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Resposta violenta.

Resposta violenta.

| Desfavor | | 4 comentários em Resposta violenta.

Oportunidade única: você recebeu um passe livre para dar uma surra em qualquer pessoa viva no mundo. Você não vai apanhar de volta, só vai bater. E mais, existe a garantia de não ter repercussão nenhuma. Importante, vai ser uma surra pública, para o mundo todo ver.

Tema de hoje: nessas condições especiais, você daria uma surra em quem?

SOMIR

Ninguém. Não porque eu não tenho raiva de ninguém nem por achar que ninguém nesse mundo merece apanhar. É porque eu simplesmente não acredito que esse tipo de violência resolva qualquer coisa. Eu me sentiria fazendo algo inútil e passando uma mensagem igualmente inútil para o mundo.

Eu consigo me ver batendo em alguém em determinadas situações, me defendendo ou defendendo pessoas queridas, existe sim algo catártico em sentar a mão numa pessoa ruim, mas pelo menos para mim, isso só funciona no calor do momento. Se tiver que planejar uma surra, a parte do meu cérebro que diz “não vai adiantar porcaria nenhuma” toma conta e eu fico desmotivado.

O ser humano é complexo. Mesmo as pessoas que você acha mais bestiais e limitadas ainda funciona dentro da cabeça com um nível de abstração incompatível com esse tipo de “surra educativa”. O caminho mental não é simplesmente parar um comportamento por causa da dor, é registrar que se for pego fazendo aquilo sem ter vantagem física sobre as pessoas que desgostam do comportamento, vai apanhar.

Nem criança funciona dessa forma direta. Criança que apanha por fazer uma coisa ainda pode continuar fazendo se achar que vai escapar das consequências. Apanhar não apaga os desejos e as memórias da pessoa. O ser humano é complicado mesmo, não é à toa que estamos lidando com os problemas da criminalidade mesmo depois de milênios de sociedade provando que ela atrapalha a vida de todo mundo.

Sociedades que lincham, torturam e mutilam bandidos são as mais perigosas do mundo. Eu monto meu argumento em cima da inutilidade do comportamento porque não existe mais para onde escapar: vamos precisar de mais dez mil anos fazendo isso sem resultado prático nenhum para aprender? Eu também fico puto que exista gente ruim no mundo, mas esse caminho simplesmente não funciona. Não deveria ser nem mais uma discussão. Tentamos. Tentamos sem parar em todo tipo de sociedade em todo tipo de contexto, em todo tipo de ambiente… não funciona.

E talvez não funcione por um bom motivo: não conseguimos coibir de verdade comportamentos negativos para a sociedade só com violência, mas não conseguimos impedir progressos intelectuais também. O espírito de liberdade e igualdade resistiu a milênios de violência e tortura. Chegou no século XXI mais forte do que nunca. O ser humano nunca foi tão humanista em média. Seus bisavós provavelmente apoiavam algum tipo de limpeza ética ou comportamental. Você no máximo fala algumas coisas politicamente incorretas.

O estado mental humano é extremamente resiliente à violência. Muita gente que foi literalmente torturada em ditaduras segurou o tranco e seguiu a vida sem abandonar seus ideais. Ninguém apanha e pensa “puxa, realmente, eu tenho que enxergar a vida por outro ângulo”. Muitas vezes a dor até reforça as ideias originais da pessoa, a mente humana não tem botões de ligar e desligar que você pode apertar de fora.

Eu vou além: nem em bicho violência resolve de verdade. Adestradores profissionais não fazem as coisas com reforço positivo (comida e/ou carinho) só porque tem dó do bichinho, fazem porque funciona absurdamente melhor. Cria um caminho mental no bicho que funciona muito mais vezes e não dá efeitos colaterais em sua personalidade que atrapalhariam o comportamento treinado. É genético, é natural, é óbvio depois que você começa a fazer.

De um ponto de vista puramente utilitário, violência é uma resposta imediata para problemas imediatos. Se você tiver qualquer interesse que vá além de literalmente parar uma ação imediata que considera ruim, bater não é o jeito de chegar no resultado.

“Mas tem gente que só aprende apanhando.”

Não, não existe nem cachorro que só aprende apanhando. Violência impede algo momentâneo, não ensina bosta nenhuma. A mente é programada para dar a volta nesse tipo de opressão, não à toa, conseguimos viver em sociedade. Se pancada moldasse o ser humano, nunca teríamos saído das primeiras tribos. Eu vou além e argumento que considerando quanta violência usamos até hoje para fazer o ser humano “se comportar bem”, está claro que acontece justamente o oposto.

O que mais foi forçado com violência é o que mais dá errado, o que mais foi incentivado com benefícios é o que mais dá certo. Justiça social dá certo em lugares menos brutalizados, as pessoas vivem melhor justamente onde a violência é menos utilizada.

Eu não consigo deixar de ver milênios de história registrada, eu me sinto completamente maluco escolhendo violência para melhorar o mundo, por lógica mesmo. Utilitarismo sem pensamento sobre o que é mais belo ou nobre. Esse tipo de questão para mim é a mesma coisa que perguntar qual o melhor jeito de enxugar gelo. Por que enxugar gelo? O que eu ou você ganhamos com isso? Qual a lógica de repetir um comportamento que dá errado há milênios, vendo todos os dias como dá errado e não conseguem achar um jeito de fazer funcionar?

Eu ainda vou entender que a gente precisa se proteger ou proteger outras pessoas com violência, é claro. Mas sem ilusões de estar construindo alguma coisa com isso. Bater nos outros é só causar dor momentânea, se quiser mudar como a pessoa pensa, tenta enfiar um ferro olho acima como faziam nas lobotomias. Mas mesmo assim, tudo o que você consegue é estragar partes do cérebro sem convencer a pessoa de nada na prática.

Violência como ferramenta de melhoria social é uma religião, e eu sou ateu.

SALLY

Se você pudesse dar uma surra pública, com as suas mãos, tendo a garantia de que deitaria a outra pessoa na porrada com facilidade, sem se machucar e sem represálias futuras, usufruiria desse direito? Com qual pessoa?

Perceba que na nossa proposição mágica (sabemos que ela é impossível, ok? Não precisa sinalizar nos comentários), você não apenas conseguiria bater na outra pessoa sem sofrer um arranhão, como também sairia impune por isso. Apesar de ser contra a violência na maior parte do tempo, vocês estão loucos se acham que eu perderia essa oportunidade.

Hoje, minha prioridade nessa lista seria comer o Putin no cacete, mas calma que a explicação não é tão óbvia como parece.

Eu sei que guerras são complexas, que não tem inocentes, que tem milhões de fatores que eu desconheço. Na real, minha intenção nem seria acabar com a guerra, apesar de todas as atrocidades que estão acontecendo. No meu pequeno cérebro de caroço de uva, estancar o Putin na porrada teria um propósito ainda maior e pedagógico.

Percebam que eu não estou afirmando que meu plano seria bem-sucedido. Eu estou afirmando que na minha pequena cabecinha essa me parece a melhor ideia sobre como eu poderia contribuir com a situação.

Vamos lá: boa parte do pilar de sustentação de poder do Putin reside em sua força, em sua virilidade, em sua imagem de poderoso. Se ele levasse uma baita surra de uma mulher de um metro e meio, essa imagem certamente ficaria tão arranhada quanto a cara dele e isso o enfraqueceria, talvez o suficiente para fazer com que perca o poder.

E, novamente, não busco o fim da guerra. Eu busco que essa bosta que ele fez de simplesmente acordar e achar que pode tomar a casa do vizinho na mão grande entre para a história como algo inaceitável. Se nem a ONU, se nem a OTAN, se nem o mundo se encarregaram disso, eu vou lá cobrir ele de cacete de forma mágica e imprevisível, para que fique de alguma forma registrado que vai ter consequências sim. Para ele e, quem sabe, para os próximos.

Talvez não sofra sanções, talvez não seja preso, mas uma mulher muito nervosa vai chutar suas bolas até arrebentar o conteúdo interno e a pessoa vai precisar de cirurgia para remoção de testículo rompido. Ninguém sabe como, pois, mágica, mas fica esse fantasma pairando: “se eu invadir um país democrático e soberano, essa doida por aparecer magicamente aqui e me espancar como fez com o Putin”. Não é muito, eu sei, mas é algo.

E, com sorte, depois desse espancamento a imagem do Chefe de Estado que fez isso fica destruída. Geralmente esses líderes autoritários e abusivos sustentam seu poder na base do medo, da intimidação, da imagem de força que projetam. E, acreditem, nada nesse mundo desmoraliza mais alguém do que apanhar de mim.

Então, além do desagradável da situação em si, de ser agredido por uma pessoa raivosa e com conhecimento mínimo de anatomia humana para causar o maior estrago, ainda teria um grande arranhão na figura de poder, com grandes chances de desmoralização e perda do cargo. Não pelos meios legais, mas pelo fato dos inimigos (que sempre são muitos e estão à espreita) farejarem fraqueza e resolverem agir.

Nesse mundo da brutalidade, não há lugar para os fracos. O que eu puder fazer para que ditador bruto pareça fraco, para contribuir com sua queda ou morte, vou fazer. E o tema do dia de hoje me parece algo que eu poderia fazer para contribuir. Estou louca? Talvez, e não é de hoje, mas minhas intenções são essas.

Pensa na piscada de cu de ditadores acostumados a todo tipo de proteção e seguranças armados ao perceberem que, do nada, de forma inevitável, pode aparecer uma maluca e comer ele na porrada.

É todo um novo patamar de medo que esses escrotos desconhecem. E como estamos falando de mágica, não teria arma, segurança ou blindagem que me impeça. A pessoa seria forçada a tomar mais cuidado com o que faz, pois nunca saberia se está segura ou não.

No ruim, no ruim, mesmo que saiba que tem um império sólido o bastante para não cair por isso, o sujeito fica com medo pela questão sexual mesmo. O mundo é basicamente sobre isso: sexo e poder. Se eu não conseguir mexer com poder, meus queridos, com sexo eu consigo, pois malho perna há mais de 20 anos.

É bem complicado um homem performar bem sem os dois testículos e é ainda mais complicado salvar dois testículos que foram exaustivamente pisoteados. Não sou homem, mas, pelo pouco que sei a respeito, a maioria dos homens não troca suas bolas por uma conquista territorial. Estar sempre com as bolas em jogo me parece uma premissa bastante eficiente para que pensem muito bem no que vão fazer.

Pode não dar certo? Pode. Eu acho que daria certo, muitos podem achar que não, mas eu gostaria ao menos de tentar. Vale a tentativa. E se um dia você tiver essa oportunidade, que sabemos que jamais vai acontecer, sugiro que faça o mesmo!

Comentários (4)

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