Ele disse, ela disse: Gírias e Palavrões.

A língua portuguesa é uma das mais ricas do mundo em vocabulário. Temos muitas palavras para virtualmente qualquer coisa que se expresse. Desde o rebuscado estilo erudito até a porra do tipo coloquial.

Sally e Somir discordam na hora de escolher que forma é mais eficiente para passar a mensagem que se pretende.

Assunto de hoje: Gírias e palavrões depõem contra a pessoa que os usa?

Já começo explicando que não tenho vergonha ou bloqueios para usar gírias e palavrões. Quem já leu meus textos sabe que invariavelmente eu deixo um palavrão assumir o papel de “melhor expressão possível” numa frase. O que quase todo mundo que lê este blog não sabe é que ao vivo eu me expresso de forma bem parecida com a que escrevo. Não sou muito afeito à gírias e expressões de baixo calão E pré-julgo outras pessoas com base no uso dessas palavras.

Aliás, eu faço um pré-julgamento bem complexo sobre uma pessoa baseado na forma como ela fala. O que não quer dizer que eu odeie ou menospreze quem se expressa de forma mais coloquial. Eu namorei a Sally e ela fala como um traficante carioca. (Em situações informais.)

Mas, palavras são idéias. E na minha nunca humilde opinião, quem limita muito o uso de palavras deve ter alguma limitação de idéias. Se eu não tiver nenhuma outra base para perceber o que a pessoa pensa além da fala e escrita, vou considerá-la limitada MESMO se ouvir ou ler apenas palavrões e gírias. E eu me adapto rapidamente à pessoa com quem estou me comunicando: se ela fechar todas as frases com “mano” ou “tá ligado?”, eu que não vou me dar ao trabalho de travar uma conversa mais complexa com ela.

E conversas simples me MATAM de tédio. Deve ser minha dificuldade natural de concentração, mas eu já aprendi na prática que é um sofrimento conviver com uma pessoa que não aborde temas polêmicos ou profundos. Prefiro mil vezes silêncio constrangedor do que conversar sobre o tempo… Simplesmente não me interessa e eu NÃO FUNCIONO se não me interessar. É que nem falar com um zumbi.

E eu imagino que do outro lado, do ponto de vista de quem consegue ficar horas falando sobre as pequenas coisas da própria vida e o que aconteceu na novela, deve ser horrível falar comigo. (Não que as impeçam de me alugar por longos períodos de tempo…)

E não é um argumento elitista do ponto-de-vista social, é puramente intelectual. Já me diverti muito mais discutindo com pessoas mais simples (do ponto de vista social) sobre religião e sociedade do que discutindo futilidades com universitários endinheirados. Não me preocupa até onde vai o conhecimento da pessoa com a qual discuto, me interessa mesmo a disposição dela de ir além da “conversa de fila de banco”.

“Somir, você está se contradizendo… A forma com que se fala não era uma limitação para você?”

O tema do texto é “gírias e palavrões depõem contra a pessoa que as usa?” e eu digo que sim. E novamente, isso não quer dizer que seja algo além de um pré-julgamento. Volto a usar o exemplo da Sally: Ela usa muitas gírias e palavrões no dia-a-dia, mas eu percebo claramente a substância presente no que ela fala (quase sempre muito mais profundo do que eu consigo ir). A disposição de “ir além” está lá e isso derruba completamente o preconceito inicial sobre a forma de falar. No caso dela é apenas mais uma forma de se expressar. (E é divertido, eu assumo. Sally é a rainha das exceções nas minhas regras de pré-julgamento de uma pessoa.)

E se eu não te matei de tédio até agora, prometo que vou tentar meu melhor:

Logo no começo do texto eu falo sobre “melhor expressão possível”, e é baseado nisso que eu monto esta argumentação. Existem inúmeras formas de se dizer uma coisa, e grande parte dessas formas não é a melhor. Às vezes falamos demais, às vezes falamos de menos… Frases que explicam exatamente a idéia que se quer expressar viram citações famosas. A busca pela “melhor expressão possível” é o que faz um discurso ou texto se tornarem verdadeiramente relevantes.

Embora eu tenha essa noção bem delimitada na minha mente, eu aposto sem medo de perder que todas as pessoas sabem valorizar quem consegue fazer uma idéia ficar clara DE VERDADE dentro da cabeça delas, mesmo que inconscientemente.

Gírias e palavrões são apenas UMA forma de se dizer uma coisa. Um belo xingamento pode ser tão sublime quanto uma frase rebuscada, dado o momento em que é usado. E sabem quando é o momento errado de usar? Quando quem vai ter que decodificar e entender o que você disse não vai conseguir absorver a sua idéia.

Gírias, quando usadas com quem não as conhece, são uma forma de fechar o canal de comunicação. É uma coisa egoísta, uma demonstração de superioridade, uma afirmação de segregação. “Você não entende o que eu estou dizendo porque não é do meu grupo.” Sendo que praticamente em todas as vezes existia uma forma alternativa de se fazer entendido.

Palavrões, quando usados com quem não os espera, são uma forma de agredir a outra parte. E agressão não abre canal de comunicação também… Um palavrão fora de hora quebra o ritmo da conversa, parece um pedido de atenção apelativo ou uma demonstração de descaso.

Raras são as vezes que gírias e palavrões são as melhores formas de se dizer uma coisa. Podem ser as mais convenientes em várias situações, principalmente quando você tem intimidade com quem está falando.

Não tenho espaço para entrar no mérito de como a comunicação ocorre entre duas pessoas, principalmente quando se considera que cada mente é um universo paralelo. Mas posso resumir dessa forma: Ninguém sabe ler mentes.

Sim, o uso de gírias e palavrões depõe contra quem os usa. Em um momento inicial, essas palavras podem demonstrar que você é mais limitado do que realmente é e mesmo depois de conhecer melhor a outra pessoa, ainda podem ser consideradas como limitadoras INTENCIONAIS da comunicação.

Porra, tudo tem hora certa, mano!

Comunicação é a base da nossa sociedade. Cuide bem da sua.

Para me dizer que palavrão é antiinconstitucionalissimamente, paralelepípedo e otorrinolaringologista, para me xingar e para me ensinar umas gírias bacanas: somir@desfavor.com


Eu não sou maluca de sair soltando palavrões em ocasiões formais como trabalho, velórios, igrejas e afins. Mas no dia a dia, admito que palavrão tem um efeito terapêutico para mim! Sabe aquele palavrão que você enche a boca para falar, e ainda fala com vontade, sílaba a sílaba? Me ajuda a desabafar e canalizar a raiva para algo que eu considero inofensivo. É transgredir, mas não muito. Na medida certa.

Eu falo muito palavrão. Não palavrões gratuitos, eu sempre acho que tenho um bom motivo para soltá-los. Não gosto dessa coisa “palavrão pelo palavrão” a La Dercy Gonçalves, palavrão como vírgula. Madame não fala palavrão. Nem gírias. E só fala português correto. Já eu, pareço um presidiário falando de tantas gírias maloqueiras. No entanto, Madame namorou comigo, não namorou? Me achou atraente, não me achou? Deve me achar minimamente capaz, porque divide um blog comigo, certo?

Será que palavrão depõe mesmo contra a pessoa?

Acho pessoas falando palavrão até engraçado. Não acho rude nem vulgar. Se eu não falar palavrão, provavelmente vou ter um AVC ou vou explodir de tanta raiva. Palavrão é um desabafo extremamente necessário para mim, assim como acredito que seja para muitos de vocês.

Não contente em falar palavrões eu ainda invento palavrões. Quem acompanha a comunidade no Orkut sabe o infinito de apelidos que eu coloco para cu, por exemplo. O palavrão é uma prova de intimidade e confiança, a gente só solta quando está ao lado de alguém com quem não precisa se policiar para ser formal. O dia em que eu soltar um palavrão na sua frente, pode ter certeza que é sinal de que eu estou muito à vontade com a sua presença.

Muitos homens acham que fica feio mulher falando palavrão. Muitos homens inclusive já reclamaram comigo por causa disso e me pediram para não falar palavrão. Evidente que eu soltei um palavrão de 17 sílabas ao ouvir esse pedido. Não tem como, quando me sinto confortável com a pessoa, eu falo mesmo. Tive um ex-namorado que se incomodava tanto que decidiu “me ajudar” a mudar e comprou o “jarro do xingamento”.

Cada vez que eu falasse um palavrão teria que colocar um real no jarro. Quando ele me aborrecia, eu abria a carteira, tirava uma nota de cinqüenta reais, colocava no jarro, estalava os dedos e o pescoço e começava a declamar. Pago o preço que for para falar palavrão, literalmente. Azar o de quem não me aceitar assim, porque me faz tão bem que eu não quero mudar.

É o que eu sempre digo, pessoas vem em pacotes. Se você quer uma namorada meio maluca, com um parafuso a menos, como eu, passional, nada romântica e polêmica, é de se esperar que ela solte uns palavrões por aí. No caso, Madame tem um parafuso A MAIS, porque é muito certinho nesse aspecto. Ele nunca implicou com meus palavrões, justiça seja feita, muito pelo contrário, ria da criatividade de alguns e da forma raivosa como eu os usava. No entanto, ele deve achar que depõe contra a pessoa sim, porque ele raramente faz uso. (ainda vou provar que existe uma relação entre não falar palavrão e ter gastrite…)

Metade das minhas postagens aqui tem aquela velha lição que eu sempre friso: atenção para os atos, palavras não valem nada, todo mundo fala o que quer. Isso se aplica aos palavrões também. Um palavrão em uma hora de raiva não diz muito sobre a pessoa. O que ela FAZ nessa hora de raiva é que diz. Aliás, conhecemos uma pessoa pela forma como ela trata seus inimigos. Tem gente que não fala um palavrão e é incorreta e filha da puta e tem gente que tem o vocabulário de um estivador e é um doce de pessoa que está lá quando você precisa.

Palavrão alivia, é de graça e é inofensivo (quando dito sem ser dirigido à pessoa, claro). Palavrão é um meio termo entre guardar a mágoa e somatizar e meter a porrada no outro e ser preso. É uma transgressão na medida exata para não se machucar e não machucar os outros. Palavrão é o que há! Viva o palavrão, caralho!

Hoje em dia nem é tão grave ou chocante falar palavrão, até na novela das oito tem gente soltando palavrão (talvez não nessa, mas já tive notícias de palavrões em outras). O palavrão em si, dependendo da entonação e da ocasião, pode ser até prova de afeto! Quem nunca viu dois amigos se cumprimentando com uma enxurrada de palavrões? “Faaaala seu viado filho da puta”. É com carinho. Eu xingo minhas amigas com carinho também.

E para situações de dor, como aquela batida com o dedo do pé na quina da mesa? Gente, palavrão tem propriedades medicinais, depois de soltar um PU-TA-QUE-PA-RIU bem do fundo da alma parece até que dói menos! E não prejudica ninguém. É um crime sem vítimas.

O grande problema é o uso sem noção do palavrão, a falta de respeito. Mas o uso sem noção e com falta de respeito DE QUALQUER COISA é feio e complicado. O problema está nas pessoas sem noção e não no coitado do palavrão. Até porque, se for usado indiscriminadamente, perde esse efeito de desabafo para ocasiões irritantes.

Palavrões já estão nos dicionários mais moderninhos, ou seja, fazem parte oficialmente do nosso idioma e vocabulário. Não tenham medo de usá-los com fins terapêuticos, é quase um anger management (só que de graça). Escolha seu palavrão de estimação e repita-o em alto e bom som quando algo te aborrecer.

Para me perguntar qual é meu palavrão favorito, para me contar o seu e para sugerir temas para o próximo Ele Disse / Ela Disse: sally@desfavor.com

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Comments (15)

  • Garota Think Tank.

    Amei o vaso de xingamentos… vou ter de comprar um pra mim… e vou ficar pobre….rs
    Trabalho com 7 homens no melhor estilo somir, e tem vezes que só quando grito um CARALHO bem grande, eles entendem a minha ordem.
    E realmente,algumas palavras dão uma sensação tão relaxante….

  • Gente… eu falo mesmo como um traficante carioca…

    *cantinho da vergonha

    “Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno!”

    *cantinho da mega-vergonha

  • Palavrões são necessários! Quando eu quero dizer que gosto de uma pessoa, por exemplo, acho um “gosto de você” muito meia boca, já um “gosto de você PRA CARALHO” dá muito mais enfase.

    E sim, várias vezes já me chamaram a atenção para como é feio uma “dama” falar tantos palavrões. Porra, eu só uso quando necessário! Que se fodam… e morram de gastrite!

  • Eu sou adepta a um senhor palavrão. Mas, é claro, se a pessoa que está comigo se opõe claramente a esta pratica, eu não vou ficar soltando palavrão a torto e direito na frente da pobre criatura, vou?

    É tudo uma questão de respeito, mas pessoalmente, é, sempre foi e sempre será como a sally falou: Um antidepressivo, antistress e o melhor analgésico que existe!

    Espera-se que as pessoas tenham o bom senso de ser mais recatadas na frente de estranhos! =]

    Meu palavrão preferido, é “do caralho”
    apesar de não ser um palavrão, e mais um elogio…

    Esse post foi do caralho!

    Abraços!

  • Meus favoritos são todos!
    Cada um tem uma finalidade: O pra caralho tende ao infinito. Nada pode ser maior do que o pra caralho, longe pra caralho, difícil pra caralho.
    Quando alguem me enche o saco, aquela operadora de telemarketing que liga de manhã cedo eu mando um VAI TOMÁ NO CU!
    Quando alguma coisa dá um pouco errado é uma merda, se dá muito errado, puta que pariu! Se não tem jeito, fodeu, fodeu de vez, tô fodida!
    Eu não falei no porra, porra é virgula. Fui ao banco, porra, tinha uma fila do caralho, fiquei cansada, porra!
    Boceta: Tira essa boceta daí! Não sei onde larguei a boceta das chaves.
    Palavrão é muito bom! Eu falo palavrão pra caralho!!!

  • Anônima malcriada!

    …”a Sally e ela fala como um traficante carioca” Hahaha, Sally, eu sou sua fã!!!
    Essa do jarro da educação foi demais! Rolei de rir. Eu também sou parecida com vc, só faltam querer me colocar no “cantinho da disciplina” igual a Super Nanny. kkkkkk
    É foda dizer que fica feio mulher dizer palavrão. A pessoa pode falar palavrões te respeitando e usar os por favor, obrigada, com licença, te desrrespeitando. Não tem nada a ver. Òtima postagem de vcs. Parabéns, seus desfavores!

  • Eu sou uma esponja e consigo emular trejeitos, e me divirto muito com isso.

    Se precisar usar “mano” ao iniciar cada frase e “tá ligado?” ao terminar, eu consigo. E eu tenho alguns “trutas” que me são úteis às vezes.

    Além disso, creio ter bom senso, não vou proferir “caralho”, “porra”, “puta que pariu”, “filho da puta”, no trabalho, assim como faço no trânsito, ou quando quero mostrar para alguma mulher que eu sou educado, gentil…

    Simples.

    Ps, mulher falando muito palavrão eu acho feio pra porra, não apresentaria para minha mãe alguém com uma boca suja do caralho, nem fodendo…

  • “Essa Porra do Caralho”: quando o computador trava justamente quando precisava carregar uma planinha aqui no trabalho (dita mentalmente) ou em casa (em voz alta). É tão, digamos, libertador dizer isso.

    De resto, “Buceta” é a predileta.

    Suellen

  • Depende da ocasião. Simpatizo muito com “Puta que pariu” dito alta e pausadamente para situações onde deu alguma merda e do “Vai se foder” para ocasiões onde uma pessoa em especial me irrita.

    E o de vocês? Qual é?

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