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Sally Surtada: Síndrome da Falsa Superioridade.

| Sally | | 26 comentários em Sally Surtada: Síndrome da Falsa Superioridade.

Enveja por todos os lados!

Síndrome da Falsa Superioridade. Não sei se esse nome existe ou se está catalogado para classificar essa neurose tão comum nos dias de hoje. Se não existe, acabo de inventar, assim como inventei o nome deste blog.

É aquela pessoa que se acha o máximo, apesar de não ter o menor motivo para se achar o máximo. Ela se tem em tão alta conta, que consegue enganar muitos dos que a cercam, supostamente racionais, e acaba convencendo a um número considerável de pessoas que ela realmente é fodona. Pode ser homem ou mulher. O fato é que essa pessoa se auto-promove onde quer que vá. Por mais básica que seja sua tática de convencimento, bem, tem muito imbecilóide no mundo, acaba dando certo com alguns.

E por muitas vezes, acaba nos afetando também. Mesmo que sejamos pessoas racionais e esclarecidas, o portador da Síndrome da Falsa Superioridade consegue nos colocar para baixo. Ainda que não nos convença que é muito melhor do que nós, ele também nos pisa, nos critica e nos diminuí como uma das táticas para se promover. Claro, nada ostensivo. Tudo muito discreto e fino.

O portador da SFS não se acha, ele se tem certeza. Se você confrontá-lo ou desmenti-lo, vai virar invejoso(a) – isso na melhor das hipóteses. Não contente em se achar e se ter certeza, ele ainda sente um prazer especial em te espezinhar com qualquer coisa que ele tenha ou faça (ou ache que tenha ou ache que faça) melhor do que você e apontar seus erros quando estes acontecem.

E enquanto ele faz isso para você, dos males o menor, porque você tem chances de se defender. O problema é quando ele faz isso, se referindo a você mas para outras pessoas, nas suas costas. Aos poucos ele vai minando sua credibilidade. Quando você vai ver, ele está dizendo para quem quiser ouvir como ele é melhor que você. Sim, as pessoas são estúpidas, muitas acreditarão. Por incrível que pareça, para algumas pessoas acreditarem em uma informação, basta que ela lhes seja contada. O ser humano é estúpido.

Como agir com uma pessoa assim?

Se você tem estômago, pode concordar com o SFS. Dizer que ele é tudo aquilo mesmo, que ele é fodão. O grande problema é que vai ter muita gente que vai acreditar que ele é tudo aquilo mesmo, e por conseqüência, vai acreditar que você é quase nada quando ele tentar te colocar para baixo. Sem contar que, quando essa pessoa SFS exerce algum domínio sobre nossas vidas, como um cargo de chefia ou uma relação de parentesco inevitável, concordar com seus devaneios é assinar a sentença de morte e bater palma para maluco dançar. Cedo ou tarde a falta de limites se volta contra a gente.

Normalmente os SFS são observadores. Eles sabem onde nós somos mais frágeis e costumam nos atingir justamente nessa fragilidade. Me lembro de uma pessoa desagradável com a qual trabalhei em uma época da minha vida que fazia esse tipo de coisa comigo. Era uma mulher que se fazia questão de dizer todos os dias o quanto ela se achava mais bonita do que eu. E juro para vocês, ela não era nada bonita. Certa vez, eu cortei meu cabelo curto, e me arrependi amargamente. Minha tristeza com meu novo cabelo era visível. Quando ela percebeu isso, não perdeu tempo. Ela não deixava passar uma oportunidade de ostentar como ela gostava do cabelo dela, como o cabelo dela era ótimo, como o cabelo dela estava quase na cintura e como o cabelo dela crescia rápido. Não se passava um dia sem que ela diga essas coisas. E sim, o cabelo dela era uma merda, parecia Assolan. Mas ainda assim, me fazia mal, porque me lembrava que o meu cabelo estava uma merda.

Já me disseram que esse tipo de pessoa deve ser ignorada. Quando você tem contato esporádico com a pessoa SFS tudo bem, mas quando é uma coisa freqüente, é muito difícil. É duro agüentar alguém te diminuindo e se auto-promovendo todos os dias. Chega uma hora que a gente reage. Isso faz mal, isso abala. Existe alguém tão bem resolvido que não se abale com isso? Se não pela crítica, pelo desaforo de ficar te diminuindo! Talvez existam pessoas mais fortes que eu por aí, que não se abalem com comentários pejorativos diários, mas a maior parte das pessoas se aborrece com isso. Para mim, ignorar dia após dia não é uma opção. Chega uma hora que eu canso.

Infelizmente tem gente que é tão insegura que precisa se sentir mais colocando os outros para baixo. Se sente mais apenas quando o outro é menos. Esse é o perfil de quem tem Síndrome da Falsa Superioridade. São pessoas que sabem tudo, viram tudo, viajaram para todos os lugares, conhecem e entendem de tudo. Nunca, jamais, você vai poder esboçar uma opinião sua para essa pessoa, porque ela tem todas as respostas e a sua será desvalorizada. Tudo dele é maior e melhor. Nem que seja para competir em sofrimento. Lembro que uma vez um SFS ficou horas tentando discutir comigo e me provar que tinha mais problemas de saúde do que eu. Então ta… o posto de pessoa mais doente eu passo numa boa! Tudo é competição. Um saco.

Tudo fica pior quando a relação com o SFS é amorosa. É simplesmente insuportável ter um parceiro que em vez de jogar no mesmo time, está sempre competindo com você e te colocando para baixo. Você vira uma coisa insignificante ao lado do seu parceiro, brilhante e vencedor. É especialmente doloroso porque sempre tentamos ser queridos e admirados por nossos parceiros, nada pior do que um parceiro te detonando. Daí nos esforçamos mais ainda para tentar ser notados, queridos e admirados e quanto mais nos esforçamos, mais o parceiro se promove às nossas custas, nos jogando para baixo.

Chega um ponto em que começamos a acreditar que o outro é realmente melhor do que nós na relação amorosa, porque as pessoas confiam nos seus parceiros. Isso faz um estrago enorme ao ego. E é mais comum do que a gente imagina! Para casos assim, a única solução é se afastar. O problema é que após um tempo sendo sistematicamente detonadas, ficamos tão fracos que muitas vezes não conseguimos sair desta relação. É preciso fazer um esforço, perceber que o outro é um bostinha que sobre na vida pisando nas nossas cabeças e pular fora.

Não precisa ser psicólogo para saber que pessoas assim são inseguras e fazem isso para camuflar as próprias inseguranças. Mas isto não os exime de responsabilidade por seus atos. Qualquer relação onde o outro te coloca para baixo, seja profissional, seja amorosa, seja familiar, é uma relação doente. Essa pessoa portadora da SFS é doente. Se houver a opção, é preciso se afastar, e de preferência, refletir o que nos fez ficar ao lado, quando é por opção, de uma pessoa que nos detonava. Sim, quando é por opção parte da culpa é nossa.

“Mas Sally, ele(a) no fundo é uma boa pessoa, é uma pessoa legal, eu gosto dele(a)”. Seja amigo(a), seja parceiro(a), existem pessoas boas e legais QUE NÃO FAZEM ESSE JOGUINHO SFS. Portanto, não basta ser legal, não basta gostar, tem que te tratar com dignidade, respeito, te admirar e te fazer bem. Não se engane, você está se colocando em uma armadilha ao se relacionar com uma pessoa assim.

O problema é quando não podemos nos afastar. Ainda hoje não sei bem como lidar com essas pessoas quando sou obrigada a conviver com elas. É fato que elas tem complexos e que se sentem inferiores, mas seria improdutivo jogar isso na cara da pessoa SFS, porque ela é muito bem blindada por suas mentiras.

Talvez a melhor solução seja a honestidade mesmo. Talvez eu devesse ter dito para minha colega de trabalho “Sabe, Fulana, que bom que você está feliz com o seu cabelo, mas vou te pedir para não falar nesse assunto comigo porque eu estou muito triste com o meu, então, para não ficar relembrando isso todo dia e me deixar mais triste, podemos falar sobre outra coisa?”. Sim, a verdade liberta. Mas tentem fazer isso quando houver testemunhas, testemunhas são fundamentais para impedir que o SFS distorça o que você falou.

O ideal me parece ser não fazer o jogo da pessoa, de disputar quem é o melhor, qual cabelo é mais bonito, qual doença é mais grave ou qualquer outra imbecilidade que seja colocada na mesa de disputa. Recuse a disputa, com muita classe. O que a pessoa SFS quer é a manutenção desse joguinho, é a disputa, é se sentir vitoriosa em cima de um perdedor. A partir do momento em que você não topa o jogo, desarma o mecanismo neurótico do infeliz.

Dizer a um SFS “Porque você está fazendo isso comigo? É uma tentativa de me diminuir? Me faz sentir muito mal esse tipo de atitude, é esse seu objetivo?”, ao contrário do que parece, não é dar uma vitória a esse idiota. É quebrar o seu jogo. Ele não vai assumir o que está fazendo, vai inventar uma desculpa/explicação, mas isso já quebra o jogo dele. E provavelmente depois dessa ele vá procurar outra pessoa que caia no joguinho dele. Para todo sadio é preciso um masoquista que tope o jogo.

Porém é preciso falar de uma forma digna. Se começar a chorar, espernear, gritar e etc, mina sua credibilidade e você sai mais queimado do que entrou. E essa é a parte difícil. Depois de tantos abusos, se recompor, trabalhar suas inseguranças e sua estima e confrontar o SFS de forma civilizada. E sem posar de vítima. Diga com naturalidade, de forma calma, como quem realmente quer saber qual é a da pessoa. Sem raiva, sem agressividade, sem show. É um esforço, mas vale a pena.

Colocando as cartas na mesa, mostrando que você sabe, percebe e não topa aquilo, você desarma o SFS. Por mais que ele não seja honesto, não admita, o jogo perde a graça para ele. Todas as vezes em que eu tentei deu certo. Recomendo que tentem e me contem.

Para dizer que seu blog tem muito mais comentários que o meu mas que mesmo assim o meu é legalzinho, para me dizer que com SFS só na porrada e para sugerir temas: sally@desfavor.com

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