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Ele disse, ela disse: Meu Darwin!

| Desfavor | | 24 comentários em Ele disse, ela disse: Meu Darwin!

Como assim você não assiste South Park?

Nada de novo no fronte: Somir tem uma teoria, Sally discorda. Embora desta vez não tenhamos nem uma fração da animosidade presente entre os dois em colunas recentes, ainda sim é um assunto que sempre gera discussão entre os dois.

E em mais uma evasão de privacidade ideológica, hoje ambos colocam suas opiniões à prova do público: Somir afirma que a humanidade tende ao ateísmo de acordo com a evolução da sociedade, Sally não leva muita fé nisso…

Tema de hoje: O mundo vai se tornar majoritariamente ateu?

Fumar é uma coisa estúpida. E ainda sim eu me rendo ao vício todas as vezes que não estou fazendo um papelão com meus rompantes de força de vontade “para namorada ver”. Como todo vício, fumar é um círculo vicioso que invariavelmente diminui minha qualidade de vida em troca da satisfação da necessidade de consumir uma substância específica. Eu sei que fumar é uma coisa estúpida, eu sei que não serve para porcaria nenhuma e só faz mal no final das contas. Mas vício é vício.

Mas eu tenho uma certa vantagem por ser um viciado nos dias atuais: Eu SEI que fumar é uma coisa estúpida. Se eu vivesse no meio do século passado, provavelmente acharia que fumar era apenas uma coisa “chique”, que não me faria mal a não ser que eu abusasse. Parar com isso é bem mais simples agora. Existem remédios, adesivos, grupos de apoio e uma multidão de chatos que tem medo de “pegar” câncer (wat?) para facilitar minha decisão de parar de ser estúpido.

O avanço do conhecimento humano permitiu que as pessoas percebessem a besteira que estavam fazendo ao incentivar o consumo do tabaco. Tudo isso à custa das vidas de milhões de pessoas que realmente sofreram as conseqüências do vício por completa ignorância sobre os males do produto. É uma péssima época para ser um fumante. Isso é um saco para viciados como eu, mas é excelente para a humanidade como um todo. Menos estupidez. O tabaco não vai ser completamente erradicado da face da Terra, mas com certeza não vai ser um vício global no próximo século.

“Somir… acho que você não percebeu sobre o que era o texto de hoje…”

Se você não fuma, faz uma coisa estúpida a menos do que eu. Se você acredita em deus, faz uma coisa estúpida a mais do que eu.

Religião é uma coisa estúpida. Pode espernear, pode reclamar, pode fazer o que quiser: Se você é um adulto que acredita em amigos imaginários, você está sendo estúpido. Religião é baseada na idéia mais ridícula já cunhada pela humanidade: Fé. Fé nada mais é do que um eufemismo para insanidade. É acreditar em algo sem nenhum motivo. Dizer que acredita num “deus pessoal” é exatamente a mesma coisa que dizer que acredita no saci-pererê ou em unicórnios. É estúpido.

Uma coisa estúpida pela qual pessoas se matam. Uma coisa estúpida que oprimiu e ainda oprime muita gente, uma coisa estúpida que é explorada por gente desonesta há milênios. Religião fez mais mal do que bem para a nossa espécie até hoje. E não vamos confundir leis com religião. Aprendemos a nos auto-regular de acordo com o avanço das civilizações.

A religião em si age como muleta psicológica das pessoas que a levam a sério, e… basicamente isso. O resto é a boa e velha lógica simples:

“Não matarás…” – Precisa pensar muito para perceber como uma idéia como essa melhora a qualidade da vida das pessoas como um todo?

O que resta? Inquisição, homens-bomba, estelionato… Grandes contribuições!

Pois bem, com o avanço do conhecimento humano, várias pessoas começaram a perceber como religião era uma âncora evolutiva para todos nós. Os ateus começaram a se fazer mais presentes na sociedade, e muitas pessoas finalmente tiveram acesso à informação de que religião era sim uma coisa estúpida. Richard Dawkins começa seu livro “Deus: Uma Ilusão” falando sobre como muita gente nem percebe que pode não acreditar num deus pessoal. Quanto mais perceber os malefícios.

Mas eu pareço bem escroto dizendo que religião é uma coisa estúpida, não? Tem muita gente ganhando muito dinheiro com isso, mais ou menos como as indústrias de cigarro antes do cerco contra o tabaco se fechar. E não é fácil mexer com os lucros de quem está no poder… Tenham em vista quanto tempo demorou até conseguirem colocar avisos sobre os males do fumo nos maços de cigarro. É claro que você é bombardeado diariamente com as maravilhas da religião, é claro que é socialmente reprovável dizer que religião é uma coisa estúpida.

E a máfia religiosa está no negócio há milênios. Muito mais poderosa do que qualquer fabricantezinha de cigarros. Você não vai ver um aviso: “Ministério da saúde adverte: Rezar não serve para nada.” na capa de um bíblia. Pelo menos não tão cedo.

As táticas para derrubar a indústria do tabaco se baseiam prioritariamente em secar suas fontes de renda para diminuir seu poder na sociedade. A tática para derrubar a indústria da fé segue pelo mesmo caminho: Faça os fiéis pararem de sustentar o luxo de uns poucos espertalhões e a dedicação à causa cai vertiginosamente.

Já temos nações majoritariamente atéias no mundo de hoje. Os países escandinavos (“curiosamente” os com os melhores índices de desenvolvimento humano do mundo) são os que menos acreditam em amigos imaginários. Conhecimento e desenvolvimento intelectual são os grandes inimigos da religião.

Assim como são grandes inimigos do cigarro. Pessoas pobres e com baixo nível de instrução são as maiores vítimas do vício em questão. Assim como… a religião! Não há sequer comparação do nível de conhecimento e instrução atuais com os de séculos atrás. Evoluímos (na média) de forma espetacular nesse campo. E essa tendência não vai diminuir. O poder das religiões diminui à medida que as pessoas evoluem intelectualmente. E adivinha só quem fez de tudo para atrasar o desenvolvimento intelectual humano até hoje? Círculo vicioso, mas esse sim do “bem”.

Vamos nos livrar sim da religião. Quanto mais gente descobrir que é uma coisa estúpida e não existe NENHUMA penalidade “cósmica” para quem larga de acreditar nessa bobagem, menos poder para ela. Quanto menos poder para ela, mais gente livre. Ninguém para a evolução. A Inquisição acabou, tenta queimar uma bruxa hoje em dia (num país civilizado) para ver o que te acontece… (Ou mesmo um cigarro num local fechado!)

Pena que eu não vou viver para ver a humanidade saindo da “segunda marcha” de uma vez por todas… Mas que vai, vai.

Para dizer que eu tenho fé que religião é estupidez, para dizer que eu sou muito inocente de achar que a razão vai vencer no final, ou mesmo para dizer que vai rezar muito por mim: somir@desfavor.com


A tendência é que o mundo vire ateu? Duvido muito. A maior parte da população sempre vai ser religiosa. Não que eu ache isso bom, realmente não acho, porque a maior parte (vejam bem, a maior parte, não todas) as religiões exploram o medo e o bolso de seus adeptos.

Eu acho que a religião é uma necessidade do ser humano. Cultuamos o desconhecido desde sempre, por séculos. Sempre foi assim. Poderia tentar escrever uma explicação psicológica sobre a justificativa para esta necessidade, mas provavelmente iria escrever merda, porque não estudei para isso. Deixo estes argumentos para aqueles com um diploma em psicologia.

Religião é um conforto para seus adeptos. Ninguém procura uma religião se isso não lhe acarreta algum conforto, algum benefício, algum bem estar. Em uma sociedade ideal, onde todos tem acesso a um mínimo para uma existência digna, o sofrimento pode ser mitigado e a necessidade de encontrar conforto no divino pode diminuir. É isso que vem acontecendo com o mundo?

O que podemos ver é o aumento de desigualdades sociais, de conflitos e de mecanismos de destruição em massa. Parece um mundo acolhedor onde não é necessário confiar em uma força superior para buscar algum conforto? Gostaria muito de acreditar que o mundo vai se tornar um lugar melhor dentro de 50 anos, mas infelizmente duvido muito. Se já não tínhamos desgraças suficientes como doenças e conflitos entre nações, agora temos também novos problemas – e dos grandes: estamos fodendo com o planeta e isso cedo ou tarde vai gerar conseqüências bizarras, estamos desenvolvendo formas de matar mais pessoas de forma mais rápida, estamos distribuindo a riqueza de forma cada vez mais desigual… não me obriguem a continuar, estou ficando deprimida.

Enfim, diante de tanta coisa escrota, acho muito humano e aceitável que as pessoas busquem conforto, paz, bondade ou o que mais seja em uma religião. Ao contrário da Madame aqui de cima, eu não acho que religião seja um sinônimo de fraqueza, uma muleta para lidar com os problemas. Não tenho religião, mas não condeno a religião por si, apenas o uso estelionatário da religião (entenda-se, explorar os outros).

As pessoas estão cada vez mais sozinhas, tendo que trabalhar o dobro de tempo que se trabalhava 50 anos atrás. Temos novas obrigações (estar atualizados, entender um mínimo de informática, falar inglês, etc), temos novas necessidades de consumo (plano de saúde, computador, etc). A vida está ficando cada vez mais difícil. É cada vez mais compreensível tentar encontrar bem estar. E para muitos, religião acaba trazendo bem estar.

Sem contar que hoje em dia, tudo é fluido. Não existem mais modelos rígidos. É a tal da quebra de paradigma. Os relacionamentos, por exemplo, que antes eram homem+mulher=família, hoje podem assumir as mais diversas roupagens: família pode ter apenas um homem e um filho, um homem mais um homem, uma mulher mais uma mulher, etc.

Com a religião vai acabar acontecendo o mesmo (e de certa forma, já está acontecendo). Será flexibilizada para atender as necessidades sociais. Novas religiões surgirão, que atendam ás demandas e carências (no melhor sentido da palavra) específicas da nova realidade social que vem sendo construída. A religião mudará, mas não deixará de existir. E mudará em lugares onde existam cabeças pensantes, porque aqui no Brasil, do jeito que estamos, teremos Bispo Macedo para Presidente da República (toc!toc!toc!).

Madame, com sua cabecinha pequena, pensa na extinção de um catolicismo arcaico onde um Papa vestido com uma roupa que mais parece uma alegoria carnavalesca condena o uso de preservativos. Sim, isso com certeza vai acabar. O que não quer dizer que a própria religião não ser flexibilizará para sobreviver, ou que outras surgirão em seu lugar.

Desde sempre divinizamos o que não podemos entender. Os homens das cavernas viam um raio cair em uma árvore, provocando um incêndio, e como não entendiam, divinizavam. Achavam que era obra de Deus. O mesmo mecanismo continua. Sempre existirão coisas que não podemos compreender, e uma das formas (não que seja a única) de lidar com elas é a religião. Sempre vai ser.

Acho muito comunista anos 60 essa idéia de que para um mundo feliz e sensato é preciso acabar com qualquer tipo de religião. Madame fala mal de Fidel sempre que pode, mas frequentemente mostra pensamentos parecidos – e tão radicais quanto. A religião não é ruim, o mau uso que se faz dela sim. Caso ocorra uma transformação e parte dela se torne positiva para o novo contexto social, será muito bem vinda.

Sempre existirão estelionatários explorando a fé alheia, e sempre existirão os explorados. A julgar pelo sistema de ensino público do nosso país, cada vez mais. A julgar pelo voto dos brasileiros, a coisa vai ladeira abaixo. Talvez este número diminua com o tempo. Sempre existirá a fé, que é inerente ao ser humano, por uma série de razões que não tenho espaço para expor. A forma como se exterioriza esta fé pode varias de acordo com cultura, classe e contexto social, mas sempre estará presente.

E Madame não se diz religioso, mas quero ver no dia que fundarem a Santa Igreja do Computador dos Últimos Dias, se ele não vai estar lá, batendo ponto, se curvando para um altar um Pentim! (vai ficar três dias sem falar comigo depois dessa…)

Para dizer que meu texto está sociológico demais e sente falta dos meus palavrões, para dizer que todo radicalismo é ruim, menos quando se trata da sua opinião e para comemorar que o Fluminense, um dos times mais fracos do brasileirão, ganhou dos Porcos ontem, deixando meu Mengão com chances de ser campeão: sally@desfavor.com

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