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Ele disse, ela disse: Empatia violenta.

| Desfavor | | 23 comentários em Ele disse, ela disse: Empatia violenta.

lol

Pessoas maltratam pessoas. Pessoas maltratam animais. Com variados graus de justificabilidade e principalmente, variados graus de crueldade. Um ser humano razoavelmente normal é capaz de empatizar com a dor alheia.

Dor oriunda de outro ser humano ou mesmo de um animal irracional. Porém, Somir e Sally discordam sobre o tipo de empatia que mais os afetam, e por isso querem saber quem tem mais apoio dentre os leitores.

Tema de hoje: O que te incomoda mais, tortura contra pessoas ou animais?

O tema de hoje me é especialmente divertido pois minha CARA fica especialmente raivosa quando menciono isso. Imagino que vá ser mais um daqueles festivais de “ad-hominens” que ela usa nestas colunas de segunda-feira. (Argumento que é bom…)

Pois bem, hoje estou aqui para defender um ponto de vista pessoal, mesmo sabendo que gente que eu não suporto (defensores dos direitos dos animais) pode acabar concordando comigo. Vou tentar eliminar esse problema agora mesmo:

Eu acho tortura inútil contra animais indefesos mais ofensiva do que tortura contra seres humanos. Tortura INÚTIL, importante salientar. Nesses tempos de eco-chatos para o todos os lados, chama-se de tortura coisas úteis e necessárias, como o abate de animais para o consumo de sua carne, por exemplo. (Se a humanidade fosse vegetariana, ainda estaria nas cavernas…)

Tirando isso do caminho, podemos partir para a idéia de relações de afeto com animais irracionais e politicamente correto “em público”.

É fato que criamos laços poderosos com seres que não são da nossa espécie. Se não fosse verdade, os cachorros e os gatos não estariam domesticados a essa altura do campeonato… Laços que muitas vezes são incrivelmente mais poderosos do que os formados entre duas pessoas. Não se diz que quem quer fidelidade mesmo deveria comprar um cachorro?

Acho uma chatice politicamente correta tentar colocar o rótulo de psicopata em quem EVENTUALMENTE coloca um animal irracional num “patamar empático” mais alto que um outro ser humano. Generalizações são comportamentos primitivos, decorrentes de falta de conhecimento sobre os indivíduos envolvidos na situação. Se isso parece muito complexo, exemplifico de forma simples: Imagine que um ladrão invada sua casa e depare-se com seu cachorro. Para quem você torce? Para pessoas como a Sally, você é um monstro se não torcer para o bandido matar seu cachorro. (Logo ela, escrava assumida de bicho… Vai entender…)

Se você não quer fazer pose de politicamente correto “em público” (vide texto da Sally), sabe que em várias situações nossa empatia por seres da nossa própria espécie não é lá muito forte. Por mais que você queira ser uma boa pessoa, consegue imaginar situações onde não sentiria pena de ver um outro ser humano sofrendo. Eu sei que é apelar, mas pense comigo… O que te deixaria mais ofendido: Um pedófilo que estuprou seu filho sendo torturado ou um filhote de cachorro (imagine a raça que você mais gosta) sendo torturado?

Entendam que essa eventual falta de empatia por outros seres humanos é uma coisa natural. Somos seres racionais, temos a habilidade de analisar caso a caso e definir o que realmente nos ofende.

Eu, por exemplo, odeio covardia e injustiça. E a não ser que você tenha algum problema sério, deve odiar também. Eu tenho asco de quem tortura um ser humano e de quem tortura um animal. De QUEM tortura. E isso também é muito importante aqui.

Uma pessoa que tortura um animal indefeso (apenas pelo prazer da tortura) está causando dor e sofrimento para um ser IRRACIONAL. Não existe cachorro “malvado” ou gato “vingativo”, essas são características de personalidade que criamos para esses seres. É covardia pura e invariavelmente injustificável. A indignação é com o ser humano escroto que faz isso. É vergonhoso fazer parte da mesma espécie que uma pessoa dessas. ISSO SIM é desvio sério de mentalidade. (A pessoa já tem que ser maluca para ser desestabilizada emocionalmente por um animal irracional…)

Agora, uma pessoa torturando outra torna as coisas mais relativas. Eu sou da opinião que uma pessoa tem o sagrado direito de QUERER fazer mal para outra. Deve-se evitar justiça com as próprias mãos, mas não é lógico ou prático exigir que as pessoas aceitem qualquer merda das outras só por terem praticamente o mesmo código genético. O verdadeiro problema é que na realidade uma pessoa normal consegue empatizar com o torturador e o torturado dependendo do caso. Não é certo, não é evoluído… Mas é parte de ser humano.

Outra questão, e essa talvez a mais “romântica” da história, é a idéia de injustiça. Um animal irracional, ou mesmo sua espécie como um todo, não tem o que é necessário para se vingar ou buscar justiça. Existe uma certa esperança (muitas vezes inocente, admito) de que uma pessoa torturada, possa se vingar do torturador ou conseguir justiça. Seja por esforços da própria ou por esforços de pessoas próximas. Há uma expectativa de que aquela covardia não vá passar impune. Uma luz no fim do túnel.

Tortura inútil contra animais é a escrotice humana na sua forma mais pura. E quem ainda tem alguma esperança de evolução e justiça nesse mundo também tem horror de gente que faz isso. Não é empatia egoísta de não querer sofrer o mesmo (é mais fácil se identificar com outra pessoa, não?), é preocupação sincera com a existência de algo repulsivo como tortura.

E não venham com a bobagem que por achar uma tortura mais ofensiva do que a outra eu sou favorável ao comportamento. O mundo não é preto ou branco como algumas pessoas exageradas (Oi Sally!) acham.

Ah sim, se você é daquele tipo retardado que gosta de dizer que “às vezes acha que os humanos não são os animais racionais”, por favor discorde de mim. Tenho vergonha de ser da sua espécie também.

Para provar seu analfabetismo funcional: somir@desfavor.com


Quase surtei quando a Madame me propôs este assunto. O que te indigna mais, tortura contra animais ou contra outros seres humanos?

Puta que me pariu! Não que eu ache graça em animais sendo torturados, é horrível, mas não tem comparação com seres humanos.

Talvez muitas pessoas aqui comentem do quão horrível é a tortura praticada contra animais, porque todo mundo já viu um vídeo ou uma cena dessas em algum lugar. Tem sempre um Petachato mandando um e-mail de uma foca tomando porrada na moleira ou de um ganso com um funil goela abaixo. É terrível, é chocante, mas nem se compara com a tortura de outro ser humano.

Infelizmente, já presenciei por mais de uma vez pessoas sendo torturadas; Em parte, meu atual trabalho é evitar que isso aconteça. Talvez quem nunca viu uma cena degradante contra outro ser humano, ao vivo e a cores, não possa mensurar o quanto ela choca e comove.

Não sou só eu que digo. A ciência também explica (vou poupá-los dos detalhes porque só tenho DUAS míseras páginas) que temos uma trava natural que nos faz preservar outros da mesma espécie. Soldados que vão a guerras fazem treinamentos de choque para perder essa “trava”, porque na hora de atirar e matar outro ser humano, em tese, algo nos freia.

Sempre tem quem alegue que animais são puros, ingênuos e indefesos, por isso a covardia seria maior ao se torturar um animal. Também tem os que aleguem que o ser humano é uma merda e, em última instância, quase todos os que são torturados fizeram por merecer de alguma forma. Quem vive no Rio de Janeiro sabe que aqui existe a tortura por diversão. Não custa nada para um marginal que está te assaltando te torturar também, mesmo que você não tenha feito nada.

VER outro ser humano ser torturado na sua frente é uma experiência muito mais forte do que um animal.

E quando falamos em “animal”, pensemos em ANIMAL, não naquele seu bichinho de estimação. Seu mascote é um membro da família, não faz parte da categoria “animais em sentido amplo”. Pense em um animal qualquer. Pense em um ser humano qualquer (não em um assassino, em um estuprador etc). Vamos ser justos e adotar imparcialidade na tese.

Colocando-se lado a lado um animal qualquer e um ser humano qualquer, sem nenhuma presunção a respeito de nenhum dos dois, eu me choco muito mais ao ver um semelhante sendo torturado. E, Madame que me desculpe, acho que ISSO É NORMAL. É um dos nossos sofrendo, é meio que inevitável se colocar em seu lugar.

Uma coisa é pensar em abstrato na tortura de outro ser humano, outra muito diferente é ver acontecendo na sua frente. Madame tira onda que se afeta mais com bicho do que com gente, mas quando vê EM UM FILME um semelhante levando uma porrada no saco, se encolhe todo. É o caralho que ao vivo e a cores ele não ficaria mil vezes mais chocado e indignado com a tortura de outro ser humano!

Por mais que se diga que um animal é uma criatura indefesa, vamos combinar que um ser humano que está sendo torturado também está bem indefeso. Se não estivesse subjugado não se deixaria torturar. Pessoas torturadas são imobilizadas, amordaçadas e impedidas de reagir, o que as reduz à mesma condição indefesa de um filhote de foca ou de cachorro.

Aliás, não é por nada não, mas eu acho esse argumento de ter mais peninha de bichinho coisa de mulezinha, Madame! Aposto que vai ter um monte de menina gritando “Tadeeeenho do bichiiiinho!” nos comentários. Se tortura de animal perturbasse tanto o Somir, ele não comia patê de fígado de ganso nem usava sapato de couro. Eu jamais compraria nada que decorra da tortura de seres humanos! Porém, cedo aos produtos oriundos de tortura de animais.

Está ou deveria estar no nosso DNA, no nosso instinto, uma identificação maior com outro da mesma raça. É da natureza, é sendo de preservação da espécie. Isso não impede que achemos tortura contra animais uma coisa nefasta, horrenda e altamente condenável. Se chocar com uma não excluí a possibilidade de se chocar com a outra também.

Deixo aqui uma pergunta para reflexão de todos vocês: se você tivesse que torturar um animal desconhecido, QUE NUNCA FEZ MAL A NINGUÉM, ou torturar um ser humano, desconhecido, QUE NUNCA FEZ MAL A NINGUÉM, qual você escolheria? Qual te deixaria com a consciência mais pesada? Em qual o dano seria maior?

Gente é gente. Bicho é bicho. Por mais que amemos os bichos, essa coisa de gostar mais de bicho do que de gente é sintoma de problemas sociais sérios e de histeria, tipicamente feminina. Não quero que você compare seu poodle com um assassino, quero que compare, em abstrato, um animal inocente e desconhecido, com um ser humano inocente e desconhecido. E para mim, quem prefere ver um ser humano torturado é doente.

Para me dizer que nunca mais volta nesta merda de blog porque eu acabei de te chamar de doente, para dizer que eu sou o macho da relação e Somir é a mulezinha que defende os bichinhos e para dizer que se eu já não tivesse um histórico de espancar ativistas pelos direitos dos animais, tentaria me dar porrada por esta postagem: sally@desfavor.com

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