Somir Surtado: Críticas.

Se você não sabe quem é esse, é novo(a) demais...

O texto de hoje era para ser um Flertando com o Desastre, mas não ficou tão ofensivo como eu queria. Errei.

Que seja:

Agradeço a todas as pessoas que gastaram seu tempo reclamando dos textos que eu escrevi aqui no desfavor. Adoraria poder responder todas as ofensas, questionamentos sobre minha sexualidade e desejos de morte horrível que recebo, mas sinto que uma resposta curta e debochada não seria digna de quem se preocupou com o que eu escrevi a ponto de me mandar um e-mail. Mas não se preocupem, eu ainda respondo todas, vocês merecem.

Vejam bem, eu não sou masoquista, mas adoro uma crítica. Muitas vezes dá para tirar alguma coisa produtiva, até mesmo de uma crítica destrutiva. Se alguém não gosta de uma opinião sua, imagina-se que tenha uma opinião contrária ou incompatível. Nada melhor do que um novo ponto-de-vista para se enxergar uma coisa nova.

Claro que alguns dos críticos ou críticas tem algumas dificuldades com lógica simples ou mesmo com exposição de idéias. Tem quem mande um e-mail gigante dizendo como não se importa com o que eu digo, tem quem tente demonstrar superioridade me desejando uma morte lenta e dolorosa, tem quem diga que por não mostrar meu rosto meus argumentos não fazem sentido…

De qualquer forma, obrigado por criticar.

Mas eu não recebo esses e-mails pela preocupação dos ofendidos com minha evolução pessoal. Eu recebo esses e-mails porque eu critiquei algo em primeiro lugar.

E pelo o que eu conheço do mundo, as pessoas odeiam ser criticadas. Não vou começar uma argumentação sobre a necessidade de se dizer tudo o que pensa, não tenho a menor simpatia por uma utopia sincericida.

O que me incomoda é essa baboseira da santidade da opinião alheia. As pessoas dizem coisas estúpidas, oras! Liberdade de expressão funciona na hora de dizer o que quer e PRINCIPALMENTE na capacidade de ouvir o que não quer. O direito de ter sua opinião não é o dever dos outros de concordar.

Nesse tempo de desfavor eu constatei o óbvio postagem (desagradável) atrás de postagem (desagradável): As pessoas gostam mesmo é de chutar cachorro morto. Se eu resolvo falar mal de algum grupo de pessoas cuja média de nosso público também não gosta, tudo corre bem nos comentários. A crítica é justa e razoável.

Se eu resolvo me arriscar um pouco mais e bater em algo com o qual os leitores se identificam, a crítica se torna um abuso contra a liberdade das pessoas de serem o que elas quiserem ser. A partir desse momento, eu sou intolerante. A crítica não é mais sobre um comportamento ou uma idéia, a crítica se torna pessoal. Como se eu conseguisse por um momento apontar meu dedo na cara de quem está lendo e tirá-la de uma espécie de zona de conforto. (Nada contra, acho o máximo irritar e incomodar quem lê o que eu escrevo. Aqueles e-mails são uma vitória para mim. Não é questão de ser importante, é questão de conseguir pegar na veia e encontrar o ponto fraco de uma pessoa que eu nunca vi na vida.)

A crítica, por mais generalista que seja, tem o poder de excluir um indivíduo de seu grupo de segurança. Enquanto os tiros estão pegando nos outros, viva a liberdade de expressão! Quando a coisa começa a sugerir que você vai ser o próximo, vira maldade e iNgnorância.

E a culpa disso é de uma falsa sensação de segurança, muito presente em pessoas limitadas intelectualmente (esse tipo de limitação pode muito bem ser um estado transitório). Segurança de que está fazendo e pensando as coisas da forma certa. Uma pessoa que tem muita dificuldade de entender o funcionamento do mundo que a cerca tende a achar algumas respostas simples para manter sua mente num estado de repouso constante.

Criticar os valores de pessoas assim leva a chiliques (hilários) monstruosos. É praticamente uma covardia… Mais ou menos como pisar num formigueiro. A pessoa leva anos para montar uma lógica que julga ideal para que um babaca (oi!) venha e pise em cima. Vai aqui uma dica valiosa: Duvide MUITO de alguma idéia que você tinha e acabou desmontada rapidamente por uma crítica. Tem algo de errado aí. Você pode brigar e defendê-la com todas suas forças até conseguir “refazer o formigueiro”, mas no final das contas, ela vai continuar frágil contra as intempéries de uma vida onde se convive com outros seres humanos.

Eu costumo dizer, nesses meus momentos de escritor de frase de boléia de caminhão, que inteligência depende de estar errado. Construir idéias que te agradem e reforcem sua própria noção de superioridade é uma das coisas mais fáceis que existem. Complicado MESMO é perceber os erros nelas. E é só enxergando esses erros que sua mente realmente avança para algum lugar.

A crítica é uma forma de nos ajudarmos a não ficar estagnados com o que já pensamos. A crítica pode ser transformada em “construtiva” em qualquer situação. Não quer dizer que todas estejam corretas, as pessoas realmente falam muitas bobagens, mas quer dizer que existe uma oportunidade excelente de perceber o mundo por outra ótica. Quando a crítica acerta em alguma falha sua que foi negligenciada ou ignorada, chance de evoluir. Quando a crítica demonstra que sua idéia original é válida, chance de firmá-la com exemplos práticos.

É o poder de vários cérebros focados no mesmo assunto. Basta usar os recursos ao seu favor.

Quando eu digo que as reclamações semi-analfabetas e incoerentes que recebo são muito bem vindas, estou falando a mais pura verdade. É “poder de processamento” que eu uso com todo o prazer. Acertar a zona de conforto de uma pessoa que se identifica com algo que eu critiquei demonstra que tem sim lógica o que eu escrevi.

Mas não são apenas antas raivosas que criticam. Já li em e-mails e comentários várias discussões excelentes sobre os assuntos tratados. Tem gente, aqui no blog mesmo, que já me acertou NA VEIA com uma crítica debochada sobre uma postagem que fiz. Era exatamente o que estava errado com o meu texto e postura ao discorrer sobre a idéia em questão. (Nem fodendo que eu digo qual, ainda sou um egocêntrico orgulhoso, apesar de tudo…)

A partir daquele momento, eu percebi e corrigi o erro. Posso dizer que nunca mais recebi uma reclamação esse ponto. (Algumas da Sally, mas ela já reclama de mim por esporte a essa altura do campeonato. Difícil definir se ela percebeu também.)

O que eu quero dizer é que não existe esse porto seguro ideológico que muitas vezes me acusam de conturbar de forma preconceituosa. Estar errado é parte integrante do processo de pensar. O mundo é assustadoramente mais relativo do que gostamos de imaginar.

Até por isso eu defendo a importância de fundamentar PELO MENOS a sequência lógica que te faz ter alguma opinião. Você já tentou explicar para si mesmo algo que julga difícil fazer outras pessoas entenderem? Faz toda a diferença. Se nem você entende, a chance de outra pessoa entender é minúscula.

Quem baseia suas idéias, opiniões e atitudes de forma sólida e racional ganha de presente a capacidade de filtrar e aproveitar informações externas, seja qual for a natureza delas. Críticas construtivas e destrutivas são conceitos que dependem muito mais de quem as recebe do que quem as faz.

Embora sejam pessoas limitadas que tendam a fazer o maior carnaval quando criticadas, a idéia de zona de conforto ideológica não é exclusividade de quem é incapaz de pensar no assunto. Muitas vezes é a simples frustração de não conseguir fazer outra pessoa entender o que se está falando. Quem perde a cabeça numa situação dessas acaba ficando vulnerável às críticas mesmo sendo totalmente capaz de lidar com elas.

É muito útil para o mundo que pessoas chatas reclamem e exagerem sobre pequenos problemas que enxergam em outras pessoas e grupos. Nem sempre faz sentido ou tem objetivo, mas é sempre aproveitável.

Obviamente existe toda uma necessidade de tato e empatia para saber como criticar algo ou alguém na vida real. Novamente: Não é ser sincericida. Mas uma habilidade bem desenvolvida de saber falar mal de alguma coisa, assim como a capacidade de aceitar que alguém desaprove algo que você julga certo, se mostram excelentes formas de não ficar acomodado com o que você é e pensa.

Sua opinião não é sagrada. Nem mesmo a minha, muito melhor, é.
Se é que vocês me entendem.

Para dizer que tudo o que eu escrevo é excelente, para me elogiar pelo belo texto ou mesmo para dizer que me acha um gênio: somir@desfavor.com

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Comments (18)

  • "Não é propriamente o que vc diz, e sim, como diz."

    Mythbuster, releia sua própria frase até você entender quem está sendo guiado por sentimentos aqui.

    Mas eu gosto de discutir, não nego.

    1- A admissão do erro inicial tem ligação direta com o assunto. No próprio texto eu falo sobre "estar errado".

    2- Se a sua definição de sensibilidade é ser formado por matéria e reagir a estímulos externos, então eu não posso negar que me encaixo na descrição. Malditos átomos!

    3- Ofensividade repetitiva diminui a capacidade de transmissão de idéias. Eu revezo as "personas" frequentemente, desde o começo do desfavor.

    Sua vez.

  • Somir, não simplifique e subestime a 'poesia' de seu texto.

    Tentar resumir todo um texto ou paragrafo em uma unica frase pra assim mascarar todo o resto do contexto tem sido uma de suas práticas comuns. (Vide meu comentário sobre usar a figura de linguagem das pessoas cancerígenas).

    Não é propriamente o que vc diz, e sim, como diz. Vc começa o texto 'admitindo' que não foi tão ofensivo como queria, depois vai divagando num tom completamente conciliatorio, numa retrospectiva e um quase desabafo.

    Ser sensivel é ser afetado pro algo ou não.

    No caso, vc demostra que mesmo não querendo a opinião dos leitores te 'afeta' de alguma maneira.

    Depois no final do texto vc começa a ser mais objetivo e fala realmente sobre a capacidade de formular argumentações, etc.

    Enfim, talvez tenhamos sido mesmo um tanto influenciados (só um pouco) pela trolagem do Deja, mas ninguem aqui deve ter comentado sem ler; e seu texto tem sim um tom amigavel e porque não, 'sensivel'.

    Até

  • Um texto que diz que nenhuma opinião é sagrada e incentiva os leitores a pensar de forma fria e calculista sobre críticas é sensível como, caro Mythbuster?

  • Se vc não percebeu a 'sensibilidade' do seu texto e chamou isso de 'racionalidade'…bem…vc é mais sensível do que imagina.

    Até.

  • Apenas duas horas após a cirurgia do Pilha Desfavor já inicia o Plantão Pilha trazendo detalhes sobre o nosso herói!!!

    Se preparem, vem mais novidades por aí…

  • O curioso é que não tem NADA de sensível no texto. É mais uma das minhas odes à racionalidade.

    Que nossos habituais tenham seguido a trollada do Deja sem pensar é mais do que comum, mas a Sally passando atestado de "nemli, mas critiquei" compensou! Hahahahah!

  • Hahá, rafael Pilha cortou o pescoço e foi parar no hospital (passando no Superpop).Umhh, isso me cheira postagem de última hora.

  • (lágrimas…)Tambem achei seu texto deveras sensível.

    E nem tenho críticas quanto a ele. Nenhuma, isso claro deve demostrar algum problema da minha parte ou preguiça mesmo. "Quem concorda 100% com alguem é porque nao pensa."

    É incrível como não damos importância para nossas crenças na vida, ou como agregamos valores de forma tão desatenciosa, mas nos apegamos de forma tão forte à elas quando alguém resolve toma-la, ou muda-las.

    Até.

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