babaca, ele acha que só existe comunicação da forma como ele a conhece, demora até cair a ficha de que a sua não é a única possível.

Apesar de ainda ser uma compreensão em estado rudimentar, a física quântica trabalha com ideias de outras dimensões. Uma das possibilidades é que seres em outras dimensões não sejam ouvidos por humanos. Seria como frequências de rádio: nós estaríamos sintonizados em uma estação, eles em outra.

E eu nem vou gastar mais linhas especulando explicações, pois provavelmente a explicação sobre o porquê não os escutamos está muito além da nossa compreensão. É da ordem do incognoscível. Maturidade é aceitar que o incognoscível existe e fazer as pazes com isso. Eu como pessoa que abraça a existência do incognoscível, acredito que eles estão por aí, tentando se comunicar e sem sucesso, pensando “que macaco pelado burro, pqp”.

“Mas Sally, se são tão evoluídos assim, por qual motivo não desenvolvem um tradutor ou um adaptador que nos permita compreender o que eles querem nos dizer?”. Justamente por sermos macacos pelados burros. Não valemos o trabalho. Você vai ao zoológico, faça com um mico, o mico não entende, o que você faz: volta para casa e vive sua vida ou dedica seu tempo a criar um tradutor de português para linguagem do mico leão dourado?

É muita arrogância pensar que estamos sozinhos e é mais arrogância ainda acreditar que podemos compreender todo e qualquer tipo de comunicação. Deve ter mais um pessoal por aí, bem melhor do que a gente, que já tentou, mas não conseguiu se comunicar e provavelmente estão esperando que a humanidade evolua mais um pouquinho. Esperem sentados, amigos de outras galáxias…


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