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Droga política.

Droga política.

| Desfavor | | 10 comentários em Droga política.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fustigou indiretamente, nesta sexta-feira (29/8), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) ao ressaltar que o parlamentar “fez uma campanha” contra a mudança na fiscalização do Pix. Segundo o petista, está comprovado que Nikolas “queria, na verdade, era defender o crime organizado”. LINK


Pelo menos o crime é… organizado. Desfavor da Semana.

SALLY

O tema é apenas um fio condutor para um raciocínio maior: o Brasil é um Narco-Estado, todo mundo sabe disso, mas gosta de negar. Estão fingindo que descobriram agora o tamanho e a influência do PCC e estão fingindo indignação. Todo político vai fazer um discurso de combate ao tráfico e vai usar dinheiro do tráfico, direta ou indiretamente em campanha. O Brasil, além de ser uma zona, é uma zona hipócrita.

Ninguém gosta de afrontar o problema, pois os problemas do Brasil são gigantes bolas de neve dificílimas der resolver. Recorde de criança estuprada, com a maioria dos estupros ocorrendo dentro de casa, perpetrado por familiares? Vamos regular as redes sociais, vai ficar tudo bem, não é como se um menino de 15 anos pudesse conseguir um CPF de um adulto no Google e entrar mesmo assim.

O mesmo vale para esse caso: Executivo, Legislativo e Judiciário estão envolvidos até a raiz dos cabelos com o tráfico, aceitam dinheiro sujo deles, atuam em parceria, têm uma relação quase simbiótica há décadas, mas o problema é o vídeo do Nikolas sobre o Pix, que tem data posterior aos crimes e que fala sobre Pix de pequenos valores, salvo engano, abaixo de 5 mil reais para pessoas físicas e 15 mil reais para pessoas jurídicas.

Acreditem, o problema do PCC não envolve Pix de cinco mil reais. Segundo a Receita Federal, só do que eles puderam encontrar, PCC controla ao menos 40 fundos de investimentos com patrimônio de mais de R$ 30 bilhões.

Um vídeo feito pelo imbecilóide do Nikolas em 2025 não pode ter causado crimes cometidos de 2020 a 2024. Um partido que foi flagrando em diversas escutas telefônicas tendo um “diálogo cabuloso” com o PCC não pode culpar um vídeo de 2025 por isso. Mas o briefing já foi lançado e todo perfil que recebe dinheiro do governo está repetindo essa imbecilidade.

A verdade é que o tráfico movimenta fortunas e beneficia políticos de todos os lados, é o braço direito do Estado e qualquer coisa além disso é demagogia. Mas é algo muito doloroso de ser visto ou até mesmo dito. É o tipo de entendimento que, com razão, adoece a alma, provoca depressão, síndrome de pânico.

Então, é menos doloroso encontrar um culpado e uma solução simples. O machismo mata mulheres. As redes sociais é que corrompem as crianças e uma lei que manda botar CPF antes de logar vai resolver isso. Para controlar o tráfico é imprescindível que a Receita Federal controle também o Pix da Dona Maria, que vende bolo de pote.

As pessoas estão em negação sobre tudo, inclusive sobre o tema de hoje, a ponto de acharem que essa “descoberta” envolvendo o PCC é algo pontual e que o PT está combatendo isso. O que nos leva ao cerne da questão de hoje: com esse material humano, o que nos espera? Veremos mais uma eleição nefasta, imprevisível, guerreada e recoberta de mentiras, manipulação e burrice.

As eleições presidenciais serão em outubro do ano que vem, mas a guerra vai começar antes, nos primeiros meses do ano, e vai se intensificando. Isso significa um 2026 de esmerdeio em sua forma mais pura: polarização pior do que nunca, notícias falsas, gente burra proferindo certezas, maniqueísmo, idiotas achando que algo diferencia Lula de Bolsonaro, teorias da conspiração e, é claro, muita violência e agressividade.

Nesse ponto, Somir e eu bifurcamos e pensamos diferente: eu penso que o fator preponderante do voto do brasileiro é a identificação. Um povo é apenas o reflexo dos seus políticos. E, por esse critério, Lula tem vantagem: a maior parte dos brasileiros segue o template Lula:  hipervaloriza o que faz e adora arrotar virtude, se dizer do bem.

Na minha opinião, uma minoria tem o template Bolsonaro: hipócrita, incompetente, julgador, cretino, conservador que leva a amante para fazer aborto em clínica clandestina, que defende bandido morto quando seu filho é muito bandido.

E não estou dizendo que um perfil seja melhor do que o outro, são duas merdas com alegorias diferentes. Apenas me parece que a alegoria do Lula é mais popular em matéria de quantidade, por isso as pessoas tendem a votar mais nele. Tanto é que quem adere a um dos lados não muda de lado sem se você provar que o político de estimação dele é um lixo.

De forma secundária, eu acho que o que influencia em uma eleição é o entorno, a máquina, as influências externas: mídia, notícias falsas, campanha, marketing, etc. Somir pensa o inverso, ele acha que o fator externo será o determinante, enquanto que a identificação fica em segundo plano.

Mas não tem problema, pois todos os caminhos levam a Roma, no final, nossa conclusão é a mesma: não importa quem ganhe, eles vão dividir o bolo entre si e o povo, como sempre, vai tomar no cu. E tomar no cu brigando por aqueles que estão enfiando no seu cu.

Um dos grandes problemas das pessoas que não pensam, seja por adotarem um político de estimação com o qual se identificam, seja pela manipulação que sofrem dos meios externos é que pessoas que não pensam são imprevisíveis. Isso desestabiliza um país. Além disso, pessoas que não pensam, ao contrário dos filhos da puta, são capazes de fazer tanto dano que matam o hospedeiro que elas parasitam.

O cenário não é bom. O comportamento do brasileiro médio indica que 2026 vai ser um ano difícil, com final infeliz. A necessidade de achar um culpado por tudo e uma solução simples que resolve imediatamente problemas complexos vai acabar levando a maior parte dos brasileiros a um voto muito errado, seja pela teoria do Somir, seja pela minha. Comecem a se preparar, comecem a se blindar e vamos trabalhar a sanidade mental, pois 2026 será insuportável.

SOMIR

Foi bem conveniente que a Sally escolheu ir pelo lado de esclarecer por que a fala de Lula não corresponde à realidade. Isso me libera para explorar como o que se passa por realidade no Brasil é efêmero. Você conseguiria imaginar no começo do ano o Lula sapateando na cabeça do Nikolas Ferreira? O Bolsonarismo pegou uma fase ruim com a opinião pública e já vejo muita gente repetindo o discurso do presidente, alguns inclusive que não estão na lista de pagamento da máquina de propaganda petista.

Repito que foi bom a Sally falar do tema em si, porque eu quero falar dos temas que ainda não aconteceram: eu prevejo muito mais reviravoltas entre direita e esquerda, sempre ao sabor da polêmica mais recente. É normal que as coisas mudem, mas junto com essa gangorra de opiniões e versões cria-se a ilusão de que existe algum planejamento mais complexo na política polarizada.

O tal do “xadrez 4D” que virou meme em muitos lugares onde se discute política: a ideia de que seu político de estimação está com um plano brilhante para ganhar a disputa, e que qualquer coisa que pareça um erro na verdade é um truque. Quem acredita nessa teia de intrigas e planejamentos de longo prazo dos poderosos se sente justificado toda vez que a opinião pública parece mudar de lado.

“Tá vendo? Era o plano fazer aquela besteira imensa mês passado porque força o inimigo a cometer um erro ainda maior logo depois!”

Seria engraçado se não estivesse se tornando uma racionalização de incompetência. Ao invés de aceitar que são apenas pessoas tomando decisões estúpidas por descontrole emocional aliado a um baixo QI, é mais confortável entrar na narrativa do jogo de poder. Dá um propósito para toda essa palhaçada.

Tudo bem cometer erros grotescos, porque assim que a gangorra mudar de lado por um erro ainda mais imbecil do outro lado, você justifica como uma estratégia. As “linhas tortas” dos deuses sendo aplicadas em pessoas comuns. Se a pessoa não consegue entender por que seu político age de forma contrária à expectativa que colocou nele, é um plano maior. Pronto.

Tem gente mordendo de verdade a isca de que o Lula “deixou o inimigo agir” no caso do Pix para dar essa invertida na direita. E não ria do amiguinho ainda, direita, assim que o PT estiver por baixo e um bolsonarista conseguir dar uma lacrada para cima deles, é quase certeza que vai virar para achar que a direita jogou sabendo disso e foi tudo de propósito.

Essa forma de inventar ordem no caos de pessoas que só pensam no próprio poder dá um ar de normalidade política no país. Se você se diverte com conspirações malucas e situações imprevisíveis, gente competente e inteligente é a coisa mais chata do mundo. Política de países mais funcionais é entediante, não existem planos mirabolantes nem variação severa de popularidade de um dia para o outro. Ainda tem suas confusões e polêmicas, é claro, mas dá tempo do povo se concentrar em outras coisas entre uma bagunça e outra.

Nikolas fez o vídeo sem nem saber direito o que estava protestando, o povo aderiu por não querer pagar imposto. Lula foi aconselhado a deixar quieto porque ia ser ruim para a sua campanha de reeleição. O pessoal técnico que sugeriu a mudança das regras sabia o que queria fazer, mas o resto entendeu o que era mais conveniente na hora.

A gente aqui ficou do lado rebelde porque não acreditava (e continuamos não acreditando) que Lula e cia. não iam usar brechas para aumentar impostos, seja naquele momento ou depois. Como o presidente segue a cartilha terraplanista de economia, onde aumentar gastos públicos é a resposta para tudo, continuo querendo a Receita Federal longe das milhões de pessoas que se viram na economia informal.

Mas sem ilusão de que Nikolas era amigo do povo ou que fazia parte de um plano maior para salvar o país. O desfavor aqui é que debaixo dessa fantasia coletiva de que existe um plano, as pessoas continuam acreditando que a polarização vai dar certo. Não necessariamente que um dos lados é melhor, porque isso varia por gosto, mas que existe uma batalha do bem contra o mal e que nos resta descobrir qual é o bem.

É uma batalha entre um grupo que quer dinheiro e poder usando táticas populistas com arroubos autoritários contra outro grupo que quer dinheiro e poder usando táticas populistas com arroubos autoritários. E no ciclo de notícias até o minuto do cidadão digitar seu voto na urna, eu entendo que está tudo em aberto. Se a pessoa está esperando votar no bem contra o mal e não está cega por religião ou culto de personalidade, a escolha acaba sendo meio… aleatória.

Hoje quem é o bem e quem é o mal? E no final do ano? E um mês antes das eleições? E uma semana? E um dia? Considerando que existe uma massa de manobra grande o suficiente para decidir quem vence as eleições no ano que vem, e que a ideia de que esses tropeços dos candidatos são enxergados como planos, nem se a direita ou a esquerda passarem meses e meses apanhando do povo significa que não vai ser decidido na hora quem ganha. Porque se a história viralizada da semana pender para um dos lados, o povão pode resolver que tudo o que aconteceu antes ou não importa ou era parte do plano.

É a visão imediatista de que importa a confiança na hora de votar, não o acumulado de suas palavras e ações até ali. Tenho certeza de que até o dia que o brasileiro médio decidir seu novo presidente ainda vamos escrever vários textos falando sobre um lado ou outro usando uma vantagem momentânea para defender as coisas mais cretinas. E que nada disso importa na hora da decisão sobre os quatro anos posteriores.

São pombos jogando xadrez, não xadrez 4D.

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