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Verdade alternativa.

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| Desfavor | | 20 comentários em Verdade alternativa.

Hoje é dia de consulta pública impopular: Sally e Somir discutem sobre uma nova coluna aqui no Desfavor, e querem conhecer as opiniões dos leitores.

Tema de hoje: devemos ter uma coluna só para falar de Teorias da Conspiração?

SALLY

A pergunta é simples: vocês acham que devemos acrescentar uma nova coluna às nossas postagens?

A explicação sobre a coluna é que é um pouco mais complicada. Vamos lá… Eu quero fazer uma coluna para rir de Teorias da Conspiração.

Desde sempre eu tenho fascínio por teorias da conspiração brasileiras, especialmente por como são bizarras. Eu leio sobre isso, pois, além de me divertir, eu acho que é uma ótima forma de entender a sociedade e um excelente termômetro para determinar no que as pessoas estão propensas a acreditar.

Até aqui, eu nunca havia cogitado sequer propor ao Somir escrever sobre elas, pois sempre me mantive fiel a aquela linha de raciocínio de não divulgar de forma alguma o que acho ruim.

Quando você fala mal de idiotas, você dá projeção a esses idiotas e permite que outros idiotas os encontrem, se juntem a eles e a grande manada idiota se torne maior e mais forte.

Porém, os anos passaram e os idiotas conspiratórios conseguiram toda a projeção que podiam e hoje fazem verdadeiras pregações em redes sociais. O estrago está feito. Não será nosso pequeno Desfavor que vai tornar ninguém mais famoso, os brasileiros já se encarregaram disso.

Então, ruiu a trava que me impedia de falar sobre o assunto. Levei a proposta até o Somir que, como de costume, não gostou. Tentei convencer, vender a ideia e o máximo que consegui foi que isso seja trazido a votação aqui, nos comentários. Então, digam vocês se querem este conteúdo ou não.

Teorias da Conspiração são maravilhosas. São uma espécie de Des Contos levado a sério. E as brasileiras são sensacionais: Ratanabá, Lula ter sido trocado por um clone e tantas outras. Gente, é conteúdo de qualidade. Vai por mim, tem muito conteúdo de qualidade.

O plus é: em alguns meses começa a corrida eleitoral. Ano que vem é ano de eleição. Esse tipo de abominação abunda em ano eleitoral, vai ser Mamadeira de Piroca para baixo. É esse o momento, gente. Lembrem que eu faço as imagens das minhas colunas agora, com domínio de Photoshop, meus amigos. Além do texto, teremos conteúdo gráfico de qualidade também!

A quem interessar possa, não vai ser uma cagação de regra de levar a sério e desmentir. Nosso leitor sabe muito bem o que é verdadeiro e o que é falso, ninguém vai ficar desmentindo o óbvio. Vamos rir das Teorias da Conspiração. Sacanear. Fazer infográfico.

“Ain mas vai ter gente que não vai entender”. Vai sim. Sempre vai ter. Se esse for o parâmetro, a gente não escreve mais uma linha aqui. Eu quero que se foda quem não entender, eu não escrevo para o Brasil, eu escrevo para o leitor do Desfavor.

E esse é outro ponto: ano que vem vai ser uma loucura. Ano de eleição tende à insanidade. Eu acredito que mais um alívio cômico vai ser muito bom para o Desfavor e para o leitor.

Será um ano pesado, no qual seremos obrigados a fazer muitas colunas sérias sobre as tretas do país, todos nós merecemos esse momento de descanso e insanidade. Vai ser bom para a gente também dar esse respiro e rir um pouco. Se vocês soubessem como eu tenho ataques de riso escrevendo o “Ei, Você”…

Talvez muito estejam resistentes, como o Somir está, pela raiva que tomaram das Teorias da Conspiração. Percebam, o que dá raiva são as pessoas imbecilóides que acreditam nisso. As Teorias da Conspiração, por si, são divertidíssimas. São curiosas. São fascinantes. Merecem uma análise.

E, como já disse na página anterior, eu acho que uma coluna assim seria um ótimo medidor social. Não é rir da merda pela merda, é justamente o oposto.

Já que seremos expostos à merda de um jeito ou de outro, vamos tirar alguma utilidade disso: 1) rir e 2) entender o que esse termômetro social nos indica. Pelas entrelinhas a gente percebe muito mais do que por aquilo que as pessoas declaram. Acho importante saber em que patamar de danação está oscilando a burrice e falta de saúde mental da população durante um ano tão crucial.

Como sabemos que o ano que vem vai ser puxado e que alarmismo, bombardeio de informação e polarização vai soterrar todo mundo, estamos tentando planejar um ano leve por aqui.

Seguindo a tradição de muitas colunas nossas, começaria com o Des, que indica ao mesmo tempo contrariedade e um prefixo que designa o Desfavor: Des Confia é, ao mesmo tempo, um recado para você desconfiar das bostas que escuta e um recado para confiar no Desfavor. Sim, para um conteúdo gratuito a gente até que se esforça bastante pensando no que poderia ser mais legal para vocês.

Então, basicamente queremos saber se vocês querem. Da última vez que viemos aqui perguntar se vocês queriam algo, vocês ganharam a coluna da Bíblia que, não custa informar, teve resistência do Somir e hoje, ao que tudo indica, ele até se diverte um pouco com ela.

Se você quiser a nova coluna Des Confia, para rir das Teorias da Conspiração conosco, deixa um comentário contando que quer. Se você não quer, deixa um comentário dizendo que não quer. Ninguém é obrigado a justificar nada (mas se quiser pode), só queremos saber se vocês gostariam desse conteúdo ou não. Vamos dar um tempo para vocês votarem e acatar a vontade da maioria.

Quem diria, viver para ver o Desfavor se tornar quase mais democrático que o Brasil… hahahahaha

SOMIR

Não acho boa ideia. “Toda comunidade que se diverte fingindo ser idiota acaba atraindo idiotas que se acham em boa companhia” – famosa frase atribuída a várias pessoas diferentes. Não sei quem disse isso, mas é uma excelente explicação da internet. Boa parte das comunidades virtuais reconhecidas por extremismo hoje começaram como jovens entediados brincando de falar as piores coisas possíveis.

A comunicação digital mudou de fase, não é mais razoável esperar que seu público tenha capacidade de entender sutilezas ou humor incorreto. Estamos infestados de gente que está só vivendo sua vida normal com a internet, não existe mais a presunção de que o outro vai pensar duas vezes antes de reagir.

Eu entendo que a ideia de falar de teorias conspiratórias aqui é para tirar sarro, entendo até que nosso público atual é capaz de perceber quando estamos exagerando pela piada… mas isso não quer dizer que vai funcionar assim na prática.

A característica definidora da pessoa que acredita em teorias da conspiração é… acreditar. Não importa se faz sentido, não importa se entra em choque com mil outras ideias que tem na cabeça, o preço de entrada na conspiração é acreditar no que lê ou ouve sem passar pelo filtro do pensamento crítico. Sim, quase todos acham que estão fazendo caminhos mentais subversivos que os “tiram da programação social”, mas é aquela coisa de terraplanista: se você apertar a pessoa mesmo, ela acaba dizendo que acredita por causa de algum motivo religioso.

Não que todas sejam religiosas, mas todas exigem algum ponto de suspensão de incredulidade para funcionar. A pessoa não enfrenta a dificuldade de acreditar em algo estapafúrdio com o simples truque de não julgar a ideia dentro da cabeça. Como já disse várias vezes aqui: estar errado é de graça. Não dói nada ter uma ideia burra, você pode ter quantas quiser e tocar sua vida como se nada. Vai dar problema quando uma dessas ideias podres te forçar a fazer uma escolha errada, mas muita gente passa pela vida toda acreditando em bobagem e nunca paga o preço.

E por que todo esse papo? Não faz diferença se a gente escrever como piada ou não, quem quer acreditar vai ler o que quiser ler e se achar em boa companhia. Lembre-se que a pessoa não tem custo nenhum em vir aqui falar que concorda, não se dói nem se a gente rir dela por achar que concordamos, o conspirador médio vive isolado de fontes de dúvida. Você pode explicar de mil formas diferentes que sabemos que o pouso na Lua foi real, a pessoa simplesmente não absorve a informação.

É um tipo de deficiência intelectual que a maioria de nós aqui não consegue entender na prática. É uma vida diferente: a informação pode passar direto entre as orelhas como se nada. Fixaram algumas coisas na cabeça dela da infância e a partir disso, só tem alguma chance de entrar na memória as coisas que combinam com o que já está lá. Elasticidade cerebral zerada.

Esse é o público-alvo das teorias da conspiração. A pessoa não ignora a montanha de evidências contra suas crenças porque se esforçou, ignora porque para ela é fácil. É de graça e não dói. Se a gente se entregar à vontade de falar sobre as teorias mais malucas, confesso que pode ser divertido, mas vai ter um custo: quem aparecer aqui por causa desses temas provavelmente não vai ser equipado para diferenciar deboche de crença honesta.

E nesse pacote costuma vir uma arrogância e agressividade que enche o saco de todo mundo. Como é fácil acreditar na bobagem conspiratória, sobra muita energia para encher o saco dos outros. Esse povo não cala a boca, e está muito acostumado a enterrar os outros em paredes de texto desconexas, e achar que gente que desistiu de falar com a parede foi “derrotada por seus argumentos”.

Isso acumula, tornando a pessoa mais tapada, mais arrogante e mais agressiva com o passar dos anos. Eu já controlei muito meu senso de humor porque eu sei que tipo de pessoa começa a se sentir em casa com as piadas que eu acho engraçadas. Eu acho engraçado porque é obviamente uma coisa horrível de se dizer, mas tem muita gente que concorda de coração, os que concordam com orgulho ou os que negam com raiva.

Melhor coisa para a qualidade de vida aqui é ser chato para quem quer mais uma dose de polarização na vida. Não é impressionante como na internet de hoje ainda consigamos aprovar comentários razoáveis no Desfavor? Pouca gente histérica aguenta ler textos de mais de um parágrafo. Eu argumento que a mesma lógica se aplique aos temas de teorias da conspiração: um pequeno controle nosso que torna o ambiente desagradável para gente muito chata.

Sim, eu até gostaria de falar sobre algumas conspirações, mas… vale a pena? Eu estou achando que não. Nosso público médio vai continuar sendo de gente sob quase nenhum risco de cair numa delas, não é como se fosse de grande utilidade pública para começo de conversa.

Sobram as piadas. Mas já seguramos algumas piadas para tornar o ambiente desagradável para a turma da histeria polarizada, seria só mais uma restrição.

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